Depressão

07/05/2024

1. Possessão demoníaca

Será que um crente pode ser possuído por um demônio? Antes de pensarmos sobre esta pergunta, precisaremos encontrar a resposta para duas outras questões: 

1 - Existem poderes demoníacos?

 2 - Se existem, será que eles podem entrar nos homens e dominá-los? 

Os evangelhos nos mostram claramente que a resposta para ambas as questões é: Sim. Em Lucas 7.21 e Mateus 10.1, eles são chamados de espíritos malignos e de espíritos imundos. Alguns são chamados espíritos mudos (Marcos 9.17) e outros de espíritos mudos e surdos (Marcos 9.25). 

No livro dos Atos, lemos de demônios apenas quatro vezes. 

Em Atos 5.16 e 8.7 são chamados de espíritos imundos. 

Em 19.15, o demônio foi chamado de espírito maligno e em 16.16 lemos acerca de um espírito adivinhador (um espírito que prediz o futuro). Assim, os evangelhos e o livro dos Atos dos Apóstolos nos mostram claramente que os demônios ou espíritos malignos existem. 

Em Mateus 12.24-27, Satanás é chamado de Belzebu, o maioral dos demônios. Isto faz-nos crer que eles são anjos que pecaram na ocasião do grande pecado de Satanás, quando ele quis ser igual a Deus e foi lançado fora dos céus (Isaías 14.12-15; Ezequiel 28.14-16). 

Os demônios podem causar doença a uma pessoa, mas o ter um demônio não é a mesma coisa que alguém estar doente (Marcos 3.15). 

Os demônios são sempre maus e fazem ou causam o mal. Eles são imundos e fazem com que as pessoas se tornem espiritualmente imundas. Não encontramos nada nos evangelhos ou no livro dos Atos que nos leve a crer que os demônios vivem no crente. Por outro lado, lemos que o Senhor ordenou aos demônios para saírem daquelas pessoas que desejavam segui-lO. Entre elas estão Maria Madalena e o homem de Gadara possesso de demônios. 


Os demônios são mencionados apenas três vezes nas epístolas: 

1 - Em Tiago 2.19 lemos que eles creem em Deus e estremecem. 

2 - Em 1 Coríntios 10.20 lemos que as pessoas que adoram os ídolos são, realmente, adoradoras de demônios. Este versículo nos fala, ainda, que os crentes não devem, de maneira nenhuma, fazer este tipo de adoração. 

3 - Em 1 Timóteo 4.1 somos avisados que "nos últimos tempos" os homens darão ouvidos e ou seguirão "a espíritos enganadores e a ensinos de demônios". 


Disto aprendemos quatro coisas: 

1 - Que os falsos e nocivos ensinos são, realmente de demônios, portanto, de Satanás. 

2 - Estes falsos ensinos enganam as pessoas e as atraem mais do que as afundam ou amedrontam. 

3 - Isto é um sinal dos últimos tempos. 

4 - Não se trata aqui de alguma compreensão errada do ensino da Bíblia, mas trata-se de todo um plano de ensino falso. 

Certamente o ensino de Satanás é muito perigoso para o verdadeiro crente (Efésios 6.12-16), como também para os incrédulos (Efésios 2.2). 

Em 2 Tessalonicenses, capítulo 2, lemos acerca dos espíritos de uma maneira diferente. Aqui o apóstolo Paulo deseja que os seus leitores estejam alertas contra o falso ensino que pode vir de um espírito. Parece que ele estava pensando em alguém trazendo uma mensagem dizendo que era da parte do Espírito Santo quando, realmente, era de um tipo de espírito totalmente diferente. 

Isto faz-nos lembrar de 1 João 4.1, onde o apóstolo nos diz para não dar "crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora". E isso é bem mais necessário agora do que nos dias do apóstolo João. Os demônios são mencionados em um outro livro do Novo Testamento: o livro do Apocalipse. 

Em 9.20, vemos que os homens adorarão os demônios durante o tempo da Grande Tribulação, antes da volta de Cristo como Juiz para estabelecer o Seu próprio Reino. Finalmente, em Apocalipse 16.13-16, vemos três espíritos imundos saírem do Dragão e dos seus dois representantes aqui na terra: a Besta e o Falso Profeta. Estes espíritos enganarão o povo e o guiarão a travar a batalha do Armagedom. 

Pode parecer que o escritor do Apocalipse estava pensando nos demônios quando escreve os versículos 1 a 11 do capítulo 9, ainda que não os mencione pelo nome. Aqui vemos Deus julgando a terra por abrir o poço do abismo. 

Um grande número de criaturas saiu do poço escureceram a terra com a fumaça. E com ela saíram gafanhotos aos milhões e eram terríveis, como escorpiões. O seu chefe é o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom e em grego é Apoliom. Os dois nomes significam "destruidor". 

Depois disto, apareceu um grande número de soldados montados em cavalos, aos milhões. Eles vêm do Oriente, onde a adoração dos demônios tem sido sempre muito comum. Nos versos 20 e 21, lemos da adoração dos demônios e dos ídolos. Lemos, ainda, dos assassínios, das feitiçarias, das suas prostituições e dos seus frutos, os quais com certeza fazem parte do seu culto idólatra, como fazem ainda hoje nas igrejas de Satanás. Estas são as únicas vezes que os espíritos dos demônios são mencionados nos evangelhos, nos Atos e no Apocalipse, mas não lemos nenhuma vez que o crente verdadeiro tenha sido possuído ou possesso por um demônio. 

Alguns ensinadores, hoje em dia, querem mudar esta verdade, dizendo que o crente pode ser oprimido por um demônio, mesmo não sendo possuído por Satanás. É certo que homens foram controlados por demônios. Um homem vivia num cemitério, nu, feroz, e se cortava com pedras. Os demônios que nele estavam davam-lhe poder para enfrentar os homens que tentavam prendê-lo com correntes, mas ele as quebrou todas (Mateus 8.28-33; Marcos 5.1-14; Luca 8.26-34). 

Um outro demônio controlou o filho de um homem, atirado-o muitas vezes, ao fogo e à água (Mateus 17.15; Lucas 9.39-42). 

Os demônios estavam controlando estas pessoas. Mas a pergunta é a seguinte: Pode um verdadeiro crente ser possuído ou controlado por um espírito maligno? Não há nenhum exemplo disto no Novo Testamento, como também não há nenhum aviso sugerindo que isto seja possível.


David Boyd Long 

2. O cristão pode ser possuído?

1 - Em Colossenses 1.13 lemos que o crente foi libertado do império das trevas e transportado para o Reino do Filho do Seu amor. Isto significa claramente que, quando nos colocamos pela fé debaixo da autoridade de Cristo, Ele nos remove de estar debaixo da autoridade das trevas e do príncipe daquelas trevas. A maneira como a palavra "trevas" é usada aqui, na língua grega, sugere que é um tipo especial de trevas, o reino das trevas, mencionado também em outros trechos bíblicos. A palavra traduzida "império" ou autoridade neste verso é usada também em 2.15 e se refere aos inimigos que nosso Senhor despojou, libertando-nos deles. Certamente, Cristo não permitirá que Seu povo, uma vez libertado por meio de Sua morte na cruz, venha outra vez a se tornar escravo das potestades das trevas! 

2 - Temos visto que o crente tem sido libertado e trazido ao Reino do Filho do Seu amor. Além do mais, ele tem sido redimido, comprado por bom preço. O crente aceitou este fato quando aceitou a Cristo e, assim, não pertence mais a si mesmo (1 Coríntios 6.19-20). Ele tem sido redimido ou comprado novamente para Deus (Apocalipse 5.9). Deus agora é o seu dono e tem tido o direito e autoridade sobre ele. Antes da pessoa se tornar um crente, Satanás tinha controle sobre ele, mas agora Deus o trouxe de volta para Si e nunca permitirá que ele se submeta novamente ao poder de Satanás. 

3 - Quando uma pessoa crê, ela é marcada com um selo, o Espírito Santo, o Qual Deus prometeu em Efésios 1.13. Um selo, tem vários significados. Um deles é que a obra necessária para fazer o crente pertencer a Cristo já foi feita (já foi consumada) e o selo mostra que ele é propriedade exclusiva de Deus. Mostra também que ele está salvo porque não haverá mais perigo de que Deus permita a seu antigo dono, Satanás, possuí-lo novamente. E isto faz-nos pensar no homem de 1 Samuel 30.11-15. Davi tinha salvo a sua vida, perdoou-o e o deixou livre. Então o homem pediu a Davi que lhe prometesse não entregá-lo ao seu antigo dono. 

4 - Mas o Espírito Santo é muito mais que um selo. Ele é Deus, justamente igual ao Pai e ao Filho. Ele vem fazer morada no crente, juntamente com o Pai e o Filho (João 14.16, 17, 23). 

Ele permanece no crente e faz dele um templo do Espírito Santo (Efésios 2.22). 

Os demônios não puderam ficar de pé perante Cristo, quando Ele esteve aqui na terra. Eles disseram: "Que temos nós contigo, ó Filho de Davi? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?" (Mateus 8.29). 

É difícil crer que o Espírito Santo permita que o Seu templo seja possuído ou tomado pelos espíritos maus. E ainda é mais difícil crer que eles vivam com Ele no mesmo lugar, isto é, no corpo do crente. 

Só uma vez a palavra "oprimido" é usada nas Escrituras em lugar de "possesso" (Atos 10.38), mas o sentido é o mesmo e os espíritos maus têm completo controle sobre as pessoas oprimidas. Eles foram lançados da presença de Deus; por isso eles querem agora viver nas pessoas. Quando eles foram mandados sair do homem de Gadara, imploraram para que o Senhor não os lançasse fora daquela região, mas que lhes permitisse habitar em outros corpos - mesmo que fossem porcos. 

Em Efésios 6, lemos acerca de principados e potestades, dominadores e forças espirituais do mal nas regiões celestes (v. 12). 

O crente deve entender que estes são demônios e espíritos malignos e que está de luta contra eles. Nós não estamos mais no seu reino e, portanto, eles não têm mais direitos sobre nós, assim como o pecado não tem mais direito de governar sobre nós. No entanto, estes demônios ainda podem e desejam nos atacar e devemos aprender a ficar firmes contra eles, usando toda a armadura de Deus. 

Devemos vigiar sempre porque sabemos que o príncipe deles, o Diabo, nosso adversário, anda em derredor de nós, como leão que ruge, procurando alguém para derrotar (1 Pedro 5.8). 

Sim, infelizmente, os demônios atacam o crente e transtornam seus pensamentos e sentimentos. Se o crente não estiver atento, eles podem fazer mal e destruir, mas nós cremos que eles nunca poderão possuí-lo, viver nele ou controlá-lo. 

Fomos libertados de sua autoridade e a única coisa que eles podem fazer é atacar e influenciar-nos, mas de fora. Tiago nos diz para "resistir ao diabo e ele fugirá de vós" (Tiago 4.7). 

Este escritor deseja acrescentar o que ele pessoalmente notou enquanto viveu a maior parte de sua vida na África, onde o "demonismo" é frequente. Ele conheceu e estudou várias pessoas possessas de demônios, mas nunca ouviu ou soube de um verdadeiro crente ter sido possesso de demônios outra vez, já que tinham sido libertados deles quando foram salvos. Entretanto, alguns crentes desviados mexeram novamente com a adoração aos demônios e ficaram seriamente prejudicados espiritualmente, mas nunca mais foram possessos ou controlados pelos demônios.


David Boyd Long 

3. Mandamentos do Senhor

Eis aqui alguns mandamentos do Senhor dados ao Seu povo, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, sobre os espíritos malignos: 

1 - Deveriam matar qualquer pessoa que estivesse em contacto direto com os espíritos (Levítico 20.27). 

2 - Não deveriam voltar-se para os necromantes, nem para os adivinhos, para não serem contaminados (Levítico 19.31). 

3 - Deus se tornaria contra qualquer que se voltasse para tais coisas e essa pessoa seria eliminado do Seu povo (Levítico 20.6). 

4 - Deus disse ao Seu povo que lançaria de diante dEle qualquer pessoa que se empenhasse com feitiçaria, com magia, com prognosticador, com encantador ou com necromante (Deuteronômio 18.10-12). 

5 - Deus castigou Manassés, o rei de Judá, e todos os que o seguiram, por causa da desobediência a este mandamento (2 Reis 21). 6 - O rei Saul morreu porque desobedeceu a Deus neste assunto (1 Crônicas 10.13). 

7 - O profeta Isaías concitou o povo a consultar ao Senhor, em lugar de consultar os necromantes e adivinhos (Isaías 8.18-19). 

8 - Jeremias também exortou o povo a não dar ouvidos aos adivinhos, sonhadores, encantadores e agoureiros (Jeremias 27.9). 

9 - O crente deve estar alerta e vigiar porque o maligno está rugindo como leão ao redor de nós, procurando nos devorar (1 Pedro 5.8). 

10 - O crente também deve-se proteger com toda armadura de Deus para estar apto a resistir aos ataques do inimigo e permanecer firme (Efésios 6.13-18). 

Conclusão: Nada e ninguém pode nos separar do amor de Deus, mas devemos conservar fixo o nosso olhar no Senhor Jesus Cristo.


David Boyd Long

4. Depressão e Ansiedade

Quando o pecado entrou no mundo, uma série de aflições o seguiram, incluindo a depressão. Antes de Adão cair, ele e Eva não sabiam nada sobre pecado, vergonha, medo ou tristeza. Mas quando o pecado destruiu o seu mundo perfeito, condenou-os à doença, à traição e à perda (Gn 3:14-19; Rm 5:12; 8:20-22). 

A chegada do sofrimento fez com que a alegria constante não fosse mais possível. Em vez disso, muitos dos seus descendentes sofreriam de depressão em algum momento da vida devido a doenças físicas, circunstâncias tristes, escolhas erradas, relacionamentos rompidos – ou sem motivo aparente. A depressão remonta ao pecado, mas muitas vezes não ao pecado do próprio sofredor. 

Atinge os crentes e os incrédulos, os fortes e os fracos, os estoicos e os sensíveis, os espirituais e os carnais. Ele pode cair repentinamente ou subir lentamente. Pode passar em algumas semanas ou se tornar uma luta para toda a vida. E por causa do seu estigma, muitos esconderão os seus problemas e definharão sozinhos.

A depressão difere da tristeza situacional. O Senhor Jesus chorou em ocasiões tristes, mas nunca ficou deprimido (Lucas 19:41; João 11:35). 

Tanto o luto normal quanto a depressão incluem tristeza intensa, muitas vezes misturada com ansiedade. Com a tristeza comum que se segue a uma perda, a emoção dolorosa surge em ondas decrescentes intercaladas com sentimentos normais e memórias positivas. Na depressão, entretanto, o humor permanece baixo por longos períodos de tempo, com pouco ou nenhum alívio. 

A tristeza após um revés pode incluir arrependimentos, mas a depressão geralmente acrescenta sentimentos de inutilidade e auto-aversão. O luto pode produzir pensamentos fugazes de morrer para se reunir com um ente querido, mas a depressão muitas vezes cria uma obsessão pela morte como uma fuga da dor que parece permanente.

A depressão não é exclusivamente física nem espiritual; são ambos. Embora a depressão afete o sono, a energia, o apetite e o movimento, ela também pode ser o efeito de alguma mistura de doença, gênero, genética, personalidade, inverno, estresse e abuso (Lm 3:1-18; Salmo 143:3-4). 

Quando as pessoas estão deprimidas, elas não conseguem se concentrar ou tomar decisões e perdem o interesse nas atividades que antes gostavam. Alguns ficam muito ansiosos e agitados, perdem peso e não conseguem dormir. Outros notam apatia, fadiga, sonolência e ganho de peso. E os seus sistemas nervosos excessivamente vigilantes e sensibilizados geram uma série de sintomas nocivos e clinicamente inexplicáveis ​​que aumentam o seu sofrimento. E não, eles não podem simplesmente desligar esses sentimentos.

As Escrituras descrevem as emoções cruas de homens e mulheres, servos fiéis de Deus, que lutaram contra a depressão. Na maioria dos casos, eles sofreram não porque fossem pecadores sob julgamento divino, mas porque eram humanos sob intensa pressão. Jó perguntou: "Por que é dada luz ao que está na miséria, e vida aos amargurados de alma, que anseiam pela morte, mas ela não vem?" (Jó 3:20-21).  

Moisés disse honestamente ao Senhor: "O fardo é pesado demais para mim. Se você me tratar assim, mate-me imediatamente... para que eu não veja a minha miséria" (Nm 11:14-15). 

Ouça Davi implorar pela misericórdia de Deus: "Estou cansado de tanto gemer. Durante toda a noite inundei a minha cama com choro e encharquei o meu leito com lágrimas" (Sl 6:6 NVI ). 

Mais tarde ele escreveu: "Registre minha miséria; liste minhas lágrimas em seu pergaminho – elas não estão em seu registro?" (Sl 56:8 NVI). Debaixo de uma vassoura, Elias orou desanimado: "Basta; agora, ó Senhor, tira-me a vida, porque não sou melhor do que meus pais" (1 Rs 19:4). E Paulo, por um breve período, disse que estava "completamente sobrecarregado além de [suas] forças e desesperado da própria vida" (2 Co 1:8).


Conselhos de Tiago

A depressão, quando é principalmente uma luta espiritual, pode ser resolvida com a leitura consciente das Escrituras, oração, dependente e tempo. Deus pode curar por intervenção direta, sem intermediário, e às vezes Ele o faz. As Escrituras, no entanto, fornecem muitos exemplos do uso de meios por Deus para trazer ajuda e cura. Quando a depressão não se resolve por si só, precisamos aproveitar todos os meios que Deus fornece para promover a recuperação. 

Em doenças prolongadas ou difíceis (aqui um termo amplo para problemas físicos e espirituais), Tiago aconselha chamar os presbíteros, ungir com óleo, orar com fé e confessar os pecados (Tg 5:13-20). Estes são meios: aceitar conselhos sábios, acolher a oração intercessória, considerar a terapia médica e identificar possíveis pecados.

"Alguém entre vocês está doente? Chame ele os presbíteros da igreja e orem por ele" (v14). O cuidado pastoral de outros crentes ajuda muito as pessoas com depressão. O seu trabalho mais eficaz é a oração intercessória; Tiago diz que tem "grande poder" (v16). 

Mas ele também dá a entender que, como anciãos, usarão a sua experiência espiritual para dar conselhos sábios. Eles aprenderam a verdade e podem "trazer de volta" aqueles que dela se desviaram (5:19-20). Eles percebem, no entanto, que banalidades e discursos estimulantes não curam instantaneamente a depressão; em vez disso, trabalham com gentileza e sensibilidade, primeiro simplesmente "chorando com os que choram" e compartilhando seus fardos (Rm 12:15; Gl 6:1-2).

Qualquer crente atencioso que ouça, ore e ofereça a sabedoria da Bíblia é incrivelmente útil para pessoas deprimidas. Em casos difíceis, contudo, os conselheiros profissionais fornecem conhecimentos e ferramentas essenciais que tornam a recuperação mais provável. Como a depressão distorce o pensamento, conselheiros qualificados ajudam-nos a identificar falsas crenças sobre nós mesmos e sobre o mundo, a modificar essas crenças e a testar as novas crenças através de mudanças planejadas no comportamento. 

Os conselheiros cristãos que baseiam as suas recomendações nas Escrituras e nos ajudam a ver a realidade da perspectiva de Deus são obviamente mais valiosos do que os terapeutas seculares. A resolução positiva de problemas requer aprender boas habilidades de enfrentamento e desaprender as ruins. 

Embora a depressão possa ocorrer nas famílias por razões genéticas que não podem ser curadas, as famílias também podem perpetuar a depressão através de comportamentos aprendidos que podem ser ajudados pela terapia. Esses comportamentos incluem pensar apenas emocionalmente, tolerar escolhas erradas, focar apenas nos aspectos negativos e transformar preocupações comuns em catástrofes.

Alguns crentes deprimidos que têm um distúrbio afetivo médico sofrem de mau humor não tratado durante anos, presumindo que estão suportando esta sentença porque não conseguiram superar sua fraqueza espiritual. 

Tiago, no entanto, ensina que o trabalho espiritual mais amplo de ajudar as pessoas a recuperarem da angústia pode exigir terapia médica – mesmo que o pecado esteja a contribuir para a doença. "Esfregando-o com óleo em nome do Senhor" (5:14) descreve o uso dos cuidados de saúde atuais por profissionais leigos servindo como agentes de Deus. Esta passagem, por implicação, apoia o tratamento médico para a depressão, incluindo o uso de medicamentos antidepressivos prescritos em alguns casos. 

A prescrição de medicamentos antidepressivos é muitas vezes desnecessária e nunca suficiente. Estas drogas não devem substituir a leitura, a oração, a orientação e a disciplina. Não ajudamos ninguém se os usarmos como narcóticos para anestesiar a culpa do pecado não confessado e a dor dos problemas não resolvidos. E eles podem ter efeitos adversos. 

Na depressão grave, porém, a medicação não é o último recurso, mas o primeiro. No momento em que procuram ajuda, algumas pessoas com depressão e ansiedade estão demasiado disfuncionais para participar em qualquer coisa. Ao elevar o humor, acalmar a agitação, concentrar a concentração e regular o sono, a terapia medicamentosa estabelece uma plataforma estável para trabalhar. À medida que as pessoas ganham impulso, muitas podem interromper esses medicamentos. Alguns, no entanto, só permanecem estáveis ​​com apoio a longo prazo.

Tiago continua: "Se ele cometeu pecados, será perdoado" (5:15). Embora muitos cristãos piedosos que vivem vidas santas tenham sofrido de depressão, devemos honestamente explorar se o pecado não confessado está contribuindo para a nossa tristeza (Sl 32:3-5). Muitas vezes não é. Mas David, que conhecia a depressão, ainda assim recomendou este exercício: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Experimente e conheça meus pensamentos! 

E veja se há algum caminho doloroso em mim e guie-me pelo caminho eterno! (Sl 139:23-24). Como crentes, estamos em Cristo (2Co 5:17); temos novas naturezas que anseiam por Deus e Sua justiça. Nosso pecado cria conflito cognitivo e emocional ao violar nosso verdadeiro eu (Rm 7:14-24). 

Se continuarmos a optar por contaminar os nossos valores espirituais, ficaremos deprimidos – e deveríamos estar.

Se o pecado estiver envolvido na depressão, o arrependimento é o primeiro passo para a recuperação. Em 2 Coríntios 7:8-11, Paulo distingue o arrependimento do mero arrependimento. 

Na sua severa carta anterior aos coríntios, ele confrontou-os com o seu pecado e levou-os à "tristeza segundo Deus" "como Deus pretendia". A tristeza segundo Deus – a santa tristeza e miséria que sentimos quando enfrentamos e abandonamos o nosso pecado – é o verdadeiro arrependimento que "leva à salvação sem arrependimento". A confissão nos aproxima do nosso Pai celestial, traz perdão e purificação, e restaura a comunhão (1 Jo 1:10; Tg 4:8-10). 

Em contraste, a tristeza mundana surge do ódio pelas dolorosas consequências do pecado, mas não pelo pecado em si. A dor mundana apenas afasta as pessoas de Deus para leitos de morte de ressentimento e arrependimento. A amargura do pecado levou Pedro ao arrependimento piedoso, e o Senhor o perdoou (Mateus 26:74-75); isso levou Judas ao arrependimento mundano, e ele se enforcou (Mateus 27:5).

Conclusão

Tiago começou esta seção escrevendo: "Alguém entre vocês está sofrendo? Deixe-o orar" (5:13). A depressão nos convence a pensar que estaríamos melhor sozinhos; o seu auto-isolamento, contudo, só piora o nosso sofrimento. Se, em vez disso, fizermos um esforço consciente para voltar a atenção para fora e reavivar os nossos relacionamentos com os outros, a depressão começará a desaparecer. Como crentes, somos filhos de nosso Pai celestial e servos de nosso Senhor Jesus Cristo. 

Ele é nossa Rocha, nosso Pastor e nosso Ajudador (Sl 18:2; 23:1; 54:4). Então começamos abrindo nossas almas a este Conselheiro, porque Ele não pode falhar e nunca nos abandonará (Is 9:6; Hb 13:5). Começamos orando a Ele pedindo forças, sabendo que Ele se aproxima dos quebrantados de coração e os cura (Sl 34:18; 147:3).

Os relacionamentos se fortalecem por meio da comunicação – uma via de mão dupla. Não apenas falamos com Deus em oração, mas também O ouvimos falar conosco em Sua Palavra poderosa, transformadora e que derrota a depressão (2Co 3:18; Hb 4:12). 

O Espírito Santo encheu a Bíblia com orientação e consolo para os angustiados e abatidos. Na verdade, no início talvez não tenhamos vontade de ler a Bíblia. E se ainda usarmos os óculos escuros da depressão, poderemos nos sentir pior quando começarmos a ler. Na escuridão, o que podemos ver na Palavra de Deus apenas parece nos condenar ainda mais. Pela fé, porém, continuamos lendo, de preferência auxiliados por alguém que possa nos ajudar a ver todo o espectro de luz das Escrituras. 

Então os raios terapêuticos começam a brilhar sobre a nossa desesperança e desespero. As emoções não podem nos desviar se permanecermos ancorados na Palavra firme e imutável de Deus. À medida que as Escrituras aumentam a nossa fé, começamos a nos apegar mais firmemente a Deus; à medida que nos concentramos em Cristo, a adoração transformadora começa a fluir. Nossas lutas nos aproximam Dele (Rm 5:3-5; 1Pe 1:6-7). 

A humildade e a solidão da depressão tornam as promessas de Deus mais preciosas: "A minha carne e o meu coração podem falhar, mas Deus é a força do meu coração e a minha porção para sempre" (Sl 73:26). "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30:5).


Vallance, David

(Uso com permissão da revista Truth & Tidings) 

5. Conselho para Cristãos em Crise: Depressão

"Por que estás abatida, ó minha alma" (Salmos 43:6 KJV )

Os crentes não estão imunes à depressão. Até David ficou intrigado com a origem de sua própria depressão. Fazemos o mesmo hoje também. Em particular, é claro, pois o estigma da depressão nos deixa confrontados com esse desafio por conta própria. Isolados, ficamos sobrecarregados, sem saber como buscar ajuda.

Usando as estatísticas atuais, é seguro dizer que, em qualquer momento do ano, quase uma em cada 10 irmãs da sua assembleia está lutando contra a depressão, e quase 1 em cada 20 irmãos. Com a crescente desconexão das nossas vidas, a deterioração contínua dos valores familiares e o aprofundamento do domínio do pecado no nosso mundo, não devemos esperar que esta estatística melhore.

É importante notar que existe uma variedade de tipos de depressão, incluindo:

  • Depressão grave (intensa, com duração de vários meses).
  • Depressão crônica (distímica) (contínua, menos intensa).
  • Depressão pós-parto.
  • Depressão sazonal (SAD) e muito mais.

Os crentes que sofrem de depressão muitas vezes se sobrecarregam com muita culpa, sentindo que deveriam estar mais alegres e expressando remorso pelo vazio sentido nas devoções. Isto é muitas vezes agravado pelo ensino idealista (mas irrealista) e bem intencionado (mas não bíblico), de que os crentes devem experimentar alegria ininterrupta neste mundo destruído. No entanto, até mesmo Paulo reconheceu que houve um tempo em que ele "desesperava até da vida" (2Co 1:8 ). O sentido desta palavra, "desespero", aponta para uma perda de compostura mental ou emocional. É reconfortante saber que até o grande apóstolo foi levado ao extremo pelas circunstâncias da vida.

Segue-se que a depressão não é apenas para os rebeldes. Pode impactar tanto os crentes fortes como os fracos, os novos crentes e aqueles que estão no caminho para o céu há décadas. Afeta tanto os casados ​​como os solteiros, as viúvas e as jovens mães. Toca pessoas com grande potencial e corações devotos e piedosos, juntamente com aqueles de nós que muitas vezes têm dificuldades e são inconsistentes em sua caminhada. A depressão atinge uma grande variedade de crentes de diversas maneiras e em uma infinidade de circunstâncias.

Isto torna a pergunta de David no Salmo 43:5 particularmente informativa. O "porquê" da depressão também é o caminho para a recuperação. É minha convicção e experiência que a estratégia mais eficaz para a recuperação da depressão é descobrir a sua origem.

Uma nota de advertência é necessária. Os cristãos têm o péssimo hábito de espiritualizar a depressão. Pastores e amigos bem-intencionados muitas vezes oferecem chavões cristãos como antídotos para esta questão complexa, não reconhecendo que as raízes estão interligadas nos domínios biológico, psicológico, social e espiritual. Não somos meramente seres espirituais; Deus nos criou corpo, alma e espírito. Como aponta Provérbios 14:30: "Um coração tranquilo dá vida à carne" (ESV . Observe a conexão da emoção com o corpo) e "um espírito abatido seca os ossos" (Pv 17:22, ESV . Espírito para corpo).

Consequentemente, uma abordagem holística à recuperação deve envolver mais do que apenas meios espirituais. Os pastores também ajudarão os membros do seu rebanho da mesma forma, oferecendo aconselhamento espiritual e recomendando vários recursos profissionais, como médicos de família, psiquiatras e conselheiros. Vejamos algumas áreas comuns de sofrimento e recursos relacionados a elas.

A saúde física é um bom lugar para começar. É importante notar que a resposta de Deus à depressão de Elias após a sua fuga de Jezabel começou com o atendimento às suas necessidades físicas (1 Reis 19:5-6) através do fornecimento de comida e água. O anjo pode ter desafiado o pensamento de Elias ou perguntado se ele ainda lia e orava regularmente. Mesmo assim, seu primeiro passo foi atender gentilmente às necessidades físicas de Elias. Devemos também considerar esta abordagem quando confrontados com a depressão. Por exemplo, existe uma forte ligação entre diabetes e depressão. Tratar um pode muitas vezes criar resultados positivos no outro. Há uma série de maneiras pelas quais nossa composição biológica pode nos predispor à depressão. Uma visita ao seu médico de família é um bom primeiro passo.

Os crentes muitas vezes ficam preocupados em tomar medicamentos que podem ser prescritos por um médico para ajudar no tratamento da depressão. Eu também costumo evitar isso, mas minha experiência tem sido que eles ajudam você a colocar a cabeça acima da água para que você possa começar a fazer o outro trabalho que precisa fazer para se recuperar da depressão. Os antidepressivos têm o seu lugar e não é antibíblico usá-los.

Essas drogas não alteram sua personalidade, mas têm como objetivo melhorar seu humor. Pessoas deprimidas são vítimas de interpretações distorcidas dos acontecimentos ao seu redor. Essas interpretações criam visões negativas de si mesmos, dos outros e de seu futuro. Certamente isto pode ser visto na avaliação que Elias fez da sua situação. Ele sentiu como se só ele fosse deixado para representar Deus (v14). Na sua resposta gentil, mas direta, o Senhor desafiou o seu pensamento. Da mesma forma, os produtos farmacêuticos tomados sob o conselho de pessoal médico profissional podem criar algum espaço para respirar, para que as nossas interpretações possam ser desafiadas e alteradas.

No domínio emocional, existe um número igualmente vasto de possibilidades. Muitas vezes estou interessado nas crenças formativas iniciais que foram instiladas durante a infância. Isso impacta a maneira como interpretamos o mundo ao nosso redor quando adultos. As crenças sobre o amor, a confiabilidade de outras pessoas importantes, a relativa segurança do mundo em que vivemos e a natureza de Deus podem ser afetadas pelo pecado na vida de nossos pais e irmãos. Onde são criadas crenças desadaptativas, a depressão geralmente se seguirá. Embora muitas vezes sejamos tentados a dizer aos outros (e a nós mesmos) como devemos sentir e pensar, essas crenças são melhor reveladas por meio de perguntas simples e abertas, como as que o Senhor fez: "O que você está fazendo aqui, Elias?" (v13, ESV ). É importante notar que o Senhor não se aproximou de Elias prescritivamente ou com uma abordagem do tipo "pegue dois versículos e me ligue pela manhã". Em vez disso, Ele gentilmente o levou a considerar suas próprias crenças distorcidas e então as desafiou.

Um outro desafio é que todos carregamos um conjunto de crenças profundamente enraizadas, mas raramente reconhecidas, sobre nós mesmos. Podemos acreditar secretamente que somos indesejados ou que, se os outros realmente nos conhecessem, nos rejeitariam. Essas crenças podem levar a um profundo sentimento de tristeza, que se transforma em depressão. Esses são caminhos em nosso cérebro formados por nosso próprio entendimento, mas precisam ser submetidos à verdade de quem Deus diz que somos em Cristo. Desta forma, podemos aprender a aplicar o evangelho ao nosso pensamento, confiando no Senhor de todo o coração e abstendo-nos de confiar no nosso próprio entendimento (Pv 3:5).

A emoção não resolvida é outra fonte possível. Talvez tenha ocorrido uma grande perda: a morte de um cônjuge, o fracasso de um negócio ou os sonhos de como sua vida poderia ser foram frustrados. Se não tivermos tempo para lamentar e processar essas perdas, elas se tornarão um fardo profundo carregado no coração. Como diz Provérbios 12:25: "O peso no coração do homem o faz curvar-se" (KJV).

Em qualquer um desses casos que envolvem a esfera emocional, é necessário um pastoreio sábio e muitas horas de escuta e aconselhamento. Poucos resolverão estes fardos sozinhos, e aqueles que são chamados a ajudar devem fazê-lo com espírito de gentileza (Gl 6:1). Quando não há progresso, é prudente encaminhar para um conselheiro confiável e credível.

Além disso, o reino espiritual deve ser considerado. Quando eu estava treinando para me tornar conselheiro, um supervisor fez a afirmação contundente de que: "O caminho mais rápido para a depressão é viver de forma incongruente com seus valores". Isso faz todo o sentido. Se você tem uma nova natureza e é filho de Deus, mas escolhe viver de maneira diferente, deve esperar sofrimento emocional, físico e espiritual significativo. A maneira como você se comporta diariamente deve depender de quem você é em Cristo. Embora seja um cenário de curto prazo, diferentemente da depressão, a tristeza de Pedro após a sua negação do Senhor (Marcos 14:72) ilustra suficientemente este ponto.

Outra área significativa de preocupação no reino espiritual é o legalismo. O Senhor falou dessas regras que criamos como "fardos pesados ​​e difíceis de suportar" (Mateus 23:4, KJV ). O legalismo leva a uma esteira de desempenho que nunca para, à comparação com os outros e à desaprovação e ao julgamento constantes. Esta perspectiva antibíblica e espiritualmente enraizada certamente levará a uma existência triste.

Finalmente, a falta de perdão pode ser outra fonte comum de sofrimento contínuo, levando à amargura e à depressão. Acredito que uma aplicação dos atormentadores da parábola do servo implacável em Mateus 18:21-35 (ver v34 particularmente) é a depressão, embora outras doenças mentais e físicas possam resultar de amargura e falta de perdão profundamente enraizadas.

Nosso mundo criado geme sob o peso do pecado, assim como nossos corações. Ao procurarmos a recuperação, as nossas necessidades mais profundas só são plenamente satisfeitas em Cristo e, no entanto, uma vez que a raiz da depressão é multifatorial, uma resposta multidisciplinar é muito útil. Produtos farmacêuticos sabiamente prescritos podem criar espaço para que a mente e o corpo funcionem de forma mais eficaz. O aconselhamento guiado pelo Espírito pode abrir os nossos corações para vermos a verdade sobre nós mesmos e o nosso mundo através dos olhos de Deus. E os pastores sábios podem nos levar de volta ao Pastor Principal, que é a nossa esperança vindoura.


(Uso com permissão da revista Truth & Tidings)