Apologia

07/05/2024

1. Seol, Hades e Sepultura

As duas palavras do título deste artigo talvez pareçam estranhas a muitos leitores; é porque não são palavras portuguesas. Seol é uma palavra hebraica, e Hades é grega. São palavras que aparecem frequentemente no texto original da Bíblia (Seol ocorre 65 vezes no Velho Testamento, e Hades, 10 vezes no Novo Testamento), e é importante que saibamos o que elas significam.

As duas palavras expressam a mesma ideia.

Vemos isto em At 2:27, onde encontramos uma citação de SI 16:10. No referido texto, no livro de Salmos, o escritor usou a palavra Seol, e na citação, em língua grega, Lucas usou a palavra Hades.

Não pode haver dúvida, então; a palavra hebraica Seol equivale a Hades, na língua grega.


Mas como podemos expressar esta ideia em português?

É aqui que a dificuldade começa. Não existe em nosso idioma qualquer palavra que traduza satisfatoriamente a ideia contida nos vocábulos Seol e Hades. Os tradutores da Bíblia têm usado uma diversidade de palavras na sua tentativa de transmitir fielmente a mensagem divina. Na Versão Corrigida, João Ferreira de Almeida usa principalmente as palavras "inferno" e "sepultura", mas em alguns casos encontramos outras expressões, como "mundo invisível" (Sl 89:48). Várias vezes ele até desistiu da tentativa de traduzir, e simplesmente transcreveu a palavra original (veja Jó 17:16; Sl 139:8; At 2:27,31 etc). 

A Versão Atualizada de Joao Ferreira de Almeida mostra-se mais confusa ainda. Esta tradução emprega palavras como "sepultura", "além", "inferno", "sepulcro", "morte", "abismo" e "cova", além de expressões como "reino dos mortos" (Is 14:15). 

A tradução de Matos Soares usa principalmente a palavra "inferno", e também palavras como "sepulcro", "sepultura", "morte" e "abismo", bem como a expressão "habitação dos mortos".

Esta confusão aparente dos tradutores deve-se ao fato de que não há, na língua portuguesa, uma palavra que traduz plenamente a ideia contida nas palavras Seol e Hades. As diversas palavras usadas representam a sua tentativa, honesta e Sincera, de aproximarem-se à ideia do texto original, levando em conta o contexto de cada ocorrência da palavra. Vamos considerar as palavras mais usadas por eles, e veremos que realmente não são adequadas.


Inferno

A palavra "inferno" traz para nós a ideia de um lugar de sofrimento, onde o fogo nunca se apaga.

Não há dúvida de que tal lugar existe, mas as palavras Seol e Hades não significam isto. Em Gn 37:35 vemos que Jacó, um servo de Deus, esperava ir a Seol. Jó, também, que era homem íntegro e reto, temente a Deus e que desviava-se do mal (Jó 1:8), falou do seu desejo de ir a Seol (Jó 14:13).

Isto já é suficiente para provar que Seol (Hades) não é um lugar reservado exclusivamente para os perdidos, pois até os servos de Deus esperavam ir para lá. Salomão confirma isto em Ec 9: 10, quando mostra que Seol é o destino de toda a humanidade.


Sepultura

Sepultura é uma cova funerária, um jazigo; é um lugar onde se enterra o cadáver. Seol (Hades), porém, não é uma sepultura. Considere os seguintes fatos:

A língua hebraica usa qeber ou qeburah para indicar uma sepultura; nunca usa a palavra Seol para isto. A língua grega não usa Hades, e sim mnemeion, mnema ou taphos quando quer falar de sepultura.

Existem muitas sepulturas, espalhadas pela face da terra; só existe um Seol (Hades). A Bíblia não usa o plural destas palavras.

Todas as sepulturas que existem são de propriedade particular; lemos na Bíblia da sepultura (qeber) de Jacó (Gn 50:5), da sepultura (qeburah) de Raquel (Gn 35:20), e de muitas outras. Nunca lemos do Seol (Hades) de alguém, pois Seol (Hades) não é de propriedade particular.

As sepulturas têm localização geográfica. Nos dois casos citados acima, vemos que a sepultura de Raquel estava nos caminhos de Efrata (Gn 35:19) e a de Jacó estava em Canaã (Gn 50:5). A Bíblia, porém, não indica nenhuma localização geográfica de Seol (Hades); não se acha neste país, nem em qualquer outro.

Todos têm visto muitas sepulturas; ninguém jamais viu Seol (Hades).

Os homens cavam sepulturas (Gn 50:5), e compram sepulturas (Gn 23:9); edificam sepulturas (Lc 11 :47) e as adornam (Mt 23:29). Porém, ninguém cava, compra, edifica ou adorna Seol (Hades), o contraste entre o uso de Seol (Hades) na Bíblia, e as palavras hebraicas e gregas que significam "sepultura", deixam bem claro que "sepultura" não é uma tradução correta de Seol (Hades).

Várias vezes a Bíblia usa Seol (Hades) em contraste com o céu (SI 139:8; Jó 11:8; 1s 14:14, 15; Am 9:2). São termos grandes demais para a mente humana; representam o desconhecido. Uma cova rasa na superfície da terra não serviria como contraste ao céu, e é claro que, mesmo neste uso poético da palavra, Seol (Hades) não é a sepultura.

Na primeira ocorrência de Seol na Bíblia, Jacó falou que desceria ao seu filho, José, em Seol (Gn 37:35). Ele pensava que José fora devorado por uma fera e, portanto, acreditava que José não estava em sepultura alguma. Contudo, falou que desceria ao seu filho a Seol. Seol (Hades) então, não é a sepultura.


Morte

A palavra "morte" tem sido usada várias vezes para traduzir Seol (Hades), mas a própria Bíblia distingue entre Seol (Hades) e a morte. Em Ap 1:18, lemos que o Senhor Jesus Cristo tem as chaves da morte e de Hades. Ainda no mesmo livro, vemos um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, cujo nome é a morte (6:8), e o texto acrescenta que Hades o seguia. Se Hades seguia a morte, então Hades não é a morte. Mesmo usando as palavras figurativamente, o Espírito Santo mantém a distinção. No fim de Apocalipse, encontramos as duas palavras outra vez. Tanto a morte quanto Hades serão lançados no lago do fogo (veja 20:13,14).

Seol (Hades), portanto, não é a morte.


Além

A versão Atualizada usa "além" várias vezes nas suas tentativas de traduzir Seol (Hades). De todas as palavras usadas, é esta a que mais se aproxima da ideia original, embora não seja adequada. A palavra "além" é um tanto vaga, pois não indica exatamente a posição daquele que partiu; indica apenas que não está mais na terra dos viventes; está no além. Esta é, aproximadamente, a ideia contida nas palavras Seol e Hades. Seol (Hades), porém, é um estado provisório, e a palavra "além" não transmite esta ideia.


Seol ou Hades

Os vocábulos Seol e Hades indicam mais um estado do que uma posição. Como dissemos acima, é quase o que entendemos pela expressão "além-túmulo". Consideremos alguns textos bíblicos para perceber, com mais clareza, o seu significado.


Em Gn 37:35, encontramos a palavra pela primeira vez na Bíblia. Jacó pensava que o seu filho José estava morto, e disse que iria a ele a Seol. Ele pensava que José não estava mais na terra dos viventes, mas sim, em Seol, isto é, na região dos mortos. Seol (Hades) é o antônimo da expressão "terra dos viventes"; é a habitação dos mortos, sem especificar exatamente onde estes mortos estão.

Muita confusão tem surgido por não perceber que Seol (Hades) não indica a posição dos mortos; é mais um estado ou condição. Sem dúvida, os mortos estão em algum lugar, mas a palavra Seol (Hades) não especifica onde é este lugar. Já notamos que os servos de Deus (Jacó e Jó) esperavam ir para Seol; os ímpios também serão lançados em Seol (Sl 9: 17), porém 03 ímpios não estarão no mesmo lugar onde Jacó e Jó estão. Seol (Hades) é a esfera dos mortos, em contraste com a esfera dos viventes; é o além.

Mas precisamos limitar esta definição, pois a permanência da alma e do espírito em Seol (Hades) é temporária. Em I Sm 2:6 lemos que o Senhor faz descer a Seol, e faz tornar a subir dele. Jó também falou dum limite à sua permanência em Seol, dizendo: "Oxalá me escondesse no Seol, e me ocultasse até que a Tua ira se desviasse" (Jó 14:13).

Davi também falou neste sentido em palavras que se referem profeticamente ao Senhor Jesus Cristo: "Não deixarás a minha alma no Seol" (Sl 16:10).

Confirmando isto, o Novo Testamento fala daquele dia quando Hades entregará os mortos que nele houver, e será lançado no lago do fogo (Ap 20:13, 14).

Seol (Hades), portanto, é a habitação da alma e do espírito entre a morte e a ressurreição. Na morte, o corpo vai para o pó, porém a alma e o espírito vão para Seol (Hades). O que veio do pó da terra, volta ao pó da terra; o que veio de Deus, volta a Deus (Ec 12:7 e Lc 16:22, 23). Enquanto o corpo se desfaz no sepulcro, a alma e o espírito estão vivos em Seol (Hades).


Condições em Seol (Hades)

Embora as palavras Seol e Hades não especificam o lugar para onde vão os mortos, um estudo das suas ocorrências na Bíblia revela algo sobre as condições neste estado intermediário entre.a morte e a ressurreição. Consideremos, primeiramente, a condição daqueles que são salvos.


Os Salvos

Para os salvos, Seol (Hades) representa livramento ou refúgio. Na sua aflição, Jó expressou o desejo de estar em Seol, escondido, até que a ira passasse (Jó 14:13). Aqui na vida, ele estava sofrendo horrivelmente, e contemplou a Seol como refúgio destas dores. Para os salvos, Seol (Hades) representa aquilo que é muito melhor do que qualquer coisa que temos aqui nesta vida. Lázaro (Lc 16:22, 25) é mais um exemplo disto. O apóstolo Paulo também escreveu: "Desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor" (II Co 5:8). Outra vez ele falou deste mesmo desejo de partir e estar com Cristo, e acrescentou que isto seria muito melhor; para ele, o morrer seria lucro (Fl 1:21,23).


Os Perdidos

Para quem não é salvo, porém, Seol (Hades) não trará qualquer alívio dos seus sofrimentos;

pelo contrário, os aumentará muito mais, pois a Bíblia revela que há muito sofrimento em Seol (Hades) para quem morrer sem a salvação.

Em Deuteronômio lemos: "Um fogo se acendeu no Meu furor, e arderá até ao mais  profundo do Seol" (32:32). O salmista falou de "angústias de Seol" que se apoderaram dele (SI 116:3), e Salomão confirma isto, dizendo: "O amor é forte como a morte, e duro como o Seol o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas" (Ec 8:6).

No Novo Testamento encontramos a mesma realidade, pois se Lázaro foi consolado, o rico foi atormentado. Observe bem a repetição da palavra "tormento" no relato de Lázaro e o rico (Lc 16: 19-31). O rico foi sepultado e, em Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos (v. 23); ele disse a Abraão: "Estou atormentado nesta chama" (v. 24); Abraão lhe respondeu: "Lázaro ... é consolado, e tu atormentado" (v. 25). Quando o rico viu que não haveria misericórdia para ele, nem sequer uma gota de água para aliviar aqueles terríveis sofrimentos, ele lembrou de seus irmãos que ainda viviam, e pediu que fossem avisados, a fim de que não viessem para "este lugar de tormento" (v. 28). 


Conclusão

Concluímos, pois, que Seol (Hades) significa o além-túmulo - mais precisamente, o além-túmulo desde o momento da morte até a ressurreição. A palavra em si não indica o lugar daquele que morreu (se está no céu ou no inferno); apenas indica que não está na terra dos viventes, e sim, na habitação dos mortos. Em Seol (Hades) os mortos estão em plena consciência; alguns no consolo e segurança; outros nos tormentos do fogo.


Ronald E. Watterson

2. Ultradispensacionalismo

Os signatários do presente documento, conscientes das constantes ameaças que se desenvolvem contra a integridade da Palavra de Deus e a unidade dos crentes, entendem ser este o momento certo de definir a sua posição clara e pública perante as Igrejas e os crentes individuais.
Alguns irmãos estão a propagar doutrinas que ultrapassam os limites da revelação divina, entre as quais as que tem de ser entendidas como "ultradispensacionalismo". 

E, embora sejam divulgadas em nome do puro fundamentalismo, são precisamente elas que esgrimem contra os eternos fundamentos da Palavra de Deus.~


Dessas doutrinas destacamos as seguintes afirmações:


1. A Igreja "nascida" no Pentecostes nada tem a ver com a dos nossos dias.

a) Se Israel aceitasse Cristo como seu Messias, a seguir ao Pentecostes, Ele viria imediatamente para reinar.

b) Por tal não ter acontecido é que a Dispensação da Graça foi introduzida no mundo.

c) Esta Dispensação só principiou quando Paulo se voltou para os gentios.


2. A doutrina para a Igreja, encontra-se exclusivamente nas epístolas de Paulo, escritas na prisão.

a) Todas as outras Escrituras, incluindo as que Paulo escreveu, não se destinam à Igreja atual.


3. O Evangelho dado ao apóstolo Paulo era diferente do pregado pelo Senhor e por Pedro.

a) O Evangelho pregado por Cristo e por Pedro requeria o batismo na água para remissão dos pecados.

b) Tal como Paulo ensinou, a ordenança do batismo na água, dada pelo Senhor para todos os crentes, não é necessária, pelo que se torna dispensável para a Igreja atual.

c) Portanto, o batismo na água não é para a Dispensação da Graça.


Nós, abaixo, afirmamos que Continuamos a crer, defender e ensinar aquilo que ao longo de séculos a Igreja tem adotado, sem vacilar, tal como alguns destes nossos irmãos no passado, o fizeram, mormente:


1. Cremos que a Igreja de Cristo nasceu exatamente com o cumprimento da promessa do envio do Espírito Santo, no próprio dia do Pentecostes (Atos 2:41-42, 47; 4:32-35).
Cremos que Deus não "mudou de planos" e que existe apoio suficiente na Bíblia para comprovar que a "Dispensação da Graça" sempre esteve nos planos do Senhor, e que esta se iniciou claramente na altura em que "o véu do templo se rasgou", acabando assim de vez a Dispensação da Lei (cf. epístola aos Hebreus). 

Cremos que, ao afirmarem que a Dispensação da Graça foi introduzida como "último recurso" seria o mesmo que conceber que a morte de Cristo foi também um último recurso e que não estava nos desígnios do Senhor.


2. Cremos que todas as epístolas contêm doutrina para a Igreja atual e que toda a Palavra de Deus é "proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça".
Cremos que o apóstolo Paulo pregou exatamente o mesmo Evangelho, que Cristo, os apóstolos e a Igreja pregaram e têm pregado ao longo dos quase vinte séculos de História da Igreja.


3. Cremos que o batismo na água, conquanto não indispensável para a salvação, é, no entanto, indispensável a todo o verdadeiro crente:

a) Como símbolo público da sua identificação com Cristo (Rm 6:3-8; Cl 2:12-13, Gl 3:27; 1 Co 10:1-2).


b) Como símbolo da morte para o pecado (Rm 6:3-11; Gl 2:20; 6:14).


c) Como símbolo de ressurreição para uma nova vida (Rm 6:9; Cl 2:13; 3:1-4; Ef 2:5-7; 2 Co 5:17; 2 Tm 2:11).


d) Como símbolo de purificação (Atos 22: L6; Ef 5:26; João 3:5; Tito 3:5; Hb 10:22; 1 Co 6:10-11).


e) Como símbolo de revestimento de Cristo (Gl 3:27; Rm 13:14; Ef 4:21-24).


f) Como símbolo da fonte da nossa aceitação por Deus e da nossa aliança com Ele (Ef 1:13-14; 4:30; 2 Co 1:21-22).


g) Como símbolo de passagem a uma nova humanidade (1 Pedro 3:18-22; Cl 1:13).


Por tudo isto e algo mais declaramos, a mais absoluta rejeição das doutrinas entendidas como "ultradispensacionalismo", e suas práticas, assim como precavemos a cooperação com os que as ensinam e espalham.


Declaração Pública – "Refrigério" Nº 2, Março – Junho de 1987

3. Os "filhos de Deus" e as "filhas dos homens"


Gênesis 6 "As filhas dos homens" e "os filhos de Deus", eram anjos?


"Se há um período da história sobre o qual gostaríamos de mais informações é o período antediluviano, entre a queda e o dilúvio. 

A narrativa de Gênesis mostra-se muito reticente, por uma razão muito simples. 

Mil e seiscentos anos são concentrados em duas páginas, de modo que não podemos ignorar a ligação significativa entre a queda e o dilúvio, quer vejamos ou não qualquer outro elemento. 

O escritor inspirado omite tudo que não é vital ao seu propósito. 

A narrativa bíblica jamais se preocupa com o simples lapso de tempo, e sim com a importância moral dos eventos. Entre a queda e o dilúvio, o desenvolvimento dos fatos é quase dramático. 

Vamos observá-los com cuidado: 

No capítulo 3 vemos a queda. 

No capítulo 4, temos Caim e sua linhagem — "os filhos dos homens". 

No capítulo 5 aprendemos sobre Sete e sua linhagem — "os filhos de Deus". 

No capítulo 6 as duas linhas se cruzam, com resultados morais trágicos. 

No capítulo 7 o juízo é executado — o dilúvio. Esta sequência dramática, uma vez observada, não pode mais ser esquecida. 


A separação entre as duas linhagens era vital; sua mistura, fatídica. A condição moral resultante foi espantosa; a corrupção, extrema. Tornou-se inevitável a intervenção divina, assim como o castigo. 

O dilúvio foi enviado como um ato de juízo e também como uma medida de salvação moral. Esta é a primeira grande lição bíblica de que são indispensáveis a separação e a intransigência. A insistência divina em todo o tempo é para que a descendência espiritual "saia e se separe".

Alguns afirmaram que os "filhos de Deus" mencionados no capítulo 7 são anjos decaídos, isto é, anjos "que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio", referidos em Judas 6. 


O falecido Dr. E. W. Bullinger, exegeta capaz, mas frequentemente fantasioso e falho, defende esta ideia. Um pouco de reflexão mostrará como ela é absurda. 

Os anjos são seres espirituais, assexuados, e, portanto, incapazes de experiências sensuais ou processos sexuais; também não podem reproduzir-se. 

A sugestão de esses anjos perversos de alguma forma terem tomado a forma humana e se tornado capazes de uma atividade sexual não passa de um disparate, como qualquer um pode verificar. A ideia é inconcebível tanto no terreno psicológico como no fisiológico. 

Todos sabemos como é peculiarmente delicada, sensível e intrincada a inter-relação que existe entre o corpo humano e a mente ou a alma humana. Isto se deve ao fato de a alma e o corpo terem nascido juntos e estarem misteriosamente unidos em uma personalidade humana. 

É assim que as sensações do corpo se tornam experiências da mente. Se os anjos simplesmente tomassem corpos e habitassem neles, isso não os capacitaria de modo algum a experimentar as sensações desses corpos, pois os anjos e os corpos não estariam unidos em uma personalidade, como no caso da mente e corpo humanos. Na verdade, os corpos não poderiam ser de carne e osso, pois, não habitando neles o espírito humano, o corpo humano de carne e osso morre. 

Quando o Senhor Jesus veio a este mundo para tornar-se nosso Salvador, Ele não tomou para si apenas um corpo humano e habitou nele. 

Tal coisa não o tornaria humano, não seria uma encarnação real. O Filho de Deus não tomou somente um corpo humano, Ele tomou para si a nossa natureza humana; e para isto teve de nascer. 

Se esses "filhos de Deus" em Gênesis eram anjos decaídos, a única maneira de se tornarem humanos e se casarem e terem filhos (6.1, 4) seria submetendo-se a um nascimento humano real — isto é, sendo encarnados e nascidos de mães humanas, mas sem pais humanos! Pensar que isto aconteceu é absurdo. 


Bullinger afirma que "filhos de Deus" é uma descrição aplicada apenas às criações diretas de Deus — isto é, os anjos, o primeiro homem, Adão (Lc 3.38) e aqueles na presente dispensação que constituem uma "nova criação" em Cristo (2 Co 5.17; Rm 8.14 etc.); mas ele certamente se esquece de versículos como Isaías 43.6 e 45.11, onde a expressão "meus filhos" é equivalente a "filhos de Deus". 

Porque só agora, e não antes, quando ainda Eva estava no Éden, sendo a mais linda e perfeita mulher já criada, ou também depois.

Ignoremos completamente, então, a estranha ideia de que esses "filhos de Deus" em Gênesis eram os anjos decaídos, que "não guardaram o seu estado original" a fim de coabitar com as mulheres da terra. 

Além das objeções que já levantamos, a impressão que a Escritura nos transmite é de que a queda desses anjos — como a de Satanás — ocorreu muito antes de o homem ser criado na terra."


1ª Pedro 3:18-22
3:18. Se o Senhor está pedindo, através do Seu servo Pedro, que o Seu povo esteja pronto para fazer o bem e sofrer por causa disso, Ele somente está pedindo que façam, de acordo com a sua capacidade, aquilo que Ele mesmo já provou plenamente. Nas profundezas escuras e solitárias, Ele foi até os "fundamentos dos montes", às profundezas negras e solitárias, onde nenhum outro jamais poderia ir. Nós frequentemente sofremos como resultado do nosso próprio pecado. 

Quando Ele, o Cristo impecável, sofreu, foi pelos pecados de outros.A aplicabilidade do que se segue e como isto se encaixa no contexto geral da epístola, é importante. Se o povo de Deus, aparentemente "poucos", sofre agora por amor da justiça, eles não devem ficar desanimados, embora a multidão dos ímpios pareça ganhar a vitória. Deus é soberano, e Seu domínio sobre todas as coisas não pode ser frustrado. 

O Seu justo juízo já foi estabelecido e será realizado, embora, com longânima paciência para com os ímpios, Ele adia a execução desta Sua estranha obra. 

A evidência suprema disso se vê nos sofrimentos solitários do Senhor Jesus por nossos pecados, na Sua morte, ressurreição e ascensão à glória sobre o trono de todo o poder e autoridade.

Cristo realmente sofreu, mas aquele sofrimento profundo pelos pecados foi "uma vez". Esta palavra não é pote (uma certa vez), mas hapax (uma vez somente), "uma vez por todas ... de validade perpétua, não necessitando repetição" (W. E. Vine). 

O grande propósito daquele sofrimento foi pelos injustos "para levar-nos a Deus". 

Adão e a sua posteridade pecaminosa foram banidos da presença de Deus por causa do pecado. Cristo sofreu para desfazer aquela separação e "levar-nos a Deus". 

Ele mesmo abriu caminho ao lugar santíssimo. Isso é maravilhoso! Ele mesmo tornou-se o verdadeiro caminho para Deus, o Pai. Isso é ainda mais maravilhoso! Ele mesmo traz o pecador perdoado, por meio daquele caminho santo, a Deus. Isso é maravilhosíssimo! 

"Vários significados técnicos foram encontrados em, ou atribuídos a, prosago ('trazer') ... Como muitas vezes acontece, a interpretação mais simples é a mais profunda: o sacrifício expiador de Cristo nos leva a Deus" (E. G. Selwyn).

"A Deus" sugere muito mais do que direção ou localização. Para o impenitente, ser trazido finalmente a Deus e estar diante dEle, será motivo de terror. 

O Senhor Jesus Cristo, baseado na Sua obra consumada, traz o cristão ao coração de Deus, à casa de Deus, e a estar, aceito, em meio da chama eterna da santidade de Deus, e sentindo-se em casa ali. Finalmente, o cristão será trazido ao céu de Deus; mas Deus é mais do que o céu, e o Abençoador mais do que a bênção. 

Assim, o cristão não é chamado somente para ter um conhecimento do céu, embora isto seja uma inspiração, mas ao conhecimento do Deus a quem fomos trazidos. Diante de tal revelação de amor e graça, é impossível deixar de cantar o seu louvor.O Senhor Jesus foi morto na carne: "Ele foi a vítima de assassinato judicial". 

Pedro acusou os homens de Israel da Sua morte, a quem tomaram e pelas mãos de injustos crucificaram e mataram (Atos 2:23).

Ele foi vivificado, isto é, trazido à vida, pelo Espírito. É justamente aqui que começa uma controvérsia que se estende pelos próximos versículos. Homens muito melhores do que nós, discordam sobre a sua interpretação, portanto vamos apresentar aquilo que nós entendemos, e dar as razões das nossas convicções. Convém que os nossos prezados leitores sejam como os nobres de Beréia, que examinavam as Escrituras para provar a exatidão do ensino que recebiam.

Não há dificuldade em aceitar que o Senhor Jesus foi morto na carne, embora algumas seitas, na sua auto-imposta ignorância, negam até isto. O testemunho, porém, é indisputável. Os soldados romanos maravilharam-se com a Sua morte, o centurião que comandava os soldados que O crucificaram a confirmou, as Escrituras a declaram e o próprio Senhor Jesus afirmou: "fui morto" (Apoc. 1:18).

Porém, vários pensamentos surgem por causa das interpretações das palavras: "vivificado pelo Espírito" (ARC). Não há artigo antes das palavras "carne" e "espírito", no grego, e assim a tradução poderia ser: "em carne" e "em espírito". 

Entretanto, idiomaticamente, na nossa fala normal, acrescentamos o artigo: "em [a] carne" e "em [o] Espírito "(ARA). 

O problema ao fazer isso, neste caso, é que "estes seriam o contraste entre as duas partes do ser do Senhor como homem, a externa e a interna" (W. Kelly). 

Isso nos levaria ao erro de afirmar que foi o espírito do Senhor que foi vivificado; mas sabemos que Seu espírito nunca morreu, mas foi entregue nas mãos do Pai (Luc. 23:46).

Detalhes técnicos são apresentados para apoiar a ideia de que "no grego é literalmente: "morto em carne, vivificado em espírito".

Vemos o falso conceito que surge disto ao lembrarmos das palavras do Senhor em Luc. 24:39, onde Ele afirma que estava num corpo ressurreto de "carne e ossos", embora fosse um corpo espiritual. "Se há um corpo natural, há também um corpo espiritual" (I Cor. 15:44).

 William Kelly diz: "A mera insistência, das escolas, em detalhes técnicos sempre erra na interpretação das Escrituras".

A palavra "vivificar" não significa revigorar, nem permanecer vivo, mas fazer voltar definitivamente de entre os mortos. É usada desta maneira no "NT (veja Rom. 4:17; 8:11; I Cor. 15:22 etc.).

"Vivificado" está em contraste com "mortificado". O que foi morto foi o corpo do nosso Senhor. O que foi vivificado também foi aquele precioso corpo (João 2:21). 

"E tão impossível aplicar a palavra 'vivificar' ao espírito de Cristo, como é à Sua natureza divina" (W. Kelly).

Para a interpretação desta seção é necessário entender o significado de "em [o] Espírito". 

Qual espírito? Ou é realmente"Espírito"?Alguns sugerem que, por causa da ausência do artigo, esta palavra não pode indicar o Espírito Santo. É verdade que a forma da palavra sem artigo aponta mais para o caráter dos atos do que para a pessoa que age. 

Entretanto, fica claro através de numerosas Escrituras, onde o artigo está ausente (no grego), que elas se referem claramente ao Espírito Santo, "caracterizando a ação mais do que especificando a pessoa ...". 

William Kelly apresenta uma lista de mais de vinte destas referências, e entre elas estão João 3:5; 4:23-24 e Rom. 8:1, 4, 9, 13.

"Em espírito" não pode significar o espírito humano de Cristo, pois "não é pelo espírito humano que o corpo é ressuscitado" (F. W. Grant). 

Referindo-se ao Espírito Santo, lemos: "o Espírito é o que vivifica" (João 6:63). 

Ele "também vivificará os vossos corpos mortais, peio seu Espírito que em vós habita" (Rom. 8:11). 

"O Espírito de Cristo" é um dos títulos do Espírito Santo, e não a Pessoa divina de Cristo (1:11).


3:19-20. Para o crente, o sofrimento findará. Há glória além deste vale de lágrimas. Cristo, nosso precursor, já entrou. Ele padeceu uma vez, mas foi ressuscitado dentre os mortos pelo Espírito Santo. Ele subiu ao céu naquele corpo ressurreto, e está assentado em glória sobre-excelente. 

Ele é Senhor dos mundos e Soberano dos céus:"havendo sê-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências" (v. 22).

Foi pelo mesmo Espírito Santo que "foi, e pregou aos espíritos em prisão". 

Esta Escritura difícil tem sido usada para pregar sobre "uma segunda oportunidade" para alguns, ou um tipo de universalismo, em que todos finalmente chegarão ao céu, alguns diretamente e outros através de um tipo de purgatório. 

Precisamos procurar respostas às seguintes perguntas: Quem são estes prisioneiros? e, quando foi que Cristo pregou a eles e onde?Temos visto que foi o Espírito Santo que realizou a obra vivificadora no corpo do Senhor Jesus. Então foi "também" pelo mesmo Espírito que Cristo pregou.

"Os espíritos que estão em prisão" (JND) são descritos como havendo sido desobedientes à mensagem que foi pregada, e não deram ouvidos a ela durante os longos dias da paciência de Deus antes do dilúvio. Por causa daquela desobediência e incredulidade "veio o dilúvio, e os levou a todos" (Mat. 24:39) e seus espíritos ficaram aprisionados.

Alguns sugerem que quando o Senhor Jesus morreu Ele foi "em espírito" ao mundo invisível. 

Lá Ele pregou a 

a) espíritos aprisionados de homens, mortos há muito tempo; ou 

b) a anjos caídos, para proclamar a Sua vitória; ou 

c) aos santos do VT, a quem Ele livrou para habitarem nos lugares celestiais.

Em primeiro lugar, já vimos que este não pode ser Seu espírito humano, a não ser que Seu espírito humano pudesse ter morrido. Ele foi ressuscitado pelo Espírito Santo: "No qual [no Espírito Santo] também foi e pregou ..." 

É por meio deste mesmo Espírito Santo, agora neste dia da graça, que se prega o evangelho. Em todo lugar onde se prega o evangelho no poder do Espírito, o Senhor está presente, pois Ele disse na Sua grande comissão: "eis que Eu estou convosco todos os dias" (Mat. 28:20) 

Efésios 2:16-18 fala deste mesmo ministério de Cristo, pregando. Depois da cruz e depois da derrota do inimigo, "vindo, Ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto". 

Ele não desceu novamente à terra, mas pregou através de Seus servos, pelo poder do Espírito Santo. Depois da ascensão de Cristo à destra de Deus, os discípulos, "tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor ..." (Mar. 16:20).

Devemos notar com cuidado que as Escrituras não dizem que Cristo foi à prisão e pregou aos espíritos, mas entendemos deste versículo que o Espírito de Cristo, em Noé, "pregoeiro da justiça" (II Ped. 2:5), pregou aos antediluvianos. 

Eles ouviram esta proclamação de justiça, mas foram desobedientes (ARA) ou "não creram" conforme a nota de rodapé de JND. 

Levados pelo dilúvio, seus espíritos estão presos, aguardando o juízo final.Dos anjos caídos, lemos que "havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo". 

Não há nenhum intervalo de alívio, mencionado nas Escrituras, para aqueles seres outrora tão privilegiados. O Senhor é conhecido nas legiões infernais (Mar. 1:24; Luc. 8:28). 

Ele não precisa fazer qualquer proclamação a esses seres maus, pois eles hão de vê-L0 no dia do juízo.Os demônios são outra espécie; eles estão em liberdade, no presente, para percorrer a terra, e estão sempre procurando corpos nos quais possam habitar. Mesmo o corpo de uma mosca (Belzebu quer dizer "senhor das moscas'; Mat. 12:24), ou de um porco (Mar. 5:12) é melhor, para eles, do que o abismo (Luc. 8:31). 

Alguns destacam que a palavra pneuma, quando sozinha, sempre se refere a uma ordem superior ao homem e inferior a Deus. 

Aqui, eles dizem, pneuma está sozinha e, portanto, deve indicar algum tipo de anjo caído. J. B. Rotherham mostra, porém, que "Esta frase é destacada enfaticamente ... [é] literalmente aos 'em-prisão espíritos', portanto pneuma não está sozinha aqui". 

Vemos a longanimidade de Deus para com os ímpios, pois Ele adiou o juízo durante 120 anos "enquanto se preparava a arca". 

Os incrédulos zombam da história da arca e da honestidade de Deus. Eles dizem que não haveria espaço suficiente na arca para salvar todo o mundo. Estes pensamentos insensatos surgem porque não conseguem entender o significado da arca. Existem muitas ideias erradas acerca de Noé e da arca. A ênfase não está no navegar da arca, mas no "preparar" dela. Ela navegou por um ano e dez dias, mas levou cento e vinte anos para ser preparada. Cada tábua era um sermão, cada martelada foi um aviso e enquanto a estrutura tomava forma, assim também aumentava a responsabilidade dos ouvintes.

Era a demonstração prática da mensagem de Deus, executada diante de seus próprios olhos: "arrependei-vos ou perecereis". 

Ela não foi construída para salvar o povo no dilúvio, mas do dilúvio.

Não foi preparada para salvar a população do mundo, mas Noé e sua família (Heb. 11:7), depois que o mundo recusou a mensagem de Noé. A arca não é uma figura de Cristo, mas de salvação e segurança. 

A Terra é a figura de Cristo: o pecado foi cometido sobre a Terra, mas não havia pecado nela. Aquilo que, em si mesmo, era sem pecado suportou as ondas e vagas do juízo de Deus. Noé e sua família foram salvos "através" das águas do juízo.


3:21. Noé e sua família passaram "através da água" (JND) e foram salvos. Aquela água os separou para sempre da sua velha vida no velho mundo. Não havia como voltar. Eles foram trazidos a uma vida nova sob novos princípios de governo. 

A arca "veio a repousar sobre o monte Arará com seu frete vivo, num mundo novo, sobre o qual se estendia um arco sem flecha" (W. Lincoln). 

Este seu novo começo foi marcado por um sacrifício ao Senhor. Eles foram salvos da contaminação do mundo e suas consequências, pela água. 

Eles foram salvos para andar numa vida totalmente nova.

O batismo também é uma figura; simboliza a morte, sepultamento e ressurreição, que capacita ao obediente andar em novidade de vida. 

O batismo testifica visivelmente daquilo que já aconteceu espiritualmente e justamente, isto é, a identificação do cristão com Cristo na Sua morte, sepultamento e ressurreição. O batismo da cruz foi a realidade. 

O batismo do Espírito Santo é o resultado e o batismo do cristão, em água, é a declaração. Isto não é regeneração pelo batismo, que é uma ideia falsa, atribuindo poder vivificador a uma ordenança que, em primeiro lugar, é figura de morte. 

A água do batismo alcança somente a pele, mas não o pecado. As Escrituras dizem claramente: "não sendo a remoção da imundícia da carne" (ARA). 

"E impossível não ficar impressionado com a cautela do Espírito de Deus em tratar deste assunto, ao declarar que não é o mero lavar da sujeira da carne, como por água, mas 'a indagação de uma boa consciência para com Deus' " (C. H. Mackintosh).

A "indagação" (eperotema), que também pode ser traduzida "exigência" ou "apelo", de uma boa consciência, é a obediência. "O batismo, portanto, é a base de um apelo feito por uma boa consciência contra obras más" (W. E. Vine). 

O que se espera é que "assim andemos nós também em novidade de vida". 

A morte, o sepultamento e a ressurreição, representados pelo batismo, são judiciais e reais. A boa consciência interroga e apela ao crente com base no compromisso que ele expressou pelo seu batismo. 


3:22. A consequência dos sofrimentos de Cristo é, para Ele, exaltação à glória. É imensurável e inestimável o conforto que este fato traz aos cristãos de todas as eras. As potestades satânicas podem atacar, os governos terrestres podem oprimir, os ímpios podem aterrorizar e o povo pode zombar da bondade dos santos e difamar o seu caráter, mas há uma Pessoa assentada à destra de Deus, Jesus Cristo, que é seu Senhor ressurrecto e seu Salvador. 

Ele está em controle de tudo, decretando, permitindo, movendo e dirigindo todas as coisas de acordo com o eterno propósito e ninguém pode deter a Sua mão. 


2ª Pedro 2:4
Pedro agora mostra exemplos tirados da história: anjos (v. 4), antediluvianos (v. 5) e sodomitas (v. 6). 

Cada um ilustra a afirmação de Pedro: a punição espera os falsos mestres, porque Deus não se deixa zombar, nem pelos habitantes dos Céus, nem pelos da Terra. As Escrituras revelam pouco a respeito de quando e o que estava envolvido nessa referência aos anjos que caíram em pecado. 

Com certeza a grandeza de seus pecados deve ter sido tremenda (a retribuição é justa e na medida do pecado cometido), porque eles estão presos no Tártaros que, no mundo grego, era o inferno mais baixo — bem pior do que o Hades, e reservado para aqueles que perversamente desprezaram sua posição e inescrupulosamente contaminaram os inocentes. 

Deus não levou em consideração a posição de influência desses seres, pelo contrário, julgou o pecado com justiça. Presos aos abismos ou às correntes de escuridão, eles não poderiam continuar em seus pecados sujos e vis, que haviam causado tanta confusão na criação de Deus. De acordo com o pensamento deste autor, este não é o acontecimento descrito em Gên. 6. 

A sequência dos exemplos mostra que o que ocorreu em Gên. 6 é o segundo exemplo. Essa referência aos anjos e ao prejuízo causado por eles nos leva ao passado, à entrada do pecado no jardim do Éden. A serpente que pregou era um falso profeta, primeiramente colocando dúvidas quanto ao caráter de Deus, depois quanto ao estado desnecessariamente restrito do homem, e em terceiro lugar falsamente consolando a mulher obrigada à sujeição. 

O fato de estar no plural não afeta a história da visita da serpente ao Éden. Pelo contrário, indica que a queda de Satanás, da posição de administrador a serviço de Deus para a posição de adversário de Deus, foi uma queda real, na qual Satanás arrastou consigo, à destruição, muitos dos poderes invisíveis (comp. Apoc. 12:4). 

Em Jó 1:6; 2:1-7, Satanás aparece perante Deus junto com uma legião de outras criaturas celestiais, mas obviamente diferente delas (o que é destacado quando o Senhor fala a ele pessoalmente). Os filhos de Deus vieram se apresentar perante o Senhor e receber instrução para serviço. Satanás também chegou entre eles, mas não para receber instruções. 

Em Apoc. 12:4 Satanás, como o dragão, também tem muitos seguidores. A maravilha está no céu (v. 3); a legião que o segue é celestial, indicando que poderes celestiais seguiram o dragão no seu trabalho.O trabalho de Satanás, a serpente no Éden, o revela como líder de todos e de tudo o que é falso e enganoso. 

O ataque ocorrido no Éden foi planejado para enganar Eva e para arrastar a humanidade ao pecado. Nós conhecemos o triste resultado. O método utilizado, a maneira de se aproximar e o resultado final são uma sombra dos astutos movimentos dos falsos profetas do VT e dos falsos ensinadores do NT. 

A promessa de Deus foi feita ainda no Jardim do Éden. De uma maneira especial, Satanás utiliza não somente emissários da legião celestial, mas também homens e mulheres na Terra, como agentes para trazer descrédito à promessa de Deus. 

Ele se opôs violentamente ao cumprimento da promessa e continuará a se opor. Deus agiu naquela ocasião, pois Ele nunca vai tolerar o pecado; o Seu julgamento será justo, a penalidade será de acordo com a severidade do pecado cometido, e o resultado final será o cumprimento da Sua promessa. 

Deus não reteve a Sua condenação até mesmo dos anjos que pecaram, incluindo Satanás; evidência clara que os falsos mestres que se utilizam das sórdidas táticas de Satanás devem temer o fim que os espera.


Judas 6
O segundo exemplo do juízo de Deus é dos anjos que pecaram.Estes apresentam a Judas mais uma prova de que os ímpios serão também julgados no tempo devido. Entrando na esfera dos céus, e procurando estabelecer o que acontece ali, temos muito pouca informação.Contudo, de algumas referências das Escrituras, podemos entender que estas criaturas, apesar da sua posição elevada, tinham a capacidade de pecar. 

O seu chefe foi indubitavelmente Satanás, e ele liderou a rebelião, querendo ser semelhante ao Altíssimo. A raiz da sua queda, e da deles, foi o seu orgulho. 

Não ficaram contentes com a sua posição, ou estado, mas deixaram-no para atingir algo mais elevado. 

A palavra "principado", também usada em Ef. 6:12, indica não somente a primeira posição deles, mas a alta dignidade desta posição. Para sugerir que eles deixaram este estado maravilhoso de glória para se tornarem companheiros das mulheres na terra, parece dar a eles a graça manifestada em Cristo, quando Ele desceu à terra para ser o nosso Salvador. 

Não, o seu pecado não foi em descer, mas em seu desejo de subir, e por causa disto foram lançados para baixo por Deus. A sua "habitação" era sem dúvida o céu, onde eles viviam na luz da glória de Deus. 

Uma vez caídos, perderam sua liberdade e foram presos, e, ao mesmo tempo, perderam a luz do céu e foram confinados à escuridão. Paulo os chama de "principados e potestades", os "dominadores deste mundo tenebroso" (Ef. 6:12 ARA). 

Nesta prisão de trevas ficarão até ao dia quando serão julgados e lançados no lago de fogo. Como todos os ímpios, eles não estão ainda no seu destino final, mas estão guardados, sem esperança de escapar, até seu fim chegar. 

O significado deste versículo é que, como as criaturas mais elevadas foram julgadas por causa do seu pecado, assim também os obreiros maus sofrerão seu justo castigo.

É surpreendente ler as palavras: "anjos ... não guardaram seu estado original" (ARA). 

Eles se tornaram descontentes com a sua sorte e também com o propósito do seu Criador para eles. O seu pecado não foi por falta de inteligência, porque são sempre representados como seres inteligentes; também não surgiu por causa de uma natureza depravada herdada, porque eram tão perfeitos como a obra de Deus; e nem foi porque receberam uma posição inferior, pois eram muito mais elevados do que o homem sobre a terra. Não podemos culpar a Deus por ter criado seres com a capacidade de pecar, pois nunca foi da Sua vontade que pecassem. 

Contudo, tem sido Seu propósito ter, ao redor de Si, seres livres e responsáveis que, voluntariamente, Lhe deem a glória devida ao Seu nome. Mesmo nós, que somos feitos à Sua imagem, nunca podemos achar companhia ou satisfação em meras máquinas. Elas nos obedecem, mas não podemos agradecer-lhes por isto, pois não são capazes de outra coisa. O que traz gozo ao coração de Deus é obediência, e devoção a Ele, subindo espontaneamente dos corações dos Seus. 

Ele achou isto, com perfeição, na pessoa do Seu Filho. O livre arbítrio somente cessa de ser uma bênção às Suas criaturas quando sai do caminho certo e se rebela contra Deus.Um grande número de escritores liga este trecho com Gên. 6, e dizem que foi quando os anjos (filhos de Deus) deixaram o céu para obter esposas dentre a descendência de Adão que "deixaram a sua própria habitação". 

Não é fácil para alguns de nós acreditarmos que espíritos, sem sexo, desejariam mulheres e que deixariam o céu para gratificar a sua paixão. É necessária muita imaginação para aceitar que seres sem corpos poderiam ser perturbados com concupiscências carnais. 

Não é estranho que demorou mais de mil anos para eles observarem a beleza feminina? 

Por que não cobiçaram Eva? 

Pois observaram a sua criação, e sem dúvida ela foi a mais linda de todas as mulheres! Será que temos de pensar que seu lar celestial lhes significava tão pouco, que o deixariam para serem sujeitos às limitações de uma terra amaldiçoada? 

A segunda ideia baseada neste trecho de Gênesis é que os gigantes eram o produto desta união de anjos com mulheres, e que eram a evidência deste relacionamento anormal. Dizem que o significado da palavra hebraica para "gigante" (nephilim) apoia isto, pois dizem que quer dizer "os que caíram"; mas conforme Gesenius, o significado mais provável é "os que caem sobre". 

A maneira como os gigantes tratavam os mais fracos lhes deu esse nome. É evidente, pelo trecho, que os gigantes estavam na terra antes dos "valentes", e não eram o fruto do relacionamento imaginado. Gigantes apareceram nos dias de Israel, no deserto, e mais tarde nos dias de Davi. 

Será que temos que acreditar que houve várias quedas de anjos, e sempre que vemos alguém de estatura e físico enormes, temos que pensar que foi um anjo que o gerou? Mesmo na natureza ao nosso redor, Deus controla, pois embora espécies diferentes podem ser cruzadas e reproduzir, como no caso da mula, termina aí, porque nenhuma mula pode se reproduzir. 

Assim, é estranho se anjos e mulheres podem se unir e produzir gigantes, pois lemos dos filhos dos gigantes. 

Tudo isto é tão absurdo que quase não merece uma tentativa de refutá-lo. Anjos pecaram e foram lançados da sua posição elevada, sua humilhação seguiu o seu pecado, mas não foi a causa dele.

Tem havido muita dificuldade em entender as várias posições ocupadas por Satanás e suas hostes; lemos dele nos céus e com acesso a Deus (Apoc. 12:10), do seu andar como leão que ruge (I Ped. 5:8), da sua queda do céu (Luc. 10:18), da sua transformação em anjo de luz (II Cor. 11:14), dele amarrado no abismo e lançado no lago de fogo (Apoc. 20:2, 10). 

Muita da confusão que surge destas várias afirmações é removida quando lembramos que Deus pode falar de eventos futuros como se fossem já realizados. Embora Satanás não é onipresente, ele tem agentes por toda a parte, e o que é feito por estes é considerado a obra dele.

As Palavras: "Guardaram", veja "conservados" (v. I) e "guardaram" (v. 6). "O seu principado" (arche), também em Ef. 1:21; 3:10; Col. 1:16, se refere à alta posição ocupada pelos anjos, enquanto que a sua "habitação" (ioiketerion) se refere à sua morada. 

"Prisões" (desmos), são as algemas (ARA) que prendem prisioneiros, etc., e a palavra é usada geralmente no plural. Veja Col. 4:18; II Tim. 2:9. 

Há um jogo de palavras neste versículo.Os anjos "não guardaram" (tereo) o seu principado, mas Deus os "reservou" (tereo) na escuridão. 

Assim, por não guardarem a sua dignidade, são guardados na escuridão, pelo Senhor.

4. A ciência e Deus


Robert Ingersol disse: "Eu não sou ateu. Sou agnóstico. Não digo que não há Deus. Digo que não sei se há Deus".


Um europeu atravessando o deserto do Saara, foi guiado por um árabe. Três vezes por dia este ajoelhava-se na areia ardente. 

Depois de alguns dias o europeu perguntou-lhe: "Por que oras, como sabes que há Deus?" 

O árabe fitou os olhos no zombador e replicou: "Senhor, um homem passou pela nossa tenda, não o vi, mas vi os seus rastos na areia e sei que ele passou. Ora, nunca ouvi Deus a falar, nunca O vi, mas em toda a natureza posso ver os Seus rastos; portanto sei que Ele existe".


É isto mesmo. Para qualquer lugar que olhamos, vemos as maravilhas da Sua Obra. Os rastos de Deus, que se veem por todo o lugar, são a melhor prova que Ele existe. É preciso mais fé para rejeitar a crença em Deus do que para aceitá-la.

Certo menino da Escola Dominical, sentado à beira de um lago, contemplava a água azul. Passando um filósofo disse: "Menino, o que estás a fazer?" – "Estou a pensar". – "A pensar em quê?" – "Em Deus". – Podes dizer-me onde está Deus?". 

O menino olhou o homem surpreendido. 

O filósofo tirou uma maçã do seu bolso e disse: "Se puderes dizer onde está Deus, dar-te-ei esta maça". O menino, por sua vez, tirando duas maçãs do seu lanche, disse: "Dou-lhe estas duas, se puder dizer-me onde Deus não está!".

"Pode alguém ocultar-se em lugares escondidos que Eu não o verei? – diz o Senhor Deus – Porventura não encho Eu o céu e a terra?" (Bíblia, Jeremias 23:24).


Contudo, há algumas pessoas que consideram científico afirmar que o mundo se originou a si mesmo. 

Os Lusíadas de Luíz de Camões, em 10 cantos e 1102 estrofes em oitava rima, aparece em muitas edições em português, desde 1572. 

Quem pode acreditar na história de que Camões juntou uma afinidade de letras dentro de cascas de ovos, e guardando-as a uma certa temperatura, durante algum tempo, assim surgiu do nada essa sua grandiosa obra poética? 

Acontece, porém, que é insignificativamente mais fácil de crer do que acreditar que o grandioso Universo, cujo fim se desconhece, se criou a si mesmo e sem qualquer "Luiz de Camões" para guardá-lo na temperatura própria!
As maravilhas que estão ao redor de nós, são prova da existência de uma INTELIGÊNCIA que originou tudo. Entre todas as espigas de milho do mundo não se encontra uma com os grãos em carreiras ímpares.
Com o microscópio descobrem-se uma infinidade de defeitos na fazenda mais bem tecida, mas no lírio, por meio deste instrumento, vê-se ainda mais clara a perfeição. 

As linhas de um floco de neve ampliado até metros de comprimento são certas, enquanto que o gume da navalha ampliado até ao grau mostra-se desigual como o serrote. 

O que pode ser mais ridículo do que dizer que estas, e mil outras maravilhas, chegam a existir sem um criador inteligente?
Acredita que um relojoeiro tenha trabalhado muitos anos nas peças de um relógio, mas que antes de juntá-las, teve de mudar-se.

 No caminho, um cavalo espantou-se, bateu-lhe nas peças que continha as peças, fazendo-as voar em todas as direções. 

As peças caíram e reuniram-se formando um relógio já com corda e com a hora certa. Acredita?
Esta história é tão improvável como a história de que o Universo Infinito e maravilhoso se tivesse ajuntado e posto a funcionar, sem qualquer autor e sem qualquer fabricante de "peças"...
Se nos fosse possível dar um passeio nas asas da luz pelas grandes oficinas de Deus, o Universo, veríamos que o nosso globo, a terra, é tão pequena que são necessárias 12 milhões de "terras" para fazer um globo do tamanho do sol. 

Se o nosso planeta fosse lançado nesse sol, seria consumido tão depressa como um fósforo numa fornalha ardente. 

Sabemos, outrossim que existem estrelas, como a Sirion, que são milhares de vezes maiores que o nosso sol: Sirion (5000 vezes); Vega (54.000); e Arturo (55.000)!

O universo é tão vasto que os astrônomos não podem falar em termos de quilômetros. 

A luz tem uma velocidade de 300.000 Km por segundo, ou seja, sete vezes em redor da terra num abrir e fechar de olhos. 

Só na Via Láctea calcula-se haver um milhão e setecentos mil sóis. Para atravessar essa distância a luz gasta 328.000 anos. Mas além dessa Via Láctea há nebulosas, cada uma constituindo o seu próprio Universo composto de estrelas e planetas inumeráveis. 

Uma dessas nebulosas, Andrômeda, emite tanta luz como mil milhões de sóis como o nosso. E dos 2 milhões de nebulosas conhecidas, a que fica mais perto de nós, dista 140 milhões de anos-luz!
Refletindo sobre estas distâncias do Universo, somos levados a meditar sobre o comprimento da ETERNIDADE.
Quando se olha para o universo com um telescópio não se podem alcançar as suas fronteiras e nem com o microscópio se pode perceber todos os animálculos. 


Os germes da infusora são tão minúsculos que 175.000 biliões deles podem estar num só dos nossos dedos. Tem de haver Alguém que planejou tudo isto!
A ciência revela o material. Mas somente a Bíblia Sagrada revela o que é espiritual. A ciência fala do universo tão vasto que nos perdemos. 

Mas as Escrituras falam de um Deus Todo-Poderoso que nos desenvolve, guarda, guia e faz-nos encontrar o Verdadeiro Caminho.
Tal como disse Santo Agostinho:
"Tu, ó Deus, tens-nos feito para Ti mesmo, e os nossos corações não têm descanso antes de descansarem em Ti".


O milagre do novo nascimento, da mudança de coração, é, todavia, a prova que mais convence. 

Isto se dá, quando um pecador arrependido, crê, no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador pessoal.

"Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus" (João 3:17-21).

Descobrirá a maior prova da existência de Deus, pois Ele, através do Espírito Santo, lhe salvará e guiará a sua vida.

5. A clonagem humana

A última novidade que a ciência se orgulha de proclamar, é a clonagem. 

O homem, na sua procura desesperada por poder e glória, atingiu o máximo: querer imitar Deus no ato da criação.
É mais uma das múltiplas manifestações da multiplicação da ciência, tal como profetizado por Daniel, a qual teria lugar nos últimos tempos (Daniel 12:4).

Todavia, mesmo que percorram todo o espaço sideral, jamais lograrão realizar a obra da criação divina, a qual não tem par, já que Deus fez o homem à Sua Imagem e semelhança – «E criou Deus o homem à Sua Imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou» (Gn 1:26-27), e qual maravilha, foi o Deus Trino quem interveio nessa criação.
Uma criação também ímpar porque Deus «formou o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida» tendo nesse mesmo instando o homem sido feito alma vivente. 

É isto que o homem não poderá jamais fazer: dar o fôlego da vida e criar uma alma, porque a vida e a alma são pertença única e exclusiva de Deus.

Foi também Deus quem fez a primeira e única clonagem humana. Na verdade, «o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu: e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher (Eva) e trouxe-a a Adão» (Gn 2:21-22).

Lemos em 1 Samuel 2:6 que a vida, além de ser um dom de Deus, é uma prerrogativa subordinada à vontade de Deus. Só Deus tem o direito de dar e tirar a vida. 

Só Ele é soberano; o Seu conselho é firme, faz toda a Sua Vontade (Isaías 46:10) e ninguém se Lhe pode opor (Isaías 44:6-8).
O homem pode buscar na ciência soluções passageiras para melhorar o seu exterior, mas é Deus quem tem pleno domínio sobre o interior, pois é Ele quem o forma. 

É Ele que está na origem da formação de cada ser humano, quer no corpo, quer na alma, quer no espírito. Por isso, Davi podia testemunhar: «os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no Teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia» (Salmo 139:16).
O Senhor, dirigindo-se a Jeremias, declara peremptoriamente: "Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre te santifiquei" (Jr 1:5). 

Isaías declara, outrossim, que «o Senhor o formou desde o ventre para seu servo» (Is 49:5). 

Estas passagens bíblicas provam claramente que o Senhor tem pleno controlo sobre a vida humana desde o momento da concepção (e mesmo antes!...) – logo, o Senhor não pode intervir na criação de uma alma, corpo e espírito objeto de uma clonagem científica feita pelo próprio homem.
Somente o resultado do processo normal de reprodução permite a existência real e efetiva de alma e espírito humanos. Esse é verdadeiramente o propósito do Senhor – a reprodução mediante filhos e não mediante clonagens – aos reprodutores chama o Senhor de «bem-aventurados» (Salmo 127:3, 5) e aos filhos chama o Senhor como «herança» dEle proveniente.

Afinal, os propósitos humanos são o cume e a prova da maldade do homem e do seu objectivo em querer tornar-se igual a Deus. Infelizmente, esquecem-se dos relatos bíblicos e das consequências que advieram para a humanidade quando esta quis equiparar-se a Deus ou chegar a Ele pelos méritos próprios.
A primeira vez que isso ocorreu foi precisamente no Jardim do Éden, quando Adão e Eva, desobedecendo à ordem do Senhor, comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, da qual o Senhor lhes tinha proibido que tocassem. 

A argúcia de Satanás foi precisamente esta: «sereis como Deus, sabendo o bem e o mal» (Gn 3:5). 

A consequência desse ato foi fatal: o pecado entrou no mundo, com ele a morte (física e espiritual) e a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden (Gn 3:23-24).
Mais tarde, aquando do dilúvio, porque também não quiseram ouvir a voz de Deus e porque se consideravam auto-suficientes, pereceu toda a humanidade com a excepção de Noé e da sua família (Gn 6).


Passado algum tempo do terrível juízo que Deus tinha efetuado sobre a terra, quis o homem, mais uma vez, ser igual a Deus, e para o efeito começou a construir a Torre de Babel. 

O seu propósito era evidente: "Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque os céus, e façamo-nos um nome..." (Gn 11:4). 

A resposta do Senhor foi mais uma vez firme: "Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim, o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade" (Gn 11:7-8).

Ao longo da história do homem tem sido sempre este ciclo: o homem quer subir, quer ser igual a Deus, e Deus, com grande paciência, mas também com ira, desce e derrama o Seu justo juízo sobre os prevaricadores. 

O mesmo ocorrerá com aqueles que quiserem "clonar" o homem, pois o Senhor não dorme nem tosqueneja (Salmo 121:3) e julgará justamente quem dEle zomba e escarnece.

Perante o orgulho do homem, a Bíblia tem resposta: "Maldito o homem que confia no homem" (Jeremias 17:5). 

Essa é a sentença de Deus: a maldição, a condenação. E quem é o homem? 

É porventura melhor que o seu Criador? (Jó 4:17) 

Qual barro, pó da terra, qual a autoridade do homem para questionar a Deus e se insurgir no esconderijo dos insondáveis mistérios do Criador? 

Mas mais que isso, o que pode dar o homem pelo seu resgate? (Marcos 8:37) – Nada, absolutamente nada, pois toda a riqueza do mundo seria manifestamente insuficiente...
Quão verdadeiras são as palavras do salmista: "É melhor confiar no SENHOR que confiar no homem" (Salmo 118:9). 

O homem, na sua irremediável tentativa de se tornar grande, igual a Deus, ensoberbece-se a si próprio, contudo em milésimos de segundo tudo se destrói, roído pela sua própria concupiscência.
Mas aquele que confia no Senhor é bem-aventurado. 

A Sua ação em nós é única. Além do ato criativo sobre o corpo, o Senhor, àqueles que se humilham perante Ele, nEle creem e se arrependem, diz o Senhor que somos conformes à Imagem do Filho – Rm 8:29. 

Superior a qualquer clonagem, só o Senhor é titular do dom da vida, da transformação e da nova vida espiritual, acessível para todo o que crê (João 1:12)

Nota: Naturalmente que a clonagem nada tem a ver com as transplantações de órgãos. 

Na verdade, nem existe correspondência entre os transplantes e a clonagem. É inimaginável que no futuro um órgão de um qualquer animal possa ser "clonado" para ser transplantado no homem. 

Ou é transplantado enquanto tal ou então é uma modificação contra natura. Dizer que se espera na clonagem "um mundo melhor" é pôr mais uma vez o destino humano nas mãos do acaso e da glória humana. O mundo melhor apenas pode ser obtido mediante Jesus Cristo. 

Por outro lado, prezado amigo que está a ler estas letras com surpresa ou mesmo recusando estas ideias e que pensa que tudo o que tem ou que faz o conseguiu e consegue por si próprio ou pelos seus meios... lembre-se apenas do seguinte: a vida pertence a Deus, inclusive a do(a) prezado(a) amigo(a).

 A vida que está a viver não pertence ao prezado amigo. A qualquer momento, pode perdê-la. 

A Bíblia diz claramente que é DEUS, apenas Deus Quem tem poder para dar e tirar a vida (1 Samuel 2:6). 

E a vida humana é algo extremamente precioso e valioso para Deus, pois foi Ele quem soprou no homem o fôlego da vida (Gênesis 2:7). Medite um pouco...

6. A posição da Bíblia sobre Maria 

Caro amigo, não é o objectivo deste estudo criticar, atacar ou ofender a sua fé conforme o ensino que você recebeu. 

Queremos apenas esclarecer alguns pontos que divergem do que a Bíblia ensina sobre o cultuar, venerar ou adorar personagens bíblicos.
O nosso assunto trata da divergência entre cristãos Protestantes e Católicos Romanos no que diz respeito a posição bíblica de Maria no cenário religioso. Para tanto vamos recorrer tanto à Bíblia como a fontes históricas.


Queremos esclarecer que pessoalmente não temos nada contra a mãe do nosso Salvador (a Maria bíblica). É claro na Bíblia a importante posição de Maria dentro do Plano de Salvação que Deus providenciou para a humanidade. 

Ela era uma jovem judia temente a Deus que O adorava como o Único Deus Verdadeiro e por isso foi escolhida para gerar em seu ventre, por ação direta do Espírito Santo, o Messias prometido como o Único capaz de salvar todo aquele que nEle crer. Portanto, não poderíamos ignorar o seu importante papel dentro dos planos de Deus. 

O que queremos, sim, é questionar de forma inteligente e respeitosa, e bíblica o elevado papel que os homens deram a bem aventurada Maria.
São estes pontos de divergência que iremos analisar para que o leitor possa tirar as próprias conclusões. Queremos oferecer ao leitor a oportunidade de conhecer o outro lado da moeda que tem sido ocultado propositalmente da grande maioria dos cristãos. Eis abaixo alguns deles:


1) A Imaculada Conceição de Maria

Dogma oficializado pelo Papa Pio IX em 1854. 

Ele disse que a "santíssima virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original no primeiro instante da sua concepção". 

No século VIII, a igreja na Inglaterra começou a celebrar uma festa da concepção de Maria.

Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo e doutor da Igreja Católica, se opôs a introdução desta festa na França. Vemos, portanto, que mesmo entre os grandes homens da fé Católica houve divergência quanto a este assunto. Vejamos agora o que a Bíblia diz a este respeito: Simplesmente nada!!! É apenas uma doutrina dos homens. 

A Bíblia diz em Romanos 5:12: "Portanto, assim como por um só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." 

O amigo leitor pode ver que a Bíblia mostra claramente que o pecado entrou no mundo por meio de Adão e Eva e que todos os seus descendentes herdaram a essência do pecado. 

Esclarecemos que ao dizer que todos pecaram., a Bíblia, em nenhum, lugar isenta os personagens bíblicos do pecado original. A única isenção que ela faz é em relação ao Senhor Jesus Cristo afirmando que Ele jamais pecou. 

Olhemos para o livro de Hebreus 4:15: "Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi Ele (Jesus) tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado."


2) A Assunção de Maria

Doutrina promulgada pelo Papa Pio XII em 1950 como necessária para a salvação. Ele declarou: "A imaculada mãe de Deus, a sempre virgem Maria, tendo completado o decurso da sua vida terrena, foi assunta, corpo e alma, para a glória celestial". 

Não existe base bíblica, apostólica ou pós-apostólica para apoiar esta doutrina. 

Até o século IV os cristãos celebravam uma festa comemorativa à morte de Maria. Somente no fim do século VII incluiu-se a assunção. 

Nicolau I por decreto, em 863, oficializou a festa da assunção de Maria. Portanto, vemos somente decisões humanas no sentido de colocar Maria num pedestal em que jamais a Bíblia prevê. É de se estranhar que um fato que seria de suma importância para os cristãos (caso fosse verídico) não tenha sido narrado por nenhum dos apóstolos em suas inúmeras cartas. A Bíblia ignora totalmente este assunto.


3) A Perpétua Virgindade de Maria

É verdade que a Bíblia fala claramente sobre a concepção virginal de Jesus. Quando se achou grávida, Maria era virgem e jamais havia se relacionado com um homem. A concepção virginal é uma verdade bíblica incontestável! 

Porém, dizer que ela continuou virgem depois do nascimento de Jesus não condiz com a verdade bíblica. 

Para não dizer que nossos argumentos são fundamentados na Bíblia dos protestantes apenas, vejamos o que diz a "Bíblia Mensagem de Deus" de uma editora católica (Edições Loyola): "Acordando do sono, José fez como lhe tinha ordenado o anjo do Senhor: tomou consigo sua esposa, mas ele não teve relações com ela até quando deu à luz um filho a quem deu o nome de Jesus" (Mateus 1:24-25). 

Não vamos discutir se ela teve mais filhos ou não. O fato é que a Bíblia diz claramente que José não teve relações com ela até quando deu à luz a seu filho, Jesus. O termo "até quando" indica claramente que depois do nascimento eles tiveram uma vida conjugal normal.


4) Maria Como Intercessora

Existem alguns pensamentos católicos no que diz respeito a Maria como intercessora pelos homens junto ao Senhor Jesus. Frases como: "Peça a Mãe que o Filho atende" ou até mesmo na Ave Maria que diz: "...santa Maria, mãe de Deus rogai por nós os pecadores...". 

Como estamos analisando o ensino da Bíblia, vejamos o que ela diz: "Porquanto há um só Mediador (intercessor) entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos" (I Timóteo 2:5-6). 

Ora, se a Palavra de Deus afirma que só existe um INTERCESSOR como podemos aceitar a opinião daqueles que dizem haver necessidade de mais intercessores como a bem aventurada Maria e até mesmo outros santos?


Todo cristão autêntico tem livre acesso à presença de Deus. A Bíblia diz, em Hebreus 10:19-20: "Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santo dos Santos (na presença de Deus), pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne..." 

Isto significa que o caminho direto a Deus nos foi aberto por Jesus Cristo quando Ele derramou seu sangue na cruz do Calvário. Devemos então chegar até Deus diretamente em nome do Senhor Jesus. 

O próprio Jesus nos diz que devemos pedir as coisas a Deus no seu nome e não no de qualquer outra pessoa. Mesmo que esta pessoa seja alguém tão importante como Maria. 

Vemos isto em João 14:13-14: "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei."


Um último esclarecimento se faz necessário quanto a pessoa de Maria. Ela mesmo reconheceu-se como alguém que tinha necessidade de um Salvador. 

No magnificat lemos as palavras proferidas pelos seus próprios lábios: "Então disse Maria: a minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, ..." (Lucas 1:46-47). Analise e veja se temos ou não razão para divergirmos seriamente sobre este assunto de tão relevada importância.


Querido (a) leitor (a), quem está com a verdade? A Bíblia ou os homens? A Palavra de Deus ou a dos homens? Não existem duas verdades sobre o mesmo assunto. 

Por exemplo: Se uma casa é branca, ela não pode, ao mesmo tempo, ser preta. Ou é uma coisa, ou outra! Com as coisas espirituais é assim também. Ou a Bíblia está certa e os homens errados, ou os homens estão certos e a Bíblia errada. 

A escolha é sua. Em quem você prefere confiar? Nós confiamos na Palavra infalível de Deus, pois Ele não pode mentir (Tito 1:2).
Pegue a sua Bíblia, confira os textos citados e pesquise as fontes históricas.


Jabesmar Aguiar Guimarães

7. Imagens que choram

Recentemente, e em vários lugares, temos assistido a uma série de eventos religiosos repletos do fantástico ou do sobrenatural, designado por miraculoso. Um deles consiste em manifestação de "lágrimas" e de "sangue" que jorra pelos olhos de estátuas da Religião Católica, ou do revestimento de azeite quando se "reza" à imagem (inventada) da Virgem Maria. O Senhor, porém, rejeita toda a espécie de imagem e toda a veneração que a elas se faça.


1. AS VÁRIAS EXPLICAÇÕES DO FENÔMENO

VERSÃO CATÓLICA ROMANA – Os sacerdotes desta religião incentivam e fomentam o aumento de prosélitos que defraudados pela sua própria ignorância procuram este tipo de manifestações. É desnecessário desenvolver agora a versão desta religião por ser do conhecimento geral.VERSÃO CIENTÍFICA (PARA-PSICOLOGIA) – Os cientistas têm procurado uma explicação racional para fenômenos desta natureza. E chegaram à conclusão de que estes fenômenos só ocorrem quando há presença de pessoas, num raio até 40 metros. Por outro lado, explicam, segundo a fórmula de Einstein, que é possível a manifestação de energia, por via para-psicológica, de determinadas pessoas para objetos com materiais específicos, onde se incluem as imagens de barro fino.


2. ANÁLISE BÍBLICA

2.1. Uma farsa... Uma imagem. Em nenhuma circunstância, pode chorar. O choro é uma manifestação exclusivamente humana resultante de sentimentos de dor, tristeza, e em alguns casos, de alegria extrema. Uma imagem tem boca, mas não fala. Tem ouvidos, mas não ouve. Nariz tem, mas não cheira. Tem olhos, mas não vê nem chora. E, muitas vezes, os apóstolos da mentira procuram encontrar na ignorância das pessoas o meio do engrandecimento pessoal ou da sua paróquia. E nesses casos, as "lágrimas" e o "sangue" são colocados propositadamente para enganar os mais incautos.


2.2. Noutros casos, verdade! Sim, há casos em que não há qualquer artifício de procedência humana. Mas o artifício existe – porém, de procedência sobrenatural. Contudo, nunca será Deus o artífice desses fenômenos, já que são anátema para o Senhor. Teremos, consequentemente, de concluir, que alguns desses fenômenos têm origem demoníaca. O objectivo de Satanás é transferir o culto da Pessoa do Senhor Jesus Cristo para outros meios (pessoas, imagens ou relíquias) que nenhuma obra justificadora podem realizar. E, grande parte das vezes, tem conseguido. Em Ex 20:3 lemos: "Não terás outros deuses diante de Mim". E este mandamento aplica-se não só às imagens como a tudo que usurpa o lugar de Deus, conforme Paulo refere aos Colossenses (3:5), dando o exemplo da cobiça.


3. AS IMAGENS E A BÍBLIA

São várias as passagens onde encontramos a condenação expressa do Senhor quanto às imagens, seu significado, veneração ou mesmo contemplação:

1) Em Ex 20:4-5 temos duas proibições – absolutas, sem fuga possível:
1º NÃO FARÁS IMAGENS...

2º NÃO TE ENCURVARÁS... 

3º NEM A ELAS SERVIRÁS.


2) A mesma proibição, avisando para a corrupção que as imagens trazem, é pormenorizadamente descrita em Dt 4:15-19.

3) A Religião Católica está a fazer com as imagens o mesmo que os Israelitas dos dias de Ezequias fizeram com a serpente de bronze, que Moisés levantou no deserto: tributa-lhe culto. Ezequias, porém, a despeito da antiguidade, laços históricos e da sua significação espiritual quebrou em pedaços aquela serpente de bronze, conforme lemos em 2 Rs 18:3-4.

4) "Porque são os espíritos de demônios que fazem prodígios", lemos em Ap 16:14. E tal como farão naquele período de Grande Tribulação, também o podem fazer hoje, para enganar o povo. E os sacerdotes católicos servem-nos. "Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz" (2 Co 11:13-14).

5) Lemos ainda que "surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mt 24:24). E embora esta passagem se refira à Grande Tribulação, vemos que hoje tudo está preparado para o cumprimento integral da profecia.

6) Quando O Senhor retornar a este mundo, "só o Senhor será exaltado naquele dia. E todos os ídolos totalmente desaparecerão" (Isaías 2:17-18). Sim, "naquele dia, o homem lançará às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem, e meter-se-á pelas fendas das rochas, e pelas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por causa da glória da Sua Majestade, quando Ele se levantar para assombrar a terra" (Isaías 2:20-22).

7) No demais, "irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu Poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6:10-12).


"In Refrigério" Nº 49

8. Raças - De onde vieram?

Por muito que o queiramos negar, vivemos numa sociedade preconceituosa que com a sua concupiscência aponta defeitos, discrimina e rejeita sem considerar os sentimentos e emoções. Um fator dessa discriminação é a religião. 

Outro é precisamente a raça. Importa, pois, questionar, à luz da Bíblia Sagrada, qual a origem das raças.

Em primeiro lugar devemos notar que a Bíblia nunca faz qualquer distinção entre as pessoas pela sua "raça". 

Aliás, a palavra raça no sentido discriminatório teve a sua origem nas doutrinas evolucionistas (inicialmente apresentadas por Darwin), segundo as quais a raça negra era mais próxima dos antropoides do Caucasiano.


Na Bíblia lemos que Deus "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra" (At. 17:26). Ou seja, todos os homens e mulheres constituem uma só geração, um só povo no seu sentido mais lato, pois Deus criou apenas um homem e uma mulher - Adão e Eva (Gn. 1:27). 

Toda a humanidade surgiu desses nossos primeiros pais e depois pela família de Noé. A distinção bíblica opera-se somente entre grupos nacionais e especialmente nas línguas, cuja diferenciação ocorreu aquando da construção da torre de Babel (Gn. 11:7-9). 

Jamais lemos na Bíblia que a cor da pele ou qualquer outra característica física constitua objeto de distinção.
Uma vez terminado o dilúvio, os descendentes de Noé - Sem, Cão e Jafé - multiplicaram-se e encheram a terra (Gn. 10). 

Os descendentes de Sem deram origem aos povos semitas (Elamitas, Assíria, Caldeus, Ásia Menor, Síria, Árabes, Jordanos, Libaneses e Israelitas). 

Por sua vez os descendentes de Cão habitaram nas zonas do atual Egito, Etiópia, Arábia e África. 

Finalmente, os descendentes de Jafé constituem os povos citas, russos, europeus, armênios, hindus, persas, latinos, celtas, eslavos, escandinavos, anglo-saxões e teutões. (Para maiores desenvolvimentos, cfr. Árvore Genealógica publicada no Refrigério, n.º 42, de Março/Abril 1994, p. 16).


Ou seja, o modelo criacionista apresentado pela Bíblia postula uma mistura "racial" da população com um elevado potencial biológico de variação (não evolução). 

Enquanto que os grupos familiares estavam isolados pela barreira da linguagem após a confusão das línguas (Gn. 11:9), vários factores ambientais permitiram o desenvolvimento de traços especiais, já presentes no DNA, mas ainda não exteriorizados), conjugados com a supressão ou desfavorecimento de outros genes codificados para outras características.


Falando do ponto de vista genético, não há praticamente diferenças entre as "raças" do planeta. Todos são da mesma espécie, são férteis entre si, produzem descendentes da mesma forma e com o mesmo potencial de crescimento e desenvolvimento social, cultural, intelectual e espiritual. 

A diferença mais notada está na cor da pele, porém factualmente, todos somos da mesma cor; apenas alguns povos exteriorizam um pouco mais da camada epidérmica. Na verdade, a tonalidade da pele depende essencialmente da quantidade da substância denominada melanina; quanto maior quantidade, mais escura é a pele. 

É por isso que os descendentes de uma mistura racial podem tornar-se pais de crianças que podem variar desde o muito escuro ao muito claro ou qualquer tonalidade intermédia.
Os preconceitos, a perseguição e o ódio racial são a consequência direta da aplicação do ensino evolucionário. 

O cristão, por sua vez, crendo firmemente nos ensinos que o Senhor lhe legou, não pode, de forma alguma, admitir pensar de forma racista ou xenófoba. 

O Senhor Jesus, com toda e absoluta certeza, não o fez. A cor da pele do Senhor Jesus poderia ser qualquer uma, uma vez que o Seu objectivo era morrer por todos os homens de forma a prover para todos os homens a oportunidade de beneficiarem do dom da vida eterna. O Senhor amou o mundo de tal maneira... (Jo. 3:16) para que todo aquele que nEle crer tenha a vida eterna! 

Ele diz que quer que todos venham a arrepender-se (2 Pe. 3:9).
Lemos, por sua vez, que no dia de Pentecostes em que a Igreja nasceu (At. 2) o Evangelho foi anunciado a vários povos, de diferentes lugares, culturas e cor de pele, tais como, os da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto, Ásia, Frígia, Panfília, Egito, Líbia, cretenses, romanos e árabes. 

Tempos depois, o eunuco etíope, com cor de pele diferente dos judeus, creu, recebeu o Senhor Jesus e nesse mesmo instante foi baptizado (At. 8:26-39).
Podemos, pois, concluir que, como a Bíblia o afirma, "Deus não faz acepção de pessoas" (cfr. Dt. 16:19; At. 10:34; Rm. 2:11; Ef. 6:9 e 1 Pe. 1:17). 

O céu será habitado por "uma grande multidão ... de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (note-se que não se menciona a palavra raça, porque para Deus não há essa distinção), que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos" (Ap. 7:9), todos redimidos pelo Seu sangue.

9. O Ser Humano e o Seu Destino


Leitura: Gênesis 1:26-31 e 3:18-24


O que é o homem? Eis uma pergunta que provoca respostas das mais variadas e  contraditórias. As opiniões do homem a respeito de si mesmo variam desde as teorias científicas até à superstição religiosa.

Alguns acreditam que o ser humano é um animal — o mais evoluído dos animais. Outros afirmam que ele é um espírito, vindo de uma esfera espiritual para encarnar-se aqui, a fim de cumprir determinada missão. Porém, é na Bíblia que descobrimos o que realmente somos; descobrimos de onde viemos, e para onde vamos. E é uma descoberta das mais impressionantes!

A Bíblia deixa bem claro que não somos meros animais, nem espíritos encarnados; ela revela que não evoluímos de outra forma de vida, nem viemos do "mundo dos espíritos". A Bíblia também revela que o nosso destino não é uma cova em algum cemitério.


Quem somos, então? O que é o homem?

A origem do ser humano Poucos acreditam que a idade desta Terra e da raça humana é de poucos milênios, mas a Bíblia fornece uma cronologia que nos permite calcular a idade da nossa raça, e por meio desta cronologia descobrimos que Adão, o primeiro homem, foi criado por Deus aproximadamente 4.000 anos antes do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo.


Como foi?

"Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança ... e criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou" (Gênesis 1:26-27). Nesta citação vemos, primeiramente, a decisão de Deus de criar o homem e, em

seguida, o fato consumado.

No segundo capítulo de Gênesis encontramos mais detalhes; Deus formou o corpo de Adão do pó da terra (Gênesis 2:7) e o corpo de Eva de uma costela tirada de Adão (Gênesis 2:22).

Portanto, o aparecimento do ser humano neste mundo não foi o clímax dum processo evolutivo, nem a chegada de espíritos provenientes de outra esfera; foi o clímax da obra criativa de Deus.


Adão e Eva

O espiritismo ensina que Adão não foi o primeiro homem, nem o único que Deus fez. Porém, a Bíblia mostra claramente que Adão foi o primeiro e o único homem que Deus fez por obra criatorial. Lemos em Gênesis 2:5 que, antes da criação de Adão, não havia homem para lavrar a terra. O Novo Testamento confirma isto, pois fala do "primeiro homem, Adão" (I Coríntios 15:45, 47).

Vemos, com igual clareza, que ele foi o único criado por Deus e que toda a raça humana descende dele. Quando o apóstolo Paulo esteve em Atenas, ele disse que Deus fez toda a raça humana de um só (Atos 17:26), e encontramos a mesma verdade, novamente, na carta aos Romanos, onde lemos que o pecado entrou neste mundo por um só homem (5:12). O resto daquele capítulo (Romanos 5) apresenta um contraste entre a obediência de um (que é o Senhor Jesus) e a desobediência de um (que é Adão).

Não pode haver dúvida; quando Deus tomou do pó da terra para formar o corpo de Adão, Ele fez um homem só.


Dois aspectos do ser humano 

Feito do pó da terra

É humilhante saber que somos pó. Abraão reconheceu este fato (Gênesis 18:27); o rei Davi também o admitiu (Salmo 103:14). Era verdade o que Deus tinha dito a Adão: "és pó, e em pó te tornarás" (Gênesis 3:19).

O pó é tão insignificante que nem faz diferença numa balança; é tão indesejável que as donas de casa gastam tempo precioso tirando-o dos móveis. E nós somos pó! Somos, em nós mesmos, criaturas tão insignificantes e imprestáveis que o salmista foi forçado a exclamar:

"Quando vejo os Teus Céus, obra dos Teus dedos, a Lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que Te lembres dele?" (Salmo 8:3-4).

Gostamos de pensar que somos importantes, mas a verdade é que não somos nada; somos pó.


Feito à imagem e semelhança de Deus

É maravilhoso saber que o homem foi feito à imagem de Deus.

Esta pobre criatura do pó tem algo realmente glorioso; foi feito pelo próprio Deus, e feito à Sua própria imagem.

Não devemos pensar, porém, que esta imagem e semelhança são físicas. Deus não tem corpo material como nós temos; Deus é espírito (João 4:24) e a Bíblia nos diz que espírito não tem carne nem ossos (Lucas 24: 39). Deus é invisível (Colossenses 1:15 e I Timóteo 1:17).

Ele não é semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício, ou imaginação dos homens (Atos 17:29). Muitos têm mudado a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível (Romanos 1:23), mas Deus não é assim. A semelhança de que Deus fala em Gênesis capítulo 1, não é física e sim, espiritual e moral.


Vejamos alguns aspectos.

a) Responsabilidade. Deus é soberano; Ele faz o que quer. Ele nos fez à Sua imagem, dando-nos domínio sobre toda a criação terrestre, e outorgando-nos o direito de livre arbítrio. Ao colocar o homem no jardim do Éden, Deus lhe disse: "De toda a árvore do jardim comerás livremente; mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gênesis 2:16-17). Adão possuía livre arbítrio; poderia comer ou deixar de comer o fruto daquela árvore. Deus respeitaria a sua escolha, mas Adão teria de arcar com as consequências. Ele era um ser responsável.

b) Existência eterna. Deus é eterno, e Ele fez o homem para viver eternamente. Quando Deus soprou o fôlego de vida nas narinas de Adão, este tornou-se uma alma vivente. Note bem a palavra "vivente". Adão foi feito para viver, e nunca teria morrido se não tivesse comido aquela fruta proibida. Viveria para sempre.

c) Trindade. Deus é Triuno. Existem três pessoas divinas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três pessoas são um só Deus. Não podemos confundir as Pessoas, nem dividir a Divindade, pois não são três deuses; são três Pessoas distintas em um só Deus. E Deus nos fez à Sua imagem. Somos criaturas triunas, compostas de corpo, alma e espírito. Não podemos confundir estas três partes, pois são distintas, mas juntas, formam um ser.


O corpo não é a alma

Descrevendo a morte de Raquel (Gênesis 35:18), a Bíblia diz: "E aconteceu que, saindo-lhe a alma ..." No momento da morte, a alma de Raquel saiu do seu corpo. Portanto, corpo e alma são duas partes distintas. Vemos isto confirmado em I Reis 17:21-22, no relato da morte e ressurreição do filho da viúva de Sarepta.

O Novo Testamento traz o mesmo ensino em Mateus 10:28. O Senhor Jesus disse aos discípulos que não deveriam temer "os que matam o corpo, e não podem matar a alma". Se o homem tem capacidade de matar o corpo e não tem capacidade de matar a alma, então é claro que corpo e alma são duas partes distintas. O corpo não é a alma.


O corpo não é o espírito

Este fato parece tão claro e lógico que não precisa de provas, mas a Bíblia ainda fala claramente, dizendo-nos que o corpo sem o espírito está morto (Tiago 2:26). Enquanto o espírito permanece no corpo, este vive, mas quando o espírito sai do corpo, este morre. O espírito pode sair do corpo, e sai mesmo, na hora da morte. Portanto, são duas partes distintas. O corpo não é o espírito.


A alma não é o espírito

Aqui a distinção parece mais difícil, pois o corpo é material e visível, ao passo que a alma, bem como o espírito, são imateriais e invisíveis. Mesmo assim, existe uma resposta adequada mostrando-nos que há diferença entre alma e espírito. Nesta altura do estudo queremos apenas constatar que há diferença e, para isto, não precisamos ir além de Hebreus 4:12, onde lemos que a Palavra de Deus penetra até a divisão da alma e do espírito. Se a Palavra de Deus é capaz de dividir entre alma e espírito, é porque são duas partes distintas. Portanto, alma não é espírito.

Vejamos agora o que a Bíblia diz destas três partes do nosso ser, para que possamos compreender o que realmente somos, de onde viemos e para onde vamos.


R. E. Watterson

10. O Ser Humano e o seu Corpo


O corpo é a parte material do nosso ser. Para formar este corpo, Deus usou o pó da terra — material insignificante e sem valor. O corpo, porém, é de grande importância. É difícil, senão impossível, calcular o seu valor, mas podemos formar uma ideia disto vendo o prazer que aquele corpo de Adão proporcionou a Deus. Ao completar cada etapa dos trabalhos relatados em Gênesis capítulo um, Deus viu que era bom (veja versículos 4, 10, 12, 18, 21, 25). Porém, quando Deus criou o homem, Ele tornou a contemplar a obra das Suas mãos, e eis que era muito bom (Gênesis 1:31).

Deus viu a perfeição daquele corpo e alegrou-se. Era um corpo dotado de grande capacidade; um instrumento ideal para Lhe servir e realizar os Seus propósitos. Além disto, era um corpo capaz de viver eternamente, sem enfraquecer nem envelhecer. Poderia servir a Deus perfeita e perpetuamente.

Mas Adão pecou! E o pecado afetou o seu corpo, estragando a bela criação de Deus.


Os efeitos do pecado sobre o corpo

Para entendermos os efeitos do pecado no corpo humano, vamos examinar algumas expressões que o Novo Testamento usa em relação a este corpo.

a) Corpo do Pecado (Romanos 6:6). Neste versículo Deus chama o corpo de "corpo do pecado" porque é um corpo que serve ao pecado. Deus fez o corpo humano para o Seu serviço, mas o homem tomou (e ainda toma) este instrumento e o emprega no serviço do pecado (Romanos 6:16). O corpo agora é controlado e condicionado pelo pecado.

b) Corpo da Carne (Colossenses 2:11). O Novo Testamento usa a palavra "carne" para indicar aquela natureza pecaminosa que está em cada ser humano. Adão e Eva tornaram-se pecadores e, consequentemente, toda a sua descendência nasce com uma natureza que deseja o pecado. Agora o corpo, que deveria fazer a vontade de Deus, satisfaz os desejos da carne, obedecendo aos impulsos depravados desta natureza perversa. Descrevendo o estado natural do homem, a Bíblia diz que ele anda nos desejos da sua carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos.

Estas duas expressões, "corpo do pecado" e "corpo da carne" mostram o exterior e o interior do problema. O corpo é um corpo do pecado, porque é um corpo da carne. Ele se entrega ao pecado, porque é dominado pelos desejos da carne.

c) Corpo Abatido (Filipenses 3:21). A palavra traduzida "abatido" significa baixeza ou humilhação. O moço não pode orgulhar-se da sua força física, nem a moça da sua beleza, pois, em breve, a força diminuirá e a beleza murchará como a flor apanhada e lançada fora. Como é frustrante querer fazer e não poder. A fraqueza do corpo, a enfermidade, o cansaço ou a falta de destreza, nos impõem tantas limitações que sentimos realmente que este corpo é de humilhação. Bem que a Bíblia diz: "Toda a carne é como erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor" (I Pedro 1:24).

d) Corpo Mortal (Romanos 6:12). Eis a humilhação máxima! O corpo que Deus fez para viver e servir eternamente agora está sujeito à morte. De todas as suas limitações, a mais triste é esta: "o homem, nascido de mulher, é de bem poucos dias, e ... não permanece" (Jó 14:1-2).

Recapitulando, temos visto que o corpo maravilhoso e útil que Deus fez foi, pelo homem, entregue ao pecado para servir aos desejos da carne. Em consequência disto, ele sofre atualmente a ira de Deus (Romanos 1:18-32) e está sujeito a muitas limitações devido ao seu

enfraquecimento, envelhecimento e morte. De fato, o corpo humano, que uma vez causou tanto prazer a Deus, agora é o corpo da nossa humilhação.

Mas Deus ainda tem planos grandiosos para este corpo!

Muitos ignoram isto. Alguns até chegam a dizer que a carne para nada aproveita (citando João 6:63, sem, porém, entender o versículo).

Pensam que o corpo não tem importância. Mesmo praticando o adultério, o homicídio ou o roubo, pensam que podem viver em espírito de santidade, pois "foi apenas o corpo que pecou"! Nada pode ser mais errado. É muito importante o que fazemos através do nosso corpo.

Deus se interessa por ele a tal ponto que enviou o Senhor Jesus Cristo para ser o Salvador do corpo.


O Salvador do corpo - I Coríntios 6:12-20; Efésios 5:23

Pela Sua morte no Calvário, o Senhor comprou-nos (I Coríntios 6:20), e o contexto deste versículo destaca o corpo. Ele comprou o nosso corpo.

Ao examinarmos I Coríntios 6, encontramos algumas referências ao corpo do cristão, e através delas podemos ter uma ideia do propósito de Deus em salvar o nosso corpo.

a) O corpo é para o Senhor (v. 13). Ele quer que o nosso corpo seja útil. O corpo de Adão Lhe era útil até que ele pecou. Aquele corpo, então, tornou-se em instrumento do pecado. O Senhor Jesus, porém, morreu na cruz do Calvário para resgatar este corpo, tornando-o novamente em instrumento útil ao Senhor. O corpo do cristão não é para servir ao pecado; não é para impureza, e sim para o Senhor.

b) O corpo é membro de Cristo (v. 15). Quando um pecador é salvo, o seu corpo é não somente para o Senhor, mas do Senhor. É mais do que um instrumento que Deus quer usar — é algo que Lhe pertence. "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?" Como podemos tomar os membros de Cristo e fazê-los membros de uma meretriz? Como podemos usar os membros de Cristo, na prática do pecado? Temos por dever sagrado manter este corpo, que o Senhor comprou para Si através dos sofrimentos do Calvário, puro e santo.

c) O corpo é o templo do Espírito Santo (v. 19). A palavra traduzida "templo" significa o lugar mais santo. No Tabernáculo e no Templo dos judeus havia duas partes. A primeira  arte era o lugar santo e a segunda, atrás do véu, era o Santo dos Santos, onde ninguém podia entrar a não ser o Sumo Sacerdote, e isto somente no dia da expiação. A palavra usada neste versículo indica o Santo dos Santos. O nosso corpo é o Santo dos Santos do Espírito Santo.

Santidade absoluta convém a cada servo do Senhor.

Portanto, "glorificai ... a Deus no vosso corpo" (I Coríntios 6:20).

Como?

O apóstolo Paulo escreveu a respeito das perseguições e perigos que ele constantemente enfrentava e revelou o segredo da sua vitória sobre tais circunstâncias. Ele se expressou assim: "Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo,

para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (II Coríntios 4:10).

Paulo conhecia, no seu corpo, uma identificação real com os sofrimentos e morte do Senhor Jesus Cristo. Não no sentido expiatório, mas nos Seus sofrimentos pela justiça. Paulo estava sendo perseguido e maltratado por causa da sua fidelidade a Cristo, e estas perseguições que ele sofreu atingiram o Cabeça, Cristo.

O que devemos notar nisto é que Paulo sofria tudo isto "para que a vida de Jesus se  manifestasse também em nossos corpos" (II Coríntios 4:10), e "para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal" (II Coríntios 4:11). Assim vivendo, ele podia dizer: "... e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20). É desta maneira que podemos glorificar a Deus no nosso corpo.

Observe bem o que Paulo escreveu aos filipenses: "Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte" (Filipenses 1:20).

Deus quer usar o nosso corpo para manifestar Cristo aos outros, e assim engrandecê-lo. Ele comprou o nosso corpo pela morte no Calvário e, consequentemente, tem todo o direito sobre ele. Que Deus ajude a cada um de nós a apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12:1). Isto é o nosso culto racional.


Apresentar o nosso corpo a Deus implica em uma renúncia dos nossos supostos direitos; é negar-nos a nós mesmos; é dizer com Paulo:

"... não mais eu, mas Cristo ..."; é não permitir mais que o corpo seja um instrumento do pecado; é permitir que o nosso corpo seja controlado pelo Senhor.

Fazer assim, porém, não é fácil; é o início de uma luta ferrenha.

Falando a respeito disto, Paulo disse: "Subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão" (I Coríntios 9:27). O verbo aqui traduzido "subjugo" significa "trato severamente", e o substantivo "servidão" é literalmente "escravidão". Para que ele pudesse apresentar o seu corpo a Deus, Paulo achou necessário tratá-lo severamente, reduzindo-o à escravidão, pois a natureza velha e pecaminosa procurava tornar aquele corpo em corpo do pecado, fazendo a vontade da carne.

É necessário que o cristão discipline o seu corpo, pois este ainda é influenciado pela carne e pelo pecado. Precisamos dominá-lo e tratá-lo como escravo submisso à vontade do Senhor, para que Cristo seja manifesto através dele.


O futuro do corpo

Podemos ter uma ideia ampla do futuro deste corpo ao considerar três palavras que o Novo Testamento emprega a este respeito: redenção, ressurreição, e recompensa.

"Nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo".

O preço da redenção foi pago. O Senhor Jesus Cristo deu-se a Si mesmo em preço de redenção (I Timóteo 2:6). Pela Sua morte no Calvário, Ele nos remiu. Observe bem o que diz Romanos 8:23: "... a redenção do nosso corpo". A redenção feita no Calvário alcança o nosso corpo!

Embora o preço já foi pago, ainda não desfrutamos da redenção do corpo. Ele ainda está sujeito às limitações impostas pelo pecado. Ele ainda sofre, enfraquece, envelhece e morre, mas o cristão aguarda ansiosamente a chegada do dia da redenção do corpo, quando este vaso de barro será liberto, definitivamente, das consequências do pecado.

Isto acontecerá por ocasião do arrebatamento, quando os que morreram em Cristo ressuscitarão e os vivos, que estão em Cristo, serão arrebatados e transformados (I Coríntios 15:25).

O corpo humano foi feito para existir eternamente, mas o pecado o tornou mortal. Deus, porém, remiu o corpo daquele que crê, e este redimido viverá eternamente na presença do Senhor, no seu corpo redimido. 


Ressurreição — I Coríntios 15:22

O capítulo 15 de I Coríntios trata pormenorizadamente deste assunto. Nos primeiros 34 versículos, o Espírito Santo prova conclusivamente que haverá ressurreição dos mortos, e o versículo 35 lança uma pergunta cuja resposta ocupa o resto do capítulo.

A pergunta tem duas partes: "Como ressuscitam os mortos? E em que corpo virão?" Para o nosso estudo atual, vamos limitar-nos a quatro contrastes que encontramos nos versículos 42 a 44, pois nestes contrastes aprendemos muito sobre o corpo na ressurreição.

a) Corrupção e incorrupção (v. 42). O corpo que Deus fez do pó da terra poderia ter existido eternamente, mas, devido ao pecado, tornou-se em corpo mortal. Na morte, ele é semeado na corrupção; ele se desfaz e volta ao pó de onde veio. Na ressurreição, porém, ele ressuscita em incorrupção, reassumindo a condição original de existência eterna.

b) Ignomínia e glória (v. 43). O corpo que Deus fez no princípio era honroso; dava prazer a Deus. O pecado, porém, transformou aquele corpo a tal ponto que as suas limitações, bem como a sua corrupção, tem feito dele um corpo de humilhação. Na morte, a humilhação atinge o seu ponto máximo e o corpo, que deveria ter vivido para sempre, é semeado em ignomínia. Ressuscitará, porém, em glória!

Vencendo a morte, ressurgirá um corpo glorioso que, mais uma vez, dará prazer ao Seu Criador.

c) Fraqueza e vigor (v. 43). O corpo humano não pode fazer tudo o que o homem gostaria de fazer. O cristão dedicado quer servir muito mais ao seu Senhor, mas o corpo é fraco e limitado. O próprio Senhor disse aos Seus discípulos: "o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26:41). Na ressurreição, porém, o corpo readquirirá o seu vigor original, e durante séculos infindos serviremos a Deus nos nossos corpos, sem as limitações que tantas frustrações nos causam. O corpo será, mais uma vez, útil ao Senhor.

d) Animal e espiritual (v. 44). A palavra traduzida "animal" é um adjetivo derivado do substantivo "alma", da mesma forma que "espiritual" é um adjetivo formado do substantivo "espírito". O corpo humano agora, sob os efeitos do pecado, é um corpo sob o domínio da alma; na ressurreição, porém, será caracterizado pelo domínio do espírito. Quando estudarmos as funções da alma e do espírito, num capítulo posterior, veremos como esta mudança nos afetará. Por enquanto, basta dizer que um corpo espiritual não é um corpo~imaterial, mas sim, um corpo controlado pelo espírito.

Veremos ainda mais para frente, como a alma exerce uma influência negativa sobre o corpo, devido ao fato que o espírito não está cumprindo a sua verdadeira função. Na ressurreição, porém, o espírito voltará a funcionar como no princípio, e o ser completo trará prazer e glória ao Senhor.


Recompensa — II Coríntios 5:10

Somos responsáveis pelos atos feitos através do corpo. Cada cristão terá de comparecer perante o Tribunal de Cristo a fim de que sejam julgadas as suas obras. Perceba bem; o cristão não será julgado (João 5:24) mas o seu trabalho será julgado (I Coríntios 3:13), e cada um receberá segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo (II Coríntios 5:10).


O corpo do perdido

Resta apenas acrescentar algo sobre o futuro do corpo daquele que não tem a salvação. Ele também ressuscitará, transformado, e existirá eternamente nas agonias do lago do fogo (Apocalipse 20:15). O Senhor Jesus avisou que Deus tem poder para lançar o corpo, juntamente com a alma, no Geena, isto é, no lago de fogo (Mateus 10:28).

Todo descrente que já morreu, está, mesmo agora, sofrendo nos tormentos no Hades (Lucas 16: 19 a 31). O seu corpo, porém, está no pó da terra; é a sua alma e o seu espírito que estão no Hades. No entanto, na ressurreição, estas duas partes deixarão o Hades, juntando-se novamente ao seu corpo, e o ser completo será lançado no lago de fogo.

Ao falar sobre aquele lugar onde o fogo não se apaga, o Senhor disse que cada um seria "salgado com fogo" (Marcos 9:49). O sal conserva e preserva. O Senhor usou esta figura para representar aquilo que Ele dará ao corpo ressurrecto, dando-lhe a capacidade de existir eternamente nos tormentos do Geena. Nunca será consumido pelas chamas;

existirá para sempre.


R. E. Watterson

11. O Ser Humano e a Sua Alma


Leitura: Gênesis 2:7-19. Ezequiel 18:20


A palavra "alma" aparece com muita frequência na Bíblia — mais de 750 vezes no Velho Testamento e 105 vezes no Novo.

Este número elevado de ocorrências deve ser mais do que o suficiente para eliminar toda dúvida quanto ao sentido da palavra, mas infelizmente, constatamos exatamente o contrário. Existe muita confusão a respeito da alma, e muita ignorância.

Examinando os versículos onde aparece a palavra "alma", descobrimos que a Bíblia a emprega de diversas maneiras, dando-lhe diversos significados. Mas isto não deve nos confundir, pois muitas palavras comuns são usadas com vários sentidos, sem que haja confusão. Aliás, este fato é tão comum que passa quase despercebido.

Veja, por exemplo, a palavra "corpo". Quando se usa esta palavra, geralmente se refere à nossa carne e aos nossos ossos. Geralmente, mas nem sempre, pois na expressão "corpo legislativo" todos entendem que o significado é outro. Quando se fala de "corpo de doutrina" todos entendem que se refere a uma coleção de dogmas. O contexto em que a palavra é usada determina o seu significado.

Assim é também com a palavra "alma".

Alma, às vezes, significa pessoa, ou ser; às vezes refere-se à vida que aquele ser possui, e às vezes significa uma parte imaterial daquele ser.

A Bíblia também emprega esta palavra figurativamente.


Vamos observar três usos diferentes desta palavra, encontrados no primeiro livro da Bíblia — Gênesis.

a) Capítulo 1:20. "E disse Deus: Produzam as águas abundantemente

répteis de alma vivente" (ARC). Esta é a primeira ocorrência da palavra "alma" na Bíblia, e vemos que alma significa "ser". Se compararmos este versículo com os versículos 21 e 24 do mesmo capítulo, e com os versículos 7 e 19 do capítulo 2, aprendemos que "alma" pode significar um ser animal, ou um ser humano.

b) Capítulo 1:30. "E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente". Neste versículo encontramos um uso diferente da palavra, pois aqui "alma" é algo que o ser possui.

c) Capítulo 12:13. "... para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti". Aqui "alma" significa a vida, pois o contexto deixa claro que Abraão estava pensando em salvar a sua vida.


Consideremos mais detalhadamente estes três usos da palavra "alma".

Alma: um ser

"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou nos seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente" (Gênesis 2:7).


O ser humano é uma alma.

Confirmando esta afirmação, notamos que Moisés escreveu: "Todas as almas, pois, que procederam da coxa de Jacó, foram setenta almas" (Êxodo 1:5). No Novo Testamento, encontramos o mesmo uso de "alma", em Atos 2:41 onde lemos: "e naquele dia agregaram-se quase três mil almas". Ezequiel também usa "alma" neste mesmo sentido, dizendo: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:20). Ele explicou, no mesmo versículo, o que isto quer dizer. O filho não morrerá pelo pecado do pai, nem o pai pelo pecado do filho, mas a alma (isto é, a pessoa) que pecar, essa morrerá.

Convém ressaltar, porém, que não somos as únicas almas na criação de Deus. Já vimos em Gênesis capítulo 1 que os animais, os peixes, os répteis e os pássaros também são almas. A primeira ocorrência de "alma", na Bíblia, refere-se a estas criaturas e, até ao fim, as Escrituras continuam chamando estas criaturas de "almas", pois lemos em Apocalipse 16:3 que "o segundo anjo derramou a sua salva no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente".

Assim entendemos que somos almas, tanto nós como os animais, os peixes, os répteis e os pássaros.


Alma: a vida

Consideremos agora alguns versículos onde "alma" não significa um ser e sim, a vida que aquele ser possui.

Já citamos Gênesis 12:13, onde Abraão pediu que Sara dissesse que era sua irmã, pois ele temia os egípcios, e pensava que poderia salvar a sua vida com este estratagema. Há muitos exemplos bíblicos onde "alma" é empregada assim, como, por exemplo, quando o anjo do Senhor disse a José: "já estão mortos os que procuravam a morte [a palavra grega no texto original significa "alma"] do menino" (Mateus 2:20) O Senhor Jesus usou a palavra neste sentido quando disse: "Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida [literalmente, "alma"]"  Mateus 6:25). Veja também Mateus 10:39; Romanos 11:3; Filipenses 2:30; Apocalipse 12:11, etc. Em todos os versículos mencionados neste parágrafo, Deus usou a palavra grega psuche ("alma") para significar a vida que cada ser possui.


Alma: uma parte imaterial do ser

Há muitos versículos na Bíblia onde a palavra "alma" não significa um ser, nem tão pouco a vida que o ser possui. Refere-se, nestes casos, a uma parte imaterial do ser, a algo que ele tem, sem poder enxergá-lo, nem apalpá-lo. Contudo, é algo muito real.

O apóstolo João, escrevendo a Gaio, disse: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como vai bem a tua alma" (III João v. 2). João queria que Gaio prosperasse quanto à sua vida ("que te vá bem em todas as coisas"), e quanto ao seu corpo ("que tenhas saúde"), porém estava absolutamente certo de que a alma de Gaio estava prosperando. A alma, como João aqui emprega a palavra, não é o ser, nem a vida, mas algo que aquele homem possuía.

O Senhor Jesus usou a palavra "alma" no mesmo sentido. Certa vez Ele disse aos discípulos: "Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma" (Mateus 10:28). Os homens podem matar o corpo; eles podem tirar-nos a vida, mas não podem matar a alma. Este fato já deixa bem claro que, neste sentido da palavra, alma não é o corpo, nem a vida, mas algo que nós temos. A alma é uma parte imaterial e invisível do nosso ser.

A melhor maneira de entender o que é a alma que está em nós é considerar as suas funções.


As funções da alma

A maneira mais segura e simples de descobrir o que a alma faz, é notar os verbos que a Bíblia usa com a palavra "alma". Citaremos apenas alguns, porque são muitos.

Aprendemos que a alma chora (Jeremias 13:17); ela também lamenta ( Jó 14:22). Ela pode alegrar-se (Salmo 35:9) e comprazer-se (Isaías 42:1). Isto mostra que a alma é influenciada por circunstâncias e acontecimentos que lhe dão alegria ou tristeza. 

Esta conclusão é reforçada quando notamos que a alma ama (Cantares 1:7) e aborrece (Salmo 107:18). Ela é capaz de gozar (Eclesiastes 2:24) e de enfadar-se (Levítico 26:15). Ela pode abominar (Jó 33:20) ou deleitar-se (Isaías 55:2). Por meio destes verbos, vemos que a alma é o centro das nossas emoções, e que ela nos emociona através de coisas terrestres e materiais — isto é, as circunstâncias ou o ambiente em que nos achamos.


Além disto, aprendemos ainda que a alma é dotada de inteligência, pois ela sabe (Josué 23:14 e Salmo 139:14). Ela se lembra (Lamentações 3:20). Ela é capaz, tanto de raciocinar e de recordar e, por este meio, ela nos emociona, proporcionando-nos alegria ou tristeza.

Das coisas acima escritas, podemos deduzir que a alma nos dá consciência das coisas terrenas e materiais e dá-nos, assim, certas emoções. Devido a este fato, a alma pode abençoar outras pessoas (Gênesis 27:4) e bendizer a Deus (Salmo 103:1). Ela pode louvar a Deus (Salmo 146:1) e engrandecê-lO (Lucas 1:46).

Tendo considerado os verbos, vamos agora pensar em alguns substantivos que a Bíblia usa em relação à alma.

Vemos que a alma sente prazer (Isaías 66:3), e também pode sentir tristeza (II Reis 4:27) ou amargura (I Samuel 1:10). Ela tem desejos (Isaías 26:8) e sede (Salmo 42:2). Às vezes ela tem tédio ( Jó 10:1) ou fastio (Números 21:5). Em Provérbios, aprendemos que a alma tem conhecimento (2:10).

Como podemos ver, isto confirma o que notamos acima. A alma é o centro das emoções que resultam de coisas terrenas e materiais. Ela é dotada de inteligência.

Podemos também considerar os adjetivos que a Bíblia usa para descrever a alma, e isto nos leva à mesma conclusão.

A Bíblia fala de uma alma abatida (Salmo 42:5) e de uma alma anelante (Salmo 84:2). Lemos de uma alma sedenta e faminta (Salmo 107:9). Ela pode estar cheia de angústias (Salmo 88:3) ou farta de zombarias (Salmo 123:4).


Origem da alma

João 5:24-29. Apocalipse 6:9-11

Foi Deus quem fez esta alma. O rei Zedequias disse ao profeta do Senhor: "Vive o Senhor que nos fez esta alma ..." ( Jeremias 38:16).

Neste versículo, no texto original, encontramos a mesma palavra que Deus havia usado quando disse: "Façamos o homem à nossa imagem" (Gênesis 1:26), e mais tarde quando disse: "Far-lhe-ei uma adjutora" (Gênesis 2:18). Deus fez o corpo, tanto de Adão como de Eva, e fez também a alma de cada pessoa, por um ato criatorial.

As palavras do Senhor, por intermédio de Isaías, confirmam isto: "Para sempre não contenderei, nem continuamente Me indignarei; porque o espírito perante a Minha face enfraqueceria, e as almas que Eu fiz" (Isaías 57:16).

Já mostramos que esta alma que Deus fez, dá ao homem consciência do mundo em que ele vive e, através deste conhecimento, lhe causa certas emoções. No seu estado original, a alma funcionava em perfeita harmonia com o corpo e o espírito, levando o homem a  deliciar-se com as coisas que Deus havia feito, e através delas, engrandecer a Deus, o Criador. Ele sentia prazer, ele adorava, vendo e conhecendo as obras maravilhosas de Deus.

Mas o pecado estragou tudo isto.


Os efeitos do pecado sobre a alma 

Agora a alma dá-nos consciência das coisas materiais, como no dia em que Deus fez Adão, porém ela nos prende a estas coisas, afastando-nos assim de Deus. Ela nos faz materialistas e, portanto, prejudica-nos espiritualmente.

O Novo Testamento fornece amplas provas disto, mas para o presente estudo será suficiente considerar as seis ocorrências do adjetivo grego psuchikos.

Não há na língua portuguesa uma palavra que traduza satisfatoriamente este vocábulo, mas podemos entender o seu significado, notando alguns casos paralelos. Da mesma forma que o adjetivo "espiritual" é derivado do substantivo "espírito", o adjetivo psuchikos é derivado do substantivo psuche ("alma").

A primeira vez que encontramos psuchikos no Novo Testamento é em I Coríntios 2:14, onde lemos que "o homem natural (psuchikos) não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente".

Apesar da alma ser dotada de inteligência, ela impede o homem de compreender as coisas espirituais. O homem natural é um ser caracterizado pelo domínio da alma (o uso de psuchikos em I Coríntios 2:14 indica isto). Ela lhe dá conhecimento de coisas materiais, mas não das coisas espirituais; até impede que ele as entenda. Enquanto o ser humano permanece neste estado, sob o controle da sua alma, é impossível que ele entenda as coisas de Deus. 

Encontramos este adjetivo mais três vezes em I Coríntios capítulo 15, mostrando algumas diferenças entre o corpo no seu estado atual, e o mesmo corpo no seu estado futuro, depois da ressurreição. Agora, o nosso corpo é um corpo animal (veja I Coríntios 15:44). A palavra "animal" é a tradução de psuchikos, e indica um corpo controlado pela alma. Na ressurreição, porém, teremos um corpo espiritual — isto é, um corpo sob a influência do espírito.

Devido ao pecado, as influências que a alma exerce são maléficas e prejudiciais, fazendo do homem uma criatura materialista e sensual. 

Ele não sente o valor das coisas espirituais, antes, dá valor excessivo às coisas que se veem.

Encontramos a quinta ocorrência desta palavra em Tiago. Ele escreveu sobre uma sabedoria que não vem do alto, e a descreveu como sendo "terrena, animal [psuchikos] e diabólica" (Tiago 3:15). Isto é assustador! A sabedoria humana — o que os homens naturalmente chamariam de sabedoria — é primeiramente terrena, porque origina-se na Terra; é animal, porque é o produto da inteligência da alma, adquirida através da contemplação das coisas terrenas e materiais; é diabólica, porque o diabo usa a alma humana para encher e prender a mente humana com coisas terrenas, a fim de que o homem ignore as realidades espirituais e eternas. Isto mostra, em termos dramáticos, a condição da alma humana, e a sua influência diabólica sobre o homem.

A última ocorrência deste adjetivo na Bíblia se encontra em Judas v.19, onde lemos: "Estes são os que causam divisões, sensuais [psuchikos], que não têm o Espírito". O contexto revela que são pessoas escarnecedoras, andando segundo as suas concupiscências ímpias. Não são guiadas pelo Espírito Santo, porque não O têm. Vivem sob a influência da alma.


A alma do cristão

Devido ao pecado, a alma exerce uma influência maléfica no ser humano, mas a salvação que Deus dá modifica tudo isto.

Quando Deus salva um pecador, Ele salva o ser completo. Já notamos que o Senhor Jesus Cristo é o Salvador do corpo, e que Ele comprou o corpo por bom preço, mas é bom saber também que esta salvação alcança a alma. Pedro menciona a salvação da alma (I Pedro 1:9). Em Hebreus lemos daqueles que creem para a salvação da alma  (Hebreus 10:39), e Tiago nos diz que a Palavra de Deus pode salvar nossas almas (Tiago 1:21).

O fato de Cristo ter salvado o corpo não o livra das consequências presentes do pecado. Ele ainda está sujeito à doença; ele sente fraqueza; ele morre. Da mesma forma, a alma salva ainda sofre os efeitos do pecado, e ela pode prender o cristão às coisas materiais e sensuais, desviando-o do seu verdadeiro caminho.

O apóstolo Pedro falou da alma, várias vezes, na sua primeira carta, e um estudo destas referências nos ensina muito sobre a alma de um cristão. Já notamos como ele falou da salvação da alma (1:9). Aqueles cristãos estavam sofrendo uma forte perseguição, e teriam de sofrer mais ainda. Talvez alguns perderiam bens, e até a própria vida, mas quão bom saber que a alma estava salva.

Em seguida, Pedro exortou os cristãos a purificarem a sua alma (1:22). Eles poderiam purificá-la obedecendo à palavra do Senhor. Em vez de obedecer aos impulsos materialistas da alma, eles deveriam obedecer à verdade. A palavra acima citada reforça isto, pois a  palavra de Deus pode salvar as nossas almas do erro (Tiago 1:21). Na medida em que o cristão obedece à verdade, naquela mesma medida ele será salvo das influências do pecado, e esta alma purificada poderá agir novamente em harmonia com os propósitos de Deus, dando ao homem sede de Deus e assim levando-o a adorar o seu Criador.

No segundo capítulo da sua carta, Pedro nos avisa que as concupiscências carnais combatem contra a alma (I Pedro 2:11). Estas "concupiscências" (isto é, desejos fortes), são carnais, e o cristão precisa se abster de tais desejos, negando-se a si mesmo, para que a alma não opere sob o controle da natureza pecaminosa que a Bíblia chama de "carne".

Devido a este fato, o cristão enfrenta uma luta sem tréguas. As forças inimigas são fortes e persistentes, mas o cristão não está sozinho.

Ele tem um Pastor e Bispo da sua alma (I Pedro 2:25). Como Pastor da alma, o Senhor a guarda dos ataques do inimigo, e lhe dará o alimento necessário da Sua Palavra. Como Bispo da alma, Ele a orientará e amparará. Até mesmo nas horas difíceis de perseguição e perigo, o cristão ainda pode encomendar a sua alma a Deus, como ao fiel Criador (I Pedro 4:19), sabendo que os homens podem matar-lhe o corpo, mas não podem tocar na sua alma  (Mateus 10:28).


O futuro da alma

Na hora da morte, a alma deixa o corpo. Bem no começo da Bíblia o Espírito Santo revela isto, descrevendo a morte de Raquel da seguinte forma: "... saindo-lhe a alma ..." (Gênesis 35:18). Na história do filho da viúva de Sarepta, novamente vemos este fato, pois Elias, estendendo-se sobre o cadáver do menino, clamou ao Senhor e disse: "Rogo-te que torne a alma deste menino a entrar nele" (I Reis 17:21).

O Senhor ouviu a voz de Elias e a alma do menino tornou a entrar nele, e ele reviveu (v. 22).

Quando Raquel morreu, a sua alma não morreu; saiu do seu corpo.

Quando o filho da viúva morreu, a sua alma não morreu; saiu do seu corpo, e quando tornou a entrar no corpo, o menino reviveu. 

Passando para o Novo Testamento, achamos a confirmação deste fato. O apóstolo João viu, em visão, servos de Deus que serão mortos durante a grande Tribulação (Apocalipse 6:9-11). Considerando bem estes versículos, o leitor verá que as almas daqueles mortos estavam no Céu, enquanto que seus corpos apodreciam na Terra. E veja mais uma coisa impressionante! Estas almas estavam conscientes! Elas não estavam dormindo! Elas conversavam com Deus. Elas lembravam das coisas que lhes aconteceram na Terra. Impressionante! Enquanto seus corpos apodreciam na terra, as suas almas estavam em plena consciência, na presença de Deus; estavam na posse de todas as suas faculdades.

Certa vez, o Senhor Jesus falou de dois homens que morreram (Lucas 16: 19-31) e revelou muita coisa sobre a condição das suas almas depois de saírem do corpo. Aqueles dois homens estavam conscientes na eternidade, pois Lázaro estava sendo confortado, enquanto o rico estava em tormentos. Conforto e tormento são termos que só têm sentido se a pessoa está consciente. Além disto, vemos que o rico possuía memória, pois ele se lembrava dos seus cinco irmãos na Terra (v. 23), e o próprio Abraão lhe disse que deveria lembrar-se da sua vida e das oportunidades que tivera.

Tudo isto deixa bem claro que a alma que sai do corpo não deixa de existir; também é claro que ela não dorme na inconsciência. Ela continua vivendo fora do corpo, depois da morte deste. Ela continua vivendo em plena consciência, possuindo todos os seus sentidos, retendo ainda a memória, a visão e a capacidade de conversar.

Se a alma foi salva em vida, ela deixa o corpo para habitar com o Senhor, em gozo indizível. Se ela não foi salva em vida, ela deixa o corpo para entrar em tormentos eternos. Os textos acima mencionados são suficientes para provar isto.

Porém, ainda não é o fim. Haverá a ressurreição. Todos os que morrem, ressuscitarão (João 5:28-29). A morte entregará os mortos que nela há (isto é, entregará os corpos), e o Hades entregará os mortos que nele há (isto é, entregará as almas e os espíritos) e as três partes se juntarão novamente. Com a alma e o espírito novamente no corpo, o homem reviverá. Este será o seu estado eterno. O incrédulo será julgado perante o Grande Trono Branco, e de lá será lançado no lago do fogo, onde sofrerá eternamente (Apocalipse 20:15). O salvo (corpo, alma e espírito) estará eternamente com o Senhor, desfrutando das delícias da Sua presença (João 17:24 e I Tessalonicenses 4:17).


R. E. Watterson 

12. O Ser Humano e o seu Espírito


Leitura: I Tessalonicenses 5:23; Hebreus 4:12; I Coríntios 2:9-16.


Não somos apenas corpo e alma; temos também um espírito.

Somos criaturas triunas feitas à imagem do Deus Triuno. 

O apóstolo Paulo falou das três partes do ser humano quando expressou o seu desejo de que os tessalonicenses fossem conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (I Tessalonicenses 5:23). Sua maneira de se expressar não deixa lugar para dúvida: o ser humano é composto de espírito, alma e corpo.

Mesmo no Velho Testamento, este fato era conhecido. Ao falar com Jó, Eliú afirmou que "há um espírito no homem" (Jó: 32:8); lemos também do espírito de Ciro (Esdras 1:1), e de Seom rei de Hesbom (Deuteronômio 2:30), e de muitos outros.


Significado de "espírito"

Já observamos que a palavra "corpo" pode ter vários significados, e também observamos que a Bíblia usa a palavra "alma" muitas vezes, mas nem sempre com o mesmo significado. A mesma coisa acontece com a palavra "espírito". Às vezes, esta palavra refere-se a uma parte imaterial do nosso ser, como vemos em Jó 32:8 e I Tessalonicenses 5:23, mas muitas vezes refere-se a anjos ou outros seres imateriais (Lucas 24:39; Atos 5:19; Atos 23:8; Hebreus 1:7, 14). Estes espíritos podem ser anjos santos que servem a Deus, ou podem ser espíritos perversos que servem a Satanás. Muitas vezes a mesma palavra é aplicada a Deus, pois lemos que Ele é espírito (João 4:24), e uma das Pessoas divinas é chamada de "o Espírito Santo".

Aprendemos em João 6:63 que é o espírito que vivifica. Devido a este fato, a palavra "espírito" passou a transmitir a ideia de "ânimo" ou "coragem". Lemos da rainha de Sabá que foi provar Salomão com enigmas. Quando ela viu a sua sabedoria, bem como a ordem e grandeza da sua casa, ficou tão impressionada que "não houve mais espírito nela" (I Reis 10:5). O seu espírito não saiu do seu corpo (pois então teria morrido), mas ela não teve ânimo ou coragem para investigar ou interrogá-lo mais. O próprio Salomão usou a palavra no mesmo sentido quando disse: "Como a cidade derribada que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito" (Provérbios 25:28).

Obviamente, Salomão está falando do homem que não pode conter o seu ânimo, que não tem domínio próprio.

O que mais nos interessa neste estudo é aquela parte imaterial do nosso ser — o nosso espírito.


Origem do espírito

Assim como o corpo e a alma foram criados por Deus, o espírito também foi criado por Ele. O profeta Zacarias escreveu: "Fala o Senhor, o que estende o Céu e que funda a Terra, e que forma o espírito do homem dentro dele" (Zacarias 12:1). Considere bem este versículo. O espírito humano não existia antes do corpo em que ele vive; cada espírito humano foi formado especialmente para o seu próprio corpo.

Vamos agora considerar o que a Bíblia revela sobre o nosso espírito.


As funções do espírito

Em primeiro lugar, vamos examinar os verbos que a Palavra de Deus emprega com o substantivo "espírito"; estes nos mostrarão o que o espírito faz e assim poderemos entender o que é o nosso espírito. 

O espírito pode perturbar-se (Gênesis 41:8 e Daniel 2:1). Também pode angustiar-se (Jó 21:4; Salmo 143:4 e João 13:21). Por outro lado, ele pode alegrar-se (Lucas 1:47). Destas afirmações, podemos deduzir que o espírito sente emoções. O Senhor Jesus Cristo, entristecido pela incredulidade dos judeus, suspirou "profundamente em Seu espírito" (Marcos 8:12), e quando Paulo esperava por Silas e Timóteo em Atenas, "o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria" (Atos 17:16).

O espírito pode desfalecer (Salmo 77:3 e 142:7) e pode se abater (Provérbios 15:13). Em contraste com isto, vemos que o espírito de João Batista se robustecia (Lucas 1:80). Isto mostra que as circunstâncias pelas quais a pessoa passa, bem como a sua maneira de enfrentá-las, afetam o seu espírito, enfraquecendo-o ou fortalecendo-o.

Quando consideramos os substantivos usados na Bíblia em conjunção com "espírito", somos levados à mesma conclusão. Vemos que o espírito pode sentir ânsia (Êxodo 6:9) e pode ter amargura (Jó 7:11).

Também pode sentir ardor ou excitação (Ezequiel 3:14). Isto confirma que o espírito sente emoções, causadas pelas circunstâncias pelas quais passa.

Voltando a nossa atenção agora para os adjetivos que a Bíblia usa para descrever o espírito, vemos que ela fala de um espírito atribulado (I Samuel 1:15). Fala também de um espírito desgostoso (I Reis 21:5).

Davi falou de um espírito angustiado (Salmo 142:3) e Isaías escreveu de um espírito triste (Isaías 54:6). Deus aprecia, e não desprezará, o espírito quebrantado (Salmo 51:17).

Além de sentir emoções, descobrimos ainda que o espírito é dotado de inteligência, pois ele investiga (Salmo 77:6). O espírito conhece tudo que pertence ao homem, isto é, sua natureza, seus pensamentos e seus propósitos (I Coríntios 2:11).


Alma e espírito

Nesta altura do nosso estudo, já fica patente que a alma e o espírito têm muito em comum. Este fato tem levado muitos a confundir estas duas partes do nosso ser, e chegam a dizer que alma é espírito. 

De fato, ambos são imateriais e invisíveis; ambos sentem emoções e têm inteligência; ambos deixam o corpo no momento da morte, e continuam a sua existência em plena consciência, fora do corpo, retornando a ele no dia da ressurreição.

Há, porém, uma diferença entre alma e espírito.

A Bíblia diz: "A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão de alma e do espírito" (Hebreus 4:12). Em outras palavras, a Bíblia distingue entre alma e espírito; são duas coisas distintas.

Embora ambos tenham inteligência, não devemos confundi-los, pois é a alma que dá-nos consciência das coisas terrenas e materiais, ao passo que o espírito dá-nos consciência de nós mesmos (I Coríntios 2:11), além de dar-nos conhecimento de Deus e das coisas  espirituais (I Coríntios 2:14-15). O nosso espírito nos permite ter comunhão com Deus (Romanos 8:16), mas é a alma que aprecia as coisas terrenas.

No início, como já notamos, a alma de Adão lhe dava consciência da bela criação de Deus, e através disto o levava a adorar o seu Criador.

O seu espírito, agindo em perfeita harmonia com a alma, capacitava-o a manter comunhão com Deus, e deliciar-se na presença do Senhor.

Mas o pecado estragou tudo isso!


Os efeitos do pecado sobre o espírito 

Veja três aspectos da tragédia que o pecado causou na vida de Adão.

Ao ler o relato de como o pecado entrou neste mundo, a primeira coisa que nos desperta a atenção é que Adão e Eva perderam o desejo de estar na presença do Senhor. Quando "ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia", eles se esconderam entre as árvores do jardim (Gênesis 3:8). Deus veio buscar o homem, mas este não queria mais estar na presença do Senhor. Ele se escondeu.

Esta atitude de Adão mostra a grande mudança que se efetuara no seu espírito. Ele havia perdido o desejo de comunhão com Deus, não tinha mais a capacidade de deleitar-se com as coisas espirituais. O seu espírito fora atingido pelo pecado.

A segunda consequência do pecado, que vemos neste relato, é que Adão perdeu o conhecimento de si mesmo. Vemos isto quando Deus o chamou e o interrogou a respeito do seu pecado. Ao invés de reconhecer a sua culpa, ele quis se justificar culpando Eva. Ele disse: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi" (Gênesis 3:12).

Ele não mostrou nenhuma tristeza por ter pecado. Ele não sentiu a sua desgraça; não se considerou pecador. Pelo contrário, mostrou-se arrogante e rebelde. Lançou a culpa sobre Eva e sobre o próprio Deus por ter-lhe dado Eva por companheira! Ao seu ver, ele não era culpado; Deus deveria assumir a responsabilidade por tudo que havia acontecido. Mais

uma vez, vemos que o espírito de Adão foi atingido pelo pecado, pois ele não tinha mais o conhecimento de si mesmo.

A terceira consequência da sua desobediência foi que Adão perdeu o verdadeiro conhecimento de Deus. Eva acreditou na mentira de Satanás, pensando que Deus não iria cumprir a Sua palavra. Por outro lado, quando Adão comeu o fruto proibido, ele teve medo de Deus (Gênesis 3:6-8 e I Timóteo 2:14). Primeiramente, Eva pensou que Deus seria incapaz de castigar, depois Adão pensou que Deus seria incapaz de perdoar. Eles não O conheciam.

Estas consequências do pecado continuam afetando o ser humano até hoje!

O pecador não se sente bem na presença de Deus; foge dEle.

Deixados à vontade, todos se desviam de Deus como ovelhas desgarradas (Isaías 53:6). Escondem-se nos seus deveres ou nos seus divertimentos; escondem-se atrás dos seus supostos méritos ou dos méritos

de um rito religioso; não buscam a Deus (Salmo 14:2-3). O Senhor Jesus disse que os homens não vêm à luz para que as suas obras não sejam reprovadas (João 3:20).

Enquanto o homem permanece nas trevas, ele não vê o seu verdadeiro estado. Ele não sente o seu pecado. Ele procura justificar os seus atos, exonerando-se de toda a responsabilidade pelas suas faltas e culpando a Deus por elas, pois foi Deus quem o fez assim!

O homem sem Cristo ainda não conhece a Deus. Quantos há que pensam que Deus não pode castigar o pecador no lago do fogo e enxofre. 

Quantos pensam que Deus pode ser comprado com promessas que jamais podem ser cumpridas. Quantos há que pensam que Deus pode ser enganado, e que o pecador pode escapar das consequências dos seus atos.

Tudo isso indica quão grande foi o estrago feito no espírito humano. Este não está mais cumprindo a sua verdadeira função e, consequentemente, o homem vive nas trevas, ignorante do seu estado deplorável; ignorante do seu perigo iminente e totalmente indiferente ao Deus com Quem ele terá que tratar.


O espírito do cristão - Gálatas 5:16-26

A salvação de um pecador é um verdadeiro milagre! Já observamos que o pecador não busca a Deus; é Deus quem o busca e salva. É uma 36 O ser humano e seu destino obra divina; obra esta que a Bíblia chama de novo nascimento (João 3:3, etc.).

Este novo nascimento é efetuado pelo Espírito Santo. Naquele momento, o espírito daquele que é regenerado passa a ter a capacidade de assumir o seu verdadeiro papel. Veja como este fato é apresentado em I Coríntios  2.

Ninguém "sabe as coisas do homem senão o espírito do homem que nele está". Da mesma forma, argumenta o apóstolo, "ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (I Coríntios 2:11). Mas nós, que somos salvos, não recebemos o espírito do mundo, e sim o Espírito que provém de Deus e, consequentemente, podemos conhecer o que nos é dado, gratuitamente, por Deus (I Coríntios 2:12). 

Em outras palavras, o nosso espírito recebe comunicações de Deus e dá-nos conhecimento das coisas espirituais e divinas, coisas estas que um incrédulo não conhece, nem pode conhecer (veja vs. 8-14). 

Passando à carta aos Romanos, aprendemos que o Espírito Santo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8:16), de sorte que o espírito do cristão capacita-o a ter não só conhecimento das coisas de Deus, mas comunhão com Ele.

Este fato é confirmado em várias partes da Bíblia. Isaías disse: "... com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-Te" (Isaías 26:9). O espírito daquele que é salvo pode ser despertado por Deus, isto é, pode tornar-se cônscio da vontade de Deus e sentir o desejo de fazer o que Deus quer (Esdras 1:5). Vemos esta mesma prontidão de espírito nos discípulos no jardim de Getsêmani, apesar da evidente fraqueza da sua carne (Mateus 26:41). O espírito daquele que é salvo pode alegrar-se em Deus, apreciando as bênçãos que Ele tem derramado sobre nós (Lucas 1:47) e pode manifestar esta apreciação, servindo a Deus (Romanos 1:9).

Aprendemos ainda que o homem espiritual, isto é, o homem cujo espírito exerce a sua verdadeira função, compreende a mente do Senhor e reconhece a autoridade da Sua Palavra (I Coríntios 14:37). 

Ele se submete alegremente a toda a palavra do Senhor. Além disto, ele manifesta interesse no bem estar espiritual dos outros, e procura encaminhar aquele que for surpreendido nalguma falta (Gálatas 6:1). 


A carne contra o espírito

Há, porém, perigos para o espírito do cristão. Já notamos como o corpo e a alma do salvo ainda sofrem as consequências do pecado, e agora veremos que o espírito não é diferente. Ele também pode ser impedido de exercer a sua verdadeira função.

O nosso espírito (falando agora de pessoas salvas) pode manter comunhão com Deus e dar-nos conhecimento das coisas divinas, mas a carne cobiça contra o Espírito (Gálatas 5:16-26). A carne, neste contexto, não se refere ao nosso corpo, mas sim, àquela natureza perversa e pecaminosa que está em cada ser humano (veja Romanos 8:8-9). Ela controla o homem natural e também quer controlar o cristão. Isto dá origem a uma luta sem tréguas. Por um lado, a carne querendo levar-nos ao pecado, e, por outro lado, o Espírito Santo operando em nosso espírito, querendo levar-nos à comunhão com Deus.

Graças a Deus, que não precisamos viver escravizados pela carne, pois aquele que anda no Espírito não cumprirá a concupiscência da carne (Gálatas 5:16).


O futuro do espírito

Já mostramos que o espírito sai do corpo na hora da morte (Tiago 2:26). A Bíblia confirma isto em muitas passagens. Quando Estêvão estava para morrer, ele disse: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (Atos 7:29). Ele estava seguindo o exemplo do seu Senhor, que também entregou o Seu espírito, dizendo: "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito" (Lucas 23:46).

Quando o espírito sai do corpo, este morre, mas o espírito continua vivendo. Salomão nos diz que ele volta a Deus (Eclesiastes 12:7), porém, isto não quer dizer que todos os espíritos estarão no mesmo lugar. A Bíblia mostra claramente a sorte diferente dos espíritos dos salvos e dos espíritos dos perdidos. Vemos os espíritos dos justos aperfeiçoados, participando nas felicidades da Jerusalém celeste (Hebreus 12:23), na companhia de incontáveis hostes de anjos e na presença do próprio Deus. Por outro lado, vemos os espíritos dos que foram desobedientes nos dias de Noé, reservados na prisão (I Pedro 3:19), em castigo, aguardando o dia de juízo (II Pedro 2:9).

No capítulo anterior, notamos que a alma torna a entrar no seu corpo na ressurreição, e agora podemos verificar que o espírito também volta ao seu corpo. Quando o Senhor Jesus foi à casa de Jairo, Ele entrou no quarto onde a menina jazia morta. Pegando-lhe na mão, disse: "Levanta-te, menina, e o seu espírito voltou, e ela logo se levantou" (Lucas 8:55). O corpo sem o espírito está morto (Tiago 2:26), mas logo que o espírito voltou ao corpo daquela menina, ela ressuscitou. Assim será na ressurreição dos mortos. O espírito deixará o Hades, e retornará ao seu próprio corpo. Mas veremos mais detalhes sobre isto no próximo capítulo.

Refletindo naquilo que temos observado até agora neste estudo, só podemos exclamar, admirados: "Graças Te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formastes; as Tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem" (Salmo 139:14).

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:23).


R. E. Watterson

13. Os erros do Calvinismo

Nos últimos anos, houve um aumento no ensino calvinista (ou reformado) entre os evangélicos nos EUA, com os batistas e carismáticos do sul em primeiro lugar (Collin Hansen, Young, Restless, Reformed: A Journalist's Journey with the New Calvinists, 2008, Crossway Publishers, Wheaton, IL). Ao mesmo tempo, houve uma forte reação contra esse ensinamento.

No entanto, essa resposta às vezes discorda das doutrinas que "certamente foram cridas entre nós" nas Igrejas locais (ou assembleias), que são baseadas, acreditamos, em "todo o conselho de Deus" (Atos 20:27 RV). Dadas essas circunstâncias, examinaremos os ensinamentos do calvinismo em uma série de sete artigos, buscando compará-los e contrastá-los com o que tem sido tradicionalmente ensinado nas igrejas locais (ou nas assembleias) por quase dois séculos. Outras doutrinas atuais, que divergem da posição convencional, como a eleição corporativa, serão examinadas criticamente.

O calvinismo é uma forma de teologia sistemática elaborada pelo reformador francês João Calvino (1509-1564) e posteriormente expandida por seus seguidores. Calvino era um grande devoto de Agostinho de Hipona (354-430) que havia elaborado o sistema teológico racional equivalente que destacava a soberania de Deus, deixando de lado a responsabilidade humana como qualquer consequência na questão da salvação.

(Faço uma observação aqui, que é ao mesmo Agostinho e Calvino, a quem também cometeram o erro de espiritualizar um milênio terreno, ensinando que não havia futuro para a nação de Israel).

Se algum leitor está se perguntando do que se trata nosso furor, eles só precisam ler uma das declarações do próprio Calvin:

"Estando todas as coisas à disposição de Deus, e a decisão de salvação ou morte pertencendo a Ele, Ele ordena todas as coisas por Seu conselho e decreto de tal maneira, que alguns homens nascem destinados desde o ventre até a morte, para que Seu nome (de Deus)

seja glorificado em sua destruição" (John Allen, ed., Institutes of the Christian Religion Presbyterian Board of Publication, Filadélfia, 1841, p. 169).

Então, sem dúvida, eles rapidamente pegarão suas Bíblias para mostrar seus versículos favoritos do evangelho que contradizem tal ensino antibíblico!

O ensino de Calvino foi geralmente bem recebido pelas igrejas reformadas na Holanda, mas foi fortemente contestado por um teólogo proeminente chamado James (Jacobus) Armínio (1560-1609).

Seus argumentos centravam-se principalmente na responsabilidade humana. Pouco depois de sua morte, seus seguidores publicaram um resumo de seus ensinamentos em cinco declarações (The Five Articles of Remonstrance , 1610), que, para nossos propósitos, podemos simplificar como:

(1) a eleição foi determinada pela fé do crente, que Deus conheceu de antemão;

(2) a expiação, embora adequada para todos os homens, é eficaz apenas para os crentes;

(3) sem a ajuda do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade de Deus;

(4) a graça não é irresistível;

(5) os crentes podem cair da graça e perder sua salvação.

* Para uma visão completa, consulte: www.theopedia.com/Five_articles_of_Remonstrance Para combater a propagação do ensino de Armínio, o Concílio de Dort (Dordrecht, Holanda) foi convocado pelas igrejas reformadas holandesas em 1618. O resultado foi A Decisão do Concílio de Dort sobre os Cinco Pontos Principais da Doutrina em Disputa na Holanda, comumente conhecidos como os Cânones de Dort, convenientemente resumidos algum tempo depois em inglês (após reorganização da ordem) pela sigla/mnemónico "TULIP". Esta declaração de cinco pontos tem servido como um resumo do calvinismo (ou a assim chamada posição reformada) desde então. Ele explicita:

T - Depravação total

U – Eleição incondicional

L – Expiação limitada

I – Graça irresistível

P – Perseverança dos santos

Nos artigos seguintes, usaremos esses pontos para construir uma crítica ao calvinismo.

O arminianismo floresceu ao lado do calvinismo e os dois frequentemente se tornaram – e ainda são – motivo de consideráveis disputas entre os cristãos. Um exemplo notável disso é a ruptura que ocorreu no início do Metodismo.

Esse movimento se polarizou em dois grupos sob a liderança respectiva de John Wesley (1703-1791) e George Whitefield (1714-1770); sendo o primeiro um arminiano e o último um calvinista – daí os metodistas wesleyanos e calvinistas.

Ambos eram ativos na pregação no Reino Unido e na América do Norte.

(Os conhecidos pregadores Jonathan Edwards (1703–1758) da América do Norte e Howell Harris (1714–1773) do País de Gales, eram associados próximos de Whitefield.)

O presente escritor se lembra bem de sua própria infância no País de Gales, com língua inglesa e galesa, variantes de ambos os tipos de capelas metodistas.

A visão geralmente aceita nas igrejas locais ou assembleias tem sido que a soberania divina e a responsabilidade humana coexistem, por mais ilógico que isso possa parecer para nossas mentes humanas limitadas. Um resumo do resultado de tal interpretação pode ser declarado como:

• As pessoas, não salvas estão espiritualmente mortas, mas ainda são responsáveis/capazes de se arrepender e fé;

• Nossa eleição é pessoal e não depende apenas de Deus saber de antemão sobre nossa fé;

• A morte de Cristo foi em favor de todos, mas só é efetiva para os crentes;

• Os homens dependem, mas podem recusar, o esforço do Espírito Santo no evangelho;

• Uma vez que uma pessoa é verdadeiramente salva, ela nunca pode ser perdida.

Em termos da contínua guerra de palavras entre calvinistas e arminianos, "não há nada de novo sob o sol" nos argumentos que eles usam, mas vale a pena reafirmar a posição das assembleias sobre este assunto. Uma coisa é clara – as orações na reunião de oração antes da reunião do evangelho geralmente destacam a soberania divina, pedindo que Deus trabalhe nos corações e mentes dos não salvos, enquanto a pregação do evangelho em si enfatiza a responsabilidade do pecador de se arrepender e crer.

À primeira vista, a doutrina calvinista da depravação total parece bastante convincente: parece dizer que o homem não poderia ser pior. Isso tem respaldo bíblico, como disse Davi: "Fui formado em iniquidade; e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51:5), e Paulo mais tarde acrescentou "como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5:12). O homem está espiritualmente morto; na escuridão e à distância de Deus. Podemos perguntar: "Todos os homens e mulheres, sem distinção, são capazes de responder à mensagem do evangelho?"

Com base nessa doutrina da depravação total, a resposta da ortodoxia calvinista à pergunta é "Não! A descendência de Adão nasce com naturezas pecaminosas; eles não têm a habilidade de escolher o bem espiritual sobre o mal" [Thomas Steele, Five Points of Calvinism, Presbyterian and Reformed, Phillipsburg , 1963, p. 25].

Isso inclui escolher Cristo para a salvação. Este ensino continua dizendo que somente os eleitos são habilitados por Deus para cumprir os mandamentos do evangelho para se arrependerem; crerem; receber a Cristo; obedecer ao evangelho, etc., quando ouvem o evangelho pregado. Mas podemos perguntar: "A responsabilidade humana não tem nenhum papel a desempenhar no evangelho?"

Este assunto é melhor compreendido quando examinamos as seguintes escolhas opostas no contexto do evangelho: obediência e desobediência; recepção (ou aceitação) e rejeição. Todas essas são, de uma forma ou de outra, as expressões óbvias da vontade humana.

Vejamos primeiro as palavras aliadas à obediência. Primeiro encontramos o pensamento nos Atos dos Apóstolos, onde o dom de Deus do Espírito Santo é prometido "aos que lhe obedecem" (Atos 5:32). Tal obediência foi demonstrada quando "uma grande multidão de sacerdotes foi obediente à fé" (Atos 6:7).

No entanto, o uso dessa ideia aparece mais claramente na grande obra-prima de explicação evangélica de Paulo, a epístola aos Romanos. Ele começa dizendo que seu apostolado era para "obediência à fé entre todas as nações" (Rm 1:5; cp 15:18).

Então ele falou sobre aqueles que "não obedecem à verdade, mas obedecem à injustiça, à indignação e à ira" (Rm 2:8).

Então ele aponta que foi originalmente "pela desobediência de um homem, muitos se tornaram pecadores" (Rm 5:19), mas tendo recebido o evangelho, os crentes romanos "obedeceram de coração à forma de doutrina que vos foi entregue" (Rm 6:17).

No entanto, em relação aos judeus que ouviram o evangelho, "nem todos obedeceram ao evangelho" (Rm 10:16).

De fato, foi a obediência dos crentes romanos (em grande parte gentios) que todos ouviram falar (Rm 16:19).

Paulo termina seu uso desta palavra com uma declaração dos propósitos de Deus atualmente revelados no evangelho: "dado a conhecer a todas as nações para a obediência da fé" (Rm 16:26).

Igualmente, a desobediência é um ato de volição, e esta é a raiz do problema, como Paulo escreveu sobre Adão: "Como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores" (Rm 5:19), e também de Israel, que era "um povo desobediente" (Rm 10:21).

Não é assim, é claro, para Paulo que disse a Agripa: "Não fui desobediente à visão celestial" (Atos 26:19).

Ele olhou para trás com os crentes de Éfeso e disse que eles eram então, como os incrédulos são agora, "filhos da desobediência" (Ef 2:2). De fato, isso traria "a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Ef 5:6; veja também Col 3:6).

Novamente, a aceitação é um ato de escolha, como lemos no primeiro capítulo do evangelho de João; "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (v.12;  Col 2:6).

Por outro lado, também é claro que os pecadores podem rejeitar o evangelho, com igual responsabilidade.

Em Sua vida houve aqueles que rejeitaram o Senhor Jesus Cristo, particularmente os líderes nacionais judeus, visto que Ele era "a pedra que os construtores rejeitaram" (Mt 21:42; Mc 12:10).

Isso foi ao ponto de querer matá-lo, "o qual foi rejeitado pelos anciãos, e pelos principais sacerdotes e escribas" (Marcos 8:31; Lucas 9:22).

Na verdade, Ele foi "rejeitado por esta geração" (Lucas 17:25).

Isso levaria a Ele ser seu Juiz, uma vez que "aquele que me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho falado, essa o julgará no último dia" (João 12:48).

Paulo lembra a Tito que antes de sermos salvos, "nós também fomos... desobedientes" (Tito 3:3).

Então Pedro falou daqueles que rejeitaram a Cristo como "os desobedientes" (1 Pedro 2:7, 8), assim como aqueles que rejeitaram o testemunho de Deus antes do dilúvio, "os quais... foram desobedientes" (1 Pedro 3:20).

A responsabilidade humana no Antigo Testamento muitas vezes se resumia ao exercício da escolha individual (Dt 30:19; Js 24:15).

(Também poderíamos ter examinado mais exemplos de responsabilidade humana, como crer e não crer, em João capítulo 3.)

Das declarações claras das Escrituras (lidas sem sobrepor nenhuma pressuposição calvinista) vemos que o homem é certamente responsável no contexto do evangelho. Então, quando Deus ordena que todos os homens em todos os lugares se arrependam (Atos 17:30), Ele realmente quer dizer isso, porque Ele "não quer que nenhum se perca, senão que todos venham ao arrependimento" (2 Pedro 3:9)! Assim, a Palavra de Deus termina dizendo: "Quem quiser, tome de graça da água da vida" (Ap 22:17).

Claro, não estamos dizendo que as pessoas são capazes de responder ao evangelho independentemente de Deus trabalhando em suas vidas – mas falaremos mais sobre isso mais tarde, quando examinarmos a obra do Espírito Santo na salvação.

Qualquer um que leia o Novo Testamento não pode escapar da conclusão de que Deus elegeu (escolheu) certas pessoas e as predestinou (predeterminou) para a bênção eterna.

A questão espinhosa é: "Como e por que Ele os escolheu?"

Isso dependia somente dEle, ou apenas da decisão evangélica das pessoas envolvidas, que, é claro, Ele sabia de antemão de qualquer maneira?

Se dependesse somente de Deus, a eleição (escolha) é chamada de "incondicional", mas se realmente dependesse da fé dos indivíduos envolvidos, é chamada de "condicional".

O argumento de Armínio foi o último, ou seja, que Deus escolheu aqueles que Ele sabia de antemão que escolheriam a Cristo. Isso foi feito para contrariar a afirmação anterior de Calvino de que os homens mortos eram incapazes de escolher Cristo por si mesmos. Então, com efeito, Calvino disse, Deus escolheu os crentes, então eles – e somente eles – poderiam escolher Cristo como Salvador.

No artigo anterior mostramos que o homem é uma criatura responsável – de fato, o soberano Deus escolheu fazer o homem assim!

Assim, o homem poderia escolher a Cristo, mas ele escolheria a Cristo?

É claro que Deus sabia quem seria salvo, mas esse conhecimento prévio determinou Sua escolha?

Nós, ao tentar entender a base da eleição, temos que fazer nossa seleção entre Deus escolhendo porque o homem não pode, e o homem escolhendo porque ele pode?

Argumentamos aqui que tal escolha é desnecessária e que tanto a soberania divina quanto a responsabilidade humana coexistem, embora sejam irreconciliáveis com nossas mentes humanas finitas.

Então podemos dizer, Deus escolheu os eleitos, e todos os que ouvem o evangelho podem escolher ser salvos.

Deus Pai abençoou Paulo e os crentes de Éfeso "com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais", assim como Ele os escolheu dentre a massa da humanidade para Si (Ef 1:4).

Paulo está escrevendo em primeiro lugar sobre os efésios e ele mesmo como indivíduos. Deus os havia escolhido em Cristo, assim como todo o Seu agir na graça tinha, e sempre será, "nele". Da mesma forma, Ele também encabeçaria todas as coisas "nele" nos dias milenares (veja Ef 1:10).

O último versículo nos mostra que a expressão "nele" não se esgota em pensamentos da membresia da igreja que é Seu corpo, como afirmam aqueles que defendem a eleição corporativa.

Da mesma forma, Paulo escreveu aos crentes tessalonicenses dizendo que ele, Silas e Timóteo, "dão graças a Deus por vós... porque Deus vos escolheu... vos chamou pelo nosso evangelho" (2Ts 2:13, 14).

Aqui encontramos a soberania divina e a responsabilidade humana reunidas, mas não explicadas! Também vemos como Deus realiza Seus propósitos eternos no tempo através da obra do Espírito Santo – Deus escolheu, o Espírito Santo separou, e os tessalonicenses creram, na verdade do evangelho.

Paulo, Silas e Timóteo já haviam dado "sempre graças a Deus por todos vós... conhecendo... a vossa eleição de Deus" (1Ts 1:2-4). Eles sabiam da eleição dos crentes em Tessalônica por sua clara conversão, quando eles, com grande custo para si mesmos, havia "dos ídolos voltado para Deus para servir ao Deus vivo e verdadeiro" (1Ts 1:9, veja também 2Pedro 1:10). Tiago também reúne os dois pensamentos: "Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?" (Tiago 2:5).

Lemos sobre os eleitos de Deus em Romanos 8:33, Colossenses 3:12 e Tito 1:1.

Diz-se que os indivíduos são eleitos, como a senhora em 2 João 1 e sua irmã em 2 João 13, bem como Rufo em Romanos 16:13.

O remanescente judeu crente hoje é eleito (Romanos 11:5, 7, 28), assim como os santos da tribulação em um dia futuro (Mateus 22:14; 24:22, 24, 31; Marcos 13:20, 22, 27; Lucas 18:7).

Também notamos que os crentes declarados como estando com o Cordeiro em Apocalipse 17:14 são "chamados, escolhidos e fiéis".

Vemos um ponto interessante levantado por Paulo sobre sua resistência ao sofrimento "por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação" (2Tm 2:10).

Por último, notamos em Atos 13:48 que em Antioquia e Pisídia, quando "os gentios ouviram (...) [o evangelho] (...) creram todos os que foram ordenados [designados] para a vida eterna.

A eleição é determinada pela presciência?

Deus simplesmente escolheu aqueles a quem Ele sabia que iriam crer?

Pedro se dirige a seus leitores como "estrangeiros... eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:1; 2:9).

Sua eleição está de acordo com a presciência de Deus, isto é, "perfeitamente consistente com" Sua presciência, Seu entendimento sendo infinito. (Sl 147:5; veja também Atos 15:18).

Da mesma forma, em outros lugares, lemos sobre presciência no contexto da predestinação (Rm 8:29, 30; Ef 1:5, 11).

Deus elegeu (escolheu) certas pessoas e as destinou para a bênção eterna, tudo de acordo com o Seu propósito. Isso não dependia de nada que esses indivíduos fizessem, ou de Deus saber algo sobre eles de antemão, portanto, a eleição é incondicional. Como diz a Bíblia de Referência Scofield (observe em 1 Pedro 1:2): "A eleição é... o ato soberano de Deus em graça pelo qual alguns são escolhidos dentre a humanidade para Si mesmo." "Eu vos escolhi do mundo" (João 15:19).

A doutrina da Expiação Limitada – que Cristo morreu apenas pelos eleitos – é, de todas as doutrinas calvinistas, a que cria mais confusão entre os cristãos evangélicos não calvinistas.

Mostraremos que Cristo realmente morreu por todos para que todos pudessem ser salvos. No entanto, ao mesmo tempo, enfatizaremos que Cristo morreu como substituto apenas dos crentes.

Se Cristo morresse pelos condenados (como um substituto), os que morrem em seus pecados, Deus estaria punindo seus pecados duas vezes, já que tais incrédulos sofrerão por seus pecados no inferno também.

Se não entendeu, não se preocupe, vamos esclarecer o assunto.

Que Cristo morreu por todos é comprovado pela declaração de João de que "Jesus Cristo, o justo, é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" (1 João 2:1, 2).

A propiciação é, naturalmente, o equivalente do Novo Testamento à expiação do Antigo Testamento. Nos tempos do Antigo Testamento, o propiciatório era aspergido com sangue no Dia da Expiação (veja Levítico 16), para que Deus pudesse perdoar os pecados da nação de Israel e continuar com eles por mais um ano – o sangue aspergido sendo a base justa para o perdão de Deus.

Assim também, na cruz, o Senhor Jesus derramou Seu precioso sangue para que houvesse uma base justa para que Deus pudesse perdoar os pecados do mundo inteiro.

Paulo enfatiza a Timóteo a urgência da oração, particularmente pelo evangelho, porque nosso Deus Salvador "deseja que todos os homens sejam salvos" (1Tm 2:4). Isso é possível porque "o homem Cristo Jesus... deu a si mesmo em resgate por todos" (1Tm 2:5, 6). Mais uma vez, Cristo morreu por todos, para que pudessem ser salvos.

Veremos agora três tratamentos desta questão.

Primeiro, em uma nota suplementar em seu conhecido Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento, WE Vine diz, comentando sobre as preposições gregas anti e huper:

"De especial importância doutrinária são Mateus 20:28 e Marcos 10:45, 'o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar Sua vida em resgate de ou por (anti) muitos.'"

Aqui o significado substitutivo "em lugar de", é claro, como também com o composto Gr. antulutron em 1 Timóteo 2:6, "que se deu a si mesmo como resgate por (huper) todos".

Aqui o uso de huper, "em lugar de" é perceptível. Cristo deu a Si mesmo como resgate (de caráter substitutivo), não em lugar de todos os homens, mas em nome de todos.

A substituição real, como nas passagens de Mateus e Marcos, é expressa pelo anti (por ou de) muitos. Não se deve dizer ao homem impenitente que Cristo é seu substituto; pois, nesse caso, a troca valeria para ele e, embora não regenerado, ele não

estaria no lugar de perdido, uma condição na qual, no entanto, ele existe enquanto não convertido. Assim, muitos são aqueles que, pela fé, são libertos dessa condição.

David West da Inglaterra também mostrou a importância das palavras gregas huper e anti com respeito à doutrina da substituição. Ele chega à mesma conclusão que WE Vine, que: "É uma verdade abençoada que 'Cristo Jesus... deu a Si mesmo como resgate por todos' (1Tm 2:5, 6); Ele morreu para abrir o caminho para o céu para 'quem quiser'". A morte de Cristo forneceu uma base justa sobre a qual Deus pode oferecer salvação a todos. No entanto, se dissermos que Cristo carregou os pecados de todos, estamos ultrapassando os limites das Escrituras. Se Cristo levou os pecados de todos em geral, então por que os perdidos serão julgados no grande trono branco?

Apocalipse 20:12 ensina claramente que "os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". Os apóstolos nunca pregaram aos não salvos que "Seus pecados foram levados por Cristo". No entanto, Pedro, escrevendo para crentes, e poderia dizer: "Ele (Cristo) mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24).

Por fim, notamos os comentários de Jim Baker, da Escócia. "A falha em distinguir entre essas duas importantes verdades bíblicas resultou em um mal-entendido doutrinário da obra expiatória de Cristo. Como consideramos, 'propiciação' é a obra sacrificial de Cristo em direção a Deus. Não há qualquer limitação aqui. Havia valor expiatório suficiente no sacrifício de Cristo no Calvário para suprir a necessidade de todos, e também para suprir todos os efeitos da queda. Assim lemos: 'Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo'" (1 João 2:2). Portanto, é totalmente antibíblico ensinar uma expiação limitada.

A substituição é a obra sacrificial de Cristo no interior. Em estrita exatidão, somente o crente pode dizer "Ele tomou o meu lugar" (1Co 15:3-4). A substituição é uma verdade para o santo desfrutar, e a propiciação é uma verdade para o santo proclamar no evangelho ao pecador.

Se Cristo não tivesse morrido por todos, então nem todos poderiam ser salvos, pois a obra sacrificial de Cristo na cruz é o único meio de salvação. É claro que Sua obra só se torna efetiva para os não salvos quando eles creem. Assim, podemos alegremente fazer a declaração de boa fé a todos os incrédulos que Cristo morreu em seu favor (2 Coríntios 5:14), e que eles podem ser salvos. Ao mesmo tempo, nós, como crentes, podemos desfrutar da verdade de que Cristo morreu em nosso lugar, como nosso substituto na cruz.

Os calvinistas afirmam que o Espírito Santo só opera no coração dos eleitos e que Seus apelos não podem ser recusados, daí o termo "graça irresistível". Mais uma vez, para eles, a soberania divina anula a responsabilidade humana. No entanto, nossa tese é que eles coexistem, e aqui mostraremos que certamente Deus (na pessoa do Espírito Santo) deve estar trabalhando para que qualquer um seja salvo, mas, ao mesmo tempo, os indivíduos são ordenados a mudar suas mentes, isto é, arrepender-se.

O Senhor Jesus prometeu a Seus discípulos em João 16:8 que o Espírito Santo viria para convencer o mundo do pecado, da justiça e do julgamento: o mesmo mundo que "Deus tanto amou" (João 3:16), e o mesmo mundo ao qual Deus enviou Seu Filho "para que o mundo fosse salvo por Ele" (João 3:17).

Então, o que significa que o Espírito Santo reprovaria o mundo (não apenas os eleitos) sobre pecado, justiça e julgamento?

Este ponto é tão importante que vale a pena gastar algum tempo considerando a amplitude do significado da palavra.

A palavra grega relevante é elegchos, que significa literalmente "trazer à luz".

Entre as possibilidades oferecidas para sua tradução em inglês estão Strong (Concordance with Hebrew and Greek Lexicon): "condenar, convencer, apontar uma falha, repreender, reprovar".

De JN Darby (Nova Tradução): "trazer, demonstração"; a versão revisada em inglês "convict"; Robert Jamieson, AR Fausset, e David Brown (Comentário Crítico e Explicativo sobre a Bíblia Inteira , 1871): "convencer" (observe que nossa palavra portuguesa convicto vem da palavra latina "convincere" que significa literalmente convencer), enquanto outras traduções incluem "expor."

Marvin Vincent (1834–1922) expandiu o significado para "condenar [o mundo] de ignorância de sua real natureza" (Estudos de Palavras sobre o Novo Testamento, Eerdmans, Grand Rapids, 1946), enquanto Fritz Rienecker (1897–1965) prestativamente deu sua expansão como "uma repreensão que procura provar com evidências demonstrativas" (A Linguistic Key to the Greek New Testament , Zondervan, Grand Rapids, 1980).

Outro notou que "a palavra traduzida como 'convencer' no Revista e Corrigida [é] bastante difícil de traduzir satisfatoriamente em português (é tão cheio de significado)", mas contém "a concepção de exame autoritário, prova inquestionável, julgamento decisivo".

Por último, notamos que BF Westcott (1825–1901), ex-Regius Professorship of Divinity, Cambridge UK, escreveu que: "Envolve as concepções de exame autoritário, de prova inquestionável, de julgamento decisivo e de poder punitivo. Aquele que 'convence' outro coloca a verdade em uma luz clara diante dele, de modo que deve ser vista e reconhecida como verdade ... (John , Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1971, p. 228).

Em resumo, podemos dizer que "convencer" abrange a ideia de fornecer provas suficientes e convincentes da realidade, verdade e seriedade do pecado, justiça e julgamento. Sem tal prova, os pecadores não podem e não se arrependerão, mas uma vez que a tenham, são obrigados a decisão de se arrepender ou não.

A questão então é: "Aqueles a quem o Espírito Santo fala, convence são capazes de recusar Sua evidência?"

Estevão disse ao Sinédrio "Vós sempre resistis ao Espírito Santo" (Atos 7:51). O verbo "resistir", como explica Vincent (Word Studies), é "uma expressão muito forte que implica resistência ativa". Aqui, então, está um exemplo de resistência voluntária e forte à obra do Espírito Santo.

Quando tal evidência suficiente do Espírito Santo é recusada, certamente isso é blasfemar (falar mal) contra o Espírito Santo (Mt 12:31), e insultá-Lo (Hb 10:29).

Se isso persistir, a pessoa envolvida não será salva.

Mesmo nos dias pré-diluvianos, temos Deus dizendo: "Meu Espírito não contenderá para sempre [pleitear, JND] com o homem" (Gn 6:3). Isso implica que mesmo naqueles dias iníquos o Espírito Santo foi ativo em dar aos homens a evidência necessária para que eles se arrependessem, através da caminhada e testemunho de Enoque e Noé (1 Pedro 3:19; 2 Pedro 2:5-9; Judas 14).

Essa obra do Espírito Santo significa que aqueles que ouvem o evangelho, têm testemunho divino quanto à sua verdade, por escrito na Palavra de Deus e em sua consciência pela obra do Espírito Santo. Assim, embora o homem geralmente esteja espiritualmente morto, os ouvintes do evangelho recebem evidência suficiente do Espírito Santo para ver a verdade desses assuntos importantes. Se deixarmos o Espírito Santo fora da equação, não poderemos encontrar nenhuma solução para a responsabilidade do homem exercida no evangelho; uma vez que entendemos Sua obra, vemos possibilidades que de outra forma estariam ausentes.

O chamado evangélico é "o convite autoritário de Deus", escreveu FF Bruce (A Epístola para os Efésios, Pickering e Inglis, Londres, 1961). É o mesmo FF Bruce que escreveu que C. H. Spurgeon, o maior calvinista inglês do século XIX, diz ter orado mais de uma vez: "Senhor,

apresse-se em trazer todos os escolhidos de Tique, e depois eleger um pouco mais."

(Respostas a Perguntas, p. 198, Paternoster Press, Exeter, 1972).

Junto com a proclamação do evangelho para todos, o Espírito Santo está ativo no coração dos ouvintes, dando-lhes todas as provas que poderiam pedir quanto à sua verdade.

Eles são então responsáveis por se arrepender (mudar de ideia) e crer no evangelho.

Junto com a proclamação genuína do evangelho para todos, o Espírito Santo está ativo no coração dos ouvintes, dando-lhes todas as provas que eles poderiam pedir quanto à sua verdade. Eles são então responsáveis por se arrepender (mudar de ideia) e crer no evangelho.

Claro, é importante ao tentar entender a obra do Espírito Santo, ter em mente o que o Senhor Jesus disse a Nicodemos: "O vento sopra onde quer .... assim é todo aquele que é nascido do Espírito (João 3:8). Ou seja, visto que em hebraico as palavras "espírito" e "vento" são as mesmas, o Espírito Santo opera na salvação quando e onde Ele deseja e escolhe, e não como esperamos ou entendemos.

Se a declaração no título é apenas o que parece dizer, ou seja, "uma vez salvo, sempre salvo", então não poderíamos discutir com isso, pois de acordo com as Escrituras, uma vez que uma pessoa é verdadeiramente salva, então ela nunca poderá perder a salvação.

No entanto, na mente de muitos calvinistas, isso pode significar exatamente o oposto, então eles dizem que você só pode ter certeza de que está salvo se perseverar! Mas primeiro, precisamos ter certeza sobre a segurança eterna.

A declaração mais simples e impressionante sobre a segurança eterna foi feita pelo próprio Senhor Jesus, que disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; e eu lhes dou a vida eterna; e nunca perecerão, nem ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que me deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai" (João 10:27-29).

Então as promessas da Bíblia, nos escritos de João, por exemplo, sobre a conexão entre a fé de um crente no Senhor Jesus e a certeza e posse da vida eterna, são obviamente irreversíveis.

"Aquele que ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação; mas passou da morte para a vida" (João 5:24);

"Aquele que crê em mim tem a vida eterna" (João 6:47);

"Ele nos prometeu... a vida eterna" (1 João 2:25); e

"Aquele que tem o Filho tem a vida; e quem não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1 João 5:12).

Veja também João 3:16, 36.

Se a vida mencionada é realmente eterna, como podemos nos perder?

Veja as seguintes declarações selecionadas de Paulo, Pedro e João sobre o que Deus já fez pelos cristãos:

"nos selou" (2Co 1:21-22);

"nos vivificou" (Ef 2:5);

"nos transportou para o reino" (Cl 1:13);

"nos designou (...) para obter a salvação" (1Ts 5:9);

"nos chamou para a Sua glória eterna" (1 Pedro 5:10);

"nos deu a vida eterna" (1 João 5:11).

Se é possível se perder novamente depois de ser salvo, então cada uma dessas promessas, e muitas outras, teriam que ser retiradas, anuladas ou revertidas – isso nunca é previsto e, portanto, claramente impossível!

A parte de Deus na segurança eterna é enfatizada ainda mais em declarações como Ele é "poderoso para vos guardar sem tropeço, e para vos colocar com exultação irrepreensíveis diante da sua glória" (Judas 24 ESV), e que os crentes são "guardados pelo poder de Deus". (1 Pedro 1:5).

Então lemos que o Senhor Jesus "pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25), sendo "o autor da salvação eterna para todos, os que lhe obedecem" (Hb 5:9).

Observe também "tendo obtido eterna redenção" (Hb 9:12).

Portanto, "uma vez salvo, sempre salvo!" Certamente estamos felizes em dizer com Paulo: "Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia" (2Tm 1:12).

Há aqueles calvinistas que dizem que se os crentes são informados de que nunca podem se perder, então isso lhes permite levar vidas descuidadas.

(O nome formal para tal crença é antinomianismo).

Quando consideramos as grandes coisas que Deus fez pelos crentes, então "se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E todas as coisas são de Deus" (2Co 5:17, 18).

Posicionalmente, isso é imediatamente verdadeiro após a conversão, mas como somos obedientes a Deus e à Sua Palavra, isso também se torna verdadeiro, na prática. Esse progresso pode não ser tão contínuo quanto deveria ser, de modo que nas epístolas os crentes devem ser advertidos sobre não roubar, mentir, xingar, enganar, ser imoral, etc. No entanto, mesmo os crentes carnais ainda são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo (Gl 3:26).

A parábola do filho pródigo é sobre uma pessoa que sempre foi filho, independentemente do que fez (Lucas 15:11-24). Mesmo aqueles que têm que ser excomungados da comunhão da assembleia e estão sob disciplina nunca são considerados perdidos: eles também ainda são filhos.

Muitos calvinistas, por serem obcecados com a possibilidade de antinomianismo, pensam que a doutrina "uma vez salvo, sempre salvo" é realmente perigosa.

O carismático calvinista RT Kendall (autor de Once saved, Always Saved , Moody Press, Chicago, 1983, e como Martyn Lloyd-Jones e G. Campbell Morgan ministro da Capela de Westminster em Londres) teria dito que "quase todos ... [Os professores calvinistas do século XVII] passaram por grande dúvida e desespero em seus leitos de morte, pois perceberam que suas vidas não davam provas perfeitas de que eles eram os eleitos.

Infelizmente, muitos calvinistas pensam o mesmo hoje. Eles pensam que, efetivamente, no final das contas, sua salvação depende de sua fidelidade. No entanto, a Bíblia diz que mesmo se formos infiéis, Ele permanece fiel (2Tm 2:13).

O único ponto a ser considerado surge do que dissemos no início deste artigo: "uma vez que uma pessoa é verdadeiramente salva, ela nunca mais pode ser perdida". Infelizmente, devemos perceber que algumas pessoas fazem falsas profissões de fé por causa da pressão dos colegas e dos pais, bem como outras razões, de modo que nunca foram realmente salvas e muitas vezes revogam sua profissão de qualquer maneira. (Isso não inclui aqueles que são salvos, mas têm dúvidas sobre sua salvação, pois Satanás é muito rápido em tentar roubar nossa segurança (cf. Gn 3:1). Portanto, deve-se sempre tomar cuidado para não fazer falsas confissões da fé por meios humanos, ainda que bem intencionados.

Como vimos, podemos ficar bastante felizes com alguns dos ensinamentos do calvinismo, especialmente a eleição incondicional e a preservação dos santos – pelo menos quando devidamente definidos!

Da mesma forma, temos sido claros em discordar fortemente de outros pontos, especialmente a expiação limitada. Claro, o que dissemos não é novo, mas tem sido o ponto de vista geralmente aceito nas assembleias do povo do Senhor por quase dois séculos (veja o artigo de CH Mackintosh sobre teologia unilateral em https://www.stempublishing.com e Sovereignty And Responsibility , por FB Hole em www.biblecentre.org). No entanto, antes de concluirmos esta série, há algumas coisas extras a serem consideradas.

Os dois grandes pregadores vitorianos, DL Moody e CH Spurgeon, tinham visões bastante diversas sobre o calvinismo.

Moody era um anti-calvinista, enquanto Spurgeon foi chamado de "o maior calvinista inglês do século 19" (FF Bruce, Answers to Questions, Paternoster Press, Exeter, 1972).

Dada essa divergência, é bastante notável que nos forneceram as ilustrações simples, mas úteis, que muitas vezes ouvimos citar sobre o fato de que a soberania divina e a responsabilidade humana coexistem alegremente.

Moody costumava ilustrar este ponto dizendo: "Em uma bela mansão, acima do pórtico da porta estão as palavras: 'Quem quiser pode vir.' Você entra porque é isso que diz. — Quem quiser entrar. Você entra. Você se vira e olha. Acima da porta do lado de dentro está: 'Escolhido nele antes da fundação do mundo.'"

(Moody também costumava dizer: "Os eleitos são os que querem e os não eleitos são os que não querem!")

Em um sermão intitulado "Graça Soberana e Responsabilidade do Homem", originalmente proferido na manhã de domingo, 1 de agosto de 1858, no Music Hall, Royal Surrey Gardens, Londres, Spurgeon pregou:

"Que Deus predestina e que o homem é responsável são duas coisas que poucos podem ver. Essas duas verdades, não acredito que possam ser soldadas em uma bigorna humana, mas serão uma na eternidade: são duas linhas tão quase paralelas que a mente que as perseguir mais longe nunca descobrirá, que convergem; mas eles convergem e se encontrarão em algum lugar na eternidade, perto do trono de Deus, de onde brota toda a verdade... Você me pede para reconciliar os dois. Eu respondo, eles não querem nenhuma reconciliação; nunca tentei reconciliá-los, porque nunca pude ver uma discrepância... Ambas são verdadeiras; duas verdades não podem ser inconsistentes entre si; e o que você tem que fazer é acreditar nas duas."

Os calvinistas insistem que a fé é um dom de Deus e não faz parte da responsabilidade do homem. À primeira vista, dois versículos parecem apoiar essa visão.

Primeiro, "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie (Ef 2:8,9).

Especialistas em grego do Novo Testamento, incluindo Dean Alford, FF Bruce, AT Robertson, WE Vine, CI Scofield, Kenneth S. Wuest, Marvin R. Vincent e muitos outros, nos contam que a construção do grego em Efésios 2:8-10 torna impossível que a fé seja o dom que está em vista ali, e, portanto, a frase "é dom de Deus," refere-se a todo o assunto que está sendo tratado, ou seja, a salvação pela graça através da fé, e não à fé.

Em segundo lugar, Pedro escreveu: "àqueles que conosco alcançaram fé igualmente preciosa" (2 Pedro 1:1).

Mais uma vez parece que a fé é um dom. No entanto, William Kelly em seu comentário sobre esta epístola, explica que a fé aqui se refere "ao que se acredita", ou seja, fé vista objetivamente e não subjetivamente.

Portanto, a ordem para ser salvo é: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo" (Atos 16:31).

Podemos concluir citando mais uma vez as palavras de William Kelly. Em seu comentário sobre o profeta Oséias, ele escreveu:

"A tendência de todos os homens é se tornar o que as pessoas chamam de arminianos ou calvinistas; e uma coisa difícil é manter o equilíbrio da verdade sem vacilar para nenhum dos lados. Não há nada, no entanto, muito difícil para o Senhor; e a Palavra de Deus é o preservador infalível de um ou de outro. Estou perfeitamente convencido... de que nem o arminianismo, nem o calvinismo estão na Bíblia, e que ambos estão completamente errados sem a menor justificativa. O fato é que a tendência de ambos está profundamente enraizada nas mentes não renovadas. Isto é, o mesmo homem pode ser arminiano em um momento e calvinista em outro e é provável que, se ele foi um arminiano violento um dia, ele pode se tornar um calvinista violento amanhã. Mas as raízes de ambos estão no homem e em sua unilateralidade. A verdade de Deus está em Sua palavra como a revelação de Cristo pelo Espírito, e em nenhum outro lugar".

O calvinismo e o arminianismo estão ambos errados porque colocam a razão acima da revelação. Não fiquemos nem com os calvinistas e roubemos a responsabilidade do homem, nem com os arminianos e roubemos a soberania de Deus.

Não podemos fazer melhor em concluir esta série para citar as sábias palavras de CF Hogg: "Não é um pequeno conforto saber que ... a graça eletiva de Deus leva a Cristo. A vontade do homem submetido a Deus também conduz a Cristo. Algum dia ... veremos como esses dois fatores na vida do homem se encontram em Cristo ... enquanto isso, o segredo da paz e do serviço eficaz é confiar implicitamente e pregar sem hesitação na sabedoria e verdade do Deus que é amor". (O que diz a Escritura? Pickering e Inglis, Londres, 1947).


Barnes, Howard A.