AS FESTAS DE JEOVÁ

Sábado-Páscoa-Pães Asmos
Pentecostes-Pães Movidos-Trombetas
Dia da Expiação-Os Tabernáculos

AS SETE FESTAS DO SENHOR 

LEVÍTICO 23 

 

Chegamos a um dos capítulos mais profundos e compreensivos do volume inspirado que temos perante nós, e que requer estudo atento e oração. Contém a descrição das sete grandes festas ou solenidades periódicas em que se dividia o ano de Israel. Por outras palavras, oferece-nos um quadro perfeito do trato de Deus para com Israel durante todo o período mais agitado da sua história. Tomando as festas por separado, temos o Sábado, a Páscoa, a festa dos Asmos, a festa das Primícias, o Pentecostes, as Trombetas, o dia da Expiação e a festa dos Tabernáculos. 

O Dia do Descanso 

Ao todo são oito; mas é evidente que o Sábado ocupa um lugar único e independente. É mencionado primeiro e as características e circunstâncias que o acompanham são plenamente expostas; e então, lemos: "Estas são as solenidades do SENHOR, as santas convocações, que convocareis no seu tempo determinado" (versículo 4). De sorte que, propriamente falando, como o leitor atento poderá observar, a primeira grande solenidade de Israel era a Páscoa e a sétima era a festa dos Tabernáculos. Quer dizer, tirando-lhe a sua forma típica, temos primeiro a redenção; e depois, na última de todas, a glória do milênio. O cordeiro da Páscoa prefigurava a morte de Cristo (l Co5:7); e a festa dos Tabernáculos simbolizava "os tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio" (At3:21). Tais eram as festas que abriam e fechavam o ano judaico. A expiação é a base, a glória a pedra cimeira do edifício; enquanto que entre os dois pontos temos a ressurreição de Cristo (versículos 10 a 14), o ajuntamento da Igreja (versículos 15 a 21), o despertar de Israel ao sentimento da sua glória há muito perdida (versículos 24 - 25), o seu arrependimento e a cordial recepção do Messias (versículos 27e 32). E para que não faltasse um só traço a esta grande representação típica, temos ainda o remédio para os gentios poderem entrar no fim da colheita e respigar os campos de Israel (versículo 22). Tudo isto torna o quadro divinamente perfeito e desperta no coração de todos aqueles que amam as Escrituras uma profunda admiração. Poderá haver alguma coisa mais completai O sangue do Cordeiro e a santidade prática baseados nela; a ressurreição de Cristo de entre os mortos e Sua assunção ao céu; a descida do Espírito Santo, em todo o poder do Pentecostes, para formara Igreja; o despertar do remanescente, seu arrependimento e restauração; a bênção do "pobre e do estrangeiro"; a manifestação da glória; e o descanso e a bem-aventurança do reino. Estas são as coisas que este maravilhoso capítulo contém, e a cujo exame pormenorizado vamos agora proceder. Que Deus Espírito Santo seja o nosso Mestre! "Depois, falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As solenidades do SENHOR, que convocareis, serão santas convocações; estas são as minhas solenidades. Seis dias obra se fará, mas ao sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação; nenhuma obra fareis; sábado do SENHOR é, em todas as vossas habitações". O lugar dado aqui ao sábado é cheio de interesses. O Senhor ia dar uma figura de todas as Suas ações em graça com o Seu povo; e, antes de o fazer, apresenta o sábado como a expressão significativa do descanso que resta para o povo de Deus. Era uma festa que devia ser observada por Israel, mas era também uma figura do que ainda há - de vir, quando toda essa obra grande e gloriosa prefigurada neste capítulo há - de ser cumprida. E o descanso de Deus, no qual podem entrar agora, em espírito, todos os que crêem; mas cujo pleno cumprimento ainda não chegou (Hb 4). Agora trabalhamos. Descansaremos dentro em pouco. Em certo sentido o crente entra no descanso; noutro, trabalha para entrar nele. Encontrou o seu descanso em Cristo; esforça-se por entrar no seu repouso em glória. Encontrou o seu pleno repouso mental em tudo que Cristo fez por ele, e o seu olhar repousa sobre esse sábado eterno em que entrará quando todos os seus trabalhos e conflitos do deserto tiverem acabado. Não pode descansar no meio de uma cena de pecado e miséria. Descansa em Cristo, o Filho de Deus, que "tomou a forma de servo". E, enquanto assim descansa, é chamado para trabalhar como obreiro com Deus, na plena certeza de que, quando o seu labor tiver terminado, gozará de repouso eterno e permanente nessas mansões de luz inalterável e de pura felicidade em que o labor e a tristeza não entrarão. Bendita perspectiva! Que possa bilhar mais e mais cada hora que passa ante a visão da fé! Possamos nós trabalhar, trabalhar para entrar nele. Encontrou o seu descanso final! E verdade que há gozo antecipado deste sábado eterno; porém apenas nos faz desejar com mais ardor a bendita realidade, essa "santa convocação", que não se dissolverá nunca. Já temos observado que o sábado ocupava um lugar aparte e independente neste capítulo. Isto é evidente pelas palavras do versículo quatro, onde o Senhor parece começar de novo com a expressão: "Estas são as solenidades do SENHOR", como para distinguir o sábado das sete festas que se seguem, ainda que é, em realidade, o tipo do repouso a que essas festas introduzem a alma. 

A Páscoa

"Estas são as solenidades do SENHOR, as santas convocações, que convocareis no seu tempo determinado: no mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a Páscoa do SENHOR" (versículos 4 e 5). Aqui temos, pois, a primeira das sete solenidades periódicas — a oferta do cordeiro da páscoa cujo sangue havia ocultado o Israel de Deus da espada do anjo destruidor na terrível noite em que os primogênitos do Egito foram abatidos. E o reconhecido tipo da morte de Cristo; e, por isso, o seu lugar neste capítulo é próprio. É a base de tudo. Nada podemos saber de repouso, santidade, comunhão, salvo sobre a base da morte de Cristo. É interessante e admirável observar que logo que se fala do repouso de Deus o assunto de que se trata imediatamente é o sangue do cordeiro da páscoa. Era como se dissesse: "Existe repouso, mas aqui está o vosso direito a ele". Sem dúvida, o labor faz-nos-á capazes de gozar o repouso, mas é o sangue que nos dá direito a gozar do repouso. 

As Festas dos Pães Asmos

"E aos quinze dias deste mês é a festa dos Asmos do SENHOR: sete dias comereis asmos; no primeiro dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; mas sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao sétimo dia haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis" (versículos 6 a 8). O povo está reunido aqui na presença do Senhor naquela santidade prática que é baseada na redenção efetuada; e, enquanto estão assim reunidos, o odor fragrante do sacrifício sobe do altar de Israel ao trono do seu Deus. Isto oferece-nos uma bela representação da santidade que Deus procura na vida dos Seus remidos. E baseada no sacrifício e sobe intimamente ligada com a aceitação da fragrância da Pessoa de Cristo. "Nenhuma obra servil fareis. Mas... oferecereis oferta queimada ao SENHOR". Que contraste! A obra servil das mãos do homem e o bom odor do sacrifício de Cristo! A santidade prática do povo de Deus não é labor servil. É a viva manifestação de Cristo neles por intermédio do Espírito Santo. "Para mim o viver é Cristo". Esta é a verdadeira idéia. Cristo é a nossa vida; e toda a manifestação dessa vida está, no juízo divino, impregnada da fragrância de Cristo. Isto pode parecer um assunto insignificante ao homem, mas visto ser um reflexo da vida de Cristo é infinitamente precioso para Deus. Sobe para Ele e não pode ser esquecido. "Os frutos de justiça, que são por Jesus Cristo", são produzidos na vida do crente, e nenhum poder da terra ou do inferno pode impedir que a sua fragrância suba ao trono de Deus. E necessário ponderar seriamente o contraste entre "obra servil" e a manifestação da vida de Cristo. O tipo é admirável. Cessava todo o trabalho manual na assembléia; mas o odor suave da oferta queimada subia para Deus. Estas eram as duas grandes características da festa dos asmos. Cessava o labor do homem, e o perfume do sacrifício subia como tipo de santidade prática da vida do crente. Que resposta convincente temos aqui para o legalista, por um lado, e para o antinomianista, por outro! O primeiro é reduzido ao silêncio pelas palavras "nenhuma obra servil fareis"; e o último é confundido pela expressão "oferecereis oferta queimada ao Senhor". As obras esmeradas do Homem são "servis", mas o menor racimo de "frutos de justiça" é glória e honra de Deus. Durante todo o período da vida do crente não deve haver nenhuma obra servil; nada que tenha os elementos odiosos e degradantes do legalismo. Deve haver somente a apresentação contínua da vida de Cristo, operada e desenvolvida pelo poder do Espírito Santo. Durante os "sete dias" da segunda solenidade de Israel não devia haver "fermento", porém, em vez disso, o cheiro suave da "oferta queimada" devia ser apresentado ao Senhor. Possamos nós compreender inteiramente esta admirável e instrutiva figura! 

A Festa das Primícias

"E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando houverdes entrado na terra, que vos hei de dar, e segardes a sua sega, então, trareis um molho das primícias da vossa sega ao sacerdote; e ele moverá o molho perante o SENHOR, para que sejais aceitos; ao seguinte dia do sábado, o moverá o sacerdote. E, no dia em que moverdes o molho, preparareis um cordeiro sem mancha, de um ano, em holocausto ao SENHOR. E sua oferta de manjares serão duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR, e a sua libação de vinho, o quarto de um him. E não comereis pão, nem trigo tostado, nem espigas verdes, até àquele mesmo dia em que trouxerdes a oferta do vosso Deus; estatuto perpétuo é por vossas gerações, em todas as vossas habitações" (versículos 9 a 14). "Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem" (1 Co 15-20). A formosa ordenação da apresentação do molho das primícias tipificava a ressurreição de Cristo, que, "No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana", saiu triunfante do túmulo, tendo cumprido a obra gloriosa da redenção. A Sua ressurreição foi "de entre os mortos"; e nela temos a garantia e o tipo da ressurreição do Seu povo. "Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda". Quando Cristo vier o Seu povo será "ressuscitado de entre os mortos" (ek nekron), quer dizer, aqueles de entre eles que dormem em Jesus. "Mas os outros mortos não reviveram até que os mil anos se acabaram" (Ap 20:5). Quando imediatamente depois da transfi-guração nosso bendito Senhor falou da Sua ressurreição "de entre os mortos", os discípulos interrogaram-se sobre o que isso queria dizer (veja-se Mc 9). Todo o judeu ortodoxo acreditava na doutrina da "ressurreição dos mortos" (anastasis nekron). Mas a idéia de uma "ressurreição de entre os mortos" (anastasis ek nekron) não podia ser compreendida pelos discípulos; e, sem dúvida, muitos discípulos desde então têm tido grade dificuldade a respeito de um ministério tão profundo. Contudo, se o leitor estudar devotamente e comparar 1 Coríntios 15 e 1 Tessalonicenses 4:13-18, encontrará preciosas instruções sobre esta verdade tão interessante como prática. Pode também ler Romanos 8:11 em relação com aquelas passagens. "E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo, também viverá os vossos corpos mortais pelo seu Espírito que em vós habita". Segundo estas passagens vê-se que a ressurreição da Igreja verificar-se-á segundo o mesmo princípio da ressurreição de Cristo. Ambos, a Cabeça e o corpo, são ressuscitados "dos mortos". O primeiro molho e as gabelas que seguem depois são moralmente juntos. Deve ser evidente para qualquer pessoa que ponderar cuidadosamente o assunto, à luz das Escrituras, que existe uma diferença essencial entre a ressurreição do crente e a ressurreição dos incrédulos. Uns e outros ressuscitarão; porém Apocalipse 20:5 demonstra que haverá um período de mil anos entre as duas ressurreições, de forma que elas diferem tanto em princípio como quanto à época. Alguns têm achado dificuldade com referência a este assunto, devido ao fato de que, em João 5:28, o Senhor fala da "hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz". "Como", pode perguntar-se, "pode haver um intervalo de mil anos entre as duas ressurreições quando é dito que as duas ocorrem numa hora?" A resposta é muito simples. Em versículo28, fala-se da vivificação das almas mortas como tendo lugar numa "hora"; e esta obra tem continuado por mais de mil e oitocentos anos. Ora, se um período de cerca de dois mil anos pode ser representado pela palavra "hora", que objeção pode fazer-se à idéia de mil anos estarem representados do mesmo modo? Nenhuma, seguramente, sobretudo quando está expressamente declarado que "Os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram". Além disso, quando vemos que se menciona uma "primeira ressurreição", não é evidente que nem todos serão ressuscitados ao mesmo tempo? Porque falar de uma "primeira" ressurreição se há só uma?? Poderá dizer-se que "a primeira ressurreição" se refere à alma; mas onde se encontra na Escritura a base para esta afirmação? O fato solene é este: quando a "voz de arcanjo" e a "trombeta de Deus" se fizerem ouvir, os remidos que dormem em Jesus serão ressuscitados para o encontrarem em glória. Os pecadores mortos, quem quer que sejam, desde os dias de Caim, permanecerão nas suas sepulturas durante os mil anos de bem-aventurança milenial; e no fim desse brilhante e feliz período sairão para comparecer diante do "grande trono branco" para ali serem "julgados segundo as suas obras" e para passarem do trono do juízo ao lago de fogo. Que terrível pensamento! Oh, prezado leitor, em que estado se encontra a sua alma preciosa?! Tem visto, pela fé, o sangue do Cordeiro da páscoa derramado para sua proteção nessa hora terrível? Tem visto o precioso molho de primícias colhido e recolhido no celeiro celestial, como penhor de que também a sua recolha será feita em devido tempo ? Estas interrogações são profundamente solenes. Não devem ser postas de parte. Certifique-se agora de que está sob o abrigo do sangue de Jesus. Lembre-se de que não pode rebuscar tanto como uma simples espiga nos campos da redenção antes de ver a verdadeira gabela movida perante o Senhor. "E não comereis pão, nem trigo tostado, nem espigas verdes, até àquele mesmo dia em que trouxerdes a oferta do vosso Deus". A colheita não podia ser tocada antes de terem sido oferecidas as primícias e com elas um holocausto e uma oferta de manjares. 

A Festa de Pentecostes (ou: da Semanas)

"Depois, para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias; então, oferecereis nova oferta de manjares ao SENHOR. Das vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de farinha serão, levedados se cozerão; primícias são ao SENHOR" (versículos 15a 17). Esta é a festa do pentecostes—figura do povo de Deus reunido pelo Espírito Santo e apresentado perante Ele, em conexão com toda a preciosidade de Cristo. Na páscoa temos representada a morte de Cristo; no molho das primícias vemos a ressurreição de Cristo; e na festa do pentecostes temos a descida do Espírito Santo para formar a Igreja. Tudo isto é divinamente perfeito. A morte e ressurreição de Cristo tinham de ser cumpridas, antes que a lgreja pudesse ser formada. E note-se a expressão "levedados se cozerão". Porque deviam os dois pães ser cozidos com fermentou Porque tipificavam os que, embora cheios do Espírito Santo e dotados com os Seus dons e graça, tinham, todavia, mal em si mesmos. A assembléia, no dia de pentecostes, desfrutava por completo os benefícios do sangue de Cristo, e estava adornada com os dons do Espírito Santo; mas havia também nela mal. O poder do Espírito Santo não podia evitar que o mal estivesse entre o povo de Deus. O mal podia ser combatido e ocultado; mas ainda assim estava ali. Este fato é representado em figuras pelo fermento nos dois pães; e é encontrada a sua expressão na história da Igreja; porque, apesar de Deus o Espírito Santo estar presente na Assembléia, a carne manifesta-se também mentindo-lhe. A carne é carne, e dela não poderá jamais fazer-se outra coisa. O Espírito Santo não desceu, no dia de pentecostes, para melhorara natureza humana ou acabar com a realidade do mal nela, mas, sim, para batizar os crentes em um corpo e ligá-los com a Cabeça que vive no céu. Já fizemos alusão, no capítulo que trata do sacrifício pacífico, ao fato que o fermento era permitido em relação com esse sacrifício. Por este meio Deus reconhecia a existência de mal no adorador. Assim é também na ordenação dos "dois pães de movimento"; deviam ser cozidos com fermento, devido ao mal no antítipo. Mas, bendito seja Deus, se a existência do mal era divinamente reconhecida, também era feita provisão do remédio. Isto dá paz e consolação à alma. E consolador saber que Deus conhece o pior que há em nós; e, além disso, que deu o remédio, segundo o Seu conhecimento, e não apenas segundo o nosso. "Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem mancha, de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de cheiro suave ao SENHOR" (versículo 18). Portanto, temos aqui, em imediata ligação com os pães levedados, a oferta de um sacrifício sem mancha, tipificando a verdade muito importante de que é a perfeição de Cristo e não a nossa iniqüidade que está sempre perante os olhos de Deus. Observe-se especialmente as palavras "também com o pão oferecereis sete cordeiros sem mancha". Que preciosa verdade! Eminentemente preciosa, ainda que revestida de formas típicas.

Possa o leitor compreendê-la, apropriar-se dela, fazer dela o apoio da sua consciência, o alimento e refrigério de seu coração, e as delícias da sua alma; e dizer: Não eu, mas Cristo. Dir-se-á que o fato de Cristo ser o Cordeiro imaculado não basta para tirar o peso de culpa de uma consciência manchada—que uma oferta de cheiro suave não aproveitaria, em si, ao pecador culpado. Pode apresentar-se esta objeção; porém ela é não só contestada como desfeita pelo símbolo que estamos a analisar. Em boa verdade, que um Holocausto não teria bastado havendo "fermento"; e por isso lemos: "Também oferecereis um bode para expiação do pecado e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico" (versículo 19). A "expiação do pecado" era a resposta ao "fermento" nos pães — firmava-se "a paz" de forma que podia gozar-se de comunhão, e subia em imediata conexão com o "cheiro suave" do "holocausto" para o Senhor. Assim, no dia de pentecostes a Igreja foi apresentada em todo o valor e excelência de Cristo pelo poder do Espírito Santo. Embora tendo em si mesma o fermento da velha natureza, esse fermento não era tido em conta, porque a divina expiação do pecado tinha respondido por ele. O poder do Espírito Santo não tirava o fermento, mas o sangue do Cordeiro de Deus tinha feito expiação pelo mal nele representado. É uma distinção das mais importantes e ao mesmo tempo interessantes. A obra do Espírito no crente não tira o mal que nele habita. Torna-o capaz de detectar, de julgar e de dominar o mal, mas não há poder espiritual que possa anular o fato de que o mal existe nele — embora, bendito seja Deus, a consciência esteja perfeitamente em paz, visto que o sangue da expiação do pecado resolveu para sempre toda a questão; e, portanto, Deus, em vez de ter presente o nosso mal, afastou-o da vista para sempre, e nós somos aceitos em Cristo, que se ofereceu a Si mesmo a Deus em sacrifício de cheiro suave, para poder glorificá-Lo perfeitamente em todas as coisas e ser para sempre o alimento do Seu povo. Dissemos o bastante sobre o pentecostes — depois do qual desliza um longo período sem que haja qualquer movimento entre o povo. Há contudo uma alusão ao "pobre e estrangeiro" nesta bela ordenação que temos considerado em seu aspecto moral. Aqui podemos considerá-la sob o ponto de vista dispensacional. "E, quando segardes a sega da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR, VOSSO Deus" (versículo 22). Aqui é determinado que todo o estrangeiro possa respigar nos campos de Israel. Os gentios são introduzidos para participar da bondade superabundante de Deus. Quando os celeiros e lagares de Israel estiverem cheios, haverá preciosas gabelas e ricos cachos para que os gentios os possam colher. Não devemos contudo supor que as bênçãos espirituais com que a Igreja é dotada nos lugares celestiais com Cristo são representadas pela figura de um estrangeiro rebuscando espigas nos campos de Israel. Estas bênçãos são tão novas para os descendentes de Abraão como para os gentios. Não são as espigas de Canaã, mas as glórias do céu — as glórias de Cristo. A Igreja não é apenas abençoada por Cristo, mas com Cristo e em Cristo. A noiva de Cristo não terá que ir, como um estrangeiro, rebuscar as espigas e os cachos nos campos e vinhedos de Israel. Não; ela tem maiores bênçãos, mais rico gozo, dignidades mais elevadas do que Israel jamais conheceu. Não tem de rebuscar como um estrangeiro na terra, mas sim de gozar a sua riqueza e feliz morada no céu a que pertence. Estas são "as melhores coisas" que Deus tem, em Sua graça e sabedoria, "preparado" para ela. Sem dúvida, será um feliz privilégio para "o estrangeiro" poder respigar depois de terminada a ceifa de Israel; porém a parte da Igreja é incomparavelmente melhor, como é ser a noiva do Rei de Israel, que compartilha do Seu trono, tem parte nas Suas honras e glória; ser semelhante a Ele e estar com Ele para sempre. As moradas eternas da casa do Pai nas alturas, e não os rincões sem espigas dos campos de Israel, são a porção da Igreja. Conservemos isto sempre em nosso espírito para podermos viver de uma maneira digna de tão nobre e santo destino! 

A Festa das Trombetas (Números 29:1) 

"E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memória de jubilação, santa convocação. Nenhuma obra servil fareis, mas ofereceis oferta queimada ao SENHOR" (versículos 23-25). As palavras "E falou o SENHOR a Moisés" servem de introdução a outro assunto, que, diga-se de passagem, é de grande utilidade na classificação dos assuntos de todo o capítulo. Assim, o sábado, a páscoa, e a festa dos asmos são dados na primeira comunicação. O molho das primícias da sega, os dois pães de movimento, os cantos do campo por segar são mencionados na segunda parte; depois segue-se um longo intervalo durante o qual nada se diz, e então vem a comovedora festa das trombetas, no primeiro dia do sétimo mês. Esta ordenação conduz-nos ao tempo que rapidamente se acerca de nós, em que o remanescente de Israel "tocar a trombeta" para memorial, recordando a sua glória desde há longo tempo perdida, e despertando em busca do Senhor.

O Dia da Expiação 

A festa das trombetas está intimamente ligada com outra solenidade, isto é, "o dia da expiação". "Mas, aos dez deste mês sétimo será o Dia da Expiação; tereis santa convocação, e afligireis a vossa almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E, naquele mesmo dia, nenhuma obra fareis, porque é o Dia da Expiação, para fazer expiação por vós, perante o SENHOR, vosso Deus... sábado de descanso vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado" (versículos 27-32). Assim, depois do toque das trombetas segue-se um intervalo de oito dias, e então temos o dia da expiação, com o qual estas coisas estão relacionadas, isto é, aflição da alma, expiação do pecado, e descanso do labor. Todas estas coisas encontrarão em breve o seu próprio lugar na experiência do remanescente judeu. "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos" (Jr 8:20). Tal será a comovedora lamentação do remanescente quando o Espírito de Deus tiver tocado os seus corações e consciências:"... e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito. Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimmon no vale de Megido. E a terra pranteará, cada linhagem à parte" (Zc 12:10-14). Que profundo pranto, que intensa aflição, que verdadeira penitência haverá quando, sob a poderosa ação do Espírito Santo, a consciência do remanescente relembrar os pecados do passado, a indiferença pelo sábado, a transgressão da lei, o apedrejamento dos profetas, a crucifixão do Filho e a resistência ao Espírito! Todas estas coisas se apresentarão ante a consciência iluminada e exercitada e produzirão uma profunda aflição da alma. Mas o sangue de expiação responderá por tudo." Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém contra o pecado e contra a impureza" (Zc 13:1). Ser-lhes-á concedido sentir a sua culpa e serem afligidos e serão também levados a ver a eficácia do sangue e a achar paz perfeita — um sábado de descanso para as suas almas. Ora, quando tais resultados tiverem sido verificados na história de Israel, dos últimos dias, o que devemos nós esperara Certamente, A GLÓRIA. Quando tiver sido removida "a cegueira" e "o véu" for tirado, quando o coração do remanescente se voltar para o Senhor, então os brilhantes raios do "Sol da Justiça" incidirão, trazendo saúde, restauração e poder libertador, sobre um pobre povo, verdadeiramente arrependido e aflito.

Seria necessário todo um volume para tratar este assunto com todos os pormenores. As experiências, lutas, provações e dificuldades e por fim as bênçãos do remanescente estão amplamente descritas nos Salmos e nos Profetas. A existência de um tal corpo deve ser claramente reconhecida antes de se poder estudar os Salmos e os Profetas inteligentemente e com proveito. Não quer dizer que não possamos aprender muito com essas porções de inspiração, porque "toda a Escritura é proveitosa". Mas a maneira mais segura de fazer um bom uso de qualquer porção da Palavra de Deus é compreender bem a sua aplicação primária. Se, portanto, aplicarmos à Igreja ou corpo celestial as passagens que se referem, rigorosamente falando, ao remanescente judeu ou corpo terrestre, seremos envolvidos em graves erros tanto a respeito de um como do outro. De fato, acontece em muitos casos, que a existência de um tal corpo como o remanescente é completamente ignorada, e a verdadeira posição e esperança da Igreja são inteiramente perdidas de vista. Estes erros são graves e o leitor deve evitá-los. Não suponha, nem por um momento, que são meras especulações próprias para ocupar a atenção dos curiosos, sem qualquer poder prático. Não pode haver suposição mais falsa. O quê? Não tem importância sabermos se pertencemos ao céu ou à terra ? Não importa saber se estaremos em descanso nas mansões celestiais ou passando pelos juízos do Apocalipse na terra? Quem pode admitir uma idéia tão extravagante? A verdade é que não é fácil encontrar verdades mais práticas do que a que descreve os destinos do remanescente terrestre e da Igreja celestial. Não prosseguirei com o assunto; mas o leitor o encontrará merecedor de estudo atento e profundo. Terminaremos esta parte com uma vista de olhos à festa dos tabernáculos — a última das solenidades do ano judeu. 

A Festa dos Tabernáculos 

"E falou o SENHOR a Moisés, dizendo-. Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a festa dos tabernáculos ao SENHOR, por sete dias... Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra, celebrareis a festa do SENHOR, por sete dias; ao dia primeiro haverá descanso, e ao dia oitavo haverá descanso. E, ao dia primeiro, tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o SENHOR vosso Deus, por sete dias. E celebrareis esta festa ao SENHOR, por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas gerações; no mês sétimo, a celebrareis. Sete dias habitareis debaixo de tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito.Eu sou o SENHOR vosso Deus" (versículos 33-43). Esta festa nos mostra a glória de Israel nos últimos dias, e portanto forma o mais belo e apropriado remate na série de festas. A ceifa estava feita, tudo estava feito, os celeiros estavam amplamente fornecidos, e o Senhor queria que o Seu povo desse expressão à sua alegria. Mas, infelizmente, parecem ter tido pouca vontade de compreender os pensamentos divinos a respeito desta deliciosa ordenação. Esqueceram o fato que haviam sido estrangeiros e peregrinos em terra estranha, e daí o longo olvido desta festa. Desde os dias de Josué ao tempo de Neemias, a festa dos tabernáculos não havia sido celebrada uma só vez. Estava reservado ao remanescente que veio do cativeiro de Babilônia fazer o que nem sequer nos dias brilhantes de Salomão havia sido feito. "E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas e habitaram nas cabanas; porque nunca fizeram os filhos de Israel, desde os dias de Josué, filho de Num, até àquele dia; e houve muita alegria" (Ne 8:17). Quão consoladora deveria ter sido para aqueles que tinham pendurado as suas harpas nos salgueiros da Babilônia encontrarem-se à sombra dos salgueiros de Canaã! Era uma agradável antecipação daquele tempo de que a festa dos tabernáculos era um tipo, quando as tribos restauradas de Israel repousarão nas cabanas mileniais que a mão fiel do Senhor levantará para eles na terra que jurou havia de dar a Abraão e aos seus descendentes para sempre! Feliz momento quando os celestiais e os terrestres se encontrarem, como dá a entender "o primeiro dia" e "o oitavo dia" da festa dos tabernáculos! "E acontecerá naquele dia que eu responderei, diz o SENHOR, eu responderei aos céus, e estes responderão à terra. E a terra responderá ao trigo e ao mosto e ao óleo; e estes responderão a Jezreel" (Os2:21-22). Existe no último capítulo de Zacarias uma formosa passagem que prova claramente que a verdadeira celebração da festa dos tabernáculos pertence à glória dos últimos dias. "E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorarem o Rei, o SENHOR dos Exércitos, e celebrarem a festa das cabanas" (Zc 14:16). Que cena! Quem ousará tirar-lhe a sua beleza característica por um vago sistema de interpretação chamado espiritual? Seguramente, Jerusalém quer dizer Jerusalém, nações quer dizer nações; e a festa dos tabernáculos significa festa dos tabernáculos. Há nisto alguma coisa incrível l Nada, seguramente, salvo para a razão humana que rejeita tudo que está fora do seu limitado alcance. A festa dos tabernáculos será ainda celebrada na terra de Canaã e as nações dos salvos subirão ali para tomar parte nas suas santas e gloriosas solenidades. As guerras de Jerusalém terão então terminado, e será posto fim ao estrondo das batalhas. A espada e a lança serão transformadas em instrumentos de agricultura; Israel repousará à sombra refrescante dos seus vinhedos e figueirais; e toda a terra regozijar-se-á no governo do "Príncipe da Paz". Tal é a perspectiva que nos oferecem as inerrantes páginas de inspiração. É prefigurada nos símbolos; os profetas profetizaram-na; a fé crê nela; e a esperança antecipa-a.

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