Alguém poderá perguntar: "Se nos reunirmos do modo como foi sugerido no capítulo anterior, quem iria liderar essas reuniões?".
Gostaríamos de responder dizendo que se nós realmente crermos que o Senhor Jesus está no meio, conforme prometeu, iremos desejar que Ele lidere e dirija por intermédio do Espírito. Quando Cristo subiu ao céu, enviou o Espírito Santo ao mundo para habitar na igreja justamente para isso (Jo 7:39; At 2:1-33). As principais funções do Espírito no cristianismo são: exaltar a Cristo, unir os membros do corpo de Cristo neste mundo à Cabeça no céu por meio de Sua presença na igreja, e guiar a igreja em todas as coisas, seja em adoração (Fp 3:3), oração (Ef 6:18; Jd 20; At 4:31), ministério (Jo 14:26; 16:13-15; 1 Co 12:11), ou evangelismo (At 8:29; 13:1-4; 16:6-7). A partir do momento em que o Espírito de Deus foi enviado ao mundo no dia de Pentecostes, será em vão procurarmos no Novo Testamento por algum dirigente humano além da soberana direção do Espírito Santo! É Ele quem deve liderar as reuniões da igreja.
Todos os grupos de cristãos dirão que contam com a presença do Espírito, mas para provar se cremos ou não na presença e no poder do Espírito basta ver se estamos permitindo que Ele dirija as coisas nas reuniões da igreja. O que as Escrituras exigem de nós é que tenhamos fé no poder do Espírito, deixando que Ele faça o Seu papel empregando quem Ele quiser para falar nas reuniões. A fé é essencial para todo aquele que deseja se reunir em conformidade com a ordem de Deus nas Escrituras, e isto não deveria causar surpresa em nós que somos cristãos, já que cada passo de nosso andar deveria ser dado em fé. "A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2:20). E também, "o justo viverá da fé" (Gl 3:11).
Foi pelo poder do Espírito que Deus fez o mundo e tudo o que nele existe (Jó 26:13; 33:4; Gn 1:2), portanto podemos ter certeza de que Ele é capaz de liderar alguns cristãos congregados para adoração e ministério. Se tivermos Alguém tão grande e competente como é esta Pessoa divina presente no meio dos santos congregados, não precisaremos designar um homem para fazer o Seu serviço, não importa quão capacitada essa pessoa possa ser. C. H. Mackintosh escreveu: "Se Cristo está em nosso meio (Mt 18:20), por que ousaríamos pensar em colocar alguém para presidir? Por que não conceder a Ele o Seu lugar de direito e deixar que o Espírito de Deus nos lidere e nos dirija na adoração e no ministério? Não há qualquer necessidade de termos uma autoridade humana".
Todavia as denominações colocaram um homem (um "Pastor" ou "Ministro") para conduzir a adoração. Na Bíblia, porém, não encontramos que Deus jamais tenha colocado um pastor ou ministro para conduzir a adoração da igreja. Citando W. T. P. Wolston a esse respeito, "existe na cristandade a ideia de que pastor é alguém colocado para dirigir uma congregação. A ideia está na cabeça das pessoas, mas não nas Escrituras!" Se esta não é a ordem de Deus, então fica claro que deve ser uma invenção humana. Ter um homem colocado na assembleia para "ministrar" a ceia do Senhor certamente é um erro monstruoso, pois não existe qualquer sinal na Palavra de Deus de que um homem, nem mesmo um apóstolo, tenha sido designado para fazer isso. As Escrituras simplesmente dizem que os discípulos ajuntavam-se "para partir o pão" (At 20:7).
Ainda assim essa organização humana está tão disseminada na cristandade que pode ser encontrada desde a catedral de São Pedro em Roma até a menor capela evangélica. Ao invés dos crentes se congregarem para a adoração e o ministério somente em nome do Senhor, aguardando pela direção do Espírito para guiá-los, dificilmente é encontrada sequer uma reunião de oração em que não exista alguém (um líder da oração) designado para conduzi-la. O que é isso, senão o homem usurpando o lugar do Espírito Santo?
Trata-se da triste consequência de se duvidar da presença pessoal do Senhor no meio dos santos. Designar um homem, por mais capacitado que seja, para liderar e conduzir as reuniões da assembleia é negar na prática a presença e o poder do Espírito Santo. Na verdade isto é até mesmo ignorar ou duvidar da competência do Espírito Santo para dirigir as reuniões. Quão triste é vermos que esse tipo de interferência humana colocou de lado a simplicidade da ordem divina. Que o Senhor possa livrar o Seu povo desse sistema de coisas que é tão contrário aos Seus pensamentos.
 
O sacerdócio de todos os crentes
O significado da palavra "sacerdote" é "aquele que faz a oferta" (Hb 5:1; 8:3; 1 Pd 2:5).
Um sacerdote é alguém que tem o privilégio de entrar na presença de Deus em lugar do povo. No cristianismo o sacerdote exerce seu sacerdócio ao oferecer os sacrifícios de louvor a Deus, e ao apresentar as petições a Deus em oração (Hb 13:15; 1 Jo 5:14-15).
Todavia, uma das causas da fraqueza e confusão que prevalece na igreja professa é que, em muitos casos, o sacerdócio é considerado como um direito limitado a uma classe privilegiada de pessoas, algumas delas que nem sequer são salvas!
A verdade é que todos os cristãos são sacerdotes. É isto que as Escrituras ensinam. O livro de Apocalipse declara que os cristãos são feitos "sacerdotes para Deus" por meio da fé na obra consumada de Cristo na cruz (Ap 1:6; 5:10). A epístola de Pedro confirma isto, dizendo que "vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo" (1 Pd 2:5, 9). Além disso, a epístola aos Hebreus exorta todos os cristãos a se aproximarem de Deus além do véu, entrando no santuário ou "santo dos santos" (Hb 10:19-22; 13:15-16). O fato de dizer que o Senhor é o "Grande Sacerdote" ou "Sumo Sacerdote" implica que existe um grupo de sacerdotes que está abaixo dEle. Ele não presidiria como "grande" ou "sumo" sacerdote se não existissem sacerdotes sob Ele.
Pela mesma razão, uma pessoa não seria chamada de líder de algum grupo de pessoas se não existissem pessoas para ele liderar. A exortação em Hebreus 10:19-22 visa encorajar os cristãos a se aproximarem de Deus e desempenharem seus privilégios sacerdotais.
Em cada uma das passagens do Novo Testamento onde o assunto do sacerdócio é tratado, não há qualquer menção – nem uma sequer – de que apenas alguns dentre os santos sejam sacerdotes. Tampouco existe em qualquer outro lugar do Novo Testamento algo semelhante. Quando o Novo Testamento fala de sacerdócio, ele se refere, sem exceção, a todos os crentes como constituídos com este privilégio. Além do mais, essas passagens não apenas nos falam que todos os cristãos são sacerdotes, como também aprendemos delas que somos sacerdotes com privilégios que vão além daqueles que tinham os sacerdotes da época do Antigo Testamento. Um sacerdote no cristianismo pode aproximar-se da própria presença de Deus, no santo dos santos. Esse é um lugar aonde nenhum filho de Aarão podia entrar. Até mesmo quando Aarão, o sumo sacerdote em Israel, entrava uma vez por ano além do véu, ele não o fazia com ousadia, como podemos fazer agora. No dia da Expiação ele entrava ali com medo de morrer, mas nós podemos entrar "em inteira certeza de fé". Além disso, os sacerdotes da linhagem de Aarão prestavam um culto do qual pouco compreendiam. Eles não sabiam por que deviam fazer as coisas que lhes eram ordenadas. Mas nós temos um "culto racional" (Rm 12:1). Podemos desempenhar nossas funções sacerdotais com entendimento de tudo aquilo que fazemos na presença de Deus.
Portanto, considerando que as Escrituras ensinam que todos os cristãos são sacerdotes, e que todos nós temos igual privilégio de desempenhar nosso sacerdócio na presença de Deus, fica claro que não existe a necessidade de um clérigo para fazer isso pelos demais.
Nas reuniões de adoração e oração (quando os cristãos exercitam seu sacerdócio), tudo o que precisamos é esperar no Espírito de Deus para que Ele dirija as orações e os louvores dos santos. Se permitirmos que Ele lidere na assembleia, no lugar que Lhe é de direito, Ele irá guiar um irmão aqui e outro ali a expressar de forma audível uma adoração e louvor, como quem fala por toda a assembleia. (Evidentemente entendemos que não somente desempenhamos nosso sacerdócio nas ocasiões em que estamos congregados em uma assembleia. A qualquer momento um cristão pode entrar na própria presença de Deus em oração e adoração e desempenhar seu papel de sacerdote. Mas no contexto deste livro estamos falando de cristãos reunidos em uma assembleia para adoração e ministério).
Quando compreendemos a proximidade do relacionamento que todos os cristãos têm como parte do corpo e noiva de Cristo, podemos ver como a ideia de uma casta ministerial mais próxima de Deus do que os demais é totalmente incompatível com isso
(Ef 2:13; 5:25-32). Se nós, como cristãos, adotarmos uma classe de pessoas assim, estaremos negando que somos capacitados, como sacerdotes, a oferecer sacrifícios espirituais a Deus. Na prática isso destrói os privilégios do cristianismo e, em certo sentido, restaura o judaísmo, ou ao menos nos leva de volta para aquele nível.
Enquanto algumas poucas denominações chegam ao ponto de possuírem um clérigo com o título de "Sacerdote" (dando a entender que os demais naquela denominação não o são), a maioria das igrejas chamadas evangélicas denomina seu clérigo de "Pastor" ou "Ministro". Isso faz pouca diferença, pois uma posição assim na igreja não está de acordo com a verdade das Escrituras. Trata-se de uma função puramente inventada pelo homem.
 
A diferença entre sacerdócio e dom
É importante entender a diferença entre sacerdócio e dom. São duas esferas de atuação distintas na casa de Deus. Um sacerdote vai a Deus em nome do povo; uma pessoa que exercita seu dom no ministério vai ao povo em nome de Deus.
 
Dons
Os dons são aqueles que o Senhor, depois de ressuscitado como Cabeça da igreja, concede aos diversos membros do Seu corpo para capacitá-los a ocupar o lugar que Deus determinou para eles no corpo. A Bíblia ensina que todo membro do corpo de Cristo recebeu um dom (1 Co 12:7; Ef 4:7; 1 Pd 4:10; Rm12:6-8). Todavia, nem todos os membros do corpo de Cristo têm um dom de ministério da Palavra. Alguns podem ter um dom que seja facilmente reconhecido, como é o caso de um evangelista, pastor ou mestre (Ef 4:4-16; Rm 12:4-8; 1 Co 12:4-31). Em outros, porém, o dom pode ser algo não tão fácil de identificar, como é o caso daquele que "exercita misericórdia" (Rm 12:8). Seja o dom de evangelismo ou de "socorros" (1 Co 12:28), o que é certo é que todos nós temos algo para fazer no corpo de Cristo. O propósito dos dons é "o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef 4:12-15). Isto nos mostra que os dons são para o benefício espiritual da igreja.
 
A diferença entre habilidade e dom
Em Mateus 25:14-30 o Senhor faz distinção entre "habilidade" e "dom". Ele contou a história de um homem que viajou a um país distante e, antes de partir, deu talentos – uma quantia em dinheiro – aos seus servos, com os quais eles deveriam negociar até que ele retornasse. Alguns receberam mais, outros menos. Essa é uma clara alusão ao Senhor dando dons aos Seus, os quais devem exercitá-los para Ele durante a Sua ausência. Um dia Ele voltará e pedirá contas do que fizemos com aquilo que Ele nos deu na forma de dons. Naquele dia serão dadas recompensas aos que cumpriram fielmente seu ministério (Mt 25:19-23).
Digno de nota é o fato de que o homem lhes "confiou" talentos (dons) "segundo a capacidade de cada um". (Mt 25:15). Aqui o Senhor faz uma distinção entre as duas coisas. Repare que aqueles servos já possuíam suas diferentes capacidades ou habilidades antes que o homem os chamasse para lhes dar os talentos.
Habilidade é algo que uma pessoa recebe quando nasce neste mundo. Em Sua providência, Deus faz cada vaso único e o capacita para os Seus objetivos bem antes de essa pessoa ser salva. Na escola de Deus Ele cria e forma as capacidades e habilidades intelectuais de uma pessoa ainda enquanto ela está vivendo sua vida na incredulidade. O dom, por outro lado, é algo que vem do Senhor e é dado à pessoa pelo Espírito quando ela é salva. Enquanto a habilidade é natural, o dom é espiritual. O dom é dado a alguém para que possa cumprir seu ministério no corpo de Cristo. A sabedoria do Senhor pode ser vista aqui no fato de Ele distribuir os dons de acordo com nossas habilidades naturais.
Por exemplo, Ele não dá o dom de evangelista a alguém que seja calado e reservado; alguém que não tenha habilidade de comunicação. A alguém que naturalmente goste de estar e conversar com outras pessoas provavelmente será dado um dom assim. Do mesmo modo o dom de ensino exige certa medida de habilidade natural na área da capacidade intelectual.
Mencionamos isto porque em nossos dias existe uma grande confusão a este respeito entre os cristãos professos. Costumamos ouvir cristãos falando de músicos ou atletas famosos que se converteram e que suas habilidades naturais são os seus dons. Todavia, o dom nas Escrituras é uma manifestação espiritual no corpo de Cristo. O dom tem a ver com as coisas espirituais (1 Co 12:1; 14:1). Tampouco vemos nas Escrituras que Deus desejasse que a igreja tivesse reuniões onde pessoas assim pudessem apresentar suas habilidades naturais. É comum essas pessoas famosas serem usadas nas chamadas "reuniões de testemunho" para algo que não passa de entretenimento. Estariam os crentes sendo fundamentados na verdade por meio de reuniões assim? Os dons não são para o nosso entretenimento, mas para a edificação dos santos na "santíssima fé" (Jd 20).
J. N. Darby disse tratar-se "de um princípio totalmente falso que as habilidades naturais sejam em si mesmas um motivo para serem usadas. Posso ter muita força física ao ponto de nocautear um homem, ou ser suficientemente veloz na corrida para ganhar uma taça. 
A habilidade para a música pode ser algo mais refinado, mas o princípio é o mesmo.
Considero este ponto de grande importância. Os cristãos perderam sua influência moral ao inadvertidamente introduzirem em seus cultos aquilo que é natural e mundano. Todas as coisas me são lícitas, mas, como já disse, não se pode misturar a carne com o Espírito".
 
O que é ministério?
A maioria das pessoas pensa que "ministério" é aquilo que envolve Pastores e Ministros, quando eles desempenham seu trabalho liderando um grupo chamado igreja. A Bíblia, porém, ensina que ministério é simplesmente o exercício do dom de uma pessoa (1 Pd 4:10-11; 1 Tm 4:6; Ef 4:11-12). Considerando que todos os cristãos possuem um dom, todos os cristãos deveriam estar no "ministério"! Como já dissemos, nem todos podem ter um dom de ministério público da Palavra de Deus, mas todos têm um ministério a cumprir.
Boa parte do ministério está no serviço feito para o povo do Senhor, quando nenhuma oratória pública está envolvida.
O problema na igreja hoje é que existem muitos que são como Arquipo, que não estão cumprindo seu ministério. O Apóstolo precisou exortá-lo assim: "Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras" (Cl 4:17). Esta é uma exortação muito necessária hoje. Uma das razões de muitos não cumprirem seu ministério é que existe um vasto sistema clerical criado pelos homens na igreja que impede que as pessoas exerçam seus ministérios. Numa situação normal em uma típica igreja denominacional, se o Espírito de Deus quisesse dar uma palavra a alguém ali que tivesse um dom de ministério público, ele seria reprimido e não poderia exercitar seu dom. Se tentasse fazê-lo, acabaria causando uma interrupção no culto previamente organizado.
A ideia comumente aceita na cristandade hoje é que quando alguém sente que foi "chamado para o ministério", deve passar por um sistema de ensino por meio do qual irá adquirir o status de "Ministro" ou "Pastor". E mesmo então, ele ainda não poderá exercitar seu dom até que uma congregação o escolha (geralmente por intermédio de uma junta de diáconos) para que seja Ministro deles. Muitos têm boas intenções, porém ignoram a ordem de Deus e acreditam que se decidirem ministrar a Palavra precisarão antes se submeter a este processo e serem treinados em um seminário. Uma vez que a tradição decidiu assim, muitos sentem que Deus está verdadeiramente enviando eles para um seminário com este objetivo. Para eles isso parece lógico, já que se trata da forma convencional e reconhecida de se preparar "Ministros". Sem querermos colocar em dúvida a sinceridade dessas pessoas, devemos deixar claro que toda essa ordem de coisas não é encontrada nas Escrituras.
A Bíblia ensina que se uma pessoa possui um determinado dom, a própria posse do dom já é a garantia de Deus para que ela o utilize. A Bíblia diz: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu" (1 Pd 4:10). Ali não diz "cada um que tenha recebido o dom seja treinado e ordenado por um seminário para poder administrar aos outros".
As Escrituras dizem: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá" (1 Pd 4:11). Repare mais uma vez que não diz "primeiro vá à escola, e depois fale".
Mais uma vez: "De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar" (Rm 12:6-8). Novamente não existe uma palavra sequer sobre a pessoa ser treinada por homens antes de poder fazer uso de seu dom.
Além disso, as Escrituras dizem: "Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (Co 14:26). Aqui também não encontramos qualquer indício de que a pessoa deva ser treinada antes de poder exercitar seu dom na assembleia. A passagem simplesmente diz que se tivermos doutrina (ensino) etc., faça-se tudo para a edificação da igreja.
Evidentemente é verdade que o dom de alguém precisa ser desenvolvido. Isso exige tempo e prática (At 9:20-22; Gl 1:17; At 9:30; 22:25-26; 13:1-14). Quanto mais uma pessoa amadurecer nas coisas divinas, mais útil ela será em seu ministério (At 18:24-28; Mc 4:20). A maneira bíblica de alguém ser ensinado nas coisas divinas é por meio das reuniões que já mencionamos. O Senhor usa essas reuniões da assembleia, guiadas soberanamente pelo Espírito Santo, para nos ensinar a verdade. Ele também usa livros de ministério (ou gravações) de pessoas que reconhecidamente possuem dons e são capazes de nos ensinar a verdade. Mas será perda de tempo procurar nas Escrituras qualquer ideia de que alguém precise ir a um seminário para estar apto a ocupar uma posição de "Ministro" ou "Pastor" de uma igreja. Como já foi dito, tudo isso não passa de invenção humana com o objetivo de preparar a pessoa para uma posição no sistema criado pelos homens. O cristianismo bíblico simplesmente não necessita dessas escolas.
Muito do que é ensinado nesses seminários tem por objetivo treinar os futuros "Pastores" a dirigirem uma igreja dentro de um sistema clerical que não é encontrado em lugar algum da Bíblia.
 
O ministério na igreja
Quando lemos a primeira epístola aos Coríntios (do capítulo 11:17 ao 14:40), vemos como os dons devem funcionar quando a igreja está reunida nas diferentes localidades.
Esta seção das Escrituras começa com o Apóstolo dizendo: "de sorte que, quando vos ajuntais num lugar...".
Antes de falar do ministério, o Apóstolo Paulo começa falando do privilégio da ceia do Senhor, que talvez seja a reunião mais importante da igreja. A ceia do Senhor não é uma reunião para o exercício dos dons, mas para a recordação do Senhor em Sua morte. É um momento quando podemos exercitar nosso sacerdócio ao oferecermos adoração e louvor ao Pai e ao Filho. Depois de colocar em ordem várias coisas relacionadas à ceia do Senhor, nos capítulos que vão do 12 ao 14 o Apóstolo mostra a ordem para o ministério na assembleia.
O capítulo 12 fala dos grandes princípios do ministério cristão. 
O capítulo 13 fala do espírito no qual o ministério deve ser exercitado – em amor.
O capítulo 14 fala das regras para o uso dos dons na assembleia, de modo que o ministério seja para a edificação de todos.
 
Cristo deve ser exaltado em todo ministério
Se olharmos mais atentamente ao capítulo 12, veremos que o primeiro grande princípio de todo ministério é a exaltação de Jesus como Senhor. A evidência da liderança do Espírito no ministério está no fato de que Cristo será sempre exaltado e nunca se falará dEle de modo depreciativo. O capítulo começa dizendo: "Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo" (1 Co 12:1-3).
"Ele [o Espírito] me glorificará" (Jo 16:14).
 
A assembleia local necessita de todos os dons em seu meio
O segundo grande princípio neste capítulo sobre o ministério cristão é que, se Cristo distribuiu os dons pelo Espírito aos diversos membros do Seu corpo, e considerando que esses dons não são todos possuídos por um único homem, precisamos da participação nas reuniões de todos os que têm um dom para isso. O Apóstolo diz que "a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito..." (1 Co 12:4-10, 29-30). Fica perfeitamente claro nesta passagem que uma vez que os dons não estão todos de posse de um só homem, a assembleia irá precisar de mais de um homem ministrando, isto se quiserem obter o benefício dos dons que porventura existam em seu meio. Todavia – repito – o sistema clerical existente no cristianismo denominacional impede isto.
Alguns poderão dizer: "Nossa igreja não tem apenas um homem como ministro. Temos dois ou três pastores". Todavia, ainda assim continuam sem entender esta passagem. A intenção de Deus é que a igreja possa crescer "pelo auxílio de todas as juntas", não de apenas duas ou três (Ef 4:16). É verdade que provavelmente nem todos tenham um dom para ministrar publicamente a Palavra, mas, como já mencionamos, as Escrituras indicam que todos os que estiverem capacitados devem ter a liberdade de ministrar na assembleia. A Palavra de Deus diz que "todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados" (1 Co 14:24, 31).
Também é verdade que um homem pode ter mais de um dom, mas as Escrituras são claras no sentido de que uma só pessoa não possui todos os dons. O Apóstolo até mesmo chega a fazer uma advertência quanto ao perigo de não considerarmos a diversidade de dons que Deus colocou no corpo. Ele diz: "O olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós" (1 Co 12:21). Isto demonstra que todos os membros no corpo têm algo para contribuir, ainda que aos nossos olhos pareçam insignificantes. Todavia, a ordem clerical estabelecida nas igrejas é um sistema no qual duas ou três pessoas cuidam do ministério. 
Trata-se de um sistema que impede (talvez não intencionalmente) que outros dons sejam exercitados na igreja, o que é outra forma de se dizer "não tenho necessidade de ti". 
Aqueles que ocupam uma posição ministerial nas igrejas discordam veementemente disto, pois afirmam que em suas igrejas encorajam as pessoas a se reunirem para exercitar seus dons – mas isso se limita a reuniões domésticas de estudo da Bíblia. O contexto destes capítulos, porém, trata do exercício dos dons nas reuniões da assembleia (1 Co 11:17, 18, 20, 33, 34; 14:23, 26). A questão é: "Acaso eles permitem que haja liberdade dos dons na igreja?". A resposta é não, eles não permitem.
 
O Espírito de Deus deveria usar para falar quem ele quisesse 
No décimo segundo capítulo da primeira epístola aos Coríntios, o terceiro grande princípio do ministério cristão é que, ao nos reunirmos em assembleia, o Espírito de Deus deve ter o direito de empregar quem Ele desejar para falar. Como demonstramos no assunto do sacerdócio, o Espírito deve ter liberdade na assembleia para guiar aquele que Ele escolher para falar, exercitando assim seu dom no ministério. O capítulo estabelece claramente que os dons devem ser exercitados na assembleia pelo mesmo Espírito que concede o dom a cada indivíduo quando este é salvo. "Um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente [os dons] a cada um como quer" (1Co 12:7, 11). Não existe no Novo Testamento qualquer outra ordem para o ministério senão esta da direção soberana do Espírito Santo. As Escrituras partem do princípio de que temos fé para confiar na liderança do Espírito. Se nós deixarmos que o Espírito Santo lidere na assembleia, Ele tomará quaisquer que sejam os dons que estiverem ali e irá usá-los para a edificação dos santos no ministério. Portanto, o princípio é simples. O Espírito Santo está na igreja, usando os dons conforme Ele escolher para a edificação de
todos. É esta a ordem de Deus para o ministério cristão. Sendo assim, como se pode esperar que o Espírito Santo reparta a cada homem exatamente conforme Ele escolher, se a igreja tiver estabelecido uma ordem de coisas na qual um homem ocupe o lugar de liderança na assembleia? Na prática isso é o mesmo que negar a liderança do Espírito Santo! O Espírito pode querer levantar este ou aquele para o ministério, mas acaba sendo bloqueado e impedido por causa de uma ordem humana. Em muitas igrejas os cultos são programados de antemão – às vezes com dias de antecedência! No entanto, não encontramos tal ideia nas Escrituras. Tudo isso pode ter sido criado com boas intenções, mas não é a ordem que Deus instituiu.
 
Os dons devem ser regidos pelo amor e discernimento
Depois de ter falado do motivo para o ministério, que é o "amor", no décimo terceiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios, no capítulo quatorze o Apóstolo apresenta os princípios simples que devem reger o ministério na assembleia. A primeira parte do capítulo enfatiza o cuidado que o amor deveria ter de garantir que não se perdesse tempo falando coisas que os demais não pudessem entender. Era exatamente o que estava ocorrendo em Corinto. Entre eles havia pessoas que falavam em línguas, mas sem um intérprete. Consequentemente, os outros na assembleia não sabiam o que estava sendo falado. Paulo mostra que se alguém falar sem o devido amor e cuidado para a edificação de todos, estará na verdade falando como uma trombeta que dá um som incerto. As pessoas não saberão como reagir ao que está sendo dito, pois não entenderão de que se trata.
Os coríntios estavam usando mal o dom de línguas, mas independente de qual seja o dom, o princípio é o mesmo e deve nos guiar hoje também. Alguém que participe de uma reunião de uma forma que as pessoas não possam entender estará claramente falando coisas que não são para "edificação, exortação e consolação" de todos os presentes. 
Se for este o caso, é melhor que permaneça calado. O amor e cuidado pelo bem estar dos outros é o que deve governar essas coisas (1 Co 14:1-11). O princípio fundamental que deve reger a reunião de ministério é que devemos falar aquilo que for para a edificação de todos. Paulo disse que é melhor falar pouco na assembleia ("cinco palavras") e todos entenderem e serem edificados, do que falar muito ("dez mil palavras") e ninguém entender (1 Co 14:12-19).
Ele mostra também que se a igreja se reunisse de acordo com a ordem de Deus para o ministério, onde fosse dado ao Espírito de Deus o Seu lugar de direito para dirigir o mesmo ministério, isso seria um testemunho poderoso para aqueles que visitassem essas reuniões (1 Co 14:23-25).
Paulo segue demonstrando que quando os santos se reunir, "cada um" que tiver algo para contribuir deve ter a liberdade de ministrar na assembleia para o proveito dos outros. 
O problema com os coríntios era que suas reuniões tinham se transformado em um espaço livre para todos. Todos queriam falar e não esperavam pela direção do Espírito (1 Co 14:26). Para corrigir isso Paulo disse a eles que, embora todos pudessem ter algo para trazer, não significava que todos deveriam falar.
Eles precisavam esperar pela direção do Espírito. Em diferentes oportunidades diferentes pessoas poderiam falar à medida que o Espírito as dirigisse (1 Co 14:27-28; 30-31). A palavra "profecia" neste capítulo não tem o sentido de prever as coisas futuras, mas simplesmente de proferir os pensamentos de Deus para aquela ocasião. 
Pode ocorrer – e às vezes ocorre – de alguém movido pela carne se apressar a falar coisas que não são de proveito algum para a edificação dos santos. A questão é que a assembleia não é um palco para a carne se manifestar. O Apóstolo escreveu que "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (1 Co 14:32). Isto significa que a pessoa deve saber como exercer seu domínio próprio e evitar falar em situações assim. O problema é que quem age assim costuma pensar que aquilo que diz é proveitoso e edificante, e daí insiste em falar. Quando isso acontece, Paulo mostra que a assembleia pode agir. Ele escreveu: "Falem dois ou três profetas, e os outros julguem" (1 Co 14:29). Uma assembleia fundamentada nas Escrituras tem a responsabilidade de julgar o ministério em seu meio. E se este não for proveitoso, a assembleia tem autoridade para exercer uma disciplina piedosa, pedindo a essa pessoa que permaneça em silêncio durante as reuniões (1 Co 14:27-33).
Estas instruções são especialmente importantes para os cristãos congregados de acordo com as Escrituras, pois quando existe liberdade nas reuniões da assembleia, pode também existir o abuso dessa liberdade. Dificilmente instruções assim teriam como ser aplicadas em um sistema denominacional convencional, já que em seus "cultos" não existe lugar para essa liberdade no ministério. Lembremo-nos de que esse tipo de provisão bíblica não é para a nossa liberdade (como alguns erroneamente interpretam), mas para a liberdade do Espírito em guiar quem Ele quiser. Não devemos falar, a menos que sejamos guiados pelo Espírito para fazê-lo.
Finalmente, nos versículos 34-40 o Apóstolo mostra o lugar que as irmãs devem ocupar durante as reuniões públicas. Falaremos mais sobre este assunto em um capítulo mais à frente. O Apóstolo conclui o capítulo apresentando um princípio final relacionado ao governo exercido na assembleia: "Faça-se tudo decentemente e com ordem" (1 Co 14:40).
 
A assembleia deve guardar a sã doutrina
Finalmente, no décimo quinto capítulo da primeira epístola aos coríntios, Paulo enfatiza que a sã doutrina deve ser mantida na assembleia. Os coríntios estavam se desviando da doutrina da ressurreição e Paulo os corrigiu em seus equívocos. Este é um princípio importante para nós. Devemos também guardar a sã doutrina na assembleia. Portanto, temos aqui a ordem de Deus para o ministério na igreja. Repare, porém, que não encontramos qualquer menção de que existissem um ou dois homens (os "Pastores", como se costuma chamá-los) designados para ministrar para os demais. Se Deus quisesse que o ministério na igreja fosse assim Ele teria mencionado isto nestes capítulos que tratam do assunto. Mas não há uma palavra sequer a respeito de um "Pastor" à frente. Além disso, se o ministério na igreja fosse reservado a algumas poucas pessoas (isto é, a clérigos), então estes capítulos sobre o ministério teriam sido escritos especificamente para eles. Seria algo parecido com o sistema mosaico, quando o Senhor deu instruções específicas aos sacerdotes da linhagem de Aarão, um grupo especial de pessoas separadas do resto do povo para desempenharem os serviços no tabernáculo.
Mas não existe coisa alguma a este respeito nestes capítulos. As instruções são para toda a igreja.
 
"Quer dizer que vocês não acreditam que devemos ter um pastor?"
Com base naquilo que acabamos de dizer, alguns inferem que não acreditamos na existência de pastores na igreja, mas a verdade é que acreditamos sim, pois a Bíblia fala de pastores (Ef 4:11). Um pastor é alguém que recebeu o dom de pastorear o rebanho de Deus. Trata-se de um dos muitos dons que Cristo deu à igreja.
Nossa objeção é quanto ao que as igrejas denominacionais chamam de "Pastor". Transformaram o dom em algo que não é encontrado nas Escrituras. Extraíram o termo das Escrituras e o aplicaram à posição de um clérigo, algo que não é encontrado na Bíblia. O que mais causa confusão é que, em sistemas assim, uma pessoa pode ocupar tal posição e nem mesmo ter o dom de "Pastor"! Talvez ele tenha o dom de evangelista ou mestre etc., e mesmo assim acabará levando o título de "Pastor"! Que triste confusão foi introduzida na casa de Deus.
 
Títulos lisonjeiros
As organizações eclesiásticas da cristandade não apenas criaram uma posição que não existe na Palavra de Deus, mas também adicionaram a ela vários títulos que tampouco encontramos nas Escrituras. Títulos como "Ministro", "Pastor" ou "Doutor em Divindade" são encontrados na maioria das denominações.
É certo que palavras como "ministro" e "pastor" são mencionadas na Bíblia, mas nunca são usadas como títulos. Como já dissemos, pastor é um dom, não um título clerical. O ensino da Palavra de Deus é este: "Que não faça eu acepção de pessoas, nem use de palavras lisonjeiras com o homem! Porque não sei usar de lisonjas; em breve me levaria o meu Criador". (Jó 32:21-22).
O Senhor Jesus disse: "Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado" (Mt 23:8-12). Todavia, mesmo que as Escrituras digam isso com total clareza, algumas denominações chamam seus clérigos de "Padre", que vem do latim e significa "Pai".
Como já foi mencionado, algumas organizações eclesiásticas usam o título "Doutor". A palavra "doutor" vem do latim "docere", que significa ensinar. Portanto, um doutor é um mestre. Mas isto é uma das coisas que o Senhor disse que não deveríamos usar para nos identificarmos uns aos outros! Quando um homem é apresentado a uma audiência como "Doutor Fulano", a implicação que isso tem é que suas palavras têm autoridade por causa do grau de conhecimento que ele alcançou. Obviamente algo assim não tem qualquer fundamento nas Escrituras. Não estamos dizendo aqui que seja errado ter o título de "Doutor" nas profissões seculares, mas trata-se de algo que não tem lugar nas coisas de Deus.
Algumas denominações chegam ao ponto de usar o título "Reverendo". Todavia, a Bíblia, na versão inglesa, diz que "reverend" ("reverendo") é o nome do Senhor! O Salmo 111:9 da versão inglesa King James, traduzido para o português, diz: "Santo e reverendo é o Seu nome". Acaso seria correto o homem usar um termo que é atribuído ao Senhor como um título para si mesmo? É claro que não.
Quando os moradores da Licaônia tentaram atribuir a Barnabé e Paulo títulos elevados, eles se recusaram a recebê-los, dizendo: "Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões" (At 14:15).
Semelhantemente, hoje todo servo do Senhor deveria recusar títulos lisonjeiros. A Palavra de Deus ensina que pastor é apenas mais um dentre os muitos dons dados por Cristo (Ef 4:11). Por que alguém iria querer elevar especificamente este dom na igreja, ao ponto de transformá-lo em um título oficial que ocupasse um lugar de preeminência sobre os outros dons? Não existe uma linha sequer nas Escrituras que indique que a igreja deveria fazer algo assim.
 
A eleição de um "Pastor"
Atualmente a prática na igreja para se escolher um (assim chamado) "Pastor" é contrária às Escrituras. Estamos nos referindo ao processo como um clérigo passa a presidir uma igreja local. O procedimento usual é que o candidato a "Pastor" ou "Ministro" seja convidado pela (assim chamada) igreja, para ter a oportunidade de demonstrar suas habilidades fazendo alguns sermões. Se a sua pregação for aceitável para as pessoas daquela igreja, elas votarão nele para ser o "Pastor" delas. Mais uma vez, esta não é a ordem de Deus.
Para começar, a Palavra de Deus, que deve sempre ser nosso guia, não fornece qualquer instrução neste sentido. A verdade é que não existe na Bíblia uma única assembleia que tenha escolhido um pastor! Nem sequer uma! Tampouco encontramos que algum apóstolo em qualquer ocasião tenha nomeado um pastor para uma igreja local. As Escrituras até mesmo alertam contra a escolha de mestres pela igreja, quando diz: "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências" (2 Tm 4:3).
Além disso, a ideia de se nomear um "Pastor" não passa de um princípio mundano de democracia. A igreja não é uma democracia. É um engano pensar que seja correto dar poder de voto a pessoas jovens e recém-convertidas. Elas simplesmente não estão firmadas na verdade e nem foram experimentadas o suficiente nas coisas divinas para poderem formar um juízo espiritual de tamanha magnitude.
Há de se considerar também que tal prática coloca o homem em uma posição bastante estranha. Se ele deseja-se muito aquela posição na organização, ficaria tentado a falar às pessoas o que elas gostariam de ouvir. Geralmente seriam tópicos como "Amor e Casamento" ou "Profecia". Qualquer tipo de ministério dirigido à consciência provavelmente seria deixado para o final de sua lista. Mesmo depois de assumir sua posição na igreja, ele seria constantemente confrontado com a possibilidade de comprometer a verdade a fim de satisfazer as pessoas, por saber que se a audiência caísse, sua posição e emprego correriam risco. Seu papel seria deixar a congregação contente. O resultado disso é que as pessoas poderiam acabar controlando esse "Pastor" – e geralmente é o que acontece na prática – para que ele fosse o tipo de ministro que elas gostariam de escutar. Vivendo sob esse tipo de obrigação ele realmente acabaria se tornando o "Pastor" das pessoas. Compare isso com Juízes 17:7-13 ("tenho um levita por sacerdote").
 
O Senhor da seara dirige os dons
Quando as Escrituras se referem a Cristo como Cabeça, isso é feito em relação às questões coletivas da igreja como um corpo; quando é feita menção ao Seu senhorio, isso está conectado à Sua direção soberana dos crentes individualmente. É por isso que não lemos de Cristo como sendo Senhor da igreja. Todavia, as Escrituras afirmam que Ele é "Senhor da seara" (Mt 9:38). É Ele, e não a igreja, Quem envia os Seus trabalhadores individualmente para onde Ele gostaria que eles servissem. Ao distribuir os dons, Cristo faz com que seus portadores sejam diretamente responsáveis perante Ele no que diz respeito ao ministério de cada um. Como já demonstramos, os dons fluem de Cristo no céu, e são para o proveito espiritual do Seu corpo. Alguém que tenha um dom específico deveria procurar ministrar para toda a igreja de Deus – desde que possa fazê-lo sem comprometer os princípios bíblicos. Ele jamais deveria se confinar a uma seita formada por homens. Seu dom é para a edificação de todo o corpo. Cristo é, não apenas a fonte desses dons, mas seu Diretor. Já que os diferentes servos estão em comunhão com o Senhor, é Ele que irá dirigir cada um em sua esfera de serviço. Considerando que a fonte e direção dos dons é Cristo no céu, os dons estão acima do controle de qualquer religião ou organização terrena criada pelos homens, ao contrário do que é visto nas igrejas da cristandade. É comum escutarmos de pessoas falando do "Pastor Fulano" como tendo sido enviado por uma determinada organização para exercer um determinado ministério.
A questão é que nas Escrituras não existe algo como a igreja, ou uma organização dentro da igreja, enviando uma pessoa que tenha um dom a um determinado lugar a fim de servir ao Senhor. Nunca lemos desses dons estando sob um comitê ou junta de missões, e sendo dirigidos por esse comitê em seu serviço para o Senhor. Isso também é algo inventado pelo homem. As Escrituras dizem: "Rogai, pois, ao Senhor da seara, que [Ele] mande ceifeiros para a sua seara" (Mt 9:38). E também: "E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre" (At 13:2-4).
Fica claro nestes versículos que o Senhor, por intermédio do Espírito, é Aquele que envia os Seus servos. A igreja deveria reconhecer que um dom é enviado pelo Senhor, e dar à pessoa "as destras, em comunhão" – o que pode incluir ajuda financeira (Gl 2:9), mas não é ela que envia. Aqueles que estavam em Antioquia encorajaram Barnabé e Saulo a irem, mas não tinham poder para enviá-los. Eles simplesmente deixaram que eles fossem, pois reconheceram que o Senhor, por intermédio do Espírito, os enviava. Como mostra a passagem, é o Senhor, por meio do Espírito Santo, Quem os envia. J. A. Trench escreveu: "Podemos fazer uma pausa e analisar a obra [no livro de Atos]. 
Samaria foi evangelizada, os gentios foram admitidos no reino em Cesárea, os gregos convertidos em Antioquia; isto é um resumo do que está registrado. Além da obra na Judéia e em Jerusalém, tudo aquilo aconteceu sem a direção apostólica ou de alguma autoridade humana. Como já dissemos, o Espírito Santo abriu os campos de trabalho, independente da direção humana. O que Ele fez naquela época, nós podemos confiar que Ele continua fazendo hoje. É uma atitude sábia deixarmos que o Espírito trabalhe como Ele quiser, e depois, como fizeram os apóstolos, reconhecermos alegremente o que Ele tem feito. Na Palavra de Deus o ministério nunca esteve sujeito à direção apostólica no início da igreja. Será que hoje o ministério deveria ficar sujeito à direção de homens, por mais piedosos e sinceros que fossem? Esta é a pergunta que fazemos. O leitor poderá com certeza respondê-la".
Se for para o Senhor enviar uma pessoa com o dom de pastor para o nosso meio, devemos reconhecer esse dom e deixá-lo ministrar como tal. Não cabe a nós criar uma eleição para votar se queremos ou não essa pessoa como nosso "Pastor"; ou decidir se ele é aceitável para nós, a fim de colocá-lo em um "ofício" na igreja, algo que não existe na Palavra de Deus! Ele não é nosso servo. Ele é servo do Senhor. J. N. Darby disse: "Se Cristo achou por bem me dar um dom, devo negociar meu talento como sendo Seu servo, e a assembleia não tem nada a ver com isso: não sou servo dos irmãos. (...) Recuso-me terminantemente a ser servo da assembleia. Se eu, como indivíduo, fizer ou disser qualquer coisa que exija disciplina, aí a questão é outra; mas no que diz respeito a negociar meu talento, não estou agindo nem no âmbito da assembleia, nem por ela designado. Quando saio para ensinar, saio individualmente para exercitar meu dom... O senhorio de Cristo é negado por aqueles que pensam o contrário; são pessoas que querem transformar a assembleia, ou a si mesmas, em senhores. Se eu sou um servo de Cristo, deixe-me servir a Ele na liberdade do Espírito. Pessoas assim querem transformar servos de Cristo em servos da assembleia, negando ao indivíduo a responsabilidade que tem diante de Cristo pelo seu serviço... Em meu serviço para Cristo sou livre para agir sem consultá-los: eles não são senhores dos servos do Senhor".
Fica claro que um servo do Senhor, que conhece os pensamentos de Deus acerca da igreja, não pode ser Ministro de uma seita sem estar assim comprometendo a verdade. Ele pode até ministrar àqueles conectados com seitas, caso venha a se encontrar com eles, pois são membros do corpo de Cristo. Mas se ele desejar ser dirigido pelo Senhor, não irá querer se confinar a uma seita, pois se o fizer, só poderá ministrar dentro de seu círculo autorizado de igrejas. Seu terreno ficará muito estreito. A. H. Rule disse: "O Senhor tem diante de Si toda a igreja, e se o servo é responsável diante dEle, como poderá se submeter a uma seita, e ser fiel tanto à seita quanto ao Senhor? É impossível. Se um homem é um Ministro Presbiteriano, fica claro que ele não é um Ministro Batista. E se ele é um Ministro de qualquer seita, isso o exclui de todo o resto, e seu ministério fica necessariamente confinado à seita à qual ele pertence, ou então aos seus próprios interesses".
O servo do Senhor não deve se deixar prender e acorrentar por uma organização denominacional criada por homens. O Apóstolo Paulo não se deixou colocar sob o comando de qualquer tipo de organização criada pelo homem. Ele disse: "Procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo" (Gl 1:10). Ele disse também: "O que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens" (1 Co 7:22-23).
 
Não é correto contratarmos um servo de Deus
Associado à prática errônea de se eleger um "Pastor" está colocar essa pessoa trabalhando mediante um salário. Em lugar nenhum encontramos qualquer menção disso na Bíblia. O homem (ou uma organização de homens) não deve contratar um servo de Deus, pois ele está a serviço de um Mestre maior. Como já mostramos isso pode ser perigoso, pois quando alguém recebe seu salário de uma determinada organização, a tendência é que ele seja um servo daquela organização. É claro que as organizações eclesiásticas não enxergam o clérigo assalariado como contratado, mas há muitas coisas que poderiam ser mencionadas que comprovariam que, na prática, o que acontece não é muito diferente disso. Um exemplo é uma carta que recebemos recentemente de um homem que incluiu nela um cartão profissional que o identificava como "Ministro aposentado" de uma conhecida denominação. Se ele chegou ao ponto de ser aposentado daquela posição que ocupava, isso necessariamente implica que houve um momento quando ele foi contratado. Mas será que as Escrituras falam de Deus contratando e aposentando Seus servos? Isto soa a negócio. Não queremos questionar seus motivos, mas ainda assim isso deixa uma impressão errada diante do mundo. As pessoas podem concluir que aquele é o emprego da pessoa. Entendemos que existem muitos que ocupam uma posição assim e fazem com zelo um trabalho para o Senhor, fazendo o melhor que podem com sua habilidade. Tampouco deixamos de levar em conta o fato de que aqueles que estão numa posição assim serão galardoados por seus motivos no dia vindouro, quando ao Senhor aprouver dar um galardão (1 Co 3:9-14; 4:4-5). A questão aqui está meramente em apontar que a posição de um clérigo assalariado não tem base bíblica.
 
Como os servos do Senhor devem ser mantidos financeiramente?
Alguém poderá perguntar de que modo os servos do Senhor devem ser mantidos financeiramente. Já que eles não devem receber um salário, como serão mantidos? Mais uma vez devemos buscar a resposta na Palavra de Deus. Nela encontramos que o apóstolo Paulo e outros que serviam juntamente com ele são um exemplo de como os servos do Senhor devem efetuar seu serviço para Ele (1 Tm 1:16; Fp 3:17). Eles eram "servos de Jesus Cristo" e não servos de alguma seita ou divisão na igreja (Rm 1:1; Fp 1:1; 2 Pd 1:1; Jd 1 etc.). Eles acreditavam que o Senhor os tinha enviado para fazer o trabalho, e que se Ele verdadeiramente os enviara, então Ele também cuidaria deles. 
"Quem jamais milita à sua própria custa?" (1 Co 9:7). Portanto eles saíam em campo "nada tomando dos gentios", pois confiavam que Deus iria suprir todas as suas necessidades (Jo 7; Fp 4:19). Para fazer isso é preciso que o servo tenha fé. Hudson Taylor escreveu: "Nunca faltará suprimento vindo de Deus para a obra de Deus, quando ela é feita à maneira de Deus".
Nos primeiros dias da igreja havia duas maneiras pelas quais os servos do Senhor eram mantidos financeiramente. Primeiro, eles se mantinham a si mesmos trabalhando com suas próprias mãos. O apóstolo Paulo é um exemplo disso. Ele trabalhava como fabricante de tendas enquanto servia ao Senhor (At 18:3). Ele disse aos anciãos de Éfeso: "Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber". (At 20:34-35). Aos Tessalonicenses, Paulo escreveu: "Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes" (2 Ts 3:8-9).
A segunda maneira como os servos do Senhor eram mantidos era por doações dos santos que desejassem expressar sua comunhão com a obra na qual eles estavam engajados. Essas doações vinham de duas fontes: das assembleias locais, conforme Paulo disse aos Filipenses: "Fizestes bem em tomar parte na minha aflição. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta" (Fp 4:14-17); e de indivíduos, como ele menciona aos Gálatas: "O que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui" (Gl 6:6; Hb 13:16; 1 Tm 6:17-19).
Todavia, os servos do Senhor tomavam o cuidado de fazer a obra de Deus "nada tomando dos gentios" (3 Jo 7). Os "gentios" aqui eram os incrédulos dentre aqueles para quem eles pregavam. Eles tinham esse cuidado para se precaver de dar ao mundo uma impressão errada de que o evangelho é algo que uma pessoa possa comprar.
Cremos ainda ser este o padrão para a manutenção dos servos de Deus nos dias de hoje.
 
Organizações para-eclesiásticas: Auxílio ou empecilho ao evangelho?
William MacDonald declarou: "Nos últimos anos tem ocorrido uma explosão organizacional na cristandade, de proporções tamanhas, ao ponto de deixar qualquer um zonzo. Sempre que um crente tem uma nova ideia para o avanço da causa de Cristo, ele cria uma nova junta, comitê, organização ou instituição! Uma das consequências disso é que pregadores e pessoas que têm o dom de ensinar são afastados de seu ministério principal para se transformarem em administradores. Se todos os administradores dessas juntas de missões estivessem servindo no campo missionário, isso reduziria imensamente a necessidade de pessoal nessas organizações. Outra consequência da proliferação das organizações é que vastas somas de dinheiro são necessárias para os custos administrativos, sendo assim desviadas da divulgação direta do evangelho. A maior parte de cada dólar que é dado às muitas organizações cristãs é usada para os custos de manutenção da organização, ao invés de ir para o principal objetivo para o qual os recursos foram doados".
Quanta verdade há nessa declaração! Conversamos com alguém que ocupava uma posição bastante elevada em uma das maiores organizações do mundo para a coleta de fundos das igrejas, para enviá-los aos campos missionários. Quando ele deixou a organização, revelou que "a maioria das pessoas não sabe, mas apenas 9 % da arrecadação efetivamente chegam ao campo missionário! O restante é usado para pagar salários e custos administrativos".
 
Resumo dos principais erros do sistema clerical
Até aqui mostramos de forma conclusiva que o conceito de um sistema clerical, que é ter um assim chamado "Pastor" ou "Ministro" responsável por uma congregação de cristãos para guiá-los na adoração e no ministério, não tem base bíblica. E não só falta a isso base bíblica, como chega a ser até mesmo contrário ao ensino do Novo Testamento.
Os pontos a seguir formam um breve resumo dos princípios que cobrimos até aqui, e mostram por que o sistema clerical na Igreja não está em conformidade com a Palavra de Deus.
 
1. Não é dado ao Espírito de Deus o Seu lugar de direito para presidir na assembleia. Já que Ele está presente para dirigir e controlar os procedimentos, o fato de se colocar um clérigo nesse lugar na prática dispensa o Espírito e interfere em Sua direção (Fp 3:3; 1 Co 12:11).
 
2. Como consequência de não ser concedido ao Espírito o Seu lugar para guiar a assembleia como Ele quiser, o sacerdócio de todos os crentes é violado na prática (1 Pd 2:5; Ap 1:6; 5:10; Hb 13:15-16). O Espírito de Deus deveria poder usar qualquer irmão
que escolher para apresentar ações de graças e adoração em nome de toda a assembleia, mas o sistema impede que isto aconteça.
 
3. Outra consequência de não ser concedido ao Espírito o Seu lugar para dirigir na assembleia é que o livre exercício dos dons nas reuniões é proibido pelos limites arbitrários colocados para o ministério, o qual fica restrito a uma pessoa (o assim chamado "Pastor), a quem é outorgado o direito oficial de fazê-lo (1 Co 14:27-33).
 
4. Além disso, existe pouco ou nenhum recurso para verificar e equilibrar o ensino. Onde quer que apenas um ou dois homens sejam responsáveis pelo ensino em uma assembleia local, como acontece com os assim chamados "Pastores" ou "Ministros", existe o perigo de interpretações tendenciosas, isso quando não são introduzidas doutrinas erradas. Por outro lado, onde o Espírito Santo tem liberdade de falar através dos diversos dons existentes na assembleia, além de serem trazidas à luz mais facetas da verdade, existe também uma maior imunidade contra o erro, se os santos estiverem cuidadosamente comparando o que é dito com as Escrituras (1 Co 14:27-32).
 
5. O sistema clerical tende a promover uma apatia entre os que fazem parte da congregação. Por não dar liberdade às pessoas para que contribuam no ministério, é comum ocorrer uma falta de exercício nas coisas divinas. Muitos acham que não precisam se preocupar com o ministério, já que a organização eclesiástica à qual pertencem está pagando alguém (o clérigo) para fazer esse trabalho para eles.
Consequentemente, o desenvolvimento de um exercício espiritual e o crescimento entre os santos ficam impedidos por esse tipo de organização (1 Co 3:1-4; Hb 5:11-14).
 
6. O sistema favorece uma situação em que as pessoas se congregam em torno de um orador hábil, violando assim os princípios dados para que os cristãos estejam congregados, pelo Espírito, somente para o Nome do Senhor Jesus Cristo (1 Co 1:12-13; 3:3-4; Mt 18:20).
 
7. O sistema interfere com a responsabilidade imediata dos servos, a qual é para com o Senhor no exercício dos dons. A pessoa (o clérigo) passa a ser responsável em prestar contas a uma organização criada pelos homens que está acima dele, a qual cuida dele em questões práticas, como o salário que recebe. O clérigo é responsável por manter os padrões e métodos de ministério da organização, e por atingir as metas que a organização determina para ele; e assim acaba sendo controlado pela organização, ao invés de servir diretamente sob o senhorio de Cristo (1 Co 7:22-23; Gl 1:10).
 
O que pensam disso os "Pastores" e "Ministros"?
É provável que alguém pergunte ao "Pastor" de sua denominação a respeito destas coisas, e acabe escutando que tudo o que dissemos aqui está errado. É compreensível. O mais provável é que ele não aceite estas verdades, pois elas condenam a própria posição que ocupa. Se estas coisas fossem reconhecidas, que impacto elas não teriam sobre um homem ocupando uma posição de "Pastor"! Em virtude de seu "ministério" ser exercido como uma profissão, a consequência prática para ele, caso aceitasse estas verdades, seria a perda de seu salário regular. É bastante improvável que alguém numa posição assim venha a admitir estas coisas.
Não estamos insinuando com isto que os assim chamados "Pastores" e "Ministros" estejam no "ministério" apenas pelo emprego. Eles podem muito bem estar fazendo seu trabalho conscientemente, mas abandonar um posto assim traria grande prejuízo para
alguém nessa condição. Se o cristão comum quiser abandonar a ordem de coisas existente nas igrejas e que foi criada pelo homem, para viver segundo o cristianismo bíblico, ele não terá muito a perder, se comparado a um clérigo. Mesmo assim, se um clérigo for fiel à Palavra de Deus e agir em obediência ao Senhor, Deus irá cuidar dele, pois Ele prometeu: "Aos que me honram honrarei" (1 Sm 2:30; 2 Cr 25:9).
 
 
APRESENTAÇÃO
Há alguns anos li o livro "God's Order", escrito por Bruce Anstey, um irmão canadense com o qual tenho comunhão por estarmos congregados somente ao nome do Senhor Jesus, ele no Canadá e eu no Brasil. O que chamou minha atenção foi que o autor
conseguia colocar em ordem os principais tópicos que todo cristão sincero deveria buscar nas Escrituras para saber se está congregado segundo a ordem estabelecida por Deus, ou se apenas segue tradições criadas por homens.
O livro em inglês está agora na quarta edição, e recebi do autor autorização para traduzilo para o português. A fim de assumir um compromisso comigo mesmo de dedicar algum tempo à tradução, decidi criar este blog. Um blog público é uma excelente forma de eu me lembrar de que há pessoas esperando por novos trechos do livro, e isso me motiva a continuar traduzindo.
Espero que o livro "A Ordem de Deus" seja de auxílio para muitos irmãos e irmãs emCristo, e também se transforme em um instrumento a mais para glorificar a Deus, que não apenas "quer que todos os homens se salvem", mas também que "venham ao
conhecimento da verdade" 1 Tm 2:4.
Mario Persona
 
EXTRAÍDO DO LIVRO: A ORDEM DE DEUS - PARA OS CRISTÃOS CONGREGAREM PARA ADORAÇÃO E MINISTÉRIO
 
Autor: BRUCE ANSTEY
 
Tradução: MARIO PERSONA – 2011
 
Revisão: MARIA CRISTINA MARUCCI
 
A Resposta Bíblica à Ordem Eclesiástica Tradicional
 
Traduzido do original inglês: GOD’S ORDER FOR CHRISTIANS MEETING TOGETHER
 
FOR WORSHIP AND MINSTRY
 
Edição em inglês publicada por: CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING 12048 – 59th Ave.
 
Surrey, BC V3X 3L3 CANADA
 
Primeira Edição (Inglês) - Junho 1993
 
Segunda Edição (Inglês) - Abril 1998
 
Terceira Edição (Inglês) - Março 1999
 
Quarta Edição (Inglês) - Julho 2010
 
Os versículos citados são da Bíblia Versão Almeida Corrigida Fiel ou Almeida Revista e
 
Atualizada.
 
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