UMBANDA

Trata-se de um culto de origem africana que se chama Umbanda. Umbanda é no Rio de Janeiro, capital umbandista no Brasil, e em São Paulo, o nome genérico para os cultos que se chamam Xangôs no Pernambuco ou Candomblés na Bahia.
"A Umbanda veio com os escravos, do rio Congo, de Angola e de Moçambique, viajou nos porões imundos dos navios negreiros, aliviou suas dores nas noites de senzala.
Proibida de existir oficialmente, pois o Catolicismo Romano era a religião dos colonizadores, incorporou São Jorge, Santo Antônio e outros aos seus espíritos, fazendo o mesmo com os caboclos e divindades indígenas e com a seita de Allan Kardec. Perseguida, ridicularizada sob o nome de Macumba, prosseguiu assim mesmo. Hoje tem cem mil 'terreiros' em nosso país, já se espalha pela América Latina e chega aos Estados Unidos onde há a Umbanda Pietures Corporatíon." (Zora A. O. Seljan, na revista "Enciclopédia", julho de 1968.)
Embora de base africana, a Umbanda é religião brasileira, gerada por sincretismo com veios ameríndios, europeus (Catolicismo Romano e o Espiritismo Kardecista) e asiáticos. Como alguém já disse, é culto hospitaleiro; vai acolhendo na família panteônica divindades estrangeiras, vultos da lenda, da hístória e heróis populares. Diz-se no entanto que as práticas do culto na Bahia e no Pernambuco são menos sincretizadas, conservando melhor a pureza de suas origens africanas.
 
Cultos Afro-brasileiros
 
Dois grupos étnicos africanos vieram realmente contribuir para a formação dos assim chamados "cultos afro-brasileiros"; os Sudaneses e os Bantos. No Brasil, tornouse dominante a religião sudanesa, a dos Yoruba, entre as modalidades religiosas de origem africana.
Tanto o culto de origem sudanesa, como o de origem banta, ligam suas práticas às da religião católica. Mas, predominando o culto dos antepassados entre os Bantos que se identificam com as coisas para melhor conhecê-las, inclusive portanto com as almas, tiveram êles facilidade de fundir seus ritos com os dos Sudaneses (De fato, todo o panteão umbandista é de origem sudanesa e os Bantos também aceitaram quase todo seu ritual.) e constituíram meio excelente para o posterior sincretismo com as correntes espíritas de Allan Kardec.
Importantes idéias kardecistas integram-se gradativamente no mundo umbandista. A teoria das reencarnações sucessivas, a idéia da evolução cósmica e a doutrina do Karma, transpostas para classes sociais de menor preparo intelectual, combinam-se com a estrutura sacral. As influências kardecistas atuam no sentido de diminuição da elaboração ritualística e da ênfase mágica dos "terreiros" de Umbanda e fazem que ela se aproxime mais da austeridade kardecista. Em São Paulo, o "alto" Espiritismo (A Umbanda é às vezes chamada de "baixo" Espiritismo) serve de instrumento de adaptação da tradição africana para uma prática religiosa mais em harmonia com o estilo de vida urbana e racional.
Embora a religião sudanesa admitisse a existência de um Deus superior, Olorum, seu nome está praticamente esquecido no Brasil e existe pouca informação de culto ou preces especiais a essa entidade. Toda religião gira em torno dos Orixás, entidades divinas, com histórias e atributos próprios, correspondendo a um panteão. Esses deuses africanos foram identificados, com certas diferenças regionais, com santos católicos, talvez com a idéia de escapar à pressão exercida pela Igreja no perfodo da Escravidão, subterfúgio que entrosou muito bem com o sincretismo que sempre tem caracterizado o desenvolvimento do culto aqui no Brasil.
Assim, Oxalá é identificado com o Cristo. Xangô corresponde a São João Batista e São Jerônimo; Yansã, a Santa Bárbara; Ogum, a São Jorge; Oxossi, a São Sebastião, etc. Exu, o deus brincalhão dos Yoruba, já foi identificado com o diabo, por sua habilidade de praticar malefícios e prestar-se a feitiçarias. É interessante notar, de ponto de vista evangélico, que de todos os deuses do panteão africano, ele consegue guardar sua identidade. É ele que é o agente das magias. Os Umbandistas o temem e reconhecem seu poder malévolo.
A essência da Umbanda consiste na incorporação dos deuses e, na prática brasileira, outros espíritos nos "Filhos de Santo", durante as festas religiosas. Na tradição africana, o "Orixá" "toma" a "Filha do Santo"; em contraposição, o "cavalo" da Umbanda sincretizada é possuído por um espírito desencarnado - um "Preto Velho" (alma de escravo, de antepassados africanos, ou uma alma de amigo ou parente recém falecido e que se destacou na seita) ou "Caboclo" (antepassado índio simbolizando uma tribo ou indivíduo).
Essa diferenciação essencíat não se realizou rapidamente.
Mais bem, o processo de evolução umbandista tem produzido um sistema que não só consegue manter o politeísmo africano, com o prestígio dos seus deuses, a tradição e as lendas, a música e as danças, a eficácia da magia; mas, também, praticamente, provê uma comunicação com os espíritos desencarnados que é bem mais fácil e funcional.
Isto proporciona o acesso de todos ao contacto espiritual e milhares de médiuns têm se levantado para ministrar às necessidades dos adeptos. Em seu excelente livro Kardecismo e Umbanda, Cândido Procópio Ferreira de Camargo chama este desenvolvimento umbandista de "democracia na religião. .. (um sistema) longe dos deuses superiores que se dignam apenas a dançar, altivos, no meio dos homens."
Segundo a articulista Zora A. O. Seljan, escrevendo na revista mensal de cultura, "Enciclopédia", de julho de 1968, realiza-se a Umbanda de quatro formas litúrgicas diferentes e variações afins a alguma delas, "os quatro feitios ou faces
da Umbanda."
Citando Flávio Costa Fabico, ela descreve os diversos tipos de reuniões.
1) O Espírito: o mestre do culto fica sentado numa mesa, não usa roupas especiais ou veste-se de branco. Não há "gira" (a roda ritual formada pelos "Filhos da Fé").
Manifestam-se, como numa sessão espírita, os "Pretos Velhos" e os "Caboclos". Não incorporam "Orixás" (deuses).
Recusa-se a misturar os "Orixás" com os antepassados.
Esta primeira modalidade é a que prega com mais afinco a sua doutrina, havendo preferência pelas orações. Não se admite as "curimbas" nem os "pontos riscados" (desenhos cabalísticos que são feitos em tábuas ou no chão no início da sessão). Dificilmente acompanham as orações com palmas ritmadas.
2) Ritualista: o mestre (o "Pai ou Mãe de Santo") do culto dirige a "gira", ao som de palmas ritmadas e "curimbas". Todos se apresentam de branco. Usam "guias" (entidades que se incorporam no médium e que dirigem espiritualmente a casa ou o médium). Costumam sair para dançar nas praias ou matas, quando podem levar algum "atabaque" (tambor sagrado).
3) Ritmada: o mestre do culto age como na segunda modalidade. A diferença é a inclusão de instrumentos musicais de derivação africana.
4) Ritmada e Ritualista: são usados instrumentos musicais e roupas típicas coloridas. Existem "assentos" (altares de material sagrado onde o deus mora ou se assenta, ou descansa) para os "Orixás", e os "atabaques" são consagrados. É a modalidade que mais influência tem dos candomblés e cultos yorubas.
A mesma articulista afirma, "Das dessemelhanças internas da seita, especificadas nas quatro faces da Umbanda, pode-se afirmar que a segunda e a terceira sejam as mais professadas e isto por motivos econômicos. Na primeira categoria figuram os Umbandistas 'intelectualizados', próximos do idealismo kardecista, em geral pessoas da classe média que se constrangem nos ambientes mais populares das outras modalidades. Na segunda categoria estão os que não se podem proporcionar condições ambientais para praticar a terceira e quarta categorias - daí as palmas em lugar dos "atabaques" e as acomodações necessárias. Razões econômicas também generalizaram o uso das roupas brancas, mais econômicas que as roupas típicas das entidades.
A quarta categoria é mais atraente (do ponto de vista secular) pela beleza visual das danças e das roupas.
Pode-se chamá-Ia do lado folclórico da Umbanda, enquanto a segunda e a terceira serão a Umbanda popular e a primeira
a Umbanda 'puritana'!"
Por sua origem e tradição a Umbanda se restringe ao grupo primário formado pelo "terreiro". Neste grupo se instituiu uma formalizada liderança sacerdotal exercida pelo "Pai ou Mãe de Santo': Os "cavalos" (médiuns que servem de "montarias" para os espíritos que os incorporam), os "cambonos" (auxiliares do Pai de Santo que assistem os cavalos quando eles, possessos dos espíritos, entram em transe para fazer seus trabalhos mediúnicos durante as reuniões) e os "ogans", espécies de protetores prestigiosos, constituem a hierarquia do "terreiro".
Parece que há três tipos ,de adeptos da Umbanda:
"ativos", "partícipantes" e "eventuais":
Os ativos são os dirigentes do "terreiro", os cavalos desenvolvidos com domínio de suas faculdades mediúnicas, os cavalos em desenvolvimento e os cambonos. Outros são aqueles que realizam com mais rigor as precauções ritualísticas e que têm melhor conhecimento doutrinário e convicções firmes.
Os participantes, embora freqüentadores habituais dos "terreiros", são aqueles que procuram as entidades para resolver seus diversos problemas, mas que possuem conhecimentos precários da doutrina. O sincretismo de suas convicções é maior e estão afastados da intimidade do ritual.
Os eventuais são os assim chamados "interesseiros" que se dirigem às reuniões nas horas de dificuldade. Freqüentemente ignoram a doutrina e pouco compreendem o ritual, Recebem explicações dos "guias", "passes" e bênçãos e, de modo geral, acreditam na eficácia das práticas da Umbanda, mas, em geral, se definem como Católicos. Resolvido o problema, não freqüentam mais as reuníoes, permanecendo, porém, dispostos a voltar quando necessário.
Para uma fascinante descrição e uma explicação lúcida do tipo de "gira" mais afastado do Kardecismo, veja-se o livro Kardecismo e Umbanda, págs. 43-51, que já foi mencionado nesta discussão. Vale a pena o estudante adquirir este livro publicado pela Livraria Pioneiro Editora de São Paulo.
Segundo Ferreira de Camargo, autor deste livro que tem servido de fonte primária para este breve estudo de Umbanda, há muitas manifestações mediúnicas nestes cultos, os "cavalos" sendo "tomados" pelos espíritos que sacodem violentamente seus corpos e fazem que rodopiem e dancem em transe, já transformados, num modo de dizer, nas entidades que os possuem. Depois, assentados em banquinhos e fumando seus cachimbos e charutos, atendem a fila de consulentes. Diante do espírito que escolha (geralmente cada pessoa tem predileção por determinado "Caboclo" ou "Preto Velho") o consulente abre o coração, faz seus pedidos, explica suas dificuldades. A entidade responde através do cavalo, sendo necessário, por vezes, que um cambano seja chamado a traduzir a língua complicada que fala.
Ferreira de Camargo comenta que aos olhos do fiel aquele espírito desvenda os mistérios de sua vida, descobrindo-lhe as causas de seus problemas. "A piedade e a esperança estampam-se em sua fisionomia quando recebe os 'passes', as bênçãos e o consolo de que necessita."
Eis um exemplo atemorizante dos poderes diabólicos que visitam os "terreiros". Pode ser que haja bastante falsidade e engano nestas supostas manifestações, mas é bem certo que em muitíssimos casos os espíritos realmente se incorporam ao convite dos Umbandistas, espíritos malignos, demônios, que iludem o povo.
A Umbanda não tem um corpo doutrinário coerente ou codificado. É uma religião bastante complexa e elaborada que se está formando no Brasil, à base do sincretismo, herdeira do ritual yoruba, adotando filosofia católica acrescida de profunda certeza na reencarnação, na lei kármica dos budistas e praticando incorporações mediúnicas conforme os cultos bantos, sincretizados com o Kardecismo.
Há alguns que declaram que é impossível codificar a Umbanda embora que haja uma ânsia da parte de alguns, principalmente entre os grupos mais conservadores, para criar um sistema coerente. Calcula-se que mais de 400 volumes sobre Umbanda foram publicados no Brasil. A extraordinária variedade doutrinária que transparece nesses livros é ainda maior do que a proliferação multiforme dos "terreiros". Os dirigentes dos "terreiros" tratam a literatura com certo descaso, criticando suas imperfeições e mistificações e atribuindo-lhe qualidades de informação secundárias e subordinadas, em comparação com seu próprio aprendizado e "iniciação". Sua autoridade não deve sofrer desprestígio, em confronto com a palavra escrita.
Cada mestre tem suas teorias, combinando e interpretando de mil maneiras os ritos da Macumba. Seria impossível descrever os pormenores das inúmeras modalidades, que cada Pai de Santo defende com intransigente convicção.
Um espírito de animosidade caracteriza a atitude mútua de muitos dos dirigentes: Os "terreiros" lutam entre si e a natureza carismática da liderança local torna difícil o exercício da autoridade doutrinária ou institucional. As instituições que conseguem representar diversos grupos de "terreiros" se atacam violentamente, em nome de princípios doutrinários e ritualísticos, ou, o que mais freqüente, alegam a completa inautenticidade religiosa dos competidores.
Como criar ordem de tal confusão doutrinária, rítualística e política?!
Não resta dúvida de que o Espiritismo tem sido o principal fator de alteração das religiões africanas, especialmente em São Paulo, modificando seu conteúdo doutrinário e prático. Em muitos lugares os Umbandistas mais ortodoxos sempre se dizem "Espíritas" (empregando o termo na denominação de suas instituições (Veja, por exemplo, Federação Espírita de Umbanda, União Espírita de Umbanda, Confederação Espírita Umbandista do Rio de Janeiro, etc.).
Só especificam eles mais tarde, quando necessário, a natureza umbandista de seu Espiritismo.
Cândido Procópio Ferreira de Camargo, procurando esclarecer o papel do Espiritismo na formação da doutrina umbandista, escreve: "Devemos lembrar que os africanos, embora reconhecendo a existência da alma dos mortos, os 'egum', as afastavam; eram elas 'despachadas' nos enterros e nunca admitiam sua presença nas reuniões religiosas. 'Orixá' e 'egum' não se misturavam."
Mas vemos claramente na Umbanda atual que esta mistura existe e que a ênfase mediúnica na seita cresce cada vez mais. Com a assimilação da interpretação espírita da mediunidade, as entidades que "baixam" nos "terreiros" são, via de regra, dos dois tipos já mencionados: "Pretos Velhos" e "Caboclos". Estes se ligam aos "Orixás" pelo complexo sistema das falanges e legiões, derivado, sem dúvida, da concepção angélica do Catolicismo, para proteger a hierarquia africana de "Orixás", pondo cada deus no comando de sucessivas hierarquias de espíritos ou falanges, para assim reconciliar as idéias africanas e espíritas. A substituição dos deuses pelos espíritos constitui um processo muito sutil, que encerra as contradições e o jogo das adaptações funcionais em uma auréola de ambigüidade. Constitui, de fato, uma forma de se reconhecer a superioridade espiritual do dirigente, que recebe em geral entidades mais elevadas na hierarquia, chefes de falanges - em comparação com os "cavalos" comuns, montarias de "Pretos Velhos" e "Caboclos".
"Quanto mais próximo do Kardecismo, maior ênfase na interiorização da experiência religiosa, no aprendizado doutrinário e na vida moral, como base do desenvolvimento mediúnico em fase marcada do progresso espiritual. Quanto mais próximo do Kardecismo, mais se aconselha a mediunidade consciente, com o controle do espírito pelo 'cavalo'; quanta mais distante do Kardecismo mais se valoriza a mediunidade inconsciente, em que o 'cavalo' se torna dócil e passiva 'montaria' do espírito que o domina. Em ambas modalidades emprega-se a expressão técnica do Kardecismo:
mediunidade consciente e inconsciente." (Citação de Ferreira de Camargo).
Acrescentadas às crenças africanas, católicas, budistas e espíritas, um caos verdadeiro de seitas! a Umbanda também faz uso de Numerologia, a teoria dos talismãs, os signos de Salomão, a Astrologia, etc. - uma horrível e quase inacreditável mistura satânica preparada no abismo infernal para a perdição de milhões de brasileiros. Parece realmente incrível que qualquer pessoa dotada de inteligência média pudesse ser iludida por sistema religioso tão incoerente e baixo, mas tal é o poder de Satanás que êle consegue facilmente enganar literalmente milhões de pessoas neste país, o país onde se encontra o maior número de Espíritas.
Visto que outros capítulos desta série "Análise das religiões"  tratam de modo particular das diversas seitas que formam o síncretísmo umbandista, achamos não ser necessário repetir aqui as reivindicações bíblicas contra as seitas incorporadas na
Umbanda.
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