Símiles divinas

Introdução

Não existe tema maior do que a glória de Deus. Fazemos bem em refletir sobre este assunto. O Shorter Catechism afirma corretamente: “O alvo principal do homem é glorificar a Deus e apreciá-lO para sempre”. Diferentemente dos seres humanos, cujas conquistas gloriosas e grandezas desvanecem com a convivência, e se depreciam com a análise crítica, quanto mais meditamos na glória de Deus, e quanto mais de perto estudamos este assunto, mais indignos nos sentiremos na nossa contemplação, e mais profundamente sentiremos nossa vulnerabilidade a algum inadvertido erro de expressão em relação à bendita e santa Trindade. As expressões mais seguras são as que nos são dadas nas próprias palavras das Escrituras, isto é, “palavras … que o Espírito Santo ensina” (I Co 2:13). O impacto de um encontro com a glória de Deus é exemplifica nos casos de Moisés, Elias, Isaías e Daniel, cujas vidas manifestaram o efeito duradouro deste encontro.

Quando consideramos as Pessoas da Trindade separadamente, descobrimos que algumas das símiles/figuras de linguagem para Deus o Pai também são usadas em relação ao Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Uma longa lista de títulos divinos poderia ser produzida para mostrar que, de fato, símiles/figuras e títulos divinos que se referem ao Pai também são usados em relação ao Filho. Isto salienta a igualdade, eternidade e Divindade do Filho. Através dos séculos, este uso intercambiável de títulos divinos em relação à Trindade tem sido usado por escritores cristãos, defensores da verdade, para defender as grandes verdades da Trindade e da Divindade de Cristo. O grande peso deste testemunho nas Escrituras tem convencido muitos céticos, e nutrido a fé dos cristãos em sucessivas gerações.

Tendo dito isto, meramente listar estas símiles/figuras de linguagem usadas para descrever Deus, e notar sua atribuição conjunta, tanto ao Pai como ao Filho, como um exercício de apologia Trinitária, é insuficiente para nos trazer a uma apreciação completa do que estes títulos realmente significam. Uma símile é uma expressão de semelhança ou comparação que é usada para transmitir o significado de algo, afirmando que há uma analogia, ou comparação, entre alguma coisa e o objeto da nossa atenção. As palavras de ligação “como” ou “igual a” são frequentemente usadas ao propor uma símile. Uma metáfora significa carregar o significado de uma coisa para outra, frequentemente omitindo palavras de ligação que são características de símiles. Por exemplo, em relação a Israel está escrito: “Aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho” (Zc 2:8). Esta é uma metáfora complexa que atribui a Deus uma reação muito sensível quando Seu povo Israel é perturbado. Esta menção da delicada enervação sensitiva da córnea humana não pode ser aplicada literalmente a Deus, mas mesmo assim transmite uma verdade bem clara. Este é o poder da metáfora, isto é, emprestar o significado de uma coisa para explicar um fato que é verdade de outra entidade que, em todos os outros aspectos, é completamente diferente. Há trabalhos de estudiosos que classificam as metáforas em subgrupos diferentes. Discursos figurados mais extensos para ilustrar Deus e Seus caminhos são vistos nas chamadas parábolas. Ensino simbólico constitui outro método de ilustrar os caminhos e o caráter de Deus.

Ao lermos a Bíblia, quando percebemos uma símile ou uma metáfora, deveríamos perguntar: “Por que esta figura de linguagem é usada?”

Qual o significado dela em relação a Deus?

O que eu aprendo de Deus ao estudar o uso Bíblico desta expressão?

O que isto me diz de Deus o Pai?

Quando usada em relação ao Filho de Deus, o que eu aprendo sobre Ele?

Por exemplo, o que há na figura da rocha que é apropriado para ser usada na apreciação de Deus? Qual é a revelação de Deus, dada pelo Espírito, trazida a nós através desta descrição e figura de linguagem?

As expressões elevadas encontradas nos salmos divinamente inspirados, e nas profecias, ilustram de uma maneira maravilhosa a implementação de tais termos descritivos acerca de Deus. As composições não inspiradas dos homens, apesar de talentosas, não chegam à perfeição das Sagradas Escrituras. 

Os melhores escritores de hinos tem garimpado nos ricos tesouros dos Salmos e Profetas na sua atribuição de louvor e glória a Deus. Valorizamos muito os seus esforços, mas o material da fonte Bíblica é insuperável.

Sendo que o foco principal deste artigo é Deus o Pai, nosso estudo irá se concentrar nas figuras que descrevem o Pai, e não os outros membros da Divindade. No Velho Testamento isto é difícil. O dr. A. T. Schofield resume bem quando diz:

É praticamente impossível classificar totalmente os nomes e títulos de Jeová, especialmente quando os consideramos como se referindo a Cristo — o fato é que embora o Novo Testamento mostra que é o Filho que sempre executa a vontade do Pai, e que este Filho é o mesmo “Eu Sou”, ou Jeová do Velho Testamento, entretanto visto que Pai, Filho e Espírito Santo é uma revelação distinta do cristianismo, a diferença entre Deus o Pai e Deus o Filho geralmente não é apresentada antes do Novo Testamento.

O dr. H. Lockyer cita A. T. Schofield como fonte primaria para o seu livro valioso All the Divine Names and Titles in the Bible. Ele resume Schofield da seguinte maneira:

Enquanto que os nomes e títulos de Cristo podem ser satisfatoriamente compilados, os títulos de Deus não podem ser definidos claramente. Uma lista é apresentada dos nomes mais impressionantes de Jeová, apresentados em cada livro da Bíblia, que sem dúvida são aplicáveis a Cristo. O que devemos ter em mente é que títulos e tipos são coisas bem distintas. 

A importância de conhecer a Deus

Apesar de ser muito bom conhecer acerca de Deus, e a Bíblia é a nossa única fonte de informação correta sobre este tema, é algo completamente diferente, e muito melhor, conhecer a Deus. Tal conhecimento só pode ser obtido através de um relacionamento pessoal com o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Este era o alvo de Paulo (Fp 3:10). Ora, o conhecimento de Deus não é meramente uma realização individual de felicidade mística. Através da história nas Escrituras, descobrimos que aqueles que obtinham sucesso prático nas coisas de Deus eram aqueles que conheciam a Deus. Os heróis da fé apresentados em Hebreus cap. 11 eram aqueles que conheciam o seu Deus. Foi dito a Daniel “… o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e fará proezas”. Paulo pôde dizer com grata confiança: “Eu sei em Quem tenho crido” — não apenas uma afirmação de credo: “Eu sei o que tenho crido”.

O fato maravilhoso é que Deus achou por bem nos permitir aprender sobre Ele através de certas ilustrações que auxiliam nossa compreensão limitada. Como pode uma criatura finita compreender a verdade sobre o Criador infinito, o Senhor Deus Todo Poderoso? Somos lembrados da distância entre nosso pensamento e o pensamento divino: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos nem os vossos caminhos os meus caminhos” (Is 55:8-9), e Jó também foi relembrado desta verdade por Eliu (Jó 34:31-33).

É um fato incontestável que o homem caído tem uma imaginação fértil, que é usada para gerar maneiras enganosas e inadequadas de pensar sobre Deus, e para criar imagens erradas dEle. Embora Romanos cap. 1 nos dá a prova mais clara disto, há muita evidência adicional nas Escrituras do Velho Testamento, onde o engodo intelectual e romântico da idolatria é visto como um forte atrativo à mente auto engrandecedora do homem não regenerado. A mente da carne está em inimizade contra Deus e não é sujeita à lei de Deus, nem tão pouco pode ser .

Especulações intelectuais sobre Deus que não se atém, no temor de Deus, as palavras que o Espírito Santo ensina, e se desviam da sã doutrina, produzem resultados prejudiciais — mesmo se aqueles que se envolvem nestas especulações professam ser cristãos piedosos.

O resultado trágico de várias formas de “novo esclarecimento” e “ministério autoritário” que permeavam a era pós-Darby dos irmãos exclusivistas é um testemunho eloquente disto. Fazemos bem em cultivar uma reverência mental, e evitar o orgulho intelectual ao nos aproximarmos do grandioso assunto de Deus o Pai e Sua descrição nas Escrituras. Um adorador não é um filósofo. Tendo isto em mente, podemos abordar exemplos específicos de linguagem figurada relacionadas a Deus.

Símiles e descrições figurativas de Deus

Coisas inanimadas

Deus como Luz

“Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas” (I Jo 1:5). Luz é atribuída a Deus, e Ele é o Criador da luz como a conhecemos, da qual a vida na Terra depende. Ele é chamado de “Pai das luzes”, o Doador de toda boa dádiva e dom perfeito (Tg 1:17). A criação do primeiro raio de luz, em Gênesis 1, é usada como ilustração do poder soberano de Deus na conversão do pecador, onde a entrada da luz divina traz a “iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (II Co 4:6). Mesmo as crianças sabem que insetos repulsivos fogem da luz. Esta analogia é aplicada aos pecadores em João 3:19-22, quando a maravilhosa luz de Deus, vista perfeitamente no Seu Filho, é descrita como repulsiva a eles. Muito mais é escrito sobre a luz como uma descrição de Deus. Vale a pena estudar este tema.

A Rocha

Força, estabilidade, refúgio e permanência, todas estas características veem a nossa mente pela aplicação bíblica da expressão “Rocha” em relação a Deus. O grande cântico de Moisés, em Deuteronômio 32, dá pelo menos quatro referências diretas a Deus como a Rocha; veja vs. 15, 18, 30 e 31. Davi, na sua última fala oficial, disse: “Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou” (II Sm 23:3). Davi tinha uma afeição especial por esta metáfora, tendo passado tanto tempo, com seu bando de fiéis seguidores, escondendo-se de Saul no deserto rochoso do sul da Judeia. Em um dos seus grandes cânticos de agradecimento vitorioso a Deus, ele reúne várias figuras e diz: “O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador. Deus é o meu rochedo, nele confiarei, o meu escudo, e a força da minha salvação, o meu alto retiro e o meu refúgio. Ó meu Salvador, da violência me salvas” (II Sm 22:2-3). Nestes dois versículos temos agrupadas oito metáforas diferentes, todas se referindo à defesa e ao refúgio procurados por um fugitivo.

Há duas palavras principais para rocha no Velho Testamento. Uma é cela (Strong 05553), que muitas vezes tem o significado de “alicerce”, e a outra é tsuwr (Strong 06697), que significa “rocha elevada”. Elas aparecem nesta ordem nas duas referências à rocha nos dois versículos que acabamos de citar. Ambas as palavras são usadas frequentemente para descrever Deus. Os moradores de muitos países não estão tão acostumados com a paisagem rochosa comum a um israelita; portanto muitas línguas não são tão ricas em palavras para descrever “rocha”. A referência à refrescante “sombra de uma grande rocha em terra sedenta”, embora obviamente se referindo a Deus, está ligada com “um homem” (Is 32:2), e este homem só pode ser o Senhor Jesus Cristo, que é a Rocha sobre a qual a Igreja é edificada, e que é revelado como a Rocha que produziu água que sustentou os israelitas na sua jornada do Egito a Canaã: “… bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (I Co 10:4).

Figuradas relacionadas à construção

Artífice, Construtor, Criador

A casa de Deus aparece tanto no Velho como no Novo Testamentos. A doutrina relacionada com este grande assunto é central a todas as perguntas sobre como o povo de Deus se reúne, e como suas comunidades são organizadas em testemunho a Deus, no mundo de hoje. A Bíblia claramente estabelece que a casa de Deus é algo construído e projetado pelo próprio Deus, e que Ele é o Senhor da casa. O desafio prático a cada um de nós hoje (quer como indivíduos ou como grupos de cristãos) é este: será que eu (e o grupo religioso ao qual eu me associo) me conformo com o ensino Bíblico sobre a casa de Deus? Se Ele é o Senhor da Sua própria casa, então a constituição da casa, e o comportamento dentro dela, não são assuntos para nossas inovações inteligentes, ou para concessões. Conformidade à doutrina da casa de Deus é vista como um indicador da nossa fidelidade. Por isso a ideia de administração é usada para ilustrar o serviço cristão. Assim como os servos confiáveis de uma grande casa do império romano eram responsáveis por delegar a autoridade dada a eles pelo senhor da casa, assim nós, seja qual for a nossa esfera de trabalho para Cristo, somos responsáveis pelo nosso serviço à luz da avaliação vindoura.

Expressões que são usadas de Deus neste contexto são: Senhor da casa, oikodespotes; technites — esta palavra é usada de Deus como construtor e criador da futura “cidade que tem fundamentos”, a qual Abraão, pela fé, aguardava; demiourgos (“construtor”) — traz a ideia de “planejador da cidade”. Estas duas expressões são usadas em Hebreus 11:10.

Depois temos a construção da própria Criação: “Os mundos pela palavra de Deus foram criados” (Hb 11:3). Isto nos faz pensar no Criador como planejador de todas as coisas. É pela fé que estes assuntos são aceitos e compreendidos. Se pensamos na iniciativa de Deus em planejar, organizar e implementar a criação material, ou no Seu planejamento providencial do programa da História descrito pela palavra “mundos” (“eras”; no grego, ainon), todas as sucessivas dispensações são alvo do planejamento e execução divinos. Aceitar este fato pela simples fé na revelação de Deus nas Escrituras dá ao cristão vantagens e discernimentos que são impossíveis de se obter por sabedoria humana. Não podemos enfatizar demais que a verdadeira sabedoria consiste em aceitar totalmente a revelação de Deus sobre estes assuntos. Devemos ser gratos por termos sido poupados das fúteis tentativas intelectuais da humanidade caída de investigar estes grandes temas. Os esforços do pecador, na sua própria busca da verdade, são como as tentativas dos homens cegos de Sodoma procurando encontrar a porta da casa de Ló. É uma tentativa, condenada ao fracasso, de agredir os mensageiros de Deus enquanto recusando reconhecer sua cegueira como o juízo de Deus.

Figuras da vida no campo 

O Pastor

Esta visão de Deus tem sido prezada por sucessivas gerações de cristãos. Os hebreus antigos eram um povo pastoral, e a ideia de pastor era apreciada entre eles. A tarefa de um pastor no clima de Israel era mais árdua do que a exigida de um pastor em climas mais frios. Todos os aspectos do bem estar das ovelhas eram a responsabilidade do pastor: uma tarefa que exigia atenção vinte e quatro horas por dia. Os pastores tinham que proteger as ovelhas dos predadores, tais como os leões e ursos que Davi enfrentou, ou dos lobos, como em João 10:12, e também contra os ladrões, como vemos em I Samuel 25. O pastor precisava guiar as ovelhas ao pasto e às fontes de água. As ovelhas não eram capazes de encontrar estas coisas sozinhas. Os cordeiros, os fracos e doentes, ou as ovelhas feridas, precisavam de atenção individual. Estas tarefas exigiam força, coragem e sabedoria, portanto é natural que o rei de Israel fosse considerado como o pastor do povo. O ideal hebraico de um pastor salienta uma figura heroica. A palavra “herói” pode ser derivada da palavra hebraica para “pastor”.

Para o cristão, quer seja nos tempos do Velho ou do Novo Testamentos, o Pastor supremo é Deus. Davi celebrou este fato no Salmo 23, que é tão lindo que até mesmo multidões de almas não esclarecidas encontram conforto injustificado ao repetir seus versos líricos majestosos. O Novo Testamento mostra esta palavra sendo aplicada ao Senhor Jesus Cristo por Ele mesmo, e é também aplicada a Ele nas epístolas, em relação à Igreja. Esta continuidade de descrições figuradas, através das dispensações, desvenda aos cristãos, hoje, a riqueza de revelação incentivadora e restauradora do cuidado de Deus para com o Seu povo, individualmente e coletivamente, que abunda em ambos os Testamentos. Fazemos bem em gastar tempo meditando nestas preciosas vinhetas das Pessoas divinas.

O Vinhateiro

O proprietário, o plantador e o administrador de uma vinha são todos usados em diversas passagens como descritivos de Deus, e especialmente relacionados a Israel, que é comparada à Sua vinha ou vinhedo. No Salmo 80, o salmista Asafe lamenta a situação trágica de Israel. Ele começa se referindo a Deus como “Pastor de Israel”, e fala da vinha destruída, que tinha desfrutado de tanto favor e privilégio devido à iniciativa soberana de Deus, mas que agora o “javali da selva” havia devastado e “as feras do campo” devorado. Repetidamente ele implora, “Faze-nos voltar, ó Deus dos exércitos, e faze resplandecer o teu rosto e seremos salvos”.

Embora o salmista não elabora sobre as falhas de Israel, como a causa deste triste estado da vinha, isto fica claro quando olhamos para outras passagens.

Isaías 5:1-7 nos apresenta o cântico da vinha. Uma explicação clara é dada no v. 7: “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel”. O problema está inerente na própria vinha. Jeremias 2:21 nos deixa ouvir Deus suplicando com Israel e perguntando: “Como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada como vide estranha?” Os relacionamentos bondosos de Deus com Israel tinham dado a ela todas as oportunidades possíveis de ser frutífera e agradável a Ele. “Julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer a minha vinha, que eu não lhe tenha feito?” (Is 5:3-4). O resultado execrável não é culpa de Deus. Como sempre, é a natureza caída do homem que leva à ruína, apesar da provisão bondosa de Deus.

“O Senhor da vinha” é um título de Deus o Pai, usado pelo Senhor Jesus Cristo na Sua parábola da vinha em Mateus 21:33-41. Aqui são os lavradores a quem a vinha foi arrendada durante a ausência do Senhor da vinha que são o foco da repreensão e do futuro castigo do Senhor.

O Fazendeiro Agrícola

O fazendeiro, que na colheita do milho e trigo colhe os seus feixes, é usado como figura do Senhor como o futuro libertador de Israel. A destruição das nações inimigas de Israel é comparada com a eira, e o remanescente de Israel, os que fazem a debulha, são descritos como uma nova trilha com dentes (uma debulhadora de algum tipo) e também como o gado da eira. Depois de debulhar vem o assoprar, e aqui também Deus, como o fazendeiro supervisor, vê Israel abanando os grãos para eliminar a palha (das nações) que é levada pelo vento do juízo de Deus. É interessante ver que João Batista usa esta figura para descrever a atividade do juízo futuro do Senhor Jesus às multidões curiosas em Lucas 3:17.

O Fazendeiro Pecuarista

O cuidado diligente do fazendeiro com o seu gado é usado como uma figura do cuidado diligente de Deus com Israel, com o triste contraste que enquanto os animais domésticos conhecem o seu dono, Israel não tinha este entendimento básico (Is 1:3-4). Esta figura é ampliada por Oséias (Os 4:16; 10:11) quando ele se refere ao fazendeiro usando gado para debulhar e cultivar campos, falando de Israel como sendo “a novilha obstinada” de Deus, e de Efraim como a novilha que fora ensinada a debulhar o trigo, e Judá sendo obrigada a puxar o arado, e Jacó os torrões. Todo este uso útil do poder dos animais na fazenda exige que os animais saibam como se comportar sob o jugo. Isto exige disciplina, e o fazendeiro precisa treinar o animal de acordo. Aqui também Deus é mencionado como fazendeiro, castigando um novilho desobediente (Efraim) que está sendo domado para usar o jugo e ser útil na fazenda (Jr 31:18).

Nos dias de nossos bisavós, estes conceitos eram a rotina diária da vida no campo. Fazemos bem em meditar neles como ilustrando o cuidado bondoso de Deus para com o Seu povo, e sua Soberania inquestionável em escolher como Ele delega cada um no Seu serviço. O Senhor Jesus usa esta linguagem figurada em Mateus 11:29-30: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim … porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

Metáforas militares

O mundo antigo viu muitos conflitos. Desde o início da história de Israel eles estavam cercados de inimigos poderosos, e as guerras eram frequentes. Tanto Moisés como Davi conheciam a linha de frente de batalhas militares, e os outros escritores do Velho Testamento estariam bem familiarizados com o serviço militar. Os bons reis reconheciam que qualquer sucesso militar alcançado por eles era realmente obra de Deus. Portanto, é fácil entender o uso de figuras de linguagem militar aplicadas a Deus como o verdadeiro responsável pela proteção nacional e pessoal, além do esforço da infantaria israelense.

Homem de Guerra

“O Senhor é homem de guerra; o Senhor é o seu nome” (Êx 15:3). Estas descrições proféticas de Deus como guerreiro se referem especialmente à intervenção futura de Deus como libertador do Seu povo Israel, isto é, no final da Grande Tribulação. Isto naturalmente se liga com o título divino “Senhor dos Exércitos”. Como guerreiro, temos a menção do arsenal de Deus (Jr 50:25), “os instrumentos da sua indignação” (Is 13:5), e temos referência ao “machado de batalha e minhas armas de guerra” (Jr 51:20). Isto é especialmente notável em relação à Babilônia, que usava a clava e o machado de batalha como componentes chave da sua técnica de batalha. Estas armas eram usadas para incapacitar o inimigo, quebrando os seus ossos. Por isso, a referência a “despedaçar” (Jr 51:20).

O Poderoso (soldado da infantaria)

“O Senhor sairá como poderoso, como homem de guerra despertará o zelo” (Is 42:13). Sua intervenção como o guerreiro vem depois de um longo tempo de espera (isto é uma referência a este presente dia de graça). O silêncio de Deus é quebrado com um grito: “Darei gritos como a que está de parto” (Is 42:14). Esta justaposição de símiles é marcante. Em uma só frase temos o guerreiro pronto para o combate e uma mulher em trabalho de parto (veja também o paragrafo posterior sobre “linguagem feminina”), que fala da compaixão de Deus com o remanescente que está sofrendo e Sua justa “campanha de vingança” em favor de Israel no final da Grande Tribulação. Este grande e terrível dia do Senhor será caracterizado por uma campanha complexa de batalhas, da qual o longo dia de Josué, com todas as suas batalhas, é um tipo; veja Josué cap. 10.

O grande Comandante

“O Senhor dos Exércitos passa em revista o exército de guerra” (Is 13:4); também como uma guerrilha fazendo uma armadilha para pegar o inimigo: “Laços te armei, e também foste presa, ó Babilônia, e tu não soubeste; foste achada, e também apanhada; porque contra o Senhor te entremeteste” (Jr 50:24).

Instrutor Militar

Davi escreveu: “Bendito seja o Senhor, minha rocha, que ensina as minhas mãos para a peleja e os meus dedos para a guerra” (Sl 144:1; veja também Sl 18:34).

Intendente

Aquele que fornece as armas e a armadura: “Também me deste o escudo da tua salvação” (Sl 18:35). Compare também “toda a armadura de Deus” dada hoje ao cristão no conflito contra o Diabo.

Arqueiro

“Envia as tuas flechas, e desbarata-os” (Sl 144:6).

Linguagem feminina

Algumas das descrições de Deus usam referências pitorescas de entidades ou ações femininas. Em tempos recentes elas tem sido usada por feministas e seus seguidores teológicos num esforço para “despatriarcalizar” a Bíblia. Ofende tais pessoas observar que pronomes femininos não são usados em relação a Deus, que a vasta maioria de símiles e metáforas para Deus são masculinas, e que universalmente Deus é conhecido como “Ele”, em cuja imagem o homem foi criado: “homem e mulher os criou” (Gn 1:27). O tom estridente do pensamento feminista tem consideravelmente influenciado círculos evangélicos, e a linguagem inclusiva (ou linguagem neutra de gêneros) nas traduções da Bíblia (por exemplo na NIV) é um exemplo. É verdade que algumas expressões são usadas que dão a Deus atributos femininos. Entretanto, não podemos chegar à conclusão falsa, baseado nestas metáforas, que não devemos nos referir a Deus como “Ele”, ou que Ele seja de gênero neutro, num sentido vago e politicamente correto. A atribuição de linguagem feminina a humanos do sexo masculino na Bíblia não põe em duvida a sua masculinidade. Porque deveria ser diferente quando se trata de Deus?

Considere a figura de dar à luz filhos, como usada de Deus em relação ao Seu povo Israel (Is 42:14). Aqui temos um ponto de vista profético da intervenção final de Deus para livrar Israel, na fase final da Grande Tribulação. A intensa compaixão de Deus para com o Seu povo sofredor, nesta crise cataclísmica da história da humanidade, é descrita aqui. Os versículos que seguem (Is 42:15-17), que descrevem o grande poder de Deus no Seu resgate de Israel, transmitem tudo menos uma impressão feminina. A figura de uma mãe confortando uma criança angustiada é usada para descrever o cuidado de Deus com Israel (Is 66:13). Isto não é uma atribuição de feminilidade a Deus. Outra figura feminina, a mãe de uma criança de peito, é usada para descrever o compromisso de Deus com Israel. Esta figura distinta tem sido usada repetidas vezes em pinturas e esculturas pelos mais ilustres artistas. É a evocação mais potente e emotiva de amor e cuidado para com um bebê indefeso. Mas aqui a figura é usada em forma de contraste, e não de comparação. “Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama?… ainda que esta viesse a se esquecer” (Is 49:15, ARA). Todo bebe corre um certo risco de que a mãe possa parar de se importar, mas Israel não precisa ter esta preocupação: “Eu não me esquecerei de ti”, diz Deus. O elo de amor mais forte entre seres humanos é examinado e visto possuir fraquezas, comparado com o amor e cuidado de Deus para com o Seu povo, e isto não é uma base muito sólida para a teologia feminista.

A Águia

Alguns instintos maternais de certos membros do reino animal são usados para apresentar algumas símiles de Deus. Um destes é a águia. Em Deuteronômio 32:11-12 lemos acerca de Israel: “Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas: assim só o Senhor os guiou”. Isto amplia a breve alusão a águia em relação à libertação de Israel do Egito em Êx 19:4: “Vos levei sobre asas de águia”. A ênfase está no nutrir e treinar de filhotes indefesos, num ambiente hostil de deserto. “Desperta” se refere à indisposição inicial dos filhotes de deixar o ninho. Os israelitas não estavam entusiasmados para deixar o Egito até que Deus “despertou o ninho”, como a sua recepção inicial de Moisés demonstra. Liderança divina fez com que Deus efetuasse para Israel o que seria considerado arriscado e assustador, como o processo de filhotes de águia sendo ensinados a voar. É essencial que os filhotes confiem na sua mãe, ou eles nunca sobreviveriam. Entretanto as acrobacias impressionantes da águia, uma das aves mais poderosas, carregando assim os seus filhotes, certamente abrem nossos olhos da fé para o fato que o cuidado de Deus para conosco pode incluir episódios de “despertar”, seguidos da maravilhosa proteção e cuidado, em situações de extremo perigo. A figura da águia também é usada de Deus em relação às nações inimigas. Aqui a ênfase é predatória e não de cuidado. “Porque assim diz o Senhor: Eis que voará como águia, e estenderá as suas asas sobre Moabe” (Jr 48:40), fazendo de Moabe uma área de predação. A mesma profecia é feita contra Edom em Jeremias 49:22. Voracidade rápida e violenta caracteriza o ataque da águia. Isto não é figura da mãe-águia protegendo, mas da águia-macho atacando. Assim temos descrito o castigo de Deus contra Moabe e Edom pelos seus séculos de ataque contra o Seu povo Israel.

A ursa

Outra símile feminina interessante de Deus é a da ursa roubada de seus filhotes. Mesmo hoje, na era moderna de armas de fogo, nenhum caçador quer se encontrar com uma ursa roubada de seus filhotes. É uma imagem assustadora. Esta descrição de Deus aparece em Oséias 13:8. A passagem se refere ao programa de juízo de Deus contra a idolatria crônica de Israel. Três animais diferentes são escolhidos para ilustrarem a manifestação de Deus em juízo. Estes são o leão, o leopardo e a ursa. Cada um é um predador apavorante. A verdade é que Israel merecia cada encontro punitivo. É interessante que cada um destes três animais compartilha o mesmo contexto novamente em Daniel cap. 7, onde cada um representa uma besta imperial que tem um papel a executar no drama final dos relacionamentos dos gentios com Israel, que sobrevive ao “quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte” (v. 7). Será que o uso conjunto desses animais, por Oseias e Daniel, estava mostrando a Israel que, por trás dos terríveis regimes dos gentios, estava a soberana mão de Jeová contra quem um Israel se rebelara? É certamente má interpretação prender-se à feminilidade da ursa. Isto de fato é o fruto da teologia feminista.

Figuras analógicas de relacionamentos humanos

Figuras derivadas da família

Pai

Embora muito do que é essencial à nossa ideia de Deus como Pai já foi tratado em outros capítulos deste livro, mesmo assim, características de relacionamentos humanos, tirados da vida familiar, servem para ilustrar a verdade sobre Deus. A apresentação de Deus como Pai, no Velho Testamento, é mais analógica e ilustrativa do que factual — para isto precisamos da revelação do Novo Testamento. A paternidade de Deus como Criador é confirmada claramente em Malaquias 2:10: “Não temos todos nós um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus?” Este fato criatorial não dá base alguma para pecadores não regenerados reivindicar que Deus seja seu Pai no sentido Neotestamentário. Deus não pode ser conhecido ou adorado como Pai por aqueles que não têm um relacionamento com Ele, através da fé no Seu Filho redentor, o Senhor Jesus Cristo. Muitas tolices plausíveis sobre a paternidade universal de Deus tem sido propagadas por homens religiosos do século XIX, e seus seguidores, até o dia de hoje — todos caracterizados por relutância em enfrentar a ruína do homem e o remédio de Deus, isto é, a propiciação pela fé no Seu sangue — o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, que nos purifica do todo pecado (Rm 3:25; I Jo 1:7).

Nos Evangelhos, lemos que o Pai é revelado pelo Filho de Deus. Assim, lemos do Senhor Jesus Cristo se dirigindo a Deus como “Pai” diretamente, e também usando a expressão “Pai santo”, e “Pai justo” (Jo 17:11, 25). Ele fala com os outros sobre “Meu Pai”, e aos discípulos “Vosso Pai”. O apóstolo Paulo nos apresenta o uso de “Aba Pai” ao se dirigir a Deus. Esta expressão foi usada pelo Senhor Jesus Cristo no Getsêmani ao se dirigir ao Pai (Mc 14:36). Somos ensinados sobre o seu uso, baseados no fato que somos filhos de Deus e guiados pelo Espírito de Deus; libertos da escravidão judaica para a liberdade cristã (Gl 4:24). Esta expressão une a linguagem carinhosa, infantil e não racional da criança com a linguagem respeitosa e racional do adulto. Intimidade e reverência estão ligados. Adoração inteligente de Deus como Pai é a obrigação do cristão, pois lembramos das palavras do Senhor Jesus Cristo em João 4:23 “… Adorem o Pai em Espírito e verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem”. Com respeito a adoração do Pai, J. N. Darby diz:

Ao adorar o Pai, eu me dirijo Àquele que em amor infinito, imerecido … Se revelou a mim, e me reconciliou consigo mesmo, e me deu o Seu Espírito, para que eu possa estar ciente do lugar em que Ele me colocou, para que eu possa clamar, Aba Pai.

Ele diz também que esta adoração consiste da “alma, pelo Espírito Santo, estando com e adorando o Pai, a quem Cristo nos trouxe, e sendo amados como Ele é amado”. Somente uma atenção espiritual diligente a tudo o que Deus tem revelado de Si mesmo nas Escrituras pode nos equipar para tal louvor. Isto (citando mais uma vez J. N. D) “nos eleva simplesmente a Deus para que nosso novo homem possa habitar e se deleitar em, e certamente adorar a, Ele”.

O fato que uma criança deveria ter respeito pelo seu pai é tido como correto e normal nas Escrituras. A ausência deste respeito filial para com Deus é salientado como sintoma da decadência moral e espiritual de Israel (Ml 1:6). A prerrogativa do pai de disciplinar seus filhos não é somente aceita nas Escrituras, mas é usada para ilustrar a bondosa soberania de Deus, como nosso Pai, disciplinando Seus filhos, para nosso bem, incutindo santidade e o pacífico fruto da justiça (Hb 12:5-13). Nesta passagem, vemos o ensino do Velho Testamento sobre Deus como um Pai que disciplina aplicado diretamente na nossa era do Novo Testamento. A advertência é acrescentada: “Se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos”. Ele está incentivando os cristãos hebreus a não confundir a correção de Deus com desprazer por capricho, mas sim considerá-la como uma característica necessária de cuidado paternal. 

Tal é a decadência rebelde de nossa cultura atual que, infelizmente, esta passagem esbarra na ideia moderna sobre a criação de filhos.

Esposo

Esta descrição de Deus é usada em relação ao Seu relacionamento com Israel, que é descrita como a esposa (Is 54:5-6). No contexto deste relacionamento metafórico, referências à “aliança” — para com a qual Israel foi infiel — comparam a aliança de Deus com Israel a um contrato de casamento humano. Apesar dos seus caminhos pecaminosos, a preocupação amorosa de Deus de ganhar Israel de volta é descrita na profecia de Oséias. Este relacionamento não é igual “ao grande mistério” de Efésios 5, onde o casamento é comparado com o elo entre Cristo e a Igreja.

O Pranteador tocando um lamento

Jeremias 48:36 descreve o coração de Deus como flautas, tocando um lamento para a destruição e desolação de Moabe. Isto é um exemplo de uma descrição figurativa aplicada a outra descrição figurativa. A figura primária é o coração de Deus, a figura secundária é a do coração tocando — claramente uma figura surreal, mas muito descritiva de uma reação emocional profundamente triste.

Figuras de governo e liderança

Rei

A realeza é encontrada pela primeira vez na Bíblia em Gênesis cap. 10, onde o reino de Ninrode é mencionado. O rebelde primordial contra Deus “começou a ser poderoso na terra” (Gn 10:8). Sua carreira como rei começa em Babel e prefigura a do assírio do final dos tempos (Mq 5:6). O reinado terrestre, portanto, começa como uma usurpação da prerrogativa divina em relação ao governo das nações. Israel foi proibida de imitar as nações e ter um rei. Quando eles insistiram em ter um rei, Deus falou para Samuel: “Não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (I Sm 8:7). Israel tinha Deus como seu rei até esta rebelião. Saul, o primeiro rei, provou ser um desastre. O fim do seu reinado, caracterizado pela perseguição a Davi, o caracteriza como um tipo do anticristo futuro. O ideal hebraico de monarquia, celebrado nos Salmos e nos profetas e apresentado nos livros históricos, é visto em Davi e no início do reinado de Salomão. Ambos estão explicitamente ligados ao futuro reino Messiânico, que será caracterizado por tudo o que houve de melhor nestes dois grandes reis. A realeza de Deus, embora usurpada por homens de orgulho voraz e mente satânica, é um grande tema que se desenvolve através de toda Escritura. Asafe reconheceu isto ao dizer: “Todavia Deus é o meu rei desde a antiguidade, operando a salvação no meio da terra” (Sl 74:2). Ele então cita uma lista dos atos históricos de Deus como Rei, que inclui a libertação de Israel através do Mar Vermelho, e a própria Criação.

Atributos reais desejáveis incluem poder, sabedoria e justiça, e cada um destes atributos é encontrado com perfeição em Deus. O apóstolo Paulo, no final da sua vida atarefada, escreve a majestosa doxologia: “Ora, ao rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo sempre. Amém” (I Tm 1:17).

Governador

No Salmo 22:28, numa passagem que descreve as condições milenares do futuro, lemos: “Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações”. Um cristão do Velho Testamento sem dúvida entenderia isto como uma simples promessa do reinado direto e futuro de Deus sobre a Terra. Entretanto esta mesma palavra é usada acerca de José, “regente em toda a terra do Egito”, e portanto, para emprestarmos a analogia das grandes empresas contemporâneas, temos José como Chefe Executivo, e Faraó o menos destacado Presidente. Quando vemos isto aplicado a Deus, precisamos trazer a passagem para o Novo Testamento para obtermos mais esclarecimento. Encontramos isto em I Coríntios 15:24-28, onde a aniquilação final de todo império e toda autoridade e poder acontece por intermédio do Senhor Jesus tendo um reino pessoal, e no entanto entregando o reino a Deus, o Pai. O resultado final glorioso é para que “Deus seja tudo em todos”. Tal comparação de uma Escritura com outra nos ajuda a apreciar os atos gloriosos da bendita e santa Trindade.

Redentor

Esta expressão muitas vezes é explicada como “parente remidor”. Refere-se ao antigo costume de um parente que agia para cumprir seu dever familiar de vingar uma injustiça, e redimir propriedade alienada, casando-se, se necessário, com a viúva e restaurando as posses do membro da família desapropriado, por meio de uma ação direta, ou ação legal (Pv 23:11). Boaz é o exemplo mais óbvio do Velho Testamento.

Quando Deus é assim descrito, podemos nos identificar com a alegre expectativa do pobre israelita, vítima de infortúnio ou injustiça, quando ele/ela sabia que o parente remidor estava cuidando do caso. Diferentemente dos casos atuais de litígio civil, com seus frequentes cancelamentos e adiamentos, fazendo a pessoa prejudicada sentir que os advogados não se importam, o parente remidor certamente se preocupava, e agia sem demora. Isaías é o escritor do Velho Testamento que mais usa esta descrição de Deus, mas somente na parte final da profecia, isto é, depois do cap. 40. É parte do seu ministério de “falar benignamente a Jerusalém” (Is 40:2), e apresentar a promessa da libertação futura do Parente Remidor, vingando Seu querido povo das injustiças dos inimigos que haviam caído sobre eles. Quando observamos a cena geopolítica dos dias atuais, e vemos o crescente ódio contra os judeus, podemos ver isto como parte do processo de ódio contra Deus, que está preparando o caminho para a aceitação do anticristo vindouro. Todas estas nações unidas, que estão incentivando o ódio contra Israel, descobrirão “naquele dia” que eles terão que se encontrar com o Parente Remidor, quando as dívidas de injustiça contra Israel, acumuladas pelas nações, finalmente serão cobradas. Você gostaria de estar junto com os inimigos de Deus se opondo a Israel? Bom é regozijarmos “na redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3:24). Pode o leitor assim se regozijar?

Juiz

O Juiz de toda a Terra. Esta descrição de Deus foi feita por Abraão quando ele concluía sua oração intercessora para que Sodoma fosse poupada. O grande salmo de juízo afirma: “Deus mesmo é o juiz” (Sl 50:6). Diferentemente de todos os juízes terrestres, Deus é caracterizado por justiça e imparcialidade, considerando adequadamente todas as contingências litigantes.

Como juiz do mundo, fica claro quando consultamos o Novo Testamento que isto será feito “por meio do homem que destinou; e disto deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17:31). A doutrina detalhada de Deus como juiz está centrada no Senhor Jesus Cristo, e é Ele quem é descrito em Romanos 14:10 como o Juiz no Tribunal de Cristo; também em Mateus 25:31-46, quando Ele julga as nações vivas; além disto Ele é o Juiz do Grande Trono Branco (Ap 20:11-15).

Conclusão

Muitas outras símiles e metáforas de Deus não foram consideradas, mas o espaço impede o seu estudo neste capítulo. As que temos incluído, entretanto, demonstram a abrangência das figuras que o Espírito Santo julgou adequadas para nos ensinar acerca de Deus. Refletindo no uso de linguagem ricamente figurativa em relação a Deus, Herbert Lockyer escreveu:

Outra explicação pode ser que Deus, por causa da Sua infinidade, precisou condescender a usar figuras de linguagem que mentes finitas pudessem entender, para tornar claro e simples o Seu ser, revelação e propósito. 

 - Por Samuel McBride, Irlanda do Norte

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