SAUL, O REI LEVANTADO PELA CARNE
OS MOTIVOS que levaram à eleição de um rei em Israel são claros e facilmente entendidos por todos aqueles que conhecem, de qualquer modo, a história humilhante do coração humano.
No primeiro capítulo do 1º Livro de Samuel é apresentado um quadro suntuoso e instrutivo da situação em que se encontrava Israel. A casa de Elcana é tomada pelo escritor sagrado como uma ilustração notável de Israel segundo a carne e de Israel segundo o Espírito. «E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana e o nome da outra Peninna: e Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filhos».
Temos, assim, na família deste Efrateu outra vez as mesmas cenas de Sara e Hagar. Ana era estéril- o que, aliás, ela era obrigada a sentir profundamente, pois «a sua competidora excessivamente a irritava, para a embravecer: por- quanto o Senhor lhe tinha cerrado a madre».
Nas Escrituras Sagradas a mulher estéril é sempre apresentada como uma figura da condição da natureza humana arruinada e sem esperança. Não tem poder de fazer seja o que for para Deus, nem energia para dar fruto para o Senhor é uma cena de morte e desolação. Esta é a condição em que se encontram todos os descendentes de Adão: não podem fazer coisa alguma para Deus nem para si próprios no tocante ao seu destino eterno. Acham-se enfáticamente «sem forças» e são como «uma árvore seca», «uma tamargueira no deserto» (Jer. 17:6). Esta é a lição a tirar da mulher estéril.
Contudo, o Senhor fez com que a Sua graça abundasse sobre toda a fraqueza e necessidade de Ana, e pôs um cântico de louvor na sua boca. Ela pôde dizer, «O meu poder está exaltado no Senhor: a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação». É uma das prerrogativas de Deus fazer com que a estéril se regozije: «Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz: exulta de prazer com alegre cântico, e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da soli tária do que os filhos da casada, diz o Senhor» (Isa. 54:1).
Ana compreendeu tudo isto, e Israel entendê-lo-á também em breve: «Porque o teu Criador é o teu marido; o Se- nhor dos Exércitos é o Seu nome; e o santo de Israel é o teu Redentor» (Isa. 54:5).
O cântico de Ana é o grato reconhecimento de uma alma pelo tratamento de Deus para com Israel. «O Senhor é o que tira a vida e a dá: faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece: abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória» (I Samuel 2 :7, 8). Nos últimos dias isto será inteiramente exemplificado em Israel; e é agora exemplificado na pessoa de todo aquele que, mediante a graça, é levantado da sua condição de ruína na natureza para a bem-aventurança e paz em Jesus.
O nascimento de Samuel encheu um vazio não só no coração de Ana, mas, incontestavelmente, no coração de todo o israelita fiel, que suspirava pelos verdadeiros interesses da casa do Senhor e a pureza das ofertas ao Senhor - ambas as coisas eram igualmente espezinhadas e negligenciadas pelos sacerdotes infiéis, filhos de Eli. LEIA MAIS...