O Grande Amor do Senhor

 

Amor, o teste supremo da Igreja
 
“por causa do grande amor com que nos amou” (Efésios 2:4)
 
Chegamos, agora, ao final do Novo Testamento, à consumação no livro de Apocalipse. Uma grande quantidade de leitura deveria ser feita neste ponto, para a qual não temos tempo. Vamos abrir a Palavra no início do livro de Apocalipse e ler o primeiro, segundo e terceiro capítulos, que são a primeira parte desse livro, recordando rapidamente o que está ali registrado e tentando, á medida que prosseguimos, observar também os detalhes.
Dissemos que tínhamos chegado à consumação e acho que você concorda que quando chegamos ao livro de Apocalipse, chegamos à consumação de tudo o que está na Palavra de Deus; isto é, uma concentração de todas as coisas no fim para um arranjo final. Pelo menos isso podemos afirmar com respeito ao livro de apocalipse. Quaisquer que possam ser nossas idéias de interpretação sobre muitas coisas neste livro, todos concordamos que neste ponto estamos no fim e todas as coisas estão sendo ajuntadas para um estabelecimento final. A esta altura devemos fazer apenas mais uma pergunta. Não temos nós muito a aprender à medida que estamos nos aproximando da consumação de todas as eras? Seria necessário que eu juntasse todas as evidências e sinais para provar isso? Mas penso que posso contar novamente com o seu assentimento: certamente estamos no fim de todas as coisas.
Se isso é verdade, então é uma questão de suprema importância que reconheçamos quais são os fatores supremos e primordiais para Deus; e se devemos considerar esses fatores nessa oportunidade juntos, então nossa meditação deve adquirir um significado totalmente além de nós próprios. Essa deve ser uma ocasião muito solene e cheia de conseqüências, e que deve demandar e receber de nós uma atitude definitiva de colocar de lado todo outro tio de pensamento e consideração. Deve ser um tipo de coração aberto, desejoso do Senhor, sem preconceitos, sem desconfianças, sem curiosidade ou qualquer outra coisa que seja casual ou imprecisa. Nós devemos vir e, com todo nosso coração, devemos ter uma atitude de que se Deus irá nos falar daquilo que para Ele é de suprema importância, devemos tanto perceber como permanecer nisso.
Insisto em salientar ainda uma outra questão. Meu encargo é que não devemos apenas estar ocupados com um grande número de questões bíblicas. O que vamos abordar não é apenas um tem que está sendo introduzido, um tópico de estudo no qual todas as questões a respeito são trazidas à tona. Não, mil vezes não! Se essa não é uma mensagem de Deus para nós, devemos abandoná-la e ir fazer outra coisa. Portanto, acheguemos-nos ao livro de Apocalipse. Estudaremos os capítulos de um a três. Por muito tempo fiz grandes esforços em traduzir esses três capítulos em um significado claro, mas sempre acabei com uma sensação de derrota. Sempre houve algum resultado certo e justo, mas em relação àquilo que eu estava buscando, sempre tive um senso de derrota e frustração; e quando abordei alguns detalhes nessas mensagens para as igrejas, ais como Jezabel, Balaão e os nicolaítas, de alguma maneia me pareceu ter penetrado em uma atmosfera técnica. O estudo não chegou a se tornar uma mensagem positiva concreta e definitiva, pois ele se esvaiu. Eu sabia o que essas coisas significavam em princípio, mas o que desejava muito era encontrar uma solução que agrupasse todas as cartas às igrejas e que elas se tornassem. Como um todo, numa mensagem simples para o povo de Deus. Até agora, como disse, através de longos anos, toda a vez tenho me sentido derrotado. Me questiono se consegui isso agora; é o que veremos então.
 
Amor, a chave-mestra para toda a Bíblia
 
Parece-me que, ao fim de tudo, a chave-mestra para toda a Bíblia está em nossas mãos quando chegamos a esta conclusão. O amor é a chave-mestra para todas as coisas; e se você observar, não creio que haja qualquer dúvida sobre
isso. Você verá que tudo aqui está reunido naquela única questão do amor divino. Nesse livro, nós chegamos à consumação do amor e ele inicia e é concluído com a Igreja.
 
Amor, a chave para a visão de Apocalipse 1
 
Qual é a chave, então, ara o primeiro livro de Apocalipse? A chave ara este capítulo e também para todo o livro é encontrada nas palavras: “Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap. 1:5b). Você pode ver amor em quase cada palavra dessa grandiosa sentença.
Contudo, em seqüência a esta afirmação, temos a afirmação de senhor ressurreto e glorificado. Imediatamente, Ele é apresentado sob aquela maravilhosa designação de “Filho do Homem”, o título de parentesco, o parente remidor. “Àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados” – a designação pertence Àquele que veio diretamente à nossa condição e, eventualmente, à nossa existência. Esse é o tema do amor. Quão maravilhoso, quão abrangente é este Filho do Homem, carne de nossa carne, osso de nossos ossos, para nos redimir para Seu Pai! Ele é descrito naquela inigualável apresentação, verso por verso, passo a passo. Quando lemos tudo e observamos cada coisa que é dita a respeito dele, cada detalhe de Sua pessoa e de Sua aparência, concluímos que é a soma total do amor.
Ele está “cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro”. Cada palavra fala do amor divino: o peito, o ouro, o cinto. O cinto é um símbolo de força, de energia, de intenção, de propósito. Quando você se cinge, você demonstra seriedade. Suas roupas não estão mais soltas como para o descanso ou para as horas vagas. O cinto é de ouro, o símbolo da verdadeira natureza de Deus que é amor. Ao que me parece, acima de tudo, aquele cinto inclui todas as outras características, dá significado às demais coisas.
Não vou mencionar em detalhe todas as características de Filho do Homem como nos foi dado aqui. O que estou tentando transmitir é que esta apresentação inclusiva do Cristo ressurreto e glorificado é a apresentação abrangente do amor. Contudo, você pode questionar se isto realmente é verdade, pois alguns dos termos usados na visão são terríveis, aterradores. Ao ver o Senhor, João caiu aos Seus pés como morto. Será esse o efeito do amor? Não seria mais correto dizer que esse é o Senhor terrível em vez do Senhor que é totalmente amoroso? Entretanto, pensemos juntos outra vez. É amor, mas não nossa idéia de amor. Temos que rever nossa concepção do amor divino.
Esse Senhor aqui é descrito como o “fiel e verdadeiro”. Será que você já esteve em disciplina nas mãos do Senhor, sendo quebrado, sendo despedaçado, sendo derramado como água no chão e depois de tudo ter que dizer: “Tu estavas certo, Senhor; essa era a única maneira. Foi uma experiência terrível, mas Tu foste fiel comigo, fiel para com todos os mais altos e profundos princípios do céu. Não foi em ira e julgamento, mas em fidelidade e misericórdia para com a minha alma que Tu fizeste isso.” Temos que revisar nossa idéia do amor divino. Aqui João diz: “Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mima mão direita, dizendo: Não temas.” Isso não é julgamento, não é destruição, não é morte e nem condenação. A mão direita é o toque de honra, de favor. “Não temas; eu sou o primeiro e o último. Tudo está em minhas mãos e no final ficará tudo bem; Eu comecei e Eu vou concluir; não temas”.
Estava dizendo que João caiu aos seus pés como morto. Em outra ocasião, um homem viajava numa estrada com a séria intenção de extinguir desta terra cada lembrança de Jesus de Nazaré, tanto quanto estivesse em seu poder. Ele foi encontrado por este mesmo Senhor da Glória. Isso parece algo aterrorizante? Bem, certamente Saulo de Tarso caiu por terra e foi quebrado. O encontro o subjugou e deixou uma marca sobre o seu corpo físico até o final de sua vida. Ele foi deixado cego por três déias e outros tiveram que ajudá-lo a entrar na cidade. Será que Deus é realmente um Deus terrível Escute só o diálogo! “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Qual é o tom dessas palavras? Estou certo de que não é o tom de ira. É um tom suplicante de petição, de pesar, de apreensão. “Quem és tu, Senhor?” Então Deus responderia: “Eu Sou o Deus terrível, a e agora vou obrigá-lo a prestar contas?” Não! “Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” “Que farei, Senhor? ... Levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” O Senhor foi adiante dele e preparou-lhe o caminho (At 9:1-9; 22:4-11). Será que você diria que essa revelação terrível não era amor? Pergunte ao próprio Paulo o que ele pensa sobre isso. Paulo não disse: “Ele me encontrou, me bateu, me destruiu, Ele me levou a um julgamento tão terrível que perdi toda esperança.” Paulo disse: Ele “me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gal 2:20). Aquele encontro, terrível e devastador como deve ter sido, foi um encontro com o Amado de sua alma.
Novamente afirmo: nós temos que reformular mais uma vez nossa concepção do amor divino. Não se trata daquela coisa doentia e sentimental que chamamos de amor. É algo tremendo. Assim, temos que refazer nossa concepção do amor divino de modo a vermos que nossos interesses mais altos por toda a eternidade requerem que Deus trate muito fielmente conosco. E quanto mais nós realmente conhecermos o coração de Deus, mais estaremos prontos a dizer: “Tu és justo, Senhor; mesmo naquilo que eu chamaria de Teu duro tratamento comigo, Tu és justo”.
Em seu amor, Deus tem o final em vista, não somente o apaziguar de uma criança impaciente com um pedaço de pão embebido no leite. Nós somos chamados à Sua glória eterna e “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (II Co. 4:17). Mas nós nem sempre cremos nisso quando a aflição está sobre nós. Nem mesmo chamamos tal aflição de “leve”. Entretanto, Ele sabe quão transcendental e infinitamente a glória excede tal sofrimento. Ele decidiu com a grandiosidade do final em vista. Para Ele, vale a pena ser fiel conosco e não deixar que nada passe daquilo que venha nos tirar do premio glorioso de Sua glória ou que de alguma forma invista contra isso.
Ele sabe muito bem que quando estivermos com Ele no provir, poderíamos perceber alguma coisa que não nos foi tirada e tratada por causa do sofrimento e da dor que isso teria nos causado. Notaríamos que algo não foi tratado porque teríamos reclamado e murmurado. Diríamos então a Ele: “Senhor, porque Tu não fizeste isso apesar de mim?” Como o Senhor conhece o final e trata conosco á luz disso, o fiel e verdadeiro amor revela-se de outra natureza, diferente da nossa concepção de amor. Em nosso entendimento, amor frequentemente significa ceder o tempo todo, possuindo tudo o que queremos ou dando tudo o que os outros querem. Deus não trata conosco como criancinhas, mas como filhos (Hb. 12:7). Como você pode perceber, toda esta visão é uma completa e detalhada consumação do amor.
 
As igrejas desafiadas a amar
 
Ao passarmos aos dois próximos capítulos de Apocalipse, encontramos as igrejas. Aqui, o Senhor está tratando com as igrejas na base da visão. Isso pode ser percebido ao observar que cada uma das sete mensagens às igrejas salienta alguma característica da visão de Cristo no primeiro capítulo. Você pode notar isso, pois as mesmas frases usadas na visão do capítulo um são também usadas em relação às igrejas respectivamente. Assim, Ele está tratando com as igrejas na base dEle próprio, como alguém plenamente apresentado e, deste modo, se a visão é a personificação de plena do amor, Ele está tratando com todas as igrejas naquela base.
Você pode observar que as mensagens e as igrejas estão delimitadas de Éfeso à Laodicéia. As igrejas não estão isoladas, mas relacionadas entre si por um tema comum. Em Éfeso e Laodicéia o problema é o amor imperfeito. Éfeso: “abandonaste o teu primeiro amor”. Laodicéia: “nem és quente, nem frio”. O problema todo com essas igrejas é o amor. Vamos rapidamente observá-las em separado.
 
O primeiro amor cobrindo todas as coisas
 
Algo maravilhoso ocorre em Éfeso, onde todas as coisas começam: tudo depende do amor. “Abandonaste o teu primeiro amor” (Ap. 2:4). O que é o primeiro amor? Bem, o primeiro é totalmente inclusivo em sua natureza. Posteriormente, não seremos capazes de encontrar qualquer característica do amor sem encontrá-la antes no primeiro amor. O primeiro amor cobre todo o terreno do amor. Não podemos medir o significado do primeiro amor. Ele é tudo, é tudo o que podemos dizer sobre o amor: completamente altruísta, generoso, desinteressado. Ele é feroz, é abrasador, é completamente fervoroso, forte e fiel. Esse é o lugar onde o Senhor começa. O primeiro amor é a base na qual o Senhor principia todo este tema, abrangendo todas as características do amor. Assim, em relação ao objetivo supremo, podemos ver através de Éfeso que aquilo que o Senhor precisa ter na Sua igreja é amor inclusivo, amor em todas as suas características. Ao final, Ele vai retornar ao princípio e trazer Sua Igreja do mesmo modo de volta àquela base. Claro que deve ter existido um primeiro amor, porque não se pode partir de algo que nunca tenha existido. E isso nos desafiará. O Senhor falou a Israel através de um profeta com um suspiro de decepção e pesar: “Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem e do teu amor, quando noiva e de como me seguias no deserto, numa terra em que não se semeia” (Jr. 2:2). Isso é o que o amor fará. Ao mor seguirá seu amado num deserto onde não há nada para a subsistência.
Se necessário, ele morrerá de inanição de modo a permanecer com seu amado. “Lembro-me de ti... do teu amor quando noiva.” Amor inclusivo é a base sobre a qual o senhor começa tudo e com certeza Ele está dizendo: “Eu não posso ficar satisfeito com nada menos do que isso”. Sim, existe amor em Éfeso, não há dúvida a respeito disso. “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança” – e mais isso, isso e aquilo. Não é que eles não tenham amor, mas sim, que eles não têm o seu primeiro amor, aquele amor completo, inclusivo e multiforme. Este é o problema.
Deixemos que isso fale aos nossos corações. Todos nós amamos o senhor e eu creio que verdadeiramente podemos dizer isso. Nós amamos o Senhor e faríamos muito por Ele. Contudo, será que o nosso amor é desse tipo? Todas as coisas em nossas vidas são inspiradas pelo amor? Ou será que muitas delas são vividas sob um senso de dever, de obrigação ou necessidade, de ter que ser feito? Será que existem outros motivos, outros interesses e propósitos que nos mantém no trabalho de Deus? Será o temor de que nós não devemos desistir pois alguma coisa poderia acontecer conosco? Isso tudo está num nível inferior de vida. Amor inclusivo é o ponto de partida de Deus e ele diz: “Eu não posso estar satisfeito com nada menos, ainda que você se esforce, seja paciente e tenha muitas outras qualidades que sejam louváveis”. O testemunho realmente se foi quando o primeiro amor se foi. Contudo, muita coisa permanece.
 
A natureza do primeiro amor
 
(a) amor sofredor
Agora vamos nos deter na igreja de Esmirna. Veremos que um intenso sofrimento se abateu sobre aquela igreja, um período de sofrimento no qual será necessário ser fiel até a morte. O Senhor, na abrangência do primeiro amor, diria e diz, como vejo aqui, que o primeiro amor é amor sofredor. Isso é demonstrado por aquilo que você passará por amor ao Senhor, o que você suportará, o que você agüentará. Isso não se refere apenas à parte do mundo a qual você irá para ministrar ao pagão e derramar sua vida pelo Senhor, mas também ao que você suportará em casa, o que você suportará em outros cristãos, o que você suportará em martírio diário de amor pelo seu Senhor. Tudo isso sem um espírito vingativo, sem esperar para ver aquele que lhe causaram sofrimento e aflição elevados, eles mesmo, a sofrer por causa disso. Amor sofredor: isso é primeiro amor. Você está sofrendo, e sofrendo injustamente? Pedro diz: “Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato (“graça” na margem da Versão Revisada e, inglês) a Deus” (I Pedro 2:20). Como já dissemos, graça é apenas outro nome para amor. Amor sofredor – isso é primeiro amor.
Eu poderia ilustrar esse ponto, mas não é necessário fazer isso. Você sabe muito bem que numa primeira devoção sincera a qualquer objeto, você está preparado a passar qualquer coisa por aquele objeto. Não importa o que as pessoas dizem, o amor é mais forte do que todos os obstáculos.
 
(b) amor que discerne
A próxima igreja é a de Pérgamo. Nela temos uma condição terrível de mistura, contaminação e comprometimento com coisas malignas. Se procurarmos pela causa disso, veremos que a igreja de Pérgamo não fez a devida distinção entre coisas que são diferentes, ou seja, entre o que é do Senhor e o que não é dele. Ela fez concessões devido a sua visão espiritual imperfeita. Desse modo, o fato em questão é que o primeiro amor é um amor que discerne. Há muito sobre isso na Bíblia. Paulo é rico na questão do amor com discernimento: “...iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef. 1:18). “Iluminados os olhos do vosso coração”: o amor que discerne. O amor está tão afastado da cegueira quanto o céu está da terra.
“O amor é cego?” Não, o verdadeiro amor não é cego. O fato é que o amor verdadeiro tudo vê, mas transcende todas as coisas. O amor de Cristo por seus discípulos não era um amor cego que não conhecia Seus homens, um amor ingênuo, iludido, enganoso, que finalmente descobriu que eles não eram os homens que Ele pensou que fossem. Não, “porque os conhecia a todos” (Jô. 2:24). Seu amor via todas as coisas e podia dizer-lhes antecipadamente tudo o que iriam fazer. Contudo, o amor persistiu a despeito de tudo. O amor é uma maravilhosa maneira de percepção. Se você está consumido por um amor ardente pelo Senhor, você será muito rápido em sentir igualmente o que é duvidoso e questionável. Você não necessitará que frequentemente lhe digam quando uma coisa não está certa. O amor pelo Senhor o fará ver e sentir rapidamente que há alguma coisa que necessita ser ajustada. No momento, você pode até nem saber o que é, mas você sente que as coisas não estão bem. O amor fará isso. Contudo, nem mesmo toda a instrução do mundo poderá produzir tal coisa. Você pode ter tudo isso explicado através da Palavra de Deus e mesmo assim dizer: “Tudo bem, já que você está afirmando tal coisa, já que isso está escrito na Bíblia, eu vou fazer, vou obedecer.” Você acha que isso é suficiente? Tais coisas nunca lhe foram reveladas através dos olhos do seu coração. Entretanto, se esse amor que discerne realmente encheu o seu coração através de toda a inteligência do Espírito Santo que em você habita, você sentirá isso sem precisar que outros lhe digam. Se algo for trazido a você através da Palavra, no seu interior você dirá, “Sim, eu sei que isso é certo, o Senhor estame dizendo que isso é certo”.
Você não acha que este é o tipo de cristão que o Senhor está procurando e que Ele precisa nos dias do fim? É isso que Ele teve em mente desde o princípio e é isso que Ele chama de primeiro amor: rapidez para perceber o que necessita ser tirado ou acrescentado, para identificar os ajustes necessários e para proceder de acorde. Você não precisa andar à volta dizendo aos outros: “Por favor, faça isso. Você não se dá conta que pode ajudar desta maneira?” não é preciso fazer isso onde não há devoção, onde o amor é vigilante m todo o tempo, onde há vivacidade, percepção, prontidão para obedecer sem que todas as vezes seja dito o que é preciso ser feito. Real devoção pelo Senhor é algo que supera em muito o legalismo. O primeiro amor é o amor que discerne.
Eu gostaria de gastar todo meu tempo nessa questão do amor com discernimento porque há muito o que se dizer a respeito disso. Nós não crescemos por ensinos ou informação, por sermos enchidos com a Bíblia, suas doutrinas e verdades, por mais maravilhosas, verdadeiras e grandes que elas sejam. Somente crescemos pelo amor e crescemos pelo amor em termos de discernimento espiritual. “O amor edifica” (I Co. 8:1). Sim, o amor edifica por que nos dá discernimento espiritual. O mais simples dos filhos de Deus, que nunca tenha sido instruído em coisas mais profundas no meio de uma grande riqueza de ensino, mas que ama ao Senhor, fará avanços muito maiores no crescimento espiritual do que aqueles que têm tudo na mente e no intelecto e não através dos olhos do coração. Se há amor rela, não haverá comprometimento com o engano, com o erro, com concessões a coisas questionáveis. Não haverá aquela demora em abandonar coisas que mesmo não sendo totalmente erradas, seria melhor que não estivessem ali. O Espírito Santo pode acompanhar-nos nessa forma de andar.
Acaso não temos visto irmãos fazerem todo tipo de mudança m seus hábitos, em suas maneiras, em seus adornos e modo de vestir, á medida que eles crescem espiritualmente, devido a um intenso amor pelo Senhor, sem que ninguém tenha lhes dito absolutamente nada? Se alguém lhes houvesse chamado a atenção para corrigi-los em vários pontos, eles talvez respondessem: “Tudo bem, ele disse que nós não devemos fazer isso”. Será que isso é uma resposta satisfatória? Claro que não! Todavia, sem que nunca estas coisas tenham sido mencionadas, temos visto pessoas cativadas pelo amor de Deus, algumas logo no começo de sua vida cristã, mudando visivelmente sua aparência externa nos meses seguintes, tornando-se pessoas diferentes. O amor é a chave. Assim, você pode ver porque o Senhor falou de tal maneira à igreja de Pérgamo. O que estava faltando em Pérgamo e consequentemente o que será necessário no final é o primeiro amor marcado pelo discernimento.
 
(c) amor que não faz concessões
Em Tiatira, novamente encontramos uma situação ruim e também triste, um estado de tragédia espiritual. Observe a linguagem, os nomes e a história por trás de certos nomes apresentados. Trata-se da história da sedução de Israel. Eles foram seduzidos e corrompidos através da sedução. Esse é o resumo da história de Tiatira. Desse modo, qual é a condição, a maneira pela qual o amor irá se expressar? Se os comprometimentos em Pérgamo requerem amor com discernimento, a sedução e corrupção em Tiatira demandam um amor que não faz concessões, repudiando Balaão e todos do seu tipo. Não pode haver nenhum acordo, nenhuma concessão que leve à confusão. Não pode haver misturas, ou tentar acomodar coisas contrárias: nem o uso de linho junto à lã, nem arar com boi e jumento, que são símbolos de duas realidades, de duas naturezas distintas. Nada que tente juntar a vida da carne e a do Espírito pode ser admitido. Na realidade, nenhuma aliança pode ser estabelecida entre a carne e o Espírito, entre o mundo e Cristo. Em Tiatira, voltar ao primeiro amor significa não fazer concessões, misturas ou confusão entre coisas distintas.
 
(d) amor discriminador
Qual é a conclusão que se pode obter em relação a Sardes? Tens nome de que vives e estás morto” (Ap. 3:1). Se você observar a mensagem à igreja de Sardes e tentar resumi-la, qual é a palavra que concentra tudo? Você chegará à conclusão que é indefinição. Assim, à luz de todo o padrão, nós podemos dizer que o primeiro amor, o amor supremo, o amor de Cristo, o amor que Ele está buscando é um amor discriminador que distingue você como claramente definido para o Senhor e para tudo o que é do Senhor. Trata-se de algo diferente, distinto, destacado, definido inconfundivelmente pelo amor que o caracteriza e governa. O que estabelece a diferença de todas as outras coisas é esse maravilhoso amor, e esse grande amor resulta numa distinção de vida. Você não pode ser indefinido se for governado por esse tipo de amor. O primeiro amor não se importa nem um pouco com o que as pessoas pensam ou dizem. É verdade que as pessoas estão dizendo isto e aquilo sobre o amado que está nas mãos do primeiro amor. Elas podem usar todo tipo de linguagem: “Ele é um tolo, ele está louco!”, mas isso não importa. Esse amor está tornando os filhos de Deus muito objetivos: eles têm apenas um alvo, um plano, um pensamento, uma intenção. Eles são um povo caracterizado por uma só coisa e não por duas. Não há dúvidas a respeito disso. Nós temos uma maneira humorística de nos referirmos a pessoas que estão nessa condição. “Ele está amando, não há como negar; tudo está perdido.” Há uma coisa e uma coisa apenas naquela vida. E é assim mesmo que deve ser. Jovens, vocês certamente nunca tiveram qualquer relacionamento que no começo não tenha sido assim. O primeiro amor é assim e o Senhor diz: “Eu quero que estejas onde estavas no começo”. Ou talvez devamos dizer: “Eu quero que estejas onde eu sempre estive. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último; Eu sou assim do começo ao fim. Eu quero que você volte a ter um amor discriminador”.
 
(e) amor que persevera
Filadélfia é resumida muito rapidamente. Enquanto seu próprio nome significa “amor fraternal”, perseverança é a palavra que resume esta mensagem: “A palavra da minha perseverança” (Ap. 3:10). O primeiro amor é um amor paciente, ou, usando outra palavra que está sempre na margem do Novo Testamento quando se trata de paciência, é amor inabalável. Esse é o primeiro amor, o amor de Cristo. “Ele amou-os até o fim” (Jô. 13:1). “Com amor eterno te amei” (Jr. 31:3). Quão grande triunfo esse tipo de amor foi no passado e é hoje em dia! Ele necessita de perseverança para prosseguir diante de tudo que o amor tem que enfrentar, sofrer e suportar. Essa é a qualidade do amor de Deus: amor inabalável.
 
(f) amor fervoroso
Finalmente, temos a igreja de Laodicéia. Qual é a palavra que resume Laodicéia? É a mediocridade: nenhuma coisa nem outra, nada importante, nada positivo. Não podemos dizer que eles não são cristãos, mas também não podemos dizer muita coisa boa a respeito deles como cristãos. Eles são muito comuns. Não existe tal coisa como um primeiro amor comum. No primeiro amor você é uma pessoa extraordinária. O que é então, o primeiro amor? Em contraste com laodicéia, é um amor fervoroso, o que quer dizer um amor apaixonado, incandescente, ardoroso.
Essa é a essência do primeiro amor: amor sofredor, amor que discerne, que não faz concessões, que discrimina, que persevera e que é fervoroso. Será que já temos a chave para as cartas às sete igrejas do Apocalipse? Será que temos a chave para o fim dos tempos? Pode ser que haja outra, mas ainda não a encontrei. Penso que não estamos equivocados do concluir que o Senhor falará à Igreja. Ao Seu povo, a nós nestes dias do fim, e o assunto sobre o qual ele vai falar é a questão do amor. Ele enfatizará isso mais do que qualquer outra coisa. Todos os outros aspectos da verdade são importantes, e eles serão o rumo no qual o amor será posto em prática. Contudo, o fundamento, a fonte de tudo, o fator que impregnará tudo será necessariamente o amor divino. Seja o serviço ao Senhor, seja a própria verdade do eterno chamado e vocação da Igreja, seja a grandiosidade da obra da cruz, seja o que for no que diz respeito aos aspectos da única verdade, por dentro e através de tudo deve estar esse divino amor. É possível possuir as coisas em si mesmas (ou seja, as verdades, se você prefere chamá-las assim). Contudo, se as possuirmos sem amor, em si mesmas, elas são como nada. Que o Senhor possa escrever isso nos nossos corações.
 

Por Theodore Austin-Sparks

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com