O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo

por Thomas H. Matthews, Brasil
 
Todos que conhecem bem os quatro Evangelhos sabem que o Evangelho de João dá muito destaque ao Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo. A preciosa revelação da vinda do “Consolador” logo vem à mente. É a este Evangelho, na medida em que ele desenvolve este assunto, que dirigimos a atenção dos leitores deste capítulo. 
 
João 1:32-33
Embora nenhum ensino tenha sido dado pelo Senhor Jesus na ocasião do Seu batismo, parece oportuno considerar aquela ocorrência maravilhosa e profundamente significante. O escritor não menciona o batismo do Senhor, mas fala da descida do Espírito Santo naquela ocasião.
O testemunho de João Batista foi: “Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre Ele”. As palavras “e repousar sobre Ele” não se encontram nas passagens correspondentes nos Evangelhos Sinópticos.
Assim como a pomba retornou à arca com a folha de oliveira “arrancada” no bico, anunciando uma nova era a Noé (Gn 8:11), também aquela pomba que repousou, e era realmente o Espírito Santo, anunciava uma nova era que seria iniciada pelo Senhor Jesus. Ele haveria de batizar com o Espírito Santo (v. 33). João, e muitos outros desde então, tem realizado batismos na água, mas batizar no Espírito Santo é algo que somente uma Pessoa Divina pode fazer. Assim, muito apropriadamente, João “deu testemunho” de que Este era o Filho de Deus. Essa nova era se iniciou quando, em Atos 2, “cumpriu-se o dia de Pentecostes”. Esta é a era maravilhosa do “um corpo” no qual todos os cristãos, desde o dia de Pentecostes, são batizados. Isto significa não somente uma ligação unificadora com todos os outros cristãos, mas também uma união indissolúvel com o próprio Cabeça do corpo.
John F. Walvoord afirma: Da natureza da pomba, quando usada como uma figura do Espírito Santo, podemos deduzir que pelo menos quatro aspectos do Espírito Santo estão em evidência: 
1) beleza; 
2) mansidão; 
3) paz; 
4) natureza e origem celestial. 
A pomba, pelas suas características gerais, é um tipo apropriado do Espírito Santo.
Visto que todas essas características foram encontradas com perfeição no Senhor Jesus, certamente foi com evidente prazer que o Espírito Divino “repousou” sobre o Filho de Deus! No dia seguinte, João “estava outra vez ali”, mas Jesus “passava” (vs. 35-36). O ministério de João estava chegando ao seu fim, mas o do Senhor tinha que ir mais adiante. João O descreve como “o Cordeiro de Deus” (v. 36). O caráter de pomba do Espírito combina tão bem com o caráter de cordeiro do Senhor. O caráter de pomba sugere a sensibilidade do Espírito, e o caráter de cordeiro do Senhor sugere a Sua submissão. Mas a referência ao Senhor Jesus como o Cordeiro de Deus tem mais do que submissão em vista. Ela nos faz pensar na Sua morte e de livramento do pecado.
 
João 3:5, 8
O “mestre de Israel” foi levemente censurado pelo Senhor pela sua falta de conhecimento sobre o novo nascimento. Alguém na sua posição deveria ter tido algum conhecimento do assunto, pela sua leitura de passagens como Ezequiel 36:25-27. Como resultado da conversa daquela noite milhares de pessoas, iletradas e acadêmicas, têm descoberto a necessidade e o significado do novo nascimento. O Senhor explicou que é um nascimento da “água e do Espírito”. Ser nascido da água corresponde ao termo “aquele que está lavado” (Jo 13:10) e também ao comentário adicional “estais limpos”. É uma referência à purificação que é uma parte essencial do novo nascimento. De fato os dois pensamentos, ser nascido da água e do Espírito, bem podem ser relacionados com a “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3: 5).
Nas bem-conhecidas palavras do v. 8, o Senhor apresenta o vento como uma parábola do Espírito e Sua atividade. No grego, a mesma palavra é usada para “espírito” e “vento”. Os homens não podem controlar o vento; “ele sopra onde quer”. Assim o novo nascimento produzido pelo Espírito está além do poder humano de efetuar e compreender. O vento é invisível, ainda que seus efeitos estejam longe de serem invisíveis. 
Assim o nascimento do Espírito não pode ser visto no momento em que acontece, mas sem dúvida seus efeitos, em termos de uma nova vida, são manifestos aos olhos de todos.
 
João 3: 34
Neste versículo temos a afirmação: “… não [Lhe] dá Deus o Espírito por medida”. É verdade que a palavra “lhe” não consta do texto original, mas a referência ao Senhor Jesus é clara. Deus enviou muitos profetas ao Seu povo. Eles provaram a medida necessária do Espírito.
Mas o Espírito repousou no Senhor Jesus numa medida plena. “O testemunho de Jesus é a perfeita verdade de Deus. Ele é o mensageiro perfeito de Deus e entrega a mensagem de Deus de forma perfeita”.* Essa passagem triunfante leva o assunto mais adiante, dizendo: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos” (v. 35). Ele é o Emissário perfeito de Deus. Felizes aqueles que recebem o Seu testemunho (v. 33), pois deles é a vida eterna (v. 36).
 
João 4:13-14; 7:37-39
É evidente que várias passagens do Evangelho de João têm um significado relacionado com o futuro. As duas passagens que vamos considerar agora são exemplos disso. Dirigindo-Se à mulher samaritana, o Senhor disse: “… mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d’água que salte para a vida eterna”. Parece que palavras semelhantes a estas, encontradas em 7:38-39, são aplicáveis a esta afirmação, isto é, a explicação: “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que Nele cressem…”. A “fonte de água que salte para a vida eterna” certamente é o resultado de ser nascido do Espírito. A habitação do Espírito na alma renascida é uma fonte infalível de satisfação. O encanto da vida eterna é o prazer da vida futura conhecida e desfrutada nesta vida. A passagem do cap. 7 não somente indica a satisfação pessoal interior, mas que esta fonte alcança também a outros. Talvez podemos ver um exemplo do correr de “rios de água viva” numa alma recém nascida na exclamação da mulher samaritana: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?” (v. 29). O prazer presente nas “fontes de águas” é apenas uma antecipação daquilo que é apresentado em Apocalipse 22:1: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro”. Ninguém aqui na Terra pode formar uma concepção adequada das alegrias indescritíveis da vida eterna, como indicadas nestas palavras. 
J.N. Darby (1800-1882) procurou compreender esta verdade ao escrever: 
Cordeiro e Deus, no Céu!
Conheço a fonte ali 
De gozo e paz sem descrição 
Que eu sei ser minha em Ti.
Mas quem pode o fulgor
Da viva luz contar,
Onde Deus vive, e o resplendor
Do Cordeiro apreciar?
Deus e o Cordeiro irão
A luz e o Templo ser
E as hostes gloriosas vão
Sua glória compartilhar!
 
Deus é, verdadeiramente, o Deus de refrigério e a fonte de verdadeira satisfação. Chegando às últimas páginas da Bíblia, podemos voltar às primeiras, e ali encontramos um rio sempre se estendendo, enriquecendo o solo que produziu os frutos sadios do Jardim do Éden. Mais tarde, no Salmo 46, em relação à Jerusalém terrestre, lemos: “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus” (v. 4). Parece claro que essa é uma referência ao próprio Deus em toda a Sua plenitude: “Deus está no meio dela: não se abalará. Deus a ajudará, já ao romper da manhã” (v. 5).
Em relação à Jerusalém dos dias Milenares diz Isaías 33:21: “Mas ali o glorioso Senhor será para nós um lugar de rios e correntes largas”.
O quadro consistente apresentado em Apocalipse 22, Salmo 46 e Isaías 33 forma um grande contraste com a Jerusalém dos dias do Senhor, com suas “festas dos judeus”, tão vazias de conteúdo espiritual (Jo 7:2). 
Para aqueles que sentiam a aridez e a esterilidade da religião destituída do poder de Deus, o bendito Senhor estendeu a oferta de “rios de água viva”, cuja plena experiência viria com a dádiva do Espírito Santo.
 
João 6:63
Neste versículo o Senhor Jesus diz: “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são espírito e vida”.
O alimentar dos cinco mil (vs. 5-13) forma o pano de fundo da conversa que o Senhor Jesus teve, mais tarde, com os judeus e alguns discípulos professos em Cafarnaum. Ele Se apresenta como o “verdadeiro Pão do céu” (v. 32). Assim Ele é visto como o verdadeiro maná. 
Os judeus murmuravam por causa da Sua reivindicação de ser o verdadeiro pão que desceu do Céu, palavras que claramente indicavam a Sua encarnação (v. 41). Mais adiante, no v. 51, o Senhor fala da Sua morte, descrevendo-a como a entrega da Sua carne pela vida do mundo. Isso é explicado em mais detalhe no v. 53, onde Ele faz a seguinte impressionante afirmação: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Comer a Sua carne e beber o Seu sangue é uma forma mais expressiva de falar sobre confiança nEle. Isso se torna claro ao compararmos o v. 47 (“Aquele que crê em Mim tem a vida eterna”) com o v. 54. Ambos conduzem à mesma coisa. A aceitação plena do Senhor Jesus como Salvador inclui a aceitação da Sua morte como a grande base da salvação. 
Assim como eles contestaram a referência à Sua encarnação, também consideraram a referência à Sua morte um “duro discurso” (v. 60). 
O Senhor responde falando da Sua ascensão vindoura ao Céu (v. 62). 
A pergunta quase pressupõe a rejeição deles disso também. Em seguida Ele diz: “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita …” Só podemos oferecer uma sugestão quanto à importância dessas palavras no contexto. Seu raciocínio carnal os manteria nas trevas da incredulidade para sempre. Somente ao responderem aos apelos do Espírito poderiam eles ser levados a entender o significado espiritual das Suas palavras, e assim, pela fé nEle, nascerem do Espírito. 
 
Ensino sobre o Consolador, dado no Cenáculo
 
João 14:16-17
Em relação ao ministério no cenáculo, o já falecido William Trew (1902-1971) fez a seguinte afirmação: “Os caps. 13-16 contém as palavras do Filho de Deus transbordantes de amor para os Seus — um legado espiritual de riqueza eterna do qual podemos sacar e desfrutar tão plenamente quanto quisermos. Nunca seremos capazes de esgotar o suprimento diário”. Uma análise cuidadosa dos capítulos servirá apenas para confirmar estas palavras.
As questões levantadas pelos discípulos, na primeira parte do cap.14, revelam quão inadequadamente eles haviam compreendido a revelação do Pai no Filho, e quão nebulosa era a visão deles da Sua morte, ressurreição e ascensão ao Pai. Como então iriam eles sobreviver na Sua ausência? A resposta é a promessa do Consolador. Ele é descrito como “outro Consolador”. Eles já tinham um. Aquele que havia de vir seria igual àquele que já conheciam. Ele ficaria com eles “para sempre”. Essa era uma revelação de uma verdade de tremenda importância para esses homens. Alguém igual Àquele que já era conhecido havia de vir, e viria para ficar! Assim, ao invés de serem prejudicados pela “ida” do Senhor Jesus, eles teriam a vantagem de um segundo Consolador. 
A dimensão adicional é importante: “estará em vós”. O que significa ser habitado pelo Espírito Santo? Romanos 5:5 explica: “O amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. O comentário Jamieson, Fausset e Brown diz o seguinte sobre esse versículo:
E como pode essa esperança de glória, que como cristãos estimamos, nos deixar envergonhados quando sentimos o próprio Deus, pelo Seu Espírito que nos foi dado, inundar os nossos corações com as sensações doces e confortantes do Seu maravilhoso amor para conosco em Cristo Jesus? 1 Coríntios 2:12 afirma: “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”. Ler versículos como esses nos fazem lembrar as palavras do Senhor Jesus em João 7:38: “…rios de água viva correrão do seu ventre”. Que abundância de bênção e poder para servir estava contida na promessa de que o Consolador estaria “neles”!
Devemos notar que o Senhor descreve o Consolador como “o Espírito de verdade”. O que está envolvido nisso ficará mais claro no cap. 16:13-15. A ocorrência de três referências ao “Espírito de verdade” (14:17, 15:26, 16:13), junto com a referência à “Tua verdade”, deixa bem claro a importância, aos olhos do Senhor, da verdade para a manutenção do testemunho na Sua ausência. Todos os variados aspectos do ensino se juntam para formar “a verdade”. O Senhor não fala de “verdades”, mas de “a verdade”. Feliz o filho de Deus que tem encontrado o seu lar espiritual onde a verdade ensinada pode ser confrontada com toda a Escritura. Usando a linguagem de II Pedro 1:3, podemos dizer que para tal pessoa foi concedido “tudo o que diz respeito à vida e piedade”.
É importante observar a palavra “e” no começo do v. 16, e notar o versículo anterior: “Se me amais, guardai os Meus mandamentos”. 
Depois disso o Senhor diz: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”. A sugestão parece ser que corações amorosos e obedientes serão um lar apropriado para o Espírito de verdade. E é assim ainda hoje.
O comentário do Senhor: “… que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece”, deixa claro que a presença do Espírito Santo irá salientar a separação deles do mundo. O mundo não O pode receber. A atitude do mundo para com o Espírito Santo e Suas manifestações é vista com clareza no dia de Pentecostes em Atos 2. Na melhor das hipóteses o mundo fica confuso e exclama: “Que quer isto dizer?” (v. 12). E na pior, ele escarnece e diz: “Estão cheios de mosto” (v. 13).
 
João 14:26
Tendo apresentado o assunto ao falar de “outro Consolador” (v. 16), o Senhor continua o Seu ensino mantendo este título diante dos discípulos.
Veja 14:26, 15:26, 16:7. Somente no ministério dado no Cenáculo é que o Espírito Santo de Deus é assim chamado. É de conhecimento geral que a palavra “advogado” em I João 2:1 é uma tradução desta mesma palavra grega, e se refere ao Senhor Jesus Cristo. Como esta palavra preciosa deve ter-se gravado na memória dos onze, durante cada fase do seu ministério, até o final da jornada! Para eles sempre estaria associada com aquela noite de lembranças comoventes! Eles teriam entendido o significado da palavra: alguém que está ao seu lado para ajudar, de fato alguém que está sempre com você e que nunca lhe deixará. 
Ao considerar as referências ao “Consolador” há muito que aprender quanto à perfeita harmonia da Trindade. Em João 14:16 o Filho “rogará ao Pai”, como alguém em posição de igualdade com Ele. Não
há dúvida quanto ao resultado do pedido: “Ele vos dará …” Também não há nenhuma dúvida quanto ao resultado da missão do Espírito. A execução perfeita da Sua tarefa não pode ser questionada. Agora o v. 26 diz que o Pai há de enviar o Espírito Santo em nome do Filho. A Trindade age em perfeita harmonia para a manutenção do testemunho.
O Espírito Santo será o Divino Mestre e realizará um milagre na memória dos discípulos, trazendo à lembrança deles “tudo quanto vos tenho dito”. Esta certamente é a base para os quatro Evangelhos. Mateus estava presente nessa ocasião, João também. Somos informados de que João escreveu o seu Evangelho muitos anos mais tarde. Se olharmos numa Bíblia que tem as palavras do Senhor escritas em vermelho, veremos quão plenamente a promessa do v. 26 foi cumprida. Fontes confiáveis dizem que Pedro foi o informante por trás do Evangelho de Marcos. Ele foi outro para quem a promessa foi feita, garantindo assim a precisão da pesquisa de Marcos. Sem dúvida os apóstolos estavam entre aqueles que “presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra” (Lc 1:2), dando a Lucas informações minuciosas de tudo “desde o princípio”. Os quatro Evangelhos apresentam um registro divinamente inspirado dos feitos e das palavras do Senhor, junto com acontecimentos associados. Temos, portanto, diante de nós, no ministério do Cenáculo, ensino claro quanto à importância destes preciosos relatos da vida, morte e ressurreição do Senhor. Se os retirarmos da Bíblia, ela deixa de fazer sentido, pois são o próprio coração das Escrituras. 
Não é de se admirar que o ataque a eles continue até o século XXI. É de suma importância estudar, continuamente, esses quatro grandes pilares da verdade Divina.
 
João 15:26
O contexto desse versículo é um de ódio e perseguição. No v. 18 o Senhor tinha dito: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós me odiou a Mim”. As Escrituras se cumpriram: “Odiaram-Me sem causa” (v. 25). Logo os discípulos seriam submetidos ao ódio que o Senhor provou. Ele seria crucificado como um malfeitor (Jo 18:30). 
Como poderia ser essa acusação refutada e o nome do Senhor limpo para que Ele pudesse ser proclamado como o único Salvador dos homens? 
Eis a resposta: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim. E vós também testificareis …” Atos 5:32 apresenta um cumprimento desta promessa. Com acusações tais como as que os judeus fabricaram contra o Senhor Jesus, os membros do Conselho achavam que tinham todo o direito de obrigar os discípulos a não ensinarem “nesse nome” (At 5:28). Mas a posição deles estava enfraquecendo diante do poder do Espírito de Deus nas curas maravilhosas (At 5:15-16), na libertação milagrosa da prisão (At 5:22-23), e ainda mais na defesa poderosa de Pedro, cujo testemunho da exaltação de Jesus à destra de Deus foi irresistível. Por que foi irresistível? Pedro explica: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem” (At 5:32). 
 
João 16: 7-15
O leitor desses versículos tem diante de si uma passagem de profunda importância e de verdade preciosíssima. Os discípulos bem poderiam ter questionado em suas mentes como que poderia ser proveitoso a eles que o Senhor fosse embora. Mas a Sua ida era um passo essencial no avanço do grande programa de salvação de Deus. Eles precisavam vê-la como oportuna. A mensagem do Evangelho logo soaria na cidade de Jerusalém com resultados extraordinários. Para isso era necessário que o Espírito viesse, e para que Ele viesse, o Senhor Jesus precisava morrer, ressuscitar e ser assunto aos Céus. 
Tendo vindo, o Espírito convenceria o mundo do pecado, “porque não creem em Mim”. Parece que a referência ao “mundo” tem em vista, em primeiro lugar, a nação de Israel. Toda a sua simulação de fé em Deus foi provada falsa na sua rejeição daquele que o Pai enviou. O poder do Espírito para convencer do pecado teve uma manifestação, logo no cap. 3 de Atos, quando a acusação do triste pecado de incredulidade no Cristo foi lançada contra a nação, nas palavras de Pedro: “Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. 
E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas” (At 3:14-15). Observe os resultados positivos do poder do Espírito para convencer, em Atos 4:4: “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram”. Sem dúvida o Espírito continua a Sua obra no mundo, convencendo os homens de pecado, e especialmente do pecado de incredulidade. A incredulidade estava por trás do pecado de Adão no Jardim. Isso explica a rejeição de Deus, tão comum entre os homens hoje em dia. Concluindo, podemos dizer que a rejeição do Senhor Jesus pela nação dos judeus sintetiza a antiga rebelião contra Deus no coração humano.
O Consolador também convencerá “do juízo, porque vou para Meu Pai e não Me vereis mais”. Ele foi crucificado como um criminoso comum. Esse veredito não pode permanecer! Deus o reverteu pela ressurreição e ascensão do Senhor Jesus. Os Salmos 16 e 110 foram cumpridos. Os surpreendentes acontecimentos do Dia de Pentecostes confirmam o cumprimento das Escrituras, não somente em relação à ressurreição do Senhor Jesus Cristo, mas também em relação à vinda do Espírito. A prova é conclusiva. Deus não ressuscitou um criminoso comum, mas o Seu “Santo”, agora Se regozijando na alegria de estar diante do Pai, e estar exaltado à Sua destra. O Senhor Jesus é o absolutamente Justo, e como tal, é digno de ser universalmente aclamado como o Salvador dos homens. “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (I Pe 3:18). 
A leitura cuidadosa dos capítulos iniciais de Atos impressiona o leitor com a excelência da obra de convencimento do Espírito. E como Ele ainda está aqui, que encorajamento há nestes capítulos para aqueles que estão empenhados na propagação do Evangelho. 
Falta ainda o terceiro aspecto da obra do Espírito: “… do juízo, porque já o príncipe desse mundo está julgado”. Dois grandes fatos (entre outros) foram estabelecidos na morte e ressurreição de Cristo: 
1) o ataque virulento de Satanás contra o Filho de Deus foi rechaçado no triunfo da ressurreição; 
2) sua alegação, vista pela primeira vez no Jardim do Éden, de que Deus era contra o homem, foi exposta como mentirosa na morte de Cristo por pobres pecadores.
O rebelde mais violento pode ser perdoado e reconciliado; o pecador mais imundo pode ser justificado e purificado, e tudo gratuitamente e sem preço, pela graça de Deus. Ninguém precisa perecer. Se alguns perecerem, nem mesmo o próprio Satanás poderá argumentar que foi culpa de Deus. A mentira secular de Satanás foi revelada ser o que verdadeiramente é.
Em Ester 6:13 a mulher de Hamã disse ao seu marido em relação a Mardoqueu: “Se Mardoqueu, diante de quem já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele, antes certamente cairás diante dele”. Assim também, diante do Senhor Jesus, o “Príncipe deste Mundo” começou a cair, e “certamente cairá diante Ele” (Ap 20:10).
Na seção seguinte temos uma explicação maravilhosa sobre a fonte e transmissão da verdade. O Espírito de Verdade guiará a toda a verdade.
Isso Ele recebe do Filho, porque “há de receber o que é Meu e vo-lo há de anunciar” (v. 15). Mas o Filho é o possuidor de “tudo o que o Pai tem”. Quem pode compreender a riqueza infinita desse “tudo”? É a plenitude da verdade e a perfeição de transmissão! 
Se mais cedo, em 14:25-26, foi dada a promessa que é a base dos quatro Evangelhos, aqui, em 16:13-15, há uma promessa que foi em grande parte cumprida com os apóstolos, e especialmente através do ministério singular do apóstolo Paulo. Observando que, no v. 13, o Senhor acrescenta “e vos anunciará o que há de vir”, o cumprimento desta parte claramente aponta para as grandes partes proféticas do Novo Testamento, especialmente o Livro de Apocalipse.
É evidente então que a verdade a ser revelada é a que encontramos no Novo Testamento, e que a promessa de João 16:13 é dada ao grupo apostólico e seus associados, isto é, Paulo, Tiago (o escritor da epístola) e Judas. Assim, no Novo Testamento toda a verdade foi comunicada. Outras supostas revelações de verdade são falsas. Se alguém perguntar onde se encaixam na promessa os cristãos do século XXI, a resposta é tanto simples como preciosa. O grande depósito de toda a verdade dado aos apóstolos e seus associados foi “uma vez para sempre confiada aos santos” (Jd 3, VB). Assim os santos da era presente podem se deleitar nas profundezas tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus, como vistos no grande plano de salvação em Romanos. Eles podem se deleitar num Deus para Quem haverá “glória na igreja por Jesus Cristo em todas as gerações para todo o sempre”, enquanto ponderam nas “riquezas incompreensíveis de Cristo” em Efésios. 
Enriquecimento espiritual aguarda todos na medida em que “todos os tesouros da sabedoria e da ciência” forem descobertos em Cristo (Cl 2:2-3). Para resumir, toda a riqueza da verdade Divina está diante de cada cristão enquanto ele medita no Novo Testamento.
 
João 20:22
A referência final ao Espírito Santo no Evangelho de João se encontra naquela ocasião em que o Senhor ressuscitado apareceu aos Seus discípulos no Cenáculo, e soprou sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo”. 
Naquele primeiro dia da semana, o ambiente entre os onze era de temor e apreensão. Subitamente, estando as portas fechadas, “chegou Jesus e pôs-Se no meio”. Dá para imaginar a surpresa deles, porém Ele não apenas falou de paz, mas ao fazê-lo, trouxe paz àquele grupo. Pelo sinal dos cravos e por Seu lado ferido, Ele estabeleceu Sua identidade: os outros que foram crucificados tinham o sinal dos cravos, mas somente Ele tinha o lado ferido. O temor se foi, dando lugar ao gozo: “… de sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor”. Logo a paz foi novamente manifestada e a bem conhecida voz declarou: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. Essas eram palavras familiares. 
Veja João 15:16 e especialmente João 17:18. Sua ação de soprar sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo” apresenta dificuldades que o presente escritor não é capaz de resolver. O Comentário Jamieson Fausset e Brown traz uma breve nota que vale a pena considerar: “… um penhor e primícias da efusão mais abundante do Pentecostes”. Não deve haver hesitação em definir o sentido das palavras que seguem: “Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados; e aqueles a quem os retiverdes lhes serão retidos”. Não se trata do poder de perdoar pecados. Até mesmo os escribas e fariseus sabiam que somente Deus pode perdoar pecados (Lc 5:21). Diz F. F Bruce: […] as duas formas passivas: “serão perdoados” e “serão retidos” indicam ação divina; a tarefa do pregador é declaratória, mas é Deus que, com efeito, perdoa ou retém. Aos servos de Cristo não é dada nenhuma autoridade independente da Sua, nem é dada a eles qualquer garantia de infalibilidade. 
O ensino do Senhor relacionado ao Espírito Santo, no Evangelho de João, pode ser divido em duas partes. Primeiro, há o ensino na primeira parte do Evangelho, dado durante os vários estágios do ministério público do Senhor, que termina no capítulo 12. Então começa o ensino do cenáculo, que é dado em particular aos “Onze”. As referências na primeira parte são: 3:5, 8; 6:63 e 7:37-39. As primeiras três enfatizam que o novo nascimento é uma obra do Espírito de Deus. As palavras de 7:38 levam o assunto além e mostram que a obra realizada pelo Espírito resulta em “amor, vida e gozo permanente”. Num Evangelho escrito para que os leitores possam crer (20:31), esse ensino tem um papel fundamental.
Há uma plenitude no ensino dado no cenáculo que não é encontrada nas referências iniciais. Isso é o que se espera, visto que foram os discípulos nascidos do Espírito que receberam este ensino. O ensino inicial de que o novo nascimento vem através do Espírito é a base para o que segue. O Espírito Santo virá para ficar e habitar naqueles que dEle são nascidos. Ele será a fonte do seu poder para testemunhar e os guiará em toda a verdade. Ao se aproximar da sua conclusão, o ensino apresenta a promessa de um futuro que conduz à glória eterna, pois o Espírito lhes mostrará “o que há de vir”. O Evangelho de João pode ter poucas referências proféticas, mas quanto está contido na promessa do Senhor acerca de Si mesmo: “Virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo” (14:3), e na Sua promessa acerca do Espírito: “E vos anunciará o que há de vir” (16:13). Que vislumbres de glória brilham sobre o caminho, emanando dessas duas “grandíssimas e preciosas promessas”! 
Nenhum cristão estudioso pode meditar no ensino do Senhor acerca do Espírito Santo, encontrado no Evangelho de João, sem ser encorajado e incentivado em todas as esferas da sua vida cristã. Quer seja na manutenção do testemunho em geral, ou mais especificamente, na divulgação do Evangelho e no estudo e prática da verdade divina, a presença e o auxílio constante do Espírito são garantidos enquanto os santos da era presente estiveram aqui no mundo. 
Como o orvalho que cai sobre o Hermon 
E refresca as planícies abaixo 
A santa unção do Espírito Sobre nós flui, Senhor, de Ti. 
Então quão bom e agradável é, Como um, viver em amor,
Esquecendo de tudo do presente
Na esperança de alegrias no Céu.*
Mary Peters (1813-1856).
 
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