O Deus vivo
Introdução
Temos trinta referências ao “Deus vivo” na Bíblia, e é interessante notar que há quinze em cada Testamento. No Velho Testamento temos três títulos divinos usando o adjetivo “vivo”. Nove vezes é o “Elohim vivo”, que é o plural de Eloah, e indica a Trindade. É interessante que a primeira ocorrência de Elohim é em Gênesis 1:1. Quatro vezes Deus é chamado de o “El vivo” que é o forte e poderoso, e duas vezes de “Elah vivo”, ou na forma intensificada, “Elahah”. Este título está na língua dos caldeus, e corresponde a Eloah. É encontrado somente em Daniel 6:20, 26, que é a parte de Daniel escrita na língua dos caldeus. A maioria das outras noventa e três ocorrências de Elahou Elahah ocorre em Esdras, Daniel e no único versículo em Jeremias (10:11) que foi escrito na língua dos caldeus, que enfatiza a verdade e realidade do cativeiro de Judá. O leitor também pode notar que algumas vezes ambas as palavras “vivo” e “Deus” estão no plural; algumas vezes somente “Deus” está no plural, e outras vezes ambas estão no singular. Devido às limitações de espaço, estes detalhes precisam ser deixados para o estudo individual de quem se interessar.
Nas quinze referências no Novo Testamento, a palavra “Deus” é sempre a tradução da palavra grega “Theos”.
Distinção
O título “o Deus vivo” O revela como totalmente diferente dos ídolos. O salmista fala dos pagãos: “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não veem, tem ouvidos, mas não ouvem, narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam, pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta” (Sl 115:4-7). Deuteronômio 4:28 se refere aos ídolos como sendo “obra de mãos de homens, madeira e pedra, que não veem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram”. Sem considerar o terrível poder satânico que opera por traz deles, os ídolos são mortos, e sem nenhum poder inerente proveniente deles. Ezequias falou dos deuses pagãos: “Não eram deuses, mas obra de mãos de homens, madeira e pedra …” (II Rs 19:18). Habacuque fala dos ídolos sem vida: “Ai daquele que diz ao pau: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberta de ouro e prata, mas dentro dela não há espírito algum” (Hc 2:19). Para a mente esclarecida é impressionante como pessoas inteligentes podem visitar os templos dos ídolos, ou até mesmo ter um santuário na sua própria casa, onde se curvam para adorar ao ídolo. Eles até tentam alimentar o ídolo, deixando frutas de manhã, e para que não chegue a estragar, as removem ao anoitecer; mas é o seu deus! Tal insensatez é enfatizada em Is 44:14-17: “Corta para si cedros, toma, também, o cipreste e o carvalho; assim escolhe dentre as árvores do bosque, planta um olmeiro, e a chuva o faz crescer. Então serve ao homem para queimar, e toma deles, e se aquenta, e os acende, e coze pão; também faz um deus, e se prostra diante dele; também fabrica uma imagem de escultura, e ajoelha-se diante dela. Metade dele queima no fogo, com a outra metade prepara a carne para comer, assa-a e farta-se dela; também se aquenta e diz: Ora já me aquentei, já vi o fogo. Então do resto faz um deus, uma imagem de escultura; ajoelha-se diante dela e se inclina, e roga-lhe e diz: Livra-me, porquanto tu és o meu deus”. Tal idolatria é criticada por Paulo em Listra: “… Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto há neles … ” (At 14:15). E mais adiante ele diz: “Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens” (At 17:29).
Embora o título “o Deus vivo” não é mencionado, foi o fato de Deus estar vivo, em contraste com a falta de vida de Baal, que deu a Elias a coragem de se apresentar diante do perverso rei Acabe e dizer: “Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra” (I Rs 17:1).
Nosso Deus é o Deus vivo, e Ele prova estar vivo, como as páginas seguintes irão nos mostrar. Este título de Deus será visto no seu contexto, e depois tiraremos lições práticas para confortar e desafiar a cada um de nós.
Comunicação
A primeira menção do Deus vivo é encontrada em Deuteronômio cap. 5, e está relacionada com a Lei: “Porque, quem há de toda a carne que ouviu a voz do Deus vivente falando do meio do fogo, como nós, e ficou vivo?” (Dt 5:26). Vemos isto novamente no v. 24: “Eis aqui o Senhor nosso Deus nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje vimos que Deus fala com o homem e que este permanece vivo”. Neste capítulo de Deuteronômio algumas características do Deus vivo nos são apresentadas.
Ele fala
Isto é salientado, por exemplo, no v. 22: “Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa congregação … com grande voz …”, e no v. 24: “… ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje vimos que Deus fala com o homem e que este permanece vivo”.
É uma característica da imensa graça de Deus que Ele Se digna de falar com a humanidade. No Velho Testamento Ele falou “do meio do fogo, da nuvem e da escuridão” (v. 22), e os homens ficavam à distância. Entretanto, no Novo Testamento aprendemos que, “havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho …” (Hb 1:1). Anteriormente Ele falou diversas vezes e de diversas formas, mas agora Ele nos deu uma revelação completa do Seu Filho. Isto permite aos cristãos chegarem “com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé” (Hb 10:22). Somos orientados a chegar “com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4:16). Tudo isto é por meio do Filho, “porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo espírito” (Ef 2:18).
Quando Ele fala devemos prestar atenção e ouvir a voz “mansa e delicada” que falou com Elias (I Rs 19:12). Para isto precisamos de sensibilidade para ouvi-lO e espiritualidade para obedecê-lO. Não ouviremos, obviamente, uma voz audível ou articulações verbais, pois a Sua voz é sempre ouvida por meio da Sua Palavra e, portanto, é importante prestar atenção no paragrafo seguinte.
Ele escreve
Quando Moisés repetiu a Lei diante do povo ele afirmou: “… e as escreveu em duas tábuas de pedra, e a mim mas deu” (Dt 5:22). A nação deveria ouvir estes estatutos: “aprendê-los-eis, e guardá-los-eis, para os cumprir” (v. 1). Se esta fosse a responsabilidade dos que receberam o “ministério da morte”, quanto mais isto deve caracterizar a nós, que recebemos o “ministério da justiça” (II Co 3:7, 9)? O aprender, guardar e cumprir a Palavra de Deus não é opcional para aqueles que querem agradar a Deus.
Sendo que os cristãos creem que Deus revela a Sua vontade através da Sua Palavra, então é incumbência de todos passarem tempo lendo e estudando a Bíblia. Sendo que a Bíblia foi inspirada pelo Espírito Santo, e os cristãos são habitados pelo mesmo Espírito Santo desde o momento da sua salvação, é inconcebível que Ele nos guiaria a desobedecer as Escrituras. Assim a Bíblia é a regra de vida para todos os cristãos, e cada cristão, cheio do Espírito e guiado pelo Espírito, irá obedecer o que está escrito na Bíblia, sem considerar qualquer inconveniente pessoal e natural que isto possa causar.
Ele ouve
Este fato solene é revelado no v. 28: “Ouvindo, pois, o Senhor as vossas palavras, quando me faláveis, o Senhor me disse: Eu ouvi as palavras deste povo, que eles te disseram; em tudo falaram bem …”. Se nós entendêssemos esta verdade, como isto faria uma tremenda diferença nas nossas conversas! Ele ouve tudo o que falamos, como por exemplo:
Queixas — Números 11:1: “E aconteceu que queixou-se o povo, falando o que era mal aos ouvidos do Senhor; e ouvindo o Senhor, a sua ira se ascendeu; e o fogo do Senhor ardeu entre eles e consumiu os que estavam na última parte do arraial”. A palavra “queixosos” aparece só uma vez no Novo Testamento: “Estes são murmuradores, queixososda sua sorte, andando segundo as concupiscências” (Jd 16), e indica aqueles que estão continuamente descontentes. Esta palavra é usada para descrever os “ímpios” e eles, obviamente, não são boa companhia para um cristão.
Críticas — Números 12:2 “E disseram: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu”. Pessoas críticas abundam, e muitas vezes se apegam hipocritamente em coisas pequenas, das quais eles mesmos já foram culpados. Foi o próprio Senhor Jesus que disse: “E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt 7:3-5). Uma boa dose de autoexame e menos auto exaltação seria de grande ajuda estes casos.
Companheirismo — Malaquias 3:6: “Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele para os que temeram ao Senhor, e para os que se lembraram do seu nome”. Quão lindo é isto, comparado com os críticos queixosos. Como a experiência dos santos seria enriquecida se falássemos mais acerca dEle e dos Seus interesses quando nos reunimos, até mesmo socialmente.
Ele deseja
Como Ele ouviu o povo afirmar que guardaria a Sua Lei, Ele expressa o Seu desejo: “Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre” (Dt 5:29). Na Sua Onisciência Ele conhece o caminho rebelde que eles escolheriam, mas mesmo assim Ele deseja que fosse diferente. O Deus vivo só quer o melhor para nós, e não tem desejo de reter as bênçãos. Qualquer outra ideia vem daquele que, disfarçado de serpente, distorceu as palavras de Deus no jardim do Éden e disse à mulher: “Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:4-5). Ele ainda insinua que Deus retém as coisas boas de nós e que, de alguma forma, o pecado nos elevará; um fato que é a verdadeira antítese da verdade.
Subjugação
Quando os israelitas chegaram ao Jordão e estavam prestes a entrar na terra prometida, eles poderiam estar nervosos e apreensivos em relação aos inimigos que enfrentariam do outro lado. Isto seria exacerbado pelo fato que Moisés havia morrido, e eles haviam perdido seu sábio e ilustre líder. Para lhes dar segurança e acalmar seus espíritos, eles receberam uma grandiosa promessa: “Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós; e que certamente lançará de diante de vós aos cananeus, e aos heteus, e aos heveus, e aos perizeus, e aos girgazeus, e aos amorreus, e aos jebuseus” (Js 3:10). Moisés estava morto, mas Deus vive! O Deus vivo subjugaria todo inimigo e expulsaria as sete nações, algo que teria sido impossível para eles realizarem na sua própria força.
Enquanto nós cristãos hoje consideramos a maravilhosa herança que é nossa, como detalhada, por exemplo, na carta aos Efésios, pode parecer uma tarefa assustadora derrotar nossos inimigos para podermos apreciar e desfrutar da verdade, mas o Deus vivo dará toda a capacitação necessária, se estivermos dispostos a avançar e conquistar nossas possessões. Semelhantemente, em atividades evangelísticas, mesmo nestes dias difíceis, quando tão pouco parece ser feito, através de fé no poder do Deus vivo, bênçãos podem ser desfrutadas.
Proteção
Para aqueles que observavam, Davi parecia prestes a cometer suicídio. Ele estava se preparando para entrar no vale de Elá para lutar com o gigantesco Golias de Gate, e para a mente natural ele seria morto. Entretanto, a confiança de Davi não estava na sua habilidade, mas no Deus vivo. “Então falou Davi aos homens que estavam com ele, dizendo: Que farão àquele homem, que ferir a este filisteu, e tirar a afronta de sobre Israel? Quem é, pois, este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo? … Assim feria o teu servo o leão, como o urso; assim será este incircunciso filisteu como um deles; porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo” (I Sm 17:26, 36).
Havia duas coisas que pesavam no coração de Davi. É óbvio pela repetição que ele faz da expressão “incircunciso filisteu” (vs. 26, 36) que Davi estava horrorizado com o fato que este homem ímpio, profano e idólatra, pudesse aterrorizar aqueles que pertenciam ao Deus vivo. Depois ele pensou neste gigante desafiando “o exército do Deus vivo”, e ele se preocupou com o fato que a honra de Deus estava sendo desafiada.
Estas são duas grandes influências motivadoras enquanto buscamos servi-LO. Quando agimos para a Sua glória, ao invés de buscarmos a nossa própria, podemos contar com a Sua ajuda infalível. O rei Saul olhava à situação de um ponto de vista natural. “Porém Saul disse a Davi: Contra este filisteu não poderás ir para pelejar com ele; pois tu ainda és moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade” (v. 33). Saul não estava confiando no Deus vivo. Ele viu somente o gigante, e não tinha compreensão real do grande poder que poderia ter estado à sua disposição se ele tivesse confiando no Deus vivo e procurado defender a honra de Deus. Assim Deus torna possível o que parece impossível; Ele faz o ridículo sensato; Ele torna o aparentemente ilógico em lógico. O conselho do grande sábio foi: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3:5, 6). Foi a fé no Deus vivo que impeliu alguns homens a fazerem coisas que naturalmente eram totalmente ilógicas. Por exemplo, não era lógico para Noé construir uma arca quando ele nunca havia visto chuva, muito menos uma enchente; era totalmente contrário à natureza humana Abraão levar o seu filho ao lugar de sacrifício para que ele fosse a vítima; também poderíamos pensar em Josué circuncidando o exército antes da tomada de Jericó, e depois recebendo a ordem para marchar ao redor de Jericó, e finalmente gritar; Gideão enfrentando os midianitas com trezentos homens; Naamã mergulhando no rio Jordão para se purificar da lepra. Estas coisas só poderiam ser explicadas por homens atuando por fé no Deus vivo, e agindo somente para a Sua glória.
Mesmo nos nossos dias, muitos queridos cristãos pagaram um alto preço para poderem trazer alegria a Deus. Alguns precisaram sair de casa, porque desejaram obedecer a Deus e passar pelas águas do batismo. Outros foram desprezados por terem abandonado a religião de seus pais para se reunirem de forma bíblica ao Seu nome fora do arraial. Algumas queridas irmãs pagam um preço elevado para manter o padrão do vestuário e conduta que o Senhor espera de mulheres que professam a piedade.
A proteção de Deus para aqueles que se preocupam com a Sua glória também é vista na experiência do rei Ezequias, como temos em II Reis 9 e Isaías 37. A Assíria, desenfreada nas suas guerras, havia levado cativo o reino do norte de Israel, e cerca de oito anos mais tarde voltou para atacar Judá, que era governada pelo rei Ezequias. Naquele tempo o rei Ezequias ficou com medo, e por falta de fé em Deus deu muitos objetos preciosos aos assírios, e isto os satisfez por uns três anos, e então retornaram “com grande exército” (II Rs 18:17). Enquanto Rabsaqué, um embaixador e porta-voz do rei da Assíria, se gabava do que ele faria a Jerusalém, ele esperava que Ezequias se renderia sem lutar. Ele continuou a blasfemar contra Deus e disse: “Nem tampouco vos faça Ezequias confiar no Senhor, dizendo: Certamente nos livrará o Senhor, e esta cidade não será entregue na mão do rei da Assíria” (v. 30). Ele então comparou Jeová com os ídolos impotentes dos pagãos: “Porventura os deuses das nações puderam livrar, cada um a sua terra, das mãos do rei da Assíria? Que é feito dos deuses de Hamate e Arpade? Que é feito dos deuses de Sefarvaim, Hena e Iva? Porventura livraram a Samaria da minha mão? Quais são eles, dentre todos os deuses da terra, que livraram a sua terra da minha mão, para que o Senhor livrasse a Jerusalém da minha mão?” (vs. 33-35).
Foi a esta altura que Ezequias percebeu que a sua única esperança era confiar em Deus, e especialmente nAquele que era o Deus vivo. Assim Ezequias enviou uma delegação a Isaías, “e disseram-lhe: Assim diz Ezequias: Este dia é dia de angústia, de vituperação e de blasfêmia; porque os filhos chegaram ao parto, e não há forças para dá-los à luz. Bem pode ser que o Senhor teu Deus ouça todas as palavras de Rabsaqué, a quem enviou o seu senhor, o rei da Assíria, para afrontar o Deus vivo, e para vituperá-lo com as palavras que o Senhor teu Deus tem ouvido; faze, pois, oração pelo restante que subsiste” (II Rs 19:3-4). Note que Ezequias chegou ao ponto onde ele levou em conta a glória do Deus vivo, e ele estava preocupado porque Deus estava sendo vituperado. Deus controlou a situação e os assírios foram impedidos de executar o seu plano (II Rs 19:8-9) e mandaram uma carta a Ezequias, novamente indicando que Deus não os poderia livrar porque Ele era como “os deuses das nações” (II Rs 19:12).
Ezequias imediatamente estendeu a carta perante o Senhor, “e orou Ezequias perante o Senhor e disse: Ó Senhor Deus de Israel, que habitas entre os querubins, tu mesmo, só tu és Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra. Inclina Senhor, o teu ouvido, e ouve; abre, Senhor, os teus olhos e olha; e ouve as palavras de Senaqueribe, que enviou a este, para afrontar o Deus vivo. Verdade é, ó Senhor, que os reis da Assíria assolaram as nações e as suas terras, e lançaram os seus deuses no fogo; porquanto não eram deuses, mas obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso os destruíram. Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, te suplico, livra-nos da sua mão; e assim saberão todos os reinos da terra que só tu és o Senhor Deus” (II Rs 19:15-19). É de suma importância notar que ele confiava no “Deus vivo”, e fez uma grande distinção entre Deus e os ídolos das nações. Como poderíamos esperar, tal humilde apelo e total dependência em Deus trouxe grandes resultados. “Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram cadáveres. Então, Senaqueribe, rei da Assíria, partiu e se foi, e voltou e ficou em Nínive. E sucedeu que, estando ele prostrado na casa de Nisroque, seu deus, Adrameleque e Sarezer, seus filhos o feriram à espada; porém eles escaparam para a terra de Ararate, e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar” (vs. 35-37).
Quão encorajador para nós sabermos que “este Deus é o nosso Deus para sempre” (Sl 48:14).
Aspiração
No Salmo 42 chegamos à seção de Êxodo deste livro de Salmos, que começa com o salmista expressando seu desejo: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Sl 42:1-2). Assim como o livro de Êxodo começa com um povo em aflição e buscando a Deus (“os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa de sua servidão. E ouviu Deus o seu gemido”, Êx 2:23-24), assim também este Salmo. A lição que temos é que no meio de tristezas e aflição, somente Deus é o nosso refúgio, e precisamos de Um que se encarregará da nossa causa, e assim Ele é chamado “o Deus vivo”. É somente quando O apreciamos neste aspecto que podemos, no meio das tribulações, perguntar a nós mesmos: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim?” (Sl 42:5, 11; 43:5).
A depressão do salmista é profunda, e ele se refere sete vezes à “minha alma”. Talvez o motivo pela omissão do nome do autor deste salmo, é para indicar que esta pode ser a experiência de qualquer um. O salmista está cansado e fatigado, e enquanto ele é perseguido por temores e inimigos, a vida parece ser difícil demais, e ele precisa de refrigério. Isto ele só poderia encontrar em Deus, e no Deus vivo.
Um sentimento semelhante é expresso no Salmo 84:2: “A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo”. Enquanto o salmista passa pelo vale de Baca, que significa “choro”, ele anseia por Deus e por Aquele que é o “Deus vivo”. Ninguém a não ser um Deus que pode sentir e agir por ele poderia ser de alguma valia.
Deveria ser um grande conforto para cada cristão saber e apreciar o fato que Deus tem o poder e a habilidade de Se aproximar de nós, e nos preservar em cada tribulação.
Indignação
Há duas referências ao “Deus vivo” na profecia de Jeremias. São elas: “Mas o Senhor Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei Eterno; ao seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação” (10:10), e: “Mas nunca mais vos lembrareis do peso do Senhor; porque a cada um lhe servirá de peso a sua própria palavra; pois torceis as palavras do Deus vivo, do Senhor dos Exércitos, o nosso Deus” (23:36).
No cap. 10 o cenário é o contraste entre o Deus vivo e “o caminho dos gentios” (v. 2). O ímpio depende de “obra das mãos do artífice” (v. 3), e à casa de Israel é dito: “Não tenhais receio deles, pois nem podem fazer mal, nem tampouco tem poder de fazer bem” (v. 5). Entretanto, o Deus de Israel é diferente, e Jeremias pergunta: “Quem não te temeria a ti, ó Rei das nações?” (v. 7). Os ídolos “são obra de peritos”, e depois vem o glorioso “mas”: “Mas o Senhor Deus é a verdade; Ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno” (vs. 9-10).
Nunca precisaremos temer “os deuses que não fizeram os céus e a terra”, pois temos o “Deus vivo”.
No cap. 23 o Deus vivo e as Suas palavras estão em contraste evidente com as palavras dos falsos profetas. Acerca destes deuses Ele diz: “Não mandei estes profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei, contudo eles profetizaram” (v. 21). A linguagem é forte e clara. Deus diz: “profetizando mentiras em meu nome … profetizam do engano do seu coração” (vs. 25-26), e Ele afirma: “Eis que eu sou contra os que profetizam” (v. 32). Parece que o clímax da acusação contra eles é: “torceis as palavras do Deus vivo, do Senhor dos Exércitos, o nosso Deus” (v. 36). Esta má interpretação de Deus faz as pessoas “desvanecer” (v. 16), dá uma falsa segurança (v. 17), faz com que elas esqueçam o nome de Deus (v. 27), e faz “errar o meu povo com as suas mentiras, e com suas leviandades”, e o povo não tem “proveito algum” (v. 32).
Profetas verdadeiros são tão diferentes. O que o Senhor esperava deles é revelado através das perguntas: “Porque, quem esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e ouviu?” (v. 18). Ministério verdadeiro da parte de Deus teria um efeito marcante nos ouvintes: “Se tivessem estado no meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam feito voltar do seu mau caminho, e da maldade das suas ações” (v. 22). O profeta fiel é admoestado: “Aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade” (v. 28), e a mensagem não é nada leve, pois é chamada de “peso do Senhor” (v. 34).
A lição para todos os que professam falar em nome de Deus, nesta era, é que devem cuidar para que Deus e a Sua verdade sejam fielmente representadas. Para que isto aconteça, temos que gastar tempo na presença de Deus descobrindo a Sua intenção para a ocasião específica, e então a mensagem deve ser entregue com total fidelidade. Quando Paulo escreveu aos coríntios e disse: “Estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (I Co 2:3), seria difícil imaginar que ele temia os homens. Não seria preferível entender que ele temia não representar a Deus corretamente naquela cidade?
Preservação
As próximas duas referências estão em Daniel cap. 6, onde Daniel foi lançado na cova dos leões porque orou a Deus e não ao rei Dario. O rei havia sido enganado pelos seus presidentes e príncipes, que eram motivados por inveja de Daniel. O rei “ficou muito penalizado, e a favor de Daniel propôs dentro do seu coração livrá-lo” (v. 14). Os esforços do rei foram em vão, pois os inimigos de Daniel lembraram o rei: “Sabe, ó rei, que é lei dos medos e dos persas que nenhum edito ou decreto, que o rei estabeleça, se pode mudar” (v. 15). O rei não tinha alternativa a não ser executar o seu decreto, mas declarou a sua fé no Deus de Daniel. “Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel e lançaram-no na cova dos leões. E, falando o rei, disse a Daniel: O teu Deus, a quem continuamente serves, ele te livrará” (v. 16). Na manhã seguinte, após uma noite sem dormir passada em jejum, “pela manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei, e foi com pressa à cova dos leões; e chegando à cova, chamou por Daniel com voz triste; e disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo, dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” (vs. 19-20). Quando ele percebeu que Daniel estava salvo e que o Deus vivo o havia livrado, ele “escreveu a todos os povos, nações e línguas que moram em toda a terra: A paz vos seja multiplicada. Da minha parte é feito um decreto pelo qual em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre, e o seu reino não se pode destruir, e o seu domínio durará até o fim. Ele salva, livra e opera sinais e maravilhas no céu e na terra; ele salvou e livrou Daniel do poder dos leões” (vs. 25-27).
Que incentivo para nós sabermos que nosso Deus, o Deus vivo, é capaz de nos livrar de todo inimigo. Mesmo que o inimigo tenha a forma de “leão que ruge”, nosso Deus é capaz. “Maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (I Jo 4:4).
Restauração
O veredito pronunciado sobre as nações foi: “A terra certamente se prostituiu, desviando-se do Senhor” (Os 1:2). Deus havia dito: “Lo-Ami; porque vós não sois meu povo; nem eu serei vosso Deus” (v. 9). Isto foi porque a nação estava apostatando e seguindo aos ídolos das nações ao redor. Entretanto na Sua graça Ele declarou que Ele recuperaria, restauraria e reuniria a nação, e isto Ele fará. “Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo” (v. 10). Isto é citado em Romanos 9:26 para mostrar que o propósito de Deus na salvação se estenderá aos gentios. Somente o Deus vivo pode ter filhos. Ídolos mortos não podem reproduzir ou dar vida.
É confortante para nós apreciarmos o fato que nosso Deus é um Deus de restauração, e que quando somos restaurados é para a posição de filhos. Não foi permitido ao pródigo, em Lucas 15, terminar sua fala ensaiada. Quando ele confessou que era indigno de ser filho, isto bastou para o pai, e ele o interrompeu e não permitiu que dissesse: “Faze-me como um dos teus jornaleiros”. O pai lhe deu o lugar de filho ao lhe dar um anel, sapatos e a melhor roupa.
Confissão
Quando chegamos ao Novo Testamento, a primeira ocorrência deste título é por Pedro. “E chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os Seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes Ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E, Simão Pedro, respondendo disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:13-16). Esta confissão é muito ampla pois indica:
Que Jesus é o Cristo, o verdadeiro Messias de Israel: “Tu és o Cristo”;
Que Ele não era um simples homem, mas uma Pessoa divina: “o Filho do Deus vivo”;
Que há um só Deus: “o Deus vivo”;
Que Ele tem vida em Si mesmo e é a fonte de vida para outros: “o Deus vivo”.
Todo verdadeiro cristão aceita esta confissão, e é sobre estas grandes verdades que a Igreja é edificada. Este é um alicerce indestrutível e inabalável.
Uma confissão semelhante havia sido feita por Pedro quando o Senhor Jesus entregou Seu discurso sobre o pão vivo em Cafarnaum: “Nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” (Jo 6:69).
Outro aspecto da confissão é visto em Mateus 26:63, quando o sumo sacerdote, interrogando o Salvador, disse: “Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus”. O Senhor Jesus havia ficado em silêncio durante o interrogatório, recusando dar credibilidade ao falso julgamento e, irritado, o sumo sacerdote coloca o Senhor sob juramento para conseguir uma confissão. O Senhor Jesus respondeu: “Tu o disseste”. Na verdade Ele fez uma afirmação, e admitiu que o sumo sacerdote havia feito uma afirmação verdadeira. A resposta deles foi: “É réu de morte” (v. 66).
Em cada um destes casos, aprendemos que um cristão deve sempre dizer a verdade: “Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo” (Ef 4:25).
Recomendação
Alguns dos coríntios haviam se afastado de Paulo, e alguns estavam questionando a realidade do seu apostolado, e afirmando que eles próprios eram superiores a ele (veja II Coríntios caps. 10 a 13). Ao defender seu apostolado no cap. 3, ele os faz lembrar do tempo da conversão deles. Ele pergunta: “Porventura, começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?” (v. 1). Era prática no início da Igreja, e também deveria ser a prática ainda hoje, que os cristãos, indo de uma região para outra, ou viajando a negócios, levavam consigo uma carta de apresentação, recomendando-os à comunhão da igreja local onde eles não eram conhecidos. Esta é uma das provas circunstanciais de que não temos no Novo Testamento nenhuma indicação de uma “mesa aberta” ou “recepção aberta”. Entretanto, por ser ele o seu pai espiritual, ele não precisava de recomendação escrita. Eles eram a carta de Paulo: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens” (v. 2). Eles estavam permanentemente escritos no coração de Paulo, e a tremenda mudança na vida deles era “lida por todos os homens”. Ninguém poderia negar a grande obra que havia sido feita. Isto não era devido ao poder do apóstolo Paulo, era devido à operação do “Espírito do Deus vivo” (v. 3). Algo escrito num pergaminho com tinta poderia ser apagado, mas quando estava escrito, “não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração”, não poderia ser apagado. Era uma prova indelével e inegável do seu apostolado para com eles.
Separação
Em II Coríntios cap. 6 Paulo novamente usa o título “o Deus vivo”, e é para mostrar a natureza imprópria de estar ligado à falsa religião da idolatria, enquanto confessando estar ligado com o Deus vivo. Para salientar esta separação espiritual essencial Paulo faz cinco perguntas.
Participação – “Que sociedade [comunhão] tem a justiça com a injustiça?”
Princípio – “Que comunhão [sociedade] tem a luz com as trevas?”
Patronato – “Que concórdia [harmonia] há entre Cristo e Belial?”
Povo – “Que parte [porção] tem o fiel com o infiel?”
Posição – “Que consenso [sentimento em comum] tem o templo de Deus com os ídolos?”
Alguns podem perguntar: por que esta separação é tão importante? A resposta é porque envolve “o Deus vivo”. Ele não pode ter a Sua glória comprometida por ídolos mortos e pela religião falsa. Assim Paulo acrescenta: “Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão meu povo. Por isso sai do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, e eu vos receberei, e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (II Co 6:16-18).
Separação de toda religião organizada é o que Deus deseja para o Seu povo de cada dispensação, e assim lemos da ordem de Deus para o Seu povo, até mesmo depois do arrebatamento da Igreja: “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas” (Ap 18:4). Paulo faz Timóteo lembrar que “qualquer que profere o nome de Cristo, aparte-se da iniquidade” (II Tm 2:19).
Habitação
Paulo instrui Timóteo acerca do Deus vivo ter uma habitação na terra: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; mas se tardar, para que saibas como convém andar na casa do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (I Tm 3:14-15). No Novo Testamento a expressão “casa de Deus” ocorre somente três vezes. São elas:
Compaixão — Hb 10:21: “E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus”;
Condenação — I Pe 4:17: “… comece o julgamento pela casa de Deus”;
Conduta — I Tm 3:15: “Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na [em] casa de Deus, que é igreja do Deus vivo, coluna e firmeza da verdade”.
Estas Escrituras apresentam os dois aspectos principais desta verdade no Novo Testamento, e vemos isto ao notarmos a inclusão e a omissão do artigo definido. Em Hebreus 10:21 e I Pedro 4:17, o artigo é incluído, e portanto a tradução está correta: “a casa de Deus”. Entretanto em I Timóteo 3:15 o artigo é omitido no original, e uma tradução melhor seria “em casa de Deus”, sem o artigo. Os dois primeiros abrangem todo salvo que confia no Senhor Jesus, e se referem “… à igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23). A terceira referência, em I Timóteo 3:15, é característica e se refere à igreja local. É ali, no sentido coletivo, que Deus habita entre o Seu povo, e por Ele estar presente, é necessário haver um código de conduta. Em I Timóteo cap. 3, o próximo versículo descreve o padrão de conduta como “piedade”. Este assunto é repetido no decorrer da epístola e mostra, de forma clara, o padrão esperado daqueles que se reúnem somente ao Seu nome (Mt 18:20).
Devemos orar “pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda piedade e honestidade” (2:2). Isto é piedade e sua tranquilidade.
Enquanto Paulo tratava do assunto das vestes das irmãs ele escreve: “Do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou perolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus [“que professam ser piedosas”, ARA]” (2:9-10). Isto é piedade e sua modéstia.
O grande exemplo da piedade é visto no nosso Senhor Jesus, um Homem que constantemente demonstrou esta característica. Assim Paulo escreveu: “E sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (3:16). Isto é a piedade e seu mistério.
Em contraste com as tolices frívolas das “fábulas”, Paulo fala de piedade. “Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas, e exercita-te a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” (I Tm 4:6-8). Isto é piedade e seu proveito. É neste contexto sobre compreender o proveito da piedade que tem “a promessa da vida presente e da que há de vir” que Paulo afirma: “Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis” (I Tm 4:10). Ao invés de receber o aplauso dos homens por causa de sucesso na esfera do “exercício físico”, o cristão está separado de tudo isto e sofre o opróbrio. O que impulsiona alguém a tomar este caminho? A resposta é: “Pois esperamos no Deus vivo”, ou: “Temos posto a nossa esperança no Deus vivo” (ARA). O cristão espiritual tem um alvo mais elevado do que a aceitação deste mundo, ele olha para o futuro e tem sua esperança posta no Deus que vive.
A referência final à piedade está no cap. 6. “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho apiedade com contentamento … Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (6:3-6, 11). Isto é piedade e sua serenidade.
Parece que a busca pelas riquezas leva a todos os tipos de males (v. 10), e pode levar os ricos a confiar nas suas riquezas, que são incertas, como notou o grande sábio: “Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia” (Pv 23:5). Paulo nos diz onde devemos colocar a nossa confiança: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus [“no Deus vivo”, ARA], que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (I Tm 6:17). Ele não é fraco e transitório, Ele é o Deus vivo; mas devemos notar que muitas traduções omitem a palavra “vivo” aqui.
Diferenciação
Há quatro referências ao “Deus vivo” na epístola aos Hebreus, mais do que qualquer outro livro do Novo Testamento. Isto se torna especialmente interessante, pois muitas das referências do Velho Testamento têm por finalidade fazer a nação hebraica deixar a idolatria morta e se dedicar ao serviço do Deus vivo. Entretanto a nação, em geral, não obedeceu, e foram levados cativos para a Assíria e para a Babilônia. Quando o Senhor Jesus veio, Ele foi rejeitado pelos judeus e foi crucificado. No Seu julgamento e crucificação duas coisas foram rasgadas. São elas: “… o sumo sacerdote rasgou as suas vestes” (Mt 26:65) e: “Eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mt 27:51). Estes fatos demonstraram publicamente que Deus havia rompido com o sacerdócio e com o lugar. Um novo sacerdócio havia sido estabelecido, que incluía cada cristão, e uma nova forma de aproximação, através do nosso Sumo sacerdote o Senhor Jesus Cristo, permitia que estes sacerdotes entrassem na presença imediata de Deus sem restrição de horário ou lugar. Assim, na epístola aos Hebreus, eles foram chamados para sair do apático e agora obsoleto judaísmo, e adorar “o Deus vivo”.
Havia a tentação para alguns, que professavam ter se tornado cristãos, de voltar ao judaísmo, e por isto foram alertados: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo” (Hb 3:12). Eles são chamados de “irmãos”, pois ele se dirige a eles na base da sua confissão, mas se eles voltassem ao judaísmo isso mostraria que tinham “um coração mau e infiel”, e estavam voltando para o que agora estava morto ao invés de prosseguir com o “Deus vivo”. Isto era um aviso contra o retrocesso, e um chamado para o progresso.
A segunda referência é para destacar a enorme distinção entre o que foi realizado pelos sacrifícios do Velho Testamento e o que foi realizado pela obra de Cristo na cruz. Hb 9:14: “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” O judaísmo e todo o seu ritual é agora visto como “obras mortas”, ou como dito por Pedro: “Vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes de vossos pais” (I Pe 1:18). Nesta era, Deus está tirando de entre as nações “um povo para o seu nome” (At 15:14), e todas as características do judaísmo, tais como prédios ornados, incenso visível e fragrante, um altar visível, um clero distinto dos leigos, homens com vestes especiais, corais, instrumentos musicais, etc., são agora obsoletos na verdadeira adoração cristã. Devemos servir e adorar “ao Deus vivo”. Em I Ts 1:9 a expressão “servir o Deus vivo e verdadeiro” está no contexto dos tessalonicenses que tinham sido idólatras e tinham deixado todas estas coisas mortas para se associarem com Aquele que é vivo. Assim o judaísmo e a idolatria pagã não tinham nenhum lugar no cristianismo do Novo Testamento. Isso salienta a transformação operada pela morte de Cristo.
Hebreus 10:26 começa outra das seções da epístola aos Hebreus, avisando sobre apostatar e retornar ao que Deus tinha rejeitado. No meio desta seção temos um avisomuito solene: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31).
A referência final na epístola aos Hebreus está em 12:22: “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos”. Aqui o contraste está entre as alianças do Velho e do Novo Testamento, e as variações são impressionantes. O leitor interessado deve listar as oito coisas que caracterizam a velha aliança nos vs. 18-20, e as oito coisas que caracterizam a nova aliança nos vs. 22-24 (note em cada lista a repetição do “e”). A primeira era caracterizada por trevas e morte, enquanto que o “Deus vivo” caracteriza a segunda. Verdadeiramente é um paragrafo de uma divergência muito distinta.
Declaração
A última referência na Bíblia ao “Deus vivo” está em Ap 7:2: “E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o mar”. Este anjo vem do leste, o lugar do Sol nascente, indicando calor e bênção. Ele tem o “selo do Deus vivo”. O selo é a marca de posse e segurança. Em Romanos 4:11 é dito que a “circuncisão” é a autenticação da justiça da fé de Abraão, e a confirmação externa da aliança. O selo dos cristãos hoje é interno e não pode ser visto pelos homens, mas é muito mais poderoso, pois é o Espírito Santo, “o qual também nos selou” (II Co 1:22) — “fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13).
Aqui em Apocalipse 7 é para marcar os 144.000 da nação de Israel que hão de “permanecer até o fim”, e não se curvarão diante da besta e do falso profeta. Poderíamos perguntar se alguém poderá resistir estes dois personagens inspirados por Satanás, e naturalmente a resposta seria um forte: “Não”. Entretanto, tudo é diferente quando se tem o selo do “Deus vivo” — Ele pode capacitar os Seus para permanecerem em pé, e os preservará durante o tempo que for necessário para que o Seu propósito seja cumprido. Assim todo julgamento sobre a Terra será restringido até que os servos de Deus sejam selados, e mesmo no meio da mais terrível rebelião que prevalecerá na sociedade depois do Arrebatamento, o Deus vivo ainda estará em controle absoluto e soberano.
Conclusão
Ao revisarmos os assuntos acima, aprendemos que não há circunstância na vida, ou dificuldade pela qual passamos, que esteja fora do Seu controle. Temos todos os motivos para continuamente e implicitamente confiarmos no Deus vivo.
- Por Brian Currie, Irlanda do Norte