“O Deus de …” no Novo Testamento

Ao estudar os nomes e títulos de Deus é importante ter em mente que nos tempos bíblicos os nomes tinham uma função diferente do que em nossos dias. Os nomes e títulos não apenas identificavam as pessoas, as distinguiam umas das outras e as ligavam com a sua família, mas também revelavam algo da natureza e do caráter da pessoa. Isto é especialmente verdade quando se trata de nomes e títulos de Deus, como revelados nas Escrituras Sagradas.

Os títulos “Deus de …” no Novo Testamento nos apresentam os atributos e qualidades de nosso Deus, e são revelados para que possamos apreciar o Deus da nossa salvação (Sl 68:20), e todo o frescor, plenitude e glória do Seu caráter. O estudo destes nomes fornecerá uma riqueza de informação que nos levará a uma compreensão mais plena e completa do Seu propósito, poder e programa para as nossas vidas.

Ao olharmos para estes nomes e títulos de Deus no Novo Testamento, vamos lembrar que enquanto seja importante dividir corretamente a Palavra da verdade (II Tm 2:15), e assim distingui-los dos títulos do Velho Testamento, estamos tratando da mesma Pessoa gloriosa. Não estamos fazendo distinção entre o Deus do Novo Testamento e o Deus do Velho Testamento; estamos distinguindo os atributos pelos quais Ele se revelou em determinada ocasião. Deus, que revelou-Se a Si mesmo aos homens por várias designações nos dias do Velho Testamento, é a mesma Pessoa que Se revela a Si mesmo a nós através da Sua Palavra na nossa dispensação.

Vamos examinar os nomes e títulos conforme a ordem cronológica em que aparecem no Novo Testamento: nos Evangelhos, em Atos dos Apóstolos; nas Epístolas; e no Apocalipse.

O Deus de Israel (Mt 15:31)

“De tal sorte que a multidão se maravilhou vendo os mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver; e glorificava o Deus de Israel.”

Este título aparece desta forma somente uma vez no Novo Testamento. Um título semelhante é usado por Paulo no seu sermão na sinagoga de Antioquia da Pisídia: “o Deus deste povo de Israel” (At 13:17). Outra ocorrência semelhante, mas distinta, com a qual iremos lidar separadamente, é o título usado por Zacarias em Lc 1:68: “o Senhor Deus de Israel”. O significado do uso único deste título “o Deus de Israel” fica claro quando observamos algumas coisas.

É significativo que o Evangelho de Mateus foi escrito com um forte pano de fundo judaico; e é somente através de reconhecer o Deus de Israel que os gentios recebem bênção divina. Bem no início da revelação de Deus no Novo Testamento, aprendemos por meio dos Seus títulos como Deus irá lidar com os homens nesta dispensação. O seguinte ponto fica claro: as bênçãos desfrutadas pela humanidade necessitada (neste caso, os mudos, os aleijados, os coxos e os cegos) são recebidas através do Deus de Israel, quando Ele estende as mãos além dos limites da Judéia, aos habitantes da Galileia que eram considerados, na melhor das hipóteses, somente parcialmente judeus. No que consideramos ser o “Evangelho Judaico”, o Senhor Jesus estende a Sua mão além de Israel, a estes rejeitados!

Outro fator interessante é a posição do título no contexto do Evangelho de Mateus. Os atos do Senhor Jesus, imediatamente antes deste incidente, mostram que o Messias havia Se apresentado à nação judaica e demonstrado as Suas valiosas credenciais. Entretanto, a nação obstinada havia recusado reconhecer Seu Rei e o Seu reino. Começam a manifestar sua oposição. O Senhor percebe a sua dureza (Mt 13:57-58), e como resultado da sua rejeição Ele começa a Se retirar dos líderes da nação. Ele se retirou “para um lugar deserto” (Mt 14:13), e depois para Tiro e Sidom (15:21). Agora Ele está em território gentio, e esta mudança geográfica é marcada por sinais milagrosos, começando com a cura da filha da mulher cananeia (15:22-28), e em seguida, as grandes multidões ao redor do Mar da Galileia foram abençoadas (15:29-31).

Romanos 15:8-9 mostra que este afastamento da nação de Israel fazia parte do grande plano divino de graça. O Senhor Jesus veio como o Servo da nação dos judeus para confirmar as promessas feitas à nação, e para trazer bênçãos para os gentios. Assim os gentios bendiriam a Deus pela Sua misericórdia. Em Mateus 15 estes gentios que foram abençoados pelo Messias de Israel glorificam o Deus de Israel, assim demonstrando maior percepção que os líderes judeus que O rejeitaram. O plano divino de abençoar o mundo terá o seu cumprimento final quando Deus, mais uma vez, se dirigirá aos judeus durante o reino milenar de Cristo. Mesmo embora Israel tenha rejeitado o Seu Rei, Deus abençoará os gentios por meio do Seu reino universal, e os gentios salvos reconhecerão que a bênção deles vem do Deus de Israel.

“O Deus de Israel” é um título usado primeiramente no Velho Testamento por Moisés, quando ele se dirige a Faraó (Êx 5:1). Em Êxodo 3:6-7 Deus apareceu a Moisés na sarça, e usando o título da aliança, Yahweh, disse que Ele era “o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”. Deus deu a Moisés instruções para que tirasse o Seu povo (os filhos de Israel) do Egito (Êx 3:10). Ao entender esta revelação dada por Deus, Moisés vai a Faraó e chama Yahweh “Deus de Israel” (5:1), significando que a nação pertencia a Deus. Ele era dono deles e, portanto, realizará o Seu propósito para eles e Suas promessas a eles. Parte deste propósito é a bênção de todas as nações da terra por meio da semente de Abraão (Gn 22:18). Este propósito é manifestado na bênção do Senhor para com os gentios em Mateus 15.

O Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Mt 22:32)

“Eu sou o Deus de Abrão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.”

O pano de fundo desta afirmação feita pelo Senhor Jesus é a Sua resposta à atitude hostil dos líderes judaicos. Os fariseus haviam tentado emaranhar o Senhor Jesus nas Suas palavras com a famosa pergunta sobre pagar impostos, mas Ele lançou a pergunta de volta a eles e confundiu as suas tentativas de apanhá-lO em alguma palavra (Mt 22:15-22).

Antes disso, os saduceus estiveram presente, como observadores silenciosos, no batismo do Senhor Jesus (Mt 3:7-9); mas João Batista condenou a atitude deles, e expos os seus pensamentos secretos e sombrios enquanto pregava. Eles ficaram furiosos com a mensagem de João Batista sobre o Messias vindouro, e diziam para si mesmos: “Temos por pai a Abraão”. Basicamente o que eles estavam pensando era: “Não precisamos nos arrepender e preparar para a vinda do Messias, pois somos os verdadeiros descendentes de Abraão”, mas João enfatizou a sua necessidade de arrependimento e falava da sua destruição se eles rejeitassem os seus avisos (Mt 3:10).

Em Mateus 22:23-28, os saduceus aparecem com uma pergunta, obviamente para testar o Senhor. Eles falam de uma mulher que morreu sem ter filhos, depois de ter se casado sucessivamente com seis irmãos do seu falecido marido. “Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher?” Eles provavelmente pensavam que a pergunta era uma que finalmente colocaria o Salvador numa situação complicada, mesmo embora mais cedo naquele mesmo dia Ele havia derrotado o argumento dos líderes rivais, os fariseus. Os saduceus sofrem a mesma humilhação, e eles também se retiram confusos com a sabedoria do Salvador. Quando a multidão ouviu a resposta do Salvador, “ficaram maravilhados da Sua doutrina”.

A pergunta dos saduceus era baseada num fato hipotético, dentro da sua especialidade religiosa, sobre uma mulher que morre depois de ter uma série de maridos, não por imoralidade, mas por causa da lei do levirato de Dt 25:5-6. Eles pensavam que a sua pergunta habilidosa era segura, porque estava baseada nas Escrituras do Velho Testamento. Finalmente, pensavam eles, a resposta do Salvador iria contradizer a Lei de Deus. A pergunta do seu enigma teológico era: “Por fim, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que todos a possuíram?” (Mt 22:28).

O Salvador revela aos saduceus a sua ignorância proposital das Sagradas Escrituras: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam, nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu” (Mt 22:29-30). Ele revelou a sua cegueira, perguntando se eles não haviam lido nas Escrituras o que Deus lhes havia dito em Êxodo 3:6: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”, e acrescenta “Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mt 22:31-32). Deus havia feito promessas de aliança com Abraão, Isaque e Jacó, a quem os saduceus consideravam ser seus ancestrais.

O Deus dos vivos (Mt 22:31-32)

“E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou dizendo: 

Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.”

A segunda parte da resposta do Senhor aos saduceus era que Deus não era apenas o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas que Ele era também Deus dos vivos. A verdade da ressurreição do corpo é uma doutrina fundamental para o Senhor Jesus e deveria ser defendida, pois a aproximação e a pergunta dos saduceus era um ataque sobre o poder de Deus e a clareza das Escrituras. A ressurreição é o meio pelo qual muitos vão entrar nas bênçãos do reino futuro do Messias. Ao citar Êxodo 3:6, o Senhor Jesus está ensinando que Abraão, Isaque e Jacó desfrutariam das bênçãos do reino. J. N. Darby diz no seu comentário sobre o Evangelho de Mateus: “As promessas feitas aos Pais permaneciam firmes, e os pais estavam vivos para desfrutar destas promessas no futuro”. A resposta do Salvador às suas artimanhas vai além do conteúdo da pergunta. Ele não se prende às suas artimanhas, mas mostra que, por eles negarem a verdade bíblica da ressurreição, eles foram levados a pensar infundadamente que a situação desta viúva era uma prova de que não pode haver ressurreição. O Senhor os traz de volta à verdade fundamental da ressurreição. Quando o Deus eterno da aliança falou a Moisés centenas de anos depois da morte de Abraão, Isaque e Jacó, Ele ainda era o Deus dos vivos. Como? Abraão, Isaque e Jacó ainda existiam. Eles haviam morrido na esperança que Deus cumpriria as Suas promessas a eles, e para eles alcançarem esta esperança é necessário que haja uma ressurreição.

Deus falou a Moisés e se identificou como Yahweh: “Eu sou quem Eu sou”, uma declaração divina do sempre existente, eternamente presente Deus. A passagem de centenas de anos, e o fato óbvio que os corpos dos patriarcas já haviam se transformado em pó, não altera a verdade que Jeová ainda é o Deus deles. Ele é o Deus dos vivos! Os patriarcas não deixaram de existir, mas estão na presença de Deus, aguardando a ressurreição. O relacionamento estabelecido com eles por Deus ainda permanece, e eles são assim assegurados de que vencerão a morte na ressurreição. 

Além da afirmação registrada por Mateus e Marcos, Lucas acrescenta mais um comentário feito pelo Senhor Jesus: “Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos” (Lc 20:38). O Senhor faz uma firmação firme da verdade: os que morreram tendo Yahweh como seu Deus, estão atualmente, mesmo antes da ressurreição, no gozo da Sua presença, pois todos tais “vivem diante dele”.

O Senhor Deus de Israel (Lc 1:68)

“Bendito o Senhor Deus de Israel; porque visitou e remiu o seu povo.”

Este título foi dado a Deus por Zacarias, o pai de João Batista, na ocasião do nascimento de João. Zacarias havia ficado mudo devido à sua incredulidade quando o anjo disse que ele teria um filho que seria o precursor do Messias, e que Zacarias deveria chamá-lo de João.

Assim que o seu filho nasceu e recebeu o nome de João, a incapacidade de falar, pronunciada por Gabriel, “até ao dia em que estas coisas aconteçam”, foi removida (Lc 1:20), e Zacarias ficou cheio do Espírito Santo, para poder profetizar. As palavras iniciais da profecia de Zacarias eram uma atribuição de louvor ao seu Deus: “Bendito o Senhor Deus de Israel; porque visitou e remiu o seu povo” (v. 68). Na sua tradução, J. N. Darby inclui um artigo antes de cada nome, para mostrar que ao invés de ser um título composto, realmente é formado por dois títulos distintos: “O Senhor, o Deus de Israel”. Podemos entendê-lo da seguinte maneira: “Yahweh, o Deus de Israel”.

Zacarias está afirmando que o Deus de Israel é o eternamente existente Deus da aliança (Yahweh). Zacarias obviamente estava apreciando o que o Salmista diz: “Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só ele faz maravilhas” (Sl 72:18).

“O Senhor”, como disse Zacarias, é um título muito usado por Lucas nos seus escritos. Traz a ideia de ser dono e ter controle. “O Deus de Israel” é um título frequente no Velho Testamento, e indica o relacionamento que a nação de Israel desfruta com o seu Deus. O Deus da nação é o Deus que cumpre Suas alianças, Aquele que Se revelou desta maneira a Moisés quando Ele o chamou da sarça ardente em Êxodo cap. 3. Apesar do fracasso da nação nos dias de Zacarias, Deus havia permanecido fiel às Suas promessas, e estava para levantar “uma salvação poderosa” no Messias (Lc 1:69).

O Messias terá o poder de salvação para a nação; somente Ele poderá trazer libertação, e João será o Seu precursor. É interessante observar que Zacarias fala, do v. 68 ao v. 79, principalmente usando o tempo passados dos verbos. Para ele, era um fato consumado. O nascimento do seu filho João era uma indicação do propósito completo de Deus, e garantia para Zacarias que a promessa de um Messias era tão segura como se já tivesse sido cumprida. Para Zacarias era uma certeza: “visitou o Seu povo”.

A descrição “Seu povo” enfatiza a apreciação que Zacarias tinha da nação de Israel como povo de Deus, a quem Ele havia feito Sua promessa através de Moisés em Êxodo 3:7, 10, que foi a primeira vez que Deus os chamou de “meu povo”. Quando Zacarias considerou tudo o que o nascimento do seu filho representava, seu coração se encheu de louvor a Deus pelo Messias, cuja vinda representaria salvação e libertação para Israel. Quando Zacarias ouviu, pela primeira vez através de Gabriel, o significado do nascimento do seu filho, ele duvidou, mas ele teve alguns meses para considerar e contemplar o que ele ouvira. Não há dúvida alguma que, durante estes meses de contemplação silenciosa da mensagem angelical, ele meditou nas profecias das Escrituras. Sua incredulidade desapareceu, e a chama da fé foi reascendida para brilhar claramente na sua apreciação de Deus. O Deus de Israel havia cumprido as Suas promessas, primeiramente trazendo ao mundo, de uma maneira milagrosa, o precursor, através do ventre idoso e estéril de Isabel. O Deus que havia trazido o precursor também traria o Messias, e Zacarias regozijava neste fato. O Messias que viria seria como o Sol nascente que dispersa as trevas de uma longa noite, e guiaria Israel pela paz da luz da alvorada (Lc 1:78-79). Somente o Senhor (Yahweh) tinha poder para executar um milagre como o nascimento de João Batista, e Ele cumpriria também a Sua promessa do Messias. Zacarias diz: “Bendito seja tal Deus”. O adjetivo “bendito “ é Eulogeetosque é usado no Novo Testamento somente em relação a Deidade. É uma palavra diferente do verbo mais comum, que significa “falar bem de”. Quando Zacarias diz: “Bendito seja”, ele está descrevendo aquilo que Deus é; não o que ele pensa de Deus. O Senhor é o Deus de Israel, e Ele é caracterizado como um Deus de bênção.

O Deus de nossos pais

Este título aparece cinco vezes, com ligeiras variações, no livro histórico escrito por Lucas, Atos dos Apóstolos. Cada ocorrência está no relato de uma pregação. Em Atos 3:13 e 5:30 é usado por Pedro; em 7:32 é usado por Estêvão; e em 22:14 e 24:14 é usado por Paulo. Em cada uma destas ocorrências tem um aspecto nacional distinto, com “os pais” sendo um título dado aos progenitores da nação de Israel: Abraão, Isaque e Jacó. O espaço nos permite analisar somente a referência feita por Pedro.

Atos 3:13

“O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, 

a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto.”

Esta afirmação de Pedro faz parte da sua explicação, a uma multidão maravilhada, depois de Deus ter curado o coxo que ficava à porta do Templo. Ele diz aos seus ouvintes para não repreendê-lo nem ficar surpresos com o ocorrido. “Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (At 3:12). Enquanto Pedro explica que não foi o seu próprio poder que curou o coxo, ele também se preocupa em confirmar a sua própria linhagem judaica, afirmando que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó é também o “Deus de nossos pais”. Ele é o Deus de Pedro, e o Deus dos que estavam ouvindo a Pedro.

Pedro então continua e acusa os seus ouvintes da sua culpa na morte de Jesus, que é o Filho de Deus. Através da sua ignorância de Deus, eles haviam “negado” e “entregado” o Seu Filho (v. 17). Entretanto, foi Deus quem ressuscitou a Seu Filho dentre os mortos, e Jesus é o “servo” de Deus (veja 3:13 na ARA). Pelo argumento de Pedro, ele mostra que a nação era culpada da rejeição do Servo do Deus de seus pais. Pedro apresenta a magnitude da sua culpa pelos elos importantes que ele faz com os ilustres da sua história nacional. Ele reúne um grande número de testemunhas contra eles, citando homens reverenciados na história da nação: os santos profetas (3:21), Moisés (3:22), todos os profetas, e Samuel (3:24). O povo a quem Pedro se dirigia era culpado de ignorar séculos do procedimento de Deus para com eles como nação, e de rejeitar o testemunho enviado por Deus pelos porta vozes da nação. Quão grande era a culpa deles!

Os ouvintes de Pedro, que conheciam as Escrituras do Velho Testamento, deveriam ter reconhecido a importância do uso que Pedro fez do título “o Deus de Abraão, de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais”. Este título foi usado pela primeira vez por Deus. Quando Deus falou com Moisés em Horebe (Êx 3:6), Ele chamou Moisés de Seu servo, e o enviou ao Egito para libertar a nação de Israel. Esta foi também a primeira ocasião em que Deus chamou Israel de “meu povo”. Isto deve ter atingido a consciência dos que ouviam a Pedro, ao serem relembrados do dia da redenção da nação.

Atos 5:30-31

“O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, o qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro. 

Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.”

Nesta ocasião, Pedro não está falando com o povo em geral, mas com o Sinédrio. O sumo Sacerdote e a sua coorte, os saduceus, haviam se enchido de ira com as atividades de Pedro e dos apóstolos enquanto eles pregavam, e Deus curava as multidões. A ira e animosidade dos líderes judaicos resultou na prisão dos apóstolos. Seu aprisionamento foi curto, pois o anjo do Senhor abriu a portas da prisão durante a noite, e os tirou de lá, e os enviou de volta à cidade para pregar, onde eles deveriam apresentar-se no Templo, e dizer ao povo todas as palavras desta vida (At 5:20). Os apóstolos foram presos novamente, trazidos perante o conselho, e avisados solenemente sobre a sua pregação (5:27-28). A defesa de Pedro diante do conselho foi direta e clara, e ele salientou a sua responsabilidade ao dizer: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (5:29). Pedro realmente disse, em outras palavras, que a força constrangedora da ressurreição do Senhor Jesus significava que, como testemunhas, eles não tinham opção a não ser pregar no Seu nome. Eles tinham um chamado e uma compulsão celestial!

Quando os líderes judaicos ouviram Pedro dizer: “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, o qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro”, eles deveriam ter compreendido o significado e a insinuação destas palavras. Mas Israel estava completamente fora de sintonia com os objetivos de Deus e dos pais da nação, quando seus líderes condenaram o Senhor Jesus à morte. Eles mataram o Senhor Jesus; mas Deus reverteu isto ressuscitando-O dos mortos!

O Deus da glória (At 7:2)

“E ele disse: Homens irmãos, e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, 

estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã.”

Os títulos que temos considerado até agora explicam a quem Deus tinha Se revelado, por exemplo, Abraão, Isaque e Jacó. Este nome explica como Deus Se revelou a Abraão: Ele se revelou em glória, ou pela glória.

Inicialmente, Estêvão havia sido acusado de blasfêmia contra Moisés e Deus (6:1), mas quando chamado diante do conselho, as acusações são mudadas para blasfêmia contra o Templo e a Lei (6:14). Enquanto Estêvão estava diante daquele ajuntamento de homens eminentes, seu rosto brilhou como de um anjo (6:15), e o Sumo Sacerdote pediu que Estêvão se explicasse (7:1).

O discurso de Estêvão ao conselho é o de um mestre no seu argumento e conteúdo. Ele manifesta respeito aos seus superiores ao usar a expressão “Homens, irmãos e pais”. Eles eram compatriotas judeus (homens e irmãos), mas também superiores (pais). Ele então os leva de volta ao início da nação, e afirma que Abraão é o pai dos seus ouvintes, e também o seu pai. Estêvão está reivindicado descendência mútua, sua e de seus inquiridores, de Abraão, a quem o Deus da glória apareceu. Ele havia sido acusado de blasfemar contra Moisés; mas ele usa um título de Deus como o Deus que Se revelou em glória a Moisés no monte Sinai (Êx 24:16). Ele fora acusado de blasfemar contra Deus; mas ele usa um título para Deus que descreve como Ele se revelou a Isaías (Is 6:3). Estêvão mostra que ele conhecia a Deus como o Deus da glória; e que este Deus da glória é o mesmo Deus que aparecera a Abraão, o ancestral deles. Aqui ele refuta a acusação de blasfêmia, e a insinuação de rejeitar tradições nacionais quanto à formação da nação — Estêvão é totalmente ortodoxo! O motivo pelo qual o seu rosto estava “como o rosto de um anjo” (6:15) era simplesmente porque Estêvão tinha comunhão íntima com o Deus da glória. Como Moisés, que no passado havia sido acusado de blasfemar, o rosto de Estêvão irradiava a glória do Deus em cuja presença ele tinha estado (Êx 34:33-35).

Conforme Estêvão avança na sua defesa, ele menciona os principais períodos da história de Israel, e menciona os principais personagens: Abraão (7:2); José (7:9); Moisés (7:20); Davi (7:45). Ele então demonstra que embora a sua história começara com o Deus da glória, cada época manifestou desgraça nacional. A época que começou com Abrão terminou com os patriarcas vendendo José ao Egito, por causa de inveja, (7:8-9). A época que começou com José, que tinha Deus ao seu lado, (7:9) terminou com a escravidão no Egito sob o governo de Faraó (7:19). A época que começou com o nascimento de Moisés e “aproximando-se o tempo da promessa que Deus tinha feito” (7:17), passou por ciclos de rebelião e perdão, como nenhum outro período. A época que começou com Davi fazendo provisão para a construção da casa de Deus, terminaria em desgraça com estes líderes atuais resistindo o Espírito Santo, assim como os seus ancestrais haviam feito (7:51).

Estêvão encerra sua defesa ao mostrar que o que havia começado em glória ilustre, com o Deus da glória aparecendo ao seu pai Abraão, havia manifestado somente fracasso, durante todo o seu percurso, por causa da rebelião e teimosia do homem contra Deus. Esta rebelião se manifestou em cada época com a perseguição, pela nação, dos profetas que falavam do Deus da glória (7:52). Muito pior que isto, porém, a nação que tinha recebido a Lei, pela mediação dos anjos, não guardou a Lei, mas traiu e matou o Justo (7:53).

O resultado do discurso de Estêvão é significativo. O homem que, na nova dispensação, foi o primeiro a falar do Deus da glória, “estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus”. Em poucos minutos, enquanto as pedras caiam brutalmente sobre o seu corpo, Estêvão, cujo nome significa “uma coroa”, estaria na própria presença do Deus da glória, cuja glória foi a última visão que ele teve sobre a Terra.

Ao concluirmos nossa meditação sobre este título majestoso, que é usado diretamente somente por Estêvão, e ao qual Paulo se refere (I Co 2:8), e Tiago (Tg 2:1), devemos perguntar, será que o Deus da glória aparece a nós hoje? A resposta está na vida e no ministério de Estêvão. Ele falou do Deus da glória aparecendo a Abraão, e viu a glória de Deus ligada intimamente com a mão direita de Deus. Aqui temos um homem que viveu em comunhão com os Céus, e o que ele viu ao entrar pelos seus portões, através do martírio, era o que ele havia contemplado durante a sua vida cristã. Um homem que havia gastado a sua vida contemplando o Deus da glória, manifestada no Senhor Jesus Cristo, teve o privilégio abençoado de ver a glória de Deus no momento em que a sua vida na Terra foi brutalmente encerrada. Não é sem importância que a sua vida foi caracterizada por graça e poder divinos: “E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (At 6:8). A lição para nós hoje é obvia: contemplação do Deus da glória se manifesta na graça de Deus e no poder de Deus enquanto andamos entre o povo.

O Deus de Jacó (At 7:45-46)

“… Davi, que achou graça diante de Deus, 

e pediu que pudesse achar tabernáculo para o Deus de Jacó.”

Este é outro título que Estêvão usou no seu discurso perante o Sinédrio, para descrever o Deus do rei Davi. Estêvão indica que o destaque notável no reinado de Davi era seu constante desejo de edificar uma casa para o “Deus de Jacó”. Este título mostra que, na sua mente, Davi estava voltando ao tempo em que Jacó abençoou os seus doze filhos antes de morrer. É provável que Davi vivesse na esperança das promessas que Deus havia feito a Jacó que, devido à sua experiência de Deus, pronunciou a sua bênção sobre seus filhos (Gênesis 49). Uma das bênçãos de Jacó que teria grande importância para Davi era a bênção a José (Gn 49:22-26). Embora Davi conhecera muitos inimigos que “lhe deram amargura, e o flecharam e odiaram” (Gn 49:23), pelo poder de Deus, como José ele descobriu que “o seu arco … susteve-se no forte, e os braços das suas mãos foram fortalecidas pelas mãos do Valente de Jacó” (Gn 49:24). Deus havia prometido a Davi que ele prosperaria no seu reino, e Ele cumpriu esta promessa. Este é o mesmo Deus que Estêvão servia! Davi explica este poder no Salmo 18, onde ele fala do poder sendo dado à suas mãos e braços, no contexto do título divino El, que descreve Deus como o único Deus verdadeiro (Sl 18:32). No Salmo 18 Davi atribui louvor ao seu Deus pelo poder divino que capacitou que suas mãos e braços o defendessem: “Deus [El] é o que me cinge de força … Ensina as minhas mãos para a guerra, de sorte que os meus braços quebraram um arco de cobre” (Sl 18:32-34).

Sendo que o “poderoso Deus de Jacó” havia abençoado Davi de tal forma, seu coração é motivado a afirmar com confiança que nada o impediria de providenciar uma habitação para “o poderoso Deus de Jacó” (Sl 132:5).

Ao usar este título, Estêvão faz fortes insinuações; não é de se admirar que isto fez com que os líderes judaicos se enfurecessem “em seus corações” (At 7:54). O Justo, a quem eles traíram e assassinaram (7:52-53), era de fato Deus habitando entre os homens. Estes líderes estavam em desacordo total com o grande Rei Davi, a quem eles tanto reverenciavam.

O Deus deste povo de Israel (At 13:17)

“O Deus deste povo de Israel escolheu a nossos pais, e exaltou o povo, 

sendo eles estrangeiros na terra do Egito; e com braço poderoso os tirou dela.”

Este título é usado pelo apóstolo Paulo no seu discurso na sinagoga de Antioquia da Pisídia. Ele dá um breve resumo da história nacional, começando com Deus escolhendo a nação quando eles estavam no Egito. Ele se refere ao tempo quando Deus ouviu o clamor do Seu povo e veio libertá-los. Quando Deus chamou Moisés para a tarefa de libertar a nação, Ele usou, pela primeira vez, a expressão “Meu povo” para descrevê-los (Êx 3:7, 10). Antes disto, eles eram chamados de “os filhos de Israel”, ou “os hebreus”. É interessante notar que anteriormente Faraó havia chamado os egípcios de “seu povo” (“Então ordenou Faraó a todo o seu povo …”, Êx 1:22). O palco estava pronto para Deus fazer uma diferença entre os egípcios e Israel (Êx 11:7).

Deus “exaltou” o Seu povo escolhido — literalmente, “foram feitos grandes” — isto sem dúvida se refere à sua exaltação da escravidão para serem uma nação, como o povo de Deus. Paulo começa sua narrativa histórica com um povo exaltado e redimido e tirado da escravidão do Egito, e termina com um Redentor que é exaltado na ressurreição (At 13:30, 33, 34, 37). Como Redentor, o Senhor Jesus é uma figura muito maior do que Moisés jamais foi; pois através dEle “se vos anuncia a remissão de pecados, e de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados” (At 13:38-39).

O Deus dos gentios (Rm 3:29-30)

“É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? 

Também dos gentios certamente, visto que Deus é um só,

 que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.”

Em Romanos cap. três, Paulo toma cuidado para destacar a posição especial que os judeus tinham em relação a Deus; eles eram zeladores da Lei (3:2). Entretanto, aquela posição especial de aliança não os excluía da condenação da Lei; Paulo diz que ele já tinha provado que tanto os judeus como os gentios estão igualmente debaixo do pecado (3:9). Ele também afirma que não há justificação por meio da Lei (3:20) — a Lei é impotente para abençoar, quer judeu, quer gentio. Então qual é a resposta para a necessidade universal do homem? A única solução é a “justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (3:22).

Se todos os homens são condenados pela Lei, e todos os homens podem ser salvos pela fé em Cristo, então Deus deve ser o Deus dos gentios como também dos judeus. As velhas bênçãos da aliança da terra, a Lei, etc., não dão a Israel um privilégio acima dos gentios. Deus não faz discriminação; nosso relacionamento com Ele é através da fé em Cristo, e não através de descendência nacional. Um gentio salvo pode afirmar que o Deus do Evangelho é o seu Deus, assim como um judeu salvo pode. Por meio do milagre da graça de Deus em perdoar e justificar, um judeu religioso e temente a Deus e um gentio pagão podem ser colocados no mesmo nível através de fé no Cristo ressurreto.

O Deus da paciência e consolação (Rm 15:5)

“Ora, o Deus da paciência e consolação vos conceda o mesmo 

sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus.”

Quando o apóstolo chega ao final desta grande epístola, ele mostra que as bênçãos concedidas a nós pela graça devem ter um efeito nas nossas vidas. Caps. 14 e 15 lidam com o assunto de relacionamentos entres os salvos. No cap. 15, a exortação é para os fortes terem consideração pelos fracos. O parágrafo onde o título “o Deus da paciência e consolação” aparece, encerra com a oração do apóstolo. Está cheia de considerações práticas que, se acatadas, melhorariam o relacionamento entre cristãos.

v. 1 — O preço a pagar pelos fortes: “suportar as fraquezas”;

v. 1 — O prazer a considerar: “não agradar a nós mesmos”;

v. 2 — O propósito a cumprir: “para edificação”;

v. 3 — O padrão a seguir: “Cristo não agradou a Si mesmo”;

v. 4 — Os preceitos a observar: “foi escrito, para o nosso ensino”;

v. 4 — A paciência a adotar: “paciência e consolação das Escrituras”;

v. 5 — A paz a manifestar: “o mesmo sentimento uns para com os outros”;

v. 6 — O louvor a dar: “concordes, a uma boca, glorifiqueis a Deus”.

Ao lermos a Palavra de Deus e recebermos a sua instrução e encorajamento, nossa esperança é fortalecida (v. 4). Nas situações mais difíceis da vida, o filho de Deus tem no seu coração a expectativa de livramento. Nos vs. 5 e 6 Paulo ora para que o Deus da paciência e consolação lhes dê um Espírito de união. Paciência (perseverança) e consolação (encorajamento, v. 5a), são as características do nosso Deus. No v. 4 as Escrituras são o agente da paciência e consolação; e agora no v. 5 Deus é o autor destas duas qualidades. Se os cristãos vão ter o mesmo sentimento, eles precisarão de perseverança e encorajamento para ajudá-los a exercitar consideração piedosa uns para com os outros.

Este título de Deus nos assegura que, não importa quais recursos precisemos para mostrar paciência e desfrutar da consolação diante das dificuldades, estes recursos são conferidos pelo nosso Deus, que é a fonte sublime de todas as graças cristãs. Embora Ele seja a fonte, é através das Escrituras que vamos conhecer o Deus da paciência e da consolação. Se quisermos conhecer a Deus e viver de maneira correta, precisamos meditar nas Escrituras; elas são para nossa instrução.

O Deus da esperança (Rm 15:13)

“Ora o Deus de esperança vos encha de todo gozo e paz em crença, 

para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.”

Este é o segundo pedido, em oração, que o apóstolo faz neste capítulo, e o segundo título de Deus. Era o desejo de Paulo, enquanto eles crescessem no conhecimento do Deus da paciência e consolação (v. 15), que o Deus da esperança pudesse enchê-los de gozo e paz. Esta curta oração expressa o seu desejo de que os santos em Roma fossem completamente cheios de gozo e paz, para que a sua esperança continuasse a crescer. Na expressão sucinta deste desejo, aprendemos verdades que são fundamentais à fé cristã. Esperança, fé, gozo e paz são características da vida do cristão. Realmente, gozo e paz são vistas como características do reino de Deus (Rm 14:17).

A oração de Paulo nos ensina várias lições valiosas sobre como ele espera que o seu desejo para os cristãos em Roma seja alcançado. Se eles vão abundar em esperança, eles precisam reconhecer o seguinte, na sua experiência:

O Autor da esperança é Deus — “O Deus da esperança”;

O Agente da esperança é o Espírito Santo — “na virtude do Espírito Santo”;

O canal da esperança é a fé — “em crença”;

Sua medida de esperança deve ser crescente — “para que abundeis na esperança”;

O pré-requisito da esperança é gozo e paz — “vos encha de todo gozo e paz”.

Se os cristãos em Roma atentarem ao desejo de Paulo, expresso na sua oração, eles estarão no pleno gozo destas bênçãos. Sua capacitação pelo poder do Espírito Santo será como uma consequência da sua fé.

O Deus da paz 

Romanos 15:33

“E o Deus da paz seja com todos vós. Amém.”

A oração final do apóstolo nesta parte da epístola começa com a palavra “ora” (no texto original) como nas duas petições anteriores do v. 5 e v. 13. Isto indica urgência na mente de Paulo: ele quer que eles desfrutem de uma resposta à sua oração agora mesmo. O conteúdo destas petições é o seguinte:

v. 5 — Tendo um mesmo sentimento uns para com os outros;

v. 13 — Cheios de todo gozo e paz;

v. 33 — O Deus da paz seja convosco.

O resultado prático deste trio de bênçãos é que, se os cristãos vão ser capazes de viver em paz (com um mesmo sentimento) e ser cheios de paz, eles vão precisar da presença permanente do Deus da paz. Somente Ele é o Autor e fonte de paz, e pode suprir os recursos necessários para a paz individual e coletiva entre os cristãos. Se um cristão não está em comunhão com Deus, por qualquer que seja o motivo, ele não estará desfrutando de paz na sua própria alma, e não será capaz de cumprir a recomendação de Paulo aos efésios: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vinculo [“unificador”, JND] da paz” (Ef 4:3).

Sua Pessoa — A única fonte de paz é “o Deus da paz”;

Sua presença — A essência da paz é “com … vós”;

Sua plenitude — A abrangência da paz é “todos vós”.

Romanos 16:20

“E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés.” 

No v. 17 o apóstolo estava avisando os santos em Roma a terem cuidado com aqueles que causam divisão e ocasiões de tropeço. No v. 20 ele lhes dá a garantia de recursos divinos que estão à sua disposição. O seu único recurso para lidar com os conflitos é o poder conquistador de Deus sobre seus inimigos; Ele é o Deus da paz. O Deus que é caracterizado pela paz virá auxiliá-los rapidamente, e o resultado será que Satanás será esmagado, e então haverá paz.

Embora não há dúvida que o Deus da paz operará no presente para controlar as atividades de Satanás e conceder paz ao Seu povo, igualmente não há dúvida de que há um aspecto futuro deste esmagar de Satanás. Quando a semente da mulher (Gn 3:15) for tratar, finalmente, com Satanás, os salvos estarão na presença eterna do Seu Senhor e Mestre. Então Satanás estará, realmente, debaixo dos seus pés.

Filipenses 4:9

“O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes,

 e vistes em mim, isso fazei; e o Deus da paz será convosco.”

O apóstolo tem dado um bom número de exortações práticas, nos versículos anteriores deste cap. 4. Ele resume os deveres dos santos dizendo que as coisas que eles têm ouvido, aprendido e recebido, através do ensino de Paulo, e visto na vida dele, deveriam ser feitas por eles. Se eles pusessem em prática tudo que ele lhes transmitira, eles desfrutariam da presença do “Deus da paz”, que é a única fonte da “paz de Deus” (v. 7). É interessante que Paulo usa o artigo definido no (v. 9): “o Deus de a paz”, indicando que a paz no v. 7 é fornecida pelo Deus da paz do v. 9.

I Tessalonicenses 5:23

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito e alma, 

e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis 

para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

“O mesmo Deus de paz” é traduzido por J.N.D. como: “O próprio Deus de paz”. As dificuldades que os cristãos de Tessalônica enfrentariam, na ausência do apóstolo que os amava tanto, poderiam ser encaradas na preservação do espírito, alma e corpo, que o próprio Deus de paz concede. O próprio Deus de paz — nenhum outro e nada menos — poderia preservá-los em santificação. A preservação e santificação que Ele concede os levaria ao gozo e à paz em meio às suas dificuldades.

O Deus de toda a consolação (II Co 1:3)

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 

o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação.”

Este título poderia ser o “Deus de todo tipo de consolo”. Paulo não está descrevendo a consolação que Deus dá, mas sim descrevendo Deus que supre a consolação. Ele está falando da característica de Deus: Ele é o Deus que supre todo tipo de consolação. Qualquer tristeza (“toda a tribulação”, “alguma tribulação”, v. 4) pode ser superada pela consolação que Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, supre. Paulo vai divulgar o que ele tem aprendido através da sua experiência com o seu Deus, (v. 8 em diante); e a lição principal é que Deus é “bendito” (v. 3). Mesmo embora Paulo tivesse suportado muitas tribulações, ele ainda afirmava que Deus é bendito.

Em que estava esta bênção? Ela era desfrutada por Paulo no meio da sua tribulação, através da consolação que Deus lhe fornecia. Paulo aprendeu o que nós devemos aprender em toda tribulação, que Deus é bendito. Nas suas tribulações Paulo aprendeu que o seu Deus era “o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação”. Deus era também a fonte e o fornecedor de todo tipo de misericórdia. A palavra usada aqui é plural, indicando que Deus fornecia uma abundância de misericórdias; não havia falta de suprimento. Junto com uma abundância de misericórdia para qualquer provação, Paulo recebia todo tipo de consolação. A palavra usada aqui é da mesma raiz que paraklete.

O propósito de Deus em suprir uma tão grande variedade e abundância de misericórdias e consolação para nossas tribulações é para que “possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação” (v. 4). Deus espera que usemos a consolação e misericórdia que recebemos nas nossas tribulações para ajudar outros cristãos quando eles estiverem passando por tribulação. Entretanto, como somos egoístas quando vemos outro cristão em dificuldade! Se nas nossas tribulações chegamos a conhecer a Deus como Ele espera, estaremos prontos a nos identificar com os sentimentos dos outros nas suas tribulações. Na verdade, iremos nos aproximar deles, e daremos a eles o auxílio daquilo que nós aprendemos de Deus nas nossas tribulações, para que eles possam ser encorajados e fortalecidos.

O Deus de amor e de paz (II Co 13:11)

“Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, 

sede de um mesmo parecer, vivei em paz;

 e o Deus de amor e de paz será convosco.”

Quando Paulo chega ao final desta epístola, ele fornece a receita para o viver espiritual em cinco ações curtas que os coríntios deveriam por em prática para o seu próprio bem. O resultado destas cinco ações seria que eles estariam cientes, e desfrutariam, da presença de Deus “convosco” (literalmente, “certamente no vosso meio”). Estar ciente e desfrutar da presença de Deus não é alcançado por repetir Mateus 18:20 no início de uma reunião. A presença de Deus entre o Seu povo depende deles estarem na condição espiritual correta com Deus e entre si. Quando há um bom relacionamento horizontal, haverá um bom relacionamento vertical. Temos a tendência de pensar o contrário: se nos certificamos de que tudo está certo entre nós e Deus, então teremos bons relacionamentos uns com os outros. Não é assim! Acerte as coisas nos relacionamentos uns com os outros, e então Deus manifestará a Sua presença entre nós! As cinco atitudes são:

“Regozijai-vos”;

“Sede perfeitos” — conserte os relacionamentos danificados;

“Sede consolados” — incentive, ou console uns aos outros;

“Sede de um mesmo parecer” — cada um deveria pensar o mesmo que o outro;

“Vivei em paz” — mergulhe sua vida na esfera da paz.

Quando tivermos feito isto, então desfrutaremos da bendita presença do Deus que é caracterizado por amor e paz. O Deus de amor e paz não estará presente no meio daqueles que não mostram amor uns para com os outros, e não estão em paz uns com os outros. Relacionamentos na igreja local são de suma importância, e devemos colocar o máximo de esforço em cada uma destas atitudes.

O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo

Este título ocorre da seguinte maneira:

“O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não minto” (II Co 11:31);

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1:3-4);

“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o Espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1:17);

“Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por vós” (Cl 1:3);

“Bendito seja o Deus e Pai e nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (I Pe 1:3).

O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo — que título inconfundível! Suas ocorrências, embora em formas variadas, podem ser divididas em dois assuntos. É usado emlouvor a Deus (II Co 11:31; Ef 1:3; I Pe 1:3) e em oração a Deus (Ef 1:17 e Cl 1:3). Quando usado em louvor a Deus, não está dizendo que Deus deve ser abençoado, mas é a afirmação de um fato: Deus é bendito.

Quer seja “o Deus de” ou “o Deus e Pai de”, ambas as descrições indicam um relacionamento bem íntimo. Este relacionamento é entre o Pai e o Filho, e entre o Pai e nós. Aquele que é o nosso Deus e Pai, é também o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

Entender como o Senhor Jesus usou estes títulos vai nos ajudar a entender a profundidade do seu significado. Na cruz, o Senhor Jesus se referiu ao Seu Pai usando ambos: “Deus meu” (Mt 27:46; Mc 15:34) e “Pai” (Lc 23:46). Os Evangelhos de Mateus e Marcos são os evangelhos do sacrifício pela culpa, e o Evangelho de Lucas é o evangelho do sacrifício pacífico. Ao tratar do assunto do pecado, o Salvador usa o título “Deus”, que fala da santidade de Deus. Por outro lado, quando Ele trata do relacionamento desfrutado, como na oferta pacífica, Ele usa o título “Pai”.

Quando o apóstolo usa os dois títulos “Pai” e “Deus”, ele está juntando os conceitos do sacrifício de Cristo pelo pecado, e da filiação de Cristo. O fundamento da nossa bênção é baseado na plenitude do Seu relacionamento de Filho com o Pai, que é interligado com a plenitude do Seu sacrifício pelo pecado. Aquele que é “bendito” (II Co 11:31) “nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (I Pe 1:3), e “nos abençoou … em Cristo” (Ef 1:3-4). Ele nos dará “o Espírito da sabedoria e de revelação” (Ef 1:17). É para este Deus de tão grande misericórdia e bênção que o apóstolo ora em favor dos cristãos em Colossos (Cl 1:3).

Não é sem importância que o título “Deus de nossos pais” nunca é usado em relação aos cristãos na era da Igreja; a não ser em Atos dos Apóstolos, quando se refere exclusivamente aos cristãos de nacionalidade judaica. Eles tinham elos com os pais da nação. Quando falando aos cristãos gentios, nossas bênçãos são baseadas na Nova Aliança, e no fato que o Senhor Jesus é o nosso “progenitor”, por assim dizer. Portanto o nosso Deus é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Abraão, Isaque e Jacó, como pais da nação, trouxeram Israel a um relacionamento com Deus; e nosso Senhor Jesus Cristo nos trouxe, gentios, a um relacionamento com Ele.

O Deus de paz (Hb 13:20-21)

“Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor de ovelhas, vos aperfeiçoe em toda boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo sempre. Amem.”

Ao chegar ao final desta epístola, o Espírito Santo apresenta uma doxologia de louvor às duas grandes Pessoas apresentadas no livro: Deus e o Seu Filho. Entretanto, de acordo com o tema da epístola, Ele descreve Deus como o Deus de paz. Reconciliação com Deus se tornou possível pelo sacrifício do Senhor Jesus. Nos capítulos anteriores, Deus é visto como o Deus dos Céus (cap. 1), o Deus que é Santo (2:17), o Deus da criação (caps. 3 e 4), o Deus do santuário (cap. 5), o Deus da velha aliança (cap. 6), e o Deus da nova aliança (caps. 8-10). Agora, na base de um sacrifício aceito que estabeleceu uma nova aliança, Ele é conhecido como não poderia ser conhecido na velha aliança: Ele é o Deus de paz.

A paz espiritual é possível por causa do sangue que satisfez Suas exigências justas pelo pecado. Paz prática é possível porque Deus tornou a trazer dos mortos o “Pastor das ovelhas, o grande Pastor”. Enquanto os cristãos judeus contemplam as tribulações que os esperam, eles são assegurados de paz no meio da tempestade. Eles serão equipados para servir (“aperfeiçoados”) pelo mesmo Deus poderoso que trouxe o seu grande Pastor dos mortos. Poder divino, como visto na ressurreição do Senhor Jesus, está disponível a eles nas tribulações da vida.

O Deus que é caracterizado por paz operará a favor deles. A paz foi feita pelo sacrifício do Seu Filho, assim Deus agora se relaciona com eles como o Deus de paz.

O Deus de toda a graça (I Pe 5:10)

“E o Deus de toda graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, 

depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, 

confirmará, fortificará e fortalecerá.”

O apóstolo Pedro encerra sua epístola com uma oração para que seus leitores possam ser edificados. Na sua breve oração, ele inclui adoração a Deus, expectativa de glória, e a edificação dos santos.

Ele se refere a Deus como o Deus de toda graça. Estes santos haviam sido avisados de tribulações (cap. 4), por causa da sua ligação com Cristo. Eles são também incentivados a lembrar que haviam sido trazidos a uma viva esperança cheia de glória (cap. 1). Frequentemente, no decorrer da epístola, as suas mentes são direcionadas à glória vindoura de Cristo na qual eles compartilharão (1:3, 13; 4:13; 5:1).

Como eles, nós fomos chamados à santidade (1:15); chamados das trevas para a Sua maravilhosa luz (2:9); chamados para sofrer (2:21); e chamados a sofrer afronta (3:9). Que contraste há do primeiro para o último— chamados das trevas para um caminho de tribulação, que culminará em glória! O único recurso para nos equipar para este caminho, e nos capacitar a suportá-lo, é o Deus de todo tipo de graça. Ele nos capacitará a triunfar em todo tipo de tribulação.

O Deus da Terra (Ap 11:4)

“Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra.”

O título “Deus da terra” é normalmente traduzido “Senhor da terra”. Mesmo que este título não se encaixa completamente com o resto deste capítulo sobre “o Deus de …”, faremos uma breve menção do seu significado.

Apocalipse cap. 11 está tratando das duas testemunhas fiéis durante o período da Grande Tribulação, que perdem suas vidas por causa de Cristo. Por mais que os homens os desprezam, durante os dias do seu testemunho eles são considerados pelo Céu como duas oliveiras e dois castiçais. A expressão “diante do Deus da terra” significa que a autoridade deles se origina nos direitos criadores de Cristo sobre a Terra. Ele é Aquele “para quem são todas as coisas” (Hb 2:10). Este é um título para o Senhor, enquanto Deus contempla os Seus servos fiéis na Terra.

O Deus do Céu (Ap 11:13; 16:11)

“E naquela mesma hora houve um grande terremoto, e caiu a decima parte da cidade, 

e no terremoto foram mortos sete mil homens; e os demais 

ficaram muito atemorizados, e deram glória ao Deus do céu.”

Esta cena é a continuação do que consideramos no v. 4. As testemunhas fieis foram mortas, ressuscitadas dentre os mortos, e arrebatadas aos Céus. Tal intervenção de poder divino causou um grande transtorno na Terra, e o remanescente dos fieis dão glória ao Deus do Céu. Eles reconhecem os direitos e autoridade do Deus do Céu sobre a Terra. Este é um título de Deus, usado enquanto os Seus servos fieis olham para o alto, aos Céus, em esperança.

“E por causa das suas dores, e por causa das suas chagas, blasfemaram do Deus do céu; e não se arrependeram das suas obras” (16:11).

Os acontecimentos cercando o uso de “Deus do céu” são o clímax final do tratamento de Deus com a besta e o seu império do mal. Quando o quinto anjo derramou a sua taça diretamente sobre o trono do poder e influência universal da besta, a reação dos súditos do seu reino foi exatamente a mesma dos homens endurecidos dos dias de Faraó. Ao invés de se prostrarem diante da autoridade do Deus do Céu, eles blasfemaram o Seu nome e recusaram se arrepender. Este título de Deus é usado enquanto os homens ímpios e rebeldes olham para o alto, aos Céus, em ódio.

O Senhor Deus dos santos profetas (Ap 22:6)

“E disse me: estas palavras são fiéis e verdadeiras, e o Senhor, 

o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos 

seus servos as coisas que em breve hão de acontecer.”

O anjo que estivera revelando a João os dizeres do livro dá o seu selo de aprovação à toda a revelação anterior. Ele havia sido enviado pelo Senhor Deus dos santos profetas, e a verdade que ele revelou a João era tão certa e garantida quanto as Escrituras do Velho Testamento. Ela tem o selo divino, e está em harmonia com tudo que os profetas escreveram — em contraste com qualquer falso profeta. As coisas que João viu, ouviu e registrou para nós neste grande livro são verdadeiras em si mesmas, e dignas de confiança.

É apropriado que o último título dado a Deus, no último livro da Bíblia, seja “o Deus dos santos profetas”. Tudo que dantes foi escrito foi transmitido por Aquele que comissionou homens a escrever as Santas Escrituras, que são dignas de confiança e verdadeiras, como o próprio Deus.

 - Por Walter A. Boyd, Irlanda do Norte

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