Justificação

A justificação exigida judicialmente

―… para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus‖ (Rm 3:19). ―… para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus‖ (Rm 3:26).

O ponto central da mensagem de Deus ao mundo, que revela o Seu propósito de redenção, é a condenação e a justificação. Romanos 3:19 proclama, categoricamente, a condenação universal, e Paulo usa a analogia de um tribunal judicial para ilustrar este assunto.
Todos já foram julgados perante o tribunal da justiça Divina, e declarados culpados e condenados. A mensagem de Deus também proclama alegremente a justificação para os culpados, mas nesta ordem. Se o homem não é pecador, não há necessidade de justificação. O pano de fundo da graça justificadora de Deus é a culpa da raça humana. Em Romanos 1:18-3:31, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, é visto como o advogado oficial de acusação. Ele identifica três classes na humanidade, e isto inclui todos, sem exceção. Cada membro da raça de Adão é acusado e achado culpado.


1. Ele acusa o pagão pervertido (Rm 1:18-32)
Deus revelou-Se a eles na criação, externamente, e nas suas consciências, internamente. O homem, sendo um ser racional e moral, tem a responsabilidade e a capacidade de responder à revelação de Deus na criação, e à voz de Deus na sua própria consciência. Quer ouça ou não o Evangelho, aquela pessoa não tem desculpa e é responsável perante Deus para aprovar o que é certo e rejeitar o que é errado. Os pagãos, ao negligenciarem sua responsabilidade, se tornaram culpados de:
i) Perversão — ―que detêm a verdade em injustiça‖, literalmente, ―subjugam a verdade em injustiça‖ (1:18).
ii) Irreverência — ―não O glorificam como Deus‖ (1:21).
iii) Orgulho — ―se desvaneceram e o seu coração insensato se obscureceu‖ (1:21b-22).
iv) Idolatria — ―mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis … mudaram a verdade de Deus em mentira‖ (1:23, 25).
v) Sensualidade — ―Deus os entregou às concupiscências … paixões infames … sensualidade … sentimento perverso‖ (1:24, 26-28).
vi) Maldade — ―cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade …‖ (1:29).
Paulo conclui em 1:32: ―… são dignos de morte os que tais coisas praticam‖. Ser ―dignos de morte‖ é o veredicto da penalidade de Deus sobre o pecado, e significa a morte eterna.


2. Ele acusa o filósofo polido (Rm 2:1-16)
―Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas o outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo‖ (2:1).
Este grupo pode incluir o gentio culto e também o judeu religioso. Havia muitos moralistas cultos e filósofos, na Grécia e em Roma, que não se afundaram nas condições sórdidas mencionadas em Romanos 1, e cujos dons intelectuais eram usados para exaltar sua mitologia pagã, que era realmente a adoração de demônios. Estes atos
deploráveis de adoração nos lembram que a civilização e a religiosidade não são proteção alguma contra o mal ou a injustiça. Este espírito de justiça própria era demonstrado no fariseu religioso que agradeceu a Deus por não ser ―como os demais homens‖ (Lc 18:11).
Estas pessoas imaginam que estão assentadas no banco do juiz, quando na realidade estão em pé diante do tribunal, perante o juiz, e expostos à mesma condenação.


3. Ele acusa o fariseu privilegiado (Rm 2:17-3:8)
―Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei‖ (2:17-18) .
O judeu ritualista é confrontado aqui nos seus próprios termos. Suas reivindicações, privilégios, superioridade e ortodoxia lhe davam a aparência de estar certo, mas sua vida o condenava. Ele abusava da confiança recebida, fazendo com que o nome em que se gloriava viesse a ser ―blasfemado entre os gentios‖ (2:24).
a) Os privilégios do judeu são examinados (2:17-20)
O judeu tinha uma linhagem e podia traçar sua família até Abraão. Saulo de Tarso também se vangloriava nisto: ―Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu‖ (Fp 3:5). O privilégio do judeu tinha se tornado uma capa com a qual ele procurava esconder a sua iniquidade e cobiça.
b) As práticas do judeu são expostas (2:21-24)
O v. 23 diz: ―Tu, que glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?‖ Seu comportamento contradizia e condenava seu orgulho.
c) A posição do judeu é explicada (2:25-29)
―Se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão‖. Aqui, o judeu ritualista foi avisado contra o perigo de descansar num símbolo exterior enquanto faltava-lhe a realidade interior.
O veredicto final sobre o judeu e o gentio aparece em Romanos 3:19-20. Ambos eram réus perante o tribunal. A Palavra de Deus, entronizada no selo da justiça, resumiu o caso e pronunciou a sentença justa: ―… que toda boca esteja fechada e todo mundo seja condenável diante de Deus‖ (3:19).
Todas as vozes de defesa e justiça própria foram silenciadas para sempre. Deus podia então falar em misericórdia e graça aos culpados.


A justificação definida biblicamente
Os assuntos da culpa humana e da graça de Deus são plenamente e fielmente considerados em Romanos caps. 1-4. A graça de Deus, independentemente da lei, tem procurado a bênção da justificação para cada pecador que crê. Isso foi conseguido ―pela redenção que há em Cristo Jesus‖ (Rm 3:24).
Mas o que significa ser justificado? Qual é sua definição bíblica?
A palavra ―justificado‖ muitas vezes é definida ―como se nunca tivesse pecado‖. Mas isso significaria um estado de inocência, e esta definição não é bíblica. A justificação sempre está ligada à culpa, como Romanos 5:16 claramente explica: ―E não foi assim o dom como a ofensa. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para a condenação‖. Paulo está dizendo que aquela uma só ofensa de Adão trouxe o juízo inevitável, e o veredicto foi ―condenação‖. Mas, o dom gratuito de Cristo tratou eficazmente com muitas ofensas, não somente uma — e o resultado do veredicto foi ―absolvição‖. Ele enfatiza as diferenças entre o terrível resultado de um só pecado e a
tremenda libertação efetuada para muitos pecados e, no final, entre os veredictos de condenação e justificação.
Além disso, a justificação não significa que o crente é ―feito justo‖, pois isto o tornaria igual a Deus no Seu caráter essencial. De acordo com o Dicionário de Palavras do Novo Testamento de W. E. Vine, ―ser justificado‖ significa ―declarado justo ou pronunciado justo‖.
Uma consideração cuidadosa de todas as Escrituras ligadas com o assunto nos permite compreender que a justificação significa a absolvição dos culpados perante o tribunal da justiça de Deus, declarados justos e trazidos a um novo e correto relacionamento com Ele. A justificação é a absolvição legal e formal de culpa, e Deus é o Juiz. Ser justificado através da Pessoa e morte do Senhor Jesus Cristo muito ultrapassa, em bênçãos, o que o ato de Adão e os seus resultados causaram de perda e ruína.


A justificação dispensada gratuitamente
Muitos séculos atrás, Bildade fez duas perguntas importantes. Sua primeira pergunta foi: ―Como, pois, seria justo o homem para com Deus?‖ (Jó 25:4). A resposta a esta pergunta se encontra em Romanos 5:1-11: ―Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus‖ (5:1). Sua segunda pergunta foi: ―E como seria puro aquele que nasce de mulher?‖ (Jó 25:4). Encontramos a resposta a esta pergunta em Romanos 5:12-21, ―Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo … assim pela obediência de um muitos serão feitos [constituídos] justos‖. Já foi estabelecido nos cap. 1-5 que a humanidade é culpada e precisa ser justificada, e que sendo culpada está sujeita ao justo juízo de Deus por causa do pecado. Vemos claramente que, antes da necessidade do pecador poder ser suprida, ainda há a mais urgente questão sobre como satisfazer as reivindicações de Deus. Estas reivindicações da justiça de Deus precisam ser satisfeitas, antes que um único pecador possa ser justificado. Romanos 3:24-26 mostra claramente que tais exigências foram totalmente satisfeitas na Pessoa e sacrifício propiciatório do Senhor Jesus Cristo. Agora 3:26 declara triunfantemente: ―… para que Ele seja justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus‖.


Está escrito que o crente é justificado:
1. Pela graça — sua fonte
―Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus‖ (Rm 3:24).
Isto é dado gratuitamente. A palavra ―gratuitamente‖ é traduzida em João 15:25 ―Odiaram-me sem causa‖. É pela graça, porque a liberalidade espontânea de Deus é a única razão para tal ato da parte de Deus. O Evangelho da graça de Deus conta como Ele justifica pecadores por um dom gratuito e por um ato de favor imerecido. Não pode ser obtido em troca de algo. Só pode ser aceito. Visto que é pela graça, não pode ser merecido. É dado e recebido sem nenhum merecimento.
Soberana graça! Sobre o pecado abundando, Almas remidas a nova vão apregoar: É profunda, qualquer medida desafiando; Quem suas dimensões pode contar? Nas suas glórias quero sempre meditar.
J. Kent (tradução literal)


2. Pelo sangue — sua causa
―Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira‖ (Rm 5:9).
É pelo sangue, porque é necessário haver uma base justa sobre a qual Deus pode agir, e uma que dará uma resposta indisputável ao universo. Esta resposta está no Seu sangue: ―justificados pelo [em, no grego] seu sangue‖. Esta é a aplicação da Sua morte, apropriada pela fé, reconhecendo que o Seu sangue foi o preço que foi pago.


3. Pela fé — seu meio
―Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo‖ (Rm 5:1).
É pela fé, porque este é o princípio pelo qual todas as bênçãos são recebidas de Deus. É a mão vazia estendida para receber o dom da justificação. Fé é descansar na Palavra de Deus. É a certeza de que o que Ele prometeu, Ele fará.
A apresentação magistral de Paulo deste assunto da justificação, na Epístola aos Romanos, tem suas origens na parábola contada pelo Senhor Jesus em Lucas 18:9-14. A parábola do publicano e do fariseu foi dirigida aos ―que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros‖. A história revela que embora a justificação esteja disponível a todos, uma atitude apropriada e correta é necessária. O homem que ―desceu justificado para sua casa‖ foi aquele que reconheceu que era pecador, e fez a sua súplica baseado em um sacrifício.


Considere:
a) A sua aproximação
Em contraste com o fariseu que se posicionou no átrio externo do templo, o publicano ficou ―em pé, de longe‖. Ele percebeu a sua indignidade de estar entre os adoradores, e de estar dentro dos limites sagrados. Ele sabia que, moralmente, ele estava longe de Deus.
b) A sua atitude
Para ele, o Céu era tão santo que ele ―nem ainda queria levantar seus olhos‖ naquela direção. Não era lugar para um homem como ele.
c) A sua ação
O publicano ―batia no peito‖ em auto condenação, estando inteiramente convicto dos seus pecados. Em contraste, o fariseu exibia as suas aparentes virtudes e atos de piedade —sua oração era egocêntrica, chamando atenção a si mesmo. Como Caim, ele trouxe a Deus o produto das suas próprias mãos. Ele contou a Deus o que ele não era e o que ele fazia, mas ele não disse o que ele era.
d) O seu apelo
―Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!‖ Este foi seu único pedido. Lá no átrio estava o grande altar de bronze, onde o sacrifício era colocado. Suas palavras também podem ser traduzidas: ―Ó Deus, sê propício a mim, pecador!‖ (ARA). O sangue da propiciação é a única esperança para os culpados. O sacrifício perfeito do Senhor Jesus deu a Deus a resposta para a culpa humana e o direito de justificar o culpado.
e) A absolvição e afirmação
―Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele‖. Que palavras preciosas! O Deus que declarou todos culpados, pela virtude do infinito sacrifício do Seu Filho, agora pode declarar o crente justo. O paralelo entre esta parábola em Lucas 18 e Romanos caps. 1-5 é de fato impressionante e muito precioso.
i) O publicano não tinha mérito pessoal, não ofereceu nenhuma obra, mas foi justificado gratuitamente. Isso corresponde a ―justificados pela graça‖ (Rm 3:24).
ii) Sua única esperança era o sacrifício de propiciação. Isso corresponde a ―justificados pelo sangue‖ (Rm 5:9).
iii) Aquele que confessou ser pecador, fazendo a sua petição, foi declarado justo. Isso corresponde a ―justificados pela fé‖ (Rm 5:1).
A justificação decidida irrevogavelmente
Romanos 8:31-39 é a gloriosa consumação da parte doutrinária desta Epístola. O escritor já destacou a justiça e graça de Deus em relação aos assuntos de condenação, justificação, santificação e glorificação, de uma maneira magnífica. Os versículos finais do capítulo são um resumo maravilhoso, salientando quatro perguntas e respostas importantes.
1. Nenhuma refutação
―Se Deus é por nós, quem será contra nós?‖ (Rm 8:31,32)
a) A declaração
―Se (sendo que) Deus é por nós …‖. Que segurança maravilhosa! Os versículos anteriores deixam este fato muito claro, mostrando que Ele está trabalhando para o bem eterno do Seu povo: ―porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformados à imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou‖ (Rm 8:29-30).
―Conheceu … predestinou … chamou … justificou … glorificou. Estas palavras descrevem o plano Divino em ação. Estes dois versículos (Rm 8:29-30) contêm uma das mais abrangentes declarações da Bíblia, e contêm também algumas das palavras mas importantes do vocabulário cristão, e abrangem uma vasta área dos fatos e natureza da fé cristã. O v. 29 atribui toda a atividade do plano de Deus à Sua presciência, enquanto que o v. 30 descreve como o próprio Deus está cumprindo este plano no tempo. Foi Ele que conheceu; Ele predestinou, Ele chama; Ele justifica; Ele glorifica. Mérito humano, ou justiça própria, ou realizações estão totalmente excluídos.‖
b) A pergunta
―Quem será contra nós?‖ Isso não sugere a ausência de adversários, mas confirma que nada no universo impedirá o cumprimento da vontade de Deus em assegurar o eterno bem dos Seus santos.
c) A resposta
―Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?‖ (8:32). A dádiva generosa de Deus, dando Seu Filho singular, é a garantia de todos os outros benefícios. A magnificência deste amor somente pode ser medida pela grandeza infinita dAquele que é descrito como ―Seu próprio Filho‖. Isso significa que Deus não tem outro Filho igual, e este relacionamento exclusivo com o Filho colocou-O separado de todos os outros no vasto universo de Deus, sejam eles a humanidade redimida ou os anjos não caídos.
2. Nenhuma acusação
―Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica‖ (Rm 8:3).
Aqui temos uma referência clara ao desafio do perfeito Servo de Deus. ―Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? … Quem é meu adversário? Chegue-se para mim. Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene?‖ (Is 50:8-9). Quem pode levar ao juízo aqueles que são os eleitos de Deus? Será que Deus os acusará depois de tê-los declarado inocentes? Os primeiros capítulos de Romanos confirmaram que nenhuma acusação será bem sucedida se Deus, que é o Juiz, os declara justos.
3. Nenhuma condenação
―Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós‖ (Rm 8:34).
Neste versículo vemos quatro grandes fatos:
a) O fato da sua morte
A ênfase está na natureza da Pessoa que morreu. Deus silencia toda condenação porque foi Cristo que morreu. Ele não era sujeito à penalidade de morte, mas pagou a penalidade em prol de outros. Em II Coríntios 5:21, Paulo deixa isto muito claro: ―Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus‖. O crente no Senhor Jesus se torna tudo que Deus requer e o que ele nunca poderia ser por si mesmo. É ―nEle‖ que somos considerados justos. A expressão em Romanos 4:11: ―… a fim de que também a justiça lhes seja imputada‖ pode ser traduzida: ―a fim de que sejam contados ou considerados justos‖. A palavra grega logizomai, usada onze vezes em Romanos 4, é traduzida de maneiras diferentes: ―atribuído‖, ―tomar em conta‖, ―imputado‖. Significa levar em conta ou calcular. A fé de Abraão foi imputada como justiça. Isso não significa ―a fim de ser justo‖, ou ―no lugar da justiça‖. II Coríntios 5:21 está destacando o fato que o crente tem uma posição perfeita no Senhor Jesus Cristo. A fé coloca o crente numa união fundamental com Deusem Cristo.
b) O fato da sua ressurreição
―Quem ressuscitou dentre os mortos …‖. Paulo já mostrou este fato: ―o qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação‖ (Rm 4:25). As preposições ―por‖ e ―para‖ neste versículo são traduções de dia (―por causa de‖); Cristo foi entregue para fazer expiação pelos pecados e foi ressuscitado para garantir a justificação deles.
c) O fato da sua ascensão
―O qual está à direita de Deus‖. A ressurreição do nosso Senhor Jesus provou, conclusivamente, que Ele não estava preso à morte. A Sua ascensão à direita de Deus complementa esse fato.
d) O fato da sua intercessão
―Também intercede por nós‖. Se o Senhor Jesus, a quem todo juízo foi dado, não sentencia o acusado, mas antes intercede por ele, então não há mais ninguém que teria uma razão válida para condená-lo.
4. Nenhuma separação
―Quem nos separará do amor de Cristo?‖ (Rm 8:35). Paulo agora lança o desafio, e com eloquência notável torna o assunto incontestável. Ele nomeia sete poderes ameaçadores, mas nenhum deles pode quebrar o vínculo, ou separar o crente do Senhor Jesus Cristo. Este é o clímax da declaração de Paulo sobre a segurança eterna do salvo.
A justificação demonstrada pelas evidências
―Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé‖ (Tg 2:24).
Uma leitura superficial desta afirmação parece contradizer a grande doutrina bíblica de justificação pela fé, que tem sido o tema central do nosso estudo. Paulo insiste: ―Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei‖ (Rm 3:28).
Se Paulo e Tiago estão em conflito, então o Novo Testamento todo está em ruínas, e a autoridade e unidade das Escrituras estão destruídas. Martinho Lutero descreveu a Epístola de Tiago como ―uma epístola de palha‖. Mas não há nenhuma contradição!
Quando Paulo trata do assunto da justificação, ele foca na experiência inicial, no momento quando o pecador aceita o Senhor Jesus como Salvador. Quando Tiago escreve sobre a justificação, ele enfatiza a evidência da fé como uma realidade presente e prática. Precisamos deixar muito claro que Tiago não está dizendo que boas obras, automaticamente, significam que a pessoa tem uma fé genuína. Antes, ele está procurando estabelecer, com clareza, o fato que para uma pessoa professar ser cristã sem qualquer evidência de boas obras é uma profissão falsa. Tiago não está dizendo que as boas obras são a causa, mas a consequência da justificação. Ele ilustra isto com as vidas de Abraão e Raabe. Esta passagem em Tiago, que é de suma importância, deve ser vista da perspectiva da fé. Observe três assuntos ligados com a fé de Abraão:
1. O princípio da fé
―Bem vês que a fé cooperou com as suas obras‖ (Tg 2:22). Nesta afirmação Tiago está ligando a fé às obras, ele não está separando-as. Ele está concordando plenamente com Hebreus 11:17: ―Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado‖. Esta é a linguagem de cooperação, não de conflito. Sua fé, evidenciada nas suas obras, era uma fé ativa. Não há nesta Epístola — como alguns parecem imaginar — uma tentativa de colocar as obras contra a fé como a base da justificação. Obras nunca são rivais da fé.
2. A prova da fé
―Pelas obras a fé foi aperfeiçoada‖ (Tg 2:22). Tiago não está sugerindo que a fé de Abraão era de alguma maneira deficiente. A força desta palavra ―aperfeiçoada‖ é explicada em II Coríntios 12:9: ―A minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza‖. O poder de Deus não foi produzido pela fraqueza de Paulo, mas foi evidenciado na sua fraqueza. Semelhantemente, a fé de Abraão foi demonstrada, e provada ser real, pelo seu estupendo ato de obediência.
A fé sempre se expressa por meio de obras — obras da fé, não simplesmente em fazer o bem. Sem a evidência de tais boas obras, as pretensões da fé são infundadas, porque ―a fé sem obras é morta‖ (Tg 2:20). A fé é o espírito animador da verdadeira vida cristã; o sopro vital das obras que ―glorificam vosso Pai que está nos céus‖ (Mt 5:16).
3. A promessa da fé
―E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça‖ (Tg 2:23). Aqui, Tiago está citando um incidente na vida de Abraão que acontecera trinta anos antes, quando Deus prometera que a sua descendência seria muito grande (Gn 15:6). Quando Paulo enfatizou o grande tema de justificação somente pela fé, ele também usou este mesmo incidente de Gênesis 15. Abraão, pela sua prontidão em sacrificar Isaque, não acrescentou nada à sua justificação pela fé, nem contribuiu nada a ela. O que temos aqui não é fé acrescida de obras, mas a evidência da fé. Paulo concorda plenamente com este fato. ―Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas‖ (Ef 2:10).
Em conclusão, vamos sempre lembrar que a justificação, como a regeneração, é um ato singular, isolado, que nunca é repetido.
Ó gozo do justificado, gozo da alma liberta, Fui lavado na fonte para mim aberta; Em Cristo, meu Redentor, permaneço com satisfação, Apontando para o sinal do cravo na Sua mão.
F. Bottome (tradução literal)

 

Por James D. McColl, Austrália.

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