Elohim

Os nomes de Deus nas Escrituras Sagradas são muitos; são variados, pitorescos e impregnados de significado. Isto é compreensível quando reconhecemos que Deus Se revela por meio destes nomes, na Sua comunicação com Suas criaturas. Portanto os nomes dados são um veículo divino da auto revelação de Deus.

Dentre estas numerosas designações, três nomes são encontradas com mais frequência nas Escrituras. São eles Jeová, o nome pessoal de Deus, que tem implicações morais; Adonai, sempre traduzido “Senhor”, indicando a completa supremacia de Deus, em toda esfera da existência; e o nome que vamos considerar neste capítulo, Elohim. Este título é quase sempre traduzido “Deus” nas versões em português da Bíblia. Os dois primeiros títulos divinos serão considerados em outros capítulos desta publicação. O foco atual irá tentar mostrar, até certo ponto pelo menos, quais as características de Deus expressas no título Elohim. Uma abordagem tripla será tomada, e vamos observar:

As ocorrências de Elohim nas Escrituras hebraicas;

A etimologia do título;

Os atributos de Deus indicados pelo título.

As ocorrências de Elohim nas Escrituras hebraicas

Esta palavra aparece com tanta frequência no Velho Testamento, mais de duas mil e quinhentas vezes, que o espaço necessário para considerar cada uma destas ocorrências torna o feito impossível. O melhor que podemos fazer, dentro das limitações deste artigo, é examinar algumas das ocasiões onde Elohim parece se relacionar, de uma maneira clara, com a Pessoa de Deus, ou se refere a características divinas. Assim poderemos entender o significado inerente do termo.

Um fato muito significativo é que Elohim aparece primeiramente nos versículos introdutórios da Bíblia. Gênesis 1:1 afirma: “No princípio criou Deus (Elohim) os céus e a terra”. Além desta ocorrência, este título aparece mais trinta e nove vezes somente na narrativa da Criação, em Gênesis 1 e 2. Depois do término da narrativa da criação (Gn 2:3), e como preparação para a estreia do homem, outra designação das Pessoas divinas é apresentada. A partir de Gênesis 2:4 o nome “Senhor Deus” é apresentado. A conclusão indiscutível é que a raça humana também está debaixo do mandado da Criação de Deus, mas com o embargo adicional que considerações morais estão envolvidas nesta evidência adicional de poder divino. Nossa atenção rapidamente se volta ao fato que Elohim é o Deus de poder infinito, capaz de criar o vasto Universo físico simplesmente através da Sua palavra falada. A onipotência de Elohim permeia estes dois capítulos, bem no começo da manifestação de Deus sobre Si mesmo à Sua criação. A imensidão do espaço, aparentemente infinito, ocupado por bilhões de corpos celestes, cada um deles com sua própria glória inconfundível (I Co 15:41), fala de poder imensurável e incapaz de ser imaginado. Criar os Céus e a Terra e equipá-los, tendo em vista o Seu próprio propósito especial, e fazer tudo de nada que previamente existisse, estonteia até mesmo o mais profundo intelecto.

Outro aspecto de Elohim é onipotência: o poder, força e vigor de Deus. Quando Abraão obedeceu à voz do Senhor e estava pronto para oferecer o seu filho Isaque, Deus forneceu um substituto, e logo após pronunciou uma bênção sobre Abraão. Aquela bênção foi jurada pelo próprio Deus (Gn 22:16), e a epístola aos Hebreus faz o seguinte comentário: “Como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo” (Hb 6:13). No cap. 22 de Gênesis a palavra Elohim é usada cinco vezes para mostrar que era o Senhor, como Elohim, que testou Abraão, guiou-o até o monte, forneceu o cordeiro e depois prometeu abençoá-lo. O Elohim de quem é registrado que não há “maior”. Deuteronômio 10:17 resume a grandeza da Pessoa de Deus: “Pois o Senhor [Jeová] vosso Deus [ Elohim] é o Deus dos deuses, o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensa”. Assim o significado do nome Elohim é explicado para nós nas Palavras do próprio Deus.

Com referência às primeiras ocorrências da palavra Elohim, no livro de Gênesis, torna-se inquestionável que a onipotência de Deus é essencial para o seu significado, como temos visto, enquanto a singularidade do relato Bíblico do início da Criação é enfatizado. Também podemos notar que este nome de Deus, Elohim, não é encontrado em nenhuma das antigas crônicas da língua semítica; é encontrado somente nos escritos hebraicos. Isso também sugere que a palavra tem por finalidade transmitir algo muito especial, para que a criatura peculiar de Deus, o ser humano, possa entender seu relacionamento especial com o Deus da sua vida.

A etimologia do título

Muito tem sido escrito sobre a origem e desenvolvimento das palavras bíblicas, especialmente em relação aos nomes de Deus. Sendo que Deus desenvolveu este meio para Se revelar às Suas criaturas, temos diante de nós um estudo muito interessante e informativo. Além disto, a salvação é essencial para qualquer um que deseja conhecer a Deus, de acordo com o que o nosso Senhor Jesus propôs na Sua definição de vida eterna, que Ele disse consistia em conhecer “a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”; a isto Ele acrescentou as palavras: “manifestei o Teu nome aos homens que do mundo me deste” (Jo 17:3, 6). Quanto mais apreciamos a Pessoa divina e Seus atributos assim revelados a nós, mais nossos corações são levados a adorar o Deus da nossa Criação. Isto foi expresso pelo poeta, enquanto ele parece estar meditando em Mateus 10:29-31:

De todas as maravilhas transcendestes de Deus,

Esta maravilha das maravilhas eu vejo,

Que o Deus de tanta infinita grandeza

Se preocupe com os pardais — e comigo! (M. H. D.)

Alguns estudiosos do hebraico pensam que Elohim se origina de Eloah, o primeiro sendo um substantivo plural e o segundo singular. Eloah parece ter o significado de “força” ou “temor”. Isto nos leva a interpretar Eloah como “O Forte”. Esta forma da palavra “Deus” aparece frequentemente no livro de Jó, mas raramente em outro lugar das Escrituras. Talvez o motivo para isto seja que Jó está especificamente debatendo o próprio caráter de Deus com seus três “amigos”, e Deus é retratado como “O Poderoso”.

Elohim tem um significado diferente. Como palavra plural ela está sempre ligada com formas de linguagem no singular: verbos, adjetivos, pronomes, etc. Já mencionamos as primeiras palavras da Bíblia em hebraico: “No princípio criou [verbo no singular] Deus [Elohim — substantivo plural] os céus e a terra”. A mesma anomalia gramatical aparece em diversas porções da Palavra de Deus. Ainda ligado com o dia da Criação, as palavras de Gênesis 1:26-27, acrescentam peso a esta aparente inconsistência: “E disse Deus [Elohim – plural] Façamos [verbo singular no original] o homem à nossa imagem … e criou [singular] Deus [plural] o homem à sua [singular] imagem [singular]; à imagem [singular] de Deus [plural] o criou [singular]”. Assim a palavra Elohim abre caminho para a revelação bíblica de um Deus que subsiste em pluralidade de Pessoas. É uma palavra exclusiva para descrever uma comunicação sem paralelos. A unidade essencial do próprio ser de Deus, enquanto Ele subsiste numa pluralidade de três Pessoas. Este é o significado que a palavra Elohim deve transmitir, e é claramente apoiada pelo seu uso na Palavra de Deus.

Os atributos de Deus indicados pelo título

A onipresença divina

Deus, para ser Deus, precisa ser onipresente. Não somente capaz de o ser, mas realmente o sendo, estando em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele não pode ser, de modo algum, limitado, nem preso a algum lugar, ou excluído de outros. Para ser verdadeiramente Deus Ele precisa ser superior a espaço, tempo e matéria, e ser superior a toda a Criação que Ele criou. Nem pode a ideia dos politeístas, que afirmam que os “muitos deuses e muitos senhores” (I Co 8:5) da sua imaginação obscurecida habitam em todos os homens, animais e fenômenos do Universo físico, ser suficiente para explicar esta necessidade lógica. Deus precisa estar presente no centro, na circunferência e em todo o espaço da Sua vasta Criação. A reivindicação inabalável dos escritos inspirados, tanto do hebraico como do cristão, é que somente Elohim é possuidor desta onipresença. Como com todos os atributos infinitos, o limitado intelecto humano acha impossível entender isto. Devemos notar, entretanto, que onipresença não é uma percepção que ofende a lógica. Por outro lado não é uma ideia que tem muito apoio nas religiões não cristãs, visto que as suas exposições das deidades reconhecidas são especulativas ou etéreas, isto é, sem forma material. Não é o caso com Elohim, que se revelou a Si mesmo substancialmente como Pai, Filho e Espírito Santo. Isaías registra palavras que foram inspiradas pelo Espírito Santo: “O Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito” (Is 48:16). O “Me” desta citação ninguém mais é do que Aquele que é chamado de “Filho [que] se nos deu”, em 9:6 da mesma profecia. Uma trindade de pessoas pode ser concebida pela mente humana, pois os humanos foram criados tendo espírito, alma e corpo, um ser triuno criado à imagem de Elohim que o criou.

Elohim é chamado de “o Deus de toda terra” (Is 54:5); “o Deus de toda carne” (Jr 32:27); “o Senhor Deus dos céus e Deus da terra”, (Gn 24:3). Em cada uma destas citações “Deus” é a tradução da palavra ElohimElohim não deixa dúvidas quanto a Sua reivindicação de onipresença quando Ele usa a caneta de Seu servo Jeremias para escrever: “Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que Eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho Eu os céus e a terra? diz o Senhor” (Jr 23:23-24).

É inconcebível que tal Deus por quem estas reivindicações são feitas seja, de qualquer forma, limitado. Se tais limitações forem aplicadas de qualquer forma a Elohim, então muito do que é afirmado em relação aos atributos divinos não faz sentido. Além disto, muitas das palavras do Senhor Jesus se tornam incompreensíveis. Por exemplo, as palavras maravilhosas da comissão, encontradas em Mateus 28:19-20: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações … e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. Para que estas palavras, quer sejam cridas ou não, façam algum sentido elas precisam ser vistas como sendo uma reivindicação direta de onipresença, pois Ele promete estar com o Seus servos em todos os lugares em todo tempo. Apesar do fato maravilhoso do Senhor Jesus ter tomado sobre Si as limitações de um corpo humano perfeito, para poder estar em somente um lugar em determinado momento, e assim sofrer a experiência da morte, Ele nunca deixou de lado a Sua onipresença essencial. Este, entre outros atributos intrínsecos, estava encoberto pelo Senhor, “fazendo-se semelhante aos homens” para que pudesse “humilhar-se a si mesmo”, por Se tornar “obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:7-8). O rei Davi, no seu salmo de confissão (Salmo 139), estava plenamente ciente desta característica exclusiva que pertencia a Elohim. Ele escreveu: “Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiara e a tua destra me susterá” (vs. 7-10). Este é um pensamento impressionante! Diante da presença de nosso Deus, Elohim, não há esconderijo secreto, nem no Céu, nem na Terra ou no inferno. Pela mesma indicação da onipresença de Deus, o cristão tem a certeza absoluta de que Elohim é “Deus que me vê” (Gn 16:13), é Aquele em quem ele depositou a sua confiança, como Jacó, que disse: “O Deus que tem sido o meu pastor durante toda a minha vida até este dia” (Gn 48:15, VB).

A onisciência divina

Falar da onisciência de Deus é lidar com o fato que Deus tudo sabe, (I Jo 3:20). Isto não significa que Deus meramente sabe tudo o que os homens sabem, ou podem saber. A onisciência de Deus, assim como a Sua onipresença, precisa ser um atributo absoluto e eterno. Em relação à onisciência divina as Escrituras dão um testemunho abundante.

Nossa atenção é atraída ao fato que a primeira vez que o conhecimento de Elohim é mencionado nas Escrituras é por meio dos lábios do maligno, que reconhece que coisas ainda futuras, e que a causa e o efeito relacionado a todos os acontecimentos, são conhecidos a Ele (Gn 3:5).

Por ocasião da conferência em Jerusalém, para tratar da posição dos gentios diante dos judeus e da Lei, Tiago faz uma afirmação abrangente. Uma mudança drástica, relacionada à aplicação da dispensação Mosaica, estava sendo reconhecida, e em relação a ela e a todos os outros acontecimentos, o apóstolo disse: “Conhecidas são de Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras” (At 15:18). Isto poderia significar que o conhecimento de Deus era limitado à era que abrange a habitação do homem até agora, mas outras Escrituras mostram que este não é o caso. O conhecimento de Deus é mencionado três vezes no Salmo 139 já mencionado: Davi reconhece que Deus é conhecedor absoluto dos seus pensamentos mais secretos (v. 2), de cada palavra mesmo antes de ser proferida (v. 4), e que tal conhecimento é algo que ele nunca poderá alcançar (v. 6).

Se, como já notamos, a onisciência divina é absoluta e eterna, então nenhum mero ser humana pode esperar alcançá-la. O conhecimento do homem é recebido, é parcial e progressivo. O conhecimento de Deus é intuitivo e intrínseco, e ninguém é convocado para ser Seu instrutor ou Seu conselheiro (Rm 11:33-34). Nada do passado foi esquecido por Deus; nada do presente está escondido dEle, e nem o futuro revelará algo inesperado para Ele. Tentativas já foram feitas para explicar como Deus pode estar ciente de todas as coisas de todos os tempos, de uma vez, sem auxílio das limitações impostas aos homens, pela nossa percepção do passado, presente e do futuro. Os esforços para esclarecer este fato podem não ter sido muito bem sucedidos, mas uma ilustração, pelo menos, pode nos ajudar a apreciar um pouco, como o conhecimento de Deus não sofre as limitações impostas pelo tempo e espaço. Suponhamos que uma pessoa, de pé à beira da estrada, vê passar uma procissão muito longa. Ele, em qualquer momento, vê somente uma pequena parte da procissão, ou seja, o presente. Agora se este indivíduo for levado ao alto, em alguma maquina voadora, então da altura de 80 ou 100 metros, ele poderia ver toda a procissão desde o começo até o fim (passado, presente e futuro) sem ao menos precisar virar a cabeça.

Para o incrédulo, a ideia da onisciência divina é assustadora. Deus diz: “Quanto às coisas que vos surgem à mente, eu as conheço” (Ez 11:5, ARA). O cristão, entretanto, descansa feliz neste bendito fato, que o seu Deus (seu Elohim) tudo sabe. Isto é afirmado indubitavelmente no Novo Testamento em lugares como Hebreus 4:13, onde está escrito: “Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”. Deus sabe tudo sobre tudo em todo tempo. Nem um pardal cai em terra sem que o nosso Pai saiba, diz o Senhor Jesus (Mt 10:29). Deus sabe tudo instintivamente, sem a necessidade de aprender ou ser ensinado. Seu conhecimento é perfeito e completo. Ele também não precisa modificar os Seus planos por causa de informações mais atualizadas. O Elohim da nossa Bíblia é onisciente.

A soberania divina

Um atributo é algo completamente essencial à própria natureza de Deus, não somente uma qualidade ou característica do Seu pensamento ou dos Seus atos. Por esta razão há alguns pensadores respeitados que creem que soberania não é fundamental à Sua natureza, mas característico da maneira como Ele pensa ou do método que Ele escolhe para agir. Até o momento, nossas considerações de Gênesis 1:1-2:3, como um relato da criação do Universo, tem mostrado que Elohim, nos Seus atos criativos, agiu com liberdade desimpedida: ninguém foi capaz de controlar, ordenar ou interferir em Seus propósitos ou propostas. As decisões de Elohim são dEle mesmo, singulares, com ninguém mais no centro do palco ou na periferia convidado a assistir, alterar ou contribuir com o desenvolvimento desta empolgante obra. Elohim programou, determinou e terminou perfeitamente, com propósito de antemão determinado, este vasto Universo para o benefício do homem. Assim está escrito: “Porque falou e foi feito; mandou e logo apareceu” (Sl 33:9). O sujeito deste versículo é o Elohim do v. 12: “Bem-aventurada a nação cujo Elohim é o Senhor”.

Referente à salvação de Deus, o mesmo é verdade. De uma forma muito especial e singular, “do Senhor vem a salvação” (Jn 2:9). Nos Salmos, a frase “o Deus [Elohim] da minha salvação” é usada oito vezes, e em muitas outras referências fora dos Salmos. Foi Elohim quem mandou Noé construir a arca para a salvação da sua família (Gn 6:13-14), devido à Sua decisão soberana de destruir a Terra que Ele havia criado. Em diversos textos, no decorrer das Escrituras, Deus permite que Ele seja chamado de “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (veja, por exemplo, Êx 3:6). Em todas tais ocorrências é o nome Elohim, fazendo-nos lembrar que Deus fez uma escolha soberana dos patriarcas para que a obra da salvação pudesse ser inaugurada e consumada no Filho transcendente de Abraão. Foi também Elohim quem enviou José adiante dos seus irmãos ao Egito, para “conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento” (Gn 45:7). 

Nos escritos enigmáticos de Salomão, no livro de Eclesiastes, a palavra Elohim é encontrada quarenta e uma vezes. O plano simples e não adulterado de Deus para o homem é descrito. O plano é que os homens sejam felizes e desfrutem dEle para sempre. A conclusão do rei sábio é: “Teme a Elohim e guarda os seus mandamentos” (12:13). Ele também diz: “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar, e isto faz Deus para que haja temor diante dele” (Ec 3:14). A soberania de Elohim é assim confirmada como sendo eterna e inviolável.

A eternidade divina

“De eternidade a eternidade tu és Deus [Elohim]” (Sl 90:2). “Deus é desde a eternidade” (Sl 93:2), portanto Ele não tem princípio de dias e Seus “anos nunca terão fim” (Sl 102:27). Sendo onisciente Ele é capaz de reconhecer as limitações de tempo, passado, presente e futuro, mas Ele mesmo não é atingido pela natureza do tempo nem por suas mudanças. Ele é o Criador do tempo (Rm 8:38-39) e, portanto, pode Se mover dentro ou fora dos seus parâmetros. Na era patriarcal, quando Abraão fez uma aliança com Abimeleque, ele “cavou o poço do testemunho” e plantou um bosque de comemoração, em Berseba, invocando Jeová como “o Elohim eterno” (Gn 21:33). Depois que os três amigos de Jó falharam miseravelmente ao tentar explicar a Pessoa de Deus e os Seus caminhos, Eliú, que de certa forma se tornou o interprete de Deus para Jó, falou deElohim dizendo: “O número de Seus anos não se pode esquadrinhar” (Jó 36:26). É evidente que se Deus é a Fonte e o Originador do tempo, então Ele pode usar suas disposições finitas ou ignorá-las como Lhe convém. Um exemplo do primeiro é a promessa que Ele fez a Abraão em Gênesis 18:14: “Ao tempo determinado, tornarei a ti”. Quanto ao segundo, nenhuma mudança que permita uma transição em existência ou em caráter é contemplada em relação a Deus. O oposto é o caso, e o cristão canta com absoluta confiança: “Jeová não conhece mudança”. Trataremos disto, em mais detalhes, mais adiante. Por agora é suficiente notar que Deus (Elohim), quanto ao Seu Ser essencial, subsiste sem princípio nem fim; quanto à duração da Sua existência, Ele não tem precedente nem sucessor, e quanto a todos os Seus atos em amor, salvação e preservação, Ele age em suprema independência eterna, sem tolerar qualquer interferência ou assistência. “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre, Amém” (I Tm 1:17).

A onificência divina

“Onificência” é uma palavra descritiva, raramente usada, e que significa “ter todo poder para criar” ou, para nossa necessidade presente, “todo bom, e sempre fazendo o bem!” “Tu és bom e fazes bem” (Sl 119:65, 68) diz tudo! Davi é constrangido a escrever: “Cantarei ao Senhor [Elohim] enquanto eu viver”, e isto ele faz após uma longa meditação sobre o poder, a bondade e a glória de Deus que, diz ele, “durará para sempre” (Sl 104:33, 31).

“Se Deus é bom, por que …” é a eterna pergunta nos lábios da incredulidade, mas o coro entoado por aqueles que conhecem o seu Deus é: “A bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”, porque “a sua [Elohim] benignidade dura para sempre” (Sl 23:6; 136:2). Misericórdia é a bondade de Deus estendida às Suas criaturas em necessidade. Paulo, reconhecendo o estado pecaminoso do homem, sabe que somente um “Deus riquíssimo em misericórdia” poderia suprir esta necessidade (Ef 2:4). A bondade de Deus é um atributo puro e essencial, e assim permanece continuamente (Sl 52:1). Jó falou para a sua esposa sobrecarregada de ansiedade: “Temos recebido o bem de Elohim” (Jó 2:10, ARA), e um dos salmos de Asafe faz Israel recordar que “bom é Elohim para com Israel” (Sl 73:1). Paulo chama a atenção dos habitantes de Listra para o fato que a bondade de Deus os supria com as coisas básicas da vida e a felicidade (At 14:17).

Tal era a decisão de Deus de abençoar Abraão que, não encontrando outro maior por quem jurar, jurou por Si mesmo. Em outras palavras, Seu desejo de fazer o bem para Abraão era inflexível. Os cristãos da era presente entram na bênção desta verdade e podem levantar as suas vozes e cantar:

Quão bom é o Deus que adoramos;

Nosso fiel e imutável Amigo,

Cujo amor é tão grande quanto o Seu poder

E não conhece medida nem fim. (Joseph Hart)

A bondade de Deus inclui todas as Suas criaturas, homens e animais igualmente. Ela é universal. Todos os homens são convidados a participar da bondade de Deus: “Provai e vede que o Senhor é bom; bem aventurado o homem que nele confia” (Sl 34:8). O Senhor Jesus incentivou os Seus discípulos a refletir uma semelhança do seu Pai celestial ao fazer “bem aos que vos odeiam”, porque sem preconceito Ele faz com que “o seu sol se levante sobre maus e bons, e a sua chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:44-45).

Essa bondade de Deus é essencial quanto à sua natureza, implacável no seu desejo, universal na sua abrangência, e única na sua posse. Os três evangelistas sinópticos relatam que o Senhor Jesus declarou, sem sombra de dúvida, que esta onificência pertence a Deus e a mais ninguém: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus” (Mt 19:17; Mc 10:18; Lc 18:19). “Toda a boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17). Isto nos traz ao próximo atributo que vamos considerar.

A imutabilidade divina

Se Deus fosse capaz de, ou suscetível a, qualquer mudança, tudo o que foi escrito sobre o Seu caráter ou atributos seria sem sentido. O mesmo se aplica a quase tudo escrito neste livro. Um universo inconstante e variável exige uma fonte que, sendo sem princípio ou fim, é eternamente imutável. No último livro do Velho Testamento o Senhor dos Exércitos reivindica imutabilidade incondicional. Ele diz: “Porque eu o Senhor não mudo” (Ml 3:6). Como diz uma das canções populares de algum tempo atrás: “Nada vem do nada, nada poderia vir”! Apesar daquilo que é arrogantemente argumentado ao contrário, o cosmo exige uma origem, e esta origem precisa ser eternamente imutável. O que é afirmado como princípio nas Escrituras Sagradas, em relação a Elohim, responde ao que é exigido de uma forma razoável e racional, sem forçar a crença da criatura que foi dotada, pelo seu Criador, de uma percepção da eternidade no seu coração (Ec 3:11, ARA). Por toda a Bíblia esta verdade é mantida da forma mais natural e desembaraçada. O escritor do Salmo 102, ao contrastar o seu próprio estado inconstante com o estado do Senhor, diz: “Os meus dias são como a sombra que declina, e como a erva me vou secando. Mas, tu Senhor, permanecerás para sempre, a tua memória de geração em geração” (vs. 11-12). Isto não seria possível se Deus fosse suscetível à mudança! O mesmo escritor, em linguagem explícita e forte, afirma: “Meu Deus … desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás” (vs. 24-26). Na Nova Tradução de J. N. Darby há mudanças interessantes feitas na profecia de Isaías. Em Isaías 37:16, onde lemos: “Tu mesmo, só tu és Deus”, diz: “Tu és o mesmo, somente tu”. Também em 41:4: “Eu o Senhor, o primeiro, e com os últimos eu mesmo” temos: “Eu sou o mesmo”. A epístola aos Hebreus enfatiza esta verdade como aplicada ao Senhor Jesus na órbita completa dos Seus atributos divinos. A citação em Hebreus cap. 1 é de Salmo 102, onde palavras apropriadas à boca do Salvador crucificado e sofredor são registradas. “Dizia eu: Meu Deus não me leves no meio dos meus dias” (v. 24), e a resposta de Deus a Ele é, como a temos em Hebreus 1:10-12: “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás … Tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão”. Isto é confirmado ainda mais em Hebreus 13:8, onde a afirmação sem ambiguidade é feita: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje e eternamente”.

Surge um problema nas ocasiões quando é dito que Deus Se “arrepende”. Deus não pode ser, ao mesmo tempo, imutável e ainda capaz de mudar de ideia, da maneira como nós pensamos. Deus nunca muda de ideia da maneira como os homens O acusam de fazer. Por exemplo, Deus criou o homem com um propósito definido diante dEle. Era para que o homem O glorificasse e desfrutasse da Sua presença para sempre. A humanidade fracassou diante deste tal propósito e recusou obedecer. O resultado foi que a intenção de Deus, para todos os homens, foi alterada. Para ilustrar isto, podemos usar os raios solares. Os mesmos raios aquecedores do Sol derretem o gelo, mas endurecem o barro. Nem o Sol em si, nem os raios enviados por ele, diferem de alguma maneira. A única diferença é causada pela reação do material sobre o qual o Sol brilha.

Em eventos importantes durante a infância do escritor, imediatamente antes de se cantar o hino nacional, a multidão sempre cantava um bem conhecido hino, com as cabeças descobertas em sinal de reverência e respeito. Também era cantado, quase toda noite, nos abrigos antiaéreos durante a Segunda Guerra Mundial. As palavras são:

Ó Deus, nosso auxílio em eras passadas, nossa esperança nos anos por vir,

Nosso abrigo da tormenta e nosso eterno lar!

Antes dos montes serem estabelecidos, ou da terra receber a sua forma,

Desde a eternidade Tu és Deus, para sempre o mesmo. (Isaac Watts)

As palavras encantavam a minha alma, mesmo na ignorância, e ainda hoje o fazem. O Elohim do cristão; o mesmo eternamente, em amor, em misericórdia, em graça, e em poder.

Às vezes somos loquazes demais nas nossas tentativas de explicar Deus, usando linguagem que pensamos ser razoável e compreensível. O caráter transcendente de Deus é inconfundivelmente apresentado por Paulo em Romanos 11:33-34, onde ele escreve: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?” Mas enquanto Deus é revelado como o inescrutável (aquele cujos caminhos não podem ser traçados), Ele está longe de estar distante ou isolado da habilidade do homem de “procurá-lo”. Paulo falou aos atenienses que os limites das suas habitações haviam sido determinados por Deus de antemão para que eles buscassem e encontrassem o Senhor, pois, disse o apóstolo, “… não está longe de cada um de nós” (At 17:26-27). Deus em graça encontrou uma maneira justa de redimir as almas perdidas, para que ninguém precise perecer, e por onde o mistério do Seu próprio Ser pudesse, de certa forma, ser entendido pelo homem mortal. Isto se encontra na revelação que Ele deu de Si mesmo no sacrifício do Seu único Filho, pois embora “Deus nunca foi visto por alguém [de fato], o Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou [o manifestou em revelação]” (Jo 1:18). Assim o Elohim da revelação bíblica é visto como o Deus da onipotência, onipresença, onisciência, soberania, eternidade, onificência e imutabilidade. DEle, em revelação aos salvos da Terra, está escrito: “O mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21:3).

 - Por James B. Currie, Japão

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