DE ONDE VEM A LUZ?

 

Em primeiro lugar, Cristo é nossa luz. "De novo lhes falava Jesus,  dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas,pelo contrário, terá a luz da vida" (João 8:12). O Senhor Jesus é a luz. À medida que nos aproximamos dele, vemos a luz. Quão freqüentemente imaginamos não haver nada errado, mas quando trazemos o fato ao Senhor e pedimos-lhe que nos revele a verdade, percebemos quão errado está. Dia após dia, ficamos a imaginar que está tudo bem, até que nos aproximamos do Senhor e descobrimos nossa falha. Pois a avaliação é nossa própria medida, enquanto a outra é a medida de Deus. Se o cristão não orar ardentemente, pedindo ao Senhor que lhe revele sua verdadeira condição, é quase certo que nove vezes em dez ele vai fazer o que é errado. Quanto mais a pessoa se aproximar de Deus, mais receberá a luz divina. Segundo, a Palavra de Deus é a luz. "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos... A revelação das tuas palavras esclarece" (Salmo 119:105, 130). Provavelmente conheçamos de sobra esses dois versículos; mesmo assim, se meditarmos neles diante de Deus, perceberemos quão profundos são. Quanto ao caminho que escolhemos, é o homem ou é Deus que diz que estamos bem? A obra da carne não pode se esconder da luz de Deus. Não o que as pessoas dizem, mas o que diz a Palavra de Deus. O certo e o errado não são determinados diariamente por nosso sentimento; antes, tem de ser decidido pela Palavra divina. A conclusão não deve ser nossa; pelo contrário, deixemos que a Palavra de Deus julgue a questão. Coloquemo-nos diante de sua Palavra e permitamos que ela julgue e revele. Portanto, estudemos com diligência a Bíblia, e deixemos que o Espírito Santo abra a sua Palavra para que conheçamos a nós mesmos. Terceiro, os cristãos são nossa luz. "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14). Em geral, achamos que esta passagem se refere à conduta do crente. Na realidade, ela tem um significado mais profundo. O que se diz aqui é que o crente é luz. Ele consegue manifestar a imagem real de uma pessoa. Por viver na luz de Deus, ele é muito temido pelas outras pessoas, pois, ao vê-lo, elas se sentem condenadas. O cristão débil não se importa de encontrar outro igual a ele, mas quando se aproxima daquele que vive na luz de Deus, sente vergonha. A claridade expõe seu orgulho e desonestidade. Irmãos, ninguém pode trabalhar para Deus sem ter a luz divina. Quem se aproximará mais de Deus se a "sua" luz não brilhar sobre ele? Se vivermos perto de Deus e se nossa vida for sempre governada pela luz divina, automaticamente manifestaremos a condição real de todos aqueles que se aproximarem de nós. Para fazer a vontade de Deus e cumprir a sua obra, precisamos ser luz. Quando nos aproximamos de alguém que vive perto de Deus, sentimos a presença dele. A pessoa não nos faz sentir que ela é mansa e humilde; ela nos faz sentir a Deus. Quando comecei a servir ao Senhor, estava decidido a fazer a vontade dele. Naturalmente, sentia haver feito a sua vontade, mas toda vez que ia ver certa irmã para conversar e ler juntos alguns versículos da Bíblia, convencia-me de imediato da minha incapacidade. Toda vez que eu a via, sentia algo especial: Deus estava lá. Aproximando-me dela, sentia a Deus, pois ela tinha luz, e sua vida era governada pela luz de Deus. Ao aproximar-se alguém daquela irmã, a luz dela o condenava. Entretanto é preciso que nos lembremos de que a luz que recebemos é pela revelação do Espírito Santo, sem levar em conta se essa revelação vem através da proximidade de Cristo, do estudo da Palavra ou da comunhão com outros crentes. É o Espírito Santo que manifesta a nós a luz irrepreensível na qual Deus habita — a saber, a glória, a santidade e a justiça de Deus. É o Espírito que nos leva a perceber o padrão absoluto de Deus mediante o qual conseguimos ver a nós mesmos, nossa condição real e nossas fraquezas.

 

 

 

O Poder Desta Luz

 

O poder desta luz é o de dar o autoconhecimento às pessoas. Quando alguém entra nesta luz, é--lhe revelada sua verdadeira condição. Muitos crentes são naturalmente presunçosos, satisfeitos consigo mesmos e farisaicos. Palavras humanas — exortação, avisos e repreensões —não conseguem ajudá-los a enxergar sua depravação. Só a luz de Deus, brilhando sobre eles, poderá fazê-los perceber quão imperfeitos, corruptos e hipócritas são. Quando a luz de Deus chegar, tudo revelará suas verdadeiras cores. É verdade que ninguém pode ser salvo sem que sobre ele brilhe a luz de Deus. Nem tampouco pode alguém progredir espiritualmente ou trabalhar com eficiência sem esse brilho. Examinemos mais de perto estas duas questões. Como é que o pecador vem a saber que o Senhor Jesus é o Salvador? Sem dúvida alguma, não é através de argumento. Além disso, como é que ele chega a perceber que é pecador? Nenhuma quantidade de lógica, raciocínio ou advertência  levará o pecador a enxergar seu pecado e ver o Senhor Jesus como seu Salvador. Não quero dizer que esses métodos sejam totalmente inúteis, pois têm o seu lugar. Mesmo assim, eles só podem efetuar aprovação mental mas não visão espiritual. Todo pecador é cego; tal cegueira o impede de perceber o verdadeiro esplendor do evangelho de Deus. O Espírito Santo, porém, abre-lhe os olhos para que ele veja a luz de Deus. Ver é uma bênção especial da Nova Aliança. A revelação que Deus faz de seu Filho em mim é uma experiência que todos os pecadores salvos têm em comum. Quão fútil é pensar que podemos persuadir as pessoas a aceitarem o Cristianismo, a crerem no Senhor Jesus, e a se tornarem cristãs através de pensamentos, raciocínios, ambientes agradáveis, emoção, música, lágrimas e argumentos. O fator principal na conversão é a luz de Deus, uma luz derramada pelo Espírito Santo. A condição básica é que o pecador veja seu próprio estado bem como a glória do Senhor Jesus. Lágrimas, remorso, zelo e sentimento maravilhoso para nada servem; apenas ver no Espírito Santo pode levar a pessoa a realmente aceitar ao Senhor Jesus como Salvador. Ninguém consegue crer e aceitar o que não vê. Por ter visto intimamente, o pecador consegue crer. Essa fé é firme e suporta bem as provações. De maneira semelhante, o crescimento da vida do cristão não depende tanto de estímulo,  exortação e ensino — como se isso pudesse aumentar seu zelo no cumprimento dos deveres de oração e leitura da Bíblia. Todos esses são agentes auxiliares, e não principais. O fator principal é a visão do crente. Por esse motivo, a primeira coisa que Paulo fez ao escrever aos crentes de Éfeso foi orar por eles para que Deus lhes iluminasse os olhos do coração pelo Espírito Santo, embora soubesse que eram muito bons no Senhor e que não eram tão moralmente degradados como os crentes de Corinto. O progresso da vida cristã se realiza por termos a luz de Deus, por nossos olhos serem abertos para conhecermos as riquezas da glória de Deus e a incrível grandeza de seu poder que nos é dado através da ressurreição de Jesus Cristo. Como pode o crente progredir na vida se não vir a abundância da graça de Deus em Cristo Jesus? Todos os que fazem trabalhos especiais para Deus são pessoas esclarecidas por ele. Só os esclarecidos sabem como julgar sua própria carne. E os que julgam sua própria carne são os únicos a serem usados por Deus. É quando a luz divina chega que o crente começa a perceber quão santo é Deus e o crente quão impuro é. Ao ver a justiça de Deus, percebe a sua própria injustiça. Ao ver a glória de Deus, convence-se de sua absoluta depravação. Tendo obtido tal autoconhecimento, ele, como os verdadeiramente circuncisos, dependerá por completo do Espírito de Deus e não ousará depender de si mesmo de modo algum. Na alidade, não apenas desconfiará de si próprio as também se odiará profundamente. São esses s obreiros que estão nas mãos de Deus e são sados por ele. Têm discernimento espiritual do plano e propósito de Deus. Por não terem a luz de Deus, muitos se julgam superiores. Satanás geralmente os engana, levando-os a pensar que já alcançaram uma perfeição isenta de pecado. Pensam assim porque, não tendo a luz de Deus, ignoram a corrupção de sua carne. Bem, sou daqueles que crêem piamente que Cristo, sendo nossa vida, nos capacitará a vencer o pecado completamente. Portanto, a meu ver, nenhum cristão pode se desculpar dizendo que é impossível para qualquer pessoa no mundo não pecar. A possibilidade de obtermos vitória sobre o pecado, porém, não sugere que nossa carne não mais é corrompida. Um erro comum é cair em exageros. Alguns afirmam que, por sermos tão corruptos, não podemos deixar de pecar, enquanto que outros sustentam que, tendo aceitado a Cristo como nossa vitória, nossa natureza pecaminosa foi aniquilada; portanto já não somos corruptos. A verdade é que somos vitoriosos em Cristo, mas em nós mesmos somos corruptos. O crente pode viver por Cristo diariamente e levar uma vida completamente vitoriosa sobre o pecado, mas ao mesmo tempo sentir dia a dia sua própria absoluta depravação. Sentir essa absoluta depravação não inibe sua vitória, porque é Cristo nele e não ele próprio que é vitorioso. Tampouco sua vitória completa tira dele a sensação de depravação total, pois a corrupção da carne não muda de natureza através dalibertação de Cristo. Para ajudarmos os que, tendo sido enganados em sua própria luz, consideram-se muito santos, puros e perfeitos em amor, vasculharemos as Escrituras e aprenderemos quantos dos santos excelentes e amadurecidos mencionados ali viam a si mesmos à luz de Deus. Jó. Jó era reto; até Deus o disse. Durante sua tribulação, seus três amigos concordaram que ele devia ter pecado contra Deus. Jó discordou e levou muito tempo discutindo com eles — tentando provar sua pureza e justiça. Todos sabemos que, mais tarde, quando Deus lhe apareceu, ele confessou, dizendo: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza" (42:5, 6). A luz de Deus chegou afinal, e ele ficou sabendo quão horrível realmente era. Palavras humanas não o convenceram, mas a luz de Deus o humilhou.

 

 

 

Isaías. Antes de enviar a Isaías, Deus lhe mostrou a sua glória. Sob esta luz gloriosa, o profeta de Deus não pôde deixar de bradar: "Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" (6:5). Durante o tempo que precedeu a visão, ele já tinha lábios impuros e já habitava no meio dum povo de impuros lábios, contudo não se havia apercebido disso. Provavelmente havia-se considerado apto a ser um profeta e servir a Deus. Mas quando a luz divina brilhou sobre ele, começou a ver sua condição verdadeira bem como o estado das pessoas ao seu derredor. Como poderia ele ser o porta-voz de Deus se seus lábios eram tão impuros? Chegou até a bradar: "Ai de mim! Estou perdido!" A vontade "santa" de Deus realmente arranca de nós o "ai". Então, após Isaías ter recebido tal autoconhecimento, um serafim veio e purificou-lhe os lábios com uma brasa viva. Notamos aqui uma ordem excelente: primeiro a impureza, depois a luz de Deus, seguida pelo reconhecimento da impureza, depois a possibilidade de ser purificado, e finalmente ser enviado.

 

 

 

Daniel. Existem na Bíblia apenas dois homens cujos pecados não foram registrados. Daniel foi um deles. Isto mostra quanto ele era favorecido por Deus. Mesmo assim, a Palavra nos diz que quando viu ao Senhor e foi assim iluminado, "não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem sentido, rosto em terra" (Daniel 10:8-9). luz divina, nem mesmo o santo dos santos conseguiria se manter em pé, mas teria de cair sobre o rosto em terra.

 

 

 

Habacuque. Quando Habacuque foi iluminado por Deus, teve a mesma experiência. Disse: "Ouvi--o, e o meu íntimo se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e os joelhos me vacilaram" (3:16).

 

 

 

Pedro. Sabemos quão auto-suficiente Pedro era; no entanto quando encontrou a luz de Deus no Senhor Jesus, não pôde deixar de confessar sua própria pecaminosidade. Lembrem-se da história de como os discípulos pescadores haviam trabalhado a noite inteira sem nada haver apanhado. Contudo, o Senhor lhes ordenou que fossem até à parte mais funda e lançassem as redes. Ao seguirem essa ordem, recolheram uma grande quantidade de peixes, e encheram dois barcos. Tal manifestação de um raio da glória do Senhor levou Pedro a cair aos pés de Jesus, dizendo: "Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador" (Lucas 5:8).

 

 

 

Paulo. Este Paulo que havia combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé, deu--nos seu testemunho logo antes de partir deste mundo, dizendo ser o principal dos pecadores (veja 1 Timóteo 1:15). Observemos que o verbo está no tempo presente. Isto nos revela a avaliação que fazia de si mesmo. Ele sabia que o Senhor Jesus viera a este mundo para salvar os pecadores, dos quais ele era o principal. Nada tinha do que se vangloriar, não tendo mérito nem obra. Tanto quanto os outros pecadores, ele também fora salvo pela graça de Cristo. Não apenas isso, ele se considerava pior que os outros; daí necessitar da graça do Senhor mais do que qualquer outra pessoa. Contudo, quem tinha mais da luz de Deus do que Paulo? Mas tendo recebido mais luz, Paulo conhecia a si mesmo melhor que os outros e, portanto, julgava a si próprio com maior severidade. Aquele que não conhece a si mesmo considerar- se-á santo, adiantado e especial. Não teve autoconhecimento por não ter obtido a luz de Deus.

 

 

 

João. Durante os dias em que nosso Senhor ocultou a sua glória na carne, este seu amado discípulo foi mais chegado a ele que os outros. Lembramo-nos de que ele foi o discípulo que se reclinou sobre o peito do Senhor. Diversas décadas após a ressurreição do Senhor, e havendo prestado excelentes serviços, foi especialmente comissionado pelo Senhor para escrever uma carta tratando da comunhão, na qual falou particularmente do amor e da luz de Deus. Se dependesse dos homens, tal discípulo não deveria temer a luz de Deus tanto quanto outras pessoas. Percebemos, no entanto, que quando a glória do Senhor Jesus se manifestou a ele na ilha de Patmos, ele viu a face do Senhor que "brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto" (Apocalipse 1:16, 17). Ninguém pode ver a luz de Deus sem cair por terra. Não é apenas na Bíblia que aprendemos a respeito de homens que se humilharam, confessaram seu pecado e conheceram a si mesmos através da luz de Deus. Aprendemos também na história da igreja quantos dos crentes mais santos se aperceberam de sua própria fraqueza e corrupção ao se achegarem à luz de Deus. Os cristãos que vamos mencionar nos parágrafos seguintes têm sido geralmente reconhecidos como dos mais extraordinários crentes da igreja, e, no entanto, sua opinião a respeito de si mesmos é de extrema humildade. Isto se deve a nada mais que ao fato de que quanto mais perto se viver de Deus, mais se conhece a própria fraqueza. Aquele que recebe mais da luz de Deus, invariavelmente vê mais sua própria corrupção. O orgulhoso e o farisaico não viram a luz de Deus.

 

 

 

Martinho Lutero. Quando estava na prisão, Martinho Lutero escreveu uma carta a uma pessoa influente da Igreja Católica Romana, dizendo: "V. Sa. pode pensar que estou sem poder, pois o Imperador pode facilmente silenciar o brado de um pobre monge como eu. Mas V. Sa. deveria saber que ainda vou cumprir o dever que o amor de Cristo me impôs. Não tenho o menor temor do poder do hades, quanto mais do papa e seus cardeais." Vendo-se à luz de Deus, entretanto, este corajoso reformador não se conteve e bradou: "Temo a meu próprio coração mais do que ao papa e todos os seus cardeais. Pois dentro de mim está o papa-mor, isto é, o eu!"

 

 

 

John Knox. Por amor a Jesus, este foi professor, missionário, prisioneiro, escravo, peregrino, reformador e estadista. Foi, ao mesmo tempo, um dos mais raros santos do mundo. Em sua última oração, ele observou: "Esta prece é oferecida a meu Deus por mim, John Knox, com a língua meio morta e mente perfeita." São as seguintes as palavras murmuradas naquela oração: "Ó Senhor, tem misericórdia de mim. Não julgues meus inúmeros pecados; perdoa especialmente aqueles pecados que o mundo não consegue reprovar. Durante os dias da minha juventude, nos anos da meia-idade, e mesmo até ao presente momento, passei por muitas batalhas. Descubro que em mim nada há além de vaidade e corrupção. Ó Senhor, só tu conheces o segredo do coração do homem. Por favor, lembra-te que dos pecados que mencionei aqui, não existe nenhum com o qual eu esteja satisfeito. Por causa deles, estou sempre entristecido, e meu ser os aborrece profundamente. Choro agora por minha corrupção; só posso descansar na tua misericórdia." Esta foi a prece de alguém que havia sido iluminado pela luz de Deus.

 

 

 

John Bunyan. Por pregar o evangelho, John Bunyan foi encarcerado por treze anos. Enquanto estava na prisão, escreveu o que o mundo veio a conhecer como O Peregrino, livro que já foi traduzido em quase tantas línguas quanto a Bíblia. Charles H. Spurgeon disse o seguinte acerca de Bunyan: "Observo que o estilo de John Bunyan é muito parecido com o do Senhor Jesus; ninguém pode suplantá-lo." No entanto, quando Bunyan escreveu a seu próprio respeito, exprimiu este lamento: "Desde a última vez que me arrependi, outra questão trouxe-me muita tristeza, que é a de que se me examinar rigorosamente melhor do que agora faço, descubro pecado. Novo pecado está misturado ao que há de melhor em mim. Por esta razão, não posso deixar de concluir que, não importa quão vaidoso e imaginativo possa ser em relação a mim mesmo e a meu trabalho, ainda que

 

meu passado seja sem mácula, os pecados que cometo em um dia são suficientes para me mandar para o inferno." E como continuasse profundamente convencido de pecado,  bradou: "Se não for por um tão grande Salvador, quem pode salvar a um pecador tão grande quanto eu?"

 

 

 

George Whitefield. Este homem foi um pregador tão famoso quanto John Wesley. Ao se aproximar o fim de sua vida, disse o seguinte: "Oxalá eu desfaleça e morra a serviço do Senhor, pois acho que merece que eu morra por ele. Se tivesse mil corpos, cada um deles se tornaria um pregador itinerante por amor de Jesus." A última vez que tomou de uma vela para se recolher, uma enorme multidão reuniu-se à sua porta, insistindo para que pregasse mais uma vez. Ele sabia que ia morrer naquele dia; no entanto pregou até a vela se acabar. A seguir recolheu-se a seu aposento para morrer. Contudo, ouça o que esse homem

 

pensava a respeito de si mesmo: "Em todas as obrigações que cumprimos, há corrupções que a elas se misturam. Se a aceitação de Jesus Cristo se baseasse em nossa obra depois que nos arrependemos, nossa obra seguramente nos condenaria, pois nunca podemos  oferecer uma oração tão perfeita quanto a lei moral de Deus exige. Não sei o que vocês pensam, mas digo: Não sei orar, sei apenas pecar. Sou forçado a confessar: tenho até de me arrepender de meu arrependimento, até minhas lágrimas têm de ser lavadas no sangue precioso do meu Redentor. Nossas melhores obras nada mais são que refinados pecados."

 

 

 

Augustus Toplady. Este santo homem calculou que se pecasse pelo menos uma vez a cada segundo, em dez anos teria mais de trezentos milhões de pecados.  Conseqüentemente, escreveu um hino muito glorioso, que tem dado descanso a inúmeras almas opressas pelo pecado. É o que diz: "Rocha eterna, foi na cruz, que morreste tu Jesus." Escrevendo a respeito de si mesmo, Toplady tinha isto a dizer: "Não há no mundo alguém tão miserável quanto eu! Nada deixo além de fraqueza e pecado. Não há bem algum em minha carne; no entanto sou tentado a ser altivo. O melhor que já  produzi na vida me qualifica para a condenação." Não obstante, morrendo de tuberculose em Londres, repousou a cabeça pecadora no peito do Salvador, anunciando: "Sou o homem mais feliz do mundo inteiro!"

 

 

 

Jonathan Edwards. Este cristão era extremamente espiritual e foi muito usado pelo Senhor. Toda vez que pregava, inúmeras pessoas se sentiam tocadas em seus corações, choravam por seus pecados, e pediam o perdão do Senhor. Sendo uma pessoa extremamente honesta, ele com toda a humildade escreveu as seguintes palavras: "Muitas vezes, sinto profundamente quão cheio de pecado e impureza sou. Devido a esse sentimento irresistível, muitas vezes tenho de bradar em alta voz. Às vezes, choro por muito tempo. Por este motivo, tenho de me isolar de vez em quando. Sinto agora minha própria maldade e a corrupção do meu coração mais profundamente até do que antes de eu me arrepender. Faz tempo que compreendi que minha corrupção é de todo indestrutível, tendo enchido meus pensamentos e imaginação; e, ao mesmo tempo percebo que minha sensibilidade para com o pecado é fraca demais. Fico surpreso por não ter maior consciência do pecado. O que mais espero no momento é ter um coração contrito para me prostrar humildemente diante de Deus."

 

 

 

David Brainerd. Aos vinte e cinco anos de idade, David Brainerd foi trabalhar entre os índios pobres dos Estados Unidos. Ele labutou, sofreu, orou e jejuou até que o Espírito de Deus desceusobre eles de maneira tal que muitos se converteram e passaram a viver para o Senhor. Cinco anos mais tarde, ele foi para o descanso eterno. Jonathan Edwards proferiu as seguintes palavras no sepultamento de David Brainerd, seu filho na fé: "Que todos os servos de Deus observem este homem extraordinário — ele e sua santidade, divindade, vida e trabalho sacrificial. Como ele a si mesmo ofereceu com tudo o que tinha, tanto no coração como na prática, para a glória de Deus. Quão seguro e firme foi em todo tipo de dor e tristeza em situações penosas. Tudo isso serve de encorajamento para nós, para que saibamos quão grande é o trabalho que devemos fazer na terra, quão  encantadoras e preciosas são as experiências e conduta que temos em Cristo, e quão admirável é o fim delas." No entanto, a seu próprio respeito, este servo do Senhor observou: "Ai, minha impureza íntima! Ai, minha vergonha e iniqüidade diante de Deus! Ai, quando estou pregando, quanto sou orgulhoso, egoísta, hipócrita, ignorante, malicioso, sectário e falto de amor, zelo, ternura e paz!"

 

 

 

Hudson Taylor. O Sr. Frost, diretor canadense da Missão do Interior da China, trabalhou com Hudson Taylor na China por muitas décadas. Certa vez, ao falar de Taylor, o Sr. Frost disse: "Tive a oportunidade de orar com o Sr. Taylor milhares de vezes, mas jamais o ouvi orar sem confessar seu pecado." Todos esses viveram mais perto de Deus do que o normal das pessoas e no entanto tinham esse sentimento com relação a si mesmos. Pergunto aos muitos crentes normais que existem entre nós — aqueles que não têm vivido tão perto de Deus assim e não possuem tal senso de sua própria corrupção — estamos mais adiantados do que estes grandes servos de Deus? Todos terão de responder com uma negativa. Não sentir os próprios defeitos não significa que se é bom. Muito pelo contrário, simplesmente mostra quanto lhes falta o autoconhecimento. Mas estes grandes servos de Deus sentiram tão fortemente sua depravação por estarem próximos de Deus. Receberam mais luz de Deus; conheciam o padrão absoluto da santidade divina. Estavam, por conseguinte, mais conscientes de sua própria pobreza que a maioria dos cristãos. Não diz a primeira epístola de João que: "Se, porém, andarmos na luz... o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1:7)? Por estarmos na luz, nosso pecado é manifesto, e precisamos do sangue de Jesus. A seguir vem: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1:8). Todos os que dizem não ter pecado enganam-se a si mesmos. A razão desse engano é que a verdade — a verdade que emana da luz divina — não está em seu coração. Todo aquele que não é iluminado pela luz de Deus tende a se considerar bom, santo, perfeito e sem pecado. Se estivermos tão pertos de Deus como estiveram esses grandes homens, nós, como eles, sentiremos a nossa impureza. Pois quanto mais perto de Deus estivermos, tanto mais alto se tornará nosso padrão de santidade e tanto mais profundamente reconheceremos o que é impureza, corrupção e injustiça. A profundidade da consciência que temos do pecado é determinada pela quantidade da luz de Deus que recebemos. Muitas coisas que no começo da vida cristã não consideramos como pecado, serão reconhecidas como verdadeiramente pecaminosas à medida que crescermos na graça. Aquilo que era considerado como certo, é agora compreendido como errado porque recebemos mais luz de Deus. Aquilo que achamos não ser errado no presente momento, o será no futuro depois de aprendermos mais a respeito de Deus e de sua vontade. Não existe um cristão inteiramente sem defeitos. Tenhamos cuidado para que a carne não nos engane e venhamos a pensar que já atingimos a "perfeição sem pecado."

 

 

 

Julgamento Futuro – O Tribunal de Cristo

 

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