A onipresença de Deus o Pai

Introdução e definição

Este título é composto por duas palavras: “oni”, que significa “em todas as maneiras e lugares”, e “presença”. A ideia é, portanto, claramente expressa como Deus estando “presente em todos os lugares”. Deus preenche todas as coisas, ele é “tudo em todos” (I Co 15:28). A pergunta pode ser feita: “De que maneira Deus preenche todas as coisas?”.

O profeta Jeremias, no cap. 23, fala dos falsos profetas que estavam falando da “visão do seu coração, não da boca do Senhor” (23:16). Eles estavam acalmando o povo do Senhor, dando-lhes um falso senso de segurança ao dizer-lhes: “Paz tereis; e a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração dizem: Não virá mal sobre vós” (v. 17). Estes profetas não haviam sido enviados pelo Senhor: Ele não havia falado com eles (v. 21). Qual era o problema, e qual é o problema com muitos tais hoje em dia?

Eles imaginavam que Deus não estava ciente da sua atividade! Eles pensavam que podiam esconder em “esconderijos” (v. 24), e que Deus não perceberia o seu ministério. Eles não tinham nenhum senso da presença do Senhor! Eles reconheciam a possibilidade de uma presença localizada — “… sou eu Deus de perto?” (v. 23) — mas não entenderam a realidade da Sua Onipresença: “… sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor” (vs. 23-24).

Assim a realidade era que a autoridade e poder divinos estavam em evidência — “um Deus de longe”; conhecimento divino estava em evidência — “não o veja”; mas além disso, e especificamente, a presença divina é indicada — “não encho eu os céus e a terra?” Isto não pode ser dito de nenhum outro. Uma compreensão da Sua Onipresença, pelos falsos profetas, teria mudado a sua forma de pensar e a sua atividade e, portanto, o seu ministério. Deus os havia ouvido mentir em Seu nome sobre aquilo que eles supunham ser secreto, e como resultado Ele estava “contra os que profetizam” (v. 32).

Mas o que quer dizer este “encher” dos Céus e da Terra? Como indicado acima, não era meramente autoridade e poder, nem somente entendimento e vontade. Há muito mais incluído aqui.

Deus está essencialmente presente em todo lugar, seja nos céus ou na terra … como eternidade é a perfeição pela qual Ele não tem nem princípio nem fim; imutabilidade é a perfeição pela qual Ele não tem nem acréscimo nem diminuição; assim a imensidão ou onipresença é aquilo pelo qual Ele não tem limites nem fronteiras.

A onipresença de Deus

A presença de Deus com o Seu povo em geral

Talvez a afirmação mais eloquente da onipresença de Deus é encontrada no Salmo 139. Davi está intimamente ciente da proximidade daquela presença, e diz: “Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão” (v. 5). De passagem notamos que Deus considera o passado de nossas vidas — “por detrás”; o futuro — “por diante”; e o presente — “puseste sobre mim a tua mão”! Não há como escapar de Deus, nenhuma possibilidade de privacidade — “para onde fugirei da tua face?” (v. 7).

Mesmo ir até os limites do Universo conhecido não iria livrá-lo de estar ciente da presença de Deus. “Se subir ao céu lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará, e a tua destra me susterá” (vs. 8-10).

A altura mais alta; a profundeza mais profunda; o lugar mais distante do Universo, não são um escape da presença de Deus — “ali estás também”.

Em todo lugar há Deus; Seu Ser, Sua revelação, Sua soberania e Seu escrutínio minucioso. É impossível escapar dEle; e também da nossa percepção dEle e da consciência da nossa própria dependência e responsabilidade final. Uma criatura é localizada. Quando está aqui, não está ali, e quando está ali, não está aqui. Não é assim com Deus. Ele está presente simultaneamente em todo lugar da Sua Criação. Ele está aqui e ali na plenitude do Seu ser, atributos, funções, prerrogativas, sustentando todas as coisas e Se revelando por meio de todas as coisas, e infringindo na consciência de toda criatura racional.

Ele é Soberano no Céu e no inferno, e aos confins da Terra. As trevas não O escondem; a luz não é necessária para O revelar — “as trevas e a luz são para ti a mesma coisa” (Sl 139:12b).

A implicação prática do que dissemos acima não deve ser perdida. Deus está ciente de todas as circunstâncias da nossa vida. É um grande conforto em tempos de grande necessidade, mas certamente um desafio contínuo para as circunstâncias que controlam a nossa vida — “Tu és Deus que vê” (Gn 16:13).

O apóstolo Paulo enfatiza este aspecto geral da presença divina em Efésios cap. 4. Ele diz: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós” (v. 6). Ele está “sobre todos” na Sua Suprema majestade, Ele é “por todos” na soberania penetrante do Seu ser, e “em todos vós” como resultado da graça regeneradora especial, suprindo toda assistência necessária ao Seu povo em todas as circunstâncias da vida.

A presença de Deus com Seu povo em tempos de necessidade

O Salmista Davi, no seu Salmo do Pastor, nos faz lembrar que “ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (23:4). Podemos nos perguntar a que experiência o salmista está se referindo? Seria a própria experiência da morte? Isto é improvável, pois uma mesa é preparada no próximo versículo (v. 5), na presença dos seus inimigos. Obviamente podemos encontrar conforto neste versículo nas experiências negras desta natureza. Seria, então, a experiência normal de viver, com o “vale da sombra” indicando o caráter do mundo pelo qual passamos? Isto também é pouco provável, pois uma dúvida é expressa: “ainda que eu andasse”. Se ele estivesse descrevendo a experiência normal, ele teria dito “quando eu ando”, ou “enquanto ando”!

Então, a que se refere? Talvez a uma experiência específica na vida, que para o indivíduo é um vale, com a fonte de luz sendo obscurecida pelas montanhas, assim produzindo uma sombra. Mas no vale, há uma percepção da presença divina “comigo”, sustentando (cajado), protegendo (vara) e confortando. Para Davi era o vale do Carvalho (I Sm 17; ou “vale de Elá”, ARA); para o remanescente do futuro será o vale da “Tribulação”; para o cristão hoje é uma percepção de conforto em tempos de dificuldade e provação. Os montes variam em cada caso!

Encontramos um sentimento semelhante em Is 43:2-3. “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador”. A garantia acima é dada com base na redenção (v. 1) e na autoridade do nome divino. Na verdade, o título “Eu Sou” é um lembrete da revelação dada a Moisés, na sarça ardente, e uma referência indireta à onipresença de Deus. Deus se revelou como “Eu Sou o Que Sou” (Êx 3:14). Newberry destaca, na introdução da “Bíblia de Newberry”, que o título é literalmente “Eu Serei o que Serei”. Ele continua:

Visto como o assim-chamado futuro, ou tempo continuo, expressa não simplesmente o futuro, mas também e especialmente continuidade, o significado é “Eu continuo a ser, e serei, o que continuo a ser, e serei”.

O significado é exegeticamente explicado em Apocalipse 1:4: “O que era, que é e que há de vir”.

A mesma ideia geral é encontrada no Salmo 46, que foi proveitosamente resumido (levando em conta a repetição da palavra “Selá”) da seguinte maneira:

Há um refúgio – vs. 1-3;

Há um rio – vs. 4-7;

Há um repouso – vs. 8-11.

“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”, é a afirmação do v. 1. A “angústia” é um tanto horrenda: “ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares, ainda que as águas rujam, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Selá”. Mesmo nestas circunstâncias, provavelmente semelhantes ao que irá acontecer com Israel nos dias da Tribulação, a conclusão como resultado do “socorro presente” é: “portanto não temeremos” (v. 2). De fato, a confirmação da presença de Deus garante que haverá ajuda: “Deus a ajudará, já ao romper da manhã” (v. 5). 

Esta natureza difusa da presença divina em relação ao cristão individual é assegurada com o uso de quase toda preposição existente na língua portuguesa.

Mt 28:20 — Ele está com os seus: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”;

Jo 14:17 — Ele está em nós: “O Espírito da verdade … vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”; 

Sl 139:5 — Ele está atrás de nós: “Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão”;

Dt 33:27 — Ele está por baixo de nós: “O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos”;

Sl 148:14 — Ele está perto de nós: “Ele também exalta o poder do seu povo … um povo que lhe é chegado. Louvai ao Senhor”;

Jo 10:4 — Ele está adiante de nós: “E quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem: porque conhecem a sua voz”;

Ef 4:6 — Ele está acima de nós: “Um só Deus e Pai … o qual é sobre todos”.

Todas as citações acima nos dão confiança e sustento na vida cristã. É algo em que cristão pode confiar completamente. Não está baseado no pensamento subjetivo, mas na realidade objetiva. Deus está presente com o Seu povo. Ele está ali para guardar, ajudar, suster, confortar e satisfazer. Há graça para ajudar em todo tempo oportuno (Hb 4:16), e força em tempos de fraqueza )Fp 4:13).

A falta de percepção da presença de Deus

Embora as afirmações acima sejam verdadeiras, há ocasiões em que há uma falta de percepção da presença divina. O próprio salmista pergunta: “Ó Deus, porque nos rejeitaste para sempre?” (74:1). Isaías faz o povo lembrar que há uma separação entre eles e o seu Deus (Is 59:2); que há uma possibilidade de andar nas trevas e não ter luz (Is 50:10). Então surge a pergunta, como que esta linguagem pode ser consistente com a afirmação inequívoca do escritor aos Hebreus: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te desampararei” (13:5, ARA), que é quase uma citação direta de Js 1:5 e Dt 31:6? Ele é “poderoso para guardar” (II Tm 1:12), e temos a garantia de que somos “guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo” (I Pe 1:5).

Como podemos reconciliar estas duas ideias acima: por um lado “rejeitados” e “separados”, e por outro lado nunca abandonados e “guardados”? Por que pode haver uma retenção de uma percepção daquela presença que é geralmente garantida a nós? A resposta não é difícil de encontrar em Isaías: “As vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59:2).

Sansão não percebeu que o poder havia saído dele, depois do seu encontro com Dalila. Josué pensou que poderia derrotar Ai depois da grande vitória sobre Jericó, sem perceber que havia pecado no arraial, e que a presença de Deus não estava mais com eles para garantir a vitória.

Há ocasiões quando a presença de Deus é retida por razões diferentes. As palavras proféticas do salmista (22:1), e a experiência do Senhor na cruz, provam isto. Trevas envolveram a cena. Era meio dia, mas as circunstâncias no nascimento do Senhor, quando os Céus brilharam com glória “à noite” (a “glória do Senhor” brilhou ao redor dos pastores) agora foram invertidas. Ao invés do Sol do meio dia, houve trevas impenetráveis. Ao invés de uma percepção da presença de Deus, houve um abandono. O clamor que penetrou a escuridão foi alto (“bradou”), e a princípio incompreensível: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46). Os detalhes são impressionantes, no verdadeiro sentido da palavra. “Por que … Tu?”; “Por que Me?”

A obra da expiação não poderia ser completada de outra maneira. Era necessário que o bendito Filho de Deus ficasse “tão longe” de ser ajudado. Não houve resposta! Não havia outra maneira de satisfazer o trono de Deus e lançar a base justa para a salvação do homem.

A onipresença de Cristo

A deidade de Cristo nos leva à afirmação inconfundível de que o que é verdade acerca de Deus é verdade acerca dEle. Há, entretanto várias passagens nas Escrituras que deixam abundantemente claro que este atributo da Divindade era verdadeiro acerca do nosso Senhor Jesus. Na noite em que Ele falou com Nicodemos, a conversa, com suas três partes,estava chegando ao fim. Tendo afirmado que o novo nascimento não era obtido por “fazer” (Jo 3:1-3), e que era inquestionavelmente uma obra do Espírito de Deus (vs. 4-8), e provado somente mediante o crer (vs. 9-15), o Senhor agora afirma e enfatiza o problema fundamental de Nicodemos: “Não crestes” (v. 12). Para focalizar na importância da Pessoa que falava com ele, o Senhor fala uma coisa impressionante: “Ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está nos céu” (v. 13). Será que Nicodemos não estava ciente da autoridade absoluta e da singularidade de quem falava com ele? Ele estava no Céu, e ao mesmo tempo falando com ele, tendo descido do Céu! Ele está no Céu e na Terra ao mesmo tempo — o Salvador é Onipresente!

A palavra final dada aos discípulos adoradores, reunidos com o Senhor Jesus no monte da Galileia, é mais uma confirmação desta verdade. Diz o Cristo ressurreto: “É me dado todo o poder, no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28:18-20). A presença de Cristo é garantida aos Seus, em todo o tempo e em todos os lugares. Esta promessa tem sido provada por muitos através dos séculos. O Todo-Poderoso Cristo tem sustentado o Seu povo nos seus esforços missionários, e os assegurado de ajuda e sustento no testemunho do Evangelho.

Encontramos outra passagem que nos assegura desta mesma verdade em Hebreus. O escritor enfatiza a importância da autoridade das Sagradas Escrituras. Enquanto o caráter perspicaz e penetrante da Palavra de Deus está sendo enfatizado (“penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”, (4:12), ele finaliza: “… e não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (v. 13).

Repare, no último versículo, a abrangência do conhecimento: “todas as coisas”; a total percepção: “nuas e patentes”; e a autoridade final: é com Ele que “temos de tratar”, ou mais corretamente, “temos de prestar contas” (ARA). Se alguém está assim totalmente ciente e empossado como o Juiz final, Ele precisa estar presente para saber e avaliar.

A onipresença do Espírito de Deus

O fato do Espírito Santo ser uma das três Pessoas do Deus Triuno é evidência suficiente da Sua onipresença. Há, entretanto, ampla evidência adicional para provar que o Espírito Santo é onipresente.

A missão do Consolador é especificamente enfatizada no ministério no cenáculo, no Evangelho de João. O fato do Senhor Jesus ir embora era a prova da vinda do Espírito Santo. “Vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei” (16:7). A era atual, de uma forma especial, é a era do Espírito. Cristo está ausente (nos Céus), e o Espírito está presente na Terra.

Esta promessa do Senhor, de enviar o Espírito, foi cumprida no dia de Pentecostes, como lemos em Atos cap. 2. Pedro confirma isto no seu discurso. Ele diz, referindo-se ao Senhor Jesus: “… de sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (v. 33). Este dar do Espírito Santo levou ao batismo no Espírito, e ao fato de todos os discípulos, sem exceção, ficarem cheios do Espírito (At 2:4).

Pelo menos duas coisas acompanharam a vinda do Espírito. A primeira foi: “… veio do céu um som, como de um vento veemente” (At 2:2). A palavra “Espírito” e “vento”, no Velho Testamento, é a mesma (Strong 07307). A figura enfatiza a energia invencível de Deus que está disponível à Igreja, tanto nos aspectos criativos como destrutivos. Está disponível imediatamente para mudar vidas, e ao mesmo tempo derrubar as fortalezas do erro e do pecado.

A segunda foi: “… línguas repartidas, como que de fogo” (At 2:3). Fogo neste contexto é símbolo de pureza e integridade. No monte Sinai, o monte queimava com fogo e o povo teve medo de se aproximar. “Nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12:29). A presença de Deus requer uma percepção da necessidade de santidade: “sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11:44, veja também I Pe 1:16).

Na mesma passagem onde o Senhor Jesus fala da vinda do Consolador, Ele faz um esboço da Sua obra. Ele diz: “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16:8-11). Para cumprir esta tarefa universal há, evidentemente, a necessidade de onipresença. Seria impossível realizar esta obra de outra forma. Esta obra é contínua, efetiva e universal.

A palavra “convencerá” às vezes é traduzida “reprovará” ou “repreenderá”. “A palavra basicamente significa ‘trazer à luz, expor’, isto é, manifestar algo com clareza sem medo de ser provado errado”. Portanto, realmente tem um significado objetivo, e não a antecipação de uma reação subjetiva. 

Nesta passagem a obra convincente do Espírito está relacionada ao pecado (não pecados), à justiça e ao juízo (não juízo vindouro). A realidade do pecado é vista na falta de crer no Senhor Jesus. Uma recusa de aceitá-lO pela fé é uma evidência da realidade do pecado. A justiça é demonstrada no retorno de Cristo ao Pai. Isto era evidência de que a Sua obra havia lançado o fundamento necessário para a necessidade do homem. Era também uma confirmação da justiça de Cristo, como indicado em Romanos 3:25: “… ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos sob a paciência de Deus”. O juízo foi demonstrado na vitória de Cristo sobre “o príncipe deste mundo”. Se ele já foi tratado com êxito, então os que escolhem segui-lo serão igualmente trazidos a juízo.

A promessa e implementação da
presença de Deus coletivamente

Sempre foi o desejo de Deus habitar entre o Seu povo. Enquanto é verdade que Deus habita “nas alturas” (Sl 113:5), e Salomão disse: “Mas na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que tenho edificado” (I Rs 8:27), Deus sempre desejou estar com as Suas criaturas e desfrutar da sua companhia. O relacionamento entre o Céu e a Terra é enfatizado em vários lugares. “O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés; que casa me edificaríeis vós? E qual seria o lugar do meu descanso?” (Is 66:1). Esta última expressão é linda: pensar que o Seu povo pode contribuir para o descanso de Deus, “o lugar do Meu descanso”!

A implementação deste desejo de Deus, de habitar com Seu povo, foi visto numa variedade de maneiras no decorrer da história, e aguarda sua consumação no estado eterno. Vamos observar alguns.

O jardim do Éden

A primeira comunhão entre o Céu e a Terra, e a primeira evidência da presença divina com o homem, aconteceu num jardim. Um jardim que foi planejado por Deus para ser um lugar de beleza, prazer, e refrigério. Deus nunca planejou que houvesse um túmulo num jardim! O fato que isto aconteceu foi por causa do pecado do homem e seu fracasso em obedecer à ordem de Deus e gozar da companhia da Deus. Naquele primeiro jardim, Adão e Eva “ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia” (Gn 3:8). O Senhor Deus desejava ter comunhão com Suas criaturas. Ele queria desfrutar da sua companhia, e Ele queria que eles apreciassem a companhia dEle! Infelizmente o pecado entrou. O elo de intimidade foi rompido; e Adão e sua esposa se escondem da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim (Gn 3:8). Que tragédia! Que mudança! A partir de então uma barreira seria erguida; o homem seria expulso do jardim, e acesso direto à presença divina seria proibido. Deus “pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3:24).

Parecia que o plano divino para apreciação mútua da companhia um do outro fora frustrado; haveria possibilidade de reconciliação? Com base na iniciativa divina, sangue foi derramado, provisão foi feita para as necessidades do homem, e um caminho de volta foi implantado. Uma figura do Calvário, aparecendo nas primeiras páginas das nossas Bíblias, indicando que com base na expiação realizada a fé poderia ser desempenhada, pecados poderiam ser perdoados e a comunhão poderia ser restaurada!

O Tabernáculo no deserto

Muitos séculos se passaram. Uma nação eleita foi redimida pelo sangue e salva com poder (Êx 14:30), e como povo peregrino estão atravessando o deserto. Não há nenhum sinal visível da presença de Deus no meio do Seu próprio povo, com o propósito de comunhão (a coluna de fogo e a nuvem estão lá para dar direção). Eles provaram evidências da Sua mão com eles: o maná do Céu, a água saindo da rocha ferida, experiência amarga transformada em doce, mas nenhum sinal visível. A Lei fora dada para controlar o seu comportamento e para ligá-los com a aliança divina, mas agora recebem uma palavra nova, por intermédio de Moisés. “Então falou o Senhor a Moisés dizendo: Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada … e me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo que eu te mostrar para modelo … assim mesmo o fareis” (Êx 25:1-2, 8-9). “Habitarei no meio deles” — estas palavras devem ter soado como música aos ouvidos de Moisés. Deus no meio do Seu povo! Conhecer a presença de Deus! Moisés havia provado desta presença em diversas ocasiões, mas agora um santuário no meio; a presença visível de Deus no meio do Seu povo.

Isso necessitaria um sacerdócio, um sistema de sacrifícios, uma legislação para trazer as ofertas, e muito mais, mas que honra! Deus no próprio meio do Seu povo; a comunhão seria uma possibilidade; o pecado e transgressão poderiam ser tratados e um povo devoto poderia apresentar suas ofertas de aroma suave, apresentando adoração leal a Deus que tinha feito tanto por eles, com o Seu amor redentor.

O Templo de Salomão

Salomão desejou construir uma casa para Deus. Ele estava ciente das limitações. “Então falou Salomão: o Senhor disse que ele habitaria nas trevas. Certamente te edifiquei uma casa para morada, assento para a tua eterna habitação” (I Rs 8:12-13). Na sua oração, na dedicação da casa, ele disse: “Mas na verdade habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até os céus dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que tenho edificado” (I Rs 8:27).

Parecia inacreditável para Salomão que Deus pudesse assim habitar com os homens, mas assim foi, e na conclusão da dedicação, Deus em grande graça “tornou a aparecer a Salomão” (I Rs 9:2), e o assegurou que a sua oração fora ouvida, “a fim de por ali o Meu nome para sempre; e os Meus olhos e o Meu coração estarão ali todos os dias” (I Rs 9:3).

A Pessoa de Cristo

Não houve evidência maior da presença divina entre os homens do que o que foi visto na Pessoa de Cristo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). “Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu” (Jo 1:10).

Ele podia dizer “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:9). O nome dado a Ele no Seu nascimento (profetizado com antecedência) era uma evidência da revelação a ser dada na Sua vida: “E chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco” (Mt 1:23). O amor, gozo, paz e o próprio ambiente do Céu foi visto e conhecido na Pessoa de Cristo. Cada palavra que Ele disse, cada obra que Ele realizou, cada movimento que Ele fez, estava repleto da glória do Céu. Deus estava entre os homens!

A igreja Local

Se a presença de Deus foi conhecida no passado, no Tabernáculo e no Templo, certamente o lugar onde ela é conhecida hoje é no ajuntamento do povo de Deus. O versículo tão bem conhecido de todos nós é de grande valia neste aspecto: “… onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles” (Mt 18:20). Existem condições necessárias, evidentemente, para uma apreciação plena desta presença. Estas condições são claramente mencionadas naquele capítulo. O assunto dos vs. 1-19 é, principalmente, a humildade, ilustrada através da criancinha no meio deles (v. 2), enquanto que o assunto do resto do capítulo (vs. 21-35) é o perdão.

Joel assegurou seus leitores que “sabereis que eu estou no meio de Israel” (2:27). Que coisa maravilhosa quando sabemos que o Senhor está no meio. Havia condições necessárias nos dias de Joel, como há condições necessárias hoje também. Onde a humildade e o perdão estão evidentes entre o povo de Deus, uma percepção da Sua presença é garantida.

Há outras indicações da onipresença de Cristo no livro do Apocalipse, e especialmente nos caps. 2 e 3. Estes capítulos mostram claramente que o Senhor está ciente das condições específicas do Seu povo. Ele está andando “no meio”. Ele observa as condições com um olhar sacerdotal. Ele vê cada detalhe. Ele recomenda e censura. Infelizmente, Ele pode estar do lado de fora da porta, aguardando entrada (Ap 3:20). Que estejamos cientes das condições necessárias para termos a honra singular e única de uma percepção da Sua presença e agir em conformidade!

O Milênio

A presença do Senhor irá permear a Terra durante o milênio. O profeta Habacuque antecipou aquele dia quando escreveu: “… porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (2:14 — compare também com Isaías 11:9). Que reino maravilhoso será este! A onipresença de Cristo como Soberano será manifestada, universalmente. Haverá uma demonstração evidente da Sua “glória” , de forma que “desde o nascente do sol até o poente é grande entre os gentios o Meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao Meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o Meu nome é grande entre os gentios, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 1:11).

O Estado Eterno

Com certeza, chegamos ao clímax. Será que o pecado poderia impedir o propósito divino iniciado no Jardim do Éden? Será que a intenção de Deus de habitar entre os homens foi interrompida por causa do pecado? Claro que não! Os pensamento inicias de Deus são os Seus pensamento finais. No estado eterno, quando tudo se concentrará na glória do Deus Triuno, as palavras são inequívocas. São ditas por nada mais nada menos que “uma grande voz do céu que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens [fazemos bem em parar e admirar!] pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 21:3).

O quadro apresentado no Éden, no Tabernáculo, no Templo, temporariamente na Pessoa de Cristo na Terra, atualmente no ajuntamento do povo de Deus, futuramente no Milênio, é agora concretizado em toda a sua plenitude. “Deus … com os homens”. Não há nenhuma possibilidade agora do pecado danificar; nenhuma possibilidade do tempo mudar as coisas; o propósito infalível de Deus atingiu o seu alvo. É “Deus … com os homens”, e isto eternamente!

 - Por William M. Banks, Escócia

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