A onipotência de Deus o Pai

Introdução

Embora a palavra “onipotente” ocorre somente uma vez na AV, em Apocalipse 19:6, a palavra grega básica (pantokrator) é encontrada dez vezes no Novo Testamento onde, com exceção da citação acima, é traduzida “Todo-Poderoso”. Destas dez ocorrências, nove estão no livro de Apocalipse, e uma em II Coríntios 6:18. De acordo com W. E. Vine, a palavra significa “poderoso, aquele que governa sobre tudo (pas, todo, krator, segurar, ou ter força)” .

O Velho Testamento contribui ricamente no seu uso dos títulos divinos Elohim e El-Shaddai. Ambos estes títulos serão o assunto de um capítulo mas adiante no livro. No momento basta dizer que o título Elohim (uma palavra plural) se refere a Deus (El) como o “Poderoso, a Primeira Grande Causa de tudo” (Thomas Newberry, The Newberry Study Bible). Também devemos destacar que enquanto o título El Shaddai, combinando o singular El com o plural Shaddai, às vezes é definido como “Deus todo Suficiente”, no sentido de conceder força e nutrição, W. Hoste diz que “parece não haver base suficiente para derivarmos Shaddai de Shad, que significa um seio”. Genésio (Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament) não tem dúvida alguma que significa “o mais poderoso, o Todo-Poderoso”. Thomas Newberry destaca que o título aparece na combinação “Deus Todo-Poderoso”, ou “o Todo-Poderoso Deus”, em sete ocasiões, e sozinho, “o Todo-Poderoso”, em quarenta e uma ocasiões. As referências são encontradas, na sua maioria, no livro de Jó. A primeira ocorrência está no livro de Gênesis: “Eu Sou o Deus Todo-Poderoso” (Gn 17:1). É bom notar que

[…] ninguém deu nomes a Deus. Ele os escolheu. Algumas pessoas recebem seus nomes antes de nascer — somente Ele, como Aquele que não teve “princípio de dias”, escolheu os Seus próprios nomes.

A onipotência de Deus é definida como “Seu poder de fazer tudo conforme a Sua vontade e caráter”. Ele mesmo diz isto: “Haveria coisa alguma difícil ao Senhor?” (Gn 18:14). Se Jó tivesse sido perguntado, ele certamente teria dito: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42:2). Nabucodonosor, semelhantemente, estava convencido: “Segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Dn 4:35). O próprio Senhor Jesus lembrou os Seus discípulos que “a Deus tudo é possível” (Mt 19:26), e Gabriel disse a Maria que “para Deus nada é impossível” (Lc 1:37). Paulo fez a pergunta a Agripa: “Pois quê? Julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?” (At 26:8).

É importante lembrar que visto que Ele é Deus, Sua onipotência não pode ser separada da Sua absoluta santidade e sabedoria. Lord Acton parece ter sido o criador do ditado: “O poder tende a corromper, e poder absoluto corrompe absolutamente”, mas acerca do Deus onipotente, Abraão corretamente diz: “Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18:25). Ele “não pode negar-se a si mesmo” (II Tm 2:13). Ele “não pode mentir” (Tt 1:2). Em tudo, inclusive na Sua onipotência, Ele é incomparável, fazendo o salmista exclamar: “Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem entre os filhos dos poderosos pode ser semelhante ao Senhor? … Ó Senhor Deus dos Exércitos, quem é poderoso como tu, Senhor, com a tua fidelidade ao redor de ti?” (Sl 89:6-9).

Davi afirma que “o poder pertence a Deus” (Sl 62:11), e isto pode ser observado das seguintes maneiras:

Seu poder na Criação declara a Sua onipotência;

Sua eternidade declara a Sua onipotência;

Seu governo das nações declara a Sua onipotência;

Seu triunfo sobre toda oposição declara a Sua onipotência;

Sua provisão para o Seu povo declara a Sua onipotência.

Seu poder na Criação declara a Sua onipotência

Deus demonstra a Sua onipotência bem no começo da Bíblia. “No princípio criou Deus [Elohim] os céus e a terra” (Gn 1:1). Thomas Newberry destaca que o título divino na sua forma singular vem de ahlah, que significa “adorar” ou “venerar”, de sorte que Deus Se revela, não somente como o Criador, mas como “o objeto supremo de adoração, o Ser Adorável”. Se entendida corretamente, a onipotência de Deus na Criação deveria gerar admiração e, portanto, adoração por parte dos homens, fazendo com o que o cristão diga dEle: “A quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja a honra e poder sempiterno. Amém” (I Tm 6:16). Infelizmente, os homens e mulheres falharam em corresponder à revelação de Deus na Criação, e “do céu se manifesta a ira de Deus … porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:18-22). O falecido E. W. Rogers descreve a evolução e suas teorias como as ideias de “professos (‘dizendo-se sábios’) que perderam o juízo (‘tornaram-se loucos’)”.

O cristão observa a criação celestial e terrena com admiração, especialmente em vista do fato que o Criador, que sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade das alturas” (Hb 1:3). O escritor do Novo Testamento fala em nome de todo verdadeiro filho de Deus ao dizer que não houve um Big Bang, mas que “pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11:3), e é praticamente certo que isto se refere à afirmação do Velho Testamento: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo exército deles pelo Espírito da sua boca” (Sl 33:6). Quer seja na esfera celestial ou terrena, Ele “falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl 33:9). Devemos considerar a:

Sua onipotência na Criação celestial

Ao ponderar sobre o testemunho da Criação, Davi escreveu: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem, nem fala, onde não se ouve a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo” (Sl 19:1-4).

A magnificência dos Céus declara a Sua onipotência

Há um sentimento de reverência na voz de Davi enquanto ele contempla os Céus: “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?” (Sl 8:3-4). Sua admiração reverente flui não somente da sua contemplação dos Céus, possivelmente à noite, mas também de um sentimento de incredulidade de que o Criador onipotente Se importasse tanto com o insignificante ser humano. Um astrônomo disse que em comparação com a vastidão do universo, a raça humana orgulhosa é como “micróbios praticamente invisíveis rastejando sobre uma partícula de pó cósmico!” Preferimos as palavras de Davi!

As Escrituras estão cheias de referências à “obra dos teus dedos”. Por exemplo: “E fez Deus os dois grandes luminares; o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas” (Gn 1:16). “O que sozinho estende os céus, e anda sobre os altos do mar. O que fez a Ursa, o Órion, e o Sete-estrelo, e as recamaras do sul” (Jó 9:8-9). “O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada … pelo seu Espírito ornou os céus” (Jó 26:7, 13). “Ele é o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar” (Is 40:22). “Procurai o que faz o Sete-estrelo e o Órion e torna a sombra da noite em manhã, e faz escurecer o dia como a noite” (Am 5:8).

A manutenção dos Céus declara a Sua onipotência

“Ou poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Órion? Ou produzir as constelações [ou “podes fazer sair as Mazarote”, VB, provavelmente se referindo aos doze signos ou constelações do Zodíaco] a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos?” (Jó 38:31-32). É dito acerca do Senhor Jesus não somente que “por Ele [nEle] foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis” (Cl 1:16), mas que “todas as coisas subsistem por Ele”, literalmente, “todas as coisas permanecem juntas”. Ele sustenta “todas as coisas pela palavra do Seu poder” (Hb 1:3). Nas palavras de Isaac Newton:

Este tão eloquente sistema de Sol, planetas e cometas, só poderia surgir do propósito e soberania de um Ser inteligente e poderoso … Ele governa todos eles, não como sendo a alma do mundo, mas como Senhor soberano de tudo.

A magnitude dos Céus declaram a Sua onipotência

“Olha agora para os céus, e conta as estrelas se as podes contar” (Gn 15:5).

Nossa Galáxia, a via Láctea, tem pelo menos 100 bilhões de estrelas, e cientistas calculam que há 100 bilhões de outras galáxias no universo — cada uma tendo pelo menos 100 bilhões de estrelas!

Isaías agora se torna leitura obrigatória: “A quem, pois me fareis semelhante, para que eu lhe seja igual? diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas; foi aquele que faz sair o exército delas segundo o seu número; ele as chama todas pelos seus nomes; por causa da grandeza das suas forças, e porquanto é forte em poder, nenhuma delas faltará” (Is 40:25-26).

Se isto não fosse o suficiente o salmista declara “Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas? O qual se inclina, para ver o que está nos céus e na terra!” (Sl 113:5-6). Sua onipotência na esfera celestial faz com que os cristãos cantem:

Senhor, meu Deus ! Contemplo, extasiado,

O Teu poder na vasta criação;

Ouço o trovão, vejo o céu estrelado

E, em tudo, vejo a Tua forte mão ! 

Então minha alma canta a Ti, Senhor,

Grandioso és Tu ! Grandioso és Tu !  (S. K. Hine, tradução de L. Soares)

Sua onipotência na Criação terrestre

Davi disse: “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus” (Sl 8:1). Isaías ouviu a proclamação dos serafins: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6:3). Tendo dito: “Louvai ao Senhor desde os céus, louvai-o nas alturas”, o salmista continua: “Louvai ao Senhor desde a terra: vós baleias, e todos os abismos; fogo e saraiva, neve e vapores, e vento tempestuoso que executa a sua palavra; montes e todos os outeiros, árvores frutíferas e todos os cedros; as feras e todos os gados, repteis e aves voadoras” (Sl 148:1, 7-10).

Jó recebeu uma visão estarrecedora da onipotência de Deus em relação à Terra, e aconselhamos o leitor a meditar cuidadosamente em Jó 38:1 a 41:34. Começa com a Criação: “Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhes pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?” (38:4-5), e continua com a limitação dos oceanos: “Ou quem encerrou o mar com portas, quando este rompeu e saiu da madre; quando eu pus as nuvens por sua vestidura e a escuridão por faixa? [Quão maravilhoso pensar que o Criador que envolveu a Terra com nuvens, Ele mesmo foi envolto em panos e deitado numa manjedoura] Quando eu lhe tracei limites, e lhe pus portas e ferrolhos, e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se parará o orgulho das tuas ondas?” (38:8-11). O Senhor então continua e chama a atenção de Jó para as maravilhas da alva (v. 12), as profundezas do mar (v. 16), “os tesouros da neve” e “os tesouros da saraiva” (v. 22), a distribuição da luz (v. 24), o caminho dos trovões (v. 25), a chuva (v. 26), e tantas outras coisas, “das quais coisas não falaremos agora particularmente” (Hb 9:5). Não é de se admirar que o nome “Todo-Poderoso” apareça com tanta frequência no livro de Jó!

Mas isto não é tudo. O Senhor então deixa de lado a criação inanimada e se volta para a esfera dos animais e pássaros. G. Campbell Morgan, no livro The Analysed Old Testament (“O Velho Testamento Analisado”), resume da seguinte forma:

A revelação da glória divina continua, mas agora aplicando-se às coisas da vida. Em primeiro lugar, um grupo de simples perguntas serve para ilustrar a impotência do homem e a onipotência de Deus. O alimentar dos leões e dos leõezinhos; o fato do clamor do corvo soar como uma oração aos ouvidos de Deus, e que Ele responde enviando alimento; o mistério da reprodução e do nascimento dos mais humildes animais, com o sofrimento do trabalho e o achar de forças; a liberdade e impetuosidade e esplêndida incapacidade de domar o asno selvagem; a força incontrolável do boi selvagem; em todas estas coisas Jeová fez Jó reconhecer sua própria ignorância e impotência, ao revelar a ele Seu conhecimento e poder.

Campbell Morgan ainda tem mais a dizer, mas tendo contemplado Jó 38:39 a 39:40, ele conclui:

Tudo revela que nada acontece, nem mesmo na mais humilde esfera da vida, sem o conhecimento de Jeová. Mesmo que na administração do Seu governo universal Deus deu domínio ao homem, no entanto é domínio sobre os fatos e forças que o homem não criou, nem sustenta.

Tudo isto e muito mais nos faz cantar:

A terra com todas as suas maravilhas não contadas,

Todo-Poderoso! Teu poder fundou no passado;

Estabeleceu tudo por ordenanças imutáveis,

E ao seu redor, lançaste, como um manto, o mar. (R. Grant)

Sua onipotência na Criação humana

J. Flanigan mostra que no Salmo 139, tendo falado da onisciência de Deus (vs. 1-6) e da onipresença de Deus (vs. 7-12), Davi então fala da onipotência de Deus (vs. 13-18): “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia” (vs. 14-16). Para ilustrar o poder do Criador, Davi se refere à criação do embrião e à formação do feto no útero. Destacamos especialmente as palavras “e entretecido nas profundezas da terra”. J. Flanigan explica que “entretecido” é um termo referente a bordado ou costura, e continua:

Tal é a forma humana, carne e ossos, tendões e músculos, artérias, veias e nervos, habilmente bordados e entrelaçados pela mão divina, e tudo isto no silêncio do útero, um lugar secreto e escuro como as partes mais profundas da terra. O Salmista sabia que o embrião, mesmo imperfeito e desforme, era conhecido de Jeová, pois Ele era o Criador. A condição final e o estado do corpo é conhecido dEle desde o momento da concepção, muito antes de vários membros estarem completamente desenvolvidos. Estes membros, órgãos e aspectos faciais aumentam em força e tamanho diariamente, mas Ele já sabe desde o início a forma final de cada um deles. O Onipotente os criou!

Em resumo, devemos dizer novamente que a onipotência de Deus na Criação, quer seja na esfera celestial, terrestre ou humana, deveria ser uma fonte de admiração e adoração para cada filho de Deus. Os “quatro animais” ou “seres viventes” (ARA) associados com o trono no Céu clamam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, que é, e que há de vir”, e os vinte e quatro anciãos respondem: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas e por tua vontade são e foram criadas” (Ap 4:8-11). Se os vinte e quatro anciãos são figurativos e representam a igreja, ou não (nem todos concordam quanto à identidade deles), o fato permanece que cada cristão deveria se unir ao coro de adoração e admiração do Seu maravilhoso poder criador, e além disto, quanto mais ainda por causa da obra redentora do Cordeiro (Ap 5:8-12). O fato de Deus ser descrito como “Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir”, nos apresenta mais uma consideração.

Sua eternidade declara a Sua onipotência

Nas palavras de W. Hoste:

Ao olharmos para o Universo ficamos impressionados com a sua grandeza e complexidade … Como não poderia ter se criado sozinho, certamente foi causado por alguma força livre adequada, e não é difícil crer que a força que o produziu não poderia ser menor do que, e deve ter emanado do, onipotente Criador. Seu poder eterno e Sua divindade se tornam visíveis nas Suas obras (Rm 1:20).

Moisés exclamou: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90:1-2). Ao dizer “Tu és Deus”, Moisés usa o título El, indicando o Todo-Poderoso, a causa de tudo. Se Deus não é eterno, Ele não pode ser onipotente. Foi destacado que o próprio conceito de tempo indica que algo o precede e sucede, mas que o conceito de eternidade indica que não há nada nem antes nem depois. Se fosse diferente, não seria eternidade. Deus não poderia ser onipotente se a Sua existência dependesse de algo que O precedesse, ou se a Sua existência dependesse de algo fora de Si mesmo. Como Criador, Ele não somente está fora da Sua própria criação, como o “Deus Eterno” (Dt 33:27) e o “eterno Deus” (Is 40:28), Ele também não tem origem e nem procedência. Nas Suas próprias palavras: “Eu sou o Alfa e Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1:8). Ele é o “Deus Forte” (Is 9:6).

Seu governo nas nações declara a Sua onipotência

Ao interpretar o sonho de Nabucodonosor, Daniel disse ao monarca babilônico: “O Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Dn 4:25). Nabucodonosor veio a reconhecer que o domínio de Deus “é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração” (Dn 4:34). O Novo Testamento diz que “as potestades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).

O governo de Deus em assuntos nacionais e internacionais é enfatizado em toda a Palavra de Deus, começando com o repovoamento da Terra depois do Dilúvio pelas famílias de Sem, Cão e Jafé (Gn 10:1-32). Edward Griffiths destaca que “isto não foi de forma alguma ao esmo”, e chama a atenção às palavras de Moisés: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações”, e depois: “… quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel” (Dt 32:8). No seu discurso em Atenas, Paulo declara que “o Deus que fez o mundo e tudo o que nele há … de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação” (At 17:24, 26). O controle de Deus sobre os assuntos das nações nunca foi relaxado, e mesmo no fim dos tempos, quando o mundo estará sujeito ao governo satânico, e dominado pela trindade do mal, composta pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta, a duração do seu reino terrível será limitada por Deus: “Deu-se lhe poder para agir por quarenta e dois meses” (Ap 13:5).

As profecias de Isaías, Jeremias, Ezequiel e Amós todas incluem uma parte que fala das “nações estrangeiras”: Isaías caps. 13-23; Jeremias caps. 46-51; Ezequiel caps. 25-32; Amós caps. 1 e 2. Jeremias foi posto “sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares” (Jr 1:10). Estes capítulos nos livros proféticos enfatizam que o Senhor não é uma mera divindade tribal. Ele é “o Juiz de toda a terra” (Gn 18:25). Todos os homens prestarão contas a Ele. Ele julgará todas as nações. As passagens destacam que o Senhor permanece em controle perfeito dos acontecimentos nacionais e internacionais; nenhuma nação é permitida exceder o lugar determinado no propósito divino, ou evitar pagar pela sua impiedade. Também devemos lembrar que as nações se levantam e caem devido ao tratamento que dão ao povo terrestre de Deus. “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gn 12:3).

A supremacia universal do Senhor é frequentemente frisada no Velho Testamento, e os seguintes exemplos devem ser notados: “Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações” (Sl 22:28). “Porque o Senhor Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra” (Sl 47:2). Jeosafá estava bem ciente disto; foi em relação a uma invasão por uma aliança que incluía “os filhos de Moabe, e os filhos de Amom” (II Cr 20:1) que ele disse: “Ah! Senhor Deus de nossos pais, porventura não és tu Deus nos céus? Não és tu que dominas sobre todos os reinos das nações?” (II Cr 20:6). Ezequias orou “perante o Senhor e disse: Ó Senhor Deus de Israel, … só tu és Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra” (II Rs 19:15). O Novo Testamento descreve “as duas testemunhas” de Deus no fim dos tempos assim: “Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra” (Ap 11:4).

Como Edward Griffiths corretamente observa:

A onipotência de Deus entre as nações tem sido manifesta no controle sobre a duração dos governos num nível internacional, especialmente durante o “tempo dos gentios” (Lc 21:24); um período de supremacia dos gentios, começando com o surgimento de Nabucodonosor e terminando com o raiar do reino milenar de Cristo.

A imagem vista por Nabucodonosor (Dn 2:31-35) enfatiza, não somente a presciência de Deus, mas Sua vontade diretiva: “Ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis” (Dn 2:21). 

O surgimento, o curso, e a queda de reis e reinos são dirigidos por Ele. Foi dito a Belsazar: “Contou Deus o teu reino, e o acabou” (Dn 5:26). Nos propósitos de Deus, o reino da Babilônia tinha um tempo de existência determinado. Deus não age a esmo. Ele calcula: “O tempo de duração de um império não é deixado ao acaso … é determinado por Deus”. Ele determina: “… os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação” (At 17:26). Compare Daniel 9:26-27 onde, falando de acontecimentos do fim dos tempos, lemos: “Estão determinadas as assolações … o que está determinado será derramado sobre o assolador”. Deus está em total controle dos acontecimentos do mundo. Belsazar foi pessoalmente “pesado na balança e achado em falta” (Dn 5:27). Embora seja verdade, como princípio geral, que Deus mede as vidas e obras dos homens pelos Seus padrões, e que todos os homens, deixados a si, serão achados “em falta”, também é verdade que

[…] Ele pesa o valor das ações, e executa o juízo com exatidão. Não há ação improvisada no Seu tribunal. O Juiz pondera, avalia as diversas considerações que afetam cada caso.

Devemos lembrar que “o Senhor é o Deus de conhecimento, e por ele são as obras pesadas na balança” (I Sm 2:3). “Tu retamente pesas o andar do justo” (Is 26:7).

No seu sonho, Nabucodonosor viu a onipotência divina em ação: Daniel lhe explicou que “nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído … Da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxilio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata, o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser depois disto” (Dn 2:44-45).

Seu triunfo sobre toda a oposição
declara a Sua onipotência

O “Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (Ap 4:8; 11:17) é também descrito como “Rei das nações” (Ap 15:3, ARA): “Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!” Falando dEle como “Rei das nações”, é dito: “Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste” (Ap 11:17).

Para trazer este mundo mau e rebelde à sujeição a Deus, o Senhor Jesus retornará, chefiando os exércitos do Céu, para “ferir … as nações”, para regê-las “com vara de ferro” e pisar o “lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso” (Ap 19:15). À primeira vista a expressão “Todo-Poderoso” pode parecer apropriada aqui para descrever o grande exército armado e pronto para confrontar o Cristo que está retornando. “E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo e ao seu exército” (Ap 19:19), mas somente o Senhor é “Todo-Poderoso”.

Davi descreve este vasto ajuntamento das nações: “Porque se amotinam os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Sl 2:1-3). Mal sabem os “reis” e os “governos” que eles foram reunidos pelo próprio Deus que eles pensam que podem derrotar! As Escrituras são perfeitamente claras em confirmar que este é o caso: “Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém” (Zc 14:2). Além disto, eles serão reunidos por meio de poder demoníaco. Deus usará os poderes das trevas para realizar o Seu propósito. “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta, vi sair três espíritos imundos semelhantes a rãs. Porque são os espíritos de demônios que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para congregá-los para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso … E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom” (Ap 16:13-16).

Os líderes nacionais, depois de consultarem (“os governos se consultam juntamente”), todos sujeitos a uma autoridade final (Ap 17:12-13), decidem por uma ação conjunta: “Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas”. Esta rebelião será em nome da “liberdade”. A Palavra de Deus e as leis de Deus precisam ser completamente derrotadas. Precisa haver liberdade total de todas as restrições divinamente determinadas. Isto será o florescer completo daquilo que já está acontecendo no mundo, e que vem acontecendo há séculos. Nas palavras de Paulo: “Já o mistério da injustiça opera” (II Ts 2:7). A abolição da pena de morte, o desrespeito à santidade do casamento, a liberdade para relacionamentos homossexuais entre adultos (o pecado de Sodoma), o desrespeito crescente pela lei e ordem, para citar apenas quatro exemplos, são nada mais nada menos do que uma rejeição clara e deliberada da lei divina. Estas tendências irão atingir seu clímax quando os homens e mulheres irão, publicamente, e unidos, brandir seus punhos contra Deus e Cristo. Tragicamente, os homens se esquecem que Deus deu estas “ataduras e cordas” em amor para manter a ordem e decência na raça humana, e hoje testemunhamos o resultado catastrófico quando estas restrições são desprezadas. A adoção indiscriminada da teoria da evolução roubou os homens do seu senso de responsabilidade a Deus, com resultados trágicos.

A resposta divina segue: “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará. Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião” (Sl 2:4-6). Devemos prestar atenção no seguinte:

A tranquilidade no Céu (v. 4)

Deus nem ao menos se levanta do Seu trono. Os “ventos de mudança” não sopram no Céu. Não há pânico ali. Deus está em controle perfeito e absoluto. A primeira coisa que o apóstolo João viu quando lhe foram mostradas as “coisas que depois destas hão de acontecer” foi “um trono … posto no céu e um assentado sobre o trono” (Ap 4:2). Diferentemente dos tronos na Terra, que podem ser derrubados por guerras e mudanças políticas, este trono está “posto no céu”, indicando estabilidade e imutabilidade. Além disto, enquanto é verdade que “descansa inquieta a cabeça que veste a coroa” (W. Shakespeare), o Todo-Poderoso está assentado em perfeita tranquilidade. A mesma tranquilidade é observada mais tarde no livro, quando João viu “uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem” (Ap 14:14).

Deus não apenas fica assentado, Ele ri. A razão é clara: o insignificante homem na Terra está tentando derrotar o Todo-Poderoso no Céu. Não é um riso de alegria, mas de desprezo, fazendo-nos lembrar que “o ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes. O Senhor se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia” (Sl 37:12-13). “Eis que eles dão gritos com suas bocas; espadas estão nos seus lábios, porque dizem eles: Quem ouve? Mas tu, Senhor, te rirás deles; zombarás de todos os gentios” (Sl 59:7-8). Os homens zombaram do Senhor Jesus no Calvário. Agora Deus zomba deles.

O terror na Terra (v. 5)

Deus “no seu furor os turbará”. A palavra “turbará” significa “aterrorizar” ou “transtornar”. O apóstolo João nos dá uma ideia do terror na Terra: “E os reis da terra e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo servo, e todo livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Cai sobre nos, e escondei-nos do rosto daquele que está sentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (Ap 6:15-16). É preciso dizer que não haverá injustiça no juízo divino — João ouviu um anjo do altar, que dizia: “Na verdade, ó Senhor Deus Todo Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos” (Ap 16:7). A ira do onipotente Deus será terrível. O Senhor Jesus, “a Palavra de Deus” (Ap 19:13), falará, e os poderes militares da Terra serão destruídos. A espada não está na bainha, nem na Sua mão, mas na Sua boca: “E os demais foram mortos com a espada que saia da boca do que estava assentado sobre o cavalo” (Ap 19:21). Ele irá destruir “o iniquo” com o “assopro da sua boca … e o esplendor da sua vinda” (II Ts 2:8).

O triunfo do Rei (v. 6)

O Salmo 2 começa com os reis rebeldes (v. 2). Deus agora apresenta o Seu Rei: “Ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião”. O Rei de Deus está na Terra, e sendo que é assim, o apóstolo João ouve “a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina” (Ap 19:6).

O Salmo 2 enfatiza que no fim dos tempos a humanidade desafiará a onipotência de Deus, e irá ser totalmente derrotada. A Bíblia encerra descrevendo “a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu” (Ap 21:10). Entre outras coisas, o apóstolo João diz: “Nela não vi templo; porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro” (Ap 21:22). A onipotência de Deus — Ele é o “Deus Todo-Poderoso” — nunca mais será contestada. Ela será reconhecida e aceita para sempre, pelas hostes adoradoras incontáveis dos santos e dos anjos.

Entretanto a onipotência de Deus é relevante para a vida de Seu povo hoje. Isto nos leva finalmente para:

Sua provisão para o Seu povo
declara a Sua onipotência

Tendo dito que separação não é tanto ausência de contato com o mal, mas sim ausência de relacionamento com o mal, Paulo exorta os cristãos em Corinto: “Sai do meio deles [os adoradores de ídolos de Corinto], e apartai-vos, diz o Senhor, e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós, Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (II Co 6:17-18). O uso do título divino “Todo-Poderoso”, aqui, é significativo. “Aquele que faz a promessa aqui é Deus, o Soberano Senhor de todos, cuja palavra é criadora, e que não pode deixar de realizar o que promete”. O cristão hoje pode corretamente usar a linguagem do Velho Testamento ao dizer do Onipotente Deus: “Este Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será nosso guia até à morte” (Sl 48:14).

Com isto em mente, devemos dar atenção às seguintes passagens do Novo Testamento, que enfatizam que temos um Deus de tremenda habilidade: Ele é “poderoso para confirmar” o seu povo (Rm 16:25); Ele é “poderoso para fazer abundar em vós toda graça” (II Co 9:8); Ele é “poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente” além daquilo que o Seu povo pedir ou pensar (Ef 3:20); Ele é “poderoso para guardar” tudo o que Seu povo entrega a Ele (II Tm 1:12); Ele é “poderoso para guardar” o Seu povo de tropeçar (Jd 24). Quando Dario fez a pergunta: “Daniel, servo do Deus vivo, dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” Daniel respondeu: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano” (Dn 6: 20-22).

O povo de Deus pode ter toda confiança no seu Deus onipotente: “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (I Ts 5:24). Eles podem dizer alegremente um ao outro: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora e para todo sempre. Amem” (Jd 24-25).

 - Por John M. Riddle, Inglaterra

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