A CRUZ E O ESPÍRITO SANTO
Muitos crentes, senão a maioria deles, não foram cheios do Espírito
Santo no momento em que acreditaram no Senhor. E o que é ainda pior,
depois de muitos anos de terem crido, continuam presos nas redes do
pecado e ainda são cristãos carnais. Nas páginas que seguem, tudo o que
tentamos explicar sobre como se pode libertar um cristão de sua carne está
apoiado na experiência dos crentes de Corinto e também na de muitos
crentes parecidos de todas partes.
Além disso, não desejamos dar a entender que um cristão deve
primeiro acreditar na obra substitutiva da cruz e posteriormente acreditar
em sua obra identificativa. Não é verdade, entretanto, que muitos, no
princípio não têm uma revelação clara em relação à cruz? O que
receberam é só a metade de toda a verdade, e por isso têm que receber a
outra metade em um período posterior.
Mas, se o leitor já aceitou a obra completa da cruz, o que vai
encontrar aqui não lhe interessará muito. Mas se, como a maioria de
crentes, também acreditou unicamente na metade de toda a verdade,
então lhe é indispensável o resto. Mesmo assim, queremos seriamente que
nossos leitores saibam que não é necessário aceitar as duas faces da obra
da cruz em separado; a segunda aceitação só é necessária para quem
recebeu a primeira de maneira incompleta.
A LIBERTAÇÃO DA CRUZ
Em sua carta aos Gálatas, depois de enumerar muitos atos da carne,
o apóstolo Paulo adverte que «os que pertencem a Jesus Cristo
crucificaram a carne com suas paixões e desejos» (Gl. 5:24). Eis aqui a
libertação. Não é estranho que o que interessa ao crente difere muito do
que interessa a Deus? O crente está interessado nas «obras da carne» (Gl.
5:19), quer dizer, nos pecados variados da carne. Está ocupado com a
irritação de hoje, o ciúmes de amanhã ou a disputa de depois de amanhã.
O crente se lamenta por um pecado em particular e deseja conseguir a
vitória sobre ele. Entretanto, todos estes pecados só são frutos da mesma
árvore. Enquanto se agarra uma fruta (em realidade não se pode agarrar
nenhuma) aparece outra. Crescem uma atrás de outra e não dão nenhuma
possibilidade de vitória. Por outro lado, Deus não está interessado nas
obras da carne mas sim na crucificação da carne.
«E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as
suas paixões e concupiscências.» (Gl. 5:24).
Se tivessem arrancado a árvore haveria alguma necessidade de
temer que desse fruto?
O crente trabalha ativamente fazendo planos para controlar os
pecados, que são as frutas, enquanto se esquece de tratar a própria carne
— que é a raiz —. Não é estranho que antes de que possa resolver um só
pecado já surgiu outro. Por isso hoje devemos tratar a origem do pecado.
Os recém-nascidos em Cristo precisam se apropriar do profundo
significado da cruz porque ainda são carnais. O objetivo de Deus é
crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o resultado de
que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas paixões e
desejos».
Tenham presente que o que foi crucificado é a carne junto com suas
poderosas paixões e desejos.
Posto que o pecador foi regenerado e redimido de seus pecados por
meio da cruz, agora o menino carnal em Cristo deve ser libertado do
domínio da carne pela mesma cruz para que possa andar segundo o
espírito e já não segundo a carne. Depois disto não passará muito tempo
antes de que seja um cristão espiritual.
Aqui encontramos o contraste entre a queda do homem e a ação da
cruz. A salvação que proporciona esta é justamente o remédio para
aquela. Que adequação tão perfeita entre as duas!
Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seu
pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir
está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que
não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o
espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja seu
servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o
espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à
queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não
seremos libertados. Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!
«Os que pertencem a Cristo Jesus» se refere a todo crente no Senhor.
Todos os que creram nEle e nasceram de novo lhe pertencem. O fator
decisivo é se se esteve unido a Ele na vida, não se se é espiritual ou se se
trabalhar para o Senhor, nem se se conseguiu libertação do pecado;
venceram-se as paixões e desejos da carne e agora se é plenamente
santificado. Em outras palavras, a pergunta só pode ser: foi-se regenerado,
ou não? acreditou-se no Senhor Jesus como Salvador, ou não? Se for sim,
não importa o estado espiritual atual — em vitória ou em derrota —,
crucificou-se a carne».
O assunto que temos adiante não é moral, nem é coisa da vida,
conhecimento ou obras espirituais. Simplesmente é se se é do Senhor. Se
for assim, então já se crucificou a carne na cruz. Está claro que isto
significa, não que alguém vai crucificar, nem que está no processo de
crucificação, mas sim que já crucificou. LER MAIS...