JUDAS MOSTRA AS CAUSAS QUE CORROMPEM A CRISTANDADE

Tinha pensado escrever-lhes acerca da salvação comum a todos os crentes; mas achava necessário escrever-lhes para os exortar a manterem-se firmes, a combaterem pela fé que, uma vez, fora dada aos santos.

Queria fazê-lo porque já havia quem corrompesse esta fé pela negação dos direitos de Cristo a ser Senhor e Mestre; e assim, afrouxando o freio à vontade própria, abusavam da graça e mudavam-na num princípio de dissolução. Eis os dois elementos desse mal que os instrumentos de Satanás introduziam: a rejeição da autoridade de Cristo (não o Seu nome), e o abuso da graça para satisfazerem as suas cobiças. Nos dois casos, era a vontade do homem que libertavam de tudo o que a refreava. A expressão "Senhor Deus" indica este caráter de Deus. "Senhor", aqui, não é a palavra geralmente empregada em Grego; é "Mestre".

Em seguida, tendo assinalado o mal que se tinha insinuado secretamente entre os Cristãos, a Epístola revela-lhes que o Juízo de Deus é executado contra aqueles que não andam segundo a posição em que Deus os tinha primeiramente colocado.

O mal não consistia somente em certos homens se terem introduzido sorrateiramente no meio dos Cristãos — o que era já, por si só, um grande mal, porque a ação do Espírito Santo era assim entrava entre os Cristãos — mas também que, e em definitivo, o conjunto do testemunho perante Deus, o vaso que continha esse testemunho se corromperia (como tinha acontecido com os Judeus) a um tal ponto que chamaria sobre si o Juízo de Deus. E ele tinha-se corrompido!...

Encontramos, pois, aqui o grande princípio da queda do testemunho estabelecido por Deus no mundo, por meio da corrupção do vaso que o contém e que usa o Seu nome.

Assinalando a corrupção moral como caracterizando o estado dos professantes, Judas cita, como exemplo dessa queda e do seu julgamento, o caso de Israel, que caiu no deserto (à exceção de dois homens, Josué e Calebe), e o dos anjos que, não tendo guardado o seu primitivo estado, são reservados, na escuridão e em prisões eternas, até ao Juízo daquele grande dia (Judas v. 5-6).

Este último exemplo sugere um outro a Judas, a saber, o de Sodoma e Gomorra, apresentando a imoralidade e a corrupção como causa do Juízo.

O estado dessas cidades é um testemunho perpétuo do seu julgamento neste mundo.

Esses homens ímpios, tendo o nome de Cristãos, não passam de sonhadores, porque a verdade não está neles.

Desenvolvem-se neles os dois princípios que assinalamos, a saber, a impureza da carne e o desespero da autoridade. O último manifesta-se sob uma segunda forma, a saber, a licenciosidade da língua, a vontade própria que se manifesta nas injúrias contra as dignidades.

Ao passo que — diz o texto — o Arcanjo Miguel não ousara injuriar o próprio Diabo, chamando-o apenas, na gravidade de alguém que atua segundo Deus, ao julgamento do próprio Deus (Judas v. 8-9).

Em seguida, Judas resume os três gêneros aos caracteres do mal e do afastamento de Deus.

Em primeiro lugar, assinala o da natureza, a oposição da carne ao testemunho de Deus e ao Seu verdadeiro povo, o livre curso que esta inimizade dá à vontade da carne. Em segundo lugar, fala do mal eclesiástico, do ensino do erro por causa de uma recompensa, sabendo-se, no entanto, que este ensino é contrário à verdade e contra o povo de Deus. Em terceiro lugar, mostra a oposição aberta, a rebelião contra a autoridade de Deus, no Seu verdadeiro Rei e Sacerdote.

No tempo em que Judas escreveu a sua epistola, os que Satanás introduzia na Igreja para ali abafarem a vida espiritual e conduzirem ao resultado que o Espírito contempla profeticamente, permaneciam no meio dos santos e tomavam parte nos piedosos ágapes onde se assemelhavam em testemunho do seu amor fraternal. Esses homens eram manchas ou nódoas que caíam nessas santas refeições, pascendo sem temor nas pastagens dos fiéis. O Espírito Santo denuncia-os energicamente. Estavam duplamente mortos, por natureza e pela sua apostasia; sem fruto, ou trazendo fruto que se estragava, como se fora da estação própria: desarreigados, escumando por todo o lado as suas infâmias; estrelas errantes, reservadas para as trevas eternas. Havia longo tempo que o Espírito anunciara, pela boca de o que, o Julgamento que seria executado contra eles. Esta passagem apresenta um lado muito importante do ensinamento que é dado aqui, a saber, que o mal que se tinha insinuado no meio dos Cristãos havia de continuar e seria encontrado ainda quando o Senhor voltasse para o Julgamento.

O Senhor viria com miríades dos Seus santos para executar o Julgamento sobre todos os ímpios de entre eles, por causa dos seus atos de iniquidade e das palavras ímpias que eles tinham pronunciado contra o Senhor (Judas v. 14-15).

Haveria um sistema contínuo do mal, desde o tempo dos apóstolos, até que o Senhor voltasse. Este é um aviso solene do que há de acontecer entre os Cristãos.

É profundamente notável ver o escritor inspirado identificar os fomentadores de devassidões com os rebeldes que serão o objeto do Julgamento no último dia. E o mesmo espírito, a mesma obra do Inimigo, refreada de momento, que amadurecerá para o Juízo de Deus. Pobre Assembleia!...

Todavia, isto não é senão a marcha universal do homem.

Somente, tendo a graça revelado plenamente Deus libertado da lei, resulta daí agora, ou a santidade do coração e da alma e as delícias da obediência sob a perfeita lei da liberdade, ou a devassidão e a rebelião abertas.

Nisto, o provérbio é verdadeiro: a corrupção do que é mais excelente é a pior das corrupções.

E preciso acrescentar aqui que a admiração dos homens, para conseguir deles algum proveito pessoal, é um outro traço característico desses apóstatas. Não é, pois, a Deus que eles pertencem.

John Nelson Darby

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