AS SETE IGREJAS DO APOCALIPSE

Passemos agora às "coisas que são". As estrelas estão na mão de Cristo, e o Senhor fala delas em primeiro lugar; anda no meio das assembleias ou igrejas. Estas são as lâmpadas ou castiçais, quer dizer que eles representam as assembleias — ou a Igreja numa dada posição — e, como tal, vistas perante Deus. Não é aquilo em que o conjunto se tornou, mas o que a Igreja é a Seus olhos, precisamente como Israel era o Seu povo, fosse qual fosse o estado dos Israelitas. As estrelas são o que Cristo vê como devendo dar a luz e como tendo autoridade, como sendo aquilo que Ele considera responsável perante Si, quanto a esse fim.
Num certo sentido, são todos aqueles que formam a Igreja e é assim que é dito muitas vezes nas cartas dirigidas às Igrejas, nas são-no mais especialmente aqueles que se encontram numa posição de responsabilidade, por causa da sua relação com Ele.
"As sete estrelas que estão na Sua mão direita" deviam brilhar, ter influência, e representá-Lo, cada uma no seu lugar, durante a noite. Que o clero tem gradualmente tomado esse lugar, e que, nesse sentido, seja responsável, é absolutamente verdade; mas, perante o Senhor, ele responderá por si próprio.
Todavia o Espírito não apresenta aqui a coisa desta maneira. O clero aspira a essa posição como a uma honra; deverá, portanto, a ela corresponder. Embora nunca, entre aqueles que o formam, alguém tenha sido chamado "anjo", é precisamente essa a sua pretensão — e o nome que eles tomaram foi tirado desta passagem. Já se não pode duvidar de que os condutores, os anciãos ou outros personagens, supondo que eles o fossem realmente, não ocupassem um lugar especial de responsabilidade, como se vê no capítulo 20 de Atos; mas, na passagem de que agora nos ocupamos, o Espírito não os reconhece assim. Cristo não Se dirige a anciãos, nem a bispos, segundo a aceitação moderna desta palavra, porque, de fato, não existiam nesse tempo — e nem estas cartas encerram o pensamento de uma diocese. (Exceto na América, aqueles que são chamados bispos são-no sempre de uma cidade. Isto mostra, historicamente, que as dioceses são um arranjo subsequente. Os anjos já não são os principais oficiantes nas sinagogas.)
Nas Sagradas Escrituras não se fala de anciãos como sendo autoridades; eram sempre vários, e a expressão "anjo" não pode aplicar-se a arranjos humanos existentes nesse tempo. O que é então o anjo?
Propriamente dito, não é um símbolo. A estrela é um símbolo, e é vista aqui na mão de Cristo. 
O anjo é o representante místico de alguém que não está presentemente em cena. E assim que esta palavra é sempre empregada, quando não se trata, de uma maneira positiva, de um mensageiro celeste ou terrestre.
Vemos isto nas expressões: O anjo do Eterno, os seus anjos (ao falar das criancinhas), o anjo de Pedro. Segundo a sua posição, os anciãos podem ter sido praticamente responsáveis; mas o anjo representa a assembleia, e, sobretudo, aqueles que Cristo tem sob o Seu olhar, quando contempla o estado da Igreja perante Si, por causa da sua proximidade e comunicação com Ele, ou por causa da sua responsabilidade de ser tal pela operação do Seu Espírito neles, para o Seu Serviço. Ninguém duvida de que a assembleia seja responsável, e, por conseguinte, o seu castiçal seja removido, quando ela se toma infiel, mas Cristo, pelo que concerne a esse estado de infidelidade, está em relação imediata com aqueles de que temos falado — pensamento solene para todos os que tomam a peito o bem da Igreja.
A maneira como os anjos e as igrejas são identificados, e certas distinções no grau ou no modo como o são, requer mais alguns pormenores. Que, ao dirigir-se aos anjos, o Senhor fala às igrejas na sua: responsabilidade geral é uma coisa evidente, porque nos é dito: "O que o Espírito diz às igrejas". Não se trata de uma comunicação particular feita a alguém que tem autoridade, a fim de o dirigir, como era o caso quando Paulo se dirigia a um Timóteo ou a um Tito, pois é às igrejas ou assembleias que o Espírito fala, e isto quer dizer que o anjo representa a responsabilidade delas.
Encontramos isto claramente indicado nestas passagens: "O Diabo lançará alguns de vós na prisão"; "nada temas das coisas que há de padecer". E logo a seguir: "Mas umas poucas de coisas tenho contra ti: porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão..."; "minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós". E mais à frente: "Digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a saber, ao anjo da igreja de Tiatira". No entanto o anjo e a igreja são distintos: "Tirarei do seu lugar o teu castiçal"; "Toleras Jezabel"...
 
Mas esta distinção entre o anjo e a igreja não se encontra nas três últimas igrejas. E ao anjo que tudo é dirigido. A Sardes é simplesmente dito que Cristo tem as sete estrelas, e não como a Efeso, que Ele as tem na Sua mão direita. Nas cartas dirigidas a Smima e a Filadélfia não há julgamento; os santos eram provados como fiéis, e Cristo encoraja-os. Quanto aos julgamentos, ou antes, quanto às ameaças dirigidas como advertências, no caso de Éfeso, que apresenta o fato geral do primeiro declínio da Igreja, é dito ao anjo que, se não se arrepender, o seu castiçal será tirado. A Igreja não se arrependeu; sabemo-lo pela Escritura e pelo próprio fato, e também considerando as sete igrejas como representando historicamente as sucessivas fases da Igreja. Em Pérgamo e em Tiatira são os que causam o mal que são especialmente julgados; no caso de Tiatira, devem abater-se terríveis julgamentos sobre Jezabel e sobre aqueles que estão em relação com ela. Jezabel tivera muito tempo para se arrepender, mas não o tinha feito. Todavia, para mudar a ordem das coisas é preciso esperar a vinda do Senhor.
 
Depois de tudo o que acabamos de fazer notar, os anjos são moralmente os representantes da Igreja. A advertência de Cristo é dirigida àqueles a quem Ele confia esta posição, e poderemos facilmente compreender que tal é o caso para todo aquele que toma a peito o interesse da Igreja; mas, além disso, vemos que o anjo é identificado com a assembleia, quando se trata de todos aqueles que a constituem, enquanto que Julgamentos particulares são anunciados às partes culpadas.
Não podemos entrar agora no exame do que é dito mais particularmente a cada igreja, mas fá-lo-emos brevemente, em relação com o conjunto do livro, sem entrar em pormenores.
O primeiro grande fato é que a Igreja, neste mundo, está sujeita ao Julgamento, e, como luz ou castiçal neste mundo, a sua existência e a sua posição perante Deus podem ser inteiramente postas de lado; em segundo lugar, aprendemos que Deus o fará, se ela abandonar a sua primeira energia espiritual.
É um princípio de um imenso alcance. Deus estabeleceu a Igreja para ser uma testemunha fiel do que Ele manifestou em Jesus e de que agora Jesus está no Céu. Se a Igreja o não fizer, é uma falsa testemunha e será posta de lado. Deus pode ter paciência com ela — e bem o tem demonstrado! Pode exortá-la a voltar ao seu primeiro amor — e Ele o tem feito! Mas, se tal se não verificar, o seu castiçal tem de ser tirado, e a Igreja cessa de ser a lâmpada de Deus no mundo. O primeiro estado deve ser mantido; sem isso a glória de Deus é ofuscada e a verdade falseada, e, nesse caso, a criatura responsável deve ser posta de lado. Porém, nenhuma criatura, como tal considerada, pode, sem ser amparada, perseverar no seu primeiro estado. Ela falhará em tudo o que lhe for confiado, e tudo será julgado, exceto aquilo que estiver no Filho de Deus, o segundo Homem, ou por Ele é mantido.
 
Bem tinha Éfeso perseverado na sua constância, mas já não tinha o necessário desprendimento de si mesma nem o pensamento fixado unicamente em Cristo, que são os primeiros frutos da graça. Como fizemos notar, havia obras, trabalho e paciência, mas a fé, a esperança e o amor, na sua real energia, tinham desaparecido. Os efésios tinham rejeitado as pretensões dos falsos doutores, tinham suportado aflições e não se tinham cansado! Tudo o que Cristo pode dizer deles, para mostrar o seu amor, Ele o diz! 
Mostra que não os esquece, nem o bem que neles é manifestado, todavia, tinham perdido o seu primeiro amor, e, a não ser que se arrependessem e praticassem as primeiras obras, o Julgamento devia ser executado — "tirarei do seu lugar o teu castiçal".
Encontramos aqui um outro princípio muito importante: Quando a assembleia se afastou da fidelidade, quando, coletivamente, deixou de ser a expressão do amor em que Deus visitou o mundo, Deus envia os indivíduos à Sua Palavra, que eles têm de aprender por eles mesmos: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas". A Igreja é julgada, e, por isso, não pode constituir uma segurança para a fé; neste caso o indivíduo é chamado a escutar o que o Espírito diz. A advertência que aqui é dada, a saber, que o castiçal seria tirado do seu lugar, é particularmente digna de ser notada, porque havia muitas coisas que o Senhor aprovava, e que encorajava, mostrando-lhas; mas, apesar de tudo isso, o castiçal devia ser tirado, se o primeiro amor fosse abandonado.
Nesta epístola, o caráter de Cristo é geral, assim como a promessa feita ao vencedor, porque a igreja de Éfeso caracteriza todo o princípio sobre o qual a Igreja repousa. 
Cristo tem as sete estrelas na Sua mão direita e anda no meio dos castiçais de ouro; não é um caráter especial, aplicável a um estado particular, mas sim que exprime todo o alcance da Sua posição no meio das igrejas. 
Não é prometido nada à igreja, considerada como tendo abandonado o seu primeiro amor. Não pode dirigir um crente, quando ela própria cai sob o golpe da repreensão e do Julgamento. A promessa é, pois, feita ao vencedor, como indivíduo — princípio este da mais alta importância. A promessa é geral, e está em contraste com a ruína trazida sobre o homem por Adão; mas o que é prometido é mais excelente e mais elevado do que o bem de que Adão gozava e que perdeu. Aquele que vencer comerá da árvore da vida; não da árvore do paraíso do homem neste mundo, mas do Paraíso do próprio Deus! E preciso também notar que não se trata agora do primeiro Adão, que tinha de guardar, como individuo, o seu primeiro estado; atualmente, trata-se de vencer. E não é apenas o mundo e a sua hostilidade que temos de vencer, mas também o que se encontra na esfera da própria Igreja, uma vez que o convite é para escutar o que o Espírito diz às igrejas ou assembleias. É este convite que dá a ocasião de falar de vencer.
Isto é algo de suma importância, considerando a pretensão assumida pela Igreja de ser ouvida como autoridade.
A mensagem é dirigida à Igreja — e não por ela aos indivíduos!
E é repreendida pela sua falta de fidelidade, enquanto que, individualmente, o santo é chamado para vencer. 
 
A Palavra dirigida a Smima é curta. Fosse qual fosse a malícia e o poder de Satanás, o mais que ele podia fazer era, se lhe fosse permitido, exercer o poder da morte. Cristo é o primeiro e o último, tanto antes como depois da morte, porque Ele é o próprio Deus. Encontrou a morte, mas atravessou-a em poder; por isso os santos não tinham nada que temer. Satanás poderia agir, cirandá-los, lançá-los na prisão. Que fossem fiéis até ao limite máximo das suas forças, ou seja, até à morte, e receberiam de Cristo a coroa da vida! Tribulação, pobreza, desprezo da parte daqueles que pretendiam ter um direito legitimo e hereditário a serem o povo de Deus — mas sempre perseguidores, quer fossem Judeus ou Cristãos — tudo isso constituía a parte da Igreja neste mundo — e Deus o permitia. Na realidade, era uma graça da Sua parte para com a Igreja no seu declínio. A esperança dos santos estava colocada muito acima de todas essas coisas, quando Cristo lhes prometia a coroa da vida. A Igreja que, pelo abandono do seu primeiro amor, deslizava ou estava ao ponto de deslizar para o mundo, devia compreender que o mundo estava nas mãos de Satanás e não constituía o descanso dos santos. Mas se, por um lado, o Senhor permitia a tribulação, por outro lado limitava-a. Tudo estava em Suas mãos. Não só tinha uma coroa para aqueles que sofriam, mas também a porção do vencedor estava assegurada; a segunda morte, a morte do Juízo, não poderia atingi-lo.
 
Em Pérgamo tornava-se necessário um julgamento mais direto. Cristo aparece como tendo uma espada agudo de dois fios, saindo da Sua boca.
Notar-se-á que em Pérgamo, como em Smirna, a um estado especial se aplica também um caráter especial de Cristo. Não há nada de geral quanto à igreja.
Em Éfeso, vemos Cristo na posição de Juiz, no meio dos castiçais, e a igreja ameaçada de ser retirada da sua posição de testemunha sobre a Terra. Em Tiatira, Cristo toma o Seu lugar como Filho de Deus, Filho na Sua própria Casa; e, como as coisas no tocante à igreja reverteram para pior, Ele é apresentado como tendo a perspicácia perfeita e a firmeza imutável para executar o Juízo.
Em seguida é prometida ao vencedor a plena bênção do novo estado de coisas. Em Pérgamo, reencontramos nos santos a fidelidade que já tinha sido vista em Smirna — o Nome de Cristo e a fé mantidos firmemente, apesar da perseguição. Há uma certa diferença entre Pérgamos e Filadélfia: não nos é dito que a Sua Palavra seja mantida firme, como sendo a da "paciência" de Cristo; a igreja, no estado em que se encontrava em Pérgamo, não o fazia, mas mantinha a confissão de Cristo no meio da perseguição. Mas um outro gênero de mal. diferente do que se encontrava e Éfeso, se tinha introduzido ali: O arrastamento para os caminhos do mundo, devido a um mau ensino. Era a doutrina de Balaão, trazendo com ela a idolatria. Havia também dentro da congregação algumas seitas que ensinavam práticas nefandas, sob o véu de uma pretendida santidade. Mas o Senhor julgará todas essas coisas. 
Em Pérgamo, não era questão, como verdade geral, de tirar o castiçal do seu lugar, como era o caso, quando a congregação era chamada a guardar o seu primeiro amor; nem de julgamento inexorável, por a igreja se ter extraviado inteiramente, mas havia ali corruptores pelos quais os servos de Cristo estavam sendo arrastados para a idolatria e para o mal. A aprovação individual por Cristo, a comunhão com Ele próprio numa bênção ainda futura (mas já presente em espírito), comunhão com Ele, como tendo sido outrora humilhado e rejeitado (o que não sucedia à igreja); um nome dado por Cristo, um nome de ternura da Sua parte; uma união com Ele, somente conhecida por aquele que a possuía; num palavra, uma associação individual com Ele e uma bênção individual no gozo de uma felicidade secreta — tal era a promessa feita ao vencedor, quando a corrupção fazia progressos, embora ainda não reinasse na congregação.
 
Em Tiatira, a igreja vai até ao fim. No que Cristo reconhecia no meio do estado de coisas que caracteriza Tiatira, encontra-se uma dedicação crescente. Mas Jezabel era tolerada, e com ela, estando ela própria na igreja, a união com o mundo, a idolatria, e filhos por ela gerados — tudo devia ser julgado. Uma grande tribulação se abateria sobre Jezabel, e os seus filhos seriam mortos. Cristo sondava as mentes e os corações e aplicaria o Julgamento com rigorosa Justiça. 
Os fiéis dessa época, "vós", os "outros", como são designados aqueles  os quais Cristo Se dirige I especialmente, não são senão um "resto", um Remanescente dedicado de uma maneira particular e crescente. O que está mais particularmente em vista, podemos notá-lo aqui, é o que são as igrejas para Cristo. A maneira como Jezabel atua para com os fiéis não é salientada. A vinda do Senhor é o tempo para o qual os olhares são dirigidos, e toda a bênção milenária é prometida ao que vencer: O Reino com Cristo, assim como o próprio Cristo, a Estrela da Manhã! A advertência: "Quem tem ouvidos ouça", é colocada, agora, após a promessa feita ao vencedor. Não é dada em relação com a igreja, mas sim com aqueles que, na congregação, vencerem. E isto o que caracteriza aquele estado. Tiatira pode ir até ao fim, mas não caracteriza o testemunho de Deus até ao fim, pois outros estados devem ser introduzidos nesse fim. Em Tiatira temos, sem dúvida, o papado na Idade Média, digamos até à Reforma; mas o próprio Romanismo vai até ao fim. O Juízo abatido sobre Jezabel é final. O Senhor deu-lhe tempo para se arrepender, mas ela não se arrependeu. Por isso será, forçosamente, associada com aqueles que seduziu, para a sua ruína comum. O Julgamento é aqui inteiramente caracterizado por uma penetração que sonda tudo de harmonia com a própria natureza e as exigências de Deus. 
A tribulação e o Julgamento têm um alcance particular, mas não a bênção; é a plena porção dos santos em tudo o que eles têm com Cristo, assim como a queda e o Julgamento são também completos, porque é o adultério e não somente o abandono do primeiro amor.
Portanto, em Tiatira vemos o fim, até à vinda do Senhor. 
 
Sardes começa uma nova fase colateral na História da Igreja.
Exceto o fato de ter as sete estrelas, nenhum dos caracteres eclesiásticos de Cristo, nenhum dos traços sob os quais é visto como andando no meio das igrejas é mencionado aqui. No entanto a Igreja, como tal, é nomeada — é ainda a sua História. Todavia, como foi feito menção da vinda do Senhor, todos os caracteres de Cristo tem relação com o que Ele terá no Reino. No entanto, há ainda sete estrelas — a autoridade suprema sobre a Igreja. Ele tem a autoridade sobre tudo e relativamente a tudo. É neste caráter que Ele tem algo a ver com Sardes. Ele tem os sete espíritos — a plenitude da perfeição na qual governará a Terra. Assim, é competente para abençoar na congregação, embora não tenha ali relação eclesiástica regular; tem o poder sobre todas as coisas e a plenitude do Espírito — possui estas duas coisas na perfeição. 
Seja a Igreja o que quer que seja, eis o que Ele é, Ele! A Igreja não pode falhar na sua posição de testemunha; falhando, revela uma falta de plenitude da graça em Cristo. E Ele não pode faltar àquele que tem ouvidos para ouvir.
Mas o estado da igreja mostra que ela estava longe de aproveitar desses recursos.
Tinha, é certo, o nome de que vivia; nas suas pretensões, era superior ao mal que campeava em Tiatira; em Sardes, não se encontrava Jezabel nem a corrupção, mas, praticamente, a morte estava lá. As suas obras não eram completas perante Deus. Não se tratava do mal, mas de falta de energia espiritual; e o resultado disso era que os indivíduos sujavam as suas vestes em contato com o mundo.
Sardes era convidada a lembrar-se, não das suas primeiras obras, mas sim do que tinha recebido e ouvido, da verdade que lhe tinha sido confiada — o Evangelho e a Palavra de Deus. De outro modo, seria tratada como o mundo. O Senhor viria como um ladrão porque agora a vinda do Senhor está sempre iminente.
De modo nenhum encontramos aqui a ameaça de tirar o castiçal. Isso era um assunto há arrumado. O Juízo tinha sido pronunciado, o pôr de lado da igreja era coisa assente. O corpo de professantes (em Sardes) devia ser tratado como o mundo, e não eclesiasticamente, como uma congregação corrompida (comparar com a 1 Tessalonicenses 5:1-3). No entanto, vemos que alguns guardam a sua integridade e são reconhecidos; andam com Cristo, como tendo praticado a Justiça. Também ali vemos a promessa: Confessaram o Nome de Cristo diante dos homens, diante do mundo, e o nome deles será confessado diante de Deus, quando a assembleia for tratada como o mundo. São verdadeiros Cristãos, no meio de uma assembleia mundana, e os seus nomes não terão apagados do registro, agora mal sustido sobre a Terra, mas que será retificado, de uma maneira infalível, pelo Julgamento celestial.
Notamos já que, quando a vinda do Senhor é introduzida, a advertência dirigida àqueles que têm ouvidos para ouvir vem depois dos vencedores terem sido distinguidos dos outros. E somente este Remanescente que o Senhor tem em vista. Não posso duvidar de que, em Sardes, temos o Protestantismo. 
 
A igreja de Filadélfia apresenta um caráter particularmente interessante.
Nada nos é dito das suas obras, a não ser que Cristo as conhece; mas o que é impressionante nela é a sua associação muito especial com o próprio Cristo. 
Tal como em Sardes e em Laodiceia, Cristo, em Filadélfia, não é visto sob os caracteres de que está revestido, quando anda no meio das igrejas, mas sim I sob um caráter que a fé reconhece, quando a organização eclesiástica se torna o foco da corrupção. Temos aqui o Seu caráter pessoal, o que está em sintonia Consigo mesmo, o Santo e o Verdadeiro, o que a Palavra manifesta e requer, e o que a Palavra de Deus e em si mesma — um caráter moral e a fidelidade. Na realidade, esta última palavra encerra tudo: A fidelidade a Deus, interior e exteriormente, de harmonia com o que é revelado; e a fidelidade para realizar tudo o que Ele declarou. 
Cristo é conhecido como o Santo. Portanto, as pretensões ou as associações eclesiásticas exteriores não servem para nada.
Deve haver o que convém à Sua natureza, e a conformidade fiel a esta Palavra, que Ele certamente cumprirá. Ao mesmo tempo, Ele tem na Sua mão a administração: Abre, e ninguém fecha; fecha, e ninguém abre. Vejamos qual foi o Seu caminho sobre a Terra: Tendo querido, na Sua graça, vir daquela maneira, era então simplesmente dependente, como nós próprios somos. Era Santo e Verdadeiro. Aos olhos do homem, tinha pouca força, mas guardava a Palavra e vivia de toda a palavra que saía da boa de Deus. Esperava pacientemente no Eterno, e era a Ele que o porteiro abria. Vivia os últimos dias de uma dispensação; Ele, o Santo e o Verdadeiro, era rejeitado, e, aos olhos da Humanidade, não obteve nenhum resultado do Seu trabalho junto daqueles que se diziam Judeus, mas que eram a sinagoga de Satanás. Em Filadélfia, sucede o mesmo com os santos: Andam num meio semelhante àquele em que Cristo Se encontrava; guardam a Sua Palavra, têm pouca força, não são distinguidos, como Paulo, pela energia do Espírito, mas não renegam o Seu Nome. É este o caráter e o móbil de todo o seu procedimento. Cristo é abertamente confessado. A Palavra é guardada, e o Nome de Cristo não é negado. Isto pode parecer pouca coisa, mas no declínio universal, no meio de tantas pretensões eclesiásticas, quando um grande número se perde nos raciocínios humanos, guardar a Palavra dAquele que é Santo e Verdadeiro, não renegar o Seu Nome, é tudo! Mas é mencionado ainda um outro elemento: Cristo o Santo é o Verdadeiro, espera! Aqui, na Terra, esperava pacientemente no Eterno. E o caráter de uma fé perfeita. A fé tem um duplo caráter: a energia que ultrapassa os obstáculos, e a paciência que espera em Deus e se confia a Ele (para o primeiro, ver Hebreus 11:23-24; para o segundo, ver os versículos 8 a 22). É este último caráter que temos aqui: a palavra de paciência é guardada. 
As promessas são feitas em relação com essas qualidades distintas de guardar a Palavra e de não negar o Nome de Cristo, embora tendo pouca força em presença das pretensões eclesiásticas e uma religião de sucessão estabelecida por Deus.
Cristo forçará aqueles que pretendem uma sucessão divina, a virem e a reconhecerem que Ele tem amado os que guardam a Sua Palavra! No presente, era dada uma porta aberta a Filadélfia, e ninguém podia fechá-la, tal como o porteiro tinha aberto a Cristo, de sorte que nem os fariseus nem os sacerdotes podiam entravá-la.
No porvir, aqueles que se dizem Judeus e não o são, esses pretendentes a uma ordem de sucessão divina, terão de se humilhar e de reconhecer que aqueles que seguiram a Palavra do Santo e do Verdadeiro eram os que Cristo amava. 
Esperando, a sua aprovação lhes bastava. Esta é a pedra-de-toque da fé: ficarmos satisfeitos com a aprovação, contentando-nos com a autoridade da Sua Palavra.
Mas havia também uma promessa em relação com os Julgamentos que o Senhor deve executar sobre a Terra. Cristo espera até que os Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés, e nós devemos esperar esse momento para vermos o mundo posto em ordem. Por enquanto, temos de continuar a andar onde o deus deste mundo exerce o seu poder, embora sob controle divino. Crer que podemos manter os nossos direitos neste mundo é esquecer a Cruz e o Cristo. Não podemos pensar nos nossos direitos enquanto os Seus não forem plenamente reconhecidos, porque nós não temos outros direitos além de Cristo. O Juízo, depois que Pilatos entregou Cristo, para ser crucificado, ainda não veio. Até lá, Cristo espera à direita de Deus — e nós esperamos também. Filadélfia não tem, como Smirna, de sofrer a perseguição e o martírio, mas tem, talvez, uma tarefa não menos difícil. Em todo o caso, eis a nossa tarefa de agora: Ser pacientes e estar satisfeitos com a nossa aprovação por Cristo, guardando a Sua Palavra e não renegando o Seu Nome.
Mas há outros preciosos estímulos: Uma hora de tentação deve vir sobre toda a Terra para provar os que pertencem à Terra, que nela habitam como pertencendo-lhe. Alguns, vitoriosos da provação, poderão ser poupados; mas aqueles que guardam a palavra da paciência de Cristo serão guardados dessa hora. Ela virá sobre toda a Terra — e onde estarão eles então? 
Fora do mundo, ao qual não pertenciam quando ali estavam. 
Esperavam que Cristo tomasse o Seu poder; esperavam o tempo em que o mundo seria dEle!
Pertenciam ao Céu, Aquele que ali está, e foram tomados para estarem com Ele, antes de esse tempo de terrível provação vir sobre o mundo. Haverá um tempo de excepcional angústia antes de Ele tomar o Seu poder; mas eles não só reinarão com Cristo quando o resultado final tiver sido alcançado, mas também serão guardados dessa hora, dela tendo a segurança no tempo da provação. E é por isso que o Senhor lhes mostra a Sua vinda como sendo a esperança deles, e não como uma advertência dada aqueles que não se arrependem, para lhes dizer que, quando da Sua aparição, eles serão tratados tal como o mundo. Cristo virá em breve, e os fiéis devem estar atentos, para que ninguém temo a sua coroa. Devem manter firme o que já possuem. São fracos, é verdade, mas, mesmo assim, estão espiritualmente associados a Cristo.
Agora nós temos a promessa que lhes é feita, promessa geral, cujo cumprimento está nos lugares celestiais, e é caracterizada pela associação especial com Cristo; são publicamente reconhecidos como possuindo aquilo que de modo nenhum pareciam possuir sobre a Terra. Os outros tinham a pretensão de serem o povo de Deus, a cidade de Deus, de terem um título religioso divino; eles tinham sido apenas fiéis à Sua Palavra, e esperavam Cristo. 
Agora, quando Cristo toma o Seu poder, e que as coisas são manifestadas na sua perfeita realidade, de harmonia com Ele em poder, tendo essa posição segundo Deus, são reconhecidos como sendo eles o povo de Deus, a cidade de Deus! Neste mundo tinham tido a cruz e o desprezo; no Céu, o Nome de Deus e da cidade celestial é o caráter impresso sobre eles! Examinemos agora a promessa feita aqui aos vencedores: Aquele que tinha pouca força é uma coluna no templo de Deus em Quem e por Quem é abençoado! Na Terra, talvez tivesse sido considerado como estando fora da unidade e da ordem eclesiásticas; no Céu, é uma coluna delas, e delas já não sairá! Sobre ele, que era apenas reconhecido para ter parte na graça, é impresso, na glória, o Nome do seu Deus Salvador rejeitado! Sobre ele também, que era apenas contado como pertencendo à cidade santa, é escrito o nome celeste dessa cidade, assim como o novo Nome de Cristo, nome desconhecido dos profetas e dos Judeus segundo a carne, mas que tomou como morto para e s t e mundo (no qual se estabeleceu a falsa igreja), e como ressuscitado e entrado na glória celestial. É impressionante ver o cuidado com que é indicada aqui a associação com Cristo; é o que dá à promessa o seu caráter. "O templo do meu Deus", diz Cristo; "o nome do meu Deus", o "da cidade do meu Deus"; "o meu novo Nome". O vencedor foi associado à própria paciência de Cristo, e Cristo confere-lhe o que o associa plenamente à Sua própria bênção com Deus. Isto é mui particularmente precioso e pleno de estímulo para nós. 
 
Em seguida vem Laodicéia.
A tepidez é o que caracteriza o último estado da profissão na Igreja, que tal se torna para Cristo, que deve vomitá-la da Sua boca. Não é a simples falta de poder, mas sim a falta de ânimo, que é o pior de todos os males. Esta ameaça, e absoluta, e não condicional. Supõe que a rejeição é irremediável. Com essa falta de coragem para Cristo e para o Seu serviço, vemos, nos de Laodicéia, muita pretensão à posse de recursos e de capacidades próprios: "Eu sou rico", dizem eles, mas não têm nada de Cristo. E a igreja professante dizendo-se rica, sem ter Cristo como riqueza de alma para a fé. E por isso que Ele os aconselha a comprarem dEle a verdadeira e aprovada Justiça, um vestido para cobrirem a sua nudez moral, e o que dá a vida espiritual, porque pelo que se refere ao que Cristo é e dá perante Deus, eles eram mui particularmente pobres, nus e miseráveis. Tal é o Juizo que Cristo lança sobre as suas pretensas riquezas, sobre o que eles imaginam ter adquirido segundo o homem. Todavia, enquanto a Igreja subsistir, Cristo continua a agir em graça: Está à porta e bate; insiste, da maneira mais premente, junto da consciência, para ser Ele mesmo recebido. Se, naquilo que Ele está ao ponto de vomitar da Sua boca, se encontrar ainda alguém que ouça a Sua voz e abra, admiti-lo-á para estar com Ele, e dar-lhe-á uma parte no Reino. 
Não se trata aqui da vinda do Senhor, como no caso do Julgamento de Jesabel. Praticamente, esta era Babilônia, que é julgada antes de Cristo vir. Laodicéia é vomitada da boca de Cristo, rejeitada como indigna, mas o conjunto do corpo é julgado como o mundo.
A vinda do Senhor a Tiatira, como a Filadélfia, é para os santos. E somente assim que ela é considerada em relação com a Igreja. Sardes, se não se arrepender, é reduzida à condição do mundo, e como tal julgada. Quando chega o estado caracterizado por Laodicéia, a assembleia é reprovada e rejeitada por Cristo, nesse caráter, mas, para isso, não há necessidade da Sua vinda.
Embora Tiatira vá até ao fim e termine eclesiasticamente a História da Igreja, não é senão nas três primeiras congregações que a Igreja, no seu conjunto, é tratada como tendo de se arrepender. Em Tiatira, foi dado tempo a Jezabel para se arrepender, mas ela não o fez. A cena fecha-se para a Igreja sobre a Terra e é substituída pelo Reino. Sob este aspecto, as últimas quatro igrejas vão juntas.
Não há nenhuma perspectiva de arrependimento nem de restauração de toda a Igreja.
Sardes é chamada ao arrependimento e a guardar; deve lembrar-se do que recebeu.
Mas, se não vigiar, deve ser tratada como o mundo. E por isso que, como temos visto, a chamada a ouvir é dirigida aos vencedores, após a promessa. 
O caráter de Cristo, em relação a Laodicéia, não pode ser passado em silêncio.
Manifesta a passagem dos diversos estados da Igreja à autoridade de Cristo sobre o mundo, acima e além da própria Igreja. Cristo, em Pessoa, retoma o que a Igreja deixou de ser. Ele é o Amém, Aquele em Quem se realizam e são tornadas verdadeiras todas a promessas; a Testemunha real e o revelador de Deus e da verdade, quando a Igreja o não é; o princípio da Criação de Deus—Cabeça sobre todas as coisas — e a glória e o testemunho do que é a nova Criação como sendo de Deus. A Igreja deveria ter manifestado o poder da nova Criação pelo Espírito Santo, porque, se alguém está em Cristo, nova criatura é, onde todas as coisas são de Deus. Nós, que dela somos as primícias, somos criados de novo nEle. A Igreja tem assim as coisas que permanecem (2 Coríntios 3).
Mas ela foi uma testemunha infiel; se ali tem uma parte, é porque Cristo possui todas as coisas. Ele é o verdadeiro princípio delas, como as tendo realmente manifestado. Tendo falhado a testemunha responsável por essas coisas (responsabilidade que lhe foi outorgada pelo Espírito Santo), Cristo as retoma e é introduzido para as manifestar de uma maneira efetiva.
 
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