A Personalidade do Espírito Santo

Todos os cristãos creem na verdade fundamental de que Deus é Um — o único soberano, todo-poderoso e onisciente Criador e Sustentador de todo o Universo. Paulo diz: “Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém” (Rm 11:36).

Tanto o Velho quanto o Novo Testamentos são enfáticos e insistentes em relação a isto, e não ousamos ser descuidados em relação a essa verdade fundamental, para que não caiamos em erro.

Deus não apenas é Um, mas Ele é o Ser absolutamente único: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a Mim” (Is 46:9). No entanto, apesar da insistência das Escrituras na singularidade de Deus, o Novo Testamento constantemente nos apresenta o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e faz declarações acerca de cada um que só podem ser verdadeiras de Deus. Uma consideração das muitas Escrituras do Novo Testamento há de nos mostrar que essas Pessoas são distinguíveis. O Pai não é o Filho nem o Espírito Santo; o Filho não é o Pai nem o Espírito Santo; o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho.

Embora estas Pessoas sejam distintas entre si, elas não são separadas; de fato, o Senhor Jesus, depois da Sua ressurreição, quando falava aos Seus sobre fazer discípulos de todas as nações, disse: “batizando-os em nome [singular] do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:19).

Na nossa limitada experiência humana, um ser é uma pessoa; assim, para nós, os termos “ser” e “pessoa” tendem a ser considerados permutáveis — mas não devemos confundir os dois. Deus é absolutamente único, e um aspecto dessa singularidade é que no Ser Único de Deus há três Pessoas.

O tema sob consideração é “O Espírito Santo”, e precisamos tomar cuidado para que Ele não seja relegado a uma posição de inferioridade por ser chamado de “a Terceira Pessoa da Trindade”.

Pelas palavras do Senhor Jesus aos Seus: “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16:13), alguns concluem que o Espírito nunca fala de Si mesmo, mas observamos que essa conclusão é incorreta quando consideramos todo o ensino do Novo Testamento sobre o Espírito Santo, ensino esse inspirado pelo próprio Espírito. A expressão “de Si mesmo” (ou “por Si mesmo”) significa “da Sua própria iniciativa”, como mostram as palavras que seguem: “mas dirá tudo o que tiver ouvido”.

É bom lembrar, no começo do nosso estudo, que dependemos do mesmo Espírito, pois sem Ele não teríamos a Bíblia — Ele é o Divino Autor: “… homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21).

Além disso, sem o Seu auxílio, não seríamos capazes sequer de entender as Escrituras. Os próprios instrumentos humanos usados pelo Espírito para escrever a Palavra de Deus se voltavam Àquele que os impelia, para encontrar luz quanto aos propósitos e o cronograma de Deus: “… da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava” (I Pe 1:10-11). Enquanto somos encorajados a nos aplicar diligentemente ao estudo da Palavra de Deus, é o Espírito Santo quem deve inundar a página com luz divina. Assim, o Espírito deve receber o Seu devido lugar e, como para nos despertar para esse fato, Ele aparece na primeira e na última página da revelação divina: “E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2); “e o Espírito e a esposadizem: Vem” (Ap 22: 17).

Há, aproximadamente, cem referências ao Espírito Santo no Velho Testamento, e no Novo Testamento (que equivale a cerca de um terço do Velho Testamento) há em torno de duzentas e trinta referências.

Isso significa que o Espírito Santo tem uma posição muito mais proeminente na revelação do Novo Testamento, o que é compatível com o fato que a presente fase dos procedimentos de Deus com os homens é especificamente a do Espírito. Apenas três livros do Novo Testamento não mencionam o Espírito Santo: Filemon e II e III João. Também, encontramos somente uma referência ao Espírito Santo em outros sete: Colossenses, II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Tiago e II Pedro.

Neste artigo serão considerados os seguintes tópicos:

• Os nomes e títulos do Espírito Santo;

• A deidade do Espírito Santo;

• A personalidade do Espírito Santo

Os nomes e títulos do Espírito Santo

Os nomes e títulos desta bendita Pessoa são muitos e maravilhosos.

Nenhum dos Seus nomes pode ser separado de alguma expressão de Deidade. Todos os nomes manifestam algum aspecto da Sua posição como Deus, Seu relacionamento na Divindade ou Suas funções e perfeições em relação à realização dos propósitos de Deus.

O Espírito

“Espírito” é a tradução da palavra grega pneuma, que primariamente significa “vento”, e também “sopro”: “Mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (I Co 2:10).

Talvez deveríamos mencionar que uma das razões por que os homens tendem a pensar no Espírito como um atributo impessoal, e não como uma Pessoa específica, é porque a palavra grega pneuma é uma palavra neutra, e algumas versões traduzem o pronome correspondente de forma impessoal*. Tal tradução está gramaticalmente correta, mas doutrinariamente incorreta. É desnecessário dizer que a natureza do Espírito não é determinada pelas regras gramaticais do grego, ou de qualquer outra língua!

O Espírito de Deus

Este nome enfatiza a Sua natureza, caráter e poder Divinos: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema” (I Co 12:3).

O Espírito do Senhor

Foi na sinagoga de Nazaré, no dia de Sábado, que foi entregue ao Senhor Jesus “o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: o Espírito do Senhor é sobre Mim …” (Lc 4:17-18). Embora o título “o Espírito do Senhor [Jeová]” seja usado, por exemplo, em Isaías 11:2, a passagem do Velho Testamento que o Senhor Jesus leu traz: “O Espírito do Senhor Deus [Adonai Jeová] é sobre Mim” (Is 61:1). Este último título é ainda mais enfático.

* O autor cita, como exemplo, Rm 8:16, que na AV usa o pronome reflexivo impessoal (“itself”) ao invés do pronome reflexivo pessoal (“himself”) (N. do E.).

O Espírito do Deus vivo

Assim como Pedro confessou que Cristo era o “Filho do Deus vivo” (Mt 16:16), o Espírito Santo é descrito como o Espírito do Deus vivo: “… porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (II Co 3:3).

O Espírito de Cristo

Esse nome destaca a relação do Espírito com Cristo: “… vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle” (Rm 8:9). O “Espírito de Deus” e o “Espírito de Cristo” certamente se referem ao Espírito Santo, e mostram que Deus o Pai e Cristo mantém exatamente a mesma relação com o Espírito.

O Espírito de Seu Filho

Paulo escreve: “… e porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6). Este é o único lugar onde o título “o Espírito de Seu Filho” é usado. Em Romanos 8:15 Ele é chamado “o Espírito de adoção [filiação]”. Assim nós, como cristãos, agora possuímos “o Espírito de Seu Filho” para estar em correlação com a nossa condição de filhos.

O Espírito de Jesus Cristo

Esta designação é usada somente em Filipenses 1:19: “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro [isto é, a “abundante provisão”] do Espírito de Jesus Cristo”. É Jesus Cristo, o Homem agora exaltado à mão direita do Pai, que envia o Espírito. O título “o Espírito de Jesus Cristo” nos diz que o poder que conduziu a Jesus através desta cena terrestre, é exatamente o que nós necessitamos para nos levar em segurança através deste mundo.

O Espírito de Jesus

Lucas registra: “… e quando eles [Paulo e Timóteo] chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu”

(At 16:7, VB). Deve-se notar que, no contexto imediato, lemos que “passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia” (At 16:6). Logo, “o Espírito de Jesus” é o “Espírito Santo”. W. Kelly comenta: “O Espírito de Jesus harmoniza o interesse pessoal do Homem glorificado, cujo Nome era o desejo dos seus corações e o grande objetivo das suas vidas fazer conhecido, … com o poder do Espírito”. O conceito da relação do Espírito com o Homem Jesus fica ainda mais claro aqui.

O Espírito Santo

“Estando Maria Sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1:18). Este nome enfatiza o caráter moral essencial do Espírito. Ele é Santo em Si mesmo.

O Espírito de santificação

Este título é usado somente em uma ocasião: “… declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:4). Alguns sugerem que “o Espírito de santificação” se refere ao espírito humano de Cristo, que era absolutamente santo.

Isto é distinto e, no entanto, inseparável do Espírito Santo.

O Espírito Santo da promessa

Paulo, se dirigindo aos santos de Éfeso, escreve: “… e tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13). O selo de propriedade divina é o Espírito Santo habitando no cristão como o Espírito Santo da promessa. Embora o Espírito Santo fosse (e é) o Prometido, como revelado pelo Senhor Jesus antes da Sua ascensão (“… que esperassem a promessa do Pai, que de Mim ouvistes”, At 1:4), todavia no contexto do versículo citado da carta aos Efésios, o título “o Espírito Santo da promessa” parece estar mais ligado com a imutável promessa das nossas bênçãos futuras.

 

O Espírito de verdade

 

Três vezes em capítulos consecutivos (João caps. 14, 15 e 16) o Senhor se refere ao Espírito Santo como “o Espírito de verdade”: por exemplo, “mas quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim” (Jo 15:26). A Sua essência é a verdade: “E o Espírito é O que testifica, porque o Espírito é a verdade” (I Jo 5 6). Sua obra é comunicar a verdade: “Mas, quando vier Aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16:13). Toda a verdade provém Dele.

O Espírito de vida

Paulo escreve: “… porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). Há uma nova lei para uma nova vida. A frase “o Espírito de vida” não é subjetiva, isto é, “o Espírito que tem vida”, e sim objetiva; em outras palavras “o Espírito que dá vida”. O Senhor Jesus disse: “O Espírito é o que vivifica” (Jo 6:63), referindo-Se ao Espírito Santo.

O Espírito da graça

Este título é usado somente em uma ocasião: “… de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:29). Portanto, o apóstata despreza, não apenas o Filho e o sacrifício, mas também o Espírito. Foi graça que trouxe o Filho de Deus à Terra e O levou ao Calvário. No exercício dessa mesma graça o Espírito de Deus exerce um ministério de graça para com os homens culpados. No entanto, esses apóstatas insultaram o Espírito da graça.

O Espírito da Glória

Este, obviamente, é o título deste livro. Pedro escreve: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da Glória e de Deus” (I Pe 4:14). Lemos do “Deus da glória” (At 7:2), do “Pai da glória” (Ef 1:17), do “Senhor da glória” (I Co 2:8) e agora do “Espírito da glória”. Cristo estava na glória; Pedro está dizendo a estes cristãos dispersos e estrangeiros que o Espírito, que veio daquela glória e daquele Deus, os enchia de gozo ao suportarem o vitupério. O Espírito Santo é o administrador de uma graça que culmina em glória.

O Espírito Eterno

Este título, usado pelo escritor aos Hebreus, será considerado mais adiante na seção “A divindade do Espírito Santo”: “Cristo … pelo Espírito eterno se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14).

O Consolador

Três vezes (Jo 14:26; 15:26; 16:7) no “ministério do cenáculo” o Senhor Jesus se refere ao Espírito Santo como “o Consolador” (por exemplo, “… aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” — Jo 14:29), e uma vez como “outro [ou seja, do mesmo tipo que Ele] Consolador” (Jo 14:16). A palavra traduzida “Consolador” literalmente significa alguém chamado para ficar ao lado de outro para auxiliar, a ideia sendo alguém à mão para apoiar.

É a mesma palavra traduzida “advogado” na primeira epístola de João: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I Jo 2:1).

Outros

A lista de nomes/títulos do Espírito Santo, dada acima, certamente não é completa. Alguns dos títulos adicionais encontrados no Velho Testamento são: “Espírito da sabedoria” (Êx 28:3; Dt 34:9); “o Teu bom Espírito” (Ne 9:20); “a inspiração [sopro] do Todo-Poderoso” (Jó 34:3); “o Espírito de justiça” (Is 4:4; 28:6); “o Espírito de ardor” (Is 4:4); “o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11:2); “um Espírito novo” (Ez 11:19); “o Espírito de graça e de súplicas” (Zc 12:10).

Algumas dos nomes menos usados no Novo Testamento, e que não foram mencionados até agora neste artigo são: “o Espírito de vosso Pai” (Mt 10:20); “a unção” (I Jo 2:27); “os sete espíritos” (Ap 1:4); “os sete espíritos de Deus” (Ap 3:1; 4:5; 5:6).

A divindade do Espírito Santo

As Escrituras indicam claramente que o Espírito Santo é Deus.

Pedro disse a Ananias: “Porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo”, e continua: “Não mentistes aos homens, mas a Deus” (At 5:3-4). A dedução lógica é que o Espírito Santo é Deus. Podemos tirar a mesma conclusão de I Coríntios 3, onde Paulo, dirigindo-se a igreja, diz: “… vós sois o templo de Deus” e então acrescenta: “… o Espírito de Deus habita em vós” (v. 16). Também a inspiração de Deus em relação às Escrituras (“Toda a Escritura é inspirada por Deus” — II Tm 3:16) se iguala à inspiração dos “homens santos de Deus” que “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21).

“O Espírito do Senhor [Jeová]”, o nome geralmente dado ao Espírito Santo no Velho Testamento, é usado como sinônimo de “o Senhor [Jeová]”, por exemplo: “… e veio sobre ele [Otniel] o Espírito do Senhor, e julgou a Israel, e saiu à peleja; e o Senhor entregou na sua mão a Cusã-Risataim” (Jz 3:10). Os escritores do Novo Testamento, ao citarem as palavras faladas por Jeová no Velho Testamento, atribuem-nas ao Espírito Santo, por exemplo: as instruções de Jeová acerca da entrada de Aarão no lugar santíssimo além do véu, uma vez ao ano (Lv 16:2-34) são descritas pelo escritor aos Hebreus assim: “… dando nisto a entender o Espírito Santo que o caminho do santuário ainda não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo” (Hb 9:8).

Os atributos ou qualidades essenciais da Divindade são absolutos.

Cada Pessoa da Trindade possui todos esses atributos na sua totalidade.

Devemos observar os seguintes atributos do Espírito Santo:

Sua onipresença

A onipresença de Deus foi reconhecida pelo salmista; no Salmo 139 ele enfatiza que é do Espírito de Deus que ele não pode fugir: “para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua face?” (v. 7).

Para onde quer que o salmista fosse, seja na esfera terrestre (“Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá” — vs. 9-10), ou em esferas invisíveis (“Se subir ao céu, Tu lá estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que Tu ali estás também” — v. 8), ele sabe que ali ele encontrará o Espírito.

Para o salmista não se tratava apenas de uma realidade solene, mas era também uma fonte de regozijo saber que nunca poderia chegar a um lugar onde estivesse além do alcance da Sua presença.

Nesta era presente, o corpo do cristão individual é o templo do Espírito Santo: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Co 6:19). Essa é a condição contínua de todo filho de Deus a partir do momento da conversão. Semelhantemente, a igreja local é o templo de Deus; Paulo, dirigindo-se à igreja em Corinto diz: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Co 3:16). Já que isto é verdade de toda igreja local no mundo, a qualquer hora, o Espírito Santo não está limitado a uma localidade. Ele possui o atributo da onipresença.

Sua onisciência

A Palavra de Deus deixa claro que o Espírito possui todo o conhecimento.

Paulo escreve: “porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (I Co 2:10,11).

Assim, o Espírito Santo é uma Pessoa Divina com onisciência. De fato, Isaías diz: “quem guiou o Espírito do Senhor, ou como Seu conselheiro O ensinou?” (Is 40:13).

Sua onisciência pode ser discernida também nas verdades entregues sobre as coisas de Deus, já que o Espírito é o grande Mestre enviado pelo Pai para confortar e encorajar os Seus, depois da ascensão do Senhor Jesus: “… aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14:26); “… quando vier Aquele, o Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade … e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16:13).

Sua onipotência

O Espírito Santo é visto como possuindo poder ilimitado ao trabalhar para cumprir os propósitos de Deus. A primeira menção do Espírito de Deus na Bíblia está relacionada à grande obra da Criação, onde “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2). Na realidade, Ele é a primeira pessoa da Trindade a ser especificamente nomeada.

Eliú sugere que o Espírito Santo concede a vida física: “o Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida” (Jó 33:4). O ato poderoso da ressurreição é atribuído a Ele: “E se o Espírito Daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita” (Rm 8:11). O escritor inspirado claramente declara o envolvimento do Espírito Santo na ressurreição de Cristo: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados … mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pe 3:18).

O Espírito Santo demonstra Seu poder onipotente ao realizar o novo nascimento: “… aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3:5); “… não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3:5).

O poder do Espírito de Deus é ilustrado nos milagres que o Senhor Jesus realizou. Estes foram produto, não apenas do poder Divino do próprio Cristo, mas também juntamente com o Espírito Santo: “Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus” (Mt 12:28).

Devemos lembrar também que os termos “o Espírito Santo” e a “virtude do Altíssimo” parecem ser sinônimos quando o anjo Gabriel diz para Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35).

Sua eternidade

Outro atributo de Deus, que pertence unicamente a Ele e não é possuído por nenhum outro, é Sua eterna existência não criada. O escritor aos Hebreus fala de “Cristo, que pelo Espírito Eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14). Neste versículo encontramos as três pessoas da Trindade envolvidas na grande obra sacrificial de Cristo, mas o destaque aqui é que o Espírito é descrito como eterno, um atributo que é igualmente verdadeiro do Pai e do Filho.

A personalidade do Espírito Santo

Precisamos ter uma compreensão clara sobre a personalidade do Espírito Santo; Ele não é uma influência. É natural pensar em Deus Pai como uma Pessoa, manifestada pelo Filho que encarnou e em graça humilde andou entre os homens. Mas quanto ao Espírito que é invisível e cujas operações são secretas e silenciosas, temos a tendência de pensar diferentemente.

A realidade da personalidade do Espírito Santo

O uso de pronomes pessoais

Já vimos que “Espírito” é a tradução da palavra grega pneuma, que é uma palavra neutra, e que em certos lugares é traduzida usando o pronome reflexivo neutro em aposição (veja nota na pág. 11). Afirmamos que embora isso seja gramaticalmente correto, o fato fica doutrinariamente errado.

Entretanto, no ministério do Senhor Jesus aos discípulos, no cenáculo, Ele repetidamente usou o pronome masculino “Ele” (ekeinos) ao falar do Espírito Santo, por exemplo: “… quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele [“Esse” enfático] testificará de Mim” (Jo 15:26).

O Espírito Santo também fala de Si mesmo na primeira pessoa:

“Disse-lhe [a Pedro] o Espírito: Eis que três homens te buscam. Levanta-te, pois, desce, e vai com eles, não duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19-20); “disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que [Eu] os tenho chamado” (At 13:2).

 

Características pessoais atribuídas ao Espírito Santo

Individualidade

Sua individualidade é declarada nas palavras do Senhor Jesus: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro [do grego allos, que significa outro do mesmo tipo] Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14:16). Logo, o Salvador falava de uma Personalidade diferente da Sua própria.

Inteligência

O Espírito possui uma inteligência ativa: “… o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (I Co 2:10, ARA).

Conhecimento Intimamente ligado à Sua inteligência está o conhecimento das coisas de Deus: “… ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus” (I Co 2:11).

A oração de Paulo era que: “… o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em Seu conhecimento o Espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1:17). O “Espírito de sabedoria e de revelação” é o Espírito Santo naquele aspecto específico de revelar Deus e Seu propósito.

Aqueles a quem Paulo estava escrevendo haviam sido selados com o “Espírito Santo da promessa” no momento de crer, mas aqui o apóstolo ora para que sejam iluminados pelo mesmo Espírito.

Mente

Paulo escreve: “… e Aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito; porque segundo a vontade de Deus é que intercede pelos santos” (Rm 8:27, ARA). A palavra aqui traduzida “mente” é muito abrangente e inclui o conceito de pensamento, sentimento e propósito.

Vontade

Em relação à distribuição dos dons espirituais nós lemos: “… o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (I Co 12:11).

Atos pessoais atribuídos ao Espírito Santo

Ele perscruta

Já citamos estas palavras importantes: “o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (I Co 2:10, ARA); a palavra traduzida “perscruta” significa “examinar”, “investigar”.

Ele ensina

O Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “… porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (Lc 12:12).

Paulo, dirigindo-se aos coríntios, escreve: “… as quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (I Co 2:13).

Ele fala

No Novo Testamento há várias referências ao Espírito Santo falando, especialmente no livro de Atos, mas dois exemplos serão suficientes para ilustrar a questão: “E disse o Espírito a Filipe: chega-te e ajunta-te a esse carro” (At 8:29). “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2:7).

Ele testifica ou dá testemunho

Pedro menciona o Espírito de Cristo nos profetas do Velho Testamento quando escreve: “… da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir” (I Pe 1:10-11). Paulo, falando do ministério presente do Espírito Santo, diz: “… o mesmo Espírito testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:16).

Ele ordena

Quando Pedro relatava perante “os que eram da circuncisão” o que tinha acontecido, em relação a Cornélio, ele disse: “E disse-me [ordenou] o Espírito que fosse com eles, nada duvidando” (At 11:12).

Ele intercede

No capítulo da epístola aos Romanos que contém tanto ensino sobre o Espírito Santo, Paulo escreve: “Porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8:26).

Ele dá a entender

Quando o escritor aos Hebreus fala do acesso limitado ao Santo dos Santos no Tabernáculo, nos dias do Velho Testamento, ele diz: “… mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo” (Hb 9:7-8).

Ele reprova

O Senhor Jesus ensinou Seus discípulos que, quando o Espírito Santo viesse, os cristãos seriam esclarecidos quanto ao verdadeiro caráter desse presente mundo mau: “E quando Ele [o Consolador] vier, convencerá [reprovará] o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16:8). A palavra traduzida “convencerá” significa “provar a culpa, envergonhar ao provar que alguém está errado”. É a própria presença do Espírito Santo na Terra que objetivamente reprova ou censura o mundo.

Ele dirige

Talvez seja apropriado tratar deste assunto mais longamente porque há muita confusão sobre isso. A “direção do Espírito” é uma expressão que muitos associam com o Espírito Santo dirigindo irmãos quanto à parte audível que devem desempenhar na ceia do Senhor, ou na reunião de oração, por exemplo.

Entretanto, encontramos a frase “guiado pelo Espírito” apenas quatro vezes* no Novo Testamento, duas vezes a respeito do próprio SenhorJesus Cristo:

• “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1);

• “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto” (Lc 4:1).

Nas outras duas ocasiões a expressão é usada em relação a cristãos:

• “Porque todos os que são guiados pelo Espírito, esses são filhos de Deus” (Rm 8:14);

• “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:18).

A referência em Romanos 8 fica no meio de uma seção que ensina que, embora não haja condenação para os que estão em Cristo, ainda há neles dois poderes conflitantes, a carne e o Espírito. O cristão vive “segundo a carne” ou “segundo o Espírito”. Aqueles que são “guiados pelo Espírito” pelos caminhos de santidade e obediência manifestam a dignidade dos filhos de Deus; o Filho de Deus era conduzido pelo Espírito, e assim deve ser com os “filhos de Deus”.

A referência na epístola aos Gálatas ocorre numa seção que trata da vida de liberdade. Vemos, imediatamente, que alguém que é “guiado pelo Espírito” já abandonou “as obras da lei” como um meio de justificação.

A direção do Espírito nos tira do domínio tanto dos desejos carnais quanto das imposições legais — esses precisam ser deixados. Ao invés de se envolver nas obras da Lei, devemos manifestar o fruto nônuplo do Espírito; Paulo trata disto na última parte do cap. 5 de Gálatas.

Assim, em nenhuma ocorrência a expressão “dirigido pelo Espírito” se aplica específica ou exclusivamente às funções do cristão na Ceia do Senhor ou em qualquer outra reunião. Enquanto não há menção específica da direção do Espírito em I Coríntios 14, é razoável concluir que Aquele que conduziu os cristãos durante a semana não há de abandoná--los quando estiverem reunidos na qualidade de igreja local.

* O autor se refere a expressão em inglês “led by the Spirit”, que é traduzida de diversas formas nas Bíblias em Português (N. do E.).

O Espírito guia nas reuniões do povo de Deus precisamente da mesma maneira que Ele o faz na vida diária. Sua direção não é uma influência sobrenatural, nem um impulso repentino. Não vem através de sentimentos, mas de uma avaliação inteligente do que é apropriado para a ocasião; envolve o exercício de discernimento espiritual.

A direção do Espírito na Ceia do Senhor será discernida mais facilmente se o indivíduo foi conscientemente guiado por Ele durante a semana, isto é, se ele não esteve andando segundo a carne. Devemos distinguir entre a direção do Espírito e as inclinações da carne.

Características pessoais do Espírito Santo

Uma das qualidades pessoais do Espírito Santo é Sua sensibilidade à oposição.

Ele pode ser entristecido

Paulo escreve: “… e não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4:30). No contexto, o apóstolo exorta: “… não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe” (v. 29); linguajar torpe é uma maneira certa de entristecer o Espírito Santo de Deus que habita no cristão e por Quem foi selado. Lemos no Velho Testamento: “Mas eles [Israel] foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo; por isso Se lhes tornou em inimigo, e Ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63:10).

Ele pode ser extinguido

Uma das breves exortações à igreja dos tessalonicenses é: “Não extingais o Espírito” (Ts 5:19). Nos vs. 19 a 22 desse capítulo final encontramos preceitos que se relacionam mais ao nosso andar público. Aqui no v. 19 estão em vista as operações públicas do Espírito Santo no nosso meio; não devemos obstruir a livre atuação do Espírito. Devemos sempre lembrar que o Espírito jamais agirá em contradição com a vontade de Deus revelada na Sua Palavra.

Ele pode ser agravado

O escritor aos Hebreus apresenta a pergunta retórica: “… de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:29). O Espírito Santo executa um ministério de graça para com os homens culpados, Ele produz uma percepção de Deus e um temor de enfrentar a eternidade; Ele convence do pecado. Rejeitar Seu ministério gracioso é insultar o Espírito; e desprezar a Sua Divina Pessoa.

É possível mentir a Ele

Pedro fala muito diretamente com Ananias: “Ananias, porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?” (At 5:3). Ananias havia mentido ao Espírito Santo quando guardou para si uma parte do preço da propriedade que vendera, dizendo ter entregado tudo. Ele pode ter pensado que mentia apenas ao homem, mas na verdade estava mentindo a Deus:

“Não mentiste aos homens, mas a Deus” (v. 4).

Ele pode ser tentado (posto à prova) Tendo Ananias “expirado” (At 5:5) Pedro questiona sua esposa Safira:

“Porque é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor?” (v. 9). Ela foi acusada de colaborar com seu marido a desafiar, ou pôr à prova, o Espírito do Senhor.

É possível resistir a Ele

Estevão, um pouco antes do seu martírio, fez a seguinte acusação contra a nação judaica: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais” (At 7:51). Eles lutavam contra o Espírito Santo; as palavras “como vosso pais” confirmam que o “Espírito de Cristo” (I Pe 1:11) estava nos profetas do Velho Testamento.

É possível blasfemar contra Ele

O Senhor Jesus, dirigindo-Se aos fariseus, diz: “Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens” (Mt 12:31). O Senhor Jesus usou palavras tão solenes por causa da acusação blasfema dos fariseus: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12:24), quando Ele os expulsava pelo “Espírito de Deus” (v. 28). Eles haviam blasfemado (falado injuriosamente) do Espírito ao dizer que o príncipe dos demônios estava presente com Cristo, e não o Espírito Santo. Eles faziam isso maliciosamente.

Portanto, o pecado era acusar o Senhor Jesus de fazer os Seus milagres pelo poder satânico e não pelo Espírito Santo. Este pecado somente poderia ser cometido enquanto o Senhor estava aqui na Terra.

Resumo

Em suma, o uso de pronomes pessoais em relação ao Espírito Santo, as características e os atos atribuídos a Ele, juntamente com Sua sensibilidade à oposição, todos apontam para o fato que o Espírito Santo é uma Pessoa e não uma mera influência. Podemos crer nesse fato em teoria, mas será, na nossa atitude prática para com Ele, que O tratamos como uma Pessoa real? Será que conhecemos algo da “comunhão do Espírito Santo” (II Co 13:14) da qual o apóstolo Paulo fala?

Por David E. West, Inglaterra

 

 

 
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