Quando nos voltamos para a Palavra de Deus vemos que quase todos os escritores do Novo Testamento previram que a ruína e o abandono da Palavra de Deus entrariam no testemunho cristão. Portanto não deveria ser uma grande surpresa para nós quando víssemos esse abandono da ordem de Deus na criação de igrejas denominacionais e não denominacionais.
As "segundas" epístolas
As "segundas" epístolas do Novo Testamento se ocupam particularmente deste assunto.
Cada epístola revela algum aspecto da fé cristã sendo abandonado e, consequentemente, assinala o caminho para aqueles que são fiéis seguirem em cada situação.
1. A 2ª epístola aos Efésios descreve o abandono do primeiro amor (Ap 2:1-7).
2. A 2ª epístola aos Tessalonicenses trata do abandono da bendita esperança – a vinda do Senhor (no Arrebatamento).
3. A 2ª epístola de João considera a gravidade de se abandonar a doutrina de Cristo.
4. A 2ª epístola de Pedro apresenta o abandono da piedade prática.
5. A 2ª epístola aos Coríntios trata, dentre outras coisas, do abandono da autoridade apostólica conforme é encontrada nas Escrituras.
6. A 2ª epístola a Timóteo nos fala do abandono da ordem na casa de Deus. (Esta está particularmente conectada ao assunto que estamos considerando).
O testemunho de Paulo
O apóstolo Paulo nos alertou para o fato de que haveria um grande abandono da Palavra de Deus entre os cristãos professos. Ele disse, "Porque eu sei isto que,depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; e que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (At 20:29-30). Em suas epístolas a Timóteo, ele mencionou aqueles que naufragariam na fé (1 Tm 1:19-20), que apostatariam da fé – o conjunto formado pela verdade cristã (1 Tm 4:1-3), que se afastariam da fé (1 Tm 6:10) , que se desviariam da fé (1 Tm 6:20-21), que perverteriam a fé de outros por meio de seus ensinos errôneos (2 Tm 2:18), e que se tornariam reprovados quanto à fé (2 Tm 3:8). Ele disse que viria um tempo quando os cristãos professos, de um modo geral, não suportariam a sã doutrina, mas desviariam seus ouvidos da verdade, voltando-se para as fábulas que não têm qualquer fundamento na Palavra de Deus (2 Tm 4:2-4). Ele disse que os padrões morais no testemunho cristão também se degenerariam até chegarem ao mesmo nível dos praticados entre os pagãos (2 Tm 3:1-5; compare com Rm 1:28-32).
Ele falou de impostores que se levantariam professando conhecer a verdade, os quais imitariam os poderes miraculosos de Deus numa tentativa de resistirem à verdade (2 Tm 3:7-8). Ele também falou que as coisas não melhorariam, mas que "homens maus e enganadores" dentro do testemunho cristão (pois é este o contexto do capítulo) iriam "de mal para pior" (2 Tm 3:13). Basta darmos uma olhada superficial no testemunho cristão de nossos dias para vermos que todas essas previsões chegaram ao seu triste cumprimento.
O testemunho de Mateus
Nas parábolas do reino dos céus o apóstolo Mateus indica o mesmo abandono. Nelas o Senhor Jesus disse que um inimigo (Satanás) viria e semearia "joio no meio do trigo".
Isto indica que no reino dos céus haveria a intromissão de professantes falsos e sem vida.
Como resultado disso, o reino teria uma mistura de crentes (trigo) e falsos professantes (joio), os quais não seriam separados até o fim desta era (Mt 13:24-30, 38-41).
Mateus registra que o Senhor Jesus ensinou as multidões que um vasto sistema cresceria a partir da simplicidade original do cristianismo, e que no final não guardaria qualquer semelhança àquilo que era no princípio. Ele usou a figura de uma "semente de mostarda" sendo plantada na terra e crescendo demais, até se tornar uma imensa árvore, na qual as aves do céu viriam se aninhar. A grande árvore nos fala de domínio e poder (Ez 31:3-7; Dn 4:10-11, 2-22, 34). O Senhor indicava assim que a profissão cristã se desenvolveria na forma de uma grande instituição mundana, dando ao cristianismo um aspecto de grandeza e pretensão. A profissão cristã acabou se transformando em um grande sistema de religião, política e negócios. Nela os homens se esforçam para conseguir honra, grandeza e poder. As "aves do céu" nos falam de espíritos malignos (Ap 18:2) que se apoderariam das mentes dos homens e os influenciariam para que ensinassem doutrinas errôneas (Tm 4:1).
Se já tivemos a oportunidade de presenciar o barulho que sai de uma árvore cheia de pássaros, entenderemos o quão exata é essa figura da confusão que existe no testemunho cristão. As aves estão todas gorjeando ao mesmo tempo, todas elas aparentando ter algo a dizer, mas suas vozes são todas conflitantes. É isso o que ouvimos quando atentamos para os milhares de vozes das várias assim chamadas igrejas existentes na cristandade (Mt 13:31-32).
O Senhor Jesus continuou, falando da mulher que introduziu "fermento" em "três medidas de farinha" (Mt 13:33). Isto nos fala de outro aspecto da ruína que se abateu sobre a profissão cristã. Se as aves na imensa árvore ilustram a grande profissão externa que iria se desenvolver, o fermento na massa nos fala da grande corrupção interna que acabaria permeando a cristandade. Nas Escrituras o fermento é uma figura ou tipo do mal (Mt 16:6; Mc 8:15; 1 Co 5:6-8; Gl 5:7-10). A "massa" é uma figura de Cristo, que é "o Pão da vida". É Ele o alimento espiritual dos filhos de Deus (Jo 6:33-35, 51-58). Portanto, o Senhor indicou que a igreja professa (a mulher) iria cor romper o alimento dos filhos de Deus ao introduzir má doutrina, misturando-a com a verdade acerca da Sua Pessoa. Foi exatamente o que aconteceu. Na vasta profissão da cristandade, muitos ensinos errôneos e malignos têm sido associados à Pessoa de Cristo.
Sendo assim, estas três parábolas no evangelho de Mateus indicam que haveria a introdução de pessoas malignas (Mt 13:24-30), espíritos malignos (Mt 13:31-32; 1 Tm 4:1), e doutrinas malignas (Mt 13:33).
Algumas outras similaridades do reino, no evangelho de Mateus, também indicam essa ruína que acabaria se introduzindo. Por exemplo, Mateus 25:1-13 diz que to-das as dez virgens tosquenejaram e adormeceram. Elas estavam dormindo quando deveriam estar vigilantes.
O testemunho de Pedro
O apóstolo Pedro também falou dos ensinos malignos que surgiriam no testemunho cristão. Ele disse que falsos mestres se levantariam dentre os santos de Deus e introduziriam "heresias de perdição" que muitos seguiriam – até ao ponto de falarem mal do caminho da verdade (2 Pd 2:1-3; 3:16).
Heresia não é ensinar má doutrina, mas criar seitas. Uma "heresia" ou "seita" é, por definição, a criação de um partido ou divisão dentro de uma igreja, o qual rompe com os demais e forma sua própria comunhão em torno de uma opinião particular. É verdade que a má doutrina costuma estar conectada à formação de seitas, e provavelmente é por isso que muitos cristãos pensam em heresia como o ensino de coisas heterodoxas e blasfemas, mas a heresia é, na essência, a formação de uma divisão notória na igreja. A mais sutil de todas as heresias é aquela que se desenvolve em torno de alguma parcela da verdade até excluir outras verdades. Podem existir muitos verdadeiros crentes conectados a essas heresias. Mas uma "heresia de perdição", da qual Pedro fala, é uma seita que constrói sua causa em torno de doutrinas destruidoras de almas.
Quando observamos a vasta profissão da cristandade, vemos todas as inúmeras divisões e seitas que existem na igreja. Ouvimos que existem hoje mais de mil comunhões denominacionais e não denominacionais! Felizmente podemos dizer que a maioria desses grupos eclesiásticos não são heresias "de perdição", mas mesmo assim são divisões na igreja e se configuram em sectarismo.
Além disso, não vamos nos esquecer de que as Escrituras dizem que devemos rejeitar a heresia porque é uma obra da carne (Tt 3:10-11; 1 Co 11:19; Gl 5:20).
O testemunho de João
Enquanto o apóstolo Paulo alerta sobre aqueles que retrocedem da revelação da verdade cristã (Hb 10:38-39), o apóstolo João adverte a respeito daqueles que a ultrapassam (ou "prevaricam") e não permanecem nela (2 Jo 9). João falou desse desvio como resultado do trabalho de mestres anticristãos. A respeito deles, João afirma: "Saíram de nós, mas não eram de nós" (1 Jo 2:19). Ao dizer "nós", aqui e em muitos outros lugares de sua epístola, João está se referindo aos apóstolos. Sair da comunhão e doutrina dos apóstolos era o mesmo que abandonar. Enquanto João se referia primariamente ao abandono da doutrina concernente à Pessoa de Cristo, podemos ver que o testemunho cristão não parou aí. Muito daquilo que é aceito como ordem na igreja não tem qualquer fundamento nos ensinos dos apóstolos. O que vemos nos faz lembrar o que o Senhor disse aos Fariseus, ao afirmar que eles estavam "ensinando doutrinas que são andamentos de homens". Ele também disse: "Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição" (Mc 7:7, 9).
O testemunho de Judas
Judas também nos diz que certos homens se introduziriam furtivamente entre os cristãos e converteriam "em dissolução a graça de nosso Deus" (Jd 4). Ele descreve o caráter dos que corromperiam o testemunho cristão como pessoas que entrariam "pelo caminho de Caim", sendo levadas "ao erro de Balaão", e perecendo "na rebelião de Coré" (Jd 11).
Estas três coisas descrevem muito bem o tipo de erro eclesiástico que hoje prevalece na cristandade.
Primeiro, há o "caminho de Caim", que descreve a tentativa de se mostrar boas obras para Deus como forma de ser aceito por Ele. Caim era um homem religioso por ter oferecido um sacrifício, mas o que ele ofereceu a Deus, numa tentativa de obter aceitação, foi obra de suas próprias mãos, sendo rejeitado por isso (Gn 4:1-5). Sua oferta não tinha o sangue que prefiguraria o sacrifício cabal do sangue derramado do Senhor Jesus Cristo, sem o qual ninguém pode ser abençoado por Deus. Hoje está sendo pregado nos púlpitos de muitas igrejas um evangelho sem sangue, o qual nem mesmo é o evangelho. Por meio dele muitos têm sido levados a crer que podem apresentar suas boas obras a Deus em troca de aceitação e salvação, mesmo que a Bíblia indique claramente que a salvação "não vem das obras" (Ef 2:8-9; Tt 3:5; Rm 4:4-8). Em seguida vemos o "erro de Balaão", que nos fala do desejo de ensinar coisas que não vêm de Deus em troca de dinheiro e posição. Balaão se apresentou a Balaque e aos moabitas como um profeta com a intenção de profetizar para eles visando prejudicar o povo de Deus (Nm 22-24).
Ainda que talvez não tenham a intenção de prejudicar o povo de Deus, muitos pregadores na cristandade estão do mesmo modo ensinando doutrinas prejudiciais que não são encontradas nas Escrituras e igualmente buscando posições elevadas na igreja.
Finalmente temos a "rebelião de Coré", que é a organização de um partido de homens para desafiar a ordem dada por Deus para o sacerdócio. Coré e seus homens queriam uma posição acima do povo de Deus, a qual não lhes havia sido concedida por Deus. Na profissão cristã existe uma organização similar de uma classe especial de homens para presidirem sobre o rebanho de Deus, o que é conhecido como clero. Esses homens falam deliberadamente do rebanho de Deus como se fosse o rebanho "deles". Esse tipo de organização pode muito bem ter surgido com boas intenções, e podem existir muitos que atualmente ocupam esse lugar de boa mente, mas mesmo assim trata-se de um sistema de coisas que não tem qualquer fundamento na Palavra de Deus. Em essência, ele desafia o genuíno sacerdócio que pertence a cada crente.
O testemunho do Senhor
Finalmente, o próprio Senhor condena um grupo de pessoas que se levantaria na igreja, chamados de "nicolaítas" (Ap 2:6, 15). Essas pessoas introduziram impurezas no testemunho cristão; e pelo significado de seu nome, muitos estudiosos da Bíblia concluíram que estas podem muito bem ter sido as primeiras sementes do clericalismo. A palavra "nico" significa "governar", e "laitan" – que é a mesma palavra para laico – significa "povo". Os nicolaítas eram um partido formado por pessoas que aparentemente buscavam meios de "governar sobre o povo", e por isso poderiam muito bem ter sido o início do sistema que faz distinção entre clero e leigos. O Senhor nos diz especificamente que as "obras" e as "doutrinas" dos nicolaítas são coisas que Ele odeia (Ap 2:6, 15).
Temos nisso tudo um testemunho abundante de quase todos os escritores do Novo Testamento sobre o fato de que haveria um grande distanciamento da simplicidade da fé cristã (2 Co 11:3-4). Os apóstolos nos disseram que, em sua ausência, surgiria um sistema de coisas que não teria qualquer fundamento na Palavra de Deus. É verdade que em algumas igrejas ocorre uma parcela maior desse erro eclesiástico do que em outras.
Mas, seja na basílica de São Pedro em Roma, seja na menor capela evangélica, a maioria delas – se não todas – trazem os princípios básicos do clericalismo inseridos em seus sistemas de governo.
O crente que é instruído segundo os pensamentos de Deus não tem alternativa senão admitir que aquilo que se apresenta aos homens como a igreja de Deus tem pouca ou nenhuma semelhança com a igreja de Deus conforme é apresentada na Palavra de Deus.
Sua pergunta poderá ser: "O que aconteceu?" Em poucas palavras, a resposta é que nós (a igreja) fracassamos.
O contraste entre o "um só corpo" e as muitas seitas e divisões
Talvez a mais triste de todas essas evidências de abandono sejam as muitas seitas e divisões. As Escrituras ensinam claramente que Deus odeia divisões, pois o cisma e a heresia (formação de partidos) são obra da carne (Gl 5:20). Quão grande o contraste entre a vontade do Senhor e essas numerosas seitas e divisões que existem no testemunho cristão! Enquanto ainda estava aqui no mundo, o Senhor orou para que pudéssemos ser um. Ele disse, "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17:11- 21). Ele estava pronto a morrer "para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos" (Jo 11:51- 2). O Senhor também disse que depois de morrer Ele procuraria reunir Suas ovelhas em "um rebanho" para que houvesse "um Pastor" – Ele próprio (Jo 10:15-16). Apesar do desejo do Senhor para que o Seu povo expressasse uma unidade coesa, visível e prática neste mundo, estamos todos divididos em diferentes seitas – cada uma com suas próprias crenças e práticas peculiares à sua própria seita. Como poderia algo assim ter a aprovação do Senhor?
Diante dos primeiros indícios de divisão na igreja primitiva, o apóstolo Paulo foi dirigido pelo Espírito a escrever "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões... cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido?" (1 Co 1:10-13; 12:25). Aqui, na linguagem mais clara possível, Paulo roga em nome de Deus a todos os crentes, pela glória do Nome do Senhor Jesus, que não tenham divisões! Todavia, quando olhamos ao redor no cristianismo professo de nossos dias, vemos que aquilo que as Escrituras denunciavam aconteceu à igreja! Quantos milhares de cristãos estão dizendo "Eu sou de Roma" (Católica Romana), "Eu sou de Lutero" (Luterana), "Eu sou de Wesley" (Metodista), "Eu sou de Menno Simons" (Menonitas) etc. Se outrora entristecia ao Espírito escutar cristãos dizendo "Eu sou de Paulo" e "Eu sou de Apolo" etc., será que agora agrada ao Espírito ouvi-los dizer "Eu sou de Lutero", "Eu sou de Wesley" etc.? Se naqueles dias do princípio da igreja isso foi denunciado como carnalidade, poderia a mesma coisa ser hoje chamada de espiritualidade? (1 Co 3:1-5). As muitas denominações colocaram de lado a ordem de Deus para a adoração e o ministério, e também para o governo da igreja, e estabeleceram uma ordem própria, completa, com todos os seus credos e regulamentos eclesiásticos. E, ao agir assim, criaram uma triste divisão na igreja.
O Senhor Jesus ensinou Seus discípulos a orar "seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mt 6:10). A pergunta que fazemos é: Haverá divisões sectárias no céu?
Todos os cristãos serão unânimes em concordar que as divisões desaparecerão quando estivermos lá. Todos no céu estarão reunidos em redor do Senhor Jesus Cristo em perfeita unidade, sem qualquer afiliação sectária. Então, como podem os cristãos desejar se reunir para adoração na terra em divisões sectárias, quando não existe tal coisa no céu?
O apóstolo Paulo disse que a primeira responsabilidade que temos como cristãos andando como é digno da vocação a que fomos chamados é de procurarmos "guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz". Ele segue explicando a razão, ao dizer que "há um só corpo" (Ef 4:1-4). Isto significa que, como cristãos, deveríamos buscar expressar na prática a verdade de que somos "um só corpo". Assim o mundo seria capaz de enxergar uma unidade visível na igreja, mas infelizmente tudo o que o mundo vê é o testemunho cristão partido em pedaços. Evidentemente não é possível que a igreja toda se congregue sob um mesmo teto em um único lugar, mas ainda assim ela deveria expressar uma unidade na forma como funciona, em suas relações práticas entre as várias assembleias espalhadas pela terra.
Costumamos ouvir cristãos se referirem às diferentes denominações como "o grupo deles" e "o nosso grupo", como se existissem muitos corpos! Eles falam de sua comunhão eclesiástica particular como um "corpo" em si mesmo, distinto de outros grupos eclesiásticos que também se enxergam como corpos independentes. Pelo que costumamos ver e ouvir entre os cristãos, a verdade do um só corpo foi perdida de vista. Uma ilustração usada por Charles Stanley (1821-1890) descreve bem a confusão existente no testemunho cristão. Suponha que sua Majestade, a Rainha da Inglaterra, enviasse um oficial a uma de suas colônias, e durante algum tempo o exército ali se colocasse totalmente sob o comando deste oficial.
Aquele exército seria adequadamente chamado de "Exército de Sua Majestade". Mas se aquele exército colocasse de lado o comandante que lhes fora designado, e elegesse outro segundo a sua própria escolha, ou se aquele exército se dividisse em porções separadas e cada divisão adotasse seu próprio comandante, mesmo que cada soldado continuasse sendo um soldado britânico, poderia tal exército dividido ser apropriadamente chamado de "Exército de Sua Majestade"? Depois de ter deixado de lado a autoridade do comandante designado por Sua Majestade, acaso não seria cada uma daquelas divisões um motim? Não seria uma deslealdade à Rainha juntar-se às fileiras de qualquer uma daquelas divisões amotinadas?
Oras, se aplicarmos o mesmo à igreja, poderemos facilmente enxergar que a mesma coisa aconteceu na formação das igrejas denominacionais e não denominacionais.
Durante um tempo, a igreja primitiva esteve sob a autoridade do Espírito Santo, que foi enviado do céu para governar a igreja, do mesmo modo como o exército britânico de nosso exemplo reconheceu, por algum tempo, a autoridade do oficial enviado por Sua Majestade. Quando a igreja afastou-se da Palavra de Deus isso deu origem às divisões, e então foram implementadas organizações humanas para manter essas divisões funcionando. Sem dúvida alguma essas iniciativas humanas foram introduzidas com a melhor das intenções, mas sem a autoridade dada pela Palavra de Deus. À medida que as seitas dentro da profissão cristã se multiplicaram, mais autoridades humanas (com seus credos e regulamentos) foram estabelecidas dentro das várias denominações visando sua administração. A coisa toda cresceu e hoje existe um vasto sistema com muitas comunhões separadas de cristãos, e muito pouco de sua autoridade está fundamentada na Palavra de Deus.
Acaso não era previsível que os incrédulos deste mundo viessem a olhar para a igreja e a balançar a cabeça em sinal de desaprovação? Se perguntarmos a eles por que não creem no evangelho, costumam usar como desculpa para rejeitarem a Cristo o estado dividido e confuso da cristandade, com as suas muitas vozes conflitantes. Que triste testemunho damos neste mundo. Não há dúvida de que devemos baixar a cabeça e confessar ao Senhor que pecamos, como fizeram Daniel, Esdras e Neemias, ao reconhecerem que também eram responsáveis pelo fracasso do testemunho de Israel (Dn 9:1-19; Ed 9:1-15; Ne 9:4-38).
Terminologia convencional versus terminologia bíblica Boa parte da confusão existente no testemunho cristão vem da terminologia que os teólogos criaram para simples verdades da Bíblia. F. B. Hole disse certa vez que a teologia moderna pegou muitos termos das Escrituras e os esvaziou de seu sentido bíblico, dando depois a esses termos significados inventados pelos homens para fundamentarem seus próprios sistemas teológicos. Quando comparamos essas ideias com a Palavra de Deus, vemos que elas estão distantes da verdade.
A Igreja
Um dos exemplos mais evidentes de como a terminologia convencional criou um novo sentido para um termo bíblico é "a igreja". A maioria dos cristãos usa este termo para se referir a um edifício, aonde os cristãos vão quando se congregam para adoração. Essas pessoas dizem "Vamos à igreja" ao se referirem à sua reunião nesse edifício. Todavia, a Bíblia nunca utiliza a palavra "igreja" desta maneira. A Bíblia fala da igreja [em Grego eclésia] como um grupo de pessoas redimidas que foram "chamadas para fora" de entre judeus e gentios, por meio de sua crença no evangelho. Essas pessoas compõem o corpo de Cristo e um dia irão reinar com Ele, como Sua noiva, sobre este mundo.
A Bíblia mostra claramente que a igreja não é um edifício material, pois ela diz que Cristo amou a igreja e Se entregou à morte por ela (Ef 5:25-26). Fica claro que isso não poderia ser dito de um mero edifício construído por mãos humanas. A Palavra de Deus também nos diz que a igreja costumava ser encontrada na casa de algumas pessoas (Rm 16:5; 1 Co 16:19; Cl 4:15; Fl 2). Ela diz que a igreja tinha ouvidos para receber instrução (At 11:22, 26); que tinha poder de discernimento para saber a vontade do Senhor (At 15:22); que podia orar (At 12:5), ser saudada (Rm 16:5), e ser perseguida (At 8:1; 1 Co 15:9). A partir dessas referências é óbvio que a igreja é um grupo de pessoas salvas pela graça de Deus, e não um mero edifício de pedras e madeira.
Uma irmã das Antilhas, que havia aprendido algo sobre a verdade da igreja, foi questionada pelo "Ministro" de uma denominação local da razão de ela não "ir mais à igreja". Sua resposta foi: "A única igreja que encontro na Bíblia é aquela que se lançou ao pescoço de Paulo e o beijou", referindo-se a Atos 20:37. Então, apontando para o edifício no final da rua, continuou: "Se aquela coisa ali se lançar ao meu pescoço, ela vai me matar!".
Os cristãos também usam erroneamente este termo para descrever uma seita na igreja. Eles falam de alguém ser membro de uma igreja, quando o que querem dizer é ser membro de uma seita denominacional (ou não denominacional) na igreja. A verdade é que as Escrituras não falam de sermos membros de qualquer outra coisa que não seja o corpo de Cristo. Todo crente no Senhor Jesus Cristo é um membro desse corpo (1 Co 12:12, 27).
Também ouvimos cristãos falando de pessoas "se afiliarem à igreja", quando estão se referindo na realidade a pessoas que se unem a uma seita na igreja. A. H. Rule disse certa vez: "A igreja não é uma associação à qual os homens podem voluntariamente se ligar, ou dela se desligarem conforme a sua vontade, como acontece no caso das seitas".
A Bíblia não ensina que devemos "nos fazer membros" de uma igreja. Só existe uma igreja na Bíblia: a ela o Senhor (e não nós) acrescenta pessoas quando elas creem nEle para salvação (At 2:47; 5:14; 11:24; 1 Co 6:17). Uma vez perguntaram a um irmão, que entendia esta verdade, a que igreja ele pertencia. Ele respondeu: "Pertenço à igreja da qual ninguém é capaz de se fazer membro!" Evidentemente a pessoa que fez a pergunta ficou bastante surpresa, e indagou: "Então como vocês conseguem os novos membros?"
Ele respondeu: "Ah, é o Senhor quem os acrescenta pelo Espírito quando são salvos, mas as pessoas não podem acrescentar-se a si mesmas por sua própria vontade" (1 Co 12:13). A única coisa à qual nos poderíamos "juntar", e deveríamos buscar fazê-lo, é à comunhão dos santos (At 9:26), mas não podemos fazer a nós mesmos membros da igreja.
Há quem às vezes pergunte: "Quem é que dirige a sua igreja?". As pessoas pensam que vamos falar o nome de algum "Ministro". Todavia, a Cabeça da igreja mencionada na Bíblia está no céu – é o próprio Cristo! (Cl 1:18)
Também costumamos ouvir pessoas dizendo: "Nossa igreja ensina tal e tal coisa..."
Todavia, não existe qualquer pensamento na Palavra de Deus de que a igreja ensine alguma coisa. Tal ideia é totalmente humana. Se os homens criassem uma organização com certas doutrinas e credos formulados segundo o padrão de sua seita, as pessoas até que não estariam erradas se dissessem que aquela organização ensina. Mas uma organização de homens não é a igreja! A verdade é que a igreja não é um corpo legislativo que estabelece regras, leis e doutrinas. Ela não ensina, mas é ensinada! E isso é feito por indivíduos com dons que são levantados pelo próprio Cristo, a Cabeça da igreja, que está hoje ressuscitado no céu (At 11:26).
Santo
Outro exemplo da confusa terminologia existente na cristandade é encontrado no significado da palavra "santo". Muitos cristãos pensam em um santo como alguém que vive ou viveu uma vida exemplar. Porém a Bíblia usa o termo para descrever todos os crentes – até mesmo aqueles em Corinto, que eram notórios por suas divisões e carnalidade (1 Co 3:1-4). Eles estavam associados ao mal moral (1 Co 5) e alguns professavam uma má doutrina que atacava os próprios fundamentos do cristianismo (1 Co 15). Não existe um grupo de cristãos na Bíblia que esteja numa situação mais precária, exceto talvez pelos gálatas. Mesmo assim, apesar de todo o fracasso deles, a Palavra de Deus chama os coríntios de "santos"! (1 Co 1:2) Com base nisso fica claro que a Bíblia define "santo" de um modo diferente daquele normalmente usado pelas pessoas nos dias de hoje.
William Kelly disse que na mente da maioria das pessoas ser santo é ser algo mais do que um mero cristão. Mas, na realidade, o que acontece é que um cristão é algo mais do que um santo! Ele disse: "Muitos diriam que minha doutrina é estranha, por todos nesta região serem considerados cristãos, porém pouquíssimos em todo o mundo serem considerados santos – e talvez nenhum deles seja visto assim até chegar ao céu. Mas está muito claro – não há nada mais evidente – que um cristão é um santo, e muito mais que isso!".
Santo é alguém "santificado". Ser santificado, posicionalmente falando, é ter sido "colocado à parte" ou "separado" por Deus para bênção. Isso acontece quando nascemos de novo. Aqueles que são nascidos de Deus foram colocados à parte ou separados da massa da humanidade que caminha rumo à destruição. Todos os crentes desde o início dos tempos são santos. Por isso podemos chamar de "santos" aqueles que viveram nos tempos do Antigo Testamento (Dt 33:3; 1 Sm 2:9; 2 Cr 6:41 etc.). Todavia eles não eram cristãos. Apenas os crentes a partir de Pentecostes e até o Arrebatamento estão nessa posição diante de Deus. Um "cristão" é alguém que creu "no evangelho da vossa salvação" e, por conseguinte, foi selado com o Espírito, tendo assim sido feito parte da igreja (Ef 1:13). Ele foi deste modo colocado em uma posição muito mais abençoada (estando ligado a Cristo, a Cabeça da igreja) do que um santo do Antigo Testamento. O cristão é um santo, mas é muito mais que isso – ele é membro do corpo de Cristo (1 Co 12:12-13) e filho de Deus (Rm 8:14-15; Gl 4:5-7; Ef 1:5). Estas são coisas que os santos do Antigo Testamento não eram. (Existe também a santificação prática, que tem a ver com o aperfeiçoamento da santidade na vida do crente – que significa tornar nossa vida praticamente consistente com nossa posição – Jo 17:17; 1 Ts 4:3-4; 5:23; Hb12:14; 2 Co 7:1).
O espaço não permite que continuemos discorrendo e enumerando todos os diversos termos que são erroneamente usados por cristãos atualmente. Examinaremos alguns deles à medida que avançarmos com nosso tema.
Estado de espírito - O pré-requisito necessário para se aprender a verdade Ocorre-nos a pergunta: "Por que tantos cristãos aceitam essa ordem de coisas que foi criada pela inventividade humana na cristandade, sem sequer questionarem sua veracidade?" Podemos também perguntar: "Por que a ordem de Deus na Bíblia para a adoração e o ministério passou despercebida a tantos cristãos?" A resposta está no fato de que existe uma exigência moral necessária para se compreender a verdade. Esse importante pré-requisito é encontrado em um estado de espírito. Os pontos a seguir são absolutamente necessários para quem deseja ter um estado de espírito adequado à compreensão da verdade das Escrituras:
1) Passar um tempo na presença do Senhor em comunhão com Ele
A Palavra de Deus diz: "O teu caminho, ó Deus, está no santuário" (Sl 77:13).
Considerando que é ali que está o caminho dEle, precisamos estar ali com Ele, se quisermos discernir qual é a Sua vontade. Para o cristão, estar em Seu santuário significa viver na Sua presença, na companhia dEle e em comunhão com Ele. A vontade do Senhor a respeito destas coisas nos será revelada quando estivermos no secreto lugar da Sua presença. "Na tua luz, veremos a luz" (Sl 36:9). Não existe um substituto para a comunhão com o Senhor. Este tremendo privilégio de comunhão com Ele está à nossa disposição para dele desfrutarmos a qualquer momento, pois temos livre acesso à Sua presença através da oração. "Bem-aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da minha entrada" (Pv 8:34).
2) Ter o desejo de fazer (praticar) a vontade de Deus
A Bíblia diz que "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo" (Jo 7:17). A maioria dos cristãos – se não a totalidade deles – deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida. Mas isso não é o que este versículo diz. Ele fala do desejo de "fazer" a vontade de Deus, não apenas do mero conhecimento dela. Muitos cristãos passaram a vida inteira sem saber qual era a vontade de Deus para eles. Isso pode acontecer em muitas áreas, inclusive onde e como Deus gostaria que eles se reunissem com outros cristãos para a adoração e o ministério.
A razão disso é que não basta ter o desejo de conhecer a vontade de Deus. "A alma do preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança" (Pv 13:4). O conhecimento da vontade de Deus é revelado àqueles que estão desejosos de fazer essa mesma vontade, custe o que custar. Quando estivermos comprometidos em fazer a vontade de Deus, Ele a tornará conhecida para nós.
3) Ter o exercício espiritual de aplicá-la a si mesmo a fim de aprender a Verdade
A Bíblia diz que "Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do SENHOR e para cumpri-la... Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para lhe pedirmos caminho seguro para nós, para nossos filhos e para todos os nossos bens" (Ed 7:10; 8:21).
Precisamos fazer o mesmo, e sermos diligentes em buscar a verdade examinando a Palavra de Deus (At 17:11).
No livro de Apocalipse, o apóstolo João deveria "tomar" o "livrinho" que continha a verdade dos conselhos de Deus concernentes a Cristo e Sua herança na terra, caso o desejasse. Ele pediu o livrinho, mas pedir apenas não bastava – o anjo lhe respondeu: "Toma-o, e come-o" (Ap 10:9). Isso nos mostra que a verdade não é automaticamente dada àqueles que simplesmente pedem por ela, mas sim àqueles que possuem energia espiritual para tomá-la. Isto requer diligência. "A alma dos diligentes se farta" (Pv 13:4).
Paulo disse a Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm 2:15).
Ele também falou das "palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido" nos estudos diligentemente feitos por Timóteo (1 Tm 4:6). De um modo geral, existe entre os cristãos de hoje uma triste falta de estudo pessoal das Escrituras.
Alguns cristãos se apoiam tão somente naquilo que recebem como alimento espiritual do assim chamado pastor de sua igreja, ou do que escutam no rádio. Através desses meios é muito improvável que os ouvintes recebam a verdade sobre o assunto que estamos tratando. Consequentemente, não é de surpreender que muitos cristãos não conheçam a ordem de Deus para os cristãos se congregarem para a adoração e o ministério.
4) Ter inteireza de coração para reconhecer a Verdade quando esta é apresentada
A Palavra de Deus diz: "Aos retos nasce luz nas trevas" (Sl 112:4). Podemos não gostar da verdade quando ela é apresentada, mas se tivermos um coração reto e honesto, reconheceremos que se trata da verdade. Alguém disse que quando a verdade nos incomoda isso pode ser um sinal de que não estamos olhando na direção correta, pois a verdade não machuca, a menos que seja preciso. Nossa única conclusão quanto à razão de muitos cristãos simplesmente aceitarem toda essa ordem de coisas da profissão cristã sem questionar, é que está faltando um ou todos esses pontos. Paul Wilson costumava dizer que se existir algum impedimento à nossa compreensão de uma passagem das Escrituras, isso ocorrerá por uma das três razões a seguir, ou por todas elas:
1) Não lemos a passagem atentamente.
2) Adotamos uma ideia ou ensino pré-concebido do assunto, e isso está nos impedindo de enxergar seu verdadeiro significado.
3) Nossa própria vontade está no comando, portanto não queremos a verdade.
Não somos chamados a consertar a ruína do testemunho cristão
Muitos crentes sinceros e preocupados perguntam: "O que eu posso fazer para ajudar a restaurar as coisas no testemunho cristão? Talvez fosse bom apresentar isso ao meu 'Pastor' para termos uma igreja mais bíblica".
Se buscarmos outra vez a Palavra de Deus veremos que a condição de ruína do testemunho cristão não será restaurada, mas sim julgada por Deus e removida da terra.
Em Romanos 11 o apóstolo Paulo fala da "oliveira", cujos ramos foram "quebrados", ilustrando de forma figurada como a nação de Israel seria colocada de lado quanto ao lugar de privilégio que ocupava com Deus. Isso foi feito porque eles rejeitaram todo o testemunho de Deus em Cristo (conforme é registrado nos evangelhos) e o Espírito Santo (conforme vemos no livro de Atos). Então ele fala dos ramos de uma "oliveira brava" sendo enxertados no tronco da oliveira. Ele usou isso para ilustrar como Deus iria introduzir os gentios em um lugar de privilégio por meio do evangelho. Aqueles que professam conhecer o Senhor estão agora neste lugar de privilégio e associação com Ele.
É este o lugar que a cristandade ocupa pela graça de Deus.
Mas o apóstolo segue dizendo que se os ramos da oliveira brava (cristandade) não permanecessem na bondade de Deus, eles seriam cortados do lugar de privilégio, e os ramos que foram antes cortados (Israel) seriam colocados de volta naquele lugar de favor.
Como temos demonstrado, a cristandade fracassou em todos os aspectos de sua responsabilidade e aguarda esse julgamento, o qual ocorrerá depois que o Senhor chamar os verdadeiros crentes para fora dela em Sua vinda (no arrebatamento). Assim vemos que a cristandade termina em juízo, não em restauração. Uma figura disso nas Escrituras é Vasti (a rainha gentia, uma figura da cristandade) sendo colocada de lado, enquanto Ester (a judia, uma figura de Israel) é trazida para ocupar o lugar de sua antecessora (Ester 1 a 2).
Além disso, nas palavras que o Senhor dirige às sete igrejas na Ásia, que apresentam profeticamente os sucessivos estágios de declínio pelos quais a igreja professa passaria, Ele não mostra qualquer indício de que o testemunho cristão seria restaurado, pelo contrário, mostra que seria cuspido de Sua boca no final (Ap 3:16). Ao invés de uma promessa de restauração, o Senhor diz: "Outra carga vos não porei; mas o que tendes, retende-o até que eu venha" (Ap 2:24- 25). Tampouco há qualquer menção nas epístolas de que haveria uma restauração do testemunho cristão.
Indo além, em Mateus 13:28-30 encontramos a própria palavra do Senhor de que deveríamos desistir de tentar consertar a condição arruinada do testemunho cristão.
Quando o inimigo semeou o joio em meio ao trigo, os servos do proprietário perguntaram: "Queres, pois, que vamos arrancá-lo?" Eles perguntaram se deviam tentar remediar a situação. O proprietário respondeu: "Não, para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa". A "ceifa" é o fim do mundo (Mt 13:39). Portanto está claro que não somos chamados a consertar a confusão existente na cristandade, mas a deixar isso tudo para o Senhor cuidar no fim do mundo. Oras, se Deus diz que o testemunho cristão não será restaurado, então certamente será fútil qualquer esforço de nossa parte de tentar remediar sua presente condição. Acaso Ele iria nos pedir para fazer algo que a Sua Palavra nos diz ser impossível? Iria Ele querer que fizéssemos algo que Ele próprio disse em Sua Palavra para não fazermos?
APRESENTAÇÃO
Há alguns anos li o livro "God's Order", escrito por Bruce Anstey, um irmão canadense com o qual tenho comunhão por estarmos congregados somente ao nome do Senhor Jesus, ele no Canadá e eu no Brasil. O que chamou minha atenção foi que o autor
conseguia colocar em ordem os principais tópicos que todo cristão sincero deveria buscar nas Escrituras para saber se está congregado segundo a ordem estabelecida por Deus, ou se apenas segue tradições criadas por homens.
O livro em inglês está agora na quarta edição, e recebi do autor autorização para traduzilo para o português. A fim de assumir um compromisso comigo mesmo de dedicar algum tempo à tradução, decidi criar este blog. Um blog público é uma excelente forma de eu me lembrar de que há pessoas esperando por novos trechos do livro, e isso me motiva a continuar traduzindo.
Espero que o livro "A Ordem de Deus" seja de auxílio para muitos irmãos e irmãs emCristo, e também se transforme em um instrumento a mais para glorificar a Deus, que não apenas "quer que todos os homens se salvem", mas também que "venham ao
conhecimento da verdade" 1 Tm 2:4.
Mario Persona
EXTRAÍDO DO LIVRO: A ORDEM DE DEUS - PARA OS CRISTÃOS CONGREGAREM PARA ADORAÇÃO E MINISTÉRIO
Autor: BRUCE ANSTEY
Tradução: MARIO PERSONA – 2011
Revisão: MARIA CRISTINA MARUCCI
A Resposta Bíblica à Ordem Eclesiástica Tradicional
Traduzido do original inglês: GOD’S ORDER FOR CHRISTIANS MEETING TOGETHER
FOR WORSHIP AND MINSTRY
Edição em inglês publicada por: CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING 12048 – 59th Ave.
Surrey, BC V3X 3L3 CANADA
Primeira Edição (Inglês) - Junho 1993
Segunda Edição (Inglês) - Abril 1998
Terceira Edição (Inglês) - Março 1999
Quarta Edição (Inglês) - Julho 2010
Os versículos citados são da Bíblia Versão Almeida Corrigida Fiel ou Almeida Revista e
Atualizada.
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