A diferença entre dom e ofício
Existe uma diferença entre dom e ofício, porém os cristãos quase sempre confundem "dom" com "ofício". Tentar colocar um dom (como é o pastor) para funcionar como um ofício em uma igreja local é uma prova clara desse equívoco. Dom e ofício são duas
coisas distintas nas Escrituras. O dom é exercitado em relação ao corpo de Cristo; o ofício é uma responsabilidade em conexão com a casa de Deus. O dom é para a edificação, enquanto o ofício tem a ver com governo ou administração. Se por um lado o dom é universal (para todo o corpo), por outro, o ofício é uma responsabilidade local (isto é, para uma assembleia local). Existe uma exceção no caso do apostolado. O apostolado é tanto um ofício quanto um dom. É o único caso nas Escrituras em que um ofício é algo universal (At 1:20; 1 Pd 5:1). Doze dos discípulos do Senhor foram designados para o ofício do apostolado (Mc 3:14; Lc 6:13; At 1:20). O Senhor fez isso quando ainda estava no mundo. Judas caiu em transgressão e seu "ofício" ("bispado", "cargo" ou "ministério", dependendo da tradução) foi dado a outro homem – Matias (Sl 109:8; At 1:16-26).
Todavia, eles receberam o "dom" do apostolado do Espírito depois que o Senhor ascendeu à Sua posição celestial à destra de Deus (1 Co 12:28). Os dons, conforme mencionamos, fluem de Cristo no céu. Aqueles homens foram então dados à igreja para ajudá-la a se estabelecer na verdade. "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens... E ele mesmo deu uns para apóstolos" (Ef 4:8-11).
Uma pessoa que tenha uma responsabilidade local (ofício) em uma assembleia pode também ter um dom para ensinar ou pregar publicamente (1 Tm 5:17), mas quando as Escrituras tratam de dons e ofícios, uma coisa não é confundida com a outra. 
Quando entendemos a diferença entre essas duas coisas, e como as Escrituras as tratam de forma distinta, percebemos o quão longe da verdade estão afirmações do tipo "Ele é o Pastor de uma igreja". Em circunstâncias normais, um servo do Senhor nunca é "o" único dom em uma igreja local. Tampouco ele deve ficar restrito a exercitar seu dom em "uma" igreja local, ou até mesmo em uma seita dentro da igreja. O seu dom lhe foi dado para ser usado para o proveito de todo o corpo de Cristo. O modo biblicamente correto de dizer seria "Ele é um pastor na igreja".
 
Anciãos, presbíteros [bispos] e guias
Com exceção do apostolado, que é um caso à parte, existem apenas dois ofícios na igreja. Um é o de presbítero (no sentido de supervisor, às vezes traduzido como bispo, ancião ou guia), e outro é o de diácono.
O ofício de presbítero (bispo, ancião ou guia) é o meio normalmente usado pelo Senhor para dirigir uma assembleia local em suas responsabilidades administrativas. O foco do seu trabalho está particularmente no bem-estar espiritual de uma assembleia local. As palavras usadas nas epístolas para os que atuam neste ofício são "presbíteros", "anciãos" e "guias" (ou "líderes", "pastores", "dirigentes" ou "condutores", dependendo da tradução). Todas estas palavras podem ser usadas de forma intercambiável para designar o mesmo ofício. Compare Atos 20:17 com 20:28, Tito 1:5 com 1:7 e 1 Pd 5:1-2 com 5:5. O termo "anciãos" (do grego "Presbuteroi") descreve a maturidade e experiência, qualidades que deveriam ser a marca daqueles que ocupam tal ofício. A palavra se refere àqueles de mais idade, todavia nem todos os homens mais velhos na assembleia necessariamente atuam nessa posição de liderança responsável (1 Tm 5:1; Tt 2:2). A razão é que nem todos podem ter a experiência, o exercício, ou ainda as qualificações morais necessárias (1 Tm 3:1-7; Tt 1:6-9).
O termo "bispos" (gr. Episkopoi) descreve o trabalho de supervisão que eles executam, ou seja, sua função é pastorear o rebanho (1 Pd 5:2; At 20:28), zelando por suas almas (Hb 13:17), admoestando (1 Ts 5:13) etc.
O termo "guias" ou "líderes" (gr. Hegoumenos) descreve o trabalho de liderança que eles devem efetuar na assembleia local. Ao se referir às pessoas que ocupam essa posição, as Escrituras usam expressões como "os que trabalham entre vós e que presidem
sobre vós no Senhor, e vos admoestam" (Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17). Repare que são "os que trabalham... que presidem", e não "o que trabalha... que preside". Sempre que eles são citados na função em que atuam, é usada a forma plural. Às vezes eles podem ser citados no singular, quando o assunto for o caráter pessoal de cada um (1 Tm 3:1-7), mas quando se trata do trabalho que efetuam, a forma é sempre plural. Isto demonstra que, em condições normais, este trabalho não é para ser efetuado por um só homem. Deus tem o cuidado de prover para que exista mais de um ancião atuando numa assembleia local, para que nenhum indivíduo tente se levantar e presidir sobre a assembleia. É triste admitir, mas este cuidado nem sempre é respeitado e às vezes indivíduos acabam se levantando e contaminando suas assembleias locais (At 20:30).
Algumas traduções, como a citada acima, trazem "presidem sobre vós no Senhor" (1 Ts 5:12), o que pode dar a ideia de que esses homens estariam acima do rebanho de Deus. Todavia, isto não é correto. Uma melhor tradução para estes versículos seria "que presidem entre vós", como ocorre no início da passagem, "os que trabalham entre vós ". O sentido é que eles, assim como todos os outros membros do corpo de Cristo, têm um lugar "entre" os que fazem parte do rebanho. O único lugar nas Escrituras onde encontramos alguém presidindo sobre uma assembleia local é o caso de Diótrefes, um homem mau (3 Jo 9-10). Quão diferente é isso quando comparado à ordem adotada nas denominações inventadas pelo homem. O modo como Deus determinou é que existissem alguns bispos em uma igreja ou assembleia local (Fp 1:1; At 20:28; Tt 1:5), mas a maneira do homem é ter um bispo sobre muitas igrejas ou assembleias! 
Estar entre os "que presidem entre vós" não implica necessariamente ensinar ou pregar em público, mas sim cuidar das questões administrativas da assembleia. Repito: confundir estas duas coisas é não entender a diferença entre um dom e um ofício. Todavia estes homens devem ser "aptos para ensinar" (1 Tm 3:2). Isto significa que eles devem ser capazes de expor a Palavra da maneira como foram ensinados, mesmo que não sejam necessariamente dotados para serem mestres ou doutores (Tt 1:9). Alguns dos "que presidem" talvez nunca ensinem em público, mas é muito bom e proveitoso quando podem fazê-lo. Esses também devem ser "dignos de duplicada honra" quando governam bem (1 Tm 5:17).
Aqueles que ocupam esta posição de liderança responsável são vistos, simbolicamente falando, como "estrelas" e como o "anjo da igreja" no livro de Apocalipse (Ap 1:20; 2:1, 8, 12; 3:1, 7, 14). Em seu papel de "estrelas", eles devem dar testemunho da verdade de Deus (os princípios da Palavra), sendo portadores da luz na assembleia local. Isto mostra que devem ser instruídos na Palavra (Tt 1:9). Quando a assembleia for confrontada com um problema ou dificuldade, eles devem ser capazes de derramar a luz da Palavra de Deus para determinarem como a assembleia deve agir. Em Atos 15 temos um exemplo do seu trabalho. Depois de ouvirem falar de um problema que estava atribulando a assembleia, Pedro e Tiago, fazendo seu papel de "estrelas", derramaram luz sobre o assunto. Tiago aplicou um princípio tirado da Palavra de Deus, e então deu o seu parecer quanto ao que ele acreditava que o Senhor gostaria que eles fizessem (At 15:15-21).
Em seu papel de "anjo da igreja", os mesmos que ocupam esse lugar de responsabilidade agem como mensageiros, a fim de apresentarem a vontade de Deus na assembleia no desempenho das decisões que são tomadas. Isto também é ilustrado em Atos 15. Depois de determinarem o que acreditavam ser a vontade do Senhor em relação ao problema, eles presidiram na assembleia local, no sentido de colocar em prática a vontade de Deus. Eles apresentaram suas conclusões diante da assembleia, evitando assim agirem independentes dos demais irmãos, que também acreditavam ser aquela a vontade do Senhor. Em seguida foi enviada uma carta aos irmãos de Antioquia a fim de notificar os irmãos ali acerca de como o problema tinha sido resolvido (At 15:22-33).
Em certo sentido o trabalho dos pastores (dons) e dos anciãos (ofícios) é semelhante. 
Ambos têm a responsabilidade de cuidar do rebanho e alimentá-lo. Mas os dois nunca são tratados como iguais. O pastor não limita sua atuação à assembleia local, ao contrário do que faz o ancião, presbítero ou guia.
 
Diáconos
Enquanto aqueles que desempenham o ofício de ancião (presbítero ou guia) estão ocupados com o bem estar da assembleia local, os que têm o ofício de diácono devem se ocupar com os cuidados temporais da assembleia local (At 6:1-6; 1 Tm 3:8-13).
A palavra "diácono" poderia ser traduzida como "ministro", pois na Bíblia o ministério não está restrito apenas às coisas espirituais (Lc 8:3; At 6:1 – "ministério cotidiano", 12:25; 13:5; Rm 16:1). Os diáconos ministram as coisas temporais, mas seu serviço para o Senhor não precisa estar confinado exclusivamente a isso. Se eles tiverem um dom para ministrar a Palavra, poderão exercitar esse dom conforme a direção que receberem do Senhor (1 Tm 3:13). Tanto Estêvão como Filipe, que eram diáconos, também tinham dons para o ministério da Palavra. Estêvão tinha o dom de mestre ou doutor (At 7); e Filipe era bem dotado como evangelista (At 8:5-40; 21:8). As irmãs também podem atuar como diaconisas. Romanos 16:1 diz: "Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia". Todavia, elas não poderiam ocupar oficialmente tal posição, pois Paulo disse a Timóteo que os diáconos deveriam ser "maridos de uma só mulher", o que demonstra que eles eram homens (1 Tm 3:12). Aqueles que têm esse ofício também precisam ter uma qualificação moral semelhante à dos anciãos (presbíteros ou guias).
 
A escolha dos anciãos
A pergunta que surge é: "Como as pessoas chegavam a ocupar esses ofícios?". Em cada caso encontrado nas Escrituras elas eram escolhidas. Porém, em nenhum lugar das Escrituras lemos que os anciãos eram escolhidos pela igreja ou assembleia local. Assim como já demonstramos que não existe sequer uma assembleia local na Bíblia que tenha escolhido um pastor para si, também não há uma assembleia que escolha seus anciãos!
Apesar disso, quase todos os grupos eclesiásticos hoje na cristandade escolhem seus anciãos. Mas onde encontramos a autoridade necessária para agir assim? Independente da piedade e inteligência daqueles que na cristandade se envolvem nessa tarefa, em lugar nenhum na Bíblia vemos uma assembleia receber o encargo de uma escolha tão difícil quanto a de escolher seus anciãos. A Palavra de Deus diz que os anciãos eram escolhidos pelos apóstolos. A Bíblia diz: "E, havendo lhes [Barnabé e Paulo], por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido" (At 14:23).
Em algumas ocasiões encontramos os apóstolos delegando essa tarefa a determinados irmãos. Tito é um exemplo disso. Paulo o enviou à ilha de Creta com o propósito de ordenar anciãos ali. Mesmo neste caso, a comissão que Tito recebeu foi exclusivamente para aquela localidade. Ele não tinha autoridade para ordenar anciãos em nenhum outro lugar, a menos que fosse comissionado pelo apóstolo (Tt 1:5). Vemos aqui a sabedoria de Deus cuidando para que os anciãos fossem especificamente escolhidos para uma assembleia, e não por uma assembleia. Se uma igreja local escolhesse seus anciãos, ela poderia estar inclinada a selecionar os líderes que viessem a satisfazer seus desejos. 
Mas por essa escolha ser uma função apostólica, a assembleia ficaria assim livre de correr esse risco.
Porém, no caso dos diáconos, as igrejas locais realmente os escolhiam. Um exemplo disso está em Atos 6:1-6. Sete homens foram escolhidos pela igreja em Jerusalém para ocupar o lugar de diáconos (embora neste capítulo eles não tivessem sido diretamente chamados de diáconos), mas foram oficialmente designados pelos apóstolos para ocupar aquela posição.
Hoje uma igreja local poderia escolher pessoas para cuidarem das necessidades temporais da assembleia, porém elas não poderiam ser oficialmente designadas para o ofício de diáconos, pois hoje já não existem apóstolos, ou alguém que tenha recebido de um apóstolo a incumbência de fazê-lo.
 
Hoje não existem apóstolos para ordenar anciãos e diáconos
Todo o valor da escolha de uma pessoa para ocupar um deter minado ofício depende da legitimidade do poder que está por trás dessa escolha. As Escrituras deixam claro que ninguém, além dos apóstolos ou de alguém enviado por eles, teria o poder de comissionar uma pessoa para uma dessas funções. Mas onde será que encontramos hoje alguém capaz de mostrar evidências de ter sido comissionado por um apóstolo para desempenhar tal tarefa? Na Palavra de Deus não há um indício sequer de que o poder de ordenar alguém tenha tido continuidade. Portanto, a igreja hoje não tem o poder de ordenar anciãos (presbíteros ou guias) para tal ofício, ou um diácono para desempenhar seu papel, simplesmente por não termos um apóstolo ou alguém autorizado por um apóstolo para fazer isso.
Todavia, percebemos que esta não é a crença e prática de alguns cristãos, que acham que ainda existem apóstolos no mundo hoje. A Bíblia, porém, mostra o contrário. Ela diz que a igreja está edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito" (Ef 2:20-22). Nesta passagem das Escrituras a formação da igreja é comparada à construção de uma casa. Ela começa com o assentamento da Pedra principal (Cristo), depois é assentado o alicerce ou fundamento (os apóstolos e profetas), para finalmente subirem as paredes do edifício, nas quais cada verdadeiro crente é acrescentado até que o edifício todo esteja completo na vinda do Senhor. Isto demonstra que o lugar que os apóstolos e profetas ocupam na igreja é em seu fundamento ou alicerce. Eles foram diretamente usados pelo Senhor para estabelecerem a igreja em seu início. As epístolas que escreveram determinam a ordem e função da igreja; é nelas que foram assentados os fundamentos do cristianismo. O Senhor já não dá apóstolos à igreja, pois Ele já não está mais construindo o fundamento ou alicerce. Isto já foi feito. Na verdade, falta pouco para o edifício ficar pronto. Estamos esperando apenas que as últimas pessoas sejam salvas, para que as poucas pedras (vivas) que faltam possam ser assentadas na construção. O ministério dos apóstolos e profetas continua com a igreja por meio de seus escritos inspirados, mas já não temos a presença pessoal deles no mundo (Ef 4:11-13).
 
Três qualificações para o apostolado
Relacionamos a seguir três coisas que qualificam uma pessoa para o apostolado, as quais demonstram que hoje já não seria possível existir apóstolos no mundo.
• Eles deveriam ter visto o Senhor pessoalmente (1 Co 9:1; 2 Co 12:2).
• Eles deveriam ter sido escolhidos e enviados diretamente pelo Senhor (Lc 6:13; Jo 6:70; At 9:15; 22:21).
• Eles deveriam ter sido testemunhas de Sua ressurreição (At 1:22; 1 Co 15:8, 15).
O que a Bíblia diz é que surgiriam impostores se apresentando como apóstolos. Portanto, qualquer pessoa que hoje reivindique para si o apostolado está se colocando nesta categoria de impostor (Ap 2:2 – "os que dizem ser apóstolos"; 2 Co 11:13-15 – "falsos apóstolos"; 2 Tm 3:13).
William Kelly escreveu: "Está claro que não temos, hoje no mundo, apóstolos ou seus representantes designados por um apóstolo para executarem um trabalho de responsabilidade dos apóstolos, como foi o caso de Tito. Como consequência, se você se submeter ao ensino da Palavra de Deus, já não irá encontrar anciãos e nem desejará procurá-los, ao menos em sua forma oficial. Se alguém alegar que isso ainda seria possível, peça que tal pessoa apresente as bases bíblicas para isso. Na minha opinião as evidências que temos são mais que suficientes para refutar isso. Você não pode ordenar pessoas formal e precisamente para esse ofício, a menos que tenha poder e autorização do próprio Senhor para fazê-lo. O problema é que você não tem esse poder, o qual é indispensável para autenticar anciãos, e este é definitivamente o ponto fraco da questão.
Você não tem nem apóstolos, nem pessoas comissionadas pelos apóstolos, para agir neste sentido, portanto todo o sistema atual de ordenação desmorona por faltar a ele uma autoridade competente".
 
Existem anciãos hoje?
Alguns poderiam perguntar: "Acaso isto significa que você não acredita na existência de anciãos?" Embora não tenhamos hoje alguém autorizado a ordenar anciãos, não devemos pensar que o trabalho deles não continue. Se assim fosse, ao levar os apóstolos para o céu Deus teria deixado as assembleias locais sem uma direção. O Espírito Santo continua levantando homens para efetuarem este trabalho (At 20:28). Geralmente em uma reunião de cristãos congregados de acordo com as Escrituras há homens que se incumbem dessa obra. Eles serão identificados pelo trabalho que executam e devem ser reconhecidos por isso, ainda que não tenham sido oficialmente ordenados para tal ofício. 
Nossa obrigação é:
  • • Reconhecê-los (1 Ts 5:12; 1 Co 16:15).
  • • Estimá-los (1 Ts 5:13).
  • • Honrá-los (1 Tm 5:17).
  • • Lembrarmo-nos deles (Hb 13:7).
  • • Imitarmos sua fé (Hb 13:7).
  • • Obedecê-los (Hb 13:17).
  • • Sujeitarmo-nos a eles (Hb 13:17).
  • • Saudarmos a eles (Hb 13:24).
Todavia, em nenhum lugar nas Escrituras é dito que a igreja deve ordená-los, simplesmente porque a igreja não tem poder para fazê-lo. O Espírito de Deus deixou claro que previa uma época quando os apóstolos não estariam no mundo para ordenar ancião, por isso nos deixou princípios na Palavra que nos ajudassem a reconhecer aqueles que o próprio Espírito levantou para levar adiante esse trabalho na assembleia local. Paulo escreveu a no mínimo duas assembleias nas quais não havia anciãos ordenados. Mesmo assim, ao dirigir-se a elas, ele apontou um princípio de que deveriam existir alguns irmãos nessas assembleias que efetuariam este trabalho. Isto nos serve como um excelente guia para os dias de hoje, quando já não dispomos de uma ordenação oficial de anciãos. 
Ao escrever aos coríntios, Paulo disse a eles que reconhecessem os da casa de Estéfanas e outros semelhantes a eles, "que se tem dedicado ao ministério dos santos". Paulo disse-lhes que os reconhecessem como líderes e se sujeitassem a eles (Co 16:15-18).
Ao escrever aos tessalonicenses, Paulo lhes disse que reconhecessem aqueles que trabalhavam entre eles para o bem da assembleia. Eles seriam identificados por seu trabalho em meio ao rebanho. Consequentemente, a assembleia devia tê-los "em grande estima e amor, por causa da sua obra" (1 Ts 5:12-13).
William Kelly escreveu: "O que fazer então? Será que não existem pessoas preparadas para serem bispos ou anciãos, só por não existirem apóstolos para designá-los? Graças a Deus, existem e não são poucos! Dificilmente você encontrará uma assembleia dos filhos de Deus onde não existam alguns homens mais velhos e responsáveis, que saem atrás dos que se desviam, que advertem os indisciplinados, que confortam aqueles que estão abatidos, que aconselham, admoestam e apascentam as almas.
Acaso não seriam eles os anciãos, se ainda existisse poder e autoridade para ordená-los?
Portanto, qual é o dever de um cristão, dentro da atual realidade e daquilo que ainda nos cabe?
Não digo que deva chamá-los de anciãos, mas certamente deverá estimá-los com alta estima por causa de seu trabalho, e amá-los e reconhecê-los como aqueles que cuidam de seus irmãos no Senhor". 
 
Hoje não há mais ordenação
As assim chamadas "igrejas" das quais temos falado, usam a prática da ordenação para aprovar oficialmente uma pessoa para ministrar entre eles. Porém isso não é encontrado nas Escrituras. Se alguns cristãos criam uma organização à qual dão o nome de "igreja", com seus próprios credos e regras administrativas, obviamente ninguém ali estará livre para ministrar, a menos que seja oficialmente aprovado.
Geralmente é assim que funciona, pois isso faz parte do sistema que eles organizaram.
Se alguém quiser ser um ministro nessa seita, terá de se sujeitar às suas leis e regras.
Mas tudo isso só comprova que essas organizações realmente não passam de seitas.
Apesar da maioria dos cristãos acreditarem que tal pessoa deva ser ordenada antes de poder ministrar na igreja, não existe na Bíblia uma só pessoa que tenha sido ordenada por homens para pregar a Palavra para a igreja! Nem sequer uma! Já está na hora de voltarmos às práticas bíblicas neste sentido.
 
"Mas na Bíblia as pessoas eram ordenadas!"
É comum as pessoas argumentarem que na Bíblia as pessoas eram ordenadas. Sim, a Bíblia nos diz que Paulo e Barnabé ordenaram anciãos de cidade em cidade em uma de suas jornadas missionárias (At 14:23). Mas nas Escrituras não existe uma única evidência sequer de que Paulo, Barnabé, Tito etc. tenham ordenado um pastor, mestre ou evangelista! Pela mesma razão, tampouco há nas Escrituras evidência de que eles tenham ordenado algum profeta ou sacerdote! Não existe qualquer indício de pessoas assim terem sido ordenadas. Onde, na Palavra de Deus, as igrejas denominacionais se baseiam para fazer isso? Cabe aqui uma citação de W. T. P. Wolston: "A ideia está na cabeça das pessoas, e não nas Escrituras". Se essa fosse a vontade de Deus para a igreja, Ele teria nos dado instruções acerca disso em Sua Palavra. Todavia, é verdade que homens que tinham um dom foram ordenados, mas não com o propósito de levarem adiante o ministério para o qual seu dom os capacitava! Aqueles que eram ordenados pelo apóstolo (ou por alguém autorizado pelo apóstolo) eram designados para ocuparem oficialmente o posto de presbítero (ancião ou guia). Considerando que todos têm um dom, aqueles homens certamente também tinham um dom. Alguns deles poderiam ter o dom de pastor ou mestre (doutor) (Tm 5:17), porém insistimos que sua ordenação não era para o exercício do dom, e sim para o ofício para o qual tinham sido designados.
 
A imposição de mãos
O que dizer de Atos 13:1-4? "E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram". A passagem parece demonstrar ser necessário que alguém, até mesmo um apóstolo, seja ordenado antes de sair para pregar. 
Muitas das ideias que as pessoas têm sobre os assuntos divinos vêm da leitura casual da Palavra de Deus. Elas nem sempre se dedicam a buscar as Escrituras com atenção e oração, antes de chegarem às suas conclusões. Este assunto da imposição de mãos é um excelente exemplo disso. Não temos autoridade para dizer que Atos 13:1-4 esteja se referindo a uma ordenação. Ali não diz ser uma ordenação, e a palavra (ordenar) nem sequer aparece na passagem. Ela menciona a imposição de mãos, mas não passa de suposição achar que uma ordenação seja feita pela imposição de mãos. Sempre que a Bíblia menciona que anciãos foram ordenados, não há qualquer menção de que isso tenha sido feito com a imposição de mãos!
Pode até ser que houvesse imposição de mãos sobre aqueles que eram ordenados, mas as Escrituras não mencionam isso. Pode ser também que os apóstolos (ou os que foram autorizados por eles) tenham feito uma porção de coisas quando ordenaram anciãos, mas seria pura suposição de nossa parte afirmar que fizeram essas coisas, já que as Escrituras não mencionam isso. William Kelly escreveu: "Não tenho dúvida de que o Espírito de Deus sabia da superstição que seria associada à imposição de mãos anos mais tarde na história da igreja, por isso tomou o cuidado de nunca associar a imposição de mãos com a ordenação de anciãos... Eu insisto que, nesta questão de ordenação, a cristandade não percebeu a intenção e o pensamento de Deus, e agora se agarra a uma ordem de coisas que inventou e que não passa de desordem, fazendo isso por ignorância, mas não sem a responsabilidade por seu pecado".
Em Atos 11:25-26 e 12:25 fica claro que Barnabé e Saulo já estavam no ministério antes que os de Antioquia impusessem as mãos sobre eles. Paulo não foi colocado no ministério, como apóstolo, por meio da imposição de mãos daqueles homens. Ele disse que foi o Senhor quem o colocou. Ao escrever a Timóteo, ele disse: "E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério" (1 Tm 1:12). Ele não recebeu seu apostolado de homens. Ao escrever aos gálatas, ele disse: "Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos)" (Gl 1:1).
Se a imposição de mãos que vemos em Atos 13 tivesse sido uma ordenação, então quem os ordenou? Simeão, chamado Níger, Lúcio, Manaém, e talvez outros ali? Esses eram profetas e mestres, dons que têm o segundo e terceiro lugares na igreja (1 Co 12:28). Se eles ordenaram os apóstolos, então o menor ordenou o maior. Não pode ser. William Kelly escreveu: "Acaso o apóstolo Paulo considera a imposição de mãos de outros como ordenação para seu ofício especial? Com toda certeza podemos crer que não. Se fosse este o caso, por que ele não fez menção desta ocasião e da imposição de mãos quando reivindicou seu direito de apóstolo? (1 Co 9:1; 2 Co 11:5; 12:12)".
Atos 14:26 explica o que realmente aconteceu quando as mãos de outros em Antioquia foram impostas sobre Barnabé e Saulo. Ali diz: "E dali navegaram para Antioquia, de onde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra que já haviam cumprido". Isto demonstra que os irmãos em Antioquia haviam estendido a eles "as destras, em comunhão" (Gl 2:9). Eles tinham dado a Barnabé e Saulo total comunhão e suporte na obra que estavam para executar. Talvez tenha sido incluída uma ajuda prática ou financeira, além de suas contínuas orações por eles durante a jornada, apesar de as Escrituras não mostrarem estes detalhes. Não existe nada em Atos 13:1-4 que dê a entender que Barnabé e Saulo tenham sido ordenados para ocupar uma posição clerical.
Além disso, o ato de encomendarem Paulo à graça de Deus foi repetido. Aquilo era algo que os irmãos faziam para os servos do Senhor cada vez que eles saíam em uma nova obra para pregarem o evangelho (At 15:40; Gl 2:9). Isto certamente comprova que não se tratava de uma ordenação, pois mesmo aqueles que pensam enxergar uma ordenação em Atos 13 não acreditam que uma pessoa precise ser reordenada a cada um ou dois anos.
Oras, se a ordenação de alguém é capaz de validar o poder que designou aquela pessoa, e as Escrituras não autorizam qualquer poder de ordenar exceto o exercido por um apóstolo ou um enviado seu, então fica claro que aqueles que hoje tentam ordenar não têm poder de Deus para isso. Um irmão, que outrora se submeteu ao sistema humano da ordenação, coloca muito bem a questão: "Eles impuseram suas mãos vazias sobre minha cabeça oca!".
Então, o que dizer de 1 Timóteo 4:14, que admoesta:
"Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério [anciãos]"? Esta passagem também mostra a imposição de mãos, porém mais uma vez não há qualquer menção de ordenação. Trata-se de uma suposição na mente das pessoas. A passagem é bem simples. Timóteo tinha um dom do Senhor; e era um dom que fora profetizado por um profeta (ou profetas), de que Timóteo seria usado pelo Senhor no exercício desse dom. Os anciãos reconheceram o dom que ele havia recebido do Senhor e estenderam a ele as destras de comunhão em seu trabalho. Paulo escreveu a Timóteo exortando-o a não negligenciar esse dom, trazendo à sua memória que outros (os anciãos) também o estavam apoiando com seu suporte. Aquilo deve ter sido um tremendo encorajamento para Timóteo.
 
Coleta ou dízimo?
Outra prática que se tornou parte integrante dos cultos nas igrejas denominacionais é o uso do dízimo (dar 10% da renda). O dízimo é algo claramente judaico, e foi emprestado pela cristandade da ordem de coisas que a epístola aos Hebreus chamou de "arraial" (Lv 27:30-34; Nm 18:21-24; Hb 13:13). O dízimo não tem lugar no cristianismo. O cristianismo funciona sobre princípios completamente diferentes e muito mais elevados do que o sistema da lei mosaica. Impor esse padrão sobre os filhos de Deus no cristianismo hoje é não entender a graça e a diferença que existe entre judaísmo e cristianismo.
O dízimo era uma instituição imposta aos filhos de Israel que estavam sob a lei. No cristianismo o novo homem não precisa de uma lei. Ele se deleita em agradar a Deus e fazer a Sua vontade (Rm 8:4). Colocar a nova vida em Cristo sob o princípio da lei é achar que existe algo nessa vida que poderia querer agir fora da vontade de Deus, mas não existe tal impulso em um crente que esteja andando no Espírito. No judaísmo não importava se a pessoa queria ou não, pois mesmo assim ela era obrigada a dar seus 10 %. Era a lei. De maneira alguma este é o princípio sobre o qual os cristãos se baseiam na hora de contribuir. Em 2 Coríntios 8-9 temos os princípios para o cristão ofertar. Repare com atenção que nestes capítulos, ou em qualquer outro lugar do Novo Testamento, não há uma palavra sequer que diga que os cristãos devem utilizar o método legal do dízimo em seu ato de ofertar.
Nos capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios, os princípios da contribuição cristã são colocados de maneira bem simples. Primeiro devemos nos dar a nós mesmos para o Senhor e nos entregarmos à vontade de Deus, e então dar de nossos bens de acordo com a medida que temos. Ali diz: "será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem" (2 Co 8:5, 11-12). Para ter algum valor diante de Deus, a contribuição cristã precisa vir do coração. Se não existir uma "prontidão de vontade", então o ato de dar não passa de algo legal e, portanto, não existirá nisso qualquer valor real de sacrifício.
Estes capítulos também revelam o propósito da contribuição cristã. O apóstolo mostra que o ato de dar é para:
  • • Expressar comunhão com outros membros do corpo de Cristo (2 Co 8:4).
  • • Abundar em cada aspecto da experiência cristã (2 Co 8:7).
  • • Provar a realidade de nosso amor (2 Co 8:8, 24). Imitar nosso Senhor Jesus (2 Co 8:9).
  • • Ajudar a atender as necessidades de outros (2 Co 8:13-15).
  • • Experimentar, na prática, a abundância com que
  • • Deus nos supre conforme Sua total suficiência (2 Co 9:8-10).
  • • Criar condições para que outros agradeçam a Deus (2 Co 9:11-15).
  • • Permitir que tenhamos abundância creditada em nosso favor (Fp 4:17).
Na ordem de Deus, o que existe são as coletas feitas regularmente quando os santos se reúnem no primeiro dia da semana. A Palavra de Deus diz: "Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia.
No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade" (1 Co 16:1-2). Embora a coleta mencionada nesta passagem fosse para as necessidades específicas dos santos em Jerusalém, o princípio continua valendo para nós hoje. Ainda existem necessidades específicas na igreja.
A ocasião quando a coleta deve ser feita é quando os santos se reúnem para partir o pão no primeiro dia da semana (At 20:7). Hebreus 13:15-16 conecta o sacrifício da "beneficência e comunicação" com o "sacrifício de louvor" que é oferecido no partir do pão.
O que é estarrecedor na cristandade hoje, e certamente uma desonra ao Senhor, é vermos as denominações encorajarem até mesmo aqueles que não são salvos a ofertarem nas coletas. A impressão que isso dá naqueles que são deste mundo é que podem fazer algo de aceitável a Deus ainda em seu estado não regenerado. E o que é pior, isso também passa a impressão de que o cristianismo é um sistema de "toma-lá-dá-cá". Como alguém observou, "seu Deus deve ser bem pobre, pois Ele está sempre obrigando vocês cristãos a pedirem dinheiro!".
Não encontramos na Bíblia coletas envolvendo pessoas que não fossem salvas. A prática no princípio da igreja era de não fazer coletas públicas. Para evitar ideias erradas que o mundo pudesse ter dos cristãos, os ser-vos do Senhor no início da igreja tinham o cuidado de não tomar "nada" daqueles dentre as nações às quais eles levavam o evangelho, pessoas que não conheciam o Senhor (3 Jo 7). Esta continua sendo a ordem para a igreja hoje.
 
Disciplina na Igreja
Outro assunto relacionado ao governo da igreja local, que é negligenciado nas assim chamadas "igrejas", é o da disciplina e excomunhão. Como já vimos no capítulo com o título "Um chamado à separação", cada cristão é individualmente responsável por separar-se do mal. Portanto é óbvio que uma assembleia de cristãos também deve se manter livre do mal. Trata-se de uma responsabilidade coletiva. O motivo disso é que a associação com o mal corrompe toda a assembleia. Conforme mencionamos, os três principais tipos de mal que devem ser mantidos fora de um grupo de cristãos são o mal moral, doutrinal e eclesiástico. Se uma pessoa em uma assembleia se envolve ou está associada com um mal assim, a assembleia local tem a responsabilidade de tirar essa pessoa de sua comunhão. O apóstolo Paulo escreveu: "Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo" (1 Co 5:12-13). Isto
demonstra que a assembleia é responsável por julgar o mal em seu meio quando este se manifesta.
Existem três razões principais pelas quais a assembleia deve afastar pessoas envolvidas com o mal.
 
1) A glória do Senhor – A assembleia deve ter o cuidado de não permitir que o Nome do Senhor esteja associado com o mal diante dos olhos do mundo. Quando os irmãos em Corinto agiram em prol da glória do Senhor e colocaram fora a pessoa em pecado, o
apóstolo escreveu em aprovação: "Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros
neste negócio" (2 Co 7:11). Eles agiram com zelo, adotando medidas extremas visando a glória do Senhor.
 
2) A santidade na assembleia, a qual deve ser mantida – Existem duas razões para isto: primeiro, a assembleia é o lugar da habitação de Deus. Ela deve ser mantida em condições adequadas para a Sua santa presença. O Senhor habita no meio do Seu povo congregado ao Seu Nome (Mt 18:20), portanto a assembleia deve manter o mal fora do seu meio a fim de permanecer um lugar adequado à Sua presença. "A santidade convém à tua casa, Senhor, para sempre" é um princípio que permanece válido para todas as épocas (Sl 93:5). "O que usa de engano não ficará dentro da minha casa" (Sl 101:7; 1 Co 3:17; Nm 5:1-4). A segunda razão é a característica que o mal tem de fermentar. Como já mencionamos, a associação com o mal corrompe. O apóstolo Paulo escreveu: "Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?
Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa" (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12). Ele também escreveu: "As más conversações corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33). Se a assembleia não tirasse o mal de seu meio, logo outros seriam afetados por ele.
 
3) A correção e restauração do ofensor – A ação de colocar alguém fora de comunhão deveria ter sempre em vista o bem e a bênção da pessoa que errou. Ela é colocada fora e não se deve ter contato com ela, para que seja humilhada para arrependimento e restaurada ao Senhor. "Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais" (Co 5:11). Quando alguém se encontra numa condição de arrependimento e julgamento de seu próprio pecado, cabe à assembleia receber essa pessoa de volta à comunhão. Referindo-se à pessoa que os irmãos em Corinto haviam colocado fora de seu meio, o apóstolo Paulo escreveu: "Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (Co 2:6-8).
A assembleia deveria sempre tratar do assunto como sendo seu próprio pecado. Sua atitude quanto à excomunhão de alguém deveria ser de lamentação – reconhecendo que falharam, por terem sido incapazes de alcançar o irmão enquanto ele seguia em direção ao pecado. Os coríntios nada fizeram a respeito. Paulo lhes escreveu: "Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação" (1 Co 5:2). Cada um na assembleia deveria investigar
seu próprio coração e perguntar a si mesmo: "O que eu poderia ter feito para impedir que essa pessoa caísse em pecado?" Devemos reconhecer que não fizemos nada a respeito; que não pastoreamos essa pessoa da forma adequada, ou que não oramos por ela o suficiente etc. Era isto que significava o sacerdote comer da oferta pelo pecado: "O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá" (Lv 6:26). Este tipo de cuidado pela glória do Senhor é algo que quase não existe na cristandade hoje, todavia deveria ser praticado por cada assembleia cristã.
 
Recepção – Uma responsabilidade da assembleia local
Outra prática da igreja no princípio, que hoje quase não existe na cristandade, era o cuidado com a recepção de pessoas à comunhão.
Considerando o que a Bíblia ensina a respeito da pureza na assembleia, quando alguém tem o desejo de partir o pão "à mesa do Senhor" (1 Co 10:21), a assembleia deve ter o cuidado de não receber à comunhão alguém envolvido em pecado; seja ele moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local tem a responsabilidade de julgar o pecado em seu meio, como já demonstramos (1 Co 5:12), a consequência natural disso é que ela deve ter o cuidado com aquilo ou aquele que recebe em seu meio.
Alguém afirmou corretamente que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta, e nem ter uma comunhão fechada, mas sim uma comunhão protegida. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo que não esteja impedido pela disciplina bíblica. Se não fizer assim, ela estará agindo de forma inconsistente com o terreno do "um só corpo" sobre o qual ela professa estar congregada (Ef 4:4).
Se, por um lado, todos os cristãos devem estar à mesa do Senhor, nem todos podem estar ali, já que seu privilégio pode ser anulado por seu envolvimento com algum pecado.
 
Quem decide quem deveria estar em comunhão?
É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. Isto é algo que compete à Palavra de Deus. A razão é que a mesa não é dos irmãos, a mesa é do Senhor. As preferências e gostos pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A decisão vem totalmente da Palavra de Deus. Quando não existir um motivo bíblico para se recusar a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já batizado professar com clareza sua fé e demonstrar devoção em seu andar, não existe motivo para que seja recusado. O nível de conhecimento das Escrituras não é um critério neste sentido. Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, as Escrituras dizem: "Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas" (Rm 14:1).
Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém professa claramente sua fé e é devoto em seu andar. Quanto maior a confusão no mundo ou no testemunho cristão do qual a pessoa tiver saído, maior a dificuldade de se tomar uma decisão. Se for este o caso, então o bom senso mostra que a assembleia deve pedir que a pessoa que tem o desejo de estar em comunhão aguarde algum tempo. Isto não significa que a assembleia está afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia ser o caso, porém os irmãos podem estar incertos quanto a isso e por esta razão devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, uma vez que são eles os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que recebem em comunhão. As Escrituras ensinam: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios" (1 Tm 5:22). Embora a aplicação deste versículo seja mais ampla do que a recepção à mesa do Senhor, ele apresenta um princípio pelo qual a assembleia pode ser guiada no processo de recepção. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.
 
Seria suficiente o testemunho pessoal?
Um importante princípio relacionado a este assunto e que precisa ser compreendido é que a assembleia, biblicamente falando, não se baseia no que diz uma testemunha. Tudo o que diz respeito à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: "Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra" (2 Co 13:1). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho, principalmente considerando que todas as pessoas costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como as próprias Escrituras afirmam: "Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos" (Pv 16:2). E também: "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória" (Jo 7:18). Por isso é preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde, principalmente quando a assembleia nada souber a respeito dela. Assim que a assembleia local venha a conhecer a pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá ser recebida com base no testemunho de outros.
Este é um princípio que encontramos em todas as Escrituras. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse; "Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro [válido]" (Jo 5:31). Em seguida ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos de que Ele era o Messias, o Senhor ainda advertiu os judeus de que chegaria um tempo quando eles, como nação, receberiam um falso messias (o Anticristo) sem testemunhas. Ele disse: "Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis" (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho.
Os filhos de Israel falharam justamente neste ponto, quando receberam os gibeonitas com base no testemunho deles próprios (Josué 9). Isto está registrado nas Escrituras para nos alertar quanto ao perigo de agirmos assim.
Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a igreja no princípio tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Mesmo que tudo o que ele dissera aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal fosse verdade, ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que então já era o testemunho de duas pessoas, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo "andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo" (At 9:28). Se a igreja no princípio não recebeu Saulo de Tarso imediatamente, com certeza os cristãos hoje não podem esperar ser recebidos imediatamente quando desejarem estar em comunhão em uma assembleia local.
 
Colocando a profissão de fé da pessoa à prova
Outro importante princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz que é cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Além disso, em 2 Timóteo 2:19 diz que "qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade". Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não apartar-se da iniquidade, sua confissão de fé não é genuína. Isso é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho cristão, quando o que não faltam são doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos. Um exemplo disso pode ser visto em figura em 1 Crônicas 12:16-18.
Naquele momento Davi era o rei rejeitado de Israel. À medida que pessoas de várias tribos de Israel entenderam o erro que tinha sido rejeitá-lo, elas foram a ele e o consideraram como o verdadeiro rei de Israel. Quando os da tribo de Benjamim (a tribo do rei Saul) foram a Davi, ele colocou à prova a profissão de fé deles. Ao ficar comprovado que sua confissão era genuína, e eles demonstraram verdadeiramente estar ao lado de Davi, a Palavra de Deus nos diz que "Davi os recebeu".
Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mal que traz em seu ensino. (Compare 2 Jo 9-11 e Rm 16:17-18). Não falamos aqui das diferenças de opinião que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da verdade cristã. As Escrituras dizem: "Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus" (Rm 15:5-7). Isto demonstra que a assembleia deve receber à comunhão pessoas que possam glorificar a Deus "concordes, a uma boca". Como a assembleia poderia glorificar a Deus assim se alguém fosse recebido trazendo consigo má doutrina? Enquanto os irmãos na assembleia estivessem falando uma coisa, aquela pessoa estaria falando outra. O resultado seria confusão. Paulo disse aos coríntios: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer" (1 Co 1:10). 
Quando a questão envolve pecado eclesiástico, é preciso paciência e discernimento para identificar isso em alguém. Existe uma diferença entre alguém associado ao erro clerical por ignorância e uma pessoa ativamente envolvida e promovendo tal erro. Um crente que talvez ignore a ordem bíblica para a adoração e o ministério cristão, pode querer partir o pão à mesa do Senhor vindo de uma denominação criada por homens e que pratique uma ordem clerical. Ainda que essa pessoa esteja associada ao erro eclesiástico, ela não está envolvida com o mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por sua piedade no andar e professar sã doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tivesse se desligado formalmente de sua associação com aquela denominação.
A questão é: "Quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna mal eclesiástico?" Cremos que a resposta é simplesmente quando a vontade da pessoa está envolvida com isso. Para detectar essa vontade é preciso que a assembleia tenha um discernimento sacerdotal. Em casos assim a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer o Seu pensamento a respeito do assunto. Em condições normais, os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, esperando e confiando que Deus estaria trabalhando em seu coração – e que ela iria abandonar o lugar de onde veio, após participar da ceia do Senhor, e continuar congregada com aqueles reunidos ao nome do Senhor. Este princípio é encontrado em 2 Crônicas 30-31. Ezequias permitiu que o povo de Judá, e também alguns das dez tribos separadas, participassem da Páscoa e adorassem o Senhor no divino centro em Jerusalém. Depois de fazerem isso, eles voltaram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens sejam condescendentes com a idolatria; estamos falando apenas do princípio encontrado ali). O que é interessante neste caso é que Ezequias não lhes disse que procedessem assim! Aquilo foi uma resposta vinda de seus corações pelo simples fato de terem estado na presença do Senhor em Jerusalém. Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser aceito. Como assinalou J. N. Darby, uma pessoa assim não estaria sendo honesta com nenhuma das partes. Ele também afirmou que a degradação e a corrupção aumentam cada vez mais no testemunho cristão, ficando cada vez mais difícil colocar em prática este princípio. É necessário um discernimento ainda maior à medida que os dias se tornam mais sombrios. Algo assim só tem acontecido esporadicamente nos dias atuais.
Outra figura do Antigo Testamento ilustra o cuidado no recebimento à comunhão. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino neste mundo onde o Senhor havia colocado o Seu Nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia um grande perigo representado pelos inimigos em redor. Consequentemente, eles não abriam os portões para permitir que as pessoas entrassem na cidade "até que o sol aqueça" [literalmente ao meio-dia] (Ne 7:1-3). Eles se certificavam de não existir qualquer vestígio de sombras em redor antes de permitir que as pessoas entrassem na cidade. Até que chegasse aquele momento, eles faziam com que as pessoas que desejassem entrar na cidade aguardassem. À medida que a escuridão na cristandade aumenta nestes últimos dias, é preciso tomar este tipo de cuidado na recepção de pessoas à comunhão. Você encontra o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 ("os porteiros").
Tudo isso soa muito estranho para a maioria dos cristãos que não conhecem outros métodos além da comunhão aberta praticada pelos denominacionais. A ênfase nas igrejas é conseguir o máximo possível de pessoas para o grupo. São feitos grandes esforços neste sentido. Tomar cuidado com quem é acrescentado à comunhão provavelmente parece algo meio incomum, mas todavia é isso que a Palavra de Deus ensina.
 
Exclusivo demais!
Alguns discordam dessas coisas, declarando que isso é ser exclusivista. Gostaríamos de enfatizar mais uma vez que estes princípios não foram inventados por nós, mas são simplesmente princípios ensinados pela Palavra de Deus. As assembleias locais de cristãos devem ser exclusivistas quanto ao pecado, e devem ser cuidadosas quando não conhecerem com quê uma pessoa pode estar associada. A passagem em 1 Coríntios 11:28 costuma ser apresentada para dar a ideia de que cada pessoa é individualmente responsável diante do Senhor em julgar a si mesma, e que não caberia à assembleia "escrutinar" as pessoas. O versículo diz:
"Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice". Aqueles que pensam assim são rápidos em argumentar que não cabe à assembleia "examinar" a pessoa, mas que é a própria pessoa que deve "examinar-se a si mesma", e então participar da ceia.
Oras se fosse esse o significado do versículo, então ele entraria em conflito com os princípios que já mencionamos – de que a assembleia é responsável em julgar o mal em seu meio e, por conseguinte, deve ser cuidadosa quanto a quem está em comunhão (1 Co 5:12). Considerando que a Palavra de Deus não se contradiz, o versículo em 1 Coríntios 11:28 deve estar se referindo a algo que não seja a recepção à mesa do Senhor. Um exame mais atento do contexto do capítulo no qual o versículo aparece nos revela que a passagem não está se referindo àqueles que desejam entrar em comunhão à mesa do Senhor, mas sim àqueles que já estão em comunhão ali. A passagem diz simplesmente que cada um daqueles que estão em comunhão tem a responsabilidade de julgar-se a si mesmo antes de participar da ceia. Se não o fizer, ele "come e bebe para sua própria condenação [juízo governamental]" (Co 11:29).
Isto é parecido à ordem que os pais dão aos seus filhos antes de se sentarem à mesa para o jantar. Eles dizem: "Vejam se as suas mãos estão limpas antes de se sentarem à mesa". A ordem aplica-se às crianças que fazem parte da família e participam regularmente das refeições naquela casa, e não aos vizinhos que moram na mesma rua.
Aqueles que fazem parte da família e pretendem participar do jantar devem estar limpos quando chegarem à mesa. O mesmo acontece na assembleia. A exortação para se examinarem a si mesmo antes de participarem da ceia é para aqueles que já estão em comunhão à mesa do Senhor.
 
A responsabilidade individual
Se por um lado existe a responsabilidade da assembleia local nesta questão, por outro o indivíduo que deseja entrar em comunhão com uma assembleia local também tem sua parcela de responsabilidade. Se ele deseja andar corretamente diante do Senhor, irá querer ter cuidado ao dar esse passo. Todavia, muitos cristãos acham que podem se associar com qualquer coisa que desejarem sem que sejam afetados por isso, mas a Bíblia ensina que somos afetados por aqueles com quem nos associamos, e alguém que esteja buscando comunhão com uma assembleia de cristãos sobre a qual tenha poucas informações deve agir com cuidado. O princípio da contaminação decorrente da associação com o mal funciona nos dois sentidos. A assembleia deve ser cuidadosa quanto a quem e a quê recebe em sua comunhão, mas a pessoa que procura estar em comunhão também deve ser cuidadosa. As Escrituras dizem: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro" (1 Tm 5:22). Isso se refere à comunhão e foi escrito para uma pessoa na casa de Deus. A responsabilidade de todo cristão é manter -se puro, pois "as más companhias corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33).
Em vista disso, por que alguém iria a uma assembleia de cristãos, da qual não tem qualquer conhecimento quanto ao que creem ou praticam ali, para insistir em partir o pão ali, considerando que tal pessoa acabaria associada com tudo o que acontecesse ali?
Como ela poderia ter certeza de não estar entrando em um grupo de pessoas com doutrinas blasfemas ou práticas condenáveis? Nossa única conclusão é que uma pessoa assim nunca teria levado em consideração estas coisas, ou simplesmente não acreditaria que elas pudessem ocorrer. 
O cuidado que cada crente individualmente deve ter é visto em figura no Antigo Testamento, quando o assunto é a adoração praticada por Israel. O Senhor disse a eles: "Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; mas
no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno" (Dt 12:13-14). Este princípio irá guiar o cristão que procura pelo lugar que o Senhor escolheu nos dias de hoje. Os filhos de Israel
não deviam oferecer seus sacrifícios e nem adorar em qualquer lugar que vissem – e o mesmo vale para o cristão. Um cristão simplesmente não deve ir a qualquer lugar para oferecer sua adoração ao Senhor. Ele deve fazer isso apenas no lugar onde Deus quer que ele esteja. Tendo em vista o mal e o abandono da Palavra de Deus que existem hoje no testemunho cristão, e o perigo de ser levado ao erro, não se deve ter pressa em oferecer sacrifícios de louvor em comunhão com uma assembleia de cristãos da qual não se conhece coisa alguma. A obrigação de cada um é descobrir de antemão algo sobre aquele grupo de cristãos. A pergunta que se deve fazer é: "Quais doutrinas e práticas este grupo possui?". Se uma pessoa encontrar o lugar que acredita ser da direção do Senhor para ela, é melhor não ter pressa de partir o pão ali. É preciso orar a respeito e esperar no Senhor até ter a tranquilidade de saber que não está se associando com algo que seja uma desonra para o Senhor. Que o Senhor possa guiar o leitor nesse importante passo.
 
Cartas de recomendação
Outra coisa que está estreitamente associada à recepção à comunhão é o uso de cartas de recomendação. Trata-se de uma carta escrita por uma assembleia e assinada por dois ou três irmãos, a qual é enviada a outra assembleia recomendando uma ou mais pessoas à comunhão dos santos naquela localidade para onde essas pessoas estiverem se dirigindo. Mais uma vez, isto é algo que geralmente não é praticado nas igrejas da cristandade.
Um exemplo desta prática entre os cristãos no princípio é visto no caso de Apolo, em Atos 18: 24-28. Ali diz:
"Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam". Apolo era reconhecidamente um homem que tinha um dom, mas mesmo assim ele precisou de uma carta de recomendação dos irmãos para poder ser recebido pelas assembleias na Acaia, as quais até então nada sabiam a respeito dele. Isso demonstra o cuidado que existia entre os cristãos no princípio quanto a quem eles deviam receber à comunhão. Veja também Romanos 16:1 e 2 Coríntios 3:1-3.
 
APRESENTAÇÃO
Há alguns anos li o livro "God's Order", escrito por Bruce Anstey, um irmão canadense com o qual tenho comunhão por estarmos congregados somente ao nome do Senhor Jesus, ele no Canadá e eu no Brasil. O que chamou minha atenção foi que o autor
conseguia colocar em ordem os principais tópicos que todo cristão sincero deveria buscar nas Escrituras para saber se está congregado segundo a ordem estabelecida por Deus, ou se apenas segue tradições criadas por homens.
O livro em inglês está agora na quarta edição, e recebi do autor autorização para traduzilo para o português. A fim de assumir um compromisso comigo mesmo de dedicar algum tempo à tradução, decidi criar este blog. Um blog público é uma excelente forma de eu me lembrar de que há pessoas esperando por novos trechos do livro, e isso me motiva a continuar traduzindo.
Espero que o livro "A Ordem de Deus" seja de auxílio para muitos irmãos e irmãs emCristo, e também se transforme em um instrumento a mais para glorificar a Deus, que não apenas "quer que todos os homens se salvem", mas também que "venham ao
conhecimento da verdade" 1 Tm 2:4.
Mario Persona
 
EXTRAÍDO DO LIVRO: A ORDEM DE DEUS - PARA OS CRISTÃOS CONGREGAREM PARA ADORAÇÃO E MINISTÉRIO
 
Autor: BRUCE ANSTEY
 
Tradução: MARIO PERSONA – 2011
 
Revisão: MARIA CRISTINA MARUCCI
 
A Resposta Bíblica à Ordem Eclesiástica Tradicional
 
Traduzido do original inglês: GOD’S ORDER FOR CHRISTIANS MEETING TOGETHER
 
FOR WORSHIP AND MINSTRY
 
Edição em inglês publicada por: CHRISTIAN TRUTH PUBLISHING 12048 – 59th Ave.
 
Surrey, BC V3X 3L3 CANADA
 
Primeira Edição (Inglês) - Junho 1993
 
Segunda Edição (Inglês) - Abril 1998
 
Terceira Edição (Inglês) - Março 1999
 
Quarta Edição (Inglês) - Julho 2010
 
Os versículos citados são da Bíblia Versão Almeida Corrigida Fiel ou Almeida Revista e Atualizada.
 
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Literaturas em formato Impresso:
 
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Evangelho em 03 Minutos:
 
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O que respondi:
 
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