O Voto de Jacó

"Reverentemente, Jacó toma dentre os seus poucos pertences uma botija com azeite, e num ato de devoção santa unge aquela coluna erigida em meio ao nada, ou melhor, em Betel- como Jacó passa a chamar aquele local - Pois ali o Senhor Jeová habita em glória tal, qual ele nunca vira. Tendo feito isso, Jacó reinicia a sua viagem com o senso da presença do grande Jeová a acompanhá-lo. Dirige-se a Padã-Arã, não apenas fugindo de seu irmão Esaú, mas como quem se dirige a um destino glorioso, prometido na gloriosa visão daquela noite. Além, das emoções características daqueles que vêem coisas inefáveis, Jacó leva no coração o propósito firmado de uma consagração total. Um voto. O voto de Jacó".

 

O pretensioso objetivo deste livro é apenas acentuar um pouco da riqueza espiritual, contida no voto de Jacó, quando esteve de passagem por Luz. Nem mesmo atrevo-me detalhar a extraordinária manifestação de Jeová a Jacó, naquela ocasião - tão profunda em significados espirituais, quanto um oceano.

 

Deixo isso para mentes mais qualificadas. Agradeço ao Senhor pela direção de seu Santo Espírito nos poucos pensamentos relativos ao compromisso de Jacó, ao ungir com azeite aquela coluna em Betel.

 

Se o desafio proposto pelo "Voto de Jacó", atingir o coração de apenas um crente leitor que seja, terá valido a pena todo o esforço empregado nesta humilde obra.

Juarez Barcelos Rodrigues

 

 

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Índice:

 

Prefácio

 

Introdução

 

1-A ascensão de um "suplantador"

 

2- Quatro necessidades na vida de Jacó

 

3- O Deus de Jacó

 

4- O Testemunho de Jacó

 

5- Os bens de Jacó

 

6- A graça no voto de Jacó

 

7- A pobreza no voto de Jacó

 

8- O coração no voto de Jacó

 

9- A recompensa no voto de Jacó

 

 

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Prefácio

 

Não é fácil escrever sobre alguém cuja vida é uma variedade de experiências. Jacó é o tipo de homem que deixa, inevitavelmente, uma marca na história, ao passar por este mundo. As múltiplas e controvertidas características de sua personalidade, os singulares acontecimentos que se sucederam, desde o seu nascimento, os altos e baixos da sua vida, as elevações espirituais, bem como os vales de sofrimento, e tristeza que experimentou, desde o seu nascimento, até os dias finais de sua vida, são um grande desafio para qualquer escritor. É claro que não tenho a pretensão de abranger todos os aspectos de uma personalidade tão complexa, pois, seriam necessários grossos volumes, e uma capacidade literária que definitivamente não possuo. O pretensioso objetivo deste livro é apenas acentuar um pouco da riqueza espiritual contida no voto de Jacó, quando esteve de passagem por Luz. Nem mesmo atrevo-me detalhar a extraordinária manifestação de Jeová a Jacó, naquela ocasião - tão profunda em significados espirituais, quanto um oceano. Deixo isso para mentes mais qualificadas. Agradeço ao Senhor pela direção de seu Santo Espírito nos poucos pensamentos relativos ao compromisso de Jacó, ao ungir com azeite aquela coluna em Betel.

 

Quero expressar, também, meus agradecimentos aos irmãos Thomas H. Matthews e Albert Lindsay Carswell, aos quais considero como "amigos mais chegados do que um irmão" (Provérbios 18:24), por dedicarem parte de seu precioso tempo à leitura destes meus escritos.

Se o desafio proposto pelo "Voto de Jacó", atingir o coração de apenas um crente leitor que seja, terá valido a pena todo o esforço empregado nesta humilde obra.

 

Juarez Barcelos Rodrigues

 

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Introdução

 

"Cantai alegremente a Deus, nossa fortaleza; celebrai o Deus de Jacó."

(Salmos 81: 1)

 

Pouco a pouco, o sol sumia no horizonte daquela terra escaldante. No vazio daquela região inóspita apenas uma figura apressada, e seu camelo, davam indícios de vida, além de algumas amendoeiras que surgiam com mais freqüência na medida em que Jacó avançava em direção ao norte. Jacó presumiu estar já nos domínios hititas, provavelmente próximo de Luz, a julgar pelas amendoeiras. Centenas de quilômetros estavam pela frente, ainda, até chegar em Padã-Arã, onde Jacó esperava encontrar um exílio, uma esposa, e - se Jeová fosse misericordioso - um pouco de paz. O importante nesse momento é que já havia se distanciado de Berseba por quatro dias. Com um pouco mais de sorte logo estaria a salvo de Esaú, seu irmão.

Com o avanço do pôr-do-sol, a viagem toma-se quase impossível. Dirigindo-se a um pedaço rochoso do terreno, Jacó prepara-se para passar a noite. Uma grande pedra convenientemente disposta, como uma bênção da natureza para abrigá-lo do vento, faz com que Jacó se sinta agradecido.  Jeová tem sido bom para mim, apesar de tudo. - Ele pensa.,enquanto tira de seu alforje um pedaço de pão, e um odre de vinho, preparando uma refeição, acompanhada de mel e queijo. Não é como um prato de carne com lentilhas... - pensa, quando de súbito lhe vem à lembrança o episódio com seu irmão. Começa a comer, procurando afastar as lembranças perturbadoras da sua cabeça.

Envolto em sua capa, reclinou-se contra a pedra para dormir, enquanto o sono e os pensamentos disputavam lugar em sua mente. Saíra apressadamente de Berseba aproveitando o momento quando seu irmão se achava no campo. Esaú era bom caçador. Se decidisse caçá-lo tinha grande chance de sucesso. Jacó sabia disso, por isso se apressara. Gostaria de ter ficado um pouco mais com sua mãe, chorosa e aflita, mas devido às circunstâncias era perigoso. Ainda tinha que comparecer à tenda de seu velho pai...

Ao aproximar-se de Isaque, Jacó se sentia de certa forma feliz por seu pai não poder enxergar devido à velhice. Assim, ele não veria seu embaraço, e a vergonha em seu semblante, pela mentira, com a qual, roubara a bênção de Esaú. Mas, para surpresa de Jacó, não havia rancor nas palavras do pai, e sim, uma bênção proferida.

Era muito mais do que Jacó poderia esperar. Na realidade, era tudo o que ele não merecia. - El Shaddai te abençoe ... e te dê a bênção de Abraão ... - Era como se estivesse ouvindo ainda, enquanto mergulhava num sono profundo.

O amanhecer traria à cena um novo Jacó. Ainda sob forte comoção, impressa em sua alma pelo sonho daquela noite, Jacó põe-se a trabalhar. Num esforço, ergue a pedra sobre a qual se recostara à noite, deixando-a vertical, como uma coluna. Teria sido mesmo um sonho? A escada cujo topo tocava os céus, os anjos que subiam e desciam por ela, e o mais impressionante, a visão de Jeová em meio a uma fulgurante glória, cujo brilho Jacó tinha a impressão de chegar até Berseba, denunciando a sua fuga, e até Padã-Arã, antecipando a sua chegada. Não, não fora apenas um sonho. Fora uma visão real. Uma manifestação de El  Shaddai - o Deus Todo-Poderoso, invocado na bênção de seu pai antes de sair de Berseba. A conclusão de Jacó  era a de que o Senhor Jeová estava naquele lugar, sem que ele soubesse.

Reverentemente, Jacó toma dentre os seus poucos pertences uma botija com azeite, e num ato de devoção santa unge aquela coluna erigida em meio ao nada, ou melhor, em Betel - como Jacó passa a chamar aquele local- Pois ali o Senhor Jeová habita em glória tal, qual ele nunca vira. Tendo feito isso, Jacó reinicia a sua viagem com o senso da presença do grande Jeová a acompanhá-lo. Dirige-se a Padã-Arã, não apenas fugindo de seu irmão Esaú, mas como quem se dirige a um destino glorioso, prometido na gloriosa visão daquela noite. Além das emoções características daqueles que vêem coisas inefáveis, Jacó leva no coração o propósito firmado de uma consagração total. Um voto. O voto de Jacó.

 

 

Capítulo 1

 

Ascensão de um “suplantador

 

"Mas, quanto a mim, exultarei para sempre; cantarei louvores ao Deus de Jacó."

(Salmos 75:9)

Jacó é uma das figuras mais interessantes do Velho Testamento. Alguns servos de Deus do passado são caracterizados por um início bom, e um final ruim. Jacó, ao contrário, inicia uma vida cheia de percalços e avança aprendendo por suas experiências até se tornar um homem sólido e consistente nas coisas de Deus. Os capítulos 48 e 49 de Gênesis são uma amostra de como ele cresceu e desenvolveu no conhecimento do Senhor.

Que grande contraste com o início de sua história onde o vemos precipitado em seus expedientes, temeroso e fugitivo, vítima das conseqüências de seus atos. No final de sua vida vemos como ele transcende o significado de seu próprio nome - "suplantador", e vive no pleno sossego daqueles que aprenderam a contar com Deus.

Suas palavras sábias e proféticas, quando abençoa os seus filhos e os filhos de José, são, sem dúvida, o reflexo de uma longa e íntima caminhada com o Senhor.

Em Gênesis 48:3 Jacó lembra sua experiência em Luz, na terra de Canaã (Gênesis. 28:10-22). Foi a mais importante, no momento mais critico de sua vida. Foi ali em Luz - que posteriormente Jacó passou a chamar de Betel (Casa de Deus), que ele fez um voto ao senhor.

Jacó estava de viagem quando Deus encontrou-o no caminho. Sentia-se estressado, cansado, solitário, e temeroso. Sua mãe, Rebeca, que no passado o amparava e aconselhava, agora não estava presente. Em Gênesis 35:3, reportando-se a este momento em Betel, Jacó o descreve como "o dia da minha angústia.”

No Versículo 11 lemos que "o sol já era posto" quando ele tomou uma das pedras daquele lugar e a pôs por sua cabeceira para dormir. Aquele pôr-do-sol era como o prenúncio de um futuro sombrio e incerto, sem que Jacó soubesse o que lhe sucederia em Padã-Arã. A pedra posta à sua cabeceira era como se refletisse os dias pela frente quando Jacó trabalharia duramente durante sete anos por Raquel, sendo enganado por Labão, e mais sete anos até casar-se com a mulher que amava. No total foram 20 anos de trabalho duro na casa de Labão, sendo muitas vezes enganado por ele. Esta viagem de Jacó lembra a experiência de muitos de nós. Na nossa jornada para o céu somos muitas vezes como Jacó nesta ocasião. Que bom quando o Deus gracioso surge no caminho, em tais circunstâncias, assim como surgiu no caminho de Jacó.

A aparição do Senhor a Jacó através de um sonho naquela ocasião é rica em lições espirituais. Mas não é o tema das nossas considerações neste momento, e sim, o voto de Jacó em Betel.

 

 

Capítulo 2

 

Quatro necessidades na vida de Ja

 

"E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus".

(Gênesis 28:20,21)

 

Lendo superficialmente em Gênesis 28:20, podemos pensar que o voto de Jacó foi "condicional" quando ele diz: "Se Deus for comigo ... nesta viagem que faço ...". Mas na realidade não era, pois, a palavra "se" é um advérbio de tempo, portanto, não expressa dúvida, e deveria ser traduzida como "já que Deus vai comigo".

No versículo 15 o Senhor já havia prometido a Jacó a Sua presença e proteção, e aquela promessa é agora corroborada por esta manifestação de Jeová, trazendo a Jacó a garantia de quatro necessidades básicas na vida do crente em sua viajem para o céu:

 

1) A presença de Deus - "se Deus for comigo" (v.20a).

Importante pensar que o primeiro desejo de Jacó fosse a presença de Deus na sua viagem. Quando decidimos viajar é natural que haja uma preparação prévia: Data, hora, passagem, e o que vai dentro da mala.

Será que a presença de Deus é sempre um item esquecido?

É possível que nos preparativos de Jacó para a viajem ele tivesse pensado em outras coisas, mais do que na presença do Senhor. Mas agora, tudo mudou na sua mente. O Senhor Jeová o encontra no caminho, e ele tem uma visão do que é a presença de Deus. Ela é importante.

Mais ainda, ela é necessária. É comum ouvirmos "vai com Deus" na despedida para uma viagem. Mas, para Jacó naquele momento, a questão não era se ele iria com Deus, e sim, se Deus iria com ele. Se o senhor fosse com ele, então, a viagem teria um destino certo.

Há duas promessas no Novo Testamento ligadas com a presença do Senhor conosco neste mundo. Uma em Mateus 28: 19,20, quando Ele deu aos discípulos a ordem para irem por todo o mundo com o Evangelho.

Junto com esta ordem Ele garantiu a Sua presença até à consumação dos séculos. A outra se encontra em Mateus 18:20, e esta promessa garante a Sua presença com o Seu povo, Sua igreja reunida neste mundo. Numa situação, portanto, Ele está conosco; noutra, Ele está entre

nós. Em ambas as circunstâncias, a ênfase não é que nós estaríamos na presença do Senhor, e sim, que Ele mesmo estaria conosco. É de Seu interesse estar conosco, e entre nós.

Para aquele que trabalha no Evangelho é animador que em meio às dificuldades e oposição, o Senhor esteja presente. Uma caminhada toma-se mais leve, menos cansativa, e menos estressante se temos uma boa companhia. Em nossa jornada levando a preciosa semente, ainda que "andando e chorando" (Salmos 126:6), podemos contar com a presença do Senhor. "Estou convosco", em todas as dificuldades, quaisquer que sejam, quantas sejam, por mais intensas que sejam. "Estou convosco", é a promessa Daquele que já passou por este mundo, enfrentou sua oposição, conhece cada ponto do caminho. O vale mais escuro, a subida mais íngreme, o trajeto mais escabroso, a região mais inóspita, a terra mais árida, tudo está traçado num mapa marcado pelos seus passos divinos. "Estou convosco", é um tônico para a alma, pois, é a promessa Daquele que não pode falhar.

E Ele acrescenta ainda, "Todos os dias". Há dias e dias na nossa experiência cristã. Dias quando o sol não brilha com o mesmo fulgor, dias tempestuosos, quando o vento sopra com força ameaçando abalar as estruturas da fé. Dias quando o ânimo parece estar preso pelos grilhões da depressão e da dúvida. Jacó conheceu algo disso para dizer "poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida”  (Gênesis 47:9). Mas também estes dias estão incluídos na promessa bendita, do bendito Salvador.

"Estou convosco todos os dias" é a promessa da Sua presença trazendo esperança na desesperança.

Mas o que dizer do futuro se os dias são maus? Qual será o final do caminho apertado pelo qual trilhamos? De tudo que não podemos prever, podemos estar certos disso: Aquele que nos acompanha todos os dias não nos deixará, nem na metade do caminho, nem em momento algum. A Sua promessa garante-nos a Sua presença até o fim. "Até a consumação dos séculos" significa que Sua presença será até o final, não apenas conosco, mas com todos aqueles que lhe pertencem, em todas as épocas. Jacó provou isso, e antes dele, Abraão, e Isaque. E depois dele José, e todos os outros, sucessivamente, até aos dias dos apóstolos, de maneira que, a promessa do Senhor Jesus em Mateus 28:20, nada mais é do que uma extensão de um princípio da graça de Deus manifestada aos patriarcas; uma confirmação do fiel amparo divino na jornada para os discípulos, e para todos nós, e para todos que vierem depois de nós" Até a consumação dos séculos!".

Se a presença do Senhor é uma realidade na nossa experiência pessoal, também o é na sua igreja reunida.

Por menor que seja o grupo que se reúne ao nome do Senhor, ainda que dois ou três, o  Senhor prometeu em Mateus 18:20, "aí estou eu no meio deles". É isso que distingue uma igreja de Deus das religiões denominacionais deste mundo. Não é precioso o fato que o Senhor se faz presente em cada reunião de seu povo?

Há tantos que gostaríamos de ver nas reuniões, e eles não vêm. Mas o Senhor está lá. Tantos crentes se ausentam por tão pouco. Mas o Senhor se faz presente.

Ele nunca está ausente em uma reunião do Seu povo.

Bom seria se compreendêssemos mais a importância disto! Não apenas a importância, mas também a realidade disto, pois Jacó, em Betel, confessou: "O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia" (v.16)! Não acontece conosco também, assim, muitas vezes? Uma reunião pode ser apenas uma formalidade para nós, quando perdemos o senso da presença de Deus. Podemos ir e vir sem notar que está ali, no nosso meio, o Senhor. Também nesta promessa do Senhor Jesus a ênfase está no fato que Ele está no nosso meio, e não tanto em que nós estamos na presença Dele. Se soubéssemos que o presidente da república estaria presente numa reunião, será que ficaríamos em casa? Como podemos negligenciar uma reunião em que o Senhor vem para o nosso meio? Que é isto, senão, uma ignorância espiritual da presença do Senhor entre nós?

 

2) A proteção de Deus - "e me guardar' (v.20b).

O coração de Jacó devia estar tão pesado quanto aquela pedra, sobre a qual ele reclinou o seu corpo cansado.

Fora os perigos normais da viagem, havia atrás de si a ameaça de seu irmão furioso, Esaú. Duas vezes nós lemos que nesta ocasião Jacó fugia de diante da face de seu irmão. É notável que na primeira vez é o Senhor quem fala a Jacó que ele fugia de Esaú (Gênesis 35: 1,7). O Senhor sabia dos seus temores, e da sua situação ali em Luz, que posteriormente passou a chamar-se, Betel. Mas era natural que Jacó se sentisse temeroso. Tinha consciência da gravidade do ultraje feito ao seu irmão quando lhe tirou a bênção da primogenitura, e sua consciência provavelmente comunicava à sua alma que aquele ato fora feito sem contar com Deus. Agora ali estava ele, enfrentando as conseqüências de seus próprios atos precipitados; solitário, cansado e temeroso. Entretanto, a manifestação graciosa e majestosa de Jeová naquele momento trouxe-lhe, junto com a percepção da presença do Senhor, a certeza também, da Sua divina proteção.

Jacó bem poderia ter recitado o Salmos 121 – o salmo do viajante - se o conhecesse: "O Senhor te guardará de todo mal; ele guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre" (v.7:8). Mas Jacó não o conhecia naquele momento, e não poderia imaginar que um dia estas palavras seriam escritas fazendo referência ao Senhor como "o guarda de Israel", isso mesmo, o seu próprio nome (Gên. 32:28)! Enquanto o angustiado Jacó reclinava-se sobre aquela pedra para dormir, o Senhor estava de vigia, velava por ele. Foi isto que Davi compreendeu, muito tempo depois desta experiência de Jacó, quando escreveu: "Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel" (Salmos.121:4).

O que foi uma realidade para Jacó, e para Davi, também é para nós, pois, o Deus de Jacó é o nosso mesmo, e imutável Deus. Judas, escrevendo sua pequena, mas profunda carta, dirige-se aos seus leitores chamando-os de "amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo" (versão atualizada). E no final de sua carta, sua doxologia expressa bem o interesse e o cuidado de Deus pelo Seu povo: "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, ao único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém?' (v.24,25).

 

3) A provisão de Deus - "e me der pão ... e vestidos ..." (v.20c).

Embora a situação de Jacó em Betel fosse aflitiva, e seu futuro incerto, é provável que houvesse, contudo, no seu coração, alguma perspectiva de um futuro melhor.

Entretanto, ele não poderia imaginar, neste momento, como Deus o faria prosperar a ponto de tomá-lo rico em fazenda e gado. Com a esplendorosa visão em Betel, sua alma, transcende a esfera terrestre deste mundo, como que subindo por aquela escada que erguia-se em direção ao céu, e em cujo topo estava o Senhor da Glória. Como resultado, suas ambições terrenas resumem-se em "pão para comer, e vestidos para vestir". Prega-se hoje o que se chama "evangelho da prosperidade", mas o voto de Jacó não visava prosperidade material, e suas palavras,  neste versículo, eram apenas a conclusão óbvia da alma que conhece o Deus de toda a graça. Pão para comer, e vestidos para vestir, é o mínimo entre as necessidades básicas da vida. E Jacó estava contente com isso.

Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo toca no mesmo ponto quando diz: "Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes". Este é o ponto de vista do homem espiritual quanto às necessidades básicas da vida. Um pouco antes, no versículo 6, Paulo falou a Timóteo sobre a "piedade com contentamento". É tão difícil estar contente com o básico em dias de tanto consumismo! Mas não estou querendo dizer que devemos fazer um "voto de pobreza" como os frades franciscanos católicos. Tampouco, que não podemos ter o que Deus permitir que tenhamos. A lição contida nestes versículos, bem como na experiência de Jacó, é que o homem espiritual tem uma avaliação correta entre as coisas terrenas e as celestiais. E este contentamento de que Paulo fala, e a ambição despojada de Jacó, são prerrogativas da alma que tem visto de perto o Deus da Glória. Não há dúvidas de que aquela manifestação de Jeová a Jacó, em Betel, calibrou sua visão, deu-lhe uma perspectiva correta das coisas materiais, mostrou-lhe as coisas desta vida através da ótica divina, e do prisma celestial.

 

4) A paz de Deus - "e em paz tornar à casa de meu pai" (v.21)

Como já vimos no início deste capítulo, o voto de Jacó não era condicional. Não havia dúvidas no coração de Jacó quanto à presença, à proteção, ou à provisão divina na sua viagem. Da mesma forma Jacó sabia, agora, que sua viagem seria bem sucedida, e que um dia ele voltaria. Seu único desejo além da presença, proteção e provisão de Deus, era paz na viagem de ida e de volta.

Paz ... uma pequena palavra com tão grande significado! O mundo aspira por paz, uma paz que nunca terá, e haverá um dia quando dirão, "paz, paz quando não há paz" (Jeremias 6: 14), "e quando disserem há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição" (I Tessalonicenses 5:3).

A verdadeira paz é a porção bendita daqueles que conhecem o Príncipe da Paz (Isaías 9:6). Nossa paz é o fruto de uma nova relação com Deus. Começa quando somos justificados dos nossos pecados. Então temos paz desde a sua origem, e a origem da verdadeira paz é "paz com Deus". "Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5: 1). Sem isso, somos como os ímpios: "Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz" (Isaías 57:21).

Para Jacó, aquela noite em Betel, trouxe-lhe paz junto com a presença de Deus. Ele continuou a sua viagem com os olhos fixos no Deus de Paz. Mas chegou o momento da prova, muitos anos depois. Nos capítulos 32 e 33 de Gênesis, o encontro temido com o temido Esaú é iminente. Lamentavelmente vemos Jacó mais uma vez temeroso, e lançando mão de seus expedientes e estratégias, a fim de apaziguar Esaú. Poderia ter descansado em Deus, reclinando-se em suas promessas, assim como reclinara-se sobre aquela rocha em Betel.

Mas graças a Deus que o Espírito Santo manteve um fiel registro na Sua palavra de toda a experiência de Jacó.

Sua fé, seu voto, o final grandioso deste homem de Deus, nos inspira e edifica. Mas também suas fraquezas o identificam conosco, e ensinam-nos que mesmo sendo fracos, como Jacó foi algumas vezes, nosso Deus permanece fiel.

Quando Jacó encontrou-se com Esaú, encontrou um irmão, e não um inimigo. Não foram seus presentes que aplacaram a ira de Esaú, pois, ele recusou-os todos.

Afinal, o Senhor não lhe havia prometido paz até retomar da sua viagem?

É porque somos tão fracos, ou mais, como Jacó que a nossa Bíblia está repleta de promessas de paz. Paz está contida na introdução e encerramento de várias epístolas no Novo Testamento. Temos na Bíblia "paz com Deus" (Rom. 5:1), "paz de Deus" (Romanos 1:7; Filipenses 4:7; Colossenses. 3:15), e "O Deus de paz" (Romanos 15:33; 16:20; Filipenses 4:9; I Tessalonicenses 5:23; Hebreus 13:20). Paz com Deus, e a paz de Deus são bênçãos preciosas que desfrutamos quando conhecemos, e temos conosco, o Deus de Paz.

Jacó O conheceu em Betel, seguiu com Ele, ou melhor, Ele seguiu com Jacó até Harã. Provou Jacó a fidelidade do Senhor em toda a sua viagem, não apenas de Berseba até Harã, mas durante toda a viagem da sua vida, até ao final.

Tudo isso produziu um efeito no coração de Jacó, e tão impressiva foi aquela visão que ele fez um voto naquele momento - o primeiro de que lemos na Bíblia.

Neste voto estavam envolvidos: O SEU DEUS, O SEU TESTEMUNHO, E OS SEUS BENS, respectivamente.

 

 

Capítulo 3

 

O Deus de Jacó

 

“... O Senhor será o meu Deus." (Gênesis 28:21)

 

O tríplice voto de Jacó começa com a promessa: "O Senhor será o meu Deus". Não é de admirar, pois, é a primeira vez que o Senhor aparece a Jacó. Ninguém menos do que o grande e eterno Jeová! Uma experiência assim produz resoluções no coração, e a resolução de Jacó era a de uma vida de submissão ao Senhor que a ele se manifestara. Durante sua jornada, possivelmente outros deuses surgiriam, mas para Jacó havia a decisão, o voto de obediência a um só Deus, o Senhor, o eterno Jeová. Assim, o coração de Jacó já estava em sintonia com o coração de Deus muitos anos antes da promulgação do decálogo, os dez mandamentos, sendo o primeiro mandamento aquele que diz: "Não terás outros deuses diante de mim".

Ao comunicar os dez mandamentos ao povo por Moisés (Êxodo. 20: 1-17), o Senhor começou com esta afirmação, "Eu sou o Senhor teu Deus...". Cinco vezes, entre os versículos 2 e 7, lemos as palavras, "O Senhor teu Deus". Passagens como Números 5:7, e Mateus 25:2, apresentam o número cinco ligado com a responsabilidade humana. O número cinco e seus múltiplos são muito destacados nas peças do Tabernáculo, o que sugere responsabilidade humana, e testemunho para com os homens. Qualquer voto, por si só, traz responsabilidade.

Quando feito ao senhor, muito mais ainda, pois, lemos em Números 30:2, "Quando um homem fizer voto ao SENHOR ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra; segundo tudo o que saiu da sua boca, fará". Portanto, as palavras de Jacó, "O Senhor será o meu Deus", sendo um voto, lhe trazia tremenda, e solene responsabilidade. É significativo que o Senhor não se esqueceu do voto de Jacó. Vinte anos se passaram, quando em Gênesis 31: 13 o Senhor lembra a Jacó: "Eu sou o Deus de Betel... onde me tens votado o voto".

E quanto a nós? Não vivemos sob este juramento desde a nossa conversão? Não firmamos este voto publicamente na ocasião de nosso batismo? Temos sentido o peso desta responsabilidade diariamente?

Vivemos em dias em que se multiplicam os "deuses" com seus apelos ao nosso coração. Pessoas carismáticas da mídia, coisas materiais, etc. O mundo está cheio de "deuses", e atrás deles está o "deus deste século" dizendo, "Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares" (Mat. 4:9).

Nem sempre percebemos que amar o mundo é uma forma de se prostrar diante de satanás. Quem sabe não seria tempo de renovar este voto através de humilde arrependimento? Talvez precisemos romper com o pecado nas nossas vidas dizendo como Jacó, "O Senhor Será o meu Deus". Talvez precisemos fazer uma limpeza em nossa casa dizendo também, "O Senhor Será o meu Deus". Quem sabe corrigir hábitos, e criar resoluções dizendo, "O Senhor será o meu Deus".

É notável que, quando Jacó chega ao fim de sua vida, o Espírito escreve acerca dele: "Pela fé, Jacó, próximo da morte... adorou encostado à ponta do seu bordão" (Hebeus 11:21). Aquele bordão que durante a longa jornada da sua vida sustentou as suas mãos, muitas vezes fracas e cansadas, agora toma-se um altar onde o coração adora reconhecendo um amparo maior. O que o Senhor prometeu em Betel, foi cumprido fielmente durante toda aquela viagem, e até aos momentos finais da vida de Jacó.

Admiravelmente Jacó também cumpriu seu voto. Toda a aflição daqueles vinte anos na casa de Labão; o triste e humilhante episódio com Diná, sua filha (Genesis 34: 1-26); a perda de sua amada Raquel no caminho de Efrata (Gênesis 48:7), e de seu pai Isaque logo a seguir (Gênesis 35:28,29); a esmagadora dor em seu coração quando foi levado a pensar que havia perdido seu amado filho José (Gen. 37:33-35), constituíram-se duros golpes que puseram à prova a integridade do seu coração quando votou dizendo "O Senhor será o meu Deus". Ele sabia que o eterno Jeová, "o Senhor seu Deus" fora o seu bem maior durante os seus "poucos e maus dias" (Gênesis 47:9).

Após todos esses anos ele termina os seus dias em adoração. Como será o fim dos nossos dias?

 

 

Capítulo 4

 

O Testemunho de Jacó

 

"Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna..."

(Gênesis 31: 13)

 

A segunda promessa no tríplice voto de Jacó está ligada com o seu testemunho. Ele ergue uma coluna, um memorial, marcando o lugar onde Deus se fez presente.

Colunas na Bíblia - e há várias - sempre nos falam de testemunho, bem como firmeza e estabilidade. Vários anos mais tarde Jacó retoma àquele lugar para erigir ali um altar também - provavelmente a partir daquela mesma pedra - (Gênesis 35:3,7). Se colunas na Bíblia nos falam de testemunho, os altares nos falam de adoração.

Nesta ocasião, Betel, que significa "Casa de  Deus", passa a ser chamada por Jacó, El Betel, cujo significado é, "O Deus da Casa de Deus. Assim, vemos como o homem que esteve na "Casa de Deus", após vários anos, e muitas experiências, agora possui uma mais íntima relação com o "Deus da Casa de Deus", erguendo um altar para adorar. Outra experiência importantíssima na vida dele foi aquela que se deu em Peniel, no vale de Jaboque. Mais uma vez o sol já se tinha posto. Mais uma vez ele achava-se solitário, temeroso, e fugitivo. Mais

uma vez, em tais circunstâncias, o Senhor se manifesta para Jacó. Agora ele não diz apenas, "O Senhor está neste lugar', mas, "Tenho visto a Deus face a face". É muito bom estar na casa de Deus; é melhor ainda conhecer o Deus da Casa de Deus. É interessante notar todas estas coisas ligadas com o testemunho de Jacó.

Voltando ao voto de Jacó, vemos como ele assumiu com Deus o compromisso de que aquela pedra que ele tinha posto por coluna seria "casa de Deus". Era uma forma metonímica de dizer que Deus habitaria ali. A expressão "casa de Deus" é usada em (I Timóteo 3: 15) para descrever a igreja, e muitas e preciosas lições ligadas com a igreja poderíamos tirar deste trecho. Mas também não é o propósito neste momento. Pensemos apenas nesta coluna de Jacó como uma figura do nosso testemunho, durante a nossa viagem neste mundo. Já vimos, acima, como várias coisas importantes estavam ligadas com o testemunho de Jacó, e podemos acrescentar ainda mais este detalhe: Jacó nunca esqueceria que uma vez estivera onde Deus, o Senhor, O Eterno Jeová, esteve presente.

Aquela pedra erguida seria um eterno memorial disso. Bom seria se o nosso testemunho fosse um constante memorial - como esta pedra - da presença do Senhor em nossa vida. Seria um bom compromisso com Deus se decidíssemos ser na prática ativa e constante, aquilo que somos realmente, em (I Coríntios 6: 19), "Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?". O Senhor habita em nós através do seu Espírito Santo. Não é significativo que no v.18, ao pôr aquela pedra por coluna, Jacó derramou azeite em cima dela? Também devemos notar que em Gênesis 31: 13, o Senhor lembrou este ato quando disse a Jacó, "Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna..."

O azeite na Bíblia é uma figura do Espírito Santo, e nosso testemunho no mundo deve ser como aquela coluna em Betel, sobre a qual, o azeite fora derramado.

Enquanto isso não for uma realidade prática em nossa vida, poderemos estar em Betel (Casa de Deus), mas nunca conheceremos “El Betel” (O Deus da Casa de Deus).

Antes de erguer um altar, e conhecer o verdadeiro sentido, da verdadeira adoração, precisamos ser como aquela pedra que foi ungi da pelo precioso azeite por Jacó. Vejo nisso uma figura do crente cedendo lugar ao Espírito Santo que nele habita. Muitas vezes dizemos que o Senhor está em nós; que o Espírito habita em nós. Mas isso realmente não aparece. No nosso testemunho transparece tanto do mundo, e tão pouco da presença de Deus que nossas palavras são apenas como o metal que tine! Talvez seja tempo de assumirmos o compromisso de Jacó: "O Senhor será o meu Deus", e "minha vida governada pelo Espírito Santo, será um memorial da Sua presença".

Há, ainda, outro detalhe que o Espírito Santo destaca sobre a pedra de Jacó em Betel. Lemos no v. 11 que Jacó "a pôs por sua cabeceira' (versão corrigida).

Outras versões, como a atualizada, por exemplo, dizem que Jacó a usou como travesseiro. Parece-me improvável que uma pedra do tamanho suficiente para se tomar uma coluna pudesse ser usada como travesseiro, no sentido que conhecemos. A palavra hebraica que Moisés usou para descrevê-la é, "mar'ashah", que significa "lugar junto à cabeça; cabeceira', portanto, me parece que a versão corrigida é mais correta na tradução. Sendo assim, podemos conjeturar que talvez Jacó tivesse usado esta pedra para duas finalidades:

1)- Escorar ou reclinar parte do seu corpo, e,

2)- Usá-la como um tipo de abrigo, contra o vento, por exemplo. As sugestões são interessantes quando as ligamos com nosso testemunho.

Figuradamente, temos aí um crente que mesmo angustiado, e enfrentando a noite na sua viagem por este mundo, encontra sempre um lugar sólido e estável onde descansar - uma rocha.

Já pensamos na situação e sentimentos de Jacó naquela viagem. Mas ele podia lembrar-se das palavras de Isaque, seu pai, abençoando-o antes que ele empreendesse aquela viagem: "E Deus Todo-Poderoso te abençoe" (v.3). E logo, ali mesmo naquele lugar, a bênção de Isaque encomendando-o a EL Shaday - O Todo Poderoso, seria confirmada por Jeová - O Eterno Deus dizendo-lhe, "E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores ... te não deixarei..." (v.15). O testemunho do crente neste mundo deve descansar na estabilidade e firmeza das promessas de Deus. A Sua Palavra deve ser a rocha em que nos apoiamos nos dias mais sombrios da nossa viagem.

A segunda sugestão também é interessante. A pedra que Jacó usou como um memorial da presença e habitação de Deus naquele lugar, foi também seu objeto de refúgio. O nosso testemunho neste mundo é importante, e deve ter um efeito preservador nas nossas vidas. Muitos são os perigos; muitas as tentações. O pecado tão de perto nos rodeia (Hebreus 12:1)! Deve haver no crente o instinto natural de preservação num mundo corrupto e mau, onde habita homens corruptos de entendimento (I Timóteo 6:5; II Timóteo 3:8). Façamos como Jacó: Assumamos um compromisso com Deus, de que só Ele, será o nosso Deus. Ergamos uma coluna em nossas vidas que indique claramente a presença de Deus, e a direção do Espírito Santo em nosso andar. Que esta coluna reflita a estabilidade espiritual daquele que vive por fé, descansado na Palavra de Deus. Que um voto assim nos preserve nestes dias maus da influência hostil e pecaminosa, do mundo que atravessamos.

 

 

Capítulo 5

 

Os Bens e Ja

 

"E de tudo quanto me deres, certamente te darei o dizimo."

(Gênesis 28:22)

 

O terceiro compromisso do tríplice voto de Jacó diz respeito aos seus bens materiais. Ao sair da casa de Isaque, seu pai, em Berseba, Jacó nada levou consigo, a não ser, o necessário para sua viagem. Trabalhou sete anos na casa de Labão por Raquel, sua amada, sendo enganado e recebendo Leia em vez de Raquel. Trabalhou então mais sete anos por Raquel. Na realidade foram catorze anos de trabalho duro por amor de sua amada Raquel. Depois disso, trabalhou mais seis anos pelo rebanho, de maneira que, ao final de vinte anos, Jacó já tinha prosperado o suficiente para tornar-se independente do seu astucioso sogro, Labão. Os capítulos subseqüentes de Gênesis mostram como Jacó adquiriu gado e riqueza em abundância. Era evidente a bênção de Deus sobre Jacó durante todos aqueles anos. Isto indica-nos que Jacó cumpriu também a última parte de seu voto, ou seja, o de dar ao Senhor os dízimos de tudo quanto recebesse. Jacó não estava confiante em si mesmo, pensando que prosperaria pelo seu próprio esforço. Ele diz no v.22, "E de tudo quanto me deres, certamente te darei o dizimo", e sua maneira de expressar-se mostra sua total dependência do Senhor, e o reconhecimento que toda bênção e prosperidade vem de Deus.

O Novo Testamento ensina-nos o suficiente para compreendermos que dar ao Senhor faz parte dos nossos privilégios como crentes. Talvez os capítulos mais interessantes sobre o assunto, na Bíblia, sejam os capítulos 8 e  9 de II Coríntios. Nestes capítulos, vemos como os crentes em Corinto já tinham decidido dar uma oferta para os cristãos pobres da Judéia. Paulo escreve lhes encorajando-os nisso, e entre outras coisas, cita o exemplo de outros crentes na Macedônia que fizeram o mesmo. Devemos notar naqueles dois capítulos cinco paralelos interessantes que há entre eles, e este compromisso de Jacó.

O primeiro está ligado com a graça.

O segundo com a generosidade.

O terceiro com a devoção.

O quarto com a consagração.

O quinto com a recompensa.

 

 

Capítulo 6

 

A Graça no Voto de Jacó

 

"Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia."

(II Coríntios 8:1)

O primeiro paralelo está ligado com a graça de Deus. Ao citar o exemplo dos crentes da Macedônia para os da igreja em Corinto, Paulo destaca, em primeiro lugar, a graça de Deus. É assim que ele descreve em II Coríntios 8: 1 a iniciativa dos macedônios em dar ao Senhor:

"Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia". Estes crentes eram o resultado da graça de Deus operando pelo Evangelho. A mesma graça que salva o pecador, faz dele também um vaso santo para o uso do Senhor. Antes de admirarem a liberalidade e generosidade dos irmãos da Macedônia, os crentes que foram socorridos deveriam glorificar a Deus por sua bondade e misericórdia. Por isso lemos também nos versículos 12 e 13: "Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também abunda em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como na prova desta administração glorificam a Deus ...". Aquele que dá, o faz porque aprecia a graça de Deus, e aquele que recebe aprecia também a graça de Deus.

Mas onde entra Jacó neste paralelo? Pense naquele Jacó estressado, solitário, temeroso, e fugitivo em Betel.

Imagine os sentimentos e as dúvidas que reclinam-se com ele naquela pedra. E de repente, num momento, a escuridão do pôr do sol cede lugar à refulgente glória, e majestade do Senhor. Aquele cuja viajem tem a incerteza como perspectiva, de repente vê o céu aberto, e uma escada em cujo topo está o Eterno Jeová. Que visão para quem pouco via pela frente! Que é a presença do Senhor em tais circunstâncias, senão, uma tremenda manifestação da graça de Deus? Sai de Berseba apenas com o desejo de Isaque, seu pai, de que o Todo Poderoso o abençoe na viagem, e agora ouve as palavras do Eterno Jeová: "Eis que estou contigo... ". Que Deus se manifestaria desta maneira, e num momento como esse, senão, "O Deus de toda graça" (I Pedro 5: 10)?

Foi esta gloriosa manifestação de graça da parte de Deus que provocou em Jacó aquilo que estamos considerando como, o voto de Jacó. Sua decisão de servir ao Senhor somente, seu desejo de nunca esquecer Dele, e seu compromisso em dar a Ele o dízimo de tudo, era fruto da graça de Deus, antes de qualquer coisa. Oh, se  tivéssemos uma maior apreciação da graça de Deus em nossas vidas! Nossos corações se abririam, nossas mãos se abririam, tal como os céus em graça se abriram ante os olhos de Jacó!

 

 

Capítulo 7

 

A Pobreza no Voto de Jacó

 

"como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade"

(II Coríntios. 8:2)

O segundo paralelo encontramos no capítulo 8:2 de II Coríntios, onde lemos sobre os crentes macedônios, "como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade". Já notamos como Jacó nada tinha, também, a não ser o necessário para sua viagem quando tomou a decisão de dar os dízimos de tudo o que o Senhor lhe desse.

 

Não precisamos ser ricos pra dar ao Senhor.

Mesmo sendo pobres, podemos sempre dar algo ao Senhor, e muitas vezes, é do pouco que temos que o Senhor se serve para produzir bênção, tal como no exemplo daquele rapaz em João 6:9 que tinha apenas cinco pães de cevada e dois peixinhos. Neste episódio de João 6, aprendemos que Deus pode servir-se do pouco para produzir muito. Se cada igreja, e mesmo cada crente individualmente, contribuísse com apenas um pouco na obra de Deus, certamente muito mais poderia ser feito.

 

Talvez, o mais notável exemplo de dar ao Senhor tenhamos no caso daquela viúva em Lucas 21 :2, que deu ao Senhor duas pequenas moedas. O Espírito Santo registra naquele capítulo que o Senhor viu-a lançar aquelas moedas, e que era tudo que ela tinha. Neste episódio aprendemos mais duas lições importantes e fundamentais nesta questão: Uma é que o Senhor vê, nota, o que fazemos para Ele. E a outra é que para Deus importa a "qualidade" do que damos, mais do que a quantidade.

 

 

Capítulo 8

 

O Coração no Voto de Jacó

 

"Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram

voluntariamente... E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus."

(II Coríntios 8:3,5)

 

O terceiro paralelo vemos na comparação do voto de Jacó com II Coríntios 8:3. Ali no final do versículo nós lemos que os crentes da Macedônia "deram voluntariamente". Mais uma vez Jacó antecipa-se à Lei de Moisés quando determina dar os dízimos de tudo que recebesse ao Senhor. Assim, vemos que seu voto foi voluntário também nesta parte. Era a manifestação de um coração reconhecido, e grato a Deus, por suas bênçãos.

Homens espirituais são marcados pela liberalidade com que honram a Deus com os seus bens. Não estamos, hoje, debaixo da lei da imposição de dízimos, e isso aumenta ainda mais o privilégio de sermos voluntários, e liberais, com os nossos bens.

Em Êxodo 35, a congregação de Israel no deserto iniciou a construção do Tabernáculo. Foi uma grande obra, aquela; grande e dispendiosa. Mas aquela obra foi possível porque havia homens e mulheres como os que lemos nos vs.21, 22 e 29: "E veio todo o homem, a quem

o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou, e trouxeram a oferta alçada ao Senhor para a obra da tenda da congregação... e assim vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração... todo o homem e mulher, cujo coração voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o Senhor ordenara se fizesse ... aquilo trouxeram os filhos de Israel por oferta voluntária ao Senhor". Coração e espírito voluntários; homens e mulheres. Quanto poderia ser feito na obra de Deus com esta conjugação!

O quarto paralelo entre Jacó, e II Coríntios 8, ensina-nos que dar ao Senhor é fruto da nossa

consagração. O que motiva o homem espiritual a dar para a obra de Deus não é um recibo para dedução do imposto de renda, não é a autopromoção do orgulho, não é o reconhecimento dos homens. Tampouco é o mero desejo de suprir uma necessidade. O maior motivo do crente que anda perto do Senhor é o amor que constrange o coração, ou, numa palavra, consagração. Mais uma vez Paulo lembra dos macedônios no v. 5, e ao fazer isso destaca a consagração deles: "... a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor. ..".

Esta é a ordem correta. Primeiro o coração ao Senhor, depois as mãos para os crentes. Sua oferta para os crentes necessitados nada mais era do que o reflexo de uma entrega devotada ao Senhor. Não é isso que vemos também na atitude de Jacó? O seu voto começa com o compromisso assumido pelas palavras, "O Senhor será o meu Deus". Começa por onde deveria começar. Dar o dízimo de tudo era a conseqüência natural da sua devoção ao Senhor. Qual era o tamanho da devoção e consagração de Jacó? Lemos em Gênesis 28:22, "... e de TUDO quanto me deres, CERTAMENTE te darei o dizimo".

 

 

Capítulo 9

 

A Recompensa no Voto de Jacó

 

"Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, afim de que tendo sempre,

em tudo, toda a suficiência,  abundeis em toda a boa obra."

(II Coríntios 9:8)

 

Em II Coríntios 9:8 a 11 temos o quinto e último paralelo com Jacó. Paulo enfatiza aos Coríntios que Deus abençoa aquele que devotadamente dá ao Senhor. Sem dúvida, os crentes da Macedônia não ficaram mais pobres quando deram ao Senhor. E também os coríntios não ficariam, pois, "Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra" (v. 8).

Não foi assim com Jacó? Já vimos que ele saiu de Berseba apenas com o necessário para sua viagem. Em Betel ele esperava apenas ''pão para comer, e vestidos para vestir', mas ao voltar a Betel, alguns anos depois, e até ao fim de sua vida, ele era possuidor de grande fazenda, e gado em abundância. Havia devoção no coração de Jacó. Havia decisão voluntária. E o Senhor providenciou para que houvesse também abundância no cumprimento de seu voto.

Cinco paralelos entre a determinação de Jacó em dar ao Senhor, e II Coríntios capítulos 8 e 9. Lembremo-nos, mais uma vez, do significado do número cinco na Bíblia: "Responsabilidade humana". Já vimos como Jacó não estava obrigado pela lei a dar o dízimo, pois ainda não havia a lei. Já vimos como para Jacó, dar ao Senhor era uma decisão voluntária, devotada, e constrangida pela graça de Deus. Era, portanto, um privilégio, tanto quanto o é para todo o crente, hoje. Mas era também um voto, um voto ao Senhor; um compromisso solene. Uma grande responsabilidade. Mais do que um privilégio, uma responsabilidade; mais do que uma responsabilidade, um grande privilégio!

Eis aí o voto de Jacó. Está na Bíblia como um grande desafio para nós. Quem vai encará-lo?

 

FIM

 

 

 

 

 

 

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