O Senhor dos Exércitos

Introdução

Os capítulos do presente livro chamam nossa atenção à grandeza e a nitidez do “único Deus verdadeiro” (Jo 17:3). Os diversos títulos da divindade usados no Velho Testamento descrevem aspectos e atributos diferentes da Pessoa divina. Há um grupo de palavras designativas usadas com o nome divino “Jeová” que descrevem as características que pertencem a Ele. A lista a seguir apresenta os mais comuns, e estes, junto com outros, foram analisados no cap. 6 deste livro:

Gn 22:14 — Jeová-Jireh, o Senhor Proverá;

Êx 15:26 — Jeová-Rapha (Jeová-Ropheka), o Senhor que Sara;

Êx 17:8-15 — Jeová-Nissi, o Senhor é Nossa Bandeira;

Jz 6:23,24 — Jeová-Shalom, o Senhor é Nossa Paz;

Sl 23:1 — Jeová-Ra-ah (Jeová-Ro’i), o Senhor é Meu Pastor;

Jr 23:6 — Jeová Tsidkenu, o Senhor Nossa Justiça;

Ez 48:35 — Jeová-Shama, o Senhor Está Ali.

Além desta lista acima há a maneira tripla em que o nome supremo Jeová é composto para descrever a Pessoa divina. Primeiro temos Jeová Elohim, traduzido como “Senhor Deus”; depois temos Adonai Jeová, traduzido “Senhor Deus”, e em terceiro lugar Jeová Sabaoth, traduzido “Senhor dos Exércitos”. É importante notar o uso de letras maiúsculas e minúsculas nas traduções acima mencionadas. Os tradutores têm tomado cuidado para enfatizar a distinção dos títulos divinos pelo uso correto e consistente de letras maiúsculas e minúsculas através de toda a Bíblia.

A dignidade do título divino

A primeira menção da expressão “exércitos do Senhor” é em Êxodo 12:41, onde temos o relato da redenção da nação de Israel, no final do longo período de quatrocentos e trinta anos de peregrinação na terra do Egito. Já foi destacado, muitas vezes, que havia um aspecto duplo da libertação de Israel do Egito, o primeiro aspecto sendo a redenção pelo sangue que é apresentada no cap. 12, seguido da redenção pelo poder que é registrado nos versículos finais do cap. 13. Num estudo completo deste capítulo, a ênfase no título divino “Senhor dos Exércitos” estará no fato que Deus é o todo Poderoso; o Deus de poder infinito. Entretanto, não é sem importância que antes de qualquer referência ser feita ao grande título, temos uma afirmação impressionante do que o poder de Deus fez para a nação, redimindo-a e livrando-a. Como um povo redimido e tirado do Egito, eles são descritos de uma forma nova e diferente. É importante notar as várias descrições de Israel em Êxodo cap. 12: “congregação de Israel” (vs. 3, 19) e “os filhos de Israel” (vs. 27, 31, 35, 37, 40). Mas foi com a dignidade oficial conferida a eles por Jeová que eles saíram do Egito: “E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito” (v. 41). Deus não somente os redimiu, mas conferiu-lhes a dignidade do Seu nome; eles foram chamados de “os exércitos do Senhor”.

Nos nossos dias, a posição, em graça, dos redimidos pelo sangue de Cristo, é de uma dignidade ainda maior. O apóstolo Paulo, escrevendo aos santos em Éfeso, descreve a grandeza da sua posição em Cristo. “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (1:7). Podemos ter uma apreciação da grande dignidade conferida aos santos dos nossos dias ao lermos os primeiros quinze versículos de Efésios cap. 1. O propósito divino na era atual tem elevado aqueles que têm crido no Evangelho a uma posição de glória futura impossível de se imaginar.

O significado do título divino

O título Jeová Tsebahoth (o Senhor dos Exércitos) é o assunto específico deste capítulo. Este título aparece em diversos contextos do Velho Testamento, mas somente duas vezes no Novo Testamento. Um estudo cuidadoso das passagens onde esta descrição de Jeová é usada revela os recursos impressionantes de poder e força que estão sob o controle de Jeová, o Senhor dos Exércitos. Isto fica evidente desde a primeira menção deste título divino, e continua até a sua última menção. Em todo o Velho Testamento os tradutores usaram uma variedade de palavras para traduzir o nome hebraico Jeová-Tsebahoth. Em Números 1:3 Tsebahoth é traduzido “exércitos”, e em Números 4:23 “o serviço”. Depois, em Jó 14:14, é traduzido “meu combate”. Destas, e de muitas outras referências, fica claro que as condições de guerra, conflito, fraqueza humana e necessidade estão em vista quando a palavra é usada. Portanto parece que Deus insiste em assegurar o Seu povo do poder que pertence a Ele, e do nome especificamente relevante que Ele tem neste aspecto.

A declaração do título divino

Uma característica interessante em relação ao título Senhor dos Exércitos está no fato que, intercalados entre a grande quantidade (aproximadamente 266) de referências no Velho Testamento, existem pelo menos treze que contem uma declaração especifica de ênfase. A declaração é: “O Senhor dos Exércitos é o Seu nome”. Através destas referências, fica claro que Deus deseja que o Seu povo entenda a importância e relevância deste aspecto específico do Seu nome. Não podemos considerar cada uma das treze referências neste capítulo, mas uma seleção das últimas quatro, na profecia de Isaías, será usada para ilustrar seu valor. As referências restantes podem ser proveitosamente estudadas individualmente pelo leitor interessado.

A primeira das referências em Isaías se encontra em 47:3-4, onde o profeta está revelando a derrota do poder e do mal da Babilônia. Fica claro que esta vitória, sendo o juízo final sobre tão grande inimigo, só pode ser conseguida através de um grande poder: “Tomarei vingança, e não pouparei a homem algum. O nosso redentor cujo nome é o Senhor dos Exércitos, é o Santo de Israel”.

A segunda tem uma ênfase semelhante nas palavras de Isaías à “casa de Jacó” no tempo da sua desobediência e teimosia contra o Senhor. “E até da santa cidade tomam o nome e se firmam sobre o Deus de Israel; o Senhor dos Exércitos é o seu nome” (Is 48:2). A nação sabia que Ele era o Deus de Israel, mas não tinha apreciado de forma prática, ou descansado sobre, o recurso divino que habitava entre eles. Os versículos que seguem revelam claramente sua ignorância intencional da ajuda que poderiam ter recebido de Deus. Precisamos reconhecer que nos nossos dias também somos culpados de esquecer do poder que está disponível a nós. Muitos fardos são carregados desnecessariamente, porque não colocamos em prática as palavras de Pedro: “Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade porque Ele tem cuidado de vós” (I Pe 5:7). Talvez Pedro, ao escrever estas palavras, se lembrasse das suas palavras faladas anos antes quando, junto com os outros discípulos, ele perguntou: “Não se te dá que pereçamos?” (Mc 4:38). Naquela ocasião eles haviam questionado o Seu cuidado, mas Pedro havia aprendido a lição, como vemos no versículo que citamos.

A terceira ilustração do assunto em pauta é dada pelo mesmo profeta. “Porque eu sou o Senhor teu Deus, que agita o mar, de modo que bramem as suas ondas. Senhor dos Exércitos é o seu nome” (Is 51:15). Mais uma vez Deus fala com a nação por intermédio de Isaías, e relatos de atos passados no relacionamento de Deus com a nação são repetidos pelo profeta. Nos primeiros versículos, é mencionado o chamado soberano feito a Abraão para sair de Ur dos Caldeus, e por ele toda a nação foi chamada. Como nação eles tinham grande poder. A Babilônia, apesar de toda a sua ciência e glória, era somente “caverna do poço”. No versículo acima citado há um lembrete de outro grande poder, quando o mar foi fendido, embora as ondas rugissem. Não é de admirar que nesta altura temos novamente a declaração: “o Senhor dos Exércitos é o seu nome!” O israelita libertado seria capaz de apreciar este poder em redenção, primeiro pelo sangue, no Egito, e depois pelo poder, no Mar Vermelho. O filho de Deus pode se regozijar na palavra dita aos santos em Colossos: “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Cl 1:13-14).

A quarta e última vez que encontramos a expressão “o Senhor dos Exércitos é o seu nome” em Isaías, é também a mais significativa. Encontra-se em Isaías 54:5, que vem logo depois da grande profecia da morte, sepultamento e ressurreição do Messias de Israel, o Senhor Jesus Cristo. Aqui o futuro de Israel é assegurado, e o relacionamento íntimo que fora danificado pelo fracasso da nação é transformado na condição da esposa restaurada de Jeová: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”. A abrangência dos termos usados neste versículo nos faz pensar dos dias do milênio, e do reino eterno. Que poder e habilidade pertencem ao “Senhor dos Exércitos”.

A distinção do título

Isto é visto especialmente na grande gama de referências a este título através da Bíblia. Temos dezenove referências nos livros históricos, e catorze no livro dos Salmos. Estas catorze referências são as únicas nos livros poéticos do Velho Testamento. De entre os profetas maiores (assim chamados) temos sessenta referências em Isaías, oitenta e uma referências em Jeremias, e nos profetas menores (como são chamados) temos um total de noventa e uma referências. Temos algumas referências isoladas, espalhadas aqui e ali, e também nove referências em Amós, doze em Ageu, quarenta e seis em Zacarias, e dezessete em Malaquias. No Novo Testamento temos apenas duas referências. Uma característica específica revelada nos números acima é que este título é reservado exclusivamente para o Velho Testamento, com exceção das duas referências no Novo Testamento. Há uma razão específica por certos livros enfatizarem o poder do Senhor dos Exércitos, e vamos considerar algumas destas referências agora.

Isaías e Jeremias, sem dúvida, têm o maior número de referências. Isaías tem pelo menos sessenta, e Jeremias pelo menos oitenta e uma referências a este importante título. Devemos enfatizar que não será possível, neste capítulo, tratar detalhadamente todas estas passagens, mas podemos destacar algumas. Um ponto a considerar é que este título divino importante não é encontrado nos outros (assim chamados) profetas maiores, Ezequiel e Daniel. Parece que Deus, na Sua soberania, claramente permitiu que o cativeiro acontecesse; na verdade era parte do programa divino, portanto, era necessário que eles passassem por estes tempos difíceis, sem a direção de Deus. Deus os colocou sob o controle de homens ímpios como uma medida de punição para a nação que, num dia futuro, irá passar pelos sete anos da Tribulação. Temos um princípio semelhante nas igrejas do Novo Testamento. Quando um cristão é culpado de pecado grave e é excluído da comunhão, ele é transferido da esfera espiritual da igreja para o mundo. Este é o significado das palavras do apóstolo Paulo: “E entre estes foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (I Tm 1:20).

Isaías

A primeira referência se encontra no primeiro capítulo desta profecia, e revela o estado da nação naquele tempo: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra” (1:9). A condição de Judá e Jerusalém foi descrita nos versículos iniciais deste capítulo, e este versículo parece enfatizar que o poder e grandeza do Senhor dos Exércitos não somente abrange a destruição dos inimigos do povo de Deus, mas também a preservação do remanescente de Israel, se for a Sua vontade. O Deus da Bíblia é um Deus de propósito soberano, portanto, nem sempre Ele quer usar os exércitos incontáveis de israelitas para obter uma vitória. Nesta ocasião Ele havia permitido que muitos fossem destruídos devido ao seu fracasso e pecado, mas Ele não estava tratando com o Seu povo como com os ímpios. O remanescente não estava livre de fracasso, e precisava da mão disciplinadora de Deus, e as Suas palavras a eles, através do profeta, são fortes, no decorrer do cap. 1. Fica claro que apesar deles estarem trazendo ofertas para o altar, estas não estavam de acordo com sua situação espiritual, e Deus por causa disto estava magoado. 

A segunda menção do título por Isaías indica uma recuperação pretendida: “Portanto diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos, o Forte de Israel … vingar-me-ei dos meus inimigos. E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escorias … restituirei os teus juízes, como foram dantes” (vs. 24-26). Assim temos o poder da restauração nacional predita. Apesar do fracasso haverá restauração, e o propósito divino de Jeová será realizado para o povo escolhido de Deus.

Os mesmos princípios serão vistos nos caps. 5 e 6, com uma nova dimensão. No cap. 5 temos a ilustração da condição triste e ímpia da nação, descrita como “minha vinha”, e no próximo, uma santa Pessoa divina assentada sobre um trono. O cap. 5 apresenta claramente uma cena terrestre, e o cap. 6 uma cena celestial. Em ambos os capítulos temos uma referência ao Senhor dos Exércitos. No primeiro, Ele é descrito como o dono da vinha, e os homens de Judá são a planta de suas delícias (v. 7), mas no capítulo seguinte os serafins claramente identificam aquele que está assentado sobre o trono como o Senhor dos Exércitos. Aqui devemos explicar que a referência a “exércitos” nem sempre se refere a uma cena militar. Na verdade a primeira vez que a palavra é encontrada na Bíblia pode bem ser que esteja se referindo a partes da Criação, ou a seres da Criação que não pecaram. Em Deuteronômio 4:19 a referência obviamente é ao Sol, a Lua e estrelas, etc. A figura da vinha é para enfatizar o fracasso, e a repetição sêxtupla da expressão “ai” no capítulo ilustra a condição caída da nação. O capítulo seguinte, que é melhor conhecido, revela o padrão divino de santidade em contraste com as condições em que o povo de Deus se encontrava. Mesmo assim, a verdade do altar e do sacrifício revela o meio pelo qual Jeová podia e iria conceder restauração. Mais um componente desta recuperação está no ministério de Isaías, o profeta, e nas confirmações que ele buscou em Deus em relação ao cativeiro iminente.

Jeremias

É interessante notar que Isaías serviu ao Senhor no seu ministério para com Judá como um profeta, mas a ênfase do ministério de Jeremias era como sacerdote. Estes dois servos serviram antes dos setenta anos de cativeiro de Judá na Babilônia. Entretanto, quando chegou o momento do cativeiro, Deus tinha outros dois servos para estarem com eles na Babilônia. Daniel o profeta serviu a Deus principalmente dentro dos palácios reais, mas Ezequiel o sacerdote supriu as necessidades espirituais da nação no meio dos cativos, algumas vezes junto ao rio Quebar (Ez 1:1). Isto nos dá um paralelo interessante com o início da experiência de Israel no cativeiro do Egito. Ali eles foram ajudados pelo profeta Moisés, que foi criado no palácio de Faraó, e pelo sacerdote Arão, que estava entre o povo. Como temos notado, há oitenta e uma referências ao Senhor dos Exércitos no livro de Jeremias. Como na profecia que antecede, Jeremias começa com a triste condição da nação no seu fracasso, e no primeiro capítulo temos sua comissão dada por Jeová para o seu serviço. O título “Senhor dos Exércitos” não aparece até o capítulo dois, e se espalha mais através da profecia do que na profecia de Isaías. Em geral, é dirigida a Jeremiais individualmente, como que para encorajá-lo no seu ministério. Possivelmente isto é devido à natureza sensível do próprio profeta, que é descrito como o profeta chorão. Ele havia escrito anteriormente: “os meus olhos entristecem a minha alma” (Lm 3:51). Esta e outras afirmações feitas pelo profeta revelam a sua discrição natural.

Podemos ver facilmente que haveria grande incentivo para o servo de Deus no fato dele ser fortalecido e capacitado pelo Senhor dos Exércitos, aquele que é grande em poder. Jeremias já havia sido informado das circunstâncias difíceis que ele teria de enfrentar, mas a sua fé estava firme no seu Deus. A palavra divina havia chegado até ele: “Portanto assim diz o Senhor Deus dos Exércitos: Porquanto disseste tal palavra, eis que converterei as minhas palavras na tua boca em fogo, e a este povo em lenha, eles serão consumidos” (5:14). Assim ele havia sido encorajado por Deus desde o início.

Devemos lembrar que o tempo do ministério de Jeremias era ainda mais perto do tempo do cativeiro que o ministério de Isaías, e que vários detalhes sobre o seu início são apresentados nesta profecia. Vemos isto nas palavras de Jeová ao profeta: “Porque o Senhor dos Exércitos, que te plantou, pronunciou contra ti o mal, pela maldade da casa de Israel e da casa de Judá, que para si mesma fizeram, pois me provocaram à ira, queimando incenso a Baal” (11:17). Esta afirmação é uma amostra das muitas acusações feitas contra a nação, e pelas quais a nação foi finalmente levada ao cativeiro.

Devemos dar crédito a Jeremias, pelo fato dele ter aceitado as palavras faladas a ele como sendo as palavras do próprio Deus. Claramente, esta aceitação não fez o servo de Deus popular entre o povo a quem ele as comunicou. Sua aceitação estava no fato que ele conhecia e amava a Palavra de Deus, e desejava obedecer o Senhor que ele tanto amava. “Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado ó Senhor Deus dos Exércitos” (15:16). Há muito aqui para educar e guiar o povo de Deus nos dias de hoje. Os servos de Deus podem, muito facilmente, ser negligentes no ensino da verdade transmitida por Deus. Há uma necessidade, nos dias de hoje, de fidelidade na proclamação da Palavra de Deus.

Os avisos de julgamento sobre Judá e Jerusalém soam alto nos capítulos centrais de Jeremias. O cap. 32 registra as circunstâncias em que Zedequias, rei de Judá, aprisionou Jeremias na corte da prisão, que ficava na casa do rei de Judá. Este encarceramento foi a reação de Zedequias à profecia de Deus, enviada a ele através de Jeremias. A história interessante da compra de um campo em Anatote, que era uma das cidades de refúgio na terra de Benjamim, é uma história que prova a fé de Jeremias na verdade da Palavra de Deus. Jeremias comprou o campo porque a sua fé em Jeová estava firme. A promessa de Deus também era firme. “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Toma estas escrituras, este auto de compra, tanto a selada, como a aberta, e coloca-as num vaso de barro, para que se possam conservar muitos dias. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, e campos e vinhas nesta terra” (32:14-15). Aqui vemos não só fé mental nas promessas de Deus, mas também a verdadeira fé que está preparada para descansar plenamente na promessa divina. Apesar do reino de Judá estar sob o controle da Babilônia, o profeta estava disposto a crer nas promessas dadas a ele por Deus. A base real desta fé estava no Senhor dos Exércitos, o Todo-Poderoso.

Dentro do mesmo contexto, temos a firme convicção de libertação do cativeiro da Babilônia. Apesar dos longos anos de cativeiro, e também do aparente impenetrável controle da Babilônia, as palavras de Deus, por intermédio do seu servo, confirmam a realidade da mudança, e a libertação vindoura: “A voz de gozo, e a voz de alegria, a voz do esposo e a voz da esposa, e a voz dos que dizem: Louvai ao Senhor dos Exércitos, porque bom é o Senhor, porque a sua benignidade dura para sempre; dos que trazem ofertas de ação de graças à casa do Senhor; pois farei voltar os cativos da terra como ao princípio, diz o Senhor” (33:11). A conclusão clara destes versículos é que o grande poder e bondade do Senhor dos Exércitos era o responsável pelas grandes bênçãos que estavam em vista para eles. Os versículos restantes, até o final do capítulo, também são de leitura muito proveitosa. Jeová, por meio de Seus mensageiros, está estimulando os corações e mentes dos homens e mulheres para anteciparem as glórias que Deus havia preparado para eles. Esta mensagem de Deus para o Seu povo antigo deveria ser lida cuidadosamente pelos santos dos dias atuais, que também têm perspectivas maravilhosas. Nos nossos dias existe o perigo das glórias associadas ao futuro serem negligenciadas no ministério, e a esperança viva da segunda vinda de Cristo para buscar os Seus e levá-los ao Céu é mencionada com menos frequência do que em dias passados. Tal ministério ajudará o filho de Deus a apreciar a perspectiva e descansar nesta promessa durante a sua peregrinação neste mundo. 

Outra lição importante é encontrada nos capítulos que descrevem o desejo que estava no coração daqueles que haviam decidido deixar a terra de Israel. Aqui deveríamos explicar que estes eram o remanescente que fora deixado em Israel depois de muitos outros terem sido levados para a Babilônia. Passado algum tempo, eles expressaram a Jeremias o desejo de partir e ir para o Egito. Os versículos iniciais do cap. 42 revelam algumas das conversas que aconteceram. Depois do profeta ter levado o pedido deles a Deus, ficou claro que eles não deveriam deixar a terra, e que sair dela seria desobediência: “Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Como se derramou a minha ira e a minha indignação sobre os habitantes de Jerusalém, assim se derramará a minha indignação sobre vós, quando entrardes no Egito; e séries objeto de maldição, e de espanto, e de execração, e de opróbio, e não vereis mais este lugar. Falou o Senhor acerca de vós, ó remanescente de Judá! Não entreis no Egito; tende por certo que hoje testifiquei contra vós” (42:18-19). Uma leitura das passagens apropriadas revelará o triste resultado da desobediência. Aqui podemos ver a diferença entre o poder da desobediência e o poder do Senhor dos Exércitos, o Todo-Poderoso. Estas lições importantes do Velho Testamento são pertinentes nos dias atuais. Nas Sagradas Escrituras o Egito sempre foi uma figura realista do mundo. Por meio da comparação, todos os que conhecem o Senhor Jesus como Senhor e Salvador devem estar cientes da tremenda invasão do mundo, tanto na vida pessoal como no testemunho coletivo dos santos. A maneira como vivemos e os lugares que visitamos são testes importantes da influência do mundo sobre nós. Os lares do povo de Deus deveriam dar testemunho do que somos e a Quem pertencemos. E, como o povo de Deus nos dias de Jeremias, nós também temos um poder disponível para nos manter numa vida de verdadeira santidade. Outros inimigos de Israel estavam a espreita, mas não temos tempo nem espaço para tratar destes em detalhes.

Uma consideração final em Jeremias está perto do final do livro: “Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Eis que castigarei o rei da Babilônia, e a sua terra, como castigarei o rei da Assíria. E farei tornar Israel para a sua morada, e ele pastará no Carmelo e em Basã; e fartar-se-á a sua alma no monte de Efraim e em Gileade. Naqueles dias, e naquele tempo, diz o Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; e os pecados de Judá, mas não se acharão; porque perdoarei os remanescentes que eu deixar” (50:18-20). A passagem mencionada merece uma leitura cuidadosa. Jeová está olhando para trás e vendo a história da nação e dos reinos ímpios. As nações cruéis e orgulhosas, que tinham agido contra o povo de Deus, eram especificamente a Assíria e a Babilônia, e é claramente prometido que haverá um dia de castigo. Devemos notar que a linguagem de Jeová é relativa ao futuro, pois ainda não aconteceu, mas quando Deus fala sempre há certeza. Sem uma exposição detalhada, temos aqui um princípio irrefutável. Deus irá completar o Seu designo e propósito divino. Israel e Judá serão um, e serão eternamente abençoados, e seus inimigos castigados. Fica claro nestas passagens que há, nos propósitos de Deus, um futuro glorioso para Israel. O Novo Testamento descreve uma posição semelhante para os santos do dia presente: “Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder” (II Ts 1:6-7). É bom lembrar que o dia da recompensa e descanso já está determinado, e virá no momento determinado, primeiro para a Igreja, e pelo menos sete anos mais tarde para Israel. Todo o programa divino será cumprido na sua íntegra de acordo com o propósito soberano de Deus.

Ageu

Cada uma das oito referências ao Senhor dos Exércitos nesta curta profecia é usada em relação à construção da Casa de Deus em Jerusalém. Esdras, o sacerdote, havia sido chamado e levantado por Deus para dirigir um grupo de cativos judeus do seu lugar na Pérsia até Jerusalém, para reconstruírem a Casa de Deus. A obra havia progredido bem até que houve interferência por parte dos inimigos de Israel, e a obra parou completamente por um período de aproximadamente catorze anos, um período que fica entre o último versículo de Esdras cap. 4 e o primeiro versículo do cap. 5. Neste tempo os dois profetas, Ageu e Zacarias, profetizaram, e o resultado imediato foi que os construtores recomeçaram a construir, e logo a obra foi terminada. Fica claro nas palavras do primeiro mensageiro, Ageu, que as mensagens que ele trouxe foram todas enviadas pelo Senhor dos Exércitos. Primeiramente foram palavras de repreensão, para as quais houve uma resposta positiva, e a construção foi retomada. É encorajador notar que Jeová, o Todo-Poderoso, deu grande incentivo aos que reagiram tão bem, e Esdras 6:15 relata que em pouco tempo a Casa de Deus estava terminada. Há um grande paralelo nesta informação do Velho Testamento para incentivar os santos dos nossos dias no seu trabalho nas atividades da Casa de Deus. A verdade da igreja local não é apreciada nos dias de hoje como deveria ser. Cada testemunho local ao nome do nosso Senhor Jesus Cristo merece receber todo o esforço sincero e leal tanto, em participação como certamente em comparecimento.

Zacarias

Neste livro temos quarenta e seis menções do título divino “o Senhor dos Exércitos”. É importante notar que Zacarias era o segundo dos dois profetas que aparecem em Esdras cap. 5, e os versículos iniciais daquele capítulo enfatizam o fato que ambos os profetas não apenas profetizaram, mas também trabalharam junto com os outros construtores. Eles eram homens práticos, que serviam a Deus e ao Seu povo da melhor maneira possível. Os dois profetas parecem ser bem diferentes, mas trabalhavam juntos. O ministério e dom de Ageu parece ter sido exortativo, enquanto que o ministério e o dom de Zacarias parece ter sido convincente e de ensino. Ambos estavam sob o poder do Senhor dos Exércitos. Ao olharmos às datas apresentadas para o seu ministério, elas se entrosavam mas não revezavam. 

É evidente que ambos os profetas ministravam e trabalhavam sob o poder do Senhor dos Exércitos. Na era atual, a capacitação para o serviço é o poder do Espírito Santo de Deus. É de conhecimento geral que o único homem no Velho Testamento em quem o Espírito Santo habitou foi Bezalel, que foi assim capacitado para projetar obras habilidosas, trabalhar com ouro e prata e cobre, lapidar pedras, engastá-las e entalhar madeira, e trabalhar em todo tipo de arte. O poder e a capacitação do Senhor dos Exércitos não era restrito ao ministério público dos profetas, era também para o trabalho físico dos que estavam reconstruindo a Casa de Deus. Mais uma vez podemos ver que o poder divino era necessário para ouvir e atentar para as grandes visões entregues a Zacarias nos primeiros seis capítulos do livro. O leitor do livro de Zacarias, hoje, pode facilmente esquecer que oito visões foram entregues para um povo que estava fazendo serviço prático! Acompanhando as visões, há uma série de mensagens doutrinárias do Senhor dos Exércitos. Todos estes fatos indicam a importância do poder divino no nosso entendimento da Palavra de Deus. Ler a Bíblia no poder da carne não é suficiente. Também, enquanto muitos têm sido ajudados por vários escritores humanos, é necessário que haja poder divino para ler e apreciar a revelação de Deus aos homens. O livro de Zacarias tem capítulos finais notáveis, que revelam as maravilhosas glórias preparadas por Deus para o Seu povo terrestre. Não poderiam ter sido dadas ou compreendidas sem o poder divino do Senhor dos Exércitos, o Todo-Poderoso.

Malaquias

Este livro registra os detalhes da nação de Israel cerca de oitenta anos depois da sua grande restauração, registrada em Neemias cap. 8. O início do livro deixa claro que havia apatia e desobediência espiritual por todos os lados. Eles estavam questionando a Deus e deixando de servi-lO. Malaquias, o mensageiro do Senhor dos Exércitos, traz uma série de avisos nos quatro capítulos, e um forte apelo é feito aos líderes espirituais, os sacerdotes. O livro inicialmente mostra o declínio espiritual na nação, e posteriormente revela a causa: os sacerdotes, que eram os líderes espirituais, haviam dado o exemplo de declínio. Muitas vezes é dito que nenhuma nação é superior aos seus líderes, e o mesmo se aplica à esfera da igreja local. O livro de Malaquias apresenta o apelo final feito à nação para a sua restauração espiritual. Cerca de quatrocentos anos mais tarde o Senhor Jesus Cristo veio ao mundo. Temos dezessete referências ao Senhor dos Exércitos no livro todo. Nos dias atuais, o cristão espiritual pode perceber os padrões se rebaixando em todas as esferas. Até mesmo o mundo religioso tem dispensado a Bíblia. Há uma forma de piedade, mas há também uma negação do seu poder. Os salvos atuais têm uma responsabilidade de permanecer firmes.

Romanos 9:29

Esta grande epístola do Novo Testamento é a exposição do evangelho de Deus acerca do Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Ela contém somente uma referência ao Senhor dos Exércitos (Tsebahoth). A referência é uma citação de Isaías 1:9, que já foi considerada neste capítulo. A citação no versículo que estamos agora considerando é para mostrar a verdade de um remanescente que foi preservado nos dias de Isaías, e reconhecido como uma evidência da soberania de Deus em relação a Israel. É um pensamento semelhante à graça de Deus em preservar um remanescente do Seu povo para o futuro da nação. Em ambos os contextos, o poder do Senhor dos Exércitos é supremo.

Tiago 5:4

Este versículo é o único outro versículo no Novo Testamento que usa o título “o Senhor dos Exércitos”. A referência é muita apropriada; como os trabalhadores dos campos não estavam recebendo o seu pagamento correto, eles não tinham recurso terrestre de justiça. Mas embora os seus clamores estavam sendo ignorados pelos ouvidos terrenos, eles chegaram aos ouvidos mais importantes do Senhor dos Exércitos (Tsebahoth). Aquele que tudo vê, o Onipotente, o Deus poderoso, ouvira e responderia.

A exigência do título divino

Tendo considerado Deus no Seu título divino “Senhor dos Exércitos”, é importante, ao terminarmos, levar em conta os seguintes fatos:

Nosso Deus é o único que tem absoluto poder e controle sobre todo o Universo; isto inclui toda a panóplia dos exércitos celestiais e categorias de autoridade e poder invisíveis.

Este grande poder de Deus se estende além das hostes do bem no mundo invisível; assim os poderes que Satanás e suas hostes exercem hoje são permitidos por Deus (Lc 4:6).

Este conhecimento deveria incentivar o cristão e gerar mais confiança e dependência em Deus. Foi neste espírito que Davi falou com Golias: “Eu venho a ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel … hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão … e toda a terra saberá que há Deus em Israel” (I Sm 17:45-46). Ao obedecermos a Deus e andarmos de acordo com a Sua vontade, Ele estará conosco e do nosso lado.

Com isto há um desafio, porque sabemos que o contrário é verdade. Se desobedecemos e desrespeitamos o Senhor, então Ele tem todos os recursos necessários para nos castigar e nos trazer à conformidade com a Sua vontade.

O imenso recurso de grande poder também traz grande conforto ao filho de Deus, que sabe que Ele preservará um remanescente fiel para trazer honra e glória ao Seu nome.

Que o Senhor nos capacite a desfrutar da comunhão com o Senhor dos Exércitos.

 - Por James R. Baker, Escócia

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