O Pecado de Sodomia

O pecado de sodomia
 
James R. Baker
 
Introdução
 
A palavra "sodomia" é geralmente usada para descrever práticas carnais não naturais, mencionadas pela primeira vez em Gênesis 18 e 19, em relação a Sodoma e Gomorra. Mais especificamente refere-se ao termo mais comum, "homossexualidade". Veremos mais adiante se estamos certos em igualar estes dois pecados. Encontramos outras referências a este pecado específico em várias partes da revela- ção progressiva da Bíblia. As referências principais serão consideradas neste artigo.
 
Referências no VT
 
Gênesis 19
A primeira menção do desprazer divino contra Sodoma e suas práticas é en- contrado em Gênesis, onde lemos: "Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se com efeito têm praticado segundo o seu clamor, que é vindo até mim; e se não, sabê-lo-ei" (Gn 18:20-21). Aqui, o pecado de Sodoma é descrito como sendo muito grave e detestável ao coração de Deus. A natureza deste pecado é esclarecida no capítulo seguinte, quando dois mensageiros angelicais visitaram a casa de Ló. Ao chegar à tarde daquele dia memorável, a casa foi cercada pelos homens da cidade, e seu pedido específico e arrogante a Ló foi que ele trouxesse os dois hóspedes para fora: "E chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos" (19:5). A expressão "os conheçamos" é vital no contexto do nosso assunto, e seu uso nestes versículos é fundamental para descobrirmos se a palavra "sodornia" é uma descrição correta da palavra moderna "homossexualidade".
O termo "conhecer" é empregado de um modo muito geral em várias partes da Bíblia, e também em toda a literatura sagrada e profana. Por isso alguns argu- mentam que a passagem em Gênesis 19 tem sido mal entendida, e usada para criar preconceitos cristãos contra a homossexualidade. Um dos principais protagonistas desta opinião foi Bailey, um estudioso anglicano cujo livro, escrito no início da déca- da de 1950, influenciou a mudança nas leis britânicas em relação a este assunto. Ele afirmou que o acontecimento narrado em Cênesis 19 teria sido um tipo de "estupro em gangue". De um ponto de vista mais fundamental, ele argumentou que o pe- dido dos homens de Sodoma para "conhecer" os hóspedes angelicais que estavam na casa de Ló, era meramente no sentido de conhecê-los socialmente. Contudo, dizer isto deste texto revela uma falta de compreensão sobre a clareza das Escrituras. É verdade que a palavra "conhecer" é usada muitas vezes no sentido social de formar amizades, mas há passagens onde o contexto deixa bem claro que tem uma conotação muito diferente. De fato, como os exemplos bíblicos seguintes provam, esta mesma palavra "conhecer" foi usada num sentido bem específico três vezes em Gênesis 4, antes de aparecer nas Escrituras com um sentido geral. Lemos: "E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim" (v. 1); novamente: "E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu (v. 17)"; também no penúltimo versículo do capítulo: "E tornou Adão a conhecer a sua mu- lher". Obviamente, em cada um destes casos, não é mera amizade que está em vista. A palavra fala de um ato de intimidade física entre um marido e sua esposa, que nes- tes casos resultou no nascimento de filhos. Aqui, então, temos a chave para as pala- vras dos homens de Sodoma; eles queriam que Ló trouxesse os homens para fora da sua casa para que eles pudessem praticar atos de intimidade física, não naturais, com eles. Este é o grave pecado mencionado por Jeová em Gn 18:20. Evidentemente Ló sabia o que os homens de Sodoma queriam, e na sua grande aflição lhes disse: "Meus irmãos, rogo-vos que não façais mal; eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos; somente nada façais a estes homens, porque por isso vieram à sombra do meu telhado" (19:7-8).
No mesmo tempo em que a obra de Bailey foi publicada, outro escritor cha- mado Ukleja escreveu: " ... esta cena em Gênesis 19 fica quase ridícula se Ló, ouvin- do que aqueles homens queriam somente conhecer socialmente os hóspedes que es- tavam na sua casa, dissesse o que lemos em Gn 19:7-8! No v. 8 o mesmo verbo yâda, no particípio negativo, é usado para descrever as filhas de Ló como 'não tendo co- nhecido' um homem. O verbo aqui, obviamente, significa 'ter relações sexuais com', e não pode significar simplesmente 'conhecer socialmente'. Em literatura narrativa como esta seria improvável usar o mesmo verbo com sentidos tão diferentes, tão perto um do outro, a não ser que o autor destacasse bem a diferença. Assim, nos vs. 5 e 8 a palavra 'conhecer' deve ser entendida como 'ter relação sexual com'. O contexto não permite qualquer outra interpretação"Também é importante notar que Josefo, o historiador judaico secular, se refere a Gênesis 19 e às "práticas sodomitas" comuns em Sodoma naquele tempo. Uma leitura superficial da sua citação revela, com clareza, a sua compreensão da natureza daquilo que estava sendo praticado ali. O Senhor revela a Sua intolerância do pecado de Sodoma nos acontecimen- tos que seguiram: "Aqueles homens [os hóspedes angelicais], porém, estenderam as suas mãos e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta; e feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, desde o menor até o maior, de maneira que se cansaram para achar a porta" (19:10-11). O juízo de Deus caiu especificamente sobre aqueles homens que agiram com intento tão mau, mas foi também com vistas à destruição total das cidades envolvidas: "Porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem aumentado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo ... Então o Senhor fez chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra" (19:13, 24). O juízo de Jeová, específico e intenso, foi visto na destruição destas cidades ímpias da planície, e tanto os profetas como também os escritores do NT mencionam este juízo.
 
Juizes 19
Outro exemplo incontestável do uso específico desta palavra "conhecer" é en- contrado num incidente semelhantemente notável e triste, descrito em Juízes 19. Naquele capítulo lemos de um levita, sua mulher e seu servo, que faziam uma viagem e chegaram à cidade de Gibeá, e foram hospedados na casa de um senhor idoso daquela cidade. A narrativa começa com uma cena de hospitalidade oriental normal, que logo foi interrompida dramaticamente: "Estando eles alegrando o seu coração, eis que os homens daquela cidade (homens que eram filhos de Belial) cercaram a casa, batendo à porta; e falaram ao ancião, senhor da casa, dizendo: Tira para fora o homem que entrou em tua casa, para que o conheçamos" (v. 22). Qpão grave e triste ver que aqui o pecado de Sodoma estava sendo praticado em Israel por homens ímpios, "filhos de Belial". Eles estavam agindo exatamente como os ho- mens de Gênesis 19. O fato de que pediram o homem, e não as mulheres, confirma as suas intenções malignas e anormais, e os versículos que seguem comprovam isto:
"E o homem, dono da casa, saiu a eles e disse-lhes: Não irmãos meus, ora não façais semelhante mal; já que este homem entrou em minha casa, não façais tal loucura. Eis que a minha filha virgem e a concubina dele, vô-las tirarei fora; humilhai-as a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos; porém a este homem não façais essa loucura" (vs. 23-24). Os pecados de Sodoma e Gomorra, que tão cedo na história do mundo receberam o juízo divino, continuavam 1.800 anos depois; e mais lamentavelmente ainda, estavam sendo praticados numa cidade ocupada pela tribo de Benjamim. O povo escolhido de Deus se tornou moralmente contaminado, chegando ao mesmo nível desnatural dos gentios ao seu redor. Assim podemos ver que depois da queda, com o passar do tempo, o pecado, em todas as suas formas pervertidas, estava se espalhando pela raça humana.
 
Levitico 18
Já estava registrado em Gênesis 19 que Deus revelara a Sua repugnância pela prática de sodomia muito antes de a Lei ser dada, e Ele tinha também derramado o Seu juízo contra aquelas duas cidades, porque continuaram no seu pecado. Mal sabiam aqueles homens de Sodoma que os próprios homens que eles desejavam para seus propósitos ímpios seriam o instrumento usado para trazer cegueira e destruição sobre eles e sobre as suas cidades.
Agora, ao considerarmos a era em que a Lei de Deus foi dada, vemos que esta conduta imoral no Seu povo redimido era totalmente inaceitável a Jeová. O que Deus já tinha revelado como detestável, pelos Seus atos e Sua atitude de juízo, agora é estabelecido na Sua Santa Escritura como uma transgressão da Sua Lei. No co- meço deste capítulo lemos: "Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos" (Lv 18:3). Eles deveriam ser um povo separado e santo. Quando chegamos ao assunto específico de sodomia, lemos: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é" (18:22); também lemos: "Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fize- ram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles" (20:13). Aqui vemos, com clareza, que esta prática foi declarada pelo Criador como anormal, impura e contra o mandamento de Deus e, por isto, é chamada de abominação. Também lemos nos livros da Lei: "Não haverá prostituta dentre as filhas de Israel; nem haverá sodomita dentre os filhos de Israel" (Dt 23:17). Na consideração destas passagens do VT, podemos ver como Jeová declara ao Seu povo, com grande cla- reza, que esta atividade anormal e carnal era detestável a Ele e totalmente proibida entre o Seu povo Israel. Esta é a afirmação da Lei de Deus sobre este assunto.
Apesar de tudo isso, surgiram argumentos procurando diluir estas claras afir- mações divinas. Alguns dizem que o tema destas passagens é apenas a pureza ritual, e não a justiça de Deus. Querem dizer com isto, que estas passagens não condenam a homossexualidade em si, mas a identificação, por Israel, com as práticas religiosas das nações ao seu redor. Dizem que a questão é de identidade religiosa e não da justiça de Deus. Citamos Ukleja, que diz: "Contudo, este tipo de argumento tem grandes falhas. Em primeiro lugar, falha ao supor que a pureza ritual e a pureza moral estão sempre separadas. Aqueles que usam este argumento dizem que os ca- pítulos 18 e 20 de Levítico não tratam de ética ou moralidade. Mas, se fosse assim, teríamos de concluir que adultério também não é imoralidade (Lv 18:20); e também que o sacrifício de crianças não tem implicações imorais (18:21), e que não há nada de errado com bestialidade (18:23). A verdade é que a pureza ritual e a pureza moral, muitas vezes, andam juntas".
Além deste comentário útil, devemos notar atentamente que todo o conteúdo da apresentação de verdades nestas partes da lei é baseada firmemente na justiça de Deus, que Ele deseja que seja refletida nos Seus redimidos. Entremeio as passagens que temos considerado em Levítico 18 e 20 estão as palavras: "Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo" (19:1-2). Estas palavras não fo- ram faladas apenas aos sacerdotes, mas a toda a congregação de Israel. Portanto, temos aqui, dentro do contexto da lei moral dada a Israel, ensino claro sobre o mal de sodomia e sobre o juízo de Deus contra este pecado.
 
A intenção divina no matrimônio original
Antes de deixar a nossa consideração sobre as referências do VT em relação a este assunto, é importante lembrar que estas passagens estão em pleno acordo com o propósito divino, revelado desde o princípio, para conservar tanto a santidade do matrimônio como da família. Estes princípios estabelecidos desde o começo de Gênesis são o alvo dos ataques satânicos hoje em dia. Vamos orar para que Deus possa guardar e promover estas verdades em nossos dias.
 
Referências à Sodomia no NT
 
Romanos 1
Olhando agora para Romanos 1 vemos, nos vs. 1-17, o assunto do Evangelho de Deus e depois, do V. 18 em diante, o início de uma parte sobre a culpa do homem que continua até 3:20. Nos vs, 18-32 o apóstolo trata de dois assuntos específicos:
 
i) A rejeição do testemunho de Deus na criação, pela humanidade;
ii) A reação de Deus à desobediência da humanidade.
 
Nesta passagem vemos a revelação da ira de Deus contra o homem por causa da sua impiedade e injustiça. Homens na sua injustiça subjugaram a verdade a eles revelada. A criação original é o meio usado pelo Deus invisível para revelar a Sua existência e poder. Sem entrar em detalhes, podemos ver que o argumento revela que desde o princípio o homem tem rejeitado este testemunho de Deus de Si mes- mo e que, por isto, Deus agora considera o homem sem desculpa. Deus sabe que o homem tem ouvido e entendido o Seu testemunho divino, mas o tem rejeitado. Os versículos que seguem mostram que a humanidade, pelo menos de três maneiras, agiu em rejeição, e como conseqüência disto, Deus os entregou aos seus pecados.
Em primeiro lugar lemos que "mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível" (v. 23); isto é, fizeram ídolos. E a resposta divina foi: "Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações" (v. 24). Depois: "mudaram a verdade de Deus em mentira", isto é, ado- raram a criatura e não o Criador (v. 25). E a segunda resposta divina foi: "Por isso Deus os abandou às paixões infames" (v. 26). A terceira coisa foi que "eles não se importaram de ter conhecimento de Deus", isto é, não tinham lugar nos seus pensa- mentos para Deus. Temos a resposta divina final no v. 28: "assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém".
Podemos resumir estes três passos da seguinte maneira:
 
AREVELAÇÃO DIVINA A REJEIÇÃO DO HOMEM A REAÇÃO DIVINA
O DEUS INVISÍVEL REVELADO (20) MUDARAM A SUA GLÓRIA EM SEMELHANÇA DE IMAGEM (23)  DEUS OS ENTREGOU AS CONCUPCIÊNCIAS (24)
O ETERNO PODER E DIVINDIDADE CLARAMENTE VISTOS (20) MUDARAM A VERDADE DE DEUS EM MENTIRA (25) DEUS OS ABANDONOU A PAIXÕES INFÂMES (26)    
O CRIADOR, QUE É BENDITO ETERNAMENTE (25) NÃO SE IMPORTARAM DE TEREM CONHECIMENTO DE DEUS (28) DEUS OS ENTREGOU AO UM SENTIMENTO PREVERSO (28)
 
 
Podemos ver que os vs. 24-28 são uma contribuição doutrinária importante para o nosso assunto. A rejeição, por parte do homem, do fato e existência de Deus lhe dá um sentimento falso de estar livre de qualquer responsabilidade ao Criador divino que está sobre tudo. Também lhe dá uma impressão falsa de liberdade moral perante o mesmo Deus Criador. Os pecados mencionados aqui têm marcado a humanidade desde a queda, e estão muito presentes hoje. Agora devemos considerar a que Deus os entregou.
 
Às concupiscências (vs. 24-25)
Como já notamos, o homem conheceu a Deus desde o princípio, e a Sua glória foi especificamente revelada na criação. Aqui aprendemos que embora conscientes desta glória do Deus incorruptível, eles se desviaram dEle e mudaram o alvo da sua adoração em imagens corruptíveis, feitas pelas suas próprias mãos, na forma de homens e aves e animais, e assim se tornaram idólatras. A idolatria sempre traz imoralidade, pois a condição moral do homem sempre será um reflexo do caráter do deus que ele adora. Deus os dera a capacidade de escolha moral, e eles escolheram seguir os desejos dos seus corações, portanto Deus os entregou às suas concupiscências. O resultado naquele tempo, e hoje, é visto ao desonrarem os seus corpos entre si. O mesmo princípio é visto nas palavras de Estêvão: "E naqueles dias fizeram o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo, e se alegraram nas obras das suas mãos. Mas Deus se afastou e os abandonou a que servissem ao exército do céu" (At 7:41-42). A adoração da criatura se refere não somente ao ato de prostrar-se perante um ídolo, mas também às práticas ímpias das "paixões infames" que vamos considerar agora.
 
Às paixões infames (vs. 26-27)
Vemos, claramente, a progressão moral decrescente no desenrolar desta passagem. "A verdade de Deus" refere-se à verdade da existência do Deus verdadeiro em contraste com os deuses da idolatria. A "mentira" mencionada é a apresentação daqueles deuses feitos pelos homens como se fossem o verdadeiro Deus. Bruce, no seu comentário, faz aqui um paralelo entre esta mentira e a mentira do homem do pecado em II Ts 2:9-12. É verdade que no dia futuro, mencionado por Paulo em Tessalonicenses, o homem do pecado fará sinais e prodígios de mentira para enganar a nação de Israel a aceitá-lo como o verdadeiro Cristo: "E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira" (II Ts 2:10-11). Aqui vemos que, no final, a atitude dos homens será exa- tamente como foi no princípio, e que a resposta de Deus também será a mesma. E assim Deus os abandonou às suas paixões infames. Este é o âmago da passagem, que revela a profundidade da iniqüidade descrita. Aqui a referência é especifica- mente às "suas mulheres", que são mencionadas primeiro, na prática de mudar o uso natural naquele que é contra a natureza. A próxima expressão ("semelhantemente também os homens") revela que ambos os sexos estavam envolvidos em várias for- mas anormais de atividade sensual depravada. Ambos são descritos como mudan- do, ou deixando, "o uso natural" e de "se inflamar em sua sensualidade uns para com os outros". Kelly diz o seguinte: "Nesta descrição gráfica e sombria deste qua- dro humilhante ... o vaso mais fraco vem primeiro, porque ali a falta de vergonha humana estava mais evidente, e a perversidade humana foi provada mais completa e sem esperança. O apóstolo, na língua original, nem condescende em chamá-los de mulheres e homens, mas de 'fêmeas' e 'machos', indicando que eram até inferiores aos animais, abandonados por Deus, e mesmo agora recebendo a recompensa que convinha aos seus feitos".
Aqui, então, temos a descrição e a condenação de Deus da sodomia. Os gover- nos humanos, em vários lugares, têm legalizado aquilo que ainda é sujeito ao juízo presente e futuro de Deus.
 
A um sentimento perverso (vs. 28-32)
Cada uma das três afirmações de Deus os entregar ou abandonar é em res- posta a três áreas morais nas quais eles já tinham abandonado a Deus e o domínio próprio que vem do temor de Deus. Cada passo em declive, destacado na passagem, demonstra o espírito rebelde do ser humano. Devemos notar que ao abandoná-los, Deus não desejava, nem os estava encorajando a fazer as coisas vis mencionadas; Ele também não cessou de condenar os seus atos.
Aqui vemos que "não se importaram de ter conhecimento de Deus". Excluir Deus dos seus pensamentos combinou com o seu estilo ímpio de vida. Por isso "Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm".
 
A palavra "perverso" aqui significa "sem juízo ou discernimento". A melhor explicação disto está no v. 32, que vem logo depois de uma lista detalhada de coisas que caracterizaram estas pessoas após serem entregues por Deus. Mesmo sabendo que estas coisas merecem o juízo de Deus, eles continuaram com suas práticas terríveis, e achavam prazer em outros que também as praticavam.
Esta passagem notável de Romanos 1 nos dá, em detalhes, a história da con- dição imoral da raça humana desde o princípio, e as mesmas características aqui descritas estão muito em evidência nos nossos dias. Nas partes do mundo onde o Evangelho de Jesus Cristo tem sido pregado e muitas almas salvas, há um certo controle, mas a Bíblia revela que o seu auge final será alcançado quando o homem do pecado aparecer, e chegará ao seu fim quando o Filho de Deus voltar ao mundo em poder e glória.
 
I Coríntios 6
Vamos considerar apenas os vs. 9-11, onde o apóstolo fala daqueles que não herdarão o reino de Deus. Eles são chamados de "os injustos". Nesta classe estão incluídos os "adúlteros", "efeminados" e "sodomitas".
Adúlteros. Estes são os que, tendo se casado ao fazerem os seus votos solenes na presença de Deus, poluíram e violaram o seu casamento por terem entrado em outro relacionamento físico e íntimo com uma pessoa, que não é seu marido ou esposa. Esta prática é agora tão comum na nossa sociedade que é considerada, por muitos, como um comportamento normal.
Efeminados. Estes são homens que vivem e agem como mulheres. J. N.
Darby traduz: "aqueles que se fazem mulheres", e W Kelly: "aqueles que se abusam como se fossem mulheres". Novamente vemos, hoje em dia, que toda a distinção clara entre os dois sexos está sendo cada vez mais corroída.
Sodomitas. Esta é uma referência clara ao pecado tratado neste artigo. Refere- se a Lv 18:22; 20:13 e I Tm 1:10.
Todos estes pecados estão classificados entre aqueles que caracterizam os ho- mens e mulheres que não herdarão o reino de Deus, mas que estarão sujeitos ao juí- zo de Deus. Muitos dos corintios tinham praticado estes pecados mas, agora, depois da sua salvação, as suas vidas eram diferentes.
 
I Timóteo 1
Paulo está escrevendo a Timóteo sobre ensinadores que andavam entre as igrejas locais querendo fazer com que os santos voltassem a guardar a lei. Embora repro- vando tais homens, ele mostra que a lei em si é boa, pois é o meio pelo qual o pecado
é reconhecido, e o padrão pelo qual o pecado é julgado.
É neste ponto que, incluído numa lista que descreve muitas formas de males, encontramos mais uma menção dos "sodomitas" (v. 10). Assim, temos aqui nova- mente o assunto que estamos considerado, e este pecado aparece, novamente, en- tre os pecados que caracterizam os injustos e obstinados, os ímpios e pecadores e profanos. Enquanto seja verdade que a companhia em que um homem anda nem sempre o corrompe, freqüentemente revela o que ele realmente é. Aqui encontra- mos o pecado de homossexualidade onde ele realmente pertence. A Bíblia não fala deste pecado como sendo uma fraqueza física, e também não há nenhuma evidência bíblica para culpar influências genéticas.
 
O propósito de Deus para o corpo do salvo
Muitos lugares nas Escrituras revelam vários aspectos de ensino sobre as dis- tinções entre os componentes físicos e espirituais do corpo humano. Bem cedo na história do testemunho cristão surgiram grandes diferenças de opinião, e aqueles que defendiam extremos errôneos começaram a propagar o seu ensino, e as epísto- las foram escritas para corrigir tais ensinos. Um extremo ensinado era que o corpo deveria ser tratado com grande severidade, até ao ponto de negar-lhe o alimento normal e sujeitá-lo a um nível anormal de abuso físico. O outro extremo ensinava que todos os desejos do corpo, até os sensuais, deveriam ser atendidos. Estes ensina- dores usavam muito o lema: "Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos" (I Co 6:13).
Esta situação foi usada pelos apóstolos para ensinar os novos convertidos sobre o uso correto do corpo. Por exemplo, em Colossenses 2 achamos instruções quanto ao uso correto do corpo: "Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimen- tos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas de homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne" (CI2:20-23). No capítulo seguinte aprendemos que há certos aspectos de atividade física do corpo que precisam ser controladas na vida do salvo; somos incentivados a "mortificar" certos males corporais e a nos "despojar" deles (veja C13:5, 8). Em outras partes recebemos também ensinos positivos que nos ajudam a entender que o corpo do salvo é a habitação de Deus: "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (I Co 6:19-20), e "rogo-vos, pois irmãos pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12:1). A conclusão deste ensino é que o corpo de cada salvo é um santo templo onde o Espírito Santo habita, e que esta verdade deve ser demonstrada através de um viver santo e uma devoção no serviço de Deus.
Uma igreja local pode receber na comunhão um homossexual praticante?
Ao traçar o pecado de sodomia desde a sua origem, chegamos à conclusão que é algo detestável a Deus. Historicamente, temos visto que foi condenado e julgado por Deus, e descrito como uma abominação ao Senhor. Também, temos aprendido que é uma evidência do estado não regenerado da humanidade, e que quando alguém crê em Cristo este estado e posição mudam porque, como filho de Deus, ele é lavado, santificado e justificado. Também, vemos claramente que o corpo do salvo é um templo onde o Espírito Santo de Deus habita.
A comunhão numa igreja local é completamente incompatível com esta ativi- dade pecaminosa. Uma vez que este pecado for descoberto na igreja local, haverá o reconhecimento de que há "fermento" na massa (I Co 5:6-7). Uma situação como esta precisa ser remediada, e aprendemos como fazer isto neste mesmo capítulo de I Coríntios. Obviamente, isto deve ser acompanhado de profunda tristeza, e com o desejo sincero da recuperação espiritual daquele que pecou.
 
 
A vontade de Deus. a vossa santificação (I Ts 4:1-9)
 
THOMAS WILSON
 
Entre as primeiras indicações que temos da seriedade de pecado sexual, está o aviso que Deus deu a Abimeleque, o rei de Gerar, num sonho: "Eis que morto serás por causa da mulher que tomaste; porque ela tem marido" (Gn 20:3). Aquela notícia espantou todo o palácio, pois compartilhavam do pensamento do rei de que o juízo de Deus sobre este pecado poderia destruir, não apenas o seu rei, mas também a nação toda. Parecia que Abimeleque, na linguagem de I Ts 4:6, tinha de- fraudado Abraão, seu hóspede. Também é notável como Deus discerniu os atos de Abimeleque ao confirmar que o rei tinha agido com integridade de coração quando confiou na palavra de Abraão de que Sara era sua irmã. Sem esta intervenção divina ele teria pecado em ignorância. Fica bem claro que o pecado de defraudar alguém em assuntos sexuais era pecado grave naquele tempo.
Infelizmente, hoje em dia, a estrutura moral da sociedade é tão baixa que o pa- drão dos dias de Abraão não existe. Apesar da lei de Moisés e do fortalecimento dos seus padrões nos ensinos elevados do Senhor em Mt 5:19-48, e enfatizados também pelos apóstolos, o mundo gentio não é mais um mundo onde um Abimeleque reina. Além disso, os santos de todos os tempos têm sucumbido às tentações que José en- frentou, e que humilharam Davi (Gn 39:7-12; II Sm 11:1-5). Em I Ts 4:1-8, Paulo coloca perante os gentios salvos a importância da santificação numa sociedade imo- ral, uma exigência que os apóstolos e anciãos na assembléia em Jerusalém já tinham explicado aos gentios salvos da idolatria (At 15:20, 29).
Ao apresentar esta verdade sobre a santificação, o apóstolo não faz menção da- quelas decisões tomadas em Atos 15, que "pareceram bem ao Espírito Santo e a nós". Ele indica aqui que o andar cristão é contrário àquele que caracterizava o mundo gentio e também o mundo em que vivemos hoje (v. 5). Ele mostra como o andar cristão na luz de Deus sendo revelado em Cristo está relacionado com:
i) O prazer de Deus - vs, 1-2
ü) A vontade de Deus - vs, 3-6 iü) O chamado de Deus - V. 7 iv) O dom de Deus - V. 8
cc) O ensino de Deus - V. 9
À luz destes argumentos, como é vergonhoso qualquer tentativa de rebaixar o padrão divino do andar cristão!
 
A vontade de Deus
o mandamento de Paulo tinha sido entregue aos tessalonicenses quando ele estivera entre eles (v. 2). Não foi meramente um conselho que ele deu, mas um man- damento dado pela autoridade do Senhor Jesus Cristo, e ele esperava que fosse repassado de um santo para outro. Eles deveriam ter sabido que o Senhor iria estabelecê-los "irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos" (3:13). Assim, como poderiam ficar surpreendidos ao saber que a vontade de Deus para eles era a sua santificação pre- sente (v. 3)? Esta santificação foi explicada, aos leitores, pelo apóstolo em três frases:
i) "que vos abstenhais da prostituição" (v. 3);
ii) "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (v. 4); iii) "que ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum" (v. 6).
A primeira frase é semelhante aos termos da assembléia em Jerusalém (At 15:20,29). A proibição da prostituição (fornicação) incluiria uma grande variedade de relacionamentos sexuais ilícitos. O contexto não exclui o adultério, o inclui, e também inclui a atividade homossexual. A segunda e terceira frases definem, res- pectivamente, os limites de conduta em relação a cada santo individual e o seu próprio corpo; e em relação a cada santo e seu irmão.
Um salvo deve dominar seu corpo, não somente no sentido de I Co 9:27: "sub- jugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado". Por razões positivas, e também negativas, ele deve controlar o seu corpo especificamente em relação aos seus desejos sexuais. Positivamente, o seu corpo deve estar ligado com "santificação e honra" (v. 4). Como estes dois substantivos são qualificados por uma única preposição no gre-
go, temos reforçada a verdade de que Deus tem prazer na santidade. Negativamente, viver uma vida dissoluta "na paixão da concupiscência" é viver como os gentios (v. 5). Percebemos quão vergonhoso é este estado pela frase do apóstolo: "que não conhe- cem a Deus". Os gentios idólatras serviam a deuses que eram personificações das suas próprias ambições e desejos. Como resultado, a lascívia dos gentios era "incontrolável", às vezes levando uma sociedade inteira aos juízos de Sodoma e Gomorra (Gn 19), e de Pompéia e Herculano nas encostas do Vesúvio. A ignorância dos gen- tios produzia uma vida imoral; a revelação divina exige uma vida santa!
O Deus que não tem prazer na morte dos ímpios encontra prazer no Seu povo quando eles mantém os seus corpos "em santificação e honra".
No v. 6 outro assunto importante é tratado: "Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum". O texto original não diz "negócio algum", mas como diz a ARA: "Nesta matéria, ninguém ofenda, nem defraude a seu irmão". Paulo está tratando de um só assunto neste trecho. A tradução de J. N. Darby diz: "não prosseguindo além dos direitos e ofendendo seu irmão neste assunto". Os assuntos do contexto são as relações sexuais e o perigo de ultrapassar os limites na conduta, resultando no pecado de violar os direitos de um irmão. Por exemplo, adultério en- volveria a esposa de um irmão e assim violaria os direitos do irmão. Qualquer tipo de prática sexual ilícita está incluída na frase "nesta matéria", Paulo está claramente advertindo que, onde não há controle próprio do corpo, os relacionamentos afetu- osos entre os salvos poderiam abrir a porta para a entrada do pecado, que o Senhor mesmo vingaria (v. 6). O escritor aos hebreus advertiu seus leitores judaicos dizendo: "venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará" (Hb 13:4). Paulo, aqui em I Ts 4:6, entrega uma advertência semelhante aos leitores gentios. A vontade de Deus para os santos, quer sejam judeus ou gentios, é a sua santificação.
O prazer de Deus
Desde os dias de Jó e de Abraão sabemos que Deus achava prazer naqueles que ouviram a Sua voz dizer "anda em minha presença e sê perfeito" (Gn 17:1). Eles não receberam os rogos e exortações apostólicas que os tessalonicenses receberam, e que nós recebemos quando lemos esta carta (v. 1). Sem dúvida, as duas palavras "rogamos" e "exortamos" mostram a intensidade crescente que continua no v. 2, onde achamos a palavra "mandamentos", e no v. 6 onde achamos os verbos "dizer" ("avisar", ARA) e "testificar". A força destas palavras se juntam para enfatizar como agradar ao Senhor não é opcional para aqueles que seguem os passos daquele que sempre fez as coisas que agradaram ao Seu Pai (Jo 8:29). Em nosso caso, agradar ao Senhor significa evitar a vontade dos gentios, que tão freqüentemente conduz à lascívia ou à conduta vergonhosa (veja I Pe 4:3).
O chamado de Deus
O Deus que os chamou, quer judeus ou gentios, os chamou à santidade, lite- ralmente "em santificação". Ninguém podia duvidar do Seu propósito. Talvez por estar escrevendo a gentios Paulo não diz: "e sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11:44), como Pedro fez quando escreveu a judeus (I Pe 1:16). A intenção de Deus não era que eles permanecessem no pecado (Rm 6:1). Ele os tinha chamado "em santificação". Eles eram fornicadores, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, roubadores, mas agora tinham sido "lavados ... santifi- cados ... justificados", agora o "corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo" (I Co 6:9-11, 13). Deus os tinha chamado da noite tene- brosa de "dissoluções" para a luz onde um viver santo é praticado (Rm 13:12-14).
 
Resumo
O dom de Deus
Neste ponto da sua exortação, o apóstolo apresenta uma afirmação formulada para sondar os corações: "Quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus ... " (v. 8). Aquele que rejeita este ensino tão claro, não é descrito como "um de vós, santos tessalonicenses", e isto deixa em aberto a pergunta se esta pessoa que deliberadamente escolhe continuar em pecado realmente é nascida de Deus. João acrescentaria: "Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu" (I Jo 3:6). Ao desprezar este ensino, para continuar pecando, a pessoa não está rejeitando um homem qualquer, mas o Deus cujas reivindicações es- tão sendo desprezadas. Este Deus que está sendo desprezado é o Deus que deu (ou está dando) "Seu Espírito, o Santo" (v. 8, tradução literal). Em I Co 6:19-20, Paulo ensinou que este dom exige condições santas nas quais possa habitar, pois o corpo do salvo é o Seu santuário. Aqui, Ele é o poder para um viver santo, e Ele é também quem constantemente fortalece o salvo contra a impureza. A frase "o Seu Espírito" indica que Ele tem o mesmo caráter do Doador, que nos chama à santidade. Onde há desprezo quanto ao caráter do Doador e do Dom, surge uma dúvida sobre o relacionamento daquela pessoa com Deus.
 
O ensino de Deus
No v. 9 o apóstolo começa uma nova parte, com a frase apropriada: "Quanto, porém ... " O novo assunto é o amor fraternal. É notável a justaposição desta par- te com a parte anterior (vs, 1-8). Lembrando que no v. 6, ele tinha salientado um exemplo de comportamento contrário a amor fraternal, o apóstolo obviamente de- seja que seus leitores considerem esta parte à luz da santificação. Aquele que defrau- dou seu irmão pela sua conduta imoral não demonstrou amor fraternal, e não amou o seu irmão, como fora ensinado pelo Senhor. Aquele que é ensinado por Deus não destrói casamentos.
Num mundo que rapidamente está se tornando igual ao mundo dos gentios descrito em passagens como Romanos 1, é importante considerar bem a respon- sabilidade apostólica colocada perante os novos convertidos em Tessalônica. Em I Tessalonicenses 4 Paulo apresenta razões para apoiar o pensamento que a escolha deliberada de um estilo de vida de flagrante imoralidade, talvez ao ponto de destruir o casamento de outro, é um pecado grave que o próprio Senhor vingará. Pode ser uma indicação de que a profissão de fé desta pessoa é falsa.
 
ROMANOS CAPÍTULO 1: 16 À 32
 
Vs. 16: PORQUE NÁO ME ENVERGONHO DO EVANGELHO DE CRISTO, POIS É O PODER DE DEUS PARA SALVAÇÁO DE TODO AQUELE QUE CRÊ; PRIMEIRO DO JUDEU E TAMBÉM DO GREGO.
Porque não me envergonho do evangelho de Cristo. Embora o apóstolo esteja orgulhoso do evangelho, ele não desconhece o des- prezo geral com que é recebido, e assim prefere dizer que não se envergonha dele. A impopularidade de um Cristo crucificado tem levado muitos a apresentar uma mensagem mais ao gosto dos incrédulos, mas a eliminação da ofensa da cruz torna-a ineficaz (Gal. 5: 11). Um evangelho inofensivo é também um evangelho inoperan- te. Dessa forma, o cristianismo é menos considerado em sua pró- pria casa.
pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Isto dá a razão para o júbilo que Paulo tem do evangelho: "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que tem fé". Conforme esclarece Anders Nygren, isto não significa que a fé é a condição . da salvação, como se o evangelho realmente dependesse da resposta do homem para poder salvar; porque, na realidade, a capacidade de acreditar é dada através da operação do poder de Deus no
evangelho (cf. o comentário do vs. 8, "dou graças"). Isto significa que sempre que o evangelho for pregado o poder de Deus estará atuando para a salvação dos homens, libertando-os do domínio das trevas e trazendo-os à nova era que foi inaugurada pela mani- festação de Cristo como "o Filho de Deus em poder" (vs" 4, cf. Luc. 11:21-22).
primeiro do judeu, e também do grego. O evangelho é para os judeus e também para os gentios ("grego", aqui, tem este sentido mais amplo). A mensagem é mandada primeiramente ao judeu, uma prioridade sempre reconhecida por Paulo em sua obra missio- nária. Todavia, pela insistência em que é "também" para os gentios, ele "mantém a igualdade religiosa radical já proclamada nas pala- vras: "Para todo aquele que crê". (F. Godet) (Gal. 3:26-29)
 
Vs. 17: PORQUE NELE SE DESCOBRE A JUSTIÇA DE DEUS DE FÉ EM FÉ, COMO ESTÁ ESCRITO:
MAS O JUSTO VIVERÁ DA FÉ.
Porque nele se descobre a justiça de Deus. O evangelho é o "poder de Deus para salvação" porque nele existe a revelação dinâmica de uma justiça singular. Diferentemente da justiça legal pela qual o homem procura, em vão, atingir uma posição correta diante de Deus através da obediência pessoal à lei (Rom. 10:3; Fil. 3:9), a justiça divina é aquela posição que Deus confere aos crentes sem obediência pessoal, porque Ele atribui ou imputa a eles a obediên- cia de Cristo. Como o conhecimento de tal salvação nunca poderia ser derivado da operação natural da razão humana, esta extraor- dinária justiça exige uma revelação especial, na qual a provisão inimaginável da graça não é apenas comunica da objetivamente (na Palavra de Deus, escrita ou pregada), mas também aplicada subje- tivmente (na experiência dos crentes).
de fé em fé. "Ele não diz, de fé em obras, nem, de obras em fé; mas, de "fé em fé", isto é, somente pela fé." (M. Poole) Do prin- cípio ao fim, a salvação é pela fé na retidão justificadora de Cristo. como está escrito: Mas o justo viverá da fé. Desde que Paulo não está propondo algo novo, ele confirma sua doutrina apelando ao Velho Testamento (Hab. 2:4, também citado em Gal. 3:11 e Heb.
10:38). Neste texto, o profeta contrasta o invasor caldeu, cuja vaidosa auto-suficiência mostra que não é reto de coração, com o homem "justo" que viverá (ou, será salvo) pela sua fé na promessa de libertação de Deus. Assim, a fé da pessoa a quem Deus aprova e tem como justa (cf. Gen. 15:16, citado em Gal. 3:6) é oposta ao espírito de orgulho que ignora a Deus e provoca Seu julgamento. E é porque a salvação sempre consiste nesta confiança na intervenção justa de Deus na história, que não é um artifício de exegese o apóstolo encontrar neste texto base para o argumento que segue.
 
Vs. 18: PORQUE A IRA DE DEUS SE MANIFESTA DO CÉU SOBRE TODA IMPIEDADE E INJUSTIÇA DOS HOMENS, QUE DETÉM A VERDADE EM INJUSTIÇA.
Este versículo começa com uma terrível acusação contra o pecado humano. O apóstolo se volta inicialmente para os pecados daqueles que estão sem a luz da revalação especial (Rom. 1: 18-32). Deus julgará tais pessoas pela luz da natureza, que é comum a todos os homens, e isto é suficiente para deixá-los sem desculpa (vs. 20). Pode parecer estranho a alguns que Paulo dedique quase três capítulos a um exaustivo exame do problema do pecado. Contudo, opiniões superficiais do pecado nunca conduzem a uma apreciação fervorosa da graça. O homem está sempre pronto a desculpar-se a si mesmo. Ele carrega seus pecados levemenete, e tende a consi- derá-los meros pecadilhos. Na sua concepção, eles não oferecem nenhuma barreira à bênção divina. Afinal de contas, perdão é o negócio de Deus! "Deus me perdoará, é o seu ofício" foram as últimas palavras do poeta Heinrich Heine.
Porque a ira de Deus. Paulo, portanto, insiste em que a gravidade do pecado precisa ser medida pela forte reação divina que provoca. Deus não é indiferente ao pecado, que continuamente motiva o Seu santo ódio. Ele é uma afronta à santidade de Deus, é um assalto direto à sua majestade, e a "ira de Deus" é uma expressão que indica o justo derramamento do desfavor divino sobre o peca- dor. Esta ira não é um julgamento automático do pecado por um anônimo computador cósmico, nem pode ser inteiramente explica da pelos sentimentos produzidos no pecador que é punido. Antes, a frase "a ira de Deus" aponta para a reação mais intensa e pessoal no ser divino contra o pecado, embora esta reação sejea despida daquelas indignas emoções humanas que estão geralmente associa- das com a palavra "ira".
se manifesta do céu. Estas palavras não exigem uma manifestação sobrenatural da ira de Deus provinda do céu. Elas asseveram o fato de que a justiça retributiva de Deus é evidente na História (Is. 10:5). Deus não é um espectador inativo dos acontecimentos mundiais; Ele está dinamicamente envolvido nos assuntos humanos. O cometer pecado é constantemente marcado pelo julgamento divino. Verdadeiramente, "A história do mundo é o julgamento do mundo". (Friedrich Schiller) sobre toda impiedade e injustiça dos homens. A ênfase aqui está nas qualidades abstratas de impiedade e injustiça, e não nos agentes pessoais através dos quais elas se expressam, porque Deus não puniria os homens se não fosse por seus pecados. A ordem também é significativa. Impiedade para com Deus resulta em injustiça para com os homens. O transtorno no relacionamento primário do ho mem conduz, naturalmente, à distorção de todas as suas transações com os seus semelhantes.
que detêm a verdade em injustiça. O homem inevitavelmente co- nhece a Deus, porque em todo lugar na ordem criada ele é confron- tado pelo "Seu eterno poder e divindade" (vs. 20). Mas é também porque o homem sabe que é pecador que sempre procura suprimir ou abafar este verdadeiro conhecimento de Deus. Muito embora o pecado não tenha destruído as capacidades religiosas do homem, desviou-as do Deus Vivo, de tal forma que agora o homem prefere adorar deuses finitos, de sua própria invenção (vs. 23).
 
Vs. 19: PORQUANTO O QUE DE DEUS SE PODE CONHECER NELES SE MANIFESTA, PORQUE DEUS LHO MANIFESTOU.
Como diz Calvino, embora Deus seja em Sua essência "incompreensível, transcendendo totalmente todo o pensamento humano", mesmo assim Ele está inescapavelmente revelado em todos os homens através do seu conhecimento das "coisas que foram criadas" (vs. 20), esta "manifestação da divindade sendo clara demais para escapar à observação de qualquer pessoa, por mais obtusa que seja." (CL Atos 14:17, 17:27-29)
 
Vs. 20: PORQUE AS SUAS COISAS INVIS1VEIS, DESDE A CRIAÇÃO DO MUNDO, TANTO O SEU ETERNO PODER, COMO SUA DIVINDADE, SE ENTENDEM, E CLARAMENTE SE VeM PELAS COISAS QUE ESTÃO CRIADAS, PARA QUE ELES FIQUEM INESCUSÁVEIS;
A revelação de Deus na criação é clara, porque há nela a mais gloriosa manifestação de Seu divino poder. A palavra grega tra- duzida como "divindade" (theiotes) ocorre somente aqui no Novo Testamento. A respeito disto escreveu. R. C. Trench: "Não se deve duvidar de que Paulo usa esta palavra mais vaga, mais abstrata e menos pessoal justamente porque ele pretendia afirmar que os homens podem conhecer o poder e a majestade de Deus por meio de Suas obras". Este conhecimento do poder criador de Deus torna os homens responsáveis, e assim os deixa sem des- culpa. Mas o conhecimento da graça redentora de Deus é trans- mitido à humanidade somente através de Seu Filho, em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Col. 2:9). Paulo usa aí a palavra "theotes" para expressar a divin- dade essencial do Filho, porque Ele "está declarando que no Filho habita toda a plenitude da divindade absoluta; não eram meros raios de glória divina que resplandeciam, iluminando Sua pessoa por um pouco de tempo com um esplendor que não Lhe era próprio; porém Ele era, e é, o absoluto e perfeito Deus".
 
Vs. 21: PORQUANTO, TENDO CONHECIDO A DEUS, NÃO O GLORIFICARAM COMO DEUS, NEM LHE DERAM GRAÇAS, ANTES EM SEUS DISCURSOS SE DESVENECERAM, E O SEU CORAÇÃO INSENSATO SE OBSCURECEU.
porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus. E porque "as cousas invisíveis de Deus são claramente vistas" que os homens não podem alegar ignorância por não glorificá-Lo como Deus (Bengel). A seriedade desta acusação está na parte final: "não o glorificaram como Deus". Ela mostra que todos os homens estão destituídos da verdadeira piedade, pois todas as suas pretensões religiosas se baseiam na falsa idéia que forma- ram de Deus. Se é impossível para o homem adicionar algo à glória essencial de Deus, ainda lhe resta a obrigação, como por- tador da imagem de Deus, de atribuir voluntariamente a Ele a glória que é devida a Seu nome.
nem lhe deram graças. Desde que o homem não gosta de reter o conhecimento de Deus como Deus, ele não pode vê-IO como o autor benevolente de todo o bem de que desfruta. Ao invés disso, escolhe viver independentemente num mundo de incertezas, o que o deixa livre para celebrar sua "boa sorte", ou para louvar sua própria previdência superior a seu bel-prazer. antes em seus discursos se desvaneceram. A segunda parte do verso enfatiza o fato de que quando os homens rejeitam a verdade, abraçam a mentira em seu lugar. A ausência de verdade sempre assegura a presença do erro. Os homens precisam pensar algo, e quando a verdade é banida a luz que está dentro deles se torna em trevas (Mat, 6:23). Recusando desta forma o verdadeiro conhecimento de Deus, o seu entendimento "se tornou vão", o que é uma evidente alusão à obsessão pagã pelos ídolos, aquelas "vaidades" que são desprovidas de qualquer correspon- dência com a verdade (Deut. 32:21; Atos 14:15).
No Novo Testamento, "raciocínios" (ou "discursos") tem um sentido desfavorável, e denota a atividade desregrada da mente "a serviço de um coração corrupto" (Godet) (Luc. 5:21-22). Aqui, a palavra indica a confiança nos poderes especulativos da razão para prover uma base firme para a fé religiosa. E fatal confundir esclarecimento filosófico com iluminação espiritual. Toda forma de "gnosis" pagã é apenas uma variedade daquele fogo falso que sempre termina em eterno desespero (Isa. 50: 11). e o seu coração insensato se obscureceu. O "coração", na Bíblia, deve ser entendido como a pessoa integral do homem: é o centro moral de toda a sua atividade intelectual, emocional e volitíva. Um coração destituído de entendimento espiritual está numa con- dição de trevas que afeta o homem inteiro. Isto dá o "golpe de misericórdia" no mito moderno da ascensão do homem de um animismo primitivo ao pico sublime do monoteísmo. Somente no relato bíblico da queda do homem de seu estado original de integridade é que sua atual condição anormal recebe uma explicação adequada (Ecl. 7:29).
 
Vs. 22: DIZENDO·SE SÁBIOS, TORNARAM·SE LOUCOS.
O efeito do pecado sobre a mente do homem é tornar sua suposta sabedoria em tolice (I Cor. 1: 17-27). Calvino observou "que quan- do homens miseráveis procuram a Deus, ao invés de subirem mais alto que eles mesmos, como deveriam fazer, eles medem-nO por sua própria estupidez carnal... Daí, não O concebem segundo o caráter em que Ele se manifestou, mas imaginam ser Ele aquilo que precipitadamente inventaram." A loucura da idolatria é, portanto, o resultado lógico dessa imaginação corrupta (vs. 23). Contudo, quando Deus declara que a sabedoria humana é tolice, surge a questão da validade do conhecimento humano. E porque o ho- mem "detém a verdade em injustiça" que ele se torna um problema para si mesmo. Foi recebendo a mentira do diabo, "sereis como Deus", que o homem caiu em pecado (Gen. 3:5). Ele aspirou à igualdade com Deus, e assim negou o fato fundamental de sua própria existência, ou seja, seu caráter de criatura. Pela recusa em reconhecer a Deus como Deus, ele perdeu a única forma de identificar-se a si mesmo! Todo "problema" filosófico procede desta primeira apostasia. A profunda declaração inicial da "Institutas" de Calvino expressa com clareza meridiana esta inseparável rela- ção: "Nossa sabedoria, tanto quanto deveria ser julgada verdadeira e sólida, consiste quase que inteiramente de duas partes: o conhe- cimento de Deus e o de nós mesmos." E a perda do verdadeiro conhecimento de Deus que faz da injunção socrática, "conhece-te a ti mesmo", um requerimento impossível.
Nenhum conhecimento independente é possível para o homem.
Tudo o que ele sabe, sabe a partir de Deus. E porque o homem se recusa a reconhecer esta fonte, e insiste na originalidade de sua interpretação dos "fatos brutos" do universo que este conhecimento é envenenado pelo erro fatal de sua pressuposição religiosa fun- damental: que não há um Criador auto-existente a quem ele é devedor até por sua respiração (Atos 17: 16-31).
 
Vs. 23: E MUDARAM A GLÓRIA DO DEUS INCORRUPTÍVEL EM SEMELHANÇA DA IMAGEM DE HOMEM CORRUPTÍVEL, E DE AVES, E DE QUADRÚPEDES, E DE RÉPTEIS.
Em palavras tiradas do Sal. 106:20 Paulo menciona a preferência do homem pela idolatria como a evidência suprema de sua tolice. Pois ele assim trocou a glória do Deus imortal por uma cópia irreal da imagem do homem mortal, e mesmo de pássaros, quadrú- pedes e serpentes! Porém, desde que tal imagem representa, apenas, um deus, os idólatras não se consideram adoradores de ídolos. Alegam invocar seu deus por meio da imagem; não se curvam à imagem em si.
Este sofisma é, ainda hoje, adotado pela igreja católica romana, em sua vã tentativa de justificar seu teimoso afastamento da Pa- lavra de Deus, conquanto isto seja aquilo que a Bíblia condena cabalmente. Arão fez um bezerro de ouro, mas não tinha a menor intenção de levar o povo a adorar a imagem. Ele disse: "Amanhã será festa ao Senhor" (Êx, 32:5). O bezerro era simplesmente um auxílio à devoção, mas o julgamento de Deus a respeito foi muito diferente. "Fizeram um bezerro em Horebe, e adoraram a imagem fundida, e converteram Sua glória na figura de um boi que come erva." (Sal. 106:19-20) Deus escreveu ICABO por sobre as elaboradas solenidades de todos os idólatras, quer pagãos, quer "cris- tãos", porque a glória se foi deles (I Sam. 4:21-22; cf. Is. 40:18ss, 44: 10ss).
Além disso, deve-se notar que a idolatria não se limita a um mero adorar de imagens esculpidas, mas também se estende à deificação ilegal de qualquer aspecto da realidade criada, porquan- to, transgredir o maior mandamento é ainda o maior pecado (Mat. 22:37-38; I João 5:21).
 
Vs. 24: PELO QUE TAMBÉM DEUS OS ENTREGOU ÀS CONCUPISCIÊNCIAS DE SEUS CORAÇÕES, À IMUNDÍCIA, PARA DESONRAREM SEUS CORPOS ENTRE SI.
As palavras "pelo que" indicam a justiça de Deus ao entregar aqueles que O tinham desonrado à desonra de seus próprios corpos. Três vezes, em cinco versos, a terrível sentença soa: "Deus os entregou" (vs. 24, 26 e 28). Neste abandono deles, sem qualquer restrição, à autodegradação provocada pelas suas próprias concupis- cências, eles recebem aquela "recompensa que convinha ao seu erro" (vs. 27; cf. Sal. 81:12). Conforme diz R. C. H. Lenski, "Os homens que tanto amam o esgoto do pecado são enviados para lá pela justiça; o que querem, eles terão."
 
Vs. 25: POIS MUDARAM A VERDADE DE DEUS EM MENTIRA, E HONRARAM E SERVIRAM MAIS A CRIATURA DO QUE O CRIADOR, QUE e BENDITO ETERNAMENTE. AMÉM.
Este versículo ecoa o pensamento do vs. 23, mas não é apenas uma repetição dele. O primeiro interesse de Paulo é justificar a apa- rente severidade do julgamento de Deus contra os idólatras (vs. 24), enfatizando a horrenda natureza de seu pecado. Por outro lado, poder-se-ia inferir do vs. 23 que o homem diminuiu, com sucesso, a glória essencial de Deus pela sua idolatria, mas o fervoroso louvor de Paulo aqui é também uma afirmação da bem-aventurança transcedente do Criador. Na verdade, é impossível ao homem ser realmente bem sucedido em sua tentativa pecaminosa de diminuir a glória de Deus. Se isso fosse possível, a linha divisória entre Cria- dor e criatura deixaria de existir, e Deus não mais seria Deus. Mais adiante nesta epístola, Paulo mostra que nenhuma criatura poderá deixar de dar sua contribuição ao total da glória do Criador, voluntariamente ou não, seja em misericórdia, seja em ira (Rom. 9:22-23; Ap. 4:11).
 
Vs. 26: PELO QUE DEUS OS ABANDONOU ÀS PAIXÕES INFAMES. PORQUE ATÉ AS SUAS MULHERES MUDARAM O USO NATURAL, NO CONTRÁRIO À NATUREZA.
O que era insinuado no vs. 24 é agora explicitado nos vss. 26 e 27. A degeneração moral do mundo antigo é retratada neste horrí- vel catálogo de vícios sexuais que a religião pagã, ao invés de restringir, promovia ativamente.
Hoje em dia, a existência crescente destas perversões sexuais, que são complacentemente consideradas "variantes interessantes" pelas pessoas que se dizem evoluídas, é uma marca terrível da ira de Deus sobre uma civilização que se orgulha de seu caráter "pós-cristão" .
"Paulo se refere primeiramente à degradação das mulheres entre os pagãos, porque elas são sempre as últimas a serem afetadas pela decadência moral, e sua corrupção é, portanto, prova de que toda virtude está perdida." (Hodge)
 
Vs. 27: E, SEMELHANTEMENTE, TAMBJ!M OS VARÕES, DEIXANDO O USO NATURAL DA MULHER,
SE INFLAMARAM EM SUA SENSUALIDADE UNS PARA COM OS OUTROS, VARÃO COM VARÃO, COMETENDO TORPEZA E RECEBENDO EM SI MESMOS A RECOMPENSA QUE CONVINHA AO SEU ERRO.
A natureza honrosa do estado conjugal está fundamentada na ordenança criadora de Deus, enquanto que o desejo ilegítimo aqui descrito deriva seu nome da cidade de Sodoma, que foi destruí da por causa deste pecado (Heb. 13:4; Gen. 19:5). Poole comenta:
"Quão próprio era, que aqueles que tinham abandonado o Autor da natureza fossem abandonados a não guardar a ordem natural." De modo que as espantosas conseqüências físicas e morais da indulgência nessas paixões desnaturais foi a justa recompensa do seu "erro" em "se desgarrarem" do Deus verdadeiro (vss. 21, 23).
 
Vs. 28: E, COMO ELES NÃO SE IMPORTARAM DE TER CONHECIMENTO DE DEUS, ASSIM DEUS OS ENTREGOU
A UM SENTIMENTO PERVERSO, PARA FAZEREM
COISAS QUE NÃO CONVÉM;
Embora todos os homens tenham um conhecimento de Deus, sua recusa em reconhecê-LO revela que são ateus deliberados no cora- ção. O jogo de palavras feito por Paulo é preservado na tradução de Charles Williams, "Como eles não aprovavam mais a total submissão a Deus, Deus os entregou a uma disposição mental que Ele não aprovava". Originalmente a palavra aqui traduzida "reprovável" (vide Ed. Revista e Atualizada) era aplicada a metais que não passavam pelo teste do especialista. Aqui uma "disposição mental reprovável" se refere à disposição mental que Deus não pode aprovar e precisa rejeitar por causa da sua loucura em dis- pensar seu maior bem - o conhecimento de si mesmo.
O cegar da mais alta faculdade humana constitui-se o maior dos julgamentos sobre o homem. A orientação religiosa do homem é refletida fielmente em sua consciência e isto se expressa de modo prático na sua conduta. Assim os pensamentos do homem jamais podem ser considerados puramente teóricos, pois é a sua atitude mental com relação a Deus que determina a qualidade de suas' ações para com os seus semelhantes. O que Paulo está dizendo é que a "injustiça" do homem é a conseqüência natural de sua "im- piedade", cuja culpa ele acaba de provar.
 
Vs. 29: ESTANDO CHEIOS DE TODA INIQÜIDADE, Malícia, AVAREZA, MALDADE; CHEIOS DE INVEJA, Homicídio, CONTENDA, ENGANO, MALIGNIDADE;
Esta é a mais longa lista de pecados encontrada nas epístolas de Paulo (vss. 29-31). E, embora ela não nos apresente uma relação exaustiva dos vícios, certamente nos comunica uma horrível im- pressão daqueles pecados que escravizavam o mundo pagão no caos moral. Neste versículo a disposição íntima da humanidade apóstata é, primeiramente, descrita em termos de motivação geral ("cheios de toda injustiça, malícia, avareza, maldade"), e depois, em termos de desejos específicos ("cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade"). (cf. Mar. 7:21-23)
 
Vs. 30: SENDO MURMURADORES DETRATORES, ABORRECEDORES DE DEUS, INJURIADORES, SOBERBOS, PRESUNÇOSOS, INVENTORES DE MALES, DESOBEDIENTES AOS PAIS E AS MÃES;
Em seguida, numa lista feita aparentemente ao acaso que começa com "rnurmuradores" e vai até o fim do vs. 31, Paulo descreve, como esse caráter mau se manifestava na conduta diária.
aborrecedores de Deus. "E assim, assassinos de Deus. Uma vez que os pecadores aborrecem a Deus, e desejariam que não houvesse Deus, a fim de nunca irem a julgamento." (John Trapp) Naqueles que falam "da morte de Deus", o desejo é o pai do pensamento filosófico. O secularismo quer assassinar a Deus.
inventores de males. Novos pecados precisam ser descobertos por aqueles que têm paladar embotado, e novas palavras precisam ser inventadas para eles. Isto é um pertinente veredito sobre a inquieta sociedade atual (ls. 57:20).
 
Vs. 31: NÉSCIOS, INFIÉIS NOS CONTRATOS, SEM AFEIÇÃO NATURAL, SEM MISERICÓRDIA;
sem afeição natural. A desumanidade do homem para com o seu semelhante fornece prova impressionante da doutrina bíblica da depravação total. O costume comum de expor a criança à morte é um simples exemplo da brutalidade insensata que prevalecia no mundo antigo. Não obstante, a vida moderna também não deixa de ter seus paralelos impressionantes (cf. a profecia de Paulo, II Tim. 3:3). Aqueles que descaradamente desobedecem ao primeiro mandamento dificilmente serão contidos pelo segundo - uma infeliz seqüência que é plenamente comprovada pela hist6ria do presente século (Mat, 22:37-39). Nenhum valor moral absoluto poderá ser retido por aqueles que rejeitam a crença em Deus como uma sobrevivência anacrônica de superstição medieval. A ética huma- nística está condenada a uma vergonhosa queda, porque tenta cons- truir sobre a areia.
 
Vs. 32: OS QUAIS, CONHECENDO A JUSTIÇA DE DEUS (QUE SÃO DIGNOS DE MORTE OS QUE TAIS COISAS PRATICAM), NÃO SOMENTE AS FAZEM, MAS TAMBÉM CONSENTEM AOS QUE AS FAZEM.
O fato de que a lei de Deus está indelevelmente gravada na cons- ciência do homem significa que ele nunca pode pecar com uma consciência limpa. Mas este conhecimento de que está, com justiça, exposto à sentença de morte como se Deus pode infringir não o impede de pecar, porque ele ama os seus pecados. Desta forma, os homens não somente continuam a cometer pecados, mas também "consentem" no pecado de outros, ou seja, até mesmo aplaudem aqueles que fazem as coisas que eles sabem ser erradas! O exame que Paulo faz do pecado dos gentios alcança seu clímax condenatório nesta terrível declaração. Nada poderia exceder a enormidade da acusação final. Os homens sentem prazer no pecado simplesmenete porque é errado, e se regozijam em observar outros no mesmo estado de condenação que o deles (Sal. 10: 3; Prov. 2: 14).

 

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