O Espírito Santo na Vida de Cristo

Na primeira menção da oferta de manjares, no segundo capítulo de Levítico, todos os expositores devocionais concordam que a flor de farinha da oferta é uma prefiguração tipológica da beleza da vida do Senhor Jesus, uma vida na qual todas as virtudes morais se mesclavam num equilíbrio perfeito. Não há derramamento de sangue nessa oferta, nem menção de pecado ou expiação. Há sugestões de sofrimento, entretanto, e a oferta de manjares é um quadro belíssimo de uma vida de serviço fragrante, e de devoção no sofrimento; devoção que trouxe tanto prazer a Deus.
Três vezes naquele capítulo temos a instrução de que azeite deveria ser aplicado à oferta nas suas variadas formas, e três palavras diferentes são empregadas para essas aplicações do azeite.
Algumas vezes o azeite deveria ser amassado com a flor de farinha (vs. 4-5). Em outros casos, o azeite era para ser deitado sobre a oferta (vs. 1, 6), e também a oferta poderia ser untada [literalmente, “ungida”] com óleo (v. 4). São palavras distintas que têm um significado simbólico.
A oferta poderia ser amassada, ungida ou saturada com azeite.
Novamente há um consenso quanto a ser o azeite, nas Escrituras, um símbolo consistente do Espírito Santo, e na Sua associação divina com o Filho de Deus o pleno cumprimento dessas palavras importantes e interessantes é claramente visto; amassado, ungido, saturado. No mistério da encarnação de Cristo a farinha e o óleo foram amassados juntos. Por ocasião do batismo do Salvador no Jordão, é como se a oferta fosse ungida com óleo, e no Seu ministério miraculoso subsequente podemos observar um ministério essencialmente saturado com o poder do Espírito. Mas essas considerações precisam ser abordadas reverentemente e em detalhes.

O Espírito Santo na encarnação
Muitos homens, talvez bem-intencionados, têm procurado explicar a fisiologia humana na concepção milagrosa do Filho de Deus no ventre da virgem. Todas essas explicações são vãs, e algumas até irreverentes, se não blasfemas. Nunca se pede ao cristão que ele entenda, explique ou exponha o mistério. “Grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne” (I Tm 3:16). Talvez o antigo Credo dos Apóstolos* diz tudo o que pode ou precisa ser dito sobre este assunto sagrado. Ele foi “concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”. Os detalhes santos do que aconteceu no ventre de Maria estão entre as coisas encobertas “pertencentes ao Senhor nosso Deus” (Dt 29:29), e em verdadeira devoção o cristão deve se prostrar em admiração e adoração diante da encarnação do Filho de Deus.
Além do breve comentário de Mateus, que simplesmente diz que ela “achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1:18), as palavras de Gabriel a Maria são o único comentário bíblico acerca daquela concepção divina. Disse Gabriel à donzela aflita: “Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado o Filho do Altíssimo”. Quando Maria, uma virgem, perguntou: “Como se fará isto?”, o anjo respondeu: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo que de ti há de nascer será chamado o Filho de Deus” (Lc 1:30-35).
Foi a operação do Espírito Santo no ventre da virgem que resultou na concepção do Salvador. Quando Maria, a virgem, “achou-se ter concebido do Espírito Santo”, havia se cumprido a antiga palavra profética: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamará o Seu nome Emanuel” (Is 7:14). Era como se o óleo e a farinha fossem amassados juntos de forma milagrosa, no ventre daquela donzela humilde e piedosa de Nazaré, que haveria de ser a mãe virgem do Messias prometido. Tudo isto está além da compreensão do ser humano. É maior que o intelecto e que a compreensão dos mais sábios filósofos terrestres, mas não é problema para aqueles que amam a Palavra de Deus e o Filho de Deus. Para estes basta saber que Ele foi de fato “concebido do Espírito Santo”. Como escreve H. C. Hewlett: “Nossa parte é crer, não explicar, e adorar, não investigar”.* João, o apóstolo amado, diz: “E o Verbo Se fez carne” (Jo 1:14). O Filho eterno foi achado na forma de homem (Fp 2:8).

Em carne oculta, veja a Deidade;
Salve! Divindade Encarnada!†
(C. Wesley)

Assim se iniciou, no ventre da virgem, numa santa comunhão entre duas Pessoas Divinas, a história de um Ser único que em santidade impecável deleitaria o coração de Deus e traria a Ele uma fragrância que em muito excede a fragrância da oferta de manjares da antiguidade, onde a flor de farinha era amassada junto com o azeite.
* O autor refere-se a um antigo tratado contendo uma afirmação de fé dos cristãos, que ainda hoje é aceito por diversas denominações no cristianismo (N. do E.).

O Espírito Santo na apresentação de Jesus no Templo
No tempo devido, depois da visita angelical a Maria, sua santa Criança nasceu. Foi com prazer que O viram crescer “em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Mas nos primeiros dias da Sua infância o piedoso Simeão foi trazido pelo Espírito para o Templo, exatamente quando José e Maria chegaram com o Menino. Ele tinha quarenta dias de vida, e eles O trouxeram ao Templo para cumprir uma lei antiga. “O levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor … e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:22-24; Lv 12:2, 6, 8). O Espírito Santo é mencionado três vezes em relação a Simeão e a apresentação de Jesus no Templo. Simeão era “justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2:25). Simeão era um homem essencialmente espiritual, e esse momento exato já havia sido predito a ele pelo mesmo Espírito Santo, que lhe revelara que ele não veria a morte “antes de ter visto o Cristo do Senhor” (v. 26). Agora, conduzido pelo Espírito, Simeão tomou o Menino em seus braços e bendisse a Deus (v. 28), e os abençoou (v. 34) e profetizou grandes coisas para o Filho de Maria. Desde a infância, passando pela adolescência e até a idade adulta, Jesus cresceu com uma graça que deve ter trazido muita alegria a Maria e José. Ele era de fato uma raiz de uma terra seca (Is 53:2). Na esterilidade espiritual da nação, e até mesmo na corrupção de Nazaré, Ele crescia com fragrância, trazendo constante prazer ao Seu Pai, e era conhecido na localidade como o Carpinteiro, e o Filho do Carpinteiro (Mt 13:55; Mc 6:3).
† Tradução livre. O original diz: “Veiled in flesh, the Godhead see, /Hail! Incarnate Deity!"
* HEWLETT, H. C. Glories of our Lord. Kilmarnock: John Ritchie Ltd., 1994.

O Espírito Santo no batismo do Salvador
Agora, depois dos anos de relativo silêncio em Nazaré, Jesus era um homem maduro, com cerca de trinta anos de idade (Lc 3:23), e Ele saiu da sua cidade natal para ir até o rio Jordão, ao lugar onde João estava batizando. Todos os Evangelhos registram algo sobre o próprio Jesus ser batizado por João no Jordão (Mt 3:13-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22; Jo 1:32). Embora João não registre o ato do batismo do Senhor ele relata, como os outros, que naquela ocasião o Espírito desceu dos Céus “que se abriram” e repousou sobre Ele.
O batismo de João era um batismo para o arrependimento (Mt 3:11) mas, como todo cristão sabe, o Salvador, na Sua impecabilidade, nada tinha do que Se arrepender. Então por que Ele pediu para ser batizado por João? (Mt 3:13-15) Em imensa graça Ele desejava Se associar com aqueles que estavam aceitando a pregação de João. Era um reconhecimento da mensagem do Batista e, como foi dito: “Ele viu as Suas ovelhas debatendo nas águas escuras da morte, e de bom grado quis estar com elas”. Será que isso era uma prévia do Calvário, quando Ele, de uma forma terrivelmente real, entraria na morte em lugar deles? Foi nesta ocasião do Seu batismo no Jordão que os Céus se abriram sobre Ele e o Espírito Santo desceu na forma de uma pomba. No contexto do relato de João, isso é muito lindo. João, que escreveu o quarto Evangelho, relata que foi João Batista quem apontou Jesus como o Cordeiro de Deus. Em mansidão e gentileza, Ele havia vivido por trinta anos no Seu lar na Galileia, e em conformidade com as Escrituras típicas, Ele era um Cordeiro sem mácula, sem mancha nem defeito no Seu caráter. Mais tarde, Ele seria levado “como um Cordeiro ao matadouro” (Is 53:7), mas agora sobre o manso Cordeiro desceu o Espírito Santo na forma de uma pomba. E que ser é mais meigo, mais facilmente assustado do que uma pomba? Foi nesta forma que o Espírito repousou sobre o Cordeiro. Não havia nada no meigo Cordeiro para afligir ou assustar a Pomba. Quando o Espírito pousa sobre Ele, é como se a oferta estivesse sendo ungida com óleo. Era isso que Pedro tinha em mente quando ele pregou, dizendo: “Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judeia,  começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou; como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude” (At 10:37-38).
Devemos lembrar e compreender, ainda que seja um mistério, que essa unção pelo Espírito de forma alguma sugere que havia algo faltando na Pessoa do Senhor Jesus antes disso. Nenhuma habilidade ou poder foi conferido a Ele por essa unção, que Ele já não possuísse em Si mesmo. Outros servos de Deus podem de fato precisar de uma unção especial para equipá-los para o serviço, mas o Filho de Deus possuía poder pessoal inerente como uma Pessoa Divina, e não precisava desse dom. Essa unção do Salvador foi sem dúvida para mostrar, de uma maneira bem pública, a aprovação celestial de Jesus nesse momento inicial do Seu ministério.
Ligado a isso temos o comentário de que há aqui uma evidência maravilhosa da grande Trindade, três Pessoas divinas em santa harmonia.
O Filho encarnado está na água. O Espírito pousa sobre Ele, enquanto a voz do Pai declara, desde os Céus abertos, o Seu prazer no SeuFilho. Pai, Filho e o Espírito de graça estão igualmente envolvidos no grande plano de redenção que estava para se desenvolver.

O Espírito Santo e a tentação no deserto
Os Evangelhos Sinópticos — Mateus, Marcos e Lucas — todos registram que foi pelo Espírito Santo que Jesus, depois do Seu batismo, foi impelido para o deserto para um confronto com o diabo.
Nunca é dito que nosso Senhor foi enchido com o Espírito da maneira como os Seus santos podem ser, mas Ele estava “cheio do Espírito Santo”, e foi agora “levado pelo Espírito” (Lc 4:1) ao deserto, para quase seis semanas solitárias de tentação. Repare que Zacarias e Isabel, os pais de João Batista, foram cheios “do Espírito Santo”, assim como o próprio João (Lc 1:15, 41, 67). O mesmo é dito de Pedro e Paulo em Atos 4:8 e 13:9. Se a expressão “cheio do Espírito Santo” é usada de outros, como Estêvão e Barnabé (Atos 7:55; 11:24), essa plenitude com eles era o resultado de terem sido enchidos com o Espírito, mas não foi assim com Jesus. Ele sempre foi e sempre esteve “cheio do Espírito Santo”. E a meiga submissão do Cordeiro está novamente evidente quando Ele se entrega sem resistência à direção do Espírito, sabendo das tentações que Lhe seriam apresentadas, pelo próprio Satanás, naquele estéril deserto da Judeia.
Precisamos ressaltar vez após vez que o Senhor Jesus era impecável: incapaz de pecar. Ele não somente não pecou, como também Ele não podia pecar. Não havia nada nEle para corresponder às tentações pecaminosas e, portanto, quando falamos da tentação no deserto, a palavra “tentação” precisa ser entendida corretamente. Com os homens caídos, tentação significa uma atração para pecar, um apelo ao mal. Isto nunca pode ser dito do Salvador, pois Ele jamais poderia ser atraído ao mal.
O outro significado da palavra é “testar”, “provar”. “Tentação” é a palavra grega peirazo (Concordância de Strong, 3985), definida por Strong como: “examinar, esquadrinhar, escrutinar, provar, experimentar, como também tentar” (veja Jo 6:6; At 16:7, “intentavam”; II Co 13:5; Hb 11:17; Ap 2:2; Ap 3:10 onde essas várias alternativas são usadas).
O nosso Senhor Jesus foi provado, ou testado, por Satanás, não para ver se poderia, ou iria, pecar, mas sim para, de acordo com o plano de Deus, demonstrar bem no começo do Seu ministério público que Ele era realmente impecável. Para Ele, pecar era impossível. Ele não podia pecar mesmo sendo tentado no Seu corpo, alma e espírito. Satanás O testou quanto à Sua dependência, Sua obediência e Sua paciência, mas o Senhor não se afastou, nem poderia ter-Se afastado do caminho da vontade do Pai para Ele.
Depois de quarenta dias naquele deserto, Jesus retornou, ainda no poder do Espírito, para a Galileia (Lc 4:14). Ele havia sido provado, como se prova o ouro puro, mas não havia impureza, e em comunhão com o Espírito Santo Ele voltou à Sua Galileia nativa para iniciar um ministério público muito intenso que se estenderia por três anos, trazendo muita glória a Deus, muitas bênçãos aos homens e muita tristeza a Si mesmo. Ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto, e Ele voltou do deserto no poder daquele mesmo Espírito.

O Espírito Santo e o caráter de Cristo
Em Isaías 42:1, onde Cristo é apresentado como o Servo perfeito, Jeová diz: “Pus o Meu Espírito sobre Ele”. Isto é o que chamamos de o “passado profético”, falando em antecipação de algo ainda no porvir como se de fato já tivesse acontecido. Aqui está antecipada aquela comunhão inquebrável que seria sempre desfrutada entre o Servo Divino e o Espírito de Deus. Sendo que há certas características morais conhecidas como “o fruto do Espírito” (Gl 5:22-23), é de esperar, portanto, que esse fruto fosse manifestado na vida agradável daquele que vivia em 98 O Espírito da Glória santa comunhão com o Espírito Santo: “o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”, e é interessante seguir os passos de Jesus através dos Evangelhos e ver cada aspecto desse fruto em evidência em todas as variadas circunstâncias da Sua vida.
O amor é o primeiro a ser mencionado, e houve, naturalmente, muitas demonstrações do Seu amor. Ele amava o que não era amável.
Ele amava os párias. Ele amava os publicanos e pecadores, a ponto de ser conhecido como “amigo dos publicanos e pecadores” (Mt 11:19; Lc 7:34). Ele amava a viúva e o órfão, e amava aqueles que não tinham amor nenhum por Ele. Seu amor não tinha fronteiras, pois se estendia aos leprosos e aleijados, aos surdos e mudos e cegos, mas Seus discípulos eram o alvo especial do Seu amor. “Como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13:1). Eles O magoaram muitas vezes, mas Ele nunca deixou de amá-los.
Depois havia o gozo. Num belíssimo paradoxo, o Salvador era o Homem de dores e, no entanto, estava ungido “com óleo de alegria” mais do que os outros (Sl 45:7; Hb 1:9). Ele carregava um fardo de angústia. A dor era Sua constante companheira (Is 53:3), mas ainda assim Ele manifestava a alegria de um Homem que Se deleitava em fazer a vontade do Seu Pai, e na Sua última noite com os Seus discípulos Ele falou do “Meu gozo”, desejando que eles também o conhecessem (Jo 15:11). Ele pode Se regozijar de muitas maneiras e circunstâncias.
Seu era o gozo de um Filho amado se deleitando em santa comunhão com o Pai. “Se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças Te dou ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Lc 10:21). Seu era também o gozo de um Pastor encontrando uma ovelha desgarrada. “E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; e, chegando a casa convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida” (Lc 15:5-6). E havia também o gozo do Redentor que deu tudo o que tinha para comprar o tesouro escondido num campo e “pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo” (Mt 13:44). E ainda mais, havia o gozo que Lhe estava proposto e que seria completo depois de suportar a cruz (Hb 12:2) e então, também em antecipação, o gozo do retorno do Soberano que dirá aos Seus servos fiéis: “Bem está … entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21,23).
Havia também a paz. O profeta Isaías chamou o Salvador de “Príncipe da Paz” (Is 9:6), e em santa serenidade Ele viveu e andou em meio à afronta e à humilhação durante todos os dias do Seu ministério, indo até o sofrimento e a morte. É um Homem em paz que diz no Getsêmani: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22:42). É um homem em paz que ficou em pé com dignidade perante o Sumo Sacerdote de Israel até mesmo quando os homens cuspiam no Seu rosto (Mt 26:67).
É um Homem em paz que ficou diante do governador Romano e diante de Herodes naquelas horas finais, e “não lhes respondeu palavra” (Mt 27:14). Não nos admira que Pilatos se maravilhasse! Haveria ele, antes, visto uma paz como esta num prisioneiro?
Quão longânimo era Jesus. Esse também é o fruto do Espírito. Ele suportou com tanta paciência os homens que não O compreendiam.
Ele lhes expôs a verdade de Deus com uma longanimidade que esperava enquanto a lentidão deles compreendesse o significado. Veja isso em evidência no caminho de Emaús quando Ele guiou aqueles dois
discípulos, passo a passo, até Se revelar a eles (Lc 24). Eles eram tardos de coração, mas Ele foi paciente com eles.
A benignidade [literalmente “gentileza”] era outra característica deleitável do Senhor Jesus. Não era uma característica dos escribas e fariseus que eram, na sua maioria, homens orgulhosos e arrogantes. Será que as criancinhas teriam se aproximado daqueles homens austeros, assim como se aproximaram do Senhor? (Mc 10:13-16) No entanto, o grande ancestral desses líderes da nação, o Rei Davi, atribuiu a sua grandeza à brandura de Jeová, dizendo: “Pela Tua brandura me vieste a engrandecer” (II Sm 22:36; Sl 18:35). A benignidade de Jeová foi vista no caráter de Jesus. Muitos anos mais tarde Paulo lembra seus leitores da mansidão e benignidade de Cristo (II Co 10:1). É interessante que Paulo, que não conheceu a Cristo nos dias da Sua carne, falaria da Sua benignidade! Será que foram outros, que O haviam conhecido, que relataram isso a Paulo, recordando de ocasiões que demonstraram aquele caráter meigo e aquela maneira terna de tratar com os homens?
E o que podemos dizer da Sua bondade? Esta é uma das características de Deus, de quem o salmista podia dizer: “Tu és bom e fazes bem” (Sl 119:68), e o caráter de Deus é visto em um homem que andou fazendo bem, Jesus de Nazaré, ungido com o Espírito Santo (At 10:38).
Uma vez alguém se dirigiu a Ele como “Bom Mestre”, e o Salvador lhe respondeu: “Por que me chamas bom? Não há bom senão Um só, que é Deus” (Mt 19:16-17; Mc 10:17-18; Lc 18:18-19). O Senhor Jesus não estava, naturalmente, negando que Ele era bom, antes, estava mostrando ao jovem, se ele somente pudesse ter entendido, que Aquele a quem ele chamara “Bom Mestre” era realmente Deus, uma Pessoa divina.
Como um Homem dependente, o nosso Senhor Jesus vivia por fé, outro aspecto do fruto do Espírito. Geralmente se diz que os sentimentos de Jesus são vistos nos Salmos. De fato, isso é verdade. Lá Ele diz profeticamente: “Sobre Ti fui lançado desde a madre; Tu és o Meu Deus desde o ventre da Minha mãe” (Sl 22:10). Desde a infância, na adolescência, e chegando à idade adulta, Ele foi caracterizado por dependência em Deus. Até mesmo Seus inimigos reconheceram isso, quando disseram, quase que citando literalmente os Salmos: “Confiou em Deus; livre-O agora, se O ama” (Mt 27:43; Sl 22:8).
Quanto à mansidão, foi Ele mesmo que disse: “Sou manso e humilde” (Mt 11:29). Note que somente Ele em Sua perfeição moral poderia reivindicar ser manso e humilde, e ainda continuar sendo. Se um homem comum dissesse isso de si mesmo, esse fato em si seria a negação da sua humildade, soando quase como arrogância. Mas não era assim com Ele, e lembramos que no início do Seu ministério Ele ensinou: “Bem-aventurados os mansos” (Mt 5:5), então Ele mesmo é o insuperável bem-aventurado, manso e humilde de coração.
A palavra temperança talvez fosse melhor traduzida “autocontrole”, e isso foi maravilhosamente manifesto na reação do Senhor às acusações injustas e às provocações dos Seus inimigos. Com tudo o que
disseram sobre Ele ou para Ele, Ele manteve a compostura e dignidade.
Quando outros homens teriam respondido com indignação às zombarias, o Salvador permaneceu calmo, exercendo um autocontrole perfeito. Quando poderia ter chamado dez mil anjos para destruir Seus acusadores, Ele entregou-Se e suportou a afronta e a zombaria com majestade silenciosa.
Assim, durante aqueles trinta e três anos de perfeita Humanidade, o fruto do Espírito foi certamente manifestado na vida do Senhor Jesus.
“Pus o Meu Espírito sobre Ele”, disse Jeová em Isaías 42:1, e nEle os homens viram amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e autocontrole em perfeito equilíbrio. Essa era a flor de farinha da oferta de manjares, uma consistência homogênea no caráter daquele de quem todas as ofertas eram meras prefigurações.

O Espírito Santo e o ministério público de Cristo
Tendo ministrado nas sinagogas da Galileia, Jesus veio para Nazaré, Sua cidade natal. Ele conhecia bem aquela sinagoga, e era bem conhecido ali. Ele havia assistido as reuniões na sinagoga de forma constante durante todos aqueles anos, mas agora seria diferente. Ele veio no Sábado como era Seu costume, e quando surgiu a oportunidade Ele se levantou para ler a porção das Escrituras para aquela ocasião. Era o direito de todo homem judeu adulto ler as Escrituras publicamente, e assim o atendente entregou o Rolo Sagrado a Jesus. Ainda não havia uma divisão em capítulos e versículos, mas Ele com calma achou a passagem.
Ele conhecia bem a Palavra, pois Ele era o verdadeiro Bem-Aventurado cujo prazer estava na Lei do Senhor e naquela Lei Ele meditava de dia e de noite (Sl 1:2). Ele abriu o rolo no lugar que hoje é conhecido como Isaías 61 e começou a ler.
Este não era exatamente o começo do Seu ministério, pois Ele já estivera ensinando em outras regiões da Galileia, mas era uma introdução ao Seu ministério em Nazaré, onde havia sido criado. Ele leu: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”. Neste ponto da leitura Ele fechou o Livro, devolveu o Rolo ao atendente e Se assentou para ministrar, dizendo que essa Escritura estava agora sendo cumprida diante deles (Lc 4:14-19).
Note a referência à Trindade nas palavras iniciais do Senhor: “O Espírito do Senhor é sobre Mim”. Assim como o Pai, o Filho e o Espírito estiveram juntos no Seu batismo, assim agora eles estavam em comunhão santa no Seu ministério. “O Espírito … Senhor … Mim”.
“Ungiu-Me”. Estes judeus sabiam tudo sobre ungir. Seus profetas, sacerdotes e reis eram todos ungidos para assumir seus vários ofícios, e se somente tivessem tido inteligência espiritual para enxergar, ali estava alguém na sua sinagoga cujo ministério variado seria o de Profeta, Sacerdote e Rei, e para esses ofícios Ele fora divinamente ungido. Mais tarde Pedro iria lembrá-los de que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10:38).
No poder da Sua unção Jesus anunciou que Ele viera pregar as boas novas aos pobres. Aqui estava o ministério do Profeta, pregando e ensinando a Palavra de Deus. Ele viera também para curar os quebrantados de coração. Este era um ministério sacerdotal, e quantas vezes nos anos que se seguiram Ele de fato confortou os que sofriam. Ele veio também para libertar os cativos do pecado e de Satanás, e com a palavra de autoridade de um Rei Ele de fato libertaria a muitos. O grande Médico iria restaurar a vista aos cegos e pôr em liberdade os que haviam sido oprimidos pela vida. Ensinando! Pregando! Curando! Mateus resume isso tudo em poucas palavras: “E percorria Jesus toda a Galileia ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 4:23; 9:35). O Messias há muito prometido estava no meio deles no poder do Espírito: seu Profeta, Sacerdote e Rei.

O Espírito Santo e a expulsão de demônios
Todos sabem que muito do ministério subsequente do Senhor envolveu a expulsão de demônios, e a maior parte, se não todos, os casos de possessão registrados aconteceram, por alguma razão, na Galileia.
Há algum exemplo de possessão demoníaca na Judeia? Há duas razões sugeridas para a predominância deste ataque satânico na Galiléia. Era, e Satanás sabia disso, a Província na qual Jesus o Messias vivera durante os primeiros trinta anos da Sua vida, e seria a esfera de grande parte do Seu ministério messiânico. Esta razão já explica por que houve tanta atividade demoníaca naquela Província. Além disso, a Galileia e os galileus não eram tão sofisticados quanto a Judeia e os seus habitantes. Na Judeia estava localizada a Cidade Santa e o Templo. Era ali que o Sumo Sacerdote e muitos sacerdotes habitavam, e era também na Judeia que o poderoso Sinédrio se reunia. Talvez com todos esses privilégios houvesse certa proteção contra o demonismo na Judeia, que não havia na
Galileia.
Há certa tristeza no fato que talvez a primeira ocorrência de possessão demoníaca acontecesse numa sinagoga. É triste porque um homem com espírito imundo era, aparentemente, tolerado na sinagoga ali, e no entanto, eles tinham se enfurecido com as palavras bondosas de Jesus na sinagoga em Nazaré (Mc 1:23; Lc 4:28, 33). Depois, no outro extremo, houve o caso do homem que habitava entre os sepulcros em Gadara, possesso por uma legião de demônios (Lc 8:26-36). Houve também outras cenas, como quando, “tendo chegado a tarde, quando já se estava
pondo o sol, trouxeram-Lhe todos os que se achavam enfermos, e os endemoninhados … E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios” (Mc 1:32, 34).
Foram, realmente, dias notáveis!
Entretanto, houve uma reação adversa cruel da parte dos fariseus a essa expulsão de demônios. Esses homens frios e insensíveis pareciam desconsiderar o alívio dado aos pobres sofredores, e aparentemente preferiam usar essas ocasiões para dar vazão à sua oposição invejosa ao Salvador. Em uma dessas ocasiões “a multidão se maravilhou, dizendo: Nunca tal se viu em Israel. Mas os fariseus diziam: Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios” (Mt 9:33-34). Em outra ocasião eles disseram: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12:24).
Essa foi realmente uma acusação muito solene, dizer que Jesus estava associado com o Diabo. Ele agora os faria ver que, além de ser uma acusação insensata, era uma blasfêmia, pois o Seu ministério de expulsão de demônios na realidade era exercido no poder do Espírito de Deus. Era uma ideia insensata, porque “todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá”. Como seria possível Ele expulsar demônios pelo príncipe dos demônios? “Se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?” (Mt 12:25-26). Sua sugestão de conspiração com Satanás era ridícula. O Espírito Santo e o pecado imperdoável
Mas havia um aspecto ainda mais sério na acusação deles. A expulsão dos demônios era uma evidência de que o Rei e o reino, em poder, estavam entre eles. “Mas se Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus” (Mt 12:28). Ao atribuir as Suas obras ao diabo, eles estavam blasfemando contra o Espírito Santo, e tal blasfêmia era um pecado imperdoável, solene ao extremo, como Ele disse: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt 12:31-32).
O pecado imperdoável consistia em atribuir ao poder do diabo as obras que Jesus tinha executado no poder do Espírito de Deus. A seriedade de insultar o Espírito Santo estava nisso, que Ele é o único que revela aos homens sua condição espiritual e sua carência, e então traz aos corações entenebrecidos a luz do Evangelho. Se Ele for rejeitado, que esperança há de perdão para o homem? Um homem pode falar contra Cristo, como muitos fazem, mas o Espírito de Deus pode atuar nesse homem e levá-lo ao arrependimento e salvação, mas se o ministério, em graça, do Espírito for difamado e recusado, então o arrependimento é impossível. Este pecado não tem perdão. Se alguém perguntar: “É possível cometer esse pecado hoje?”, devemos lembrar que é algo terrível rejeitar os apelos do Espírito, pois quem além dEle pode despertar a consciência, trazer convicção do pecado e revelar Cristo ao coração?
Rejeitar o Espírito Santo é a rejeição de toda esperança ou possibilidade de salvação.

O Espírito Santo e o sofrimento final
Os cristãos muitas vezes cantam o hino de E. Denny que diz: “Sempre no Teu coração oprimido pesava um fardo de sofrimento”,* e embora isso seja verdade, houve sofrimentos no final do ministério e vida terrestre do Senhor que ofuscaram todos os demais. Embora seja absolutamente verdade que o Senhor Jesus Se ofereceu a Si mesmo prontamente, e que Ele foi voluntariamente até o sofrimento final e a morte, também lemos que foi pelo Espírito eterno que Ele Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus (Hb 9:14). É verdade que alguns estudiosos não veem nisso uma referência ao Espírito Santo de Deus, mas ao espírito pessoal do Senhor Jesus, Seu próprio espírito. Neste artigo presumimos que é, de fato, uma referência ao Espírito Santo, e de acordo com o comentário de Albert Barnes, essa é “a interpretação que ocorreria à grande maioria dos leitores do Novo Testamento.
Presume-se que a grande maioria de leitores sóbrios, simples e inteligentes da Bíblia, ao ler atentamente essa passagem, deduz que ela se refere ao Espírito Santo” †. Isso não prova nada, necessariamente, mas mostra que a maioria dos leitores e estudiosos aceitará que se trata de uma referência ao Espírito Santo de Deus.
Gólgota é, naturalmente, o lugar do sacrifício físico de Cristo, onde Ele levou “em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (I Pe 2:24).
Mas quando e onde começou a ser vista essa entrega de Si mesmo em toda a sua crua realidade? Foi na Sua última noite com Seus discípulos, e logo após celebrarem aquela última Páscoa, quando Ele atravessou  o ribeiro Cedrom rumo ao Getsêmani. Precisamos nos aproximar do Jardim com absoluta reverência. Deixando oito discípulos um pouco para trás, o Salvador levou os privilegiados Pedro, Tiago e João um pouco mais adiante, mas Ele mesmo foi mais adiante ainda, à solidão do jardim, para orar no meio das oliveiras. Mateus, Marcos e Lucas descrevem cena: “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos Seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se muito. Então lhes disse: a Minha alma etá cheia de tristeza até a morte; ficai aqui e velai comigo. E, indo um pouco mais para adiante, prostrou-Se sobre o Seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres. E, voltando para os Seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-Se a Tua vontade. E, voltando-Se, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados. E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras” (Mt 26:36-44). “Não a Minha vontade, mas a Tua”, era a santa linguagem daquele que Se entregava a Deus, à cruz e à morte.
* “Forever on Thy burdened heart a weight of sorrow hung”.
† BARNES, A. Notes on the New Testament. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1962.

Não pode haver dúvida de que enquanto Hebreus 9:14 conduz o leitor ao Calvário, o ministério daquele mesmo Espírito está em evidência na submissão do Senhor Jesus no jardim de Getsêmani. Foi em comunhão inquebrável com o Espírito que o Salvador viveu Sua vida e exerceu Seus variados ministérios — será que o Espírito O deixaria sozinho agora, quando Ele enfrentaria a morte pela manhã? Eles O prenderam de forma cruel tarde da noite daquele dia, vindo com lanternas, tochas e armas. Eles O amarraram, e conduziram-no de volta, pelo vale de Cedrom, ao palácio do Sumo Sacerdote. Na injustiça de um julgamento noturno, sem defesa, Jesus suportou o escárnio e as cusparadas até que, cedo pela manhã, eles O entregaram aos romanos.
Ali a zombaria e a dor física continuaram, com uma coroa de espinhos, o manto de púrpura, os açoites e, finalmente, a cruz posta sobre Suas costas ensanguentadas. Ele não ofereceu resistência. Ele Se entregou no jardim, sabendo muito bem de tudo que estava pela frente. Como dizem, de maneira tão bela, as seguintes palavras:
O juramento estava sobre Ti
— Vieste para Te entregar à morte,
E consagração caracterizou o Teu caminho E falou em cada palavra.*
McLeod Wylie
Sentenciado à morte, eles O levaram ao Gólgota onde, pregado pelas mãos e pelos pés sobre a cruz, Ele se tornou uma verdadeira oferta pelo pecado. Mas agora, “o Senhor [Jeová] fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:6). “Pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14). Foi pelo mesmo Espírito Santo, que havia efetuado a Sua concepção milagrosa no ventre da virgem, e que havia estado com Ele durante todos os anos da Sua vida e de Seu ministério, que agora Ele foi levado aos sofrimentos indescritíveis como Aquele que levou sobre Si o pecado. Mas esse não é o fim!

O Espírito Santo na ressurreição de Cristo
O tão bem-conhecido e precioso versículo de I Pedro 3:18, nos fala do nosso Senhor sendo “mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito”, e aqui, novamente, surge o mesmo problema quanto à interpretação de “espírito” como em Hebreus 9:14. Trata-se do Espírito Santo ou do espírito pessoal do Senhor Jesus? Os expositores novamente estão divididos, e Spurgeon diz de forma interessante, mesmo se um tanto abrupta: “Ninguém entende essa passagem, embora alguns acham que a entendem”. Mas não foi por aquele Espírito de Santidade, o Espírito Santo, que pelo poder da ressurreição Ele foi declarado ser o Filho de Deus? (Rm 1:4) Paulo fala do “Espírito dAquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus” (Rm 8:11), e embora isso não liga o Espírito Santo diretamente à ressurreição pessoal do nosso Senhor, podemos certamente concluir isto.

O Espírito Santo e a exaltação e glorificação de Cristo No último dia da grande Festa dos Tabernáculos o Senhor Jesus prometera rios de água viva para aqueles que cressem nEle (Jo 7: 37-39). O v. 39 é um parêntesis, explicando que Jesus estava falando do Espírito Santo que ainda não havia sido dado. Sua vinda dependia da glorificação do Salvador. O Espírito Santo era outro Consolador, que viria habitar com eles depois da partida de Jesus, mas como o Espírito seria uma dádiva do Cristo ressurrecto, Sua vinda precisava esperar até que Cristo tivesse de fato ressurgido dentre os mortos, ascendido e sido glorificado.
* Tradução livre. O original diz: “The vow was on Thee — Thou didst come/To yield Thyself to death./And consecration marked Thy path/And spoke in every breath.”

Os santos e os profetas da antiguidade certamente provaram algo do poder do Espírito vindo sobre eles, mas eles não O conheciam como um Companheiro permanente. Isso só aconteceria numa nova dispensação, que aguardava a ascensão do nosso Senhor à glória. É por isso que Ele disse: “… vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for o Consolador não virá a vós; mas quando Eu for, vo-lO enviarei” (Jo 16:7). Outra vez Ele disse: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim” (Jo 15:26). Isso em breve realmente se cumpriu, e Pedro podia pregar dizendo: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vede e ouvis” (At 2:33). Uma nova era havia começado! Mas este é o tema de Atos dos Apóstolos.
Lembrando que tudo isso que temos considerado tem a ver com a santa comunhão entre duas Pessoas divinas, não é surpreendente que tanta coisa fica além do alcance da compreensão de meros mortais. Às vezes temos somente que nos maravilhar e adorar, pois não é possível compreender. Mas, isso não demonstra a grandeza do Eterno? Três Pessoas numa Divindade inefável, todas interessadas nas vidas e no bem-estar dos fracos homens. Bem pode o apóstolo escrever: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (II Co 13:14). Pai, Filho e o Espírito da graça estão juntamente envolvidos na bênção daqueles que amam ao Salvador. 

 

Por James M. Flanigan, Irlanda do Norte

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