ESPIRITISMO

O termo "Espiritismo" é preferível à designação mais popular em outros países, "Espiritualismo", primeiro porque frisa o fato admitido que esse sistema religioso afirma tratar com os espíritos, e também porque é realmente difícil perceber onde entra a sua alegada espiritualidade.

Histórico

Os primórdios do Espiritismo perdem-se na antiguidade.
Provavelmente estamos tratando da mais antiga ilusão religiosa que existe. Resulta, antes de tudo, do desejo de obter informações sobre a vida além-túmulo. A vida futura será tão repleta de tristezas quanto a atual? Seremos felizes?
Teremos corpos? Em seguida, o Espiritismo é fruto do desejo de continuar em contacto com os entes amadosque já faleceram.
Há traços de Espiritismo entre os antigos chineses, indianos, babilônios e egípcios; o Espiritismo também pode ser acompanhado pelo Império Romano e pela Europa dos tempos medievais. Portanto, das ilusões religiosas de nossos dias, é a única que já existia nos tempos bíblicos, e as Escrituras estão longe de guardar silêncio sobre ela.
Naturalmente que tem havido reavivamentos periódicos do Espiritismo. Os últimos três avivamentos foram os causados pelas irmãs Fox e pelas destituições resultantes das duas últimas guerras mundiais.
Em sua forma moderna, o Espiritismo retrocede a duas jovens norte-americanas. O Sr. John D. Fax, sua esposa e seis filhos, mudaram-se para uma casa na vila de Hydeville, estado de Nova Iorque, em dezembro de 1847. As duas crianças menores, Margaret e Kate, respectivamente de doze e nove anos de idade, dentro em pouco ouviram pancadas em diferentes partes da casa, o que a princípio se julgou ser produzido por ratos e camundongos. Porém, quando lençóis foram arrancados da cama por mãos invisíveis, cadeiras e mesas foram tiradas de seus lugares, e uma mão fria foi sentida no rosto da menina menor; depois que todo esforço para explicar esses fenômenos de maneira natural fracassara, Kate teve repentinamente a idéia de
entrar em contacto com o "Velho Pé Fendido". Dando um estalido com os dedos, disse ela: "Ouça, velho pé fendido, faça como eu faço." Imediatamente o ruído respondeu. Visto que isso foi repetido por diversas vezes, concluiu-se que algo de sobrenatural estava operando ali. As duas meninas criaram um meio de comunicar-se inteligentemente com o autor dos ruídos, que respondia às perguntas por meio de determinado número de pancadas. Revelou-se como Charles Rosma, mascate casado que, com a idade de trinta e um anos, fora assassinado por um certo John Bell, ferreiro e antigo morador da casa agora habitada pela família Fax.
Seu corpo estaria sepultado a três metros abaixo da superfície, na adega; o assassino não fora punido. Porções de um esqueleto humano foram realmente encontradas na adega.
Partindo desse acontecimento, que recebeu ampla cobertura, propagaram-se sessões espiritas por todos os Estados Unidos da América do Norte. Na Inglaterra, a consulta aos mortos já era muito popular entre as elites sociais. Por conseguinte, os médiuns norte-americanos encontraram ali um solo fértil quando, em 1852, os espíritos anunciaram aos devotos norte-americanos que eles invadiriam a Inglaterra, e que ali o movimento seria "muito religioso e muito científico".
Outros países europeus também foram visitados com sucesso pelos Espíritas norte-americanos.
"Em França, a figura de Allan Kardec é a principal dentro dos arraiais espiritas. Léon Hippolyte Dénizart Rivail, nascido em Líão, em 1804, filho de um advogado, tomou o pseudônimo de 'Allan Kardec' porquanto acreditava ser ele a reencarnação de um poeta celta com esse nome. Dizia ter recebido a missão de pregar uma nova religião, isso a 30 de abril de 1856. Um ano depois publicou o 'Livro dos Espíritos', e logo depois fez excursões de propaganda. Estudara a literatura existente na Inglaterra e nos Estados Unidos e dizia ser guiado por espíritos protetores. Caracterizou-se por introduzir no Espiritismo a idéia da reencarnação.
Em 1861 publicou o Livro dos Médiuns, em 1864 o O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1865 Céu e Inferno, e em 1867, Gênesis. Homem dotado de características físicas e mentais de grande resistência, foi apóstolo das novas idéias.
Fundou 'A Revista Espírita', periódico mensal. me mesmo assentou as bases da 'Sociedade Continuadora da Missão de Allan Kardec'. Morreu em 1869.
"O Espiritismo latino, já separado do anglo-saxão pela doutrina da reencarnação, se subdividiu em duas correntes:
a Kardecista ou doutrinária, e a experimental." (Ferreira, O Espiritismo, uma Avaliação, pág, 17.)
"A codificação realizada por Allan Kardec veio a constituir o cerne da religião espírita no Brasil. Os característicosespeciais que assumiu o movimento espírita brasileiro - em contraposição às tendências anglo-norte-americanas, por exemplo - não foram de molde a modificar a inspiraçãofundamental do Codificador e de seus seguidores mais próximos.
"A ênfase no aspecto religioso da obra de Kardec, que se define igualmente como 'ciência e filosofia', constitui, no entanto, o traço distintivo do Espiritismo brasileiro e, talvez, a causa de seu sucesso entre nós.
"De qualquer modo, as obras de Kardec continuam sendo a base doutrinária do Espiritismo brasileiro; nela se encontra aquilo que se considera, no Brasil, como o essencial da doutrina." (Kardecismo e Umbanda, Cândido Procópio Ferreira de Oamargo, pág. 4.)

As Afirmações dos Espíriitas

Aqui no Brasil, o Kardecismo constitui sistema fllosófico e religioso bastante complexo. Daremos, para uso do leitor, uma breve síntese de sua doutrina ... uma enumeração das principais teses do Espiritismo brasileiro. segundo Ferreira de Camargo em seu livro Kardecismo e Umbanda:

1. Possibilidade e conveniência de comunicações com entidades espírítuaís desencarnadas.
2. Crença na reencarnação.
3. Crença na chamada "lei da causa e do efeito", equivalente espírita da idéia tradicional do Karma indu. Nada é fortuito e não podemos escapar às conseqüências de nossos atos.
4. Crença na pluralidade dos mundos habitados. Cada mundo constitui uma etapa geral do progresso espiritual. A Terra é considerada um planeta de expiação.
5. Não há distinção entre o natural e o sobrenatural, nem entre religião e ciência. Não há graça. O progresso relativo dos indivíduos depende, exclusivamente, do mérito pessoal acumulado nesta e em encarnações anteriores.
6. A caridade é a virtude principal - talvez única - e se aplica tanto' aos vivos como aos mortos, ou desencarnados, como sempre preferem dizer.
7. Deus, embora existente, é por demais longínquo e se perde na distância incomensurável de um ponto espiritual que mal podemos vislumbrar.
8. Mais próximos estão os "guias" (espíritos que se incorporam nos médiuns), importantes no culto espírita, e que nos ajudam por amor. (Também há os maus.)
9. Jesus Cristo é visto como grande entidade encarnada - a maior que já veio ao nosso mundo. O Evangelho foi reinterpretado, segundo o Espiritismo, em famoso livro de Allan Kardec. (Ferreira de Camargo, Kardecismo e Umbanda, págs. 7, 8.)

De modo geral os Espíritas defendem as seguintes doutrinas:
Salientam a vida correta sobre a terra, crendo que sua condição, no mundo dos espíritos, depende inteiramente do que fizerem enquanto estiverem em sua forma mortal.
"Acreditam na Inteligência Infinita, e que os fenômenos da natureza, físicos e espirituais, são expressões da Inteligência Infinita; que a existência e a identidade pessoal do indivíduo continuam após a transformação chamada 'morte' e que a comunicação com os chamados 'mortos' é um fato cientificamente comprovado pelos fenômenos do Espiritismo."
Acreditam na "Regra Aurea" e também que o homem prepara a sua própria felicidade ou infelicidade ao obedecer ou desobedecer às "leis físicas da natureza." A porta da reforma jamais é fechada para qualquer alma humana, aqui ou no além.
Acreditam os Espíritas que o mundo dos espíritos é o paralelo do mundo visível, apenas mais belo e perfeito.
Aqueles que nele entram devem estar isentos das impressões do mal, feitas quando ainda estavam no corpo. Haverá uma restauração final à felicidade para todas as almas.
Aqueles, porém, que tiverem vivido sôbre a terra de uma maneira contrária às leis da Inteligência sofrerão no além túmulo a punição de desejarem prosseguir em seu curso de maldade, sem a possibilidade de assim fazê-lo. Isso conduzirá tais pessoas ao remorso, e o remorso, por sua vez, à purificação. Alguns Espíritas afirmam que a vida no alémtúmulo será passada em sete círculos ou esferas diferentes, que circundam o globo terrestre, cada círculo em volta do anterior, como a casca de uma fruta está ao seu redor ou como o córtex de uma árvore cobre o tronco. Alguns também asseveram que os espíritos inferiores se encontram em uma esfera mais baixa, "presa à terra", onde são ensinados pelos espíritos de esfera superior. Os espíritos daqueles que morreram recentemente acham-se bastante próximos da terra; podem ouvir-nos e nos conhecem. A medida em que os espíritos se vão aperfeiçoando, passam para uma esfera superior, e gradualmente perdem o seu interesse pela vida que vivemos na carne. Os Espíritas acreditam que os espíritos têm corpo, ainda que de natureza diferente daquele
que agora possuímos na terra.
Os Espíritas são contrários à guerra, à punição capital e a toda e qualquer forma de tirania. Não acreditam em perdão de pecados, e, sim, que cada indivíduo tem de preparar o seu próprio destino, mediante a evolução moral ou espiritual.
Os fenômenos espíritas (os acontecimentos de onde chegam as informações a-osEspíritas) são numerosos. Todos os homens, segundo dizem os Espíritas, possuem força psíquica (psíquica, do vocábulo grego psyche, alma; portanto, força de alma). Enquanto a fôrça física reside nos músculos, a força psíquica está nas mentes dos homens. Aqueles que possuem essa força em maior dose que os demais geralmente se tornam médiuns espíritas. Um médium é um intermediário, instrumento através do qual os espíritos transmitem conhecimentos sobrenaturais aos participantes de uma "sessão", o termo usualmente empregado para designar as reuniões espíritas.
Posto que os Espíritas acreditam que a força psíquica é aumentada quando várias pessoas se concentram e quando fortalecem uma à outra por meio do contacto físico, o fenômeno espírita mais simples é o da elevação da mesa, ou pancadas. Os participantes espalham as mãos à superfície de uma mesa, em torno da qual se assentaram. Deve haver um círculo ininterrupto, cada participante com os polegares tocando um no outro, ao passo que os dedos mínimos tocam nos participantes de um lado e de outro. A mesa começa a elevar-se duas ou mais pernas do soalho, e torna a cair. Os participantes concordam com o "espírito" que uma pancada será a letra "A", duas pancadas serão a letra "B", e assim por diante; e a mensagem é transmitida por meio das pancadas. Ou os participantes sugerem um nome ou um substantivo, e o "espírito" expressa o seu assentimento quando a palavra certa é proferida.
Um fenômeno mais avançado ocorre quando o médium entra em transe. Trata-se de uma condição inconsciente ou insensível, um estado em que a consciência e as sensações corpóreas ficam suspensas por algum tempo. Então o médium declara o que ele - mas geralmente ela - ouve e vê nessa condição. Em certas ocasiões o médium responde às perguntas que os participantes da sessão indaguem do espírito.
Novamente o espírito, chamado "controle" do médium, faz este último escrever. Quando o médium sai do transe, raramente lembra-se do que disse ou fez, mas sente-se muito fatigado.
Há numerosos outros fenômenos, alguns dos quais não proporcionam qualquer informação concernente aos entes queridos falecidos ou sobre a outra vida, mas parecem mais ter por alvo impressionar os participantes com o poder sobrenatural do espírito. Exemplos disso são os objetos que flutuam em um quarto, e a aparição de espíritos visíveis ou de suas mãos e braços. A isso se dá o nome de materialização.
Em uma típica sessão de materialização, diz-se que da boca e do corpo do médium emana o ectoplasma, algo nebuloso, semelhante a fumaça, que então recebe forma própria moldada pelo químico do mundo dos espíritos. (O ectoplasma é definido como um protoplasma exteriorizado, que foi descrito por Webster como "a base física da vida", ordínaríamente um senil-fluído espesso e viscoso, de consistência quase-gelatinosa, sem cor, translúcido, e que contém alta porcentagem de água, mas com alguns grânulos finos em suspensão. )
A principal diferença entre a literatura espírita mais antiga e a moderna é que esta última geralmente é escrita em tons mais gentis. Ao invés de zombarem das doutrinas da Igreja universal, ou de atacarem-nas com veemência, ignoram-nas convenientemente. A tese principal, portanto, permanece inalterada: a própria morte não precisa ser temida, pois é apenas uma passagem suave para uma vida muito similar àquela que os homens deixam para trás ao falecerem.

Explicação dos Fenômenos

Tão generalizado é o Espiritismo simulado que a aquilatação dos fenômenos se torna uma tarefa complicada.
Existem:

(1) Espiritismo Fraudulento

Sob a cobertura da escuridão (dizem que os espíritos são sensíveis à luz) e com a ajuda da eletricidade, de fonógrafos e numerosas outras invenções modernas, não existe um só fenômeno espírita genuíno que não possa ser reproduzido com cem vezes maior intensidade, para fins lucrativos.
Há uma hoste de trapaceiros bem organizados que reúnem informações referentes a ingênuos em perspectiva, da maneira mais sistemática possível, e que classificam cuidadosamente essas informações para referência futura ou que as vendem para outros médiuns. Com a informação obtida de antemão, o participante fica devidamente impressionado com os conhecimentos do médium, a voz do espírito é aparentemente reproduzi da do "éter", e os ingênuos são gradualmente escravizados pelo médium, até que é aconselhado sôbre onde devem investir o seu capital. Quando a vítima finalmente desperta para o fato que foi enganada, o médium escapa a qualquer processo judicial, alegando que estava apenas aplicando a sua "religião". Por exemplo, um bando de espertalhões descobriu que um dos participantes habituais era músico cujo mestre favorito era Brahms. Uma suposta médium, que era hábil pianista, memorizou as principais obras de Brahms. Então o ingênuo participante foi solicitado a pedir a presença de seu músico favorito por meio da médium, sentada diante do piano e supostamente em transe, e assim foi guiada pelo "espírito de Brahms" a tocar as grandes peças do mestre, que teria sido convocado pela médium. Admiradíssimo ante o que sucedia, a vítima ingênua desse caso entregou-se completamente à orientação da médium, acabou perdendo a fortuna e cometeu suicídio. A generalização desse Espiritismo fraudulento é tão grande que é muito difícil saber onde começa e onde termina.
Mas nossas dificuldades aumentam quando consideramos o fato que até mesmo os psíquicos genuínos têm sido apanhado em fraude por vezes sem conta. Supostamente isso se deve ao fato que as manifestações psíquicas nem sempre ocorrem quando o médium quer. Conseqüentemente, quando é marcada uma sessão e o participante espera resultados, o médium geralmente apela para os truques. Assim é que as irmãs Fox admitiram que seus primeiros ruídos eram conseguidos com estalidos feitos com as juntas dos artelhos.
Eusápia Paladino, a mais famosa médium espírita de seus dias, foi apanhada enganando pelo menos duas vezes. Em suma, a original Sociedade de Pesquisas Psíquicas, que consiste de eminentes eruditos e que tem investigado os fenômenos espíritas desde o ano de 1882, tem encontrado apenas dois ou três médiuns acima de suspeita durante um período de quarenta anos. A isso pode-se acrescentar que advogados tão eminentes do Espiritismo, como Sir William Crookes, em 1874, Light em 1909, e Sir Conan Doyle em 1919, têm admitido que não há teste conhecido pelo qual possamos determinar se uma informação que vem dos espíritos dos falecidos, chega até nós "bana fide" ou por meio de um "espirito maligno", ou Poltergeist, resolvído a enganar.
Além de tudo isso, os bons espíritos podem tentar transmitir uma mensagem por meio do controle de um médium, o espírito que o controla durante seu transe. Mas o próprio controle ocasionalmente parece sentir um prazer pervertido em torcer as informações do bom espírito. Assim temos uma massa confusa de informações por supostos Shakespeares e Carlyles que não sabem escrever o próprio nome; e é à base de fontes informativas tão duvidosas que muitos recebem informações sobre o além-túmulo.
Entretanto, concedamos aos nossos amigos espíritas o benefício da dúvida. Tiremos de nossa frente o fato que é inegável que a esmagadora maioria dos fenômenos espíritas é de natureza falsa, e também que é extremamente difícil a um indivíduo comum saber se está tratando com um simulador ou com um médium genuíno, e se este, por sua vez, está em contacto com uma fonte informativa legítima ou fraudulenta. Em outras palavras, consideremos

(2) O Espiritismo "Bona Fide" (Genuíno)

Quanto a esse ponto temos as seguintes opiniões:
1. Os próprios Espíritas asseveram que essas ínformações em que acreditam chegaram até eles através de canais honestos, por meio de espíritos de seres humanos falecidos que vívem na esfera mais próxima de nosso mundo. Visto que isso, como se sabe, é contrário aos claros ensinamentos das Escrituras, os Espíritas proeminentes não hesitam em denunciar os líderes cristãos de juízes incompetentes. Pode-se dizer que Sir Oliver Lodge expressa o pensamento dos Espíritas modernos ao afirmar que "o clero dificilmente pode formar um tribunal de inquisição", visto que eles "examinam a questão do ponto de vista cristão". Ele deseja que ponhamos de lado todos os "preconceitos" e que "raciocinemos hipoteticamente". Ao mesmo tempo, todavia, Sir Oliver admite que sua p-ópría convicção permanece mera hipótese, embora adicione: "Mas não é uma hipótese irracional. É a hipótese a que tenho sido compelido a abraçar, depois de trinta anos de estudos."
Em si mesmo isso não seria tão mau, posto que as doutrinas do Cristianismo são tão hipotéticas, se as considerarmos do ângulo das ciências exatas, quanto as doutrinas do Espiritismo ou quanto a quaisquer outras opiniões ou convicções metafísicas. Afinal de contas, todos andamos pela fé. Asseguramos, porém, que a fé cristã se alicerça emfatos históricos perfeitamente comprovados; e por isso não nos podemos desfazer dela em troca de algo tão destituído de provas e tão diametralmente contrário às doutrinas do próprio Cristianismo. Não é acerca dos fatos genuínos do Espiritismo que contendemos; mas combatemos a interpretação, a alegada fonte desses fatos. Que alguma informação chega ao médium, disso não temos dúvidas. Mas por qual razão deve Sir Oliver Lodge informar-nos, apaixonadamente, que a hipótese de que tal informação nos chega da parte dos entes amados já falecidos é superior a qualquer outra hipótese? Essa hipótese leva Sir Oliver a procurar eliminar todas as "doutrinas terrivelmente opressoras sobre o repouso em sepulcros e sobre a ressurreição carnal em algum dia muito distante", e outros "absurdos medievais".
Se toda a questão depende de uma hipótese contra a outra, então nós, os cristãos evangélicos, temos o pleno direito de nos recusarmos a abandonar a nossa herança, que a Igreja de Cristo, tão dolorosa e universalmente, tem derivado da Bíblia. E quando acrescentamos que, de modo geral, as descobertas do Espiritismo fazem oposição direta a tudo quanto as Escrituras ensinam, podemos ser acusados com justiça de nos recusarmos a aceitar a "hipótese" do Espiritismo?

2. Uma outra explicação é que todas as comunicações vêm do médium e da audiência. No Espiritismo abordamos os fenômenos físicos (movimento de corpos pesados, sem contacto entre si, alterações de peso, aparecimento de mãos e membros) e os fenômenos psíquicos (conhecimentos recebidos pelo médium em transe, que não poderiam ser atribuídos a qualquer fonte conhecida). Asseveram os Espíritas que todos os indivíduos possuem força física, elétrica e psíquica; que os fenômenos físicos do Espiritismo se devem a uma força física excepcional ou a um poder incomum da mente sobre a matéria; que as características psíquicas são resultantes de fôrças psíquicas fenomenais. Sob essa categoria cabe a telepatia (transferência de pensamento dos participantes ou de outros para o médium); leitura da mente (em alguns casos assevera-se que a mente subconsciente do médium "lê" a mente subconsciente do participante, e que são lidos informes há muito apagados em sua memória); clarividência e clariaudiência (capacidade de ver e de ouvir além ou abaixo da quantidade ordinária de vibrações do éter, vistas e ouvidas pelos seres humanos); e atributos similares da alma que são quantidades conhecidas apenas parcialmente. O livro do Dr. A. T. Schofield, um médico e psicólogo inglês, contém muita matéria informativa e interessante sobre esse particular. Mas é digno de nota que tão pouco, até mesmo daquilo que se sabe, é realmente compreendido, que muitos Espíritas proeminentes têm admitido que muitas das chamadas manifestações de espíritos podem ser causadas por certas qualidades misteriosas da alma humana.
Este escritor ouviu o Dr. C. Eaton afirmar que ele tinha demonstrado a verdade dessa teoria por vezes seguidas, mediante a aplicação do seguinte teste. tle abria um livro na presença de uma médium em transe, lia o número da página, voltava o livro de cabeça para baixo e pedia à médium que mencionasse o número da página aberta. Isso ela podia fazer invariàvelmente, posto que ela lia o número na mente dêle. Então ele fechava o livro e tornava a abri-la, estando ainda de cabeça para baixo. Dessa maneira, "ninguém na terra sabia qual o número da página em que o livro estava aberto, e a mesma médium invariávelmente tentava adivinhar o número e errava."
Esse é realmente um teste notável. Outrossim, à luz do fato que a telepatia ou leitura da mente ocorrem em quase todas as vidas humanas em uma ocasião ou outra, não duvidamos que os psíquicos tenham esse poder misterioso em alto grau, especialmente quando entram em transe, ou. seja, quando sua mente consciente cede lugar ao desempenho da mente inconsciente. A bem conhecida novela, Jane Eyre, apresenta um caso de telepatia mental que pode ser duplicado hoje em dia. Um dos professôres deste escritor contou-lhe que dois dias depois de haver passado uma noite celebrando com colegas estudantes, chegou uma carta de sua mãe, que estava em uma cidade distante, perguntando-lhe por qual motivo ele não passara a noite na cama, posto que ela se preocupara com êle até às últimas horas da madrugada. Em apoio à tese que pelo menos alguns dos fenômenos do Espiritismo se devem à telepatia e à clarividência, J. Stafford Wright, em seu livro, Man in
the Process of Time (pág. 110), salienta o fato que, ocasionalmente, algum "médium tem recebido mensagens e descrições de algum amigo do participante, que cria estar morto, mas que de fato continuava vivo. O caso mais famoso é o caso de Gordon Davis, citado pelo Dr. S. G. Soal, em The Proceedings of the S. P. R, val. XXXV."
Não nos surpreendemos, por conseguinte, ao descobrir homens que, como os antigos saduceus, dizem que não há nem ressurreição, nem anjo, nem espírito, atribuindo todos os fenômenos espíritas a essas forças naturais. Naturalmenteque estão em foco os fenômenos genuínos, posto que jamais nos devemos esquecer do fato que muito numerosos são os ludíbrios. Assim é que a inclinação da mesa se produz por meio de um gancho e uma corrente, que liga a mesa com a roupa do médium, ou através de uma perna oca da mesa, a qual é movida por um cúmplice em uma saleta no andar de baixo onde se desenrola a sessão; e assim por diante.
Para aqueles que negam o mundo dos espíritos, o que dizemos é a interpretação lógica de todo Espiritismo genuíno.

3. Entretanto ainda restam duas dificuldades que se interpõem no caminho de quem quer aceitar essa teoria como explicação de todos os fenômenos espíritas.

(a) Os Espíritas que têm mergulhado profundamente na questão têm confessado, ocasionalmente, o fato da obsessão por espíritos vis e pervertidos. O excelente livro de E. F. Hanson contém diversas páginas cheias de citações extraídas de autoridades sobre questões espíritas como a revista Mind and Matter, nas quais se admite que de vez em quando os médiuns são sujeitos ao controle de maus espíritos. Ele menciona um médium que se achava numa situação física tão precária que um "espírito médico" ordenou a um espírito maligno que saísse do corpo do médium vítima, após o que convidou, com igual sucesso, que um espírito mais gentil viesse tomar conta do paciente mediúnico.
Em apoio a isso temos o testemunho de pessoas medíúnicas ou psíquicas que, após algumas poucas experiências, abandonaram inteiramente o Espiritismo porque a informação recebida era tão horrendamente vil, obscena e blasfema que isso os chocou e afastou inteiramente do Espiritismo.
E não adianta atribuir tudo isso ao outro "ego", o sublimado, do médium ou do consulente, porquanto, segundo declara o Sr. Wallace, um Espírita famoso, "então esse segundo Cego' é quase sempre um Cego' enganador e mentiroso, não importa quão moral e veraz possa ser o primeiro." E a isso ele chama de "estupenda dificuldade".
A isso podemos ajuntar que os efeitos físicos sobre o médium geralmente são de uma natureza tão dolorosa ou violenta que, citando um Espírita, "isso tem sido sempre imputado à possessão por espíritos malignos." Tais sintomas, para não escondermos a verdade, são os mesmos que se verificava nos dias de Jesus, os sintomas da possessão demoníaca, a saber, prostração, espuma pela boca e outros fenômenos da mesma espécie.

(b) Isso nos conduz inevitavelmente ao segundo obstáculo que se interpõe na frente de quem queira atribuir todos os fenômenos espíritas às forças psíquicas do indivíduo.
A Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamentos, evidentemente, adverte em termos candentes contra o Espiritismo, tachando-o de demonologia. Neste ponto discordamos com a asseveração de Canon Barnes e de Jane T. Stoddart, de que "a pior maneira de atacar o Espiritismo consiste de admitir que é verdadeira a sua reivindicação fundamental de que ali há comunicação com os 'espíritos', para então afirmar-se que esses "espíritos' com que os Espíritas entram em contacto são malignos."
Muito ao contrário, mantemos que há uma marcante diferença entre a "reivindicação fundamental" do Espiritismo de que se pode entrar em contacto com os espíritos de pessoas falecidas, e o ponto de vista bíblico de que tal contacto com as almas dos homens é impossível. Também declaramos que aquêíes que buscam tais contactos tornamse presa inconsciente de espíritos malignos, isto é, de demônios, cuja própria existência eles negam. Não podemos ver como se poderia ceder ante o Espiritismo quanto a essa idéia anti bíblica.
Ao defendermos esta última posição, como explicação ao menos parcial dos fenômenos espíritas, apresentamos o seguinte argumento cumulativo.

1. O Espiritismo sempre existiu, e a sua história pode ser acompanhada pelos séculos. Sempre revelou as mesmas características, de conformidade com o Espírita Colville e com a opinião do ex-Espírita Hanson. Segundo diz o International Psychic Gazette, de setembro de 1916, um médium inglês, Sr. W. W. Love, efetuou uma sessão espírita em um
templo chinês, na presença de sacerdotes chineses, que o consideraram "irmão espírita", e que manifestaram surpresa em face do fato que ele, sendo europeu, conhecia tanto acerca das manifestações espíritas.

2. No entanto, para aqueles sacerdotes, em seu templo chinês, o Espiritismo deles indubitavelmente era sua religião. Seria demasiado nos recordarmos do fato que as Escrituras nos advertem tanto contra a idolatria como contra a adoração aos demônios?

3. Certamente as Escrituras ensinam que os demônios podem influenciar os sêres humanos. Ler Gênesis 3:1; Apocalipse 12:9; 1 Reis 22:19-23; Ezequiel 28:11-19 (observe-se que aqui o rei de Tiro é aludido em uma linguagem que cabe parcialmente a êle e parcialmente somente ao seu senhor satânico, e o que daí se infere é que certamente trabalhavam muito unidos); João 8:44; Efésios 6:11, 12.

4. Em perfeita harmonia com isso, as Escrituras ensinam que os homens podem adorar aos demônios sob a aparência de adorar a um "deus" (Deuteronômio 32:17; 1 Coríntios 10:20).

5. A isso pode ser acrescentado que a possessão demoníaca era de ocorrência mui freqüente nos tempos bíblicos, especialmente quando o diabo ("o imitador de Deus", segundo disse Lutero) imitava a encarnação do Filho de Deus, tomando posse dos corpos de' suas vítimas humanas. Realmente não tem cabimento asseverar que os espíritos malignos não podem fazer "nestes últimos dias". o que faziam no primeiro século de nossa era.
Podemos afirmar, nessa conexão. que em nossa própria opinião, a combinação dos pontos dois e três é a mais satis fatória. Asseveramos que muitos fenômenos espíritas são resultado natural de atributos da alma ainda pouco estudados, mas que, em alguns casos, os demônios estão em ação. Também não consideramos de forma alguma impossível que um médium, que rendeu a sua mente ao comando de influências externas, ocasionalmente venha a tornar-se instrumento voluntário de uma poderosa mente e vontade humanas, e que, em outras oportunidades, seja reduzido ao instrumento inocente de espíritos sobrehumanos, que igualmente têm acesso a ele em sua condição de transe. (Naturalmente que Isso é multo diferente de atrIbuIr a loucura
à Influência direta dos espíritos maus. O Dr. Mulder mostra conclusivamente que muitos sintomas antes atribuídos à Influência demoníaca têm base física perturbada, tal como a histeria. O Dr. Mulder parece aceitar a opíníâo que, em Endor, pode-se suspeitar da presença de um espírito maligno. Cf. Essays on Mental Disturbance and Demon Possesston, por Jacob D. Mulder, Médico, Grand Rapids, Michigan. Este escrítor, em face da energia tou sataná, predita sobre o "iníquo", em II Tessalonicenses 2:9, não se admírarla se, ao nos aproximarmos do fim dos tempos, a possessão demoníaca se manifestasse como nos dias de Jesus, ainda que talvez em escala mais llmitada.)
E essa posição, ao que parece, explica plenamente o fruto notório do Espiritismo, a saber, os três "Is Negros": Infidelidade, Insanidade e Imoralidade. Todavia, ao fazermos esta declaração, não nos devemos olvidar que, à semelhança de outros cultos "liberais" e correntes de pensamento, o Espiritismo moderno tem absorvido algo da atitude geral de nossa época, ou seja, os mais recentes escritores e praticantes do Espiritismo, ao invés de atacarem o Cristianismo bíblico como absurdo, falso, e cousas semelhantes, sustentam que o mesmo concorda nos pontos essenciais com os ensinamentos do Espiritismo.
Resta-nos a tarefa de examinar, de modo passageiro, primeiramente a atitude das Escrituras para com o Espiritismo; e, em segundo lugar, a atitude do Espiritismo para com as Escrituras e a verdade bíblica.

A Bíblia sobre o Espiritismo

As Escrituras contêm muitas referências sobre o assunto.
Para que se entenda de forma inteligente o Espiritismo, servem as seguintes definições, dadas pela International Standard Bible Encyclopaedia:
Quem consulta um espírito familiar: alguém possuído por demônio adivinhador, de pitonisa (1 Samuel 28: Atos 16:16-18).

Adivinhação: arte de obter conhecimento secreto, especialmente aquele relacionado ao futuro, por meio quase exclusivamente dentro ao alcance de classes especiais de homens.

Espíritos familiares: espíritos que supostamente atendiam à chamada daqueles que tinham poder sobre eles. Provavelmente foram designados "familiares" por serem servos (famulus) pertencentes à família (familiaris) que podiam ser convocados pelo proprietârio. A palavra hebraíca que os descreve significa "oco", porquanto a voz do espírito talvez se supusesse vir do possuído como se saísse de uma garrafa, ou por causa do som cavernoso que caracteriza va as declarações, como se saíssem do chão (ver Isaías 29:4).

Necromância: consulta aos mortos. A tentativa é condenada nas Escrituras, ainda que não obtenha a sua finalidade.

Encantador: indivíduo que balbuciava encantamentos ou falava com sussurros de ventríloquo, como se estivesse sob a influência dos espíritos dos mortos.

Bruxa: "aquela que sabe". A palavra hebraica significa "mulher com espírito familiar".

Bruxo: "aquele que sabe". No Antigo Testamento, a palavra hebraica sempre denota um homem que pode interpretar as manifestações do médium.

Entre as passagens bíblicas temos Levítico 19:26, 31; Deuteronômio 18:9-14; I Samuel 28; II Reis 21:2, 6; I Crônicas 10:13, 14; Isaías 8:19-22; 19:3; Atos 16:16-18. Provavelmente há muitas outras referências, ainda que as adivinhações mencionadas fossem de caráter diferente. Essas passagens ensinam:

(1) Que a busca aos mortos era prática proibida (Êxodo 22:18; Levítico 20:6).
(2) Que o Espiritismo causou a destruição de sete nações; e, juntamente com outros pecados, a morte de Saul (I Crônicas 10:13).
(3) Que Israel corria tanto perigo de apelar para esse pecado quanto a "Cristandade" de hoje.
(4) Que o Egito, como castigo por seus pecados, foi entregue por Deus ao Espiritismo (Isaías 19:3).
(5) Que seu caráter pecaminoso consiste de tentar descobrir causas ocultas, à parte da revelação divina (Deuteronômio 18:11, 14, 15, 20; Isaías 8:19, 20).
(6) Que o Espiritismo rejeita a Cristo (Deuteronômio 18:14, 15).
(7) A luz dos textos acima, o moderno avivamento do Espiritismo parece ter sido claramente predito em I Tímóteo 4:1, e talvez também em Apocalipse 16:13, 14 (assim como as rãs vivem na água ou sobre a terra, assim também os demônios vivem na atmosfera ou nos sêres humanos).

A Sessão em Endor

Os Espíritas não podem apelar para o trecho de I Samuel 28 em apoio à opinião que o Antigo Testamento sanciona a comunicação com os mortos, proibindo apenas as práticas iníquas que acompanham o Espiritismo em sua forma mais decadente. E isso é evidente à base de I Crônicas 10:13, 14. Ainda que Samuel houvesse realmente aparecido, a passagem apenas significaria que Deus interrompeu a sessão com a sua intervenção.

Que isso é justamente o que aconteceu é sustentado por Keil, Haldeman, Pink, Gray, Panton, Schofield e muitos outros. Os seus argumentos são os seguintes:
1. A médium ficou aterrorizada quando sucedeu o inesperado.
2. As Escrituras se referem por cinco vezes a Samuel.
3. A profecia se cumpriu: Saul morreu no dia seguinte e o seu exército foi derrotado.

Não obstante, a única indicação óbvia do retorno de Samuel é o que se lê no versículo quinze: "Samuel disse a Saul ... " Todavia, se outras considerações puderem provar que Samuel não apareceu, então essas palavras precisam ser explicadas:
(a) Como tradução do que a mulher disse a Saul.
(b) Ou que foi chamado de Samuel aquilo que se parecia com Samuel, tal como os anjos, que aparecem como homens, são chamados homens (Gênesis 18:1, 2; Daniel 9:21); ou como os homens são chamados deuses porque se assemelham a Deus ou O representam sob certos aspectos ou posições (Salmo 82:6).

Que Samuel não apareceu é sustentado por Hanson, Bavinck, Orr e Honíg. Seus argumentos parecem ser bastante válidos, embora diferindo sõbre o que teria sucedido.

Aqui estão eles:

1. Nem a mulher nem o seu espírito familiar ("controle") tinham poder sõbre Samuel. Deus exercia esse poder.
Mas Ele se recusou a responder a Saul (ver. 6); certamente o Senhor não lhe daria resposta, depois que Saul apelara para um meio proibido, especialmente fazendo algo que Deus nunca duplicou. (Houdini, que por toda a vida foi antagonista do Espiritismo, prometeu à sua esposa que, se tosse possível, viria visitá-la após a sua morte. Durante anos a Sr.a Houdíní esperou de acordo com as últimas instruções de seu marido. Finalmente ela apagou a luz que deixara acesa para guiar o espírito em sua busca por ela. Clarence Darrow, o agnóstíco, prometeu a Claude Noble, negociante e músico de Detroít, "que se encontrasse uma vida alémtúmulo se manifestaria no aniversário de sua morte." A 13 de março de 1942, o sr. Noble f~z a quarta tentativa anual em Jackson Park, Chicago, para entrar em contacto com Darrow. Mas foi tudo em vão, tal como nos anos anteriores. Até mesmo a recitação da oração do Pai Nosso de nada adiantou para ajudar a produzir a prometida "violenta vibração no braço de Noble." E não admira, poís a oração do Pai Nosso não pode dar certo na tentativa de agir contrariamente à Palavra escrita do senhor.)
2. Depois que Samuel informou a Saul que Deus o tinha rejeitado, o profeta nada mais disse ao rei.

3. O verdadeiro Samuel não teria mentido, dizendo que Saul perturbara seu descanso, se Deus, e não Saul, lhe tivesse ordenado tal; nem dizendo que Saul estaria com ele no dia seguinte (cf. Lucas 16:26).

4. Após ter rejeitado a Saul devido ao pecado da desobediência, e subseqüentemente ignorando-o durante muitos anos, no último momento Deus não:
(a) teria cedido ao desejo de Saul de receber outra revelação;
(b) teria agido contrariamente à convicção que Ele sempre impressionou em seu' povo, isto é, que não há contacto entre os vivos e os mortos (Jó 7:10; Eclesiastes 9:6; Isaías 63:16; Lucas 16:31);
(c) teria criado a impressão que buscar informação da parte dos mortos não é tão mau assim, porquanto noutros lugares Deus ordenou que esse pecado seja punido com a morte (todos os Espíritas apelam para essa passagem);
(d) teria afirmado que Saul deveria morrer por causa daquilo que Deus concedera outorgar-lhe (1 Crônicas 10:13).

5. Saul disse à médium a quem deveria chamar. De acôrdo com nossa explicação sobre os fenômenos psíquicos, a médium sensível teria lido, na mente de Saul, qual seria a aparência de Samuel, e o descreveria como Saul costumava vê-lo (e não como ele estava após a morte).

6. A mulher temeu:
(a) Porque em seu transe ela reconheceu a Saul (ver. 12), que era conhecido como grande inimigo das práticas espíritas (leitura de mente); ver o ver. 3; ou,
(b) Porque ela viu elohim, espíritos, adejando por cima da aparição que, com "prodígios da mentira" (lI Tessalonicenses 2:9), se fazia passar por Samuel.

7. 'Baul nunca viu a Samuel; ele percebeu, pela descrição feita por ela, o que ela via em seu transe.

8. Quanto à profecia, aqui estão diversas possibilidades:
(a) A mulher percebeu o medo de Saul de que o seu fim estava se aproximando. E isso ela predisse.
(b) A mulher leu a profecia feita por Samuel (I Samuel 15:16, 18) que vinha perseguindo a Saul (I Samuel 16:2; 20:31, etc.)  em sua mente perturbada, e lhe disse o que ele esperava ouvir.
(c) Se um demônio se fazia passar por Samuel e falou por meio da médium, então ter-se-ia lembrado da profecia de Samuel para fazer uso da mesma.

O Espiritismo sobre a Bíblia

Para que não repitamos a matéria apresentada nos capítulos três e doze, meramente apresentaremos declarações feitas por proeminentes cultistas sobre vários pontos importantes e geralmente aceitos pela doutrina cristã. No capitulo catorze nos lembraremos de passagem que essas doutrinas realmente estão contidas nas Escrituras, e que têm sido cridas pela "santa Igreja universal" de todos os séculos. Também confio que se observará que os vários "ismos" anti cristãos revelam o seu verdadeiro caráter quando denunciam a verdade revelada pela Palavra de Deus.
Quanto ao Espiritismo, este ensina - isto é, diversos Espíritas ensinam, porquanto não há credo oficial do Espiritismo
- como segue:

Deus

"Abrogamos a idéia de um Deus pessoal."
"Deve-se entender que existem tantos deuses quantas são as mentes que necessitam de um deus para adorar; não apenas um, dois, ou três, mas muitos. . . As nobres árvores da floresta, o sol, a lua, as estrêlas, tudo é deus para o indivíduo, porque ministram às necessidades de sua alma. É vão supor-se que alguém pode inclinar-se e servir realmente a um só Deus."
Pergunta feita pela Sr.& Connant, médium: "Você conhece algum espírito que seja a pessoa a quem chamamos de Diabo?"
Resposta (através do espírito controlador, numa sessão):
"Certamente que sim, pois esse mesmo Diabo é nosso PaL"

Senhor Jesus Cristo

"Qual é o sentido da palavra Cristo? Não é, como se supõe geralmente, o Filho do Criador de todas as causas?
Qualquer ser justo e perfeito é Oristo."
"Não obstante, parece que todo o testemunho recebido dos espíritos avançados mostra apenas que Cristo era um médium e um reformado r na Judéia; e que agora é um espírito avançado na sexta esfera." - Dr. Weísse."
"Muito acima de todos esses é o espírito maior, que todos eles (os espíritos) conhecem - não Deus, posto que Deus é tão infinito que não está dentro do alcance deles _ mas alguém que está mais próximo de Deus, e que nesse sentido representa Deus. Esse é o Espírito Cristo. Seu cuidado especial é a terra. Desceu à mesma em um tempo de grande depravação terrena - um tempo quando o mundo era quase tão pervertido quanto agora, a fim de dar ao povo a lição de uma vida ideal. E então Ele regressou ao seu próprio alto nível, tendo deixado um exemplo que ainda é seguido ocasionalmente. Essa é a história de Cristo, como os espíritos a têm descrito."
"Cristo foi um homem bom, mas não poderia ter sido divino, exceto no sentido, talvez, em que todos nós somos divinos." - Mensagem por um "espírito".
"Não vejo que Cristo reivindicou para Si mesmo mais do que afirmou ser possível para os outros. Quando Ele se identifica com o Pai, refere-se à unidade da mediunidade.
Ele foi o grande médium ou mediador." - Gerald Massey.
"Assim como Deus é Espírito, isto é, a presença infinita do Espírito agindo através da lei da mediação, o apóstolo, com singular clareza de percepção, proclamou o Nazareno como mediador - isto é, médium - entre Deus e o homem." - Dr. J. M. Peebles.
"No hinário espírita, o nome de Jesus é apagado - por exemplo, 'anjos de Jesus' é trocado para 'anjos de sabedoria'.
Em suas reuniões o seu nome é cuidadosamente omitido nas orações." - Rev. F. Fieldíng-Ould.
"A concepção miraculosa de Cristo é meramente uma fábula."
"Cristo ressuscitou em espírito. Foi o espírito que apareceu aos discípulos tão constantemente, após a crucificação.
Foi um espírito que subiu ao céu, e é um glorioso espírito que aparece e tem aparecido durante os longos séculos a milhares de cansados cristãos sobre a terra." - Colville. Merece nossa atenção o fato que essas são as palavras de um pregador modernista (F. Phillips) que o Espírita Sr. Colville cita "sem adição nossa para que sua influência salutar seja mantida pela mente de todo leitor atento." Que outros modernistas também estão em perfeito acordo com a idéia espírita das aparições de Cristo como materializações, ver Princeton Theological Review, julho de 1922, pág. 487.
"Eu, Jesus, apareci em espírito em 1861, e digo e declaro ao mundo que a nova era ou dispensação já começou, chamada de vinda de Cristo. Começou em cêrca do ano de 1847, e conforme é representada e foi falada pelo profeta Daniel e por outros, pela minha vinda como uma nuvem nos céus, com dezenas de milhares de anjos, para cobrir a terra com a minha glória."
"Essa é a segunda vinda - uma vinda em poder e glória - uma vinda de anjos e espíritos ministradores - uma vinda de moralidade e espiritualidade que ilumina todas as inteligências conscientes. li: o retorno sombreador do Cristo vivo. Não haverá qualquer retorno pessoal como os teólogos têm ensinado. Mas haverá e há o retorno espiritual para seu povo, pela voz de seus mensageiros, falando àqueles que tiverem ouvidos abertos; tal como ele disse ... " - Stainton Moses (Imperator).

A Expiação

"Vossa expiação é o próprio clímax de uma imaginação doentia, dotada da inclinação mais injusta e Imoral." - A. J. Davis.
"A doutrina ortodoxa da Expiação é sobrevivente dos maiores abusos dos tempos primitivos, e era imoral desde o âmago. .. A razão dessa doutrina é que o homem nasce neste mundo como pecador perdido, arruinado, merecedor do inferno. Mas que mentira ultrajante!... Porventura o sangue não ferve de indignação ante tal doutrina?"
"Não se pode ver justiça em um sacrifício vicário, nem em um Deus que se deixasse aplacar por tais meios." - A. Conan Doyle.

O Homem

"Nunca houve qualquer evidência de uma queda." - A. Conan Doyle.23
"Precisamos rejeitar o conceito de criaturas caídas. Pela Queda deve-se entender a descida do espírito à matéria." - G. G. André.

A Bíblia

"Não devemos ter o desejo de esconder o fato claro que existem muitas porções da Bíblia que não se amalgamam com o nosso ensino. "
"Asseverar que ela é um Livro santo e divino, que Deus inspirou os seus escritores para tornar conhecida a sua vontade divina, é um grosseiro ultraje e uma peça pregada ao público."

O Inferno

"Posso dizer que o inferno é eliminado totalmente, como há muito tem sido eliminado dos pensamentos de todo homem sensato. Essa idéia odiosa, tão blasfema ao ponto de vista do Criador, originou-se do exagero de frases orientais, e talvez tenha tido sua utilidade em uma era brutal, quando os homens eram assustados com chamas, como as feras são espantadas pelos viajantes. O inferno, como lugar permanente, não existe. Mas a idéia de castigo, de castigo purificador, e de fato, de Purgatório, é justificada pelos relatos vindos do outro lado." - A. Conan Doyle.
"Isso (a idéia de transmigração, dos egípcios antigos) é ímensuravelmente superior a qualquer opinião sobre um tormento interminável e inútil, que muitos teólogos cristãos ignorantes têm proclamado ... um conceito para o qual não há nem explicação racional nem apologia." - Colville.
"Nada existe que possa, com razão, ser designado de inferno, no sentido medieval de condenação eterna; mas existe verdadeiramente o inferno no sentido em que sofrem as dores do remorso quando seu espírito rebelde é quebrantada, e quando, na pobreza sentida de sua alma, começam por ansiar por voltar ao Pai." - Sir Oliver Lodge.
"O inferno é uma grande agência remediadora. A punição do pecado é remediadora. Nenhum grande abismo está posto entre o céu e o inferno." - "Júlía", um suposto espírito que falava através de W. T. Stead.

Os Espíritos

"Todos os espíritos do outro mundo nada são senão as almas daqueles que têm vivido aqui." - Lanslots.
"~e, por conveniência, designamos as altas fileiras (dos falecidos) pelo título de Anjos, e as inferiores como Espíritos Malignos, tenhamos o cuidado de não perder de vista o fato que diferem apenas por serem mais velhos e mais jovens." - G. G. André.

A Reencarnação

O "Kardecismo" no Brasil acredita na reencarnação.
"Esta reencarnação difere da 'metempsicose' dos orientais.
Nesta o principio anímíco sobe a escala: vegetal, animal e humana. Pode haver regresso. A reencarnação, como a entendem
os Kardecistas, é fenômeno próprio do espírito humano e não admite regresso. Kardec define: 'Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.'"
A Bíblia não ensina a reencarnação. Veja-se Hebreus9:27; João 1:14; Filipenses 2:6, 7, 8.

A Igreja

"Passo a passo avançou a Igreja Cristã, e ao fazê-la, passo a passo a tacha do Espiritismo foi retrocedendo, até que quase não se podia mais perceber uma fagulha rebrílhante em meio às trevas espessas... Por mais de mil e oitocentos anos a chamada Igreja Cristã se tem interposto entre os mortais e os espíritos, barrando toda oportunidade de progresso e desenvolvimento. Atualmente ela se ergue como completa barreira ao progresso humano, como já fazia há mil e oitocentos anos atrás."
"O Espiritismo está vastamente mais bem fixado que a rocha sobre a qual se tem dito falsamente que Jesus Cristo fundou a sua Igreja ... É por esse motivo que temos sentido ser nosso dever, como amigo sincero do Espiritismo, mostrar o que é o Cristianismo ... Se este último sobreviver, o Espiritismo deve morrer; e se o Espiritismo tiver de sobreviver, o Cristianismo deve desaparecer. São a antítese um do outro ... o Espiritismo Moderno veio para dar ao Cristianismo seu coup de grâce; e aqueles que quiserem impedir esse fluxo são os inimigos da verdade espírítual.
"Fica resolvido:
(1) Que as Escolas Dominicais sejam descontinuadas;
(2) que todas as ordenanças e a adoração
cristã devem ser abandonadas;
(3) que a tirania sexual deveser denunciada;
(4) que a abstinência de carne de animais deve ser imposta." - Conferência espírita efetuada em Providence, Rhode Island (ano de 1920?).
"Exercerei aquele mais precioso de todos os direitos... o direito da maternidade - da maneira que me parecer correta; e nenhum homem nem grupo de homens, nenhuma igreja, nem estado, me poderá impedir da realização dessa mais pura de todas as inspirações inerentes a toda mulher verdadeira, o direito de regenerar-me quando, por quem e sob quais circunstâncias me parecerem mais apropriadas e melhores." - J. M. Spear, uma médium.

Conclusões

Podemos apreciar o fato que o Espiritismo tem chamado novamente a atenção para a existência de um mundo espiritual, para a vida além-túmulo, para a retribuição futura, em um tempo de tão grosseiro materialismo. Porém, quando percebemos que esse conceito espiritual é acompanhado por tanto ódio contra a verdade bíblica, por tão desastrosos resultados físicos e mentais, podemos apenas condená-to do ponto de vista cristão. O Cristianismo e o Espiritismo não podem caminhar juntos.

Pensamos que Rudyard Kipling tinha razão ao dizer:

"Oh, a estrada para Endor é a mais antiga,
E também a mais desvairada de todas.
Vai direta à morada da bruxa,
Como nos dias do rei Saul.
E nada se alterou quanto à tristeza reservada
Para os que descem pela estrada para Endor."

Assista ao Vídeo: As Vossas Iniquidades Fazem Disião Entre Vós e Vosso Deus

Extraído do Livro: O Caos das Seitas 

Editora Imprensa Bíblica Regular - IBR

Por Jan Karel Van Baalen

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