A supremacia do Seu reino

 

A supremacia do Seu reino


por William M. Banks, Escócia


Pano de fundo e definição


O reinado do Senhor Jesus está ligado ao reino vindouro. O assunto do reino é vasto. Realmente, num certo sentido ele é “o grande tema de toda a Escritura”. Pode ser visto na história, em mistério e em manifestação; isto é, no passado, no presente e no futuro. A. J. McClain já destacou que “um reino abrange uma situação total, contendo pelo menos três elementos essenciais: primeiro, um soberano com autoridade adequada e poder; segundo, um reino de súditos a serem governados; e terceiro, o exercício efetivo da função de governar”.
No passado o reino foi administrado indiretamente, por exemplo, através de juízes e reis. No presente o reino tem um aspecto espiritual, oculto ao olho humano (portanto em mistério), mas percebido onde o Rei é reconhecido no coração do cristão individual (Rm 14:17), e nas igrejas de Deus. No futuro o reino será literal, com o Senhor Jesus no trono — o reino será então manifesto. Ele será o soberano, o Seu domínio será universal e Seu reinado o mais benéfico já conhecido.
Há um sentido no qual o reino é eterno: “o Teu reino é um reino eterno; o Teu domínio dura em todas as gerações” (Sl 145:13). Deus está em controle de tudo o que acontece no mundo, guiando tudo até a realização vitoriosa de todo propósito divino. O reino que vamos considerar aqui, porém, é aquele aspecto específico do governo de Deus a ser estabelecido sobre a Terra na vinda de Cristo em glória manifesta, quando Ele reinar com Seu povo ressuscitado e glorificado por mil anos.
Esse período de tempo é mencionado nada menos que seis vezes em Apocalipse 20, e sem dúvida alguma se refere ao futuro reino milenar.
Há um sentido no qual o Senhor Jesus reinará “para sempre” (Ap 11:15; Lc 1:33), mas os detalhes disto não são considerados aqui.
O assunto relativo ao reino milenar de Cristo é vasto em si mesmo.
Será necessário focalizar nossa atenção, e é o que faremos a seguir.


 

Introdução


J. G. Bellet destaca, proveitosamente, que os Salmos 92-101 formam um “pequeno livro” dentro do livro dos Salmos, e que tratam do “mundo vindouro”. Estes Salmos são às vezes chamados de “Os Salmos da Entronização” e falam, sem dúvida, do reino vindouro do Senhor Jesus. Podemos ver que isto é realmente um fato pela repetição da expressão “o Senhor reina”, que ocorre nos Salmos 93:1; 96:10; 97:1 e 99:1. Assim, quatro vezes em seguida nestes dez Salmos, temos uma indicação do fato que o Senhor reina. A única outra ocorrência desta frase específica está em I Crônicas 16:31, e é interessante que ali se trata, evidentemente, de uma citação do Salmo 96. Há ainda outros aspectos recorrentes destes Salmos que indicam serem eles uma unidade coesa.
Por exemplo, a palavra “justiça” ocorre sete vezes, e a palavra “juízo” cinco vezes. Esses são conceitos associados com o reino vindouro. Não pode haver justiça estabelecida no trono a menos que a iniquidade tenha sido julgada! Os dois conceitos estão ligados no Salmo 94:15, onde lemos que “o juízo voltará à retidão [justiça]”. Não é de surpreender que “segui-Lo-ão todos os retos de coração”. Também no Salmo 97:2: “justiça e juízo são a base do Seu trono”.
A seguir, cada Salmo será considerado por sua vez, e uma ênfase diferente na supremacia do reino será indicada. Vamos considerar as circunstâncias nas quais a principal característica é destacada. O efeito correspondente nos súditos do Seu reino também será notado. O efeito igualmente importante sobre a Criação não pode ser negligenciado — ela também aguarda a “manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8:19).
Seria proveitoso, enquanto lemos o que segue, ter as Escrituras abertas nestes Salmos, pois assim obteremos o máximo proveito.


Supremo em repouso — Salmo 92

 

A ideia de repouso é logo evidente neste Salmo pelo seu título. Observe o que diz: “Salmo e Cântico para o Sábado”. Sem dúvida o salmista está olhando para o futuro reino milenar de Cristo, que introduzirá aquele dia de repouso. É o dia pelo qual a Terra anela, e pelo qual está presentemente “gemendo”, para usar a linguagem de Romanos 8. Neste Salmo, o futuro Rei está aguardando o Seu reino. Uma das características salientes que o caracterizam é, não apenas as “obras” do Senhor, mas Seus “pensamentos”, como indicado no v. 5. Estes são descritos como “mui profundos”, mas naquele dia serão expressos nas obras que Ele há de executar durante este reino. O resultado será uma época não somente de descanso, mas junto com o repouso virá também um tempo de alegria e louvor, como indicado nos vs. 1-5.
Esta mesma ideia de repouso é vista em muitas outras referências ao milênio, nos livros proféticos. Por exemplo, em Isaías 11 (uma cena milenar), temos uma referência ao fato que “o Seu repouso será glorioso” (v. 10). É claro que se este tipo de repouso vai existir, toda a oposição ao reino terá de ser superada. Isto é indicado no v. 6, onde “o homem brutal” será julgado e, juntamente com os ímpios e os praticantes da iniquidade, será destruído perpetuamente. Enquanto este tipo de atividade floresce, não pode haver repouso. O Rei, entretanto, de acordo com o v. 10, será ungido com “óleo fresco”, que será o ministério de graça indicado em Lucas 4, e isso resultará no ministério do Sábado, como também já foi indicado acima em Isaías 11.
Não é de surpreender que o Salmo conclua com uma descrição dos justos florescendo, com três referências a isso nos últimos quatro versículos.
Eles serão como a palmeira, e crescerão como o cedro do Líbano.
Através das Escrituras, o cedro é uma figura de estabilidade e força.
Aqueles assim apropriadamente plantados irão florescer nos átrios de Deus e produzir fruto, mesmo na velhice. Nenhuma deterioração é mencionada — frutíferos até o fim!
Certamente esta é uma conclusão apropriada para um Salmo sobre o Sábado, indicando as características aprazíveis que hão de caracterizar um reino que tem, como um dos seus traços fundamentais, a supremacia do repouso — tão diferente das características de inquietação e desassossego que caracterizam os reinos de hoje. Com o afastamento tão evidente dos princípios Bíblicos nas leis atuais, os justos ao invés de florescerem, estão constantemente sob pressão. No reino vindouro
essa situação será completamente revertida e a justiça, mais uma vez, há de imperar sob um Soberano benigno que será Ele mesmo, o próprio 186 A glória do Filho epítome de repouso.

 

Supremo em majestade — Salmo 93

 

O Salmo inicia muito significativamente com uma das expressões já mencionadas, isto é, “o Senhor reina”. A linguagem do v. 1 é muito interessante, onde é enfatizado que o monarca reinante “está vestido de majestade”. A veste indica Seu caráter e as características vistas na Sua pessoa. Este foi o caso quando os três discípulos estiveram com Ele no monte santo. Pedro declara: “Nós mesmos vimos a Sua majestade” (II Pe 1:16). Majestade não é o único traço neste caso — com ela vem o poder, pois o Senhor não está apenas vestido de majestade, Ele também Se cinge de poder. Não é comum que majestade e poder estejam inextrincavelmente juntas, mas é assim quando o Senhor reina. Não é surpreendente que isto exija uma resposta do povo, ao apreciarem o fato que, tendo estabelecido o Seu repouso, Ele está agora reinando em majestade. A resposta é muito clara: “O Teu trono está firme desde então: Tu és desde a eternidade”. Quão diferente dos tronos com os quais estamos familiarizados, que na melhor das hipóteses, nada mais são que reinos instáveis permanecendo, no máximo, por uns breves anos e se acabando para sempre. Este reino é muito diferente; seu estabelecimento é antigo, “desde então”, e Aquele que se assenta sobre o trono é, Ele mesmo, desde a eternidade.
Também não é surpreendente que quando tanta majestade e poder são indicados, encontramos também oposição. Nos vs. 3-4 do Salmo há uma indicação de que os rios têm levantado a sua voz: “os rios levantam as suas ondas”. Não há dúvida que os rios são uma figura de oposição. A cena turbulenta é apresentada para indicar a severidade desta oposição à majestade dAquele que Se assenta sobre o trono. Pode até mesmo haver uma indicação da atividade do submundo que é, algumas vezes, associada com rios. Assim, as forças do mal ainda estarão em atividade, embora possivelmente não de forma visível ou óbvia. Todavia, o inimigo será derrotado, já que “o Senhor nas alturas é mais poderosos que o ruído das grandes águas e do que as grandes ondas do mar”.
O Salmo tem uma conclusão muito interessante, indicando que onde a majestade está entronizada e o inimigo derrotado, as características que marcam a casa do Senhor são santidade e fidelidade. Estas não são transitórias, mas de fato, serão as características permanentes do trono e da casa com a qual está associado.

 

Supremo em juízo — Salmo 94

 

O estabelecimento do repouso e majestade de que falamos acima exige que a oposição, na forma de impiedade e iniquidade, esteja totalmente suprimida. Entretanto, há somente um capaz de realizar isso, e ele é Aquele único a Quem “a vingança pertence” (duas vezes no v. 1). O clamor do salmista tem sido o clamor dos piedosos através de todas aseras, isto é, “Até  quando?” Três vezes seguidas, nos vs. 3 e 4, este clamor é ouvido. Há um desejo entre os piedosos de que a soberba oposição
ao trono do Eterno seja dominada e que os ímpios não mais triunfem.
Através das eras, os ímpios têm aparentemente triunfado, e às vezes isto tem tido um efeito prejudicial nos piedosos. De fato, no Salmo 73 o salmista estava com inveja dos insensatos quando viu a prosperidade dos ímpios. Ele era incapaz de compreender por que eles eram tão bem-sucedidos na vida, mas chegou a hora quando ele entrou no santuário e então entendeu o fim deles. Isto fez toda a diferença à sua avaliação, e mesmo hoje, muitos falham em apreciar que no final o Senhor é o Juiz.
Num futuro reino beneficente não pode haver lugar para aqueles que matam a viúva, o estrangeiro e os órfãos (v. 6). Realmente, isto é feito com total desconsideração ao fato que há Um no trono que está consciente das condições que prevalecem. Eles dizem na sua arrogância: “o Senhor não verá; nem para isso atenderá o Deus de Jacó” (v. 7). Eles ignoram que o Senhor não apenas está a par das atividades sendo realizadas, como também aprecia os motivos por trás delas, sabendo que “os pensamentos dos homens são vaidade” (v. 11). Entretanto, o juízo será implementado e o resultado final será a exaltação da justiça. Aqueles que são retos de coração seguirão então no caminho justo assim estabelecido.
Portanto, quando os piedosos virem a intervenção dAquele que reina sobre o trono, julgando os injustos, revertendo a prosperidade dos ímpios e estabelecendo os justos, eles compreenderão que de fato a misericórdia de Deus os “susteve” (v. 18).
Há uma indicação muito interessante neste Salmo de que a legislação para o pecado não é algo novo. Pensa-se hoje em dia que a legalização do pecado somente começou a acontecer em décadas recentes. Na realidade, de acordo com o v. 20 deste Salmo, parece que o fato de forjar o “mal por uma lei” já era uma prática comum nos dias do salmista. Em outras palavras, eles estavam legalizando o pecado naquele tempo, justamente como o pecado é legalizado hoje. Todavia, como naquele dia, assim hoje, “Ele trará sobre eles a sua própria iniquidade; e os destruirá na sua própria malícia; o Senhor nosso Deus os destruirá” (v. 23).
Este Salmo, como um todo, é um desenvolvimento interessante nesta série de Salmos no Saltério1. É um princípio perene na Palavra de Deus que, se a justiça vai ser estabelecida, então os injustos precisam ser, primeiramente, destruídos. Se o reino milenar de Cristo vai estabelecer a justiça, como bem sabemos que vai; logo, o julgamento dos ímpios é absolutamente essencial. Davi, nas suas últimas palavras (II Sm 23) indica o mesmo pensamento, quando, tendo estabelecido o fato de que haverá “uma manhã sem nuvens” (v. 4), ele declara que por isso os filhos de Belial terão que ser lançados fora. Se fosse possível que eles sobrevivessem nas circunstâncias desse tempo, certamente o dia não seria sem nuvens! Eles serão totalmente consumidos pelo fogo, para que o reino milenar previsto por Davi possa ser introduzido e ser como “quando pelo seu resplendor [o sol da manhã] e pela chuva a erva brota da terra”.
Tendo assim estabelecido um reino, que será majestoso e poderoso, com toda a oposição removida, não nos surpreende que a próxima característica destacada seja honra suprema.


Supremo em honra — Salmo 95


O salmista agora não consegue se conter. Ele afirma no v. 3 que “o Senhor é Deus grande, Rei grande sobre todos os deuses”. Sua posição é uma de suprema honra! Se este é o caso, então certamente uma das coisas que deve resultar desta honra é adoração. Portanto não nos surpreende descobrir que há um chamado para adorar, e o v. 6 diz: “Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou”. O chamado para louvar é inequívoco. Há um duplo chamado no v. 1: “cantemos” e “jubilemos”. Haverá um apelo para que outros cantem, no início do Salmo 96, mas certamente seria inapropriado fazer este apelo a outros sem primeiramente acatarem, eles mesmos, a ideia.
Muitos têm procurado estabelecer sua autoridade, mas sem as qualificações necessárias. O Rei indicado aqui é aquele que está sobre todos.
Não há possibilidade da Sua honra ser sobrepujada. O Seu Reino será um reino de honra suprema.
Quando Sua grandeza é reconhecida, então a pequenez do Seu povo certamente é identificada. Há o reconhecimento de que somos simplesmente “povo do Seu pasto e ovelhas da Sua mão” (v. 7).
Há, todavia, uma advertência. Na passagem parentética de 7b-11, o salmista apela, de passagem, à história da nação e lhes indica a terrível possibilidade de deixarem de apreciar o significado pleno e a honra devida àquele que está sobre o trono. Isto resultaria em cessarem de trazer adoração apropriada a Ele e não entrarem no repouso. Houve provocação e tentação no deserto; Meribá e Massá foram provadas no passado pela nação. O Senhor ficara desgostoso com aquela geração. O apelo certamente é o oposto. Deveria haver cuidado para que as mesmas coisas não caracterizassem aquela próxima geração e, certamente, não nos caracterizem hoje. O escritor aos Hebreus usa esta passagem de uma maneira prática e muito poderosa para apelar aos leitores dos seus dias para que não deixassem de entrar no repouso (cessação do trabalho) e desfrutassem a plenitude das bênçãos da Cristandade.


Supremo em justiça — Salmo 96


Este Salmo apresenta a justiça, um fato que é indicado nas suas palavras finais, onde está escrito: “Julgará o mundo com justiça e os povos com a Sua verdade”. Este é o clímax ao qual o Salmo estava se dirigindo, com os versículos anteriores indicando as características que hão de distinguir o reino por causa da justiça que está imperando.
Não nos surpreende, portanto, que o Salmo inicie com um triplo chamado a cantar. Em cada caso a exortação é: “Cantai ao Senhor”.
Nesta ocasião, entretanto, não é um apelo comum entre o povo, como no Salmo 95:1, mas um apelo a outros para se juntarem ao remanescente e cantar um “cântico novo”. O novo cântico está, sem dúvida, associado com um novo dia, um novo reino e um novo Rei, e como a justiça é o normal, o povo se torna um povo adorador.
Entretanto, razões detalhadas são dadas, do v. 4 em diante, indicando que “grande é o Senhor e digno de louvor”. As belezas ligadas com a justiça são indicadas no v. 6, onde “glória (honra) e majestade estão ante a Sua face, força e formosura no Seu santuário”.
É apropriado que o apelo triplo para cantar ao Senhor, nos vs. 1-2, seja seguido por um apelo triplo para “dar ao Senhor”, nos vs. 7-8. O aspecto mais elevado do “dar” é a adoração, e assim o apelo tem o seu clímax no v. 9: “Adorai ao Senhor na beleza de santidade; tremei diante dEle toda a terra”. As circunstâncias da justiça são supremas e isto os leva a cantar, dar e adorar — o ambiente quase parece estar vibrando com a reação irrestrita à grandeza do Soberano.
Mas há mais. Adorar ao Senhor na beleza da santidade pode ser visto de duas formas. Pode tanto estar indicando a maneira como a adoração é apresentada, ou o lugar onde é oferecida. A razão por dizer isto é que uma leitura alternativa do versículo é adorar ao Senhor “no glorioso santuário”. Independentemente de qual tradução for aceita, o efeito é o mesmo; temor reverente é o resultado e é provado universalmente.
Tudo isso espelha, de uma maneira linda, o Salmo 29:1-2, que nos apresenta as circunstâncias nas quais “o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente” (Sl 29:10).
A Criação toda (no final do Salmo) é incluída e encorajada a desfrutar o reino magnificente do Rei justo. Os Céus se alegram, a Terra se regozija, o mar ruge, o campo está jubiloso e as árvores do campo se regozijam. Nunca antes houve tal ambiente onde toda a Criação está em sintonia com o seu Criador, apreciando a maravilha do Seu governo justo.
Estas ideias são refletidas em outras partes das Escrituras. Justiça será o cinto dos Seus lombos, as palavras da Sua boca, a base do Seu governo e, de fato, o próprio ar que é respirado. Isto tudo antecipa aquele dia futuro que Pedro descreve (o dia de Deus) quando, nos novos Céus e na nova Terra, a justiça habitará permanentemente (II Pe 3:13).

 

Supremo em alegria — Salmo 97


Esta alegria indicada no Salmo é novamente vista no versículo final, onde temos a seguinte exortação: “Alegrai-vos no Senhor”. Há também uma ligação muito interessante com o que veio imediatamente antes, pois o apelo é: “Alegrai-vos, ó justos” (v. 12). A justiça do Salmo anterior sem dúvida forneceu a base para o gozo do presente. Alegria é o resultado automático de paz e, com certeza, onde há justiça há paz.
“A justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). Elas estão inseparavelmente ligadas, como o escritor aos Hebreus indica, pois foram características vistas em Melquisedeque, que foi “primeiramente … rei de justiça e depois também … rei de paz” (Hb 7:2). É simplesmente impossível ter uma sem a outra; justiça sempre resulta em paz, e paz é sempre o resultado de justiça. Este Salmo indica que onde isto acontece, então inevitavelmente a alegria segue. O corolário também é verdade — onde não há justiça, não há paz e não pode haver alegria.
Vemos regozijo tanto no início como no final do Salmo. Começa no v. 1: “O Senhor reina; regozije-se a terra”, e conclui no v. 12: “Alegrai-vos, ó justos, no SENHOR, e daí louvores à memória da Sua santidade”.
Alguém pode estar curioso por saber por que, nos vs. 1-5, temos um ambiente de escuridão, fogo abrasador e relâmpago. Não é difícil encontrar a resposta. Se houver regozijo como resultado da justiça, então o castigo precisa ser imposto sobre os inimigos “em redor”; e tudo o que se opõe à justiça precisa ser removido para sempre. Até os ídolos são chamados para “prostrar-se diante dEle”. A conclusão é que todos que estão ligados à idolatria devem voltar-se dos seus caminhos e reconhecer o verdadeiro Rei, que reina com justiça sobre o trono. Certamente o Seu próprio povo há de apreciar o Seu reino, já que “os filhos de Judá” se alegram por causa do juízo executado pelo justo Soberano.
À luz de tudo que veio antes, um apelo é feito no v. 10 a “vós que amais ao Senhor”; estes devem “odiar o mal”. É interessante a frequência com que, nas Escrituras, o amor e o ódio estão juntos. A passagem mais conhecida é aquela do Salmo 45, onde o Rei que se assenta supremo ama a justiça e odeia a impiedade.
Há um pensamento que corresponde lindamente com isso no v. 11, onde é dito que “a luz semeia-se para o justo, e a alegria para os retos de coração”. É evidente que o justo Soberano irá trazer alegria e satisfação, onde anteriormente perseguição e oposição eram conhecidas por causa de fidelidade ao Rei.


Supremo em louvor — Salmo 98


Certamente não nos surpreende que Aquele que é supremo em justiça e que traz suprema alegria seja o alvo do louvor do Seu povo.
Assim o salmista diz no v. 4: “Exultai no Senhor toda a terra; exclamai e 192 A glória do Filho alegrai-vos de prazer, e cantai louvores”. Novamente é um novo cântico que está em vista, de acordo com o v. 1, porque “Ele fez maravilhas”. O novo cântico está, sem dúvida, ligado ao novo Reino, ao reinado milenar, e a tudo que foi realizado pela “Sua destra e o Seu braço santo”. A vitória sobre o inimigo foi obtida pela destra e o braço santo; em relação ao Seu próprio povo, Ele “lembrou-Se da Sua benignidade e da Sua verdade para com a casa de Israel” (v. 3).
Não é de se admirar, portanto, que temos o chamado para louvar, e que a exortação é feita para “todo o universo”. O v. 4 diz: “Exultai no Senhor toda a terra; exclamai e alegrai-vos de prazer, e cantai louvores”.
Aquele que é alvo deste louvor é o próprio Senhor — o Monarca reinante.
O salmista não se contenta com o seu louvor solitário. Ele quer que a Criação também se una a ele e, em especial, tudo o que a Criação contém. Assim, a Criação de Deus é convocada para que o salmista não esteja louvando sozinho, mas que o mar, o mundo e os próprios rios batam palmas e que as montanhas também se regozijem.
Como já vimos é interessante a frequência com que a Criação é chamada para entrar em harmonia com seu Criador, nos Salmos. O Salmista está antecipando que aqueles que habitam na Criação estarão associados com o chamado, e trarão os seus louvores ao Rei que está sobre o trono.
Não é a primeira vez que a Criação e seu Criador estão em sintonia.
Por ocasião do nascimento do Senhor Jesus Cristo, uma cena noturna foi transformada pelo resplendor de “glória do Senhor”, brilhando e envolvendo os pastores (Lc 2:9). Os pastores ficaram admirados ao verem a visão e ouvirem uma voz tal como nunca tinham ouvido. O Criador havia entrado na Sua Criação, e ela não pôde ficar indiferente. Contudo, as circunstâncias foram invertidas no Calvário. Agora era meio-dia, mas se transformou em meia-noite! O Sol não mais podia brilhar, apesar de estar no seu zênite; houve trevas sobre toda a Terra por três longas horas. A Criação novamente estava em sintonia com o seu Criador. Foi durante aquela escuridão impenetrável que o mistério de expiação foi realizado; quando o Senhor Jesus estava “sendo feito pecado por nós”.
Nenhum olho humano podia devassar a cena; nenhuma mente humana compreendê-la na sua plenitude. A Criação encobriu as circunstâncias com trevas, em total harmonia com as atividades do Criador.

Supremo em adoração — Salmo 99


Duas vezes seguidas neste Salmo a ideia de adoração é enfatizada.
No v. 5 a exortação é para exaltar: “Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de Seus pés, pois é Santo”. No v. 9 há uma expressão semelhante: “Exaltai ao Senhor nosso Deus e adorai-O no Seu monte santo, pois o Senhor nosso Deus é santo”. Assim, a adoração é vista como o objetivo primordial do Salmo, e com certeza é apropriado que ele esteja ligado com o reinado do Rei. As palavras iniciais do Salmo são, novamente, aquelas que já vimos anteriormente: “O Senhor reina”. A própria posição do Senhor, mencionada no v. 1, indica que deve haver adoração: “Ele está assentado entre os querubins”. Estes seres ímpares estavam associados com o jardim do Éden, com o flanquear e a administração do trono de Deus, e certamente profundamente associados com a Arca do Concerto. Seja qual fora seu significado específico, há uma indicação clara de que agora Jeová está no meio do Seu povo, desejando que Sua presença seja reconhecida e que a reverência associada à Sua presença seja vista sobre a Terra milenar. Por certo só pode haver uma reação à Sua presença entre o Seu povo, e esta tem que ser adoração. Afinal, Ele é “grande” (v. 2), Ele é “mais alto que todos os povos” (v. 2); e Ele é “santo” (v. 5, 9). A reação do Seu povo a um Rei tão exaltado deve ser automática. Não nos surpreende que equidade e justiça sejam os fatores correspondentes que caracterizam a Sua atividade, e, portanto, exigem uma reação apropriada.
Isto aconteceu no passado com pessoas como Moisés, Arão e Samuel (v. 6). Eles clamaram e Ele lhes respondeu. Eles foram adequadamente guiados e ajudados no deserto. Não haveria o Monarca reinante de tratar apropriadamente com o Seu povo e trazê-los às bênçãos do Seu reino, fazendo com que se prostrassem e adorassem diante do escabelo dos Seus pés?
Certamente será naquele tempo que a verdade de Malaquias 1:11 será implementada: “Desde o nascente do sol até o poente é grande entre os gentios o Meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao Meu nome incenso, e uma oferta pura; porque o Meu nome é grande entre os gentios, diz o Senhor dos Exércitos”. Três vezes seguidas neste versículo, temos uma referência ao “Meu nome”, indicando a auto revelação da Sua Pessoa! Isto há de produzir adoração universal naquele futuro reino milenar.

Supremo em bondade —Salmo 100


O último versículo do Salmo sugere o título. Diz: “O Senhor é bom”. A palavra bom pode ser traduzida de diversas maneiras. Algumas vezes quer dizer beleza, formosura, favor, alegria, riqueza ou preciosidade.
Fica claro, em razão de tudo que já vimos, que todas estas coisas vão caracterizar o reino vindouro, e serão todas vistas na sua plenitude!
Porém, o fato do Senhor ser bom, e que bondade pura será o ambiente do Seu reinado, é algo tão diferente do que se conhece hoje. É interessante também que Sua bondade está ligada com misericórdia e verdade, ambas as quais são descritas como eternas, ou durando de geração em geração.
Com base na Sua bondade há um apelo, feito agora não somente à terra de Israel, mas a todas as terras (v. 1), para servir ao Senhor com alegria, e vir à Sua presença com cânticos. O apelo é agora muito mais amplo; está se tornando universal no seu alcance.
O quadro é muito interessante. Obviamente, a partir do v. 3, aquele que está assim assentado em bondade sobre o Seu trono é também um Pastor. Nós somos o Seu povo (v. 3), e ovelhas do Seu pasto. Tendo experimentado algo da bondade do Pastor, as ovelhas se tornam adoradores peregrinos, e entram pelas Suas portas com ações de graças, e nos Seus átrios com louvor. O Seu nome se torna o tema de bênção e o Seu povo os receptores da Sua misericórdia.
É uma conclusão apropriada ao Salmo o chamado para servir, vir,cantar, agradecer e bendizer. Tudo isso, certamente é muito apropriado no contexto da bondade do Seu reinado.

 

Supremo em ordem —Salmo 101


Com certeza este é um clímax apropriado para o grupo de Salmos (o “pequeno livro”), que temos considerado. O Reino é agora comandado em sintonia com o caráter do Rei. De fato, Bellet comenta de modo muito esclarecedor, que este Salmo é um clímax apropriado para “o pequeno e perfeito volume composto dos Salmos 92-101”. Ele diz: “O próprio Messias o abre e o encerra. No início, Ele prevê a Sua unção para o reinado, ou a exaltação do Seu poder. No final, Ele declara como há de ordenar o Seu reinado. E nesse meio tempo o Seu Israel tem ensaiado suas antecipações do reinado na sua A supremacia do Seu reino 195 retidão judicial e bem-aventurança final. Ó que tivéssemos mais concórdia com tudo isso nos nossos corações! Ó que estivéssemos ‘afinando nossos instrumentos junto à porta’ — harmonizando cada vez mais os nossos corações com as alegrias deste reino vindouro!
Que possamos velar e orar por uma mente assim, e sermos habilidosos nos cânticos do Senhor!”
Assim o Rei vindouro é ouvido. Ele cantará de misericórdia e juízo.
Ele se conduzirá sabiamente; andará na Sua casa com um coração perfeito. A impiedade será removida, os soberbos não mais estarão presentes; os caluniadores serão cortados e os fiéis da Terra, em contraste, juntamente com aqueles que andam num caminho perfeito, estarão servindo com o Senhor. Um Reino ordeiro e em perfeito equilíbrio, serão as características marcantes daquele dia final.


Conclusão


Tem sido um prazer considerar a supremacia do Seu reino. Será um reino supremo em repouso, em majestade, em juízo, em honra, em justiça, em alegria, em louvor, em adoração, em bondade e em ordem. Nada parecido com isto já se viu antes. A beleza desta cena será incomparável.
O paraíso de Deus será reestabelecido. O gozo do Éden será novamente conhecido. O Justo soberano estará sobre o trono; Seu povo estará sujeito a Ele; sobre Seus ombros estará o governo, e novamente a Criação estará em harmonia com Seu Criador! A linguagem de Isaías 9:7 se tornará realidade: “Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto”. Assim, o reino será próspero, pacífico, poderoso, perfeito e permanente. Diferentemente dos reinos passageiros dos homens, o Seu domínio nunca terá fim. A Pedra de Daniel 2, que vai despedaçar a estátua, se tornará numa grande montanha que encherá toda a Terra. O reino que o Deus do Céu estabelecerá jamais será destruído, antes quebrará em pedaços e consumirá todos os outros domínios, e permanecerá para todo o sempre (Dn 2:24).
A glória do Filho será evidenciada na supremacia do Seu reino.
Todo joelho se dobrará perante Ele, e toda língua confessará que “Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:10-11).

 

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