A solenidade dos Seus julgamentos

 

A solenidade dos Seus julgamentos


por S. J. McBride, Irlanda do Norte


Introdução


Esta publicação está apresentando verdades gloriosas relacionadas à Pessoa do nosso Senhor Jesus, e assim, este capítulo irá se concentrar nos Seus julgamentos. Entretanto, estaria incompleto, sem que primeiro nos lembrássemos do total alcance dos juízos apresentados nas Escrituras.
Qualquer consideração da solene doutrina dos juízos divinos precisa, sendo coerente e Bíblica, refletir uma apreensão da verdade dispensacional.
Isto ajudará a evitar os equívocos que tanto prevalecem no cristianismo, manifestamente o de reunir todas as cenas futuras de juízos nas Escrituras em um único “juízo final”, onde todos os humanos de todas as eras serão julgados. Ensino dispensacional sobre estas questões tem sido uma característica distinta das igrejas locais por mais de cento e setenta anos. Agora, como nunca, esta verdade precisa ser novamente enfatizada a uma nova geração.


Juízo: uma doutrina fundamental


É importante notar a importância que as Escrituras dão à doutrina do Juízo de Deus. É parte da “espinha dorsal”, e não algo que possa ser considerado como um elemento não essencial ou marginal da doutrina.
Hebreus 6 inclui a doutrina do “juízo eterno” como um ensino fundamental, parte dos “rudimentos” da doutrina de Cristo. Paulo, ao falar sobre o Evangelho com Félix, o governador, estruturou seu diálogo sob três cabeçalhos: pecado, justiça e juízo vindouro. Seria muito interessante se pudéssemos ter acesso a uma reprodução daquele encontro, mas Deus decidiu reter maiores detalhes, uma vez que já deveríamos saber o suficiente acerca destas doutrinas através de outras partes das Escrituras.
Félix tremeu. Esta foi uma medida do impacto do argumento de Paulo sobre estes assuntos. Todavia, poder na pregação não é garantia de aceitação do Evangelho pelo pecador. Félix não se arrependeu nem creu, antes, ele procrastinou (At 24:24-27). O pregador do Evangelho hoje precisa ter uma boa apreensão da doutrina do juízo vindouro, e vê-la como integral a uma apresentação balanceada da mensagem do Evangelho.


 

Juízo na era presente


Seria bom mencionar agora a afirmação de W. W. Fereday: “Graça e longanimidade caracterizam os procedimentos divinos na era presente; o juízo será a característica das eras vindouras”1. A dispensação da graça, algumas vezes chamada de “Era da Igreja”, é caracterizada pela retenção dos juízos de Deus e pela promulgação do Evangelho da graça de Deus. A saída da Igreja do mundo (no Arrebatamento) terminará com esta obstrução exercida pela Igreja e pelo Espírito Santo, que impedem o surgimento do Homem do Pecado (II Ts 2:7). Atividade divina em juízo será dominante em todos os procedimentos de Deus com o mundo depois disto.
Não obstante, é salutar destacar o fato que o juízo de Deus não está ausente na era presente. Ele opera em duas esferas: na igreja (isto é, a igreja local), e no mundo. O NT deixa claro que há, na igreja de Deus, uma responsabilidade de executar juízo quando este se torna necessário.
De outra forma, pode sobrevir intervenção divina em juízo. Paulo repreendeu os coríntios por causa da sua lentidão em executar o juízo que deveriam ter feito.
Podemos imaginar que, em sua defesa, alguns dos coríntios poderiam ter dito: “Ah, mas nós relutamos em julgar. As Escrituras não dizem que não devemos julgar para que não sejamos julgados? E também, não fomos ensinados que não devemos ser os primeiros a atirar uma pedra contra o acusado?” Tais sentimentos são conhecidos na vida da igreja contemporânea, e é comum recuar diante da responsabilidade de manter a prática das Escrituras e a disciplina na cultura moderna de “abraçar tudo e julgar nada”, que permeia e invade o Cristianismo evangélico.
Mas o NT é muito claro. Há certas questões inescapáveis que as igrejas em geral, e anciãos, especificamente, enfrentam. Nenhuma destas questões é nova, e todas podem ser identificadas nas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Entretanto, a complexidade exata dos problemas tende a variar de época para época, de modo que a história não se repete exatamente igual. Todavia, a mesma diligência prática e fidelidade aos padrões da Palavra de Deus são exigidas dos santos contemporâneos se o testemunho em nosso país vai sobreviver nas gerações futuras.
Mesmo um ato tão sério de disciplina pela igreja como a excomunhão de um dos seus membros, é visto como um ato de juízo, e juízo que leva a aprovação divina. Paulo informa os coríntios que ele já havia julgado o homem (o fornicário) como se estivesse presente. Ele apela à igreja em Corinto para ratificar seu julgamento pela implementação da disciplina. Deixar de fazê-lo traria desgraça sobre o testemunho entre os não salvos e tornaria a igreja sujeita a intervenção direta de Deus, em
juízo.Durante a era da Igreja, no mundo dos negócios humanos, o juízo de Deus não está ausente, embora Sua maneira de lidar com os homens seja predominantemente em graça e misericórdia. Por exemplo, é evidente que a degradação da sociedade, retratada em Romanos 1, é um retrato atualizado do juízo de Deus. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Sr. Harry Lacey  escreveu um fascinante livro, “Deus e as Nações”, no qual esboçou princípios Bíblicos, ilustrando a contínua atividade soberana de Deus desde os dias do Velho Testamento até agora, mostrando que Deus ainda julga e reina sobre as nações. O Sr. Lacey menciona o “domínio da providência e governo moral no qual Deus, através das circunstâncias, domina de um modo aparentemente indireto …”

 

O juízo de Deus: passado


O juízo é inevitável. Cada ser humano tem que enfrentar o juízo divino.
Esta não é uma verdade bem-vinda, e geralmente é acolhida com zombaria3. Ainda assim, é evidente que Deus há de julgar o mundo (At 17:31), as nações (Jl 3:12) e até mesmo os anjos (II Pe 2:4). Avaliação individual é um aspecto essencial do juízo de Deus, independentemente de qualquer aspecto corporativo relacionado a entidades nacionais ou coletivas.
O juízo de Deus pode ser considerado como passado, presente e futuro. A ênfase principal deste artigo é o juízo futuro, mas vale a pena notar algo daquilo que as Sagradas Escrituras dizem sobre juízo passado e presente.
Aqueles que são salvos podem desfrutar da bendita realidade que para eles o juízo é passado. A questão do juízo divino contra o nosso pecado está encerrada; a penalidade foi sofrida por outro, e nós estamos livres. Não entraremos “em condenação [juízo], mas [passamos] da morte para a vida” (Jo 5:24).
O descrente, entretanto, é visto como já tendo sido julgado. João 3:18 registra: “quem crê nEle não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do Unigênito Filho de Deus”. O tempo verbal deste versículo expressa tanto o sentido passado de julgamento já executado, quanto sua presente continuidade: “a ira de Deus sobre ele permanece”.
Assim, o fato solene que o pregador do Evangelho destaca no seu ministério fiel é a terrível divisão1 entre aqueles que são salvos e aqueles que perecem (I Co 1:18). Para os salvos, os pregadores são um cheiro de vida para a vida, e para aqueles que perecem um cheiro de morte para a morte. Não nos admira que Paulo dissesse: “Sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé” (II Co 5:11)2.


O juízo de Deus: futuro


Três grandes cenas de julgamento ainda irão acontecer. Em ordem cronológica, são:
• O Tribunal de Cristo;
• O julgamento das nações vivas e de Israel;
• O Grande Trono Branco.
Além destas, iremos considerar a Grande Tribulação como um tempo de juízo de Deus.
O Juiz já foi designado e Sua identidade publicada. Todo o juízo foi confiado ao Filho de Deus, e Sua ressurreição é a garantia de Deus ao mundo de que o Senhor Jesus há de exercer Seu papel de Juiz (Jo 5:22; At 17:30-31).

Esta referência ao temor do Senhor está no contexto imediato do Julgamento do Tribunal de Cristo.


Princípios do juízo de Deus


Alguns dos grandes princípios básicos, comuns a todos os juízos de Deus são:
• Todo juízo de Deus é reto em todo detalhe. Uma das primeiras menções de juízo divino é a sábia censura de Abraão: “Não faria justiça o juiz de toda a terra?” (Gn 18:25)1;
• A justiça é frequentemente atribuída ao Juízo de Deus: Ela é segundo a verdade (Rm 2:2); 

Não há acepção de pessoas (Rm 2:11), e isto é igualmente verdade em relação ao Tribunal de Cristo (Cl 3:25); Todos os segredos serão descobertos (Ec 12:14; I Co 4:5); Obras serão reveladas conforme os registros de Deus (Sl 50:21; Dn 7:10; Ap 20:12);

Não haverá nada que poderá ser dito pelos réus. Eles serão convencidos (I Sm 2:9; Jd 15).
 

O Tribunal de Cristo


Trata-se da avaliação final dos santos da era presente, excluindo os santos do Velho Testamento. As duas passagens que contém o termo “o Tribunal de Cristo” são Romanos 14:10 e II Coríntios 5:10. Geralmente vemos que a palavra grega bema é usada para este julgamento. Isto porque bema é a palavra grega para “tribunal”, e se refere a um tipo de plataforma onde o juiz se assentava nos tempos de Roma, tanto para julgar um caso (At 18:12) como para presidir sobre grandes competições atléticas, para avaliar os prêmios dos competidores. Esta associação com os jogos atléticos e as exigências para os participantes obedecerem às regras; a necessidade de dedicação e disciplina na preparação; a persistência para perseverar até ao fim, tudo isso é usado pelo apóstolo Paulo, figurativamente, nas suas exortações aos cristãos no que diz respeito à conduta das nossas vidas à luz da nossa futura avaliação e recompensa.

É triste que a simples confiança de Abraão na retidão do tratamento de Deus com Sodoma e Gomorra seja hoje taxada de incorreta pelos teólogos liberais, inclusive por muitos progressistas evangélicos, assim chamados.O Tribunal de Cristo ocorrerá logo após o Arrebatamento, pois Paulo diz: “Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha” (I Co 4:5). Tiago nos lembra da iminência deste evento: “Eis que o Juiz está à porta” (Tg 5:9). A Igreja aparece em público como a Noiva glorificada de Cristo, em Apocalipse 19:8, por ocasião do Seu retorno triunfante à Terra para vencer Seus inimigos, libertar Israel e dar início ao Seu governo milenar. Todas as recompensas já foram entregues, a maravilhosa apresentação da Noiva imaculada já se deu no Céu, e o mundo verá o resultado glorioso do amor de Cristo pela Igreja, e a admiração de todos será evidente (compare Ef 5:27; Cl 3:4, II Ts 1:10).
Sabemos que “agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1); logo, o julgamento futuro dos cristãos tem a ver com uma prestação de contas a Deus pelo nosso serviço e vida para Ele.
“Cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).


Algumas questões avaliadas no Bema


A conduta na igreja local


“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (Hb 13:17).
Os anciãos têm uma responsabilidade árdua — velar pelas almas que estão sob os seus cuidados na igreja. Isso nada tem a ver com ser intruso ou curioso, e nunca se associará com fofoca. Antes, tem a ver com sua responsabilidade, dada por Deus, de levar adiante a obra que lhes foi confiada por Ele. O sucesso desse ministério de supervisão será acompanhado de gozo na grande prestação de contas; mas seu fracasso será caracterizado por tristeza. Entretanto, a advertência deste versículo
não é somente para os pastores, mas também ao restante da igreja, já que uma prestação de contas dos anciãos que causa tristeza, “não vos seria útil [proveitoso]”. Isto indica a possibilidade de uma avaliação negativa no Tribunal, ou alguma outra perda de recompensa para aqueles que deixam se seguir a orientação piedosa destes pastores conscienciosos.
A expressão “os que vos governam” (Hb 13:7, 17; VB) indica, principalmente, aqueles que são vossos “líderes” ou “guias”. Corresponde, obviamente, com a característica de pastor dos anciãos, manifestada no seu cuidado e preocupação pelas ovelhas e na sua responsabilidade de procurar pastagens apropriadas, e de guiar o rebanho a elas, e ao mesmo 202 A glória do Filho tempo garantir a sua segurança contra ameaças externas. Este pensamento deveria transmitir uma nota de solenidade a tudo que é feito em cada igreja local, além de encorajar os cristãos na comunhão da igreja a seguir o exemplo piedoso de uma geração anterior de ensinadores e líderes, cujas vidas foram caracterizadas por fidelidade à Palavra de Deus. Igualmente deveria motivar os anciãos e as congregações, a evitar inovações não bíblicas na adoração e no serviço — uma ameaça recorrente contra o nosso dever de manter fidelidade aos padrões do Novo Testamento entre as igrejas, nos nossos dias.
Nossa atividade na igreja local, ao edificarmos sobre o fundamento apostólico, requer o mais rigoroso cuidado à luz do Tribunal de Cristo (veja I Co 3:10-17), pois todos os nossos esforços em assim edificar serão testados pelo fogo que “provará qual seja a obra de cada um”. O consumir do trabalho do homem resultará em detrimento, mas sua salvação não é posta em dúvida: “o tal será salvo, todavia como pelo fogo”. Uma recompensa (não especificada aqui) aguarda aqueles cuja obra suportar esta prova de fogo. A frase no v. 13, “o dia a declarará”, se refere ao mesmo dia pelo qual Paulo ansiava em II Timóteo 4:8, que fala da coroa da justiça que “o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia”. Novamente é óbvio que o valor dado por Deus ao testemunho da igreja local é algo a que deveríamos dar mais atenção, pois os incentivos e advertências são
tão solenes e importantes.

1 I Pe 5:14 também trata da recompensa para os pastores; veja abaixo.


Deveres durante a vida


Todos os relacionamentos, e nossos deveres nesse sentido, serão avaliados e recompensados. Em Colossenses 3:17 lemos: “[tudo] quanto fizerdes por palavras ou por obras”, e isto é muito abrangente. O versículo continua dizendo: “fazei tudo em nome do Senhor Jesus”, e devemos fazer isto fervorosamente. Entretanto, o significado de Colossenses 3:17 não é deixado como uma exortação abrangente e geral. Exemplos específicos são dados. As áreas da nossa vida que estão incluídas são os relacionamentos conjugais, de pais e filhos e de mestre e servos. A promessa de recompensa é acrescentada: “Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis”. O versículo seguinte é muito solene, e sugere a possibilidade de perda no Tribunal de Cristo: “Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas” (Cl 3:24-25). Alguns séculos atrás parecia haver, por parte de escritores piedosos e comentaristas, uma grande ênfase ao tema do dever cristão e da nossa obrigação de cumprir todos os nossos diversos deveres, de maneira conscienciosa, perante o Senhor. Talvez estejamos em falta, hoje em dia, quanto a este tema em ministério, que certamente é muito necessário num dia quando o prazer individual é mais valorizado do que o dever — como testifica eloquentemente a tendência de colapso em tantas áreas de relacionamento.


Julgar ou andar em amor?


Romanos 14:1-15:7, que é uma das principais passagens que tratam do Tribunal de Cristo, tem como pano de fundo uma possível manifestação de contenda e atrito causada por questões tais como o comer carne e a observação de certos dias, etc. As duas principais posições representadas são o “irmão fraco” e “nós que somos fortes”. O espaço impede uma consideração detalhada desta passagem, mas devemos notar as instruções dadas, pois isto poderá produzir um equilíbrio na nossa atitude e conduta para com nossos irmãos em Cristo, que é aceitável diante de Deus (v. 18). Devemos evitar o perigo de julgar um ao outro — algo a que o irmão fraco com seus escrúpulos é especificamente propenso, e ao mesmo tempo evitar um perigo semelhante, o de desprezar ou desconsiderar o irmão fraco. Não devemos contristar um irmão — isto não seria andar em amor — nem devemos fazê-lo tropeçar. O exemplo de Cristo é apresentado em 15:3: aquele que não agradou a Si mesmo. Paulo finaliza esta seção de Romanos com a oração: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (15:5-6).
A passagem inteira induz um exame do coração em relação à nossa conduta para com os outros cristãos, que certamente será avaliada e julgada.

A figura da corrida de resistência é usada também para encorajar crentes em conflito em Hb 13:1-13 — figuras tipicamente Paulinas.


Aprovado ou reprovado?


Paulo descreve a diligência e autodisciplina dos competidores nos jogos gregos, e destaca que eles faziam tudo isso para obter uma coroa corruptível — uma mera coroa de louros1 (I Co 9:25). “Nós, porém, uma incorruptível”, diz ele, mostrando que muito maior cuidado e dedicação são realmente bem empregados no serviço do Senhor Jesus Cristo. Ele tinha como alvo ser aprovado, e não desqualificado (reprovado). Linguagem semelhante é usada em I Coríntios 13:7, onde Paulo apela aos coríntios em relação à sua conduta à luz do Bema1: “Ora, eu rogo a Deus que não façais mal algum; não para que sejamos achados aprovados, mas para que vós façais o bem, embora nós sejamos reprovados”. Aqui ele mostra que sua motivação é, sobretudo, no sentido de que a coisa certa fosse feita por ser feita, mais do que meramente pela recompensa futura que ele espera pelos bons resultados provindos do seu ministério, como demonstrado pela boa conduta da igreja em Corinto.
Despenseiro, I Coríntios 4:1-5 Paulo retrata a si e aos seus cooperadores como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Nesta passagem Paulo enfatiza como ele considera irrelevante que os outros cristãos (no caso, os coríntios) se ocupem em julgá-lo no seu serviço. De fato, ele recusa até mesmo julgar-se a si mesmo nestas coisas, já que o dia da avaliação se aproxima, e isto é o que importa. Estas duas palavras, “ministros” e “despenseiros” , transmitem o pensamento de serviço que envolve responsabilidade delegada para promover as atividades do Mestre, reconhecendo que haverá uma prestação de contas e uma avaliação do serviço prestado. Assim a fidelidade é enfatizada como um atributo chave de tal servo, especialmente lembrando que o despenseiro tinha a responsabilidade de administrar a casa na ausência do seu senhor. Cada servo será avaliado, individualmente, e cada um receberá de Deus o louvor (v. 5). Mas a avaliação será extremamente detalhada. Coisas ocultas serão trazidas à luz, e os conselhos dos corações serão manifestos. Assim, cabe ao servo de Deus evitar todos os estratagemas administrativos de sabedoria mundana, e os axiomas tão comuns dos políticos. A ideia de que “o fim justifica os meios” não combina com a compreensão de Paulo de serviço cristão.

Ministros - No grego, Huperetes: usada do ministro na sinagoga (Lc 4:20), de oficiais de segurança (At 5:26), de João Marcos como assistente de Paulo e Barnabé (At 13:5), dos primeiros portadores do testemunho cristão acerca do Senhor Jesus (Lc 1:2) e do papel de Paulo como comissionado pessoalmente pelo Senhor ressurrecto (At 26:16).
Despenseiros - No grego, Okinomos: usada acerca de um mordomo (Lc 12:42; 16:1), um administrador municipal
(Rm 16:23), e assim, de ministério cristão (I Co 4:1-2; I Pe 4:10) e dos presbíteros na igreja
(Tt 1:7).


 

A recompensa


A recompensa futura, ou galardão, é nos apresentada como algo que devemos aguardar ansiosamente. Paulo alerta os colossenses sobre o perigo de serem privados do galardão: “Ninguém … tire o vosso prêmio” (Cl 2:18, VB). Aqui a armadilha era uma mistura de judaísmo esotérico, ascetismo e misticismo. Paulo chama isto de “os rudimentos do mundo” (Com um discernimento divinamente inspirado, Paulo usa o mesmo rótulo tanto para a escravidão do legalismo judaico na Galácia, como para a filosofia judaico-gentílica gnosticismo em Colossos. Em essência, são o mesmo (Gl 3:3-11; Cl 2:8, 20).) e seus protagonistas não estão “ligados à Cabeça” (Cl 2:19), o que significa que não eram sadios quanto à doutrina de Cristo como o Cabeça exclusivo da Igreja. Os múltiplos erros que provém disso são evidentes no cristianismo medieval corrupto, dominado por ordenanças e fomentado pelo ascetismo, com sua espúria hierarquia de intermediários humanos.O prêmio de coroas certamente faz parte da recompensa. E mais,
além da coroa incorruptível de I Coríntios 9:25 já mencionada, há a coroa da justiça. Paulo anela recebê-la “naquele dia” da mão do “Senhor, o Justo Juiz” (II Tm 4:8). Somos assegurados de que esta recompensa não é exclusivamente para o apóstolo, mas para “todos os que amarem a Sua vinda”. (Epiphaneia, isto é, “aparição em glória”. Nosso amor pela Sua aparição deveria fazer-nos desejar maximizar nossa contribuição para aquela glória por meio da qual a Igreja cumpre a profecia: “Quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e Se fazer admirável em todos os que creem” (II Ts 1:10)) Outras coroas, que são prometidas como recompensa, incluem a coroa da vida (Tg 1:12) e a coroa de glória (I Pe 5:4). (A “coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido a todos os que O amam” é para todos os verdadeiros crentes; a “incorruptível coroa de glória” é prometida aos piedosos anciãos/pastores por apascentarem o rebanho.) Paulo diz aos tessalonicenses que eles são a “coroa em que exultamos … na presença de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda” (I Ts 2:19, ARA), mostrando assim o gozo do evangelista plenamente realizado naquele dia de recompensa. Semelhantemente, apego ao ministério piedoso da Palavra traz uma recompensa plena (II Jo 8). Nossas coroas e todo o aparato de glória alcançado pelos membros da Igreja resplandecerão como um reflexo do esplendor do Salvador, quando Ele vier para reinar.
Assim, já que a nossa motivação mais elevada é a glória de nosso Senhor Jesus Cristo, vamos lutar para otimizar nossas recompensas — pois isto glorifica a Ele.


O juízo da Grande Tribulação


A Grande Tribulação, também chamada de o Tempo da Angústia de Jacó e a Septuagésima Semana de Daniel, acontecerá durante o Dia do Senhor. Será um tempo de juízo incomparável sobre “os que habitam a terra”, e o livro do Apocalipse detalha três grupos de sete juízos. Estes são os Sete Selos, as Sete Trombetas e as Sete Taças. O espaço impede um estudo detalhado deste período de sete anos, mas precisamos notar que é caracterizado pelo justo juízo de Deus sobre o mundo que rejeitou o Seu Filho, que estabeleceu um governo global contra Deus, que pretende acabar com o problema judeu de uma vez por todas. A Grande Tribulação culminará com a volta do Senhor Jesus à Terra como o Messias triufante e Salvador, e então acontecerão as cenas sangrentas no Armagedom. Isaías nos lembra de que “será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela contenda de Sião” (Is 34:8). (A Contenda de Sião não terá uma solução pacífica, apesar de todos os esforços feitos pelos políticos tolos dos nossos dias.) O fato da Grande Tribulação ser um tempo de Juízo é anunciado com clareza na proclamação angelical do Evangelho Eterno, que diz o seguinte: “Temei a Deus e dai-Lhe glória; porque é vinda a hora do Seu juízo.
E adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes de águas”.
Não há relato de qualquer arrependimento ou crença como resultado desta mensagem do Evangelho — alias, logo em seguida encontramos os homens atormentados pelas pragas do juízo, blasfemando o nome de Deus, “e não se arrependeram para Lhe darem glória” (Ap 14:6-7; 16:8-9).


O julgamento das nações vivas


Esse juízo é bem diferente do juízo do Grande Trono Branco, embora ambos os julgamentos sejam muitas vezes confundidos e unidos por ensinadores anti-dispensacionais.
Esta cena de juízo se dá sobre a Terra. Temos a localização geográfica específica — o vale de Josafá, que fica ao pé do Monte das Oliveiras. (Veja Joel 3:2, 12 e Zacarias 14:3-9. Haverá transtornos geológicos enormes na terra de Israel e em torno de Jerusalém quando os pés do Senhor tocarem novamente o monte das Oliveiras. Isto basta para explicar qualquer dificuldade em identificar precisamente a localização do vale de Jeosafá.)
Este julgamento é conduzido pelo Filho do Homem, assentado sobre o trono da Sua glória. A ocasião é depois da Grande Tribulação, no início do Reino Milenar do Senhor Jesus Cristo. Os julgados incluirão tanto salvos quanto não salvos, e há três classes identificadas, em Mateus 25, que são: as ovelhas, os bodes e “Meus irmãos”. Considerando o grande número de mortos entre os seres humanos durante a Grande Tribulação, a maioria dos que entram na Grande Tribulação morrerão, e os não salvos entre eles não aparecerão para serem julgados até o julgamento do Grande Trono Branco. Somente os vivos sobre a Terra, por ocasião do aparecimento glorioso e volta de Cristo, passarão por este julgamento que é individual e pessoal. O critério que distingue cada pessoa como crente (ou não) no Senhor Jesus Cristo, é como tratou os “Meus irmãos”.
Lealdade a Cristo é o ponto determinante, “portanto, qualquer que vos der a beber um copo d’água em Meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão” (Mc 9:41). As ovelhas são separadas para estarem à mão direita do Juiz, e os bodes à Sua esquerda. Essa é uma separação eterna, sem nenhuma “chance” posterior. As palavras solenes, “apartai-vos de Mim” tem um eco terrível de continuidade perpétua. O “apartar” parece significar que estes malditos serão lançados num curso de eterno movimento para longe de Deus e de todas as bênçãos do Seu reino. É bem provável que haverá pessoas nesta cena de juízo que não aceitaram o Evangelho neste presente Dia de Graça e que sobreviveram à Grande Tribulação e finalmente estarão entre os bodes. Que esse nunca seja o caso de algum leitor deste livro.


O julgamento de Israel


Os crentes do Velho Testamento ansiavam por um tempo quando Deus julgaria o mundo, e julgaria também o Seu povo Israel, recompensando os justos e punindo os ímpios. Esta verdade era preciosa aos santos primitivos como Enoque, Abraão e Ana. (
Judas 15, Gn 18:25; Dt 32:36; I Sm 2:10.) Maiores detalhes surgem com os livros posteriores do Velho Testamento e podemos compilar o que segue.
O Salmo 50 retrata a cena do Julgamento de Deus do Seu povo. 
“Chamará os céus do alto, e a terra, para julgar Seu povo”. Este julgamento acontece sobre a Terra, e Ezequiel 20:33-38 sugere que será no deserto. Inclui ajuntar todos os que estavam espalhados e julgar o rebanho, punindo os opressores entre eles, que parece ser uma referência específica àqueles judeus que são colaboradores do regime do Anticristo.
Por isso a referência aos “pecadores de Sião” estando assombrados (Is 33:14). É interessante considerar quão correta foi a resposta dos principais sacerdotes e fariseus à pergunta do Senhor no final da Sua parábola da vinha: “Que fará àqueles lavradores? Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores …” (Mt 21:40-41). Eles se autocondenaram pela sua resposta, tendo cuidadosamente evitado responder à primeira pergunta sobre a origem do
batismo de João. O tema de separar os maus e os justos, o trigo e o joio, peixes bons e maus no “fim do mundo” é claramente ensinado nas parábolas do Reino, em Mateus 13. Isto se refere a este julgamento dos vivos sobre a Terra, quer judeus ou gentios, por ocasião da volta de Cristo para estabelecer o Seu reino em glória. Os anjos são os agentes que ajuntam e separam, e no caso dos ímpios, os lançam no “fogo eterno”.
Será neste julgamento que se dará a prestação de contas quanto aos talentos distribuídos pelo Senhor aos Seus servos. O servo mau, que é evidentemente destituído de fé, será lançado “nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 24:14-30). Recompensas serão entregues por serviço fiel feito pelo remanescente crente. Isaías olha para o julgamento futuro de Israel à luz da recompensa: “Eis que o Senhor fez ouvir até as extremidades da terra. Dizei à filha de Sião: Eis
que vem a tua salvação; eis que com Ele vem o Seu galardão, e a Sua obra diante dEle” (Is 62:11).2 O próprio Senhor Jesus Cristo faz diversas referências, nos Evangelhos, à recompensa futura. “Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5:11-12). Em Mateus 6:1-18, em relação à oração e esmolas, os discípulos recebem a promessa: “Teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente”. Este recompensar dos discípulos acontecerá quando “o Filho do Homem virá na glória do Seu Pai, com os Seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras” (Mt 16:27). Isto obviamente não é o Tribunal de Cristo. Estas passagens estão relacionadas, principalmente, com o remanescente de Israel na dispensação futura depois do Arrebatamento da Igreja.

 

Os mortos justos


Existem alguns ensinadores que sustentam que todos os santos do Velho Testamento serão ressuscitados por ocasião do Arrebatamento, junto com os santos que morreram durante a era da Igreja. Este ponto de vista não leva em conta adequadamente o fato que, como Paul Benware afirma, “o arrebatamento abrange aqueles que estão ‘em Cristo’, o que deve ser entendido como indicando somente aqueles que foram batizados na Igreja, o corpo de Cristo. Os crentes do Velho Testamento não têm esta posição”. Este ponto de vista encontra apoio em Apocalipse 11:17-18, onde lemos: “Graças Te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o Teu grande poder e reinaste. E iraram-se as nações, e veio a Tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, Teus servos, e aos santos, e aos que temem o Teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra”.
Esta ligação de membros vivos do remanescente com os santos do Velho Testamento, “os profetas, teu servos”, nos lembra de uma ligação semelhante em Mateus 5:12 (veja acima). O tempo de julgar os mortos justos, tanto os mártires do Velho Testamento como os da Tribulação, é aqui mencionado (como também em Ap 20:4), pois os ímpios mortos “não reviveram até que os mil anos se acabaram”. Aqui se encaixa a esperança de ressurreição de Jó (Jó 19:25-27; Is 26:19 e Dn 12:2).
(Esta última referência: “uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno”, incorpora o intervalo milenar entre a ressurreição dos justos e a do Grande Trono Branco.)


Satanás e os anjos caídos


A carreira de Satanás sempre foi em declive. O Senhor Jesus Cristo testificou: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu” (Lc 10:18). Isto pode ser tomado como uma afirmação concisa de toda a história de Satanás.
Isaías 14:12-17 e Ezequiel 28:12-19 retratam a rebelião inicial. Em Apocalipse 12 ele é lançado à Terra como resultado da guerra nos Céus.
Na volta do Senhor Jesus Cristo à Terra, Satanás é preso no Abismo durante o Milênio. Sua atividade final, contra Deus e o Seu povo, culmina na rebelião de Gogue e Magogue depois do Milênio (Ap 20:7-10). Isto resulta na sua apreensão final, e em ser lançado no Lago de Fogo onde a Besta e o Falso Profeta já estão (e estiveram durante todo o Milênio).
II Pedro 2:4 e Judas 6-7 nos falam dos anjos caídos, que neste momento estão acorrentados em trevas e reservados para o julgamento do grande dia. Não temos maiores detalhes sobre isto, embora Paulo diz que os santos hão de julgar os anjos (I Co 6:3), mas se isto se refere a juízo punitivo dos anjos maus ou à futura supervisão administrativa de anjos celestes não fica claro.


O julgamento do Grande Trono Branco


Este é o último dos grandes julgamentos futuros, e ocorre no período entre o final do Milênio e o início do Estado Eterno. A descrição deste julgamento é uma das passagens mais solenes de todas as Escrituras.
A tradução que temos é de grande mérito literário, e tem uma dignidade de linguagem que beneficia o seu tema. Ler esta passagem em voz alta, numa reunião de evangelização, tem um efeito solene. O Julgamento do Grande Trono Branco acontece depois do término do Milênio (Ap 20:5). No v. 11 “os céus e a terra fugiram”, o que se assemelha com a descrição de Pedro do início do Dia de Deus (II Pe 3:10-12). A localização deste julgamento é indefinida no espaço, já que não resta mais nenhum ponto de referência topográfico a não ser o Trono do próprio Deus, pois o Céu e a Terra fugiram. Todos que comparecem perante o Trono para julgamento pertencem à categoria dos mortos não salvos, e foram ressuscitados dos mortos especificamente para este julgamento e suas consequências. Eles saem do mar, da morte e do inferno (Hades). Embora o julgamento seja segundo as suas obras, este julgamento não acontece para decidir o seu destino eterno. Este já foi decidido pela sua rejeição do Salvador durante a sua vida. Não há separação de salvos e não salvos neste julgamento. Todos aqueles que são salvos já foram ressuscitados, previamente, ou entraram diretamente no Reino de Deus, e a esta altura estão no gozo da plena salvação, no estado eterno.


Conclusão


Há uma abundância de referências nas Sagradas Escrituras sobre o tema dos Juízos de Deus. Nenhum artigo pode tratar um tema tão solene com a meticulosidade, nem com a gravidade que ele merece, mas que o leitor possa, se for salvo, ser grato por saber que o julgamento do nosso pecado foi no passado, e que seja vigilante à luz do Tribunal de Cristo que está por vir. Para os não salvos o recado necessário é: “Fugi da ira que está para vir” (Lc 3:7), lembrando que “agora é o tempo aceitável,
eis aqui agora o dia da salvação” (II Co 6:2).
Ao concluir, seria apropriado exclamar com o apóstolo Paulo:

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus!
Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!”

(Rm 11:33).
 

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