A humanidade da Sua Pessoa

 

A humanidade da Sua Pessoa


Por James R. Baker, Escócia

 


Introdução


A palavra “humana” se refere, por definição, àquilo que é do, ou pertence ao, homem. “Humanidade” refere-se aos atributos que caracterizam a raça humana. Nenhuma destas palavras se encontra na Bíblia, mas como muitas outras verdades contidas neste volume sagrado, a humanidade do Filho de Deus é um assunto vital para considerar e entender.
Tal consideração é extremamente importante à luz da complexidade singular da pessoa de Cristo. Em Sua pessoa Ele é tanto Deus como homem, e isto é descrito, nas Escrituras, como o “mistério da piedade” (I Tm 3:16). Num resumo geral e sucinto, é dito que, na Sua encarnação, nosso Senhor Jesus Cristo tornou-Se o que Ele nunca havia sido antes, sem deixar de ser o que Ele era eternamente. Também, o que Ele veio a ser em Belém Ele nunca deixará de ser. Estas breves afirmações descrevem resumidamente o prodígio da encarnação do nosso glorioso Senhor. Elas também apontam para o Homem exaltado à destra de
Deus em cuja pessoa agora e eternamente habita “corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9).

 

A promessa da Sua humanidade Gênesis 3


“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lheferirás o calcanhar” (Gn 3:14-15).
Estas primeiras palavras registradas de Deus para a serpente no Jardim do Éden referem-se à “tua semente e a sua semente” (Gn 3:15).

Devemos notar que esta declaração é também a primeira profecia registrada na Bíblia. Embora os detalhes da vinda do Filho de Deus, em carne, não são vistos nesta passagem, não podemos deixar de notar que as palavras usadas são muito significativas, e são a primeira menção da verdade do nascimento virginal. A “semente”, tanto de procriação quanto de descendência, é geralmente descrita nas Escrituras como vinda do homem, mas nesta passagem Deus está indicando a Satanás que além da maldição que cairia sobre ele, imediatamente, ele seria finalmente e definitivamente ferido na cabeça pelo Libertador prometido, que viria ao mundo através da mulher. Ele seria o Messias prometido, que é o único descrito como a Semente da mulher. Veremos mais sobre o nascimento virginal de Cristo mais adiante, mas esta primeira referência nas Escrituras é clara, e há muito tem sido reconhecida como tal pelos piedosos de todas as eras.
 

Isaías 7 e Mateus 1

 

“Pede para ti ao Senhor teu Deus um sinal; pede-o, ou embaixo nas profundezas, ou em cima nas alturas. Acaz, porém, disse: Não pedirei, nem tentarei ao Senhor. Então ele disse: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é afadigardes aos homens, senão que também afadigareis ao meu Deus? Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o Seu nome Emanuel” (Is 7:11-14). “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho. E chamá-Lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco” (Mt 1:22-23).
Estas palavras inspiradas de Isaías são bem específicas e contém uma profecia notável. Acaz, o rei ímpio de Judá, havia recebido uma oferta de conselho, da parte de Jeová, sobre os poderes ameaçadores que estavam avançando sobre Jerusalém naquele tempo. O sinal oferecido, que este homem mau recusou, veio a ser a promessa mais fundamental que Jeová jamais fez à casa de Davi. Uma breve leitura de II Reis 16 revelará o desprezo geral que Acaz tinha pelas coisas sagradas da casa de Deus, que é consistente com seus atos em Isaías 7.

O sinal a que nos referimos era maior do que aquele que iria atender à necessidade local e temporária dos dias de Isaías. O uso da frase “casa de Davi” deve ser cuidadosamente observado em relação ao contexto do capítulo como um todo. Revela que Jeová estava olhando para a Sua provisão Divina e final para o Seu povo escolhido. Todos que já tentaram explicar essa seção reconheceram a dificuldade, e quaisquer que sejam as complexidades da passagem, a referência no Novo Testamento (Mt 1:18-25) deixa abundantemente claro que o nascimento virginal de Cristo era o cumprimento específico desta passagem do Velho Testamento.

Não é uma questão de aplicação, a afirmação inspirada é clara:
“tudo isto aconteceu para que se cumprisse …”. Muitos afirmam que a palavra hebraica alma é usada em outros lugares de uma moça solteira que não é necessariamente uma virgem. Algumas versões modernas chegaram até a alterar o seu texto para refletir isso. The Theological Wordbook of the Old Testament1 diz o seguinte sobre isto: “Não há nenhum exemplo onde possa ser provado que alma designa uma jovem que não é virgem. O fato de virgindade é óbvio em Gênesis 24:43, onde alma é usada de alguém que estava sendo procurada como uma noiva para Isaque.
Também é óbvio em Êxodo 2:8. Cantares 6:8 se refere a três tipos de mulheres, duas das quais são descritas como rainhas e concubinas.

Seria apenas razoável entender que a palavra que descreve o terceiro grupo, para o qual é usado o plural de alma, signifique virgens”. Mesmo que houvesse dúvida sobre a palavra usada em Isaías, é difícil entender por que alguns tradutores fizeram a mudança para “moça solteira”, ou “uma jovem”, à luz da clareza de Mateus 1. A passagem está cheia de evidências de que Maria era uma virgem, e isto é confirmado pelas palavras do anjo a José. É de conhecimento geral que toda virgem é solteira, mas nem toda solteira é uma virgem. O ensino de ambas as passagens tem em vista revelar que um evento notável e humanamente impossível havia acontecido, e que por ele a Criança que nascera estava completamente livre de todo vestígio de pecado. O milagre da encarnação está na concepção que aconteceu no ventre de Maria.


Isaías 9


“Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu, e o principado está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre” (Is 9:6-7).
Esta profecia adicional confirma, em promessa, os detalhes do que já foi considerado. O Espírito Santo, através de Isaías, revela que a menção do nascimento de “um menino” confirma a verdadeira humanidade da criança. É igualmente claro que está criança é o “Filho” que foi dado.

Esta mesma verdade é explicada por Paulo: “Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4:4).
1 “Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento”, Edições Vida Nova, ISBN 978-85-275-0188-0 (N. do E.).

O propósito da Sua humanidade


Do ponto de vista federativo


“No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura dAquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa.
Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos” (Rm 5:14-15).
No princípio, Adão foi colocado como cabeça federativo da raça humana, e no seu ato original e pessoal de pecado ele levou a raça humana toda a uma condição de pecado, e consequentemente a uma condição de morte espiritual. O argumento completo do apóstolo Paulo é muito claro e é importante compreendê-lo, pois nele é revelada a necessidade de um novo Cabeça federativo, que pudesse criar os meios pelos quais os membros da raça humana pudessem ser feitos justos diante de
Deus. Esta é a importância da expressão: “a figura dAquele que havia de vir”. Tudo que foi perdido no primeiro Adão foi reavido, e muito mais, no último Adão, que é o Senhor Jesus Cristo. A série de contrastes entre os dois “cabeças federativos” é muito instrutiva e digna de uma consideração detalhada.


Do ponto de vista doutrinário


“E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2:14-15).
O pano de fundo para este aspecto está em afirmações Bíblicas tais como: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (I Tm 1:15); e “Ele se manifestou para tirar os nossos pecados” (I Jo 3:5); e “para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (I Jo 3:8). Sem a verdadeira humanidade de Cristo estes aspectos do propósito Divino teriam sido impossíveis. Este é o significado das palavras mencionadas em Hebreus 2, onde se fala de homens e mulheres, em geral, como coparticipantes da carne e do sangue. Embora haja, através da humanidade, diferentes características de cor e outros traços físicos, há em cada um a natureza básica comum, que o escritor está descrevendo. As palavras são usadas cuidadosamente e indicam que a Sua vinda em carne foi voluntária e que a Sua humanidade era real.
Assim, as Escrituras nos informam que Ele possuía espírito, alma, e corpo (Jo 11:33; Jo 12:27 e Hb 10:5-7), e que Ele chorou, dormiu, teve fome e sede. Muita discussão teológica tem surgido sobre estes aspectos da humanidade do nosso Senhor, e termos teológicos foram inventados, numa tentativa de dar uma explicação clara às questões mencionadas, mas não explicadas, nas Escrituras.


James McBroom observou o seguinte sobre a encarnação:


“Tendo vindo para estar entre os homens, Ele é tudo que um homem deve ser. Tudo estava perfeitamente em ordem; não havia
nada para diferenciá-lO dos outros homens: ‘assim como os filhos são participantes de carne e sangue, Ele também participou destas coisas’; era a simplicidade e a beleza de um homem com todos os sentimentos próprios da humanidade, numa condição intocada pelo pecado. Ele é o ‘Filho do Homem’, e como tal passou por cada estágio da vida humana, da manjedoura até a cruz. Em Mateus, Ele é o Rei dos Reis, em Marcos, o mais fiel dos servos, em Lucas, o mais bondoso e terno dos homens, e em João, embora tudo isso esteja presente, Ele é o unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.
As palavras do apóstolo Paulo a Timóteo enfatizam ainda mais a necessidade doutrinária da humanidade do Senhor: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (I Tm 2:5). O apóstolo está enfatizando que Aquele que veio era “homem, Ele mesmo”, portanto, totalmente competente para ser o único Mediador idôneo. Associado a essas considerações estão as palavras importantes e bem-conhecidas de Paulo aos Filipenses: “Cristo Jesus, que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.”. Ele não renunciou nem deixou de ser “em forma de Deus”. Assim, o que Ele era essencialmente e eternamente, permaneceu; além disso, Ele assumiu uma humanidade santa que será Sua eternamente. A maravilha, o mistério e a glória da Pessoa de Cristo residem no fato que “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”.

 

Do ponto de vista dispensacional


A comparação do Senhor Jesus com os anjos é a continuação de um tema apresentado desde o início de Hebreus 2. Ali já foi ensinado que a era milenar futura não estará sob o controle administrativo dos anjos, mas sim sob o controle de um homem. O escritor então menciona o Salmo 8, que tem em vista o primeiro Adão, e revela a posição inicial de supremacia de um homem sobre toda a Criação. Na descrição dada no Salmo, não há nenhuma sugestão da queda de Adão ou da entrada do pecado no jardim.

A passagem de Hebreus, entretanto, faz uma referência clara à entrada do pecado e seus efeitos subsequentes, e enfatiza que o controle administrativo da Criação foi perdido por causa do pecado e da Queda.

Uma comparação de Hebreus 2 com outras passagens relevantes do NT irá mostrar que nos dias futuros do milênio o mundo inteiro será transformado num maravilhoso jardim, e seu soberano Controlador será o último Adão, nosso Senhor Jesus Cristo. A finalidade de Hebreus 2:16 é mostrar que Sua obra sacrificial não era ocupar-se com a causa dos anjos, mas sim com a causa da semente de Abraão. Embora o reino de Cristo seja examinado mais detalhadamente em outra parte desse volume, devemos notar que a apresentação futura de Cristo reinando na Terra não é um pensamento posterior, como consequência da entrada do pecado no mundo. Antes, o ponto central dos propósitos divinos era que Adão seria somente a figura Daquele que havia de vir. O propósito de Deus sempre foi que Cristo fosse tudo em todos. Isto é esclarecido nas palavras da epístola aos Efésios: “Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; nEle, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1:9-11).

 

Do ponto de vista moral


“Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:3-4).

Fica claro no registro histórico da Queda, e nas referências a ela no NT, que a entrada do pecado no mundo alterou radicalmente a condição do homem que vivia sob o olhar onividente1 de Deus, e houve constantes falhas e pecados que criaram uma barreira. Esta condição caracterizou a humanidade por muitos séculos, e após a formação e redenção da nação de Israel, o povo escolhido de Deus disse, antes e depois da Lei ser dada, que “todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos” (Êx 24:3). Eles estavam obedientemente preparados para se tornarem um povo que se colocara sob a lei de Jeová. Mas falharam miseravelmente, e no próprio dia em que as tábuas de pedra escritas por Deus estavam sendo trazidas por Moisés, eles estavam adorando o ídolo do bezerro de ouro feito por Arão, e como resultado 3.000 morreram em um dia. A história posterior de Israel prova, sem sombra de dúvida, a sua incapacidade de guardar a promessa que haviam feito.
Nos capítulos iniciais da epístola aos Romanos o escritor prova claramente a condição moral e o fracasso de toda a humanidade. Vemos que o libertino e o erudito têm dentro de si a mesma natureza caída e arruinada que o judeu, porque em Adão todos, originalmente, pecaram.

Nenhum tipo de esforço, intelectual ou, no caso do judeu, religioso, pode efetuar uma mudança; todos são pecadores perante Deus. No capítulo 7 é revelado que a lei de Deus é absolutamente santa, mas também é impotente, e não tem poder em si mesma, para dar alívio do poder e da penalidade do pecado humano. Na passagem citada do capítulo 8, encontramos a resposta moral de Deus para o que a lei não pôde fazer. O homem carnal não pode satisfazer o padrão divino dado no Decálogo.

1 Que tudo vê (N. do E.).

Mas quando Deus enviou o Seu próprio Filho, Ele veio na semelhança da carne do pecado. Não lemos que Ele veio na “semelhança da carne”, pois isto negaria a realidade da Sua verdadeira humanidade, e apresentaria somente uma imitação do que os seres humanos são. Sua humanidade era real, mas era também uma humanidade santa. No caso de Adão, Deus criara uma humanidade inocente, sem mancha alguma de pecado. Naturalmente, é necessário apreciar que a humanidade inocente provou ser suscetível ao pecado, mas a humanidade santa de Cristo, o Filho de Deus, era totalmente inacessível ao pecado.
Devemos compreender que o contraste entre humanidade santa e humanidade inocente é fundamental, e envolve o contraste entre o primeiro homem e o segundo Homem. O primeiro homem cedeu à tentação que lhe foi oferecida por Satanás, mas o segundo Homem condenou o pecado no próprio campo em que ele geralmente opera — a carne. Este fato é verdadeiro ao se considerar a vida santa de Cristo. Sua vida foi vivida em meio à humanidade impura por mais de 30 anos. Ele foi em tudo tentado, mas sem pecado. Assim, o Senhor Jesus revelou na Sua vida o poder de uma vida santa sobre o pecado, e depois efetuou a morte expiatória sacrificial pelo pecado na Cruz. Este ensino, na epístola aos Romanos, é apresentado depois das grandes doutrinas do Evangelho serem estabelecidas e expostas.
O aspecto moral da humanidade de Cristo não deve ser considerado somente em relação ao princípio de pecado, mas também em relação ao resultado do pecado na humanidade. Os muitos aspectos morais vistos na vida de nosso Senhor Jesus Cristo revelam a plenitude das virtudes que foram inicialmente desejadas por Deus, e que podem trazer prazer ao coração de Deus ao observar os homens sobre a Terra. Traços dessas características são vistos em várias pessoas cujas vidas estão registradas nas Escrituras, mas em cada exemplo há falhas, por causa da natureza caída de cada indivíduo descrito. Na vida do nosso Senhor Jesus Cristo havia uma harmonia perfeita de graça e verdade. Ele falou da mansidão e humildade do Seu próprio coração, e os escritores de outras Escrituras usam o Seu andar, amor, humildade, simplicidade, longanimidade,mansidão e obediência, junto com outras qualidades, como exemplos na sua exortação aos santos. Isto nós dá uma ideia do que Deus queria que a raça humana fosse moralmente. Quão apropriado e quão agradável é para Deus quando Ele vê estas mesmas características produzidas naqueles que foram redimidos pelo precioso sangue de Cristo, e capacitados
pelo Espírito Santo de Deus que neles habita.


A perpetuidade da Sua humanidade


“Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 6:20).
Nestes versículos finais do capítulo, o escritor está enfatizando que o verdadeiro crente em Cristo tem uma forte consolação, tendo posto o seu “refúgio em reter a esperança proposta” (Hb 6:18). À luz das muitas referências ao Velho Testamento nesta epístola, pode haver aqui uma referência àqueles que no passado, na hora da necessidade, haviam fugi do para o santuário e se apegado às pontas do altar. A fraqueza naquele ato foi provada num caso como o de Joabe que foi morto, enquanto se apegava àquelas pontas (I Rs 2:28-34). A “esperança proposta” em Hebreus 6 é o fundamento seguro de refúgio que temos em nosso “Senhor Jesus Cristo, esperança nossa” (I Tm 1:1). Ele está agora além do véu, e pela fé nos apegamos a Ele. Ele não está além do véu de um santuário terrestre, mas sim no próprio Céu, e Ele é a única “âncora da alma, segura e firma, e que penetra até ao interior do véu” (Hb 6:19). Contudo, Ele não está lá somente como a âncora da alma. Ele entrou ali como precursor.
Na Sua ressurreição o Senhor Jesus Cristo tornou-Se as “primícias dos que dormem” (I Co 5:20), e na Sua ascensão Ele adentrou os Céus como “precursor”. O primeiro aspecto assegura ao cristão que todos serão ressuscitados de entre os mortos, porque Ele Se tornou o primeiro de todos os tais na ocasião da Sua ressurreição corporal. O segundo aspecto dá uma garantia semelhante ao cristão, de que todos chegarão à presença de Deus em associação com Aquele que entrou primeiro.

Em ambos estes aspectos, vemos que o ato descrito não foi somente em espírito, mas foi uma ação corpórea. O versículo que temos considerado ensina que um homem real entrou primeiro; Ele levou consigo a humanidade para o interior do Céu, e como homem está assentado sobre o trono de Deus. Quatro vezes na epístola aos Hebreus há uma referência ao trono, e quatro vezes ao fato que Ele se assentou. Estas grandes verdades não se restringem à epístola aos Hebreus, mas são o suficiente para mencionar aqui.

 

A preeminência da Sua humanidade


“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhantes aos homens; e achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:6-11).
Partes desta passagem maravilhosa já foram mencionadas neste capítulo e também em outras partes deste livro. A razão por citá-la aqui é para enfatizar que os passos de humilhação tomados, voluntariamente, pelo Senhor Jesus são todos compensados, dentro desta passagem, por Deus Seu Pai. Mas também devemos apreciar o fato que Ele, obviamente, não renunciou uma “forma” por outra “forma”, antes, Ele tomou sobre Si “a forma de um servo” (v. 9). Assim, os estágios de honra e glória descritos são dados por Deus ao Servo na Sua humanidade. A Ele se dobrará todo o joelho e toda a língua confessará que Ele é o Senhor; Ele é o “soberanamente exaltado”. Na ocasião da Sua ascensão e exaltação Jeová O convidou a assentar-Se à Sua destra; o lugar de honra e prioridade.
A profecia de Isaías prediz a glória futura do Messias de Israel: “Eis que o Meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime” (52:13). Também no cântico de Asafe: “Seja a Tua mão sobre o Homem da Tua destra, sobre o Filho do homem, que fortificaste para Ti” (Sl 80:17). As palavras inspiradas da Isaías, na profecia, resumem a glória preeminente do Homem Jesus Cristo: “Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu, e o principado está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto” (Is 9:6-7).
Assim, ao concluirmos, temos que nos curvar diante deste Homem glorioso e adorar o nosso Deus pela Promessa, o Propósito, a Perpetuidade e a Preeminência da Sua Humanidade.

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