26/12/2015 09:12
Devemos agora concluir esta série de
textos, e é com um forte sentimento de
relutância que o fazemos. O tema é por
demais interessante, profundamente
prático e proveitoso em extremo.
Todavia, ele é bastante sugestivo e abre
um extenso campo de visão para a mente
espiritual explorar com um interesse que
nunca termina, pois o assunto é
inexaurível.
Todavia, devemos, ao menos por
enquanto, finalizar nossas meditações
nesta linha de verdade tão maravilhosa,
mas ao fazê-lo, estamos ansiosos por
chamar a atenção do leitor, da forma mais
sucinta, para uma ou duas coisas que mal
foram mencionadas ao longo destes
textos. Nós as consideramos não só
interessante, mas de verdadeiro valor
prático para ajudar a esclarecer o
entendimento de muitos ramos do grande
assunto que tem ocupado nossa atenção.
O leitor que viajou conosco ao longo das
várias ramificações de nosso assunto irá
se lembrar de uma referência rápida
àquilo que nos aventuramos a chamar de
"um intervalo, pausa ou parêntese
despercebido" na relação de Deus com
Israel e com a terra. Trata-se de um ponto
do mais profundo interesse, e esperamos
ser capazes de mostrar ao leitor que não
se trata de alguma questão curiosa, de um
assunto misterioso e sombrio, ou de uma
noção favorita de alguma escola ou
interpretação profética em particular.
Muito pelo contrário, consideramos isto
como um ponto que derrama uma
torrente de luz sobre muitas ramificações
de nosso assunto como um todo. Foi o
que descobrimos para nós mesmos, e é
assim que desejamos apresentar aos
nossos leitores. Aliás, questionamos com
veemência se porventura alguém pode
entender corretamente a profecia ou sua
verdadeira posição e consequências, sem
enxergar o sutil intervalo ou pausa à qual
nos referimos acima.
Mas vamos nos voltar diretamente para a
Palavra e abrir no capítulo 9 do livro de
Daniel.
Os primeiros versículos desta notável
seção nos revelam o amado servo de Deus
em um profundo exercício de alma
relacionado à triste condição se seu tão
amado povo de Israel — uma condição
na qual, através do Espírito de Cristo, ele
entra com profundidade. Embora ele
próprio não tivesse participado
pessoalmente dessas ações que trouxeram
ruína à nação, mesmo assim ele se
identifica, da forma mais completa, com o
povo, e toma para si os seus pecados em
confissão e juízo-próprio diante de Deus.
Não podemos, no momento, tentar citar
toda a extraordinária oração e confissão
de Daniel, mas o assunto que
imediatamente nos diz respeito agora é
apresentado no versículo 20.
"Estando eu ainda falando e orando, e
confessando o meu pecado, e o pecado do
meu povo Israel, e lançando a minha
súplica perante a face do Senhor, meu
Deus, pelo monte santo do meu Deus,
estando eu, digo, ainda falando na oração,
o homem Gabriel, que eu tinha visto na
minha visão ao princípio, veio, voando
rapidamente, e tocou-me, à hora do
sacrifício da tarde. Ele me instruiu, e
falou comigo, dizendo: Daniel, agora saí
para fazer-te entender o sentido. No
princípio das tuas súplicas, saiu a ordem,
e eu vim, para to declarar, porque és mui
amado; considera, pois, a palavra, e
entende a visão. Setenta semanas estão
determinadas sobre o teu povo, e sobre a
tua santa cidade, para cessar a
transgressão, e para dar fim aos pecados, e
para expiar a iniquidade, e trazer a justiça
eterna, e selar a visão e a profecia, e para
ungir o Santíssimo" (Dn 9:20-24).
Em razão de nosso limitado espaço não
poderemos entrar em algum argumento
mais complexo para provar que as
"setenta semanas" da passagem acima
significam, na realidade, quatrocentos e
noventa anos. Assumimos isto como
sendo um fato. Acreditamos que Gabriel
tenha sido comissionado a instruir o
profeta amado e a informá-lo de que, a
partir da ordem para reconstruir
Jerusalém, deveria passar um período de
quatrocentos e noventa anos, e então
Israel seria introduzido na bênção.
Isto é algo tão simples e claro quanto
qualquer coisa pode ser. Podemos
asseverar, com total confiança, que é
menos provável que o sol nasça amanhã
na hora esperada, que o povo de Daniel
ser introduzido na bênção no final do
período acima mencionado pelo
mensageiro angelical. Trata-se de algo tão
certo quanto o trono de Deus. Nada pode
impedir isso. Nem todos os poderes da
terra e do inferno juntos são capazes de
barrar o total e perfeito cumprimento da
Palavra de Deus saída da boca de Gabriel.
Quando o último grão de areia do último
dos quatrocentos e noventa anos deixar a
ampulheta, Israel entrará na posse de toda
a preeminência e glória à qual foi
destinado. É impossível ler Daniel 9:24 e
não enxergar isto.
Mas pode ser que o leitor se sinta
disposto a perguntar — e a perguntar
com certo espanto — "Porventura os
quatrocentos e noventa anos já não
passaram há muito tempo?" A resposta é
que seguramente não. Se assim fosse,
Israel estaria agora em sua própria terra,
sob o bendito reinado de seu próprio
Messias amado. As Escrituras não podem
falhar e tampouco nós podemos tratar
suas afirmações de maneira leviana e
superficial, como se pudessem significar
qualquer coisa, ou tudo, ou coisa alguma.
A palavra é precisa. "Setenta semanas
estão determinadas sobre o teu povo".
Nem mais, nem menos do que setenta
semanas. Se isto significar literalmente
semanas, a passagem não tem qualquer
sentido ou significado. Seria um insulto
aos nossos leitores perder tempo
combatendo um absurdo deste.
Mas se Gabriel se referiu a setenta
semanas de anos, como estamos
totalmente persuadidos de que tenha sido
o caso, então temos diante de nós um
período bem distinto e definido — um
período que se estende do momento em
que Ciro emitiu a ordem para restaurar
Jerusalém, até o momento da restauração
de Jerusalém.
Todavia ainda assim o leitor pode querer
perguntar, "Como pode ser assim? Passou
muito mais que quatrocentos e noventa
anos, quatro vezes mais, desde que o rei
da Pérsia emitiu sua ordem, e mesmo
assim não há sinal da restauração de
Israel. Certamente deve existir algum
outro modo de interpretar as setenta
semanas".
Nada podemos fazer além de repetir
nossa afirmação, de que os quatrocentos e
noventa anos ainda não se cumpriram.
Houve uma pausa — um parêntese, um
intervalo longo e despercebido. Que o
leitor observe atentamente Daniel 9:25-26:
"Sabe e entende: desde a saída da ordem
para restaurar, e para edificar a Jerusalém,
até ao Messias, o Príncipe, haverá sete
semanas [49 anos], e sessenta e duas
semanas [434 anos]; as ruas e o muro se
reedificarão, mas em tempos angustiosos"
ou, "tempos apertados", isto é, as ruas e o
muro de Jerusalém foram construídos no
menor dos dois períodos citados, ou em
quarenta e nove anos. "E depois das
sessenta e duas semanas será cortado o
Messias, mas não para Si mesmo" ou "e
não será mais".
É aqui que chegamos a essa marcante,
memorável e solene época. O Messias, ao
invés de ser recebido, é cortado. No lugar
de sua ascensão ao trono de Davi, Ele vai
para a cruz. Ao invés de entrar na posse
de todas as promessas, Ele nada tem. Sua
única porção — no que diz respeito a
Israel e à terra — foi a cruz, o vinagre, a
lança e o túmulo emprestado.
O Messias foi rejeitado, cortado e nada
ganhou. E agora? Deus mostrou Sua
intenção suspendendo por um tempo
Suas ações dispensacionais relativas a
Israel. O curso do tempo é interrompido.
Cria-se uma grande lacuna. Quatrocentos
e oitenta e três anos se cumprem; restam
sete — uma semana cancelada, e todo o
tempo desde a morte do Messias passou
como um intervalo não percebido — uma
pausa ou parêntese, durante o qual Cristo
tem estado escondido nos céus, e o
Espírito Santo tem trabalhado na terra na
formação do corpo de Cristo, a Igreja, a
noiva celestial. Quando o último membro
tiver sido incorporado a este corpo, o
próprio Senhor virá e receberá o Seu
povo para Si, para conduzi-lo de volta à
casa do Pai, para estar ali com Ele na
inefável comunhão daquele bendito lar,
enquanto Deus, por meio de Suas ações
governamentais, prepara Israel e a terra
para a introdução do Primogênito no
mundo.
Quanto a este intervalo e tudo o que
deveria ocorrer dentro dele, Gabriel
mantém um profundo segredo. Se ele
entendia ou não isso, não é esta a questão.
Fica claro que ele não estava
comissionado a falar sobre o assunto,
mesmo porque ainda não havia chegado a
hora de fazê-lo. Ele passa, com um salto
misterioso e maravilhoso, sobre eras e
gerações — vai de um cabo a outro da
carta marítima profética, e cita em uma
ou duas breves sentenças um período
extenso de aproximadamente dois mil
anos. A tomada de Jerusalém pelos
romanos é, assim, rapidamente
mencionada: "O povo do príncipe, que há
de vir, destruirá a cidade e o santuário".
Então é apresentado um período que já
dura dezoito séculos da seguinte maneira:
"E o seu fim será com uma inundação; e
até ao fim haverá guerra; estão
determinadas as assolações".
Então, com grande rapidez, somos
conduzidos ao tempo do fim, quando a
última das setenta semanas, os últimos
sete anos dos quatrocentos e noventa, se
cumprirão. "E ele [o Príncipe] firmará
aliança com muitos [judeus] por uma
semana [sete anos]; e na metade da semana
fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre
a asa das abominações virá o assolador, e
isso até à consumação; e o que está
determinado será derramado sobre o
assolador".
Chegamos aqui ao final dos quatrocentos
e noventa anos que foram determinados
ou distribuídos para o povo de Daniel.
Tentar interpretar este período sem
enxergar a pausa e o longo intervalo
despercebido, acabará necessariamente
lançando a mente em total confusão. É
algo impossível de ser feito. Inúmeras
teorias já foram divulgadas, especulações
e cálculos sem fim foram tentados, mas
tudo em vão. Os quatrocentos e noventa
anos ainda não se cumpriram e tampouco
se cumprirão até que a Igreja tenha
deixado definitivamente este cenário e
subido para estar com seu Senhor em Seu
brilhante lar celestial. Os capítulos 4 e 5
de Apocalipse nos mostram o lugar que
os santos celestiais deverão ocupar
durante a última das setenta semanas de
Daniel, enquanto encontramos em
Apocalipse 6-18 os vários atos
governamentais de Deus, preparando
Israel e a terra para a introdução do
Primogênito no mundo.*
[* Estamos cientes de que existe um debate entre
os expositores, se os eventos de Apocalipse 6-18
devem ocupar uma semana inteira ou apenas
metade. Não tentamos oferecer aqui uma
opinião. Alguns consideram que os ministérios
públicos de João Batista e de nosso Senhor
tenham ocupado uma semana, ou sete anos, e
que em conseqüência da rejeição de ambos por
Israel, a semana teria sido cancelada e ficado por
se cumprir. Trata-se de uma questão interessante,
mas que de modo algum afeta os grandes
princípios que temos diante de nós ou a
interpretação do livro de Apocalipse. Podemos
acrescentar que as expressões "quarenta e dois
meses" — "mil duzentos e sessenta dias" — "um
tempo, e tempos, e a metade de um tempo"
indicam o período de meia semana ou três anos e
meio.]
Queremos muito esclarecer estas questões
para o leitor. Elas nos têm ajudado muito
no entendimento da profecia e
eliminaram várias dificuldades. Estamos
plenamente convencidos de que ninguém
pode entender o livro de Daniel, ou
mesmo o escopo geral da profecia, se não
enxergar que a última das setenta semanas
ainda está para ser cumprida. Nem
mesmo um jota ou til da Palavra de Deus
pode jamais passar, e considerando que
Ele declarou que "setenta semanas estão
determinadas sobre" o povo de Daniel, e
que no final desse período ele será
introduzido na bênção, fica claro que o
período ainda não se cumpriu. Mas a
menos que enxerguemos o intervalo, e a
suspensão na contagem do tempo em
função da rejeição do Messias, não há
como decifrar o cumprimento das setenta
semanas de Daniel, ou dos quatrocentos e
noventa anos.
Outro fato importante para o leitor ter
em mente é este: a Igreja não tem
qualquer parte nos procedimentos de
Deus para com Israel e a terra. A Igreja
não pertence ao tempo, mas à eternidade.
Ela não é terrena, mas celestial. Ela é
chamada à existência durante um
intervalo não registrado — um intervalo
ou parêntese resultante do Messias ter
sido cortado. Humanamente falando, se
Israel tivesse recebido o Messias, então as
setenta semanas ou quatrocentos e
noventa anos teriam se cumprido. Mas
Israel rejeitou seu Rei, e Deus O chamou
à Sua presença até que o povo reconheça
sua iniqüidade. Deus suspendeu seus
procedimentos públicos para com Israel e
a terra, apesar de estar certamente
controlando todas as coisas por Sua
providência, e mantendo Seu olhar sobre
a semente de Abraão, sempre amada por
causa do patriarca.
Enquanto isso Ele está tirando dentre
judeus e gentios esse corpo chamado
Igreja, para ser uma companhia para Seu
Filho na glória celestial — para estar
totalmente identificada com Ele em Sua
atual rejeição neste mundo, e para
aguardar em santa paciência por Seu
glorioso advento.
Tudo isso distingue a posição do cristão
da forma mais clara possível. Sua porção
e expectativas são também definidas com
igual clareza. De nada adianta procurar na
página profética pela posição da Igreja,
sua vocação e esperança. Não está ali. É
algo completamente fora de propósito
para o cristão ficar ocupado com datas e
eventos históricos, como se estas coisas
lhe dissessem respeito. Não há dúvida de
que todas estas coisas têm seu lugar, seu
valor e seu interesse, quando conectadas
aos desígnios de Deus para com Israel e a
terra. Mas o cristão não deve jamais
perder de vista o fato de pertencer ao céu,
de estar inseparavelmente ligado a um
Cristo que foi rejeitado na terra e aceito
no céu, que sua vida está oculta com
Cristo em Deus e que é seu santo
privilégio aguardar, dia a dia, hora a hora,
pela vinda de seu Senhor. Nada deve
ofuscar a compreensão dessa bendita
esperança por um momento sequer.
Nada, senão uma só coisa, pode causar
seu atraso, e esta é a paciência de nosso
Senhor, que não deseja que alguém
pereça, mas que todos venham a
arrepender-se — preciosas palavras estas
para um mundo culpado e perdido! A
salvação está pronta para ser revelada, e
Deus está pronto para julgar. Nada há para
se esperar além da reunião do último
eleito e então — oh! pensamento bendito!
— nosso querido e amável Salvador virá
e nos receberá para Si, para estarmos com
Ele onde Ele está, e para jamais sairmos
de Sua presença.
Então, quando a Igreja partir para estar
com seu Senhor no lar celestial, Deus
voltará a agir publicamente com Israel. O
povo será levado a uma grande tribulação
durante a semana à qual já nos referimos.
Mas no final daquele período de
inigualável pressão e sofrimento, seu
Messias há tanto rejeitado aparecerá para
seu alívio e libertação. Ele virá como o
cavaleiro montado no cavalo branco,
acompanhado pelos santos celestiais. Ele
executará um julgamento sumário sobre
Seus inimigos, e tomará para Si Seu
grande reino e poderio. Os reinos do
mundo se tornarão reinos de nosso
Senhor e de Seu Cristo. Satanás será
preso por mil anos e todo o universo
repousará sob o bendito e benevolente
governo do Príncipe da paz.
Finalmente, ao término dos mil anos,
Satanás será solto e terá permissão para
fazer mais um desesperado esforço — um
esforço que terminará com sua derrota e
confinamento eterno no lago de fogo,
para ser ali atormentado juntamente com
a besta e o falso profeta por toda a
eternidade.
Em seguida vem a ressurreição e o juízo
dos ímpios que morreram, quando serão
lançados no lago que queima com fogo e
enxofre — terrível e tremendo
pensamento este! Coração algum jamais
será capaz de conceber — língua alguma
será capaz de contar — os horrores
daquele lago de fogo.
Mas mal temos tempo para tratar dessa
imagem horrível e sinistra e eis que diante
da visão da alma surgem as indizíveis
glórias dos novos céus e da nova terra: a
santa cidade é vista descendo do céu, e
sons angelicais enchem os ouvidos, "Eis
aqui o tabernáculo de Deus com os
homens, pois com eles habitará, e eles
serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará
com eles, e será o Seu Deus. E Deus
limpará de seus olhos toda a lágrima; e
não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor; porque já as primeiras
coisas são passadas. E o que estava
assentado sobre o trono disse: Eis que
faço novas todas as coisas".
Oh, amado leitor cristão, que cenas temos
diante de nós! Que imensas realidades!
Que fulgurantes glórias morais! Possamos
nós viver na luz e poder dessas coisas!
Possamos acalentar essa bendita
esperança de ver Aquele que nos amou e
Se entregou a Si mesmo por nós — que
não gostaria de desfrutar de Sua glória
sozinho, mas suportou a ira de Deus para
poder nos ligar Consigo e compartilhar
conosco todo o Seu amor e glória para
todo o sempre. Oh! viver por Cristo e
aguardar por Sua vinda!
Nas alturas do céu, lá na casa do Pai,
Ele foi preparar-me lugar
Grato de tanto amor, de minha boca hoje sai,
Meu louvor e um canto sem par.
Muito em breve estarei lá, de branco, na luz,
Onde as trevas jamais vão entrar,
Com meus olhos verei o meu terno Jesus,
E Suas marcas de amor, contemplar.
Findo todo o pesar e o pecado cruel,
Livre, então, para sempre do mal,
Pela graça de Deus, na mansão lá no céu,
Viverei esse dia eternal.