26/12/2015 09:20
Mateus 24:1-44 é parte de um dos mais
profundos e abrangentes discursos já
ouvidos pelo homem — um discurso que
inclui, em sua maravilhosa extensão, o
destino do remanescente judeu, a história
da cristandade e o juízo das nações. Já
demos uma olhada neste último assunto.
Agora nos resta considerar a questão do
remanescente de Israel e a história da
cristandade professa, seja ela falsa ou
genuína.
Vamos ver primeiro o remanescente
judeu.
Para entender Mateus 24:1-44 precisamos
olhar do ponto de vista das pessoas às
quais o Senhor falava naquele momento.
Se tentarmos importar para este discurso
a luz que brilha na epístola aos Efésios,
acabaremos entregando nossa mente à
confusão e perderemos o solene
ensinamento da passagem que agora
temos diante de nós. Não encontramos
aqui coisa alguma acerca da Igreja de
Deus, o corpo de Cristo. O ensino de
nosso Senhor é divinamente perfeito e,
portanto, não podemos, sequer por um
momento, imaginar que exista na
passagem algo de prematuro. Mas seria
prematuro introduzir um assunto que,
naquele momento, estava oculto em
Deus. A grande verdade da Igreja não
poderia ser desvendada até que Cristo, o
Messias que foi cortado, tivesse ocupado
Seu lugar à destra de Deus e enviado o
Espírito Santo ao mundo para formar,
por meio de Sua presença, o um só corpo
composto de judeus e gentios.
Nada disso é encontrado em Mateus 24.
Estamos ali em terreno totalmente judeu,
cercados por circunstâncias e influências
judaicas. O cenário e as alusões feitas são
todas puramente judaicas. Tentar aplicar a
passagem à Igreja seria perder
completamente de vista o assunto de
nosso Senhor e falsificar a real posição da
Igreja de Deus. Quanto mais de perto
examinarmos as Escrituras, com maior
clareza veremos que as pessoas às quais as
palavras são dirigidas ocupam uma
perspectiva judaica e estão em terreno
judeu, não importa se consideramos as
pessoas às quais o Senhor Se dirigia, ou
aquelas que deverão ocupar exatamente a
mesma posição no final, quando a Igreja
tiver deixado esta cena de uma vez para
sempre.
Vamos examinar a passagem.
No final de Mateus 23 nosso Senhor
resume Seu apelo aos líderes da nação
judaica com as seguintes palavras de
terrível solenidade: "Enchei vós, pois, a
medida de vossos pais. Serpentes, raça de
víboras! Como escapareis da condenação
do inferno? Portanto, eis que Eu vos
envio profetas, sábios e escribas; a uns
deles matareis e crucificareis; e a outros
deles açoitareis nas vossas sinagogas e os
perseguireis de cidade em cidade; para
que sobre vós caia todo o sangue justo,
que foi derramado sobre a terra, desde o
sangue de Abel, o justo, até ao sangue de
Zacarias, filho de Baraquias, que matastes
entre o santuário e o altar. Em verdade
vos digo que todas estas coisas hão de vir
sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, que
matas os profetas, e apedrejas os que te
são enviados! Quantas vezes quis Eu
ajuntar os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo das asas, e
tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai
ficar-vos deserta; porque Eu vos digo que
desde agora Me não vereis mais, até que
digais: Bendito o que vem em nome do
Senhor" (Mt 23:32-39).
Assim termina o testemunho do Messias
para a apóstata nação de Israel. Todo
esforço que o amor — até mesmo o amor
divino — poderia demonstrar havia sido
tentado, e tentado em vão. Profetas
tinham sido enviados e apedrejados;
mensageiro após mensageiro tinha ido e
suplicado, ponderado, avisado e
implorado, mas sem resultado. Suas
poderosas palavras haviam caído em
ouvidos surdos e corações endurecidos. A
única recompensa dada a esses
mensageiros fora um tratamento
vergonhoso, o apedrejamento e a morte.
Finalmente o próprio Filho foi enviado, e
enviado com esta tocante declaração:
"Talvez, vendo-O, seja respeitado".
Respeitaram? Ah, não! Quando O viram
não havia nEle beleza alguma que os
atraísse. A filha de Sião não sentia nada
por seu Rei. A vinha estava sob o
controle de lavradores ímpios que
queriam mantê-la para si mesmos. "Mas,
vendo-o os lavradores, arrazoaram entre
si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde,
matemo-lo, para que a herança seja
nossa".
Foi por causa da condição moral de Israel
que nosso Senhor disse as palavras
excepcionalmente terríveis da passagem
acima; e então saiu do templo. Sabemos o
quanto ele relutou em fazer isso, pois,
bendito seja o Seu nome, sempre que
deixa um lugar de misericórdia, ou entra
em um lugar de juízo, Ele se move em
ritmo lento e cuidadoso. Veja a partida da
glória nos capítulos iniciais de Ezequiel.
"Então saiu a glória do Senhor de sobre a
entrada da casa, e parou sobre os
querubins. E os querubins alçaram as
suas asas, e se elevaram da terra aos meus
olhos, quando saíram; e as rodas os
acompanhavam; e cada um parou à
entrada da porta oriental da casa do
Senhor; e a glória do Deus de Israel
estava em cima, sobre eles" (Ez 11:22, 23).
Assim, de modo lento e calculado, a
glória do Deus de Israel sai da casa em
Jerusalém. Jeová demorou, foi relutante
em partir.* Ele chegara, com amoroso
entusiasmo, de alma e coração, para
habitar no meio do Seu povo, para
encontrar um lar bem no seio de Sua
assembleia; mas foi forçado a Se retirar por
causa dos seus pecados e iniquidades. De
bom grado Ele ficaria, mas era
impossível; e mesmo assim Ele provou,
do modo como partiu, o quão relutante
estava em partir.
[* Compare esta relutante partida com Sua
rápida entrada no tabernáculo em Êxodo 40:34 e
no templo em 2 Crônicas 7:1. A habitação tinha
acabado de ficar pronta e Ele já descia para
ocupá-la, enchendo-a com Sua glória. Ele foi tão
rápido em entrar quanto foi lento em partir. E
não somente isto, mas antes que o livro de
Ezequiel termine, vemos a glória voltando
novamente, e "Jeová Shamá" permanece gravado
em caracteres eternos sobre as portas da amada
cidade. Nada mudou na afeição de Deus. Quem
Ele ama, e como ama, Ele ama até o fim. "É o
mesmo, ontem, e hoje, e eternamente".]
Não foi diferente com o Jeová Messias de
Mateus 23. Ouça Suas tocantes palavras:
"Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus
filhos, como a galinha ajunta os seus
pintos debaixo das asas, e tu não
quiseste!" Eis o profundo segredo: "quis
Eu". Assim estava o coração de Deus.
"Tu não quiseste". Assim estava o coração
de Israel. Como aconteceu com a glória
nos dias de Ezequiel, Ele também foi
obrigado a Se retirar, mas — bendito seja
o Seu nome — não sem antes deixar uma
palavra que forma a preciosa base da
esperança dos dias brilhantes que ainda
virão, quando a glória retornar e a filha
de Sião der as boas-vindas ao seu Rei com
alegres cânticos: "Bendito o que vem em
nome do Senhor".
Todavia, até que aquele radiante dia
amanheça, trevas, desolação e ruína é
tudo o que pode ser visto na história de
Israel. Aquilo que os líderes procuravam
evitar, por meio da rejeição de Cristo,
caiu sobre eles como uma dura e terrível
realidade. "Virão os romanos, e tirar-nosão
o nosso lugar e a nação". Quão literal e
solene foi a forma como isto se cumpriu!
Ah, seu lugar e sua nação foram tirados e
o significativo ato de Jesus em Mateus
24:1 não passou da promulgação da
sentença e da desolação de todo o sistema
judaico. Jesus saiu do templo. O caso
estava perdido. Tudo deve ser deixado de
lado. Um longo período de trevas e
tristeza deve tomar conta daquela
obcecada nação — um período que
deverá culminar naquela "grande
tribulação" que deve preceder a hora do
livramento final.
Mas, como aconteceu nos dias de
Ezequiel, havia aqueles que suspiravam e
choravam por causa dos pecados e
desgraças da nação. Por isso, nos dias de
Mateus 24 foi possível encontrar um
remanescente de almas fiéis que se
juntaram ao Messias rejeitado acalentando
a terna esperança da redenção e
restauração de Israel. É certo que suas
percepções eram bem turvas e seus
pensamentos cheios de confusão. Todavia
o coração de cada um, como que tocado
pela graça divina, batia sincero para com
o Messias e estava cheio de esperança
quanto ao futuro de Israel.
Ora, é da maior importância que o leitor
consiga reconhecer e entender o caráter
desse remanescente, e saber que é disso
que nosso Senhor está tratando em Seu
maravilhoso discurso no Monte das
Oliveiras. Supor, ainda que por um
momento, que as pessoas que ouviam
estivessem sobre um fundamento cristão
seria exigir que abandonássemos todas as
ideias genuínas quanto ao que vem a ser
cristianismo, e que ignorássemos um
grupo cuja existência é reconhecida ao
longo dos Salmos, dos Profetas e em
várias partes do Novo Testamento. Havia,
e sempre haverá, "um remanescente,
segundo a eleição da graça". Citar as
passagens que revelam a história, as
tristezas, as experiências e exercícios desse
remanescente exigiria um volume inteiro.
Por isso não tentaremos fazê-lo, mas
temos grande desejo que o leitor adote a
ideia de que esse remanescente fiel é
representado pelo grupo de discípulos
que se reunia em torno de nosso Senhor
no Monte das Oliveiras. Sentimo-nos
persuadidos de que, se isto não for
enxergado, se perderá o verdadeiro
escopo, significado e aplicação deste
notável discurso.
"E, quando Jesus ia saindo do templo,
aproximaram-se dEle os Seus discípulos
para Lhe mostrarem a estrutura do
templo. Jesus, porém, lhes disse: Não
vedes tudo isto? Em verdade vos digo
que não ficará aqui pedra sobre pedra que
não seja derrubada. E, estando assentado
no Monte das Oliveiras, chegaram-se a
Ele os seus discípulos em particular,
dizendo: Dize-nos, quando serão essas
coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e
do fim do mundo?" (ou da era, aionos.)
Os discípulos estavam, naturalmente,
ocupados com questões e expectativas
terrenas e judaicas — o templo e suas
cercanias. Devemos ter isto em mente se
quisermos entender a pergunta que
fizeram e a resposta de nosso Senhor. Até
ali eles não tinham qualquer ideia além do
lado terreno das coisas. Eles buscavam
pelo estabelecimento do reino, pela glória
do Messias, pelo cumprimento das
promessas feitas aos pais. Ainda não
tinham se dado conta do importante e
solene fato de que o Messias estava para
ser "cortado... mas não para Si mesmo"
(Dn 9:26). É verdade que o bendito
Mestre estava, pouco a pouco,
procurando preparar suas mentes para
este solene evento. Ele os havia avisado
verdadeiramente quanto às densas
sombras que estavam para se derramar
em Seu caminho. Havia dito a eles que o
Filho do Homem deveria ser entregue aos
gentios para ser ridicularizado, flagelado e
crucificado.
Mas eles não entendiam o que Ele dizia.
Aquilo parecia sombrio, difícil e
incompreensível; e seus corações
continuavam a se apegar afetuosamente à
esperança da bênção e restauração
nacional. Eles ansiavam por ver a estrela
de Jacó em ascensão. Seus pensamentos
estavam cheios de expectativa da
restauração do reino de Israel. Portanto
nada sabiam — e como poderiam? —
daquilo que estava para se desencadear: a
rejeição e morte do Messias. Sem dúvida
alguma o Senhor havia falado de edificar
uma assembleia, mas no que diz respeito
à posição e privilégios dessa assembleia,
sua vocação, sua posição, suas esperanças,
eles não sabiam absolutamente coisa
alguma. A ideia de um corpo composto
de judeus e gentios, unidos pelo Espírito
Santo a uma Cabeça viva e glorificada nos
céus, jamais entrara — e como poderia?
— em suas cabeças. A parede de
separação continuava de pé, e um deles
— o mais proeminente dentre eles —
teria de ser ensinado, muito tempo depois
e com muita dificuldade, a aceitar a ideia
de até admitir que os gentios entrassem
no reino.
Tudo isso, repetimos, deve ser levado em
conta se quisermos ler corretamente a
resposta de nosso Senhor à pergunta
sobre Sua vinda e o fim dos tempos. Não
há sequer uma sílaba sobre a Igreja como
tal, do princípio ao fim daquela resposta.
Até o versículo 14 Ele vai direto ao final,
dando uma rápida ideia dos eventos que
devem ocorrer entre as nações.
"Acautelai-vos, que ninguém vos engane",
diz Ele. "Porque muitos virão em Meu
nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e
enganarão a muitos. E ouvireis de guerras
e de rumores de guerras; olhai, não vos
assusteis, porque é mister que isso tudo
aconteça, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra
nação, e reino contra reino, e haverá
fomes, e pestes, e terremotos, em vários
lugares. Mas todas estas coisas são o
princípio de dores. Então vos hão de
entregar para serdes atormentados, e
matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as
nações por causa do Meu nome. Nesse
tempo muitos serão escandalizados, e
trair-se-ão uns aos outros, e uns aos
outros se odiarão. E surgirão muitos
falsos profetas, e enganarão a muitos. E,
por se multiplicar a iniquidade, o amor de
muitos esfriará. Mas aquele que
perseverar até ao fim será salvo. E este
evangelho do reino será pregado em todo
o mundo, em testemunho a todas as
nações, e então virá o fim" (Mt 24:4-14).
Temos aqui, portanto, um esboço dos
mais abrangentes de todo o período a
partir do momento que nosso Senhor
falava até o tempo do fim. Mas o leitor
precisará ter em mente que existe um
intervalo não perceptível — um
parêntese, uma pausa — nesse período,
durante o qual o grande mistério da
Igreja é revelado.
Este intervalo ou pausa é totalmente
deixado de lado neste discurso,
principalmente porque ainda não tinha
chegado o tempo de seu
desenvolvimento. Ele continuava "oculto
em Deus" e não poderia ser revelado até
que o Messias fosse finalmente rejeitado,
cortado da terra e recebido em glória nas
alturas. Este discurso, em sua totalidade,
teria seu pleno e perfeito cumprimento,
mesmo que jamais se tivesse ouvido falar
de algo como a Igreja. Pois a Igreja —
que isto nunca seja esquecido — não tem
qualquer parte nas deliberações de Deus
para com Israel e o mundo. E no que diz
respeito à alusão feita à pregação do
evangelho no versículo 14, não devemos
supor que seja a mesma coisa que o
"glorioso evangelho da graça de Deus",
do modo como foi pregado por Paulo.
Aquele, além de ser denominado "o
evangelho do reino", deverá ser pregado
não com o propósito de reunir a Igreja,
mas "em testemunho a todas as nações".
Não podemos confundir as coisas que
Deus, em Sua infinita sabedoria, mostrou
serem distintas. A Igreja não deve ser
confundida com o reino, tampouco o
evangelho da graça de Deus deve ser
confundido com o evangelho do reino.
São coisas completamente distintas e, se
as confundirmos, acabaremos não
entendendo nem uma, nem outra. Além
disso, gostaríamos de insistir com o leitor
quanto à absoluta necessidade de se
enxergar a pausa, o parêntese ou o
imperceptível intervalo no qual o grande
mistério da Igreja é inserido. Se isto não
for claramente visto, Mateus 24 não
poderá ser entendido.
Mas devemos seguir adiante com o
discurso de nosso Senhor.
No versículo 15 Ele parece chamar a
atenção de Seus leitores um pouco para o
passado, como se quisesse falar de algo
bem específico — algo da alusão feita por
Daniel, com a qual um crente judeu
estaria familiarizado. "Quando, pois,
virdes que a abominação da desolação, de
que falou o profeta Daniel, está no lugar
santo; quem lê, atenda; então, os que
estiverem na Judéia, fujam para os
montes; e quem estiver sobre o telhado
não desça a tirar alguma coisa de sua casa;
e quem estiver no campo não volte atrás a
buscar as suas vestes... E orai para que a
vossa fuga não aconteça no inverno nem
no sábado; porque haverá então grande
aflição, como nunca houve desde o
princípio do mundo até agora, nem
tampouco há de haver".
Tudo isso é muito claro. A citação de
Daniel 12 não deixa qualquer dúvida
quanto à aplicação da passagem. Prova
que a referência não é ao cerco de
Jerusalém por Tito, pois lemos em Daniel
12 que "naquele tempo livrar-se-á o teu
povo", e é perfeitamente claro que o povo
não foi liberto nos dias de Tito. Não, a
referência é ao tempo do fim. A cena se
passa em Jerusalém. As pessoas às quais o
discurso é dirigido e aquelas envolvidas
são crentes judeus — o piedoso
remanescente de Israel durante a grande
tribulação, após a Igreja ter saído de cena.
Como alguém poderia imaginar que as
pessoas às quais a passagem se refere
pudessem ser consideradas como estando
em terreno cristão? Que importância teria
para elas a alusão feita ao inverno ou ao
sábado?
Portanto, mais uma vez: "Então, se
alguém vos disser: Eis que o Cristo está
aqui, ou ali, não lhe deis crédito... se vos
disserem: Eis que Ele está no deserto, não
saiais. Eis que Ele está no interior da casa;
não acrediteis". Que aplicação teria tais
palavras para pessoas que estão instruídas
a aguardar pelo Filho de Deus vindo do
Céu, que sabem que quando Ele voltar a
este mundo elas irão encontrá-Lo entre
nuvens e voltar com Ele para a casa do
Pai? Poderia algum cristão bem
informado da esperança que lhe diz
respeito ser enganado por pessoas
dizendo que Cristo está aqui ou ali, no
deserto ou no interior da casa?
Impossível. O cristão está aguardando
pelo Noivo vindo do Céu, e sabe que está
totalmente fora de questão que Cristo
apareça na terra se não estiver trazendo
consigo todo o Seu povo.
Assim, a simples verdade deixa tudo
resolvido, e tudo o que queremos é
abordá-la com simplicidade. O cristão
mais simples sabe muito bem que seu
Senhor não aparecerá para si como um
raio ou relâmpago, mas como a
resplandecente Estrela da manhã e,
portanto, entende que Mateus 24 não
pode se aplicar à Igreja, muito embora a
Igreja certamente possa estudar o capítulo
com interesse e obter benefícios dele,
como acontece com todas as outras
passagens proféticas. E, podemos
acrescentar, o interesse será ainda mais
intenso, e o benefício ainda mais
profundo, na proporção em que
enxergarmos a verdadeira aplicação destas
passagens das Escrituras.
O limite de espaço impede que entremos
tanto quanto gostaríamos no restante
deste maravilhoso discurso, mas quanto
mais detalhadamente cada sentença for
examinada, maior o peso que se dará a
cada circunstância, e maior a clareza com
que poderemos ver que as pessoas às
quais foi dirigido não têm natureza cristã.
Toda a cena é judaica e terrena, e não
cristã e celestial. Há ali muito ensino para
aqueles que se encontrarão,
eventualmente, na posição ali prevista, e
nada pode ser mais claro do que o fato de
que o parágrafo inteiro, do versículo 15
ao 42, se refere ao período que se passa
entre o arrebatamento dos santos e a
aparição do Filho do Homem.
Alguns talvez sintam dificuldade em
entender o versículo 34: "Não passará esta
geração sem que todas estas coisas
aconteçam". Mas devemos nos lembrar de
que a palavra "geração" é constantemente
usada nas Escrituras com um sentido
moral. Não deve ser limitada a certo
número de pessoas que estiverem vivas na
ocasião, mas leva em consideração o povo.
Na passagem que lemos, ela se aplica
simplesmente à geração judaica, mas o
modo como as palavras são colocadas
pode deixar em aberto também a questão
do tempo, de maneira que o coração deve
ser mantido sempre de prontidão para a
vinda do Senhor. Nada há nas Escrituras
que interfira com a constante expectativa
desse grande evento. Pelo contrário, cada
parábola, cada figura, cada alusão é
colocada na forma de palavras que
garantam que cada pessoa espere pela
volta do Senhor durante o tempo de sua
vida, deixando ainda margem para o
prolongamento do tempo em
conformidade com a paciente graça de
um Deus Salvador.