O REMANESCENTE JUDEU

Mateus 24:1-44 é parte de um dos mais

profundos e abrangentes discursos já

ouvidos pelo homem — um discurso que

inclui, em sua maravilhosa extensão, o

destino do remanescente judeu, a história

da cristandade e o juízo das nações. Já

demos uma olhada neste último assunto.

Agora nos resta considerar a questão do

remanescente de Israel e a história da

cristandade professa, seja ela falsa ou

genuína.

Vamos ver primeiro o remanescente

judeu.

Para entender Mateus 24:1-44 precisamos

olhar do ponto de vista das pessoas às

quais o Senhor falava naquele momento.

Se tentarmos importar para este discurso

a luz que brilha na epístola aos Efésios,

acabaremos entregando nossa mente à

confusão e perderemos o solene

ensinamento da passagem que agora

temos diante de nós. Não encontramos

aqui coisa alguma acerca da Igreja de

Deus, o corpo de Cristo. O ensino de

nosso Senhor é divinamente perfeito e,

portanto, não podemos, sequer por um

momento, imaginar que exista na

passagem algo de prematuro. Mas seria

prematuro introduzir um assunto que,

naquele momento, estava oculto em

Deus. A grande verdade da Igreja não

poderia ser desvendada até que Cristo, o

Messias que foi cortado, tivesse ocupado

Seu lugar à destra de Deus e enviado o

Espírito Santo ao mundo para formar,

por meio de Sua presença, o um só corpo

composto de judeus e gentios.

Nada disso é encontrado em Mateus 24.

Estamos ali em terreno totalmente judeu,

cercados por circunstâncias e influências

judaicas. O cenário e as alusões feitas são

todas puramente judaicas. Tentar aplicar a

passagem à Igreja seria perder

completamente de vista o assunto de

nosso Senhor e falsificar a real posição da

Igreja de Deus. Quanto mais de perto

examinarmos as Escrituras, com maior

clareza veremos que as pessoas às quais as

palavras são dirigidas ocupam uma

perspectiva judaica e estão em terreno

judeu, não importa se consideramos as

pessoas às quais o Senhor Se dirigia, ou

aquelas que deverão ocupar exatamente a

mesma posição no final, quando a Igreja

tiver deixado esta cena de uma vez para

sempre.

Vamos examinar a passagem.

No final de Mateus 23 nosso Senhor

resume Seu apelo aos líderes da nação

judaica com as seguintes palavras de

terrível solenidade: "Enchei vós, pois, a

medida de vossos pais. Serpentes, raça de

víboras! Como escapareis da condenação

do inferno? Portanto, eis que Eu vos

envio profetas, sábios e escribas; a uns

deles matareis e crucificareis; e a outros

deles açoitareis nas vossas sinagogas e os

perseguireis de cidade em cidade; para

que sobre vós caia todo o sangue justo,

que foi derramado sobre a terra, desde o

sangue de Abel, o justo, até ao sangue de

Zacarias, filho de Baraquias, que matastes

entre o santuário e o altar. Em verdade

vos digo que todas estas coisas hão de vir

sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, que

matas os profetas, e apedrejas os que te

são enviados! Quantas vezes quis Eu

ajuntar os teus filhos, como a galinha

ajunta os seus pintos debaixo das asas, e

tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai

ficar-vos deserta; porque Eu vos digo que

desde agora Me não vereis mais, até que

digais: Bendito o que vem em nome do

Senhor" (Mt 23:32-39).

Assim termina o testemunho do Messias

para a apóstata nação de Israel. Todo

esforço que o amor — até mesmo o amor

divino — poderia demonstrar havia sido

tentado, e tentado em vão. Profetas

tinham sido enviados e apedrejados;

mensageiro após mensageiro tinha ido e

suplicado, ponderado, avisado e

implorado, mas sem resultado. Suas

poderosas palavras haviam caído em

ouvidos surdos e corações endurecidos. A

única recompensa dada a esses

mensageiros fora um tratamento

vergonhoso, o apedrejamento e a morte.

Finalmente o próprio Filho foi enviado, e

enviado com esta tocante declaração:

"Talvez, vendo-O, seja respeitado".

Respeitaram? Ah, não! Quando O viram

não havia nEle beleza alguma que os

atraísse. A filha de Sião não sentia nada

por seu Rei. A vinha estava sob o

controle de lavradores ímpios que

queriam mantê-la para si mesmos. "Mas,

vendo-o os lavradores, arrazoaram entre

si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde,

matemo-lo, para que a herança seja

nossa".

Foi por causa da condição moral de Israel

que nosso Senhor disse as palavras

excepcionalmente terríveis da passagem

acima; e então saiu do templo. Sabemos o

quanto ele relutou em fazer isso, pois,

bendito seja o Seu nome, sempre que

deixa um lugar de misericórdia, ou entra

em um lugar de juízo, Ele se move em

ritmo lento e cuidadoso. Veja a partida da

glória nos capítulos iniciais de Ezequiel.

"Então saiu a glória do Senhor de sobre a

entrada da casa, e parou sobre os

querubins. E os querubins alçaram as

suas asas, e se elevaram da terra aos meus

olhos, quando saíram; e as rodas os

acompanhavam; e cada um parou à

entrada da porta oriental da casa do

Senhor; e a glória do Deus de Israel

estava em cima, sobre eles" (Ez 11:22, 23).

Assim, de modo lento e calculado, a

glória do Deus de Israel sai da casa em

Jerusalém. Jeová demorou, foi relutante

em partir.* Ele chegara, com amoroso

entusiasmo, de alma e coração, para

habitar no meio do Seu povo, para

encontrar um lar bem no seio de Sua

assembleia; mas foi forçado a Se retirar por

causa dos seus pecados e iniquidades. De

bom grado Ele ficaria, mas era

impossível; e mesmo assim Ele provou,

do modo como partiu, o quão relutante

estava em partir.

[* Compare esta relutante partida com Sua

rápida entrada no tabernáculo em Êxodo 40:34 e

no templo em 2 Crônicas 7:1. A habitação tinha

acabado de ficar pronta e Ele já descia para

ocupá-la, enchendo-a com Sua glória. Ele foi tão

rápido em entrar quanto foi lento em partir. E

não somente isto, mas antes que o livro de

Ezequiel termine, vemos a glória voltando

novamente, e "Jeová Shamá" permanece gravado

em caracteres eternos sobre as portas da amada

cidade. Nada mudou na afeição de Deus. Quem

Ele ama, e como ama, Ele ama até o fim. "É o

mesmo, ontem, e hoje, e eternamente".]

Não foi diferente com o Jeová Messias de

Mateus 23. Ouça Suas tocantes palavras:

"Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus

filhos, como a galinha ajunta os seus

pintos debaixo das asas, e tu não

quiseste!" Eis o profundo segredo: "quis

Eu". Assim estava o coração de Deus.

"Tu não quiseste". Assim estava o coração

de Israel. Como aconteceu com a glória

nos dias de Ezequiel, Ele também foi

obrigado a Se retirar, mas — bendito seja

o Seu nome — não sem antes deixar uma

palavra que forma a preciosa base da

esperança dos dias brilhantes que ainda

virão, quando a glória retornar e a filha

de Sião der as boas-vindas ao seu Rei com

alegres cânticos: "Bendito o que vem em

nome do Senhor".

Todavia, até que aquele radiante dia

amanheça, trevas, desolação e ruína é

tudo o que pode ser visto na história de

Israel. Aquilo que os líderes procuravam

evitar, por meio da rejeição de Cristo,

caiu sobre eles como uma dura e terrível

realidade. "Virão os romanos, e tirar-nosão

o nosso lugar e a nação". Quão literal e

solene foi a forma como isto se cumpriu!

Ah, seu lugar e sua nação foram tirados e

o significativo ato de Jesus em Mateus

24:1 não passou da promulgação da

sentença e da desolação de todo o sistema

judaico. Jesus saiu do templo. O caso

estava perdido. Tudo deve ser deixado de

lado. Um longo período de trevas e

tristeza deve tomar conta daquela

obcecada nação — um período que

deverá culminar naquela "grande

tribulação" que deve preceder a hora do

livramento final.

Mas, como aconteceu nos dias de

Ezequiel, havia aqueles que suspiravam e

choravam por causa dos pecados e

desgraças da nação. Por isso, nos dias de

Mateus 24 foi possível encontrar um

remanescente de almas fiéis que se

juntaram ao Messias rejeitado acalentando

a terna esperança da redenção e

restauração de Israel. É certo que suas

percepções eram bem turvas e seus

pensamentos cheios de confusão. Todavia

o coração de cada um, como que tocado

pela graça divina, batia sincero para com

o Messias e estava cheio de esperança

quanto ao futuro de Israel.

Ora, é da maior importância que o leitor

consiga reconhecer e entender o caráter

desse remanescente, e saber que é disso

que nosso Senhor está tratando em Seu

maravilhoso discurso no Monte das

Oliveiras. Supor, ainda que por um

momento, que as pessoas que ouviam

estivessem sobre um fundamento cristão

seria exigir que abandonássemos todas as

ideias genuínas quanto ao que vem a ser

cristianismo, e que ignorássemos um

grupo cuja existência é reconhecida ao

longo dos Salmos, dos Profetas e em

várias partes do Novo Testamento. Havia,

e sempre haverá, "um remanescente,

segundo a eleição da graça". Citar as

passagens que revelam a história, as

tristezas, as experiências e exercícios desse

remanescente exigiria um volume inteiro.

Por isso não tentaremos fazê-lo, mas

temos grande desejo que o leitor adote a

ideia de que esse remanescente fiel é

representado pelo grupo de discípulos

que se reunia em torno de nosso Senhor

no Monte das Oliveiras. Sentimo-nos

persuadidos de que, se isto não for

enxergado, se perderá o verdadeiro

escopo, significado e aplicação deste

notável discurso.

"E, quando Jesus ia saindo do templo,

aproximaram-se dEle os Seus discípulos

para Lhe mostrarem a estrutura do

templo. Jesus, porém, lhes disse: Não

vedes tudo isto? Em verdade vos digo

que não ficará aqui pedra sobre pedra que

não seja derrubada. E, estando assentado

no Monte das Oliveiras, chegaram-se a

Ele os seus discípulos em particular,

dizendo: Dize-nos, quando serão essas

coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e

do fim do mundo?" (ou da era, aionos.)

Os discípulos estavam, naturalmente,

ocupados com questões e expectativas

terrenas e judaicas — o templo e suas

cercanias. Devemos ter isto em mente se

quisermos entender a pergunta que

fizeram e a resposta de nosso Senhor. Até

ali eles não tinham qualquer ideia além do

lado terreno das coisas. Eles buscavam

pelo estabelecimento do reino, pela glória

do Messias, pelo cumprimento das

promessas feitas aos pais. Ainda não

tinham se dado conta do importante e

solene fato de que o Messias estava para

ser "cortado... mas não para Si mesmo"

(Dn 9:26). É verdade que o bendito

Mestre estava, pouco a pouco,

procurando preparar suas mentes para

este solene evento. Ele os havia avisado

verdadeiramente quanto às densas

sombras que estavam para se derramar

em Seu caminho. Havia dito a eles que o

Filho do Homem deveria ser entregue aos

gentios para ser ridicularizado, flagelado e

crucificado.

Mas eles não entendiam o que Ele dizia.

Aquilo parecia sombrio, difícil e

incompreensível; e seus corações

continuavam a se apegar afetuosamente à

esperança da bênção e restauração

nacional. Eles ansiavam por ver a estrela

de Jacó em ascensão. Seus pensamentos

estavam cheios de expectativa da

restauração do reino de Israel. Portanto

nada sabiam — e como poderiam? —

daquilo que estava para se desencadear: a

rejeição e morte do Messias. Sem dúvida

alguma o Senhor havia falado de edificar

uma assembleia, mas no que diz respeito

à posição e privilégios dessa assembleia,

sua vocação, sua posição, suas esperanças,

eles não sabiam absolutamente coisa

alguma. A ideia de um corpo composto

de judeus e gentios, unidos pelo Espírito

Santo a uma Cabeça viva e glorificada nos

céus, jamais entrara — e como poderia?

— em suas cabeças. A parede de

separação continuava de pé, e um deles

— o mais proeminente dentre eles —

teria de ser ensinado, muito tempo depois

e com muita dificuldade, a aceitar a ideia

de até admitir que os gentios entrassem

no reino.

Tudo isso, repetimos, deve ser levado em

conta se quisermos ler corretamente a

resposta de nosso Senhor à pergunta

sobre Sua vinda e o fim dos tempos. Não

há sequer uma sílaba sobre a Igreja como

tal, do princípio ao fim daquela resposta.

Até o versículo 14 Ele vai direto ao final,

dando uma rápida ideia dos eventos que

devem ocorrer entre as nações.

"Acautelai-vos, que ninguém vos engane",

diz Ele. "Porque muitos virão em Meu

nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e

enganarão a muitos. E ouvireis de guerras

e de rumores de guerras; olhai, não vos

assusteis, porque é mister que isso tudo

aconteça, mas ainda não é o fim.

Porquanto se levantará nação contra

nação, e reino contra reino, e haverá

fomes, e pestes, e terremotos, em vários

lugares. Mas todas estas coisas são o

princípio de dores. Então vos hão de

entregar para serdes atormentados, e

matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as

nações por causa do Meu nome. Nesse

tempo muitos serão escandalizados, e

trair-se-ão uns aos outros, e uns aos

outros se odiarão. E surgirão muitos

falsos profetas, e enganarão a muitos. E,

por se multiplicar a iniquidade, o amor de

muitos esfriará. Mas aquele que

perseverar até ao fim será salvo. E este

evangelho do reino será pregado em todo

o mundo, em testemunho a todas as

nações, e então virá o fim" (Mt 24:4-14).

Temos aqui, portanto, um esboço dos

mais abrangentes de todo o período a

partir do momento que nosso Senhor

falava até o tempo do fim. Mas o leitor

precisará ter em mente que existe um

intervalo não perceptível — um

parêntese, uma pausa — nesse período,

durante o qual o grande mistério da

Igreja é revelado.

Este intervalo ou pausa é totalmente

deixado de lado neste discurso,

principalmente porque ainda não tinha

chegado o tempo de seu

desenvolvimento. Ele continuava "oculto

em Deus" e não poderia ser revelado até

que o Messias fosse finalmente rejeitado,

cortado da terra e recebido em glória nas

alturas. Este discurso, em sua totalidade,

teria seu pleno e perfeito cumprimento,

mesmo que jamais se tivesse ouvido falar

de algo como a Igreja. Pois a Igreja —

que isto nunca seja esquecido — não tem

qualquer parte nas deliberações de Deus

para com Israel e o mundo. E no que diz

respeito à alusão feita à pregação do

evangelho no versículo 14, não devemos

supor que seja a mesma coisa que o

"glorioso evangelho da graça de Deus",

do modo como foi pregado por Paulo.

Aquele, além de ser denominado "o

evangelho do reino", deverá ser pregado

não com o propósito de reunir a Igreja,

mas "em testemunho a todas as nações".

Não podemos confundir as coisas que

Deus, em Sua infinita sabedoria, mostrou

serem distintas. A Igreja não deve ser

confundida com o reino, tampouco o

evangelho da graça de Deus deve ser

confundido com o evangelho do reino.

São coisas completamente distintas e, se

as confundirmos, acabaremos não

entendendo nem uma, nem outra. Além

disso, gostaríamos de insistir com o leitor

quanto à absoluta necessidade de se

enxergar a pausa, o parêntese ou o

imperceptível intervalo no qual o grande

mistério da Igreja é inserido. Se isto não

for claramente visto, Mateus 24 não

poderá ser entendido.

Mas devemos seguir adiante com o

discurso de nosso Senhor.

No versículo 15 Ele parece chamar a

atenção de Seus leitores um pouco para o

passado, como se quisesse falar de algo

bem específico — algo da alusão feita por

Daniel, com a qual um crente judeu

estaria familiarizado. "Quando, pois,

virdes que a abominação da desolação, de

que falou o profeta Daniel, está no lugar

santo; quem lê, atenda; então, os que

estiverem na Judéia, fujam para os

montes; e quem estiver sobre o telhado

não desça a tirar alguma coisa de sua casa;

e quem estiver no campo não volte atrás a

buscar as suas vestes... E orai para que a

vossa fuga não aconteça no inverno nem

no sábado; porque haverá então grande

aflição, como nunca houve desde o

princípio do mundo até agora, nem

tampouco há de haver".

Tudo isso é muito claro. A citação de

Daniel 12 não deixa qualquer dúvida

quanto à aplicação da passagem. Prova

que a referência não é ao cerco de

Jerusalém por Tito, pois lemos em Daniel

12 que "naquele tempo livrar-se-á o teu

povo", e é perfeitamente claro que o povo

não foi liberto nos dias de Tito. Não, a

referência é ao tempo do fim. A cena se

passa em Jerusalém. As pessoas às quais o

discurso é dirigido e aquelas envolvidas

são crentes judeus — o piedoso

remanescente de Israel durante a grande

tribulação, após a Igreja ter saído de cena.

Como alguém poderia imaginar que as

pessoas às quais a passagem se refere

pudessem ser consideradas como estando

em terreno cristão? Que importância teria

para elas a alusão feita ao inverno ou ao

sábado?

Portanto, mais uma vez: "Então, se

alguém vos disser: Eis que o Cristo está

aqui, ou ali, não lhe deis crédito... se vos

disserem: Eis que Ele está no deserto, não

saiais. Eis que Ele está no interior da casa;

não acrediteis". Que aplicação teria tais

palavras para pessoas que estão instruídas

a aguardar pelo Filho de Deus vindo do

Céu, que sabem que quando Ele voltar a

este mundo elas irão encontrá-Lo entre

nuvens e voltar com Ele para a casa do

Pai? Poderia algum cristão bem

informado da esperança que lhe diz

respeito ser enganado por pessoas

dizendo que Cristo está aqui ou ali, no

deserto ou no interior da casa?

Impossível. O cristão está aguardando

pelo Noivo vindo do Céu, e sabe que está

totalmente fora de questão que Cristo

apareça na terra se não estiver trazendo

consigo todo o Seu povo.

Assim, a simples verdade deixa tudo

resolvido, e tudo o que queremos é

abordá-la com simplicidade. O cristão

mais simples sabe muito bem que seu

Senhor não aparecerá para si como um

raio ou relâmpago, mas como a

resplandecente Estrela da manhã e,

portanto, entende que Mateus 24 não

pode se aplicar à Igreja, muito embora a

Igreja certamente possa estudar o capítulo

com interesse e obter benefícios dele,

como acontece com todas as outras

passagens proféticas. E, podemos

acrescentar, o interesse será ainda mais

intenso, e o benefício ainda mais

profundo, na proporção em que

enxergarmos a verdadeira aplicação destas

passagens das Escrituras.

O limite de espaço impede que entremos

tanto quanto gostaríamos no restante

deste maravilhoso discurso, mas quanto

mais detalhadamente cada sentença for

examinada, maior o peso que se dará a

cada circunstância, e maior a clareza com

que poderemos ver que as pessoas às

quais foi dirigido não têm natureza cristã.

Toda a cena é judaica e terrena, e não

cristã e celestial. Há ali muito ensino para

aqueles que se encontrarão,

eventualmente, na posição ali prevista, e

nada pode ser mais claro do que o fato de

que o parágrafo inteiro, do versículo 15

ao 42, se refere ao período que se passa

entre o arrebatamento dos santos e a

aparição do Filho do Homem.

Alguns talvez sintam dificuldade em

entender o versículo 34: "Não passará esta

geração sem que todas estas coisas

aconteçam". Mas devemos nos lembrar de

que a palavra "geração" é constantemente

usada nas Escrituras com um sentido

moral. Não deve ser limitada a certo

número de pessoas que estiverem vivas na

ocasião, mas leva em consideração o povo.

Na passagem que lemos, ela se aplica

simplesmente à geração judaica, mas o

modo como as palavras são colocadas

pode deixar em aberto também a questão

do tempo, de maneira que o coração deve

ser mantido sempre de prontidão para a

vinda do Senhor. Nada há nas Escrituras

que interfira com a constante expectativa

desse grande evento. Pelo contrário, cada

parábola, cada figura, cada alusão é

colocada na forma de palavras que

garantam que cada pessoa espere pela

volta do Senhor durante o tempo de sua

vida, deixando ainda margem para o

prolongamento do tempo em

conformidade com a paciente graça de

um Deus Salvador.

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