O Espírito Santos em Atos

Como a presente publicação indica, referências ao Espírito Santo são encontradas através de toda a Bíblia. Embora o cap. três tenha tratado da “Apresentação do Espírito Santo”, e destacado muitos dos Seus títulos, talvez seja bom mencionar que há somente três referências ao “Espírito Santo” no Velho Testamento. Estas são: “Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo” (Sl 51:11); “Mas eles foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo … onde está o que pôs no meio deles o Seu Espírito Santo” (Is 63:10, 11). Este é, portanto, um título predominantemente neotestamentário. Entretanto, não podemos negar que a Bíblia está repleta de referências à Pessoa do Espírito Santo. A primeira delas se encontra no segundo versículo da Bíblia: “… e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2). A última referência está bem no seu final: “O Espírito e a esposa dizem: vem” (Ap 22:17). É difícil afirmar definitivamente o número de referências ao Espírito, já que em alguns casos a interpretação é discutível, mas é correto afirmar que há aproximadamente trezentas e vinte referências. Destas, cerca de cinquenta e quatro (mais ou menos um sexto do total) estão no Livro dos Atos. Por isso alguns já sugeriram que o livro bem poderia se chamar “Os Atos do Espírito Santo”. É muito instrutivo listar as ocorrências dessas referências em cada capítulo. Nos caps. 2 e 8 há seis referências em cada, e nos caps. 10 e 11 há cinco em cada. Assim, os caps. 2, 8, 10 e 11 devem ser muito importantes para o assunto aqui estudado. Descobrimos que esses são de fato os capítulos centrais no desenvolvimento da história dos Atos. No cap. 2, o Espírito Santo é derramado no dia de Pentecostes e isso incluiu “judeus e prosélitos” (2:10). No cap. 8, o Evangelho chega a Samaria, e caps. 10 e 11 registram a conversão de Cornélio, um gentio, e seus amigos. Dessa forma esses capítulos apresentam o cumprimento de 1:8: “Ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia, e Samaria, e até aos confins da terra”.

É preciso notar também que o livro de Atos é a ligação entre os Evangelhos e as epístolas. Nos Evangelhos uma Pessoa Divina, o Filho de Deus, veio a este mundo corporalmente, e Sua obra é traçada nestes primeiros quatro livros do Novo Testamento. No Livro de Atos outra Pessoa Divina vem à Terra e forma o corpo místico de Cristo, no qual Ele habita, e Sua obra é traçada nos capítulos de Atos.

A obra da salvação é revelada nos Evangelhos, e o Senhor Jesus realizou esta obra sozinho. Em Atos, o Espírito Santo usa homens para realizar a obra pela qual a história da salvação é divulgada por toda a parte. Inicialmente, estes homens eram os apóstolos, mas antes do final do livro, os homens que se destacam são chamados “anciãos” (20:17).

Trata-se, portanto, de um livro de transição da era apostólica à nova era ou dispensação da Igreja, que é chamada “o dia da salvação” (II Co 6:2).

Esse é o motivo pelo qual existem verdades relacionadas à atividade do Espírito Santo naqueles longínquos dias apostólicos que não serão vistas no presente, porque os cristãos da era presente possuem a plena revelação da verdade divina na Bíblia completa. Ensino mais detalhado sobre isso será encontrado no cap. 10 desse volume.

Também é bom notar que não há referências ao Espírito Santo na parte histórica de Atos — veja os caps. 3, 12, 14, 17, 18, 21-27. Quando o relato é narrativo, o Espírito Santo instruiu o autor humano, Lucas, a registrar o trabalho que foi feito, e não a Pessoa que fornecia o poder àqueles que faziam a obra. Isso concorda com o ministério do Espírito Santo: “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16:13). Isso não quer dizer que o Espírito Santo não falaria sobre Si mesmo. Muito é ensinado na Bíblia sobre o Espírito Santo (e também em livros como este), e Ele foi o divino Instigador de tal ensino. O sentido realmente é que Ele não falará da Sua própria autoridade, como se fosse independente do Pai e do Filho. O Senhor Jesus disse: “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo 16:14). Assim, o propósito da Sua vinda foi glorificar o Filho. Essa observação destaca o caráter antibíblico daqueles grupos que dão a preeminência ao Espírito.

Devemos enfatizar que, no que diz respeito ao Senhor Jesus, o mesmo Espírito Santo guiou Paulo a escrever: “Para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18).

Tratar de cada referência individualmente exigiria muito mais espaço do que essa publicação permite, portanto, o assunto será agrupado em vários tópicos.

O Espírito Santo e a formação do Corpo de Cristo

A compreensão deste assunto é muito importante, pois é a base para a compreensão correta do Novo Testamento. A Igreja, como o Corpo de Cristo e o lugar da atual habitação da Divindade, não é vista no Velho Testamento. O Tabernáculo judaico foi construído como um lugar de habitação de Jeová: “Me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25:8). Este foi substituído mais tarde por vários templos, desde o de Salomão até o Templo de Herodes, que estava em uso quando o Senhor Jesus esteve aqui na Terra. No programa de Deus relacionado com os homens, o judaísmo e o culto no Templo já se passaram. Isso foi demonstrado, visivelmente, quando o Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes (Mt 26:65; Mc 14:63), e quando o véu do Templo se rasgou (Mt 27:51; Mc 15:38; Lc 23:45). Estes dois acontecimentos demonstraram que esta ordem sacerdotal e este lugar de adoração eram obsoletos. Um novo sacerdócio e uma nova esfera de adoração eram necessários, e ambos foram cumpridos na Igreja, que é um conceito exclusivamente neotestamentário.

Este dia de Pentecostes foi profetizado em figura nas festas de Jeová em Levítico 23:15-21, e é chamado “a festas das semanas” em Deuteronômio 16: 10. Esse é o significado da expressão “cumprindo-se o dia de Pentecostes” (At 2:1). Aquilo que fora prometido havia finalmente chegado; foi neste dia que o Corpo de Cristo foi formado. Até Atos 2 os discípulos seguiam o Senhor Jesus Cristo como indivíduos, mas nesta ocasião eles foram constituídos um corpo que abrange tanto judeus quanto gentios, num organismo vivo que é o Corpo de Cristo. “Há um só corpo” (Ef 4:4). Não podia haver um corpo na Terra enquanto não houvesse um Cabeça no Céu, e foi isso que o Senhor Se tornou quando foi exaltado à destra de Deus: “… e sobre todas as coisas O constitui como Cabeça da Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23).

O que aconteceu neste dia era também o cumprimento da promessa do Senhor Jesus nos relatos dos Evangelhos: “… Ele vos batizará com o [no] Espírito Santo” (Mt 3:11); “…. Ele, porém vos batizará com o [no] Espírito Santo” (Marcos 1: 8); “… Esse vos batizará com o [no] Espírito” (Lc 3:16); “… Esse é O que batiza com o [no] Espírito Santo” (Jo 1:33). Estes quatro versículos tratam do assunto profeticamente. Em Atos, ele é tratado historicamente, e em apenas duas ocasiões: “Vós sereis batizados com o [no] Espírito Santo, não muito depois destes dias” (1:5); “… vós sereis batizados com o [no] Espírito Santo” (11:16). Na última e sétima referência a verdade é apresentada doutrinariamente: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co 12:13).

É possível apreciar, pelo uso frequente dos colchetes acima, que não se trata de um batismo “com” ou “pelo” ou “do” Espírito Santo, mas sempre “no” Espírito Santo. Muitos erros têm surgido por causa da negligência desse fato. Três coisas são necessárias em qualquer batismo: a pessoa que vai ser batizada, a pessoa que está fazendo o batismo, e o elemento no qual a pessoa será batizada. Neste batismo do Espírito, a Igreja é que vai ser batizada, o Senhor Jesus é quem faz o batismo (note a linguagem das referências no parágrafo anterior, e em Atos 2:23) e o elemento é o Espírito Santo. Isso anula certas perguntas muito frequentes, tais como: “Você já foi batizado com o Espírito Santo?”, ou “Você já recebeu o batismo do Espírito Santo?”. Não existe nas Escrituras nenhum batismo “com”, “pelo” ou “do” Espírito Santo.

Já foi dito anteriormente que a passagem doutrinária deste assunto é I Coríntios 12:12-13. O v. 12 diz: “Porque assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros sendo muitos são um só corpo, assim é Cristo também”. Aqui temos o fato do corpo. O artigo definido ocorre antes da palavra “Cristo” (no original), e assim a leitura correta é “o Cristo”, que é um termo técnico referindo-se a Cristo o Cabeça Ressurrecto do corpo e a Igreja composta dos seus membros.

Quando foi que isso se iniciou? O v. 13 responde, e nos fala sobre o a formação do corpo: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Este versículo obviamente se divide em duas partes: a primeira é algo que não podemos fazer por nós mesmos, e a segunda é algo que ninguém pode fazer por nós. A primeira é batizar, e obviamente não podemos batizar a nós mesmos — assim o “corpo de Cristo” veio a existir em Atos 2 por um ato soberano, que foi histórico e nunca foi repetido. Alguns rejeitam a sugestão de que Atos 2 se refere ao batismo, já que a palavra não é usada. Entretanto, Atos 2:2 afirma que o Espírito “encheu toda a casa em que estavam assentados”.

Não há dúvida que isso significa que eles foram submergidos, completamente mergulhados no Espírito Santo, portanto foi um verdadeiro batismo.

Na segunda parte está o beber, que ninguém pode fazer por nós.

No momento da nossa conversão exercemos a nossa responsabilidade e, pela fé, absorvemos (bebemos) a verdade da mensagem do Evangelho, e naquele instante nos tornamos participantes do Espírito vivificador de Deus. Aqui, como através de toda a Bíblia, a soberania de Deus e a responsabilidade do homem andam de mãos dadas. Esse beber nada tem a ver com participar da Ceia do Senhor.

É necessário fazer várias observações com relação ao batismo no Espírito Santo.

O batismo no Espírito Santo não é uma experiência individual Note a linguagem utilizada: “… estavam todos concordemente no

mesmo lugar” (At 2:1); “… todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co 12:13). Ensinar que se trata de uma experiência individual nega o fato que o Espírito Santo é uma Pessoa. Para realizar esse batismo o Espírito foi “derramado” (At 2:33; veja também os vs. 17-18). Isto é confirmado por Paulo: “… o Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tt 3:5-6). É obvio que uma pessoa não pode ser dissecada e dada em partes, e assim é com a Pessoa do Espírito Santo. Não se pode derramar uma parte dEle; temos Ele como um todo, ou então não temos nada. Se houvesse uma repetição de Pentecostes toda vez que uma pessoa aceita o Senhor Jesus como seu Salvador, Ele teria que ser retirado, derramado, retirado e novamente derramado, e assim por diante. Isso é um absurdo. O Senhor Jesus prometeu que o Consolador não seria retirado: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14:16).

O batismo no Espírito Santo não é repetido

Como já foi colocado acima, esse acontecimento é histórico e serviu para apresentar esta nova entidade, o corpo de Cristo. Não deveria ser um acontecimento habitualmente repetido nesta nova ordem.

É semelhante à vinda do Senhor Jesus e à obra consumada na cruz. Foram acontecimentos totalmente e absolutamente completos e nunca repetidos. No momento da sua conversão, o pecador arrependido entra no gozo de tudo que foi realizado. Assim é também com o Pentecostes.

Não pode haver outro derramamento do Espírito Santo. Isso foi realizado uma única vez, como prometido pelo Senhor Jesus: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando Eu for, vo-lO enviarei” (Jo 16:7). Também, no momento da sua conversão o cristão, na sua experiência pessoal, entra no gozo daquele acontecimento. É verdade que alguns logo citam Atos 10:45: “E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios”. Este acontecimento foi reminiscente de Pentecostes (11:16), mas não era uma repetição. Diz Atos 10:44: “Caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra”. Para que fosse uma repetição do Pentecostes, o aposento teria que ter ficado cheio do Espírito Santo, imergindo todos os presentes, inclusive Pedro e seus companheiros, que teriam sido batizados uma segunda vez! A razão da semelhança nos dois acontecimentos é explicada por Pedro: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé” (15:8-9).

O batismo no Espírito Santo não é assunto de oração

Existem aqueles que ensinam que os cristãos devem se esforçar e perseverar até terem a experiência especial que os elevará a um plano espiritual mais elevado do que o do cristão “comum”. Precisamos notar que não há no Novo Testamento nenhuma exortação para que sejamos batizados no Espírito Santo. Este acontecimento está fora do alcance da capacidade humana. Não deve ser buscado através de oração, esforços, nem angústia física ou emocional. O Senhor Jesus ordenou a Seus discípulos “que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai que, (disse Ele) de Mim ouvistes. Porque na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o [no] Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1:4,5). Isso já se cumpriu e como não pode ser repetido, não há nenhuma base bíblica para usar essa passagem como autoridade para ter reuniões de oração para pedir o batismo do Espírito Santo.

O batismo no Espírito Santo não é somente para os “superespirituais”

Alguns sugerem que há pelo menos duas classes de cristãos: os “superespirituais” e os outros. Estes cristãos “superespirituais” são descritos como aqueles que, depois da salvação, receberam o Espírito Santo, enquanto que os outros, da classe comum, estão ainda lutando para alcançar um nível de espiritualidade quando este Dom lhes será concedido.

Este ensino cria uma divisão — “os que têm e os que não têm” — entre os cristãos. Neste contexto é importante notar a linguagem de I Coríntios 12:13: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo”. É importante perceber que este batismo envolveu “todos”.

Eram esses “todos” cristãos “superespirituais”? Deixemos Paulo responder: “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (I Co 3:3). A conclusão óbvia é que todos foram batizados em um Espírito formando o corpo de Cristo, e isso não depende de nenhum nível de espiritualidade alcançado depois da salvação.

O batismo no Espírito Santo não é demonstrado por falar em línguas

Outra ideia comum é que quando uma pessoa é batizada no Espírito Santo ela irá falar em línguas. Esse raciocínio se origina numa má

compreensão de Atos 2, onde as línguas foram usadas para transmitir a mensagem a todos que estavam presentes. Foi o contrário do que aconteceu em Gênesis 11 na Torre de Babel, e era numa indicação da universalidade desta nova mensagem, que ultrapassaria as fronteiras do Judaísmo.

Novamente é importante destacar a palavra “todos” em I Coríntios 12:13. Se todos foram batizados no Espírito Santo, todos falam línguas? É a mesma pergunta que Paulo faz nesse mesmo capítulo: “E a uns Deus pôs na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos?

São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?” (vs. 28-30). Todas estas sete perguntas têm uma resposta negativa. Logo, não há nenhuma ligação entre o batismo no Espírito Santo e dons espirituais especiais ou espetaculares.

Cristãos cheios do Espírito Santo

O batismo no Espírito Santo é algo feito por Deus, inclui todo cristão, e nunca é repetido; mas diferente disso, estar cheio do Espírito Santo é uma experiência que se repete, e é de responsabilidade do cristão verificar que esteja numa condição apropriada para estar cheio.

No Novo Testamento há 15 referências a estar cheio do Espírito Santo.

Três destas são semelhantes ao que acontecia no Velho Testamento onde as pessoas ficavam cheias do Espírito para um propósito específico: João Batista, sua mãe Isabel e seu pai Zacarias. Todas as referências, com exceção de Efésios 5:18, estão nos escritos de Lucas — temos a forma verbal em Atos 2:4; 4:8, 31; 9:17; 13:9, 52; e o adjetivo em Lucas 4:1; Atos 6:3, 5; 7:55; 11:24.

O fato dessa experiência ser uma ordem em Efésios 5:18 prova que ela não se limitava à era apostólica. Em Efésios 5:18 o apóstolo Paulo manda: “enchei-vos do Espírito”, e já que está no tempo presente* não se trata de uma ocasião isolada, mas deve ser a experiência contínua e ininterrupta do cristão. Poderia ser traduzido “continuai estando cheios em Espírito”. A ausência do artigo definido† antes de Espírito indica que toda a nossa plenitude deve ser na esfera do Espírito (note a construção semelhante [no grego] em Efésios 2:22, referente à habitação de Deus; 3:5, referente à revelação de Deus; 6:18, referente às nossas súplicas).

Em Efésios 5:18 o contraste é com os ímpios que são continuamente controlados pelo vinho, enquanto o cristão deve ser controlado na esfera do Espírito Santo, isto é, a ideia é de direção.

É importante apreciar que um cristão nunca é exortado a ser habitado, selado com ou batizado em, o Espírito. Estas são questões que não estão sob o nosso controle e pertencem unicamente a Deus. Também, estar cheio do Espírito não é uma experiência única e definitiva que acontece no momento da salvação. É separada da salvação e não pode ser conhecida antes dela. Uma pessoa que está cheia com o Espírito Santo é totalmente e completamente controlada pelo Espírito Santo.

Não é que recebemos mais do Espírito, já que somente é possível ter ou não ter uma Pessoa, mas é o Espírito tendo mais de nós; quando não há nenhum compartimento da nossa vida do qual Ele está excluído. A bem-conhecida ilustração de uma garrafa sendo enchida com água e assim esvaziada de ar é apropriada. Somente ao sermos esvaziados de tudo que O impede de ter total controle de todos os setores das nossas  vidas é que Ele pode nos encher.

* No texto grego, o verbo usado aqui está no tempo presente, na voz passiva e no modo imperativo — em Português, o modo imperativo é indeterminado no tempo (N. do E.).

† As traduções em Português incluem o artigo definido (“do Espírito”), mas ele não existe no grego (N. do E.).

Em Atos, há cinco ocasiões destacadas quando homens específicos foram “cheios” ou “enchidos com” o Espírito. Pedro para pregar com perspicácia (4:8) “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós anciãos de Israel” Nesta história um homem, que nascera coxo e “jazia todos os dias à porta do Templo” mendigando, foi curado por Pedro. Pedro e João não aceitaram nenhum mérito por isso, mas corretamente deram toda a glória ao Senhor. “Homens israelitas, porque vos maravilhais disto?

Ou, porque olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (3:12). “Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou de entre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós” (4:10). O resultado foi que “muitos, porém, dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a quase cinco mil” (4:4). Eles foram trazidos perante os líderes hostis que tentaram intimidá-los. O que deu aos apóstolos o poder de testemunhar em meio a circunstâncias tão terríveis? “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse …” (4:8).

Não era uma bravata natural. Esse é o mesmo homem que em fraqueza negou o Senhor durante o Seu julgamento na Sala de Audiência. Que diferença vemos agora que ele é controlado pelo Espírito Santo. A lição óbvia para nós é que se vamos pregar Cristo ousadamente e com resultados poderosos temos que estar cheios do Espírito Santo. O testemunho deles teve um efeito maravilhoso naquele grupo: “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (4:13).

Estêvão para solucionar problemas (6:5)

“… elegeram a Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo …”

Um problema surgiu entre os cristãos. “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos

contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano” (6:1). A multiplicação levou à murmuração, por causa de nacionalidade e um favoritismo percebido na liderança! Que desastre!

Quem iria lidar com isso? Hoje em dia alguns sugeririam homens de discernimento em negócios, treinados na gerência de recursos humanos; que são conhecidos por seu tato e capacidade de negociar acordos, mas essas não eram as qualificações. “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio”. Assim “elegeram a Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia” (6:3-5). O problema foi causado pelos gregos (judeus helenistas, de fala grega) murmurando contra os hebreus. Os homens escolhidos para tratar desse problema eram, a julgar pelos seus nomes, todos gregos. Isso é graça e sabedoria espiritual, já que ajudaria a fechar a boca dos queixosos.

Estêvão para perseguição violenta (7:55)

“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus …” Estêvão havia sido falsamente acusado: “Então subornaram uns homens, para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus … e apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei” (6:11, 13). De forma magistral, Estêvão respondeu às suas acusações e as virou contra eles: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo” (7:51). Isto os deixou furiosos: “Enfureceram-se em seus corações e rangeram os dentes contra ele” (7:54). Parece que quase todo o seu ser foi afetado pela loucura da ira: coração, dentes (v. 54); voz, ouvidos, pés (“arremeteram”, v. 57); mãos (“apedrejaram”, v. 58). No centro de todo esse pandemônio está uma alma a caminho do céu, e ele está calmo. Por quê? “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus” (v. 55). A referência à Santa Trindade — Espírito, Filho e Pai — revela o segredo desta serenidade. Trata-se de um homem “cheio do Espírito Santo”, que pode imitar o Seu Senhor em oração e perdão. “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (v. 59); “e pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor não lhes impute este pecado” (v. 60). Que maneira de morrer! Sua pessoa estava cheia do Espírito Santo, seus olhos cheios de glória, sua boca cheia de Cristo e seu coração cheio de perdão.

Barnabé para pastorear pessoas (11:24)

“Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé…” Uma nova obra começara em Antioquia e os cristãos em Jerusalém

queriam saber o que estava acontecendo ali. Eles precisavam de um homem de confiança que trouxesse de volta um relato completo e fiel dos acontecimentos, e por isso “enviaram Barnabé a Antioquia” (11:22).

Quando ele chegou lá, a sua reação foi dupla: alegria e exortação: “… o qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos que permanecessem no Senhor, com propósito de coração” (v. 23). Que tipo de homem se alegraria em ver o serviço de outro sendo abençoado? Quem buscaria ajudar cristãos tão jovens a progredir para o Senhor? Barnabé era “um homem de bem e cheio de Espírito Santo e de fé” (v. 24). Aos olhos dos homens ele era um “homem de bem”; esse era o seu caráter; aos olhos de Deus ele era “cheio do Espírito Santo e de fé”; estes eram o seu controle e a sua confiança. Essas qualificações espirituais, e não um treinamento acadêmico, são necessários para todo verdadeiro pastor do povo de Deus.

Paulo para um pronunciamento solene (13:9-10) “Todavia Saulo, que também se chamava Paulo, cheio do Espírito Santo, e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?”

Elimas, o mágico, estava procurando impedir a obra de Deus, “procurando apartar da fé o procônsul” (13:8). Isso exigia uma ação enérgica e espiritual. Assim, Paulo não apenas descreveu o caráter do homem no v. 9, como também deu detalhes da sua condenação: “Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele e, andando à roda, buscava quem o guiasse pela mão” (v. 11). Somente alguém “cheio do Espírito Santo” poderia fazer isso de uma maneira que glorificasse a Deus. O resultado foi, não a tristeza do juízo, mas a alegria da bênção: “Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor” (v. 12). Naturalmente, os dias de tal poder milagroso já se foram, mas a lição é que poder espiritual é necessário para silenciar os inimigos e conquistar a pessoa, e não mero intelecto e força para argumentar. Pelo poder da lógica poderíamos ganhar um argumento, mas perder a pessoa.

O Espírito Santo e a Sua função no cristão

Pode-se argumentar que os homens acima mencionados eram um tanto especiais, mas e quanto aos demais cristãos? Se o Espírito Santo habita em todos os cristãos, que diferença isso faz? Qual é a Sua função na vida deles? Ele:

Dá poder para testemunhar

O Senhor Jesus disse aos Seus discípulos que uma das funções do Espírito Santo seria conceder-lhes o poder de serem Suas testemunhas numa esfera geográfica mais ampla: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (1:8). Assim, na questão mais básica de falar aos outros sobre o Senhor Jesus, podemos determinar se estamos ou não permitindo que o Espírito Santo opere nas nossas vidas como Ele desejaria. Isto é confirmado por Pedro: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem” (5:32). Dá graça para distribuir bens Como já notamos acima, depois que o homem que jazia à porta do Templo foi curado, as autoridades ameaçaram os apóstolos. Depois lemos: “E, soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes disseram os principais dos sacerdotes e os anciãos. E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus …” (4:23-24). Como conseqüência da sua oração, “moveu-se o lugar em que estavam reunidos, e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a Palavra de Deus. E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (4:31-32). Eles foram capacitados a declarar a verdade de Deus, e distribuir os seus bens ao povo de Deus.

Isso se torna muito prático nesta era materialista em que a maioria quer ajuntar mais e mais riquezas, e a ganância é muito mais popular do que a generosidade. Uma pessoa que está disposta a se entregar ao Espírito de Deus não será mesquinha e avarenta.

Dá direção sobre onde servir

A direção de Deus pelo Seu Santo Espírito é uma parte essencial do serviço cristão. Procurar mover-se na curso da Vontade de Deus enquanto O servimos sempre é motivo de profundo exercício perante o Senhor. Assim lemos de Filipe: “E disse o Espírito a Filipe: chega-te e ajunta-te a esse carro” (At 8:29). Isto resultou na salvação do etíope, e na entrada do Evangelho no seu país. Em Atos 10, Pedro teve uma visão que o preparou para aceitar a conversão dos gentios. Quando isso estava prestes a acontecer, ele recebeu orientação do Céu: “E, pensando Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito: eis que três homens te buscam.

Levanta-te, pois, desce, e vai com eles, nada duvidando; porque Eu os enviei” (vs. 19-20). Isso resultou na salvação de Cornélio e de toda a sua casa.

Essa direção pode também ser negativa, quando portas são fechadas:

“E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram

à Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu” (16:6-7). Isto abriu a porta para o Evangelho chegar à Europa. É somente o Senhor que pode dizer: “Diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap 3:8). Paulo provou isto de uma forma positiva também: “Ora, quando cheguei à Trôade para pregar o evangelho de Cristo, abrindo-se-me uma porta no Senhor …” (II Co 2:12).

Dá orientação quanto a quem deve servir

Enquanto cada cristão deve servir ao Senhor constantemente, existem aqueles que foram dotados por Deus para servi-lO de uma forma itinerante, vivendo pela fé. Esta não é a esfera de todo cristão. Orientação para um chamado a esse serviço é dada em Atos 13: “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos os despediram. E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre” (vs. 2-4). Sem um chamado Divino, confirmado pela confiança e comunhão dos irmãos na igreja local, nenhum homem deve assumir esse trabalho.

Outro aspecto muito importante deste serviço é a liderança na igreja local. Feliz é a igreja guiada por homens espirituais que oferecem

uma forte liderança bíblica e alimento espiritual sólido. Como devem ser reconhecidos os anciãos, presbíteros, bispos ou pastores (todas estas palavras descrevem os mesmos homens)? Em alguns grupos eles são indicados pelos “membros da igreja”; alguns são votados para o cargo; em outros casos, eles recebem uma educação especial e depois são “ordenados”; muitos e variados são os esquemas dos homens. Nós devemos consultar a Bíblia para descobrir como Deus produz tais servos. O livro de Atos expõe claramente o método divino: “Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com o Seu próprio sangue” (20:28). Deus produz anciãos; os homens não podem fazê-lo.

Um ancião é um dom dado à igreja local assim como o é o ensinador, e esta incluído na categoria de “governos” (I Co 12:28).

Dá aviso de perigos no serviço

A direção do Espírito Santo é vista no aviso profético: “E levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César” (11:28). Este homem também avisou Paulo

do perigo de ir a Jerusalém: “Tomou a cinta de Paulo, e ligando-se aos seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios” (21:11). Isto confirmou a advertência dada pelos discípulos: “E eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém” (v. 4). Esse aviso não era novidade para Paulo, já que ele declarou: “E agora, eis que, ligado eu pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que me há de acontecer, senão o que pelo Espírito de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações” (20:22-23).

O Espírito Santo e a fraude

Atos cap. 5 registra a triste história de Ananias e Safira, que queriam parecer diante dos homens mais espirituais do que o seu caráter permitia. Eles venderam uma propriedade e deram parte do preço obtido para os apóstolos, mas mentiram querendo que os apóstolos pensassem que haviam entregado todo o dinheiro. Seu pecado não era ficar com uma parte do que tinham recebido, e foi isso que Pedro disse: “Guardando-a, não ficava para ti? E vendida, não estava em teu poder? Porque formaste este desígnio em teu coração? Não mentistes aos homens, mas a Deus” (5:4 — já que o Espírito Santo é aqui chamado Deus, esta é uma evidência clara à Sua divindade). O pecado estava na sua hipocrisia e no fato que mentiram “ao Espírito Santo” (5:3). Eles haviam concordado entre si “tentar o Espírito do Senhor” (v. 9). O juízo foi imediato e salutar: ambos foram sepultados naquele mesmo dia. Essa história enfatiza a seriedade do pecado da mentira. Talvez seja bom, para muitos, que o Senhor não está agindo desta maneira hoje em dia, quando estamos nos aproximando do final desta dispensação. Alguém comentou que se Ele agisse assim hoje em dia, haveria muito poucos moços restando, ou talvez nenhum, para transportar os mortos!

Outro caso relacionado com fraudulência e o Espírito Santo se encontra em Atos 8. Simão, uma figura notável, que “tinha iludido o povo de Samaria, dizendo que era uma grande personagem”, professou a salvação e foi batizado. Quando os apóstolos em Jerusalém ouviram que os de Samaria haviam aceitado a pregação de Filipe, eles enviaram Pedro e João para investigar. Quando chegaram de Jerusalém, eles descobriram que aqueles crentes não haviam recebido o Espírito Santo, e isso só aconteceu quando os apóstolos lhes impuseram as mãos. Isso revelou a falsidade da profissão de Simão, e Pedro pronunciou juízo sobre ele. As perguntas a serem respondidas são: por que foi necessário que os apóstolos comunicassem o Espírito Santo aos samaritanos? Deve-se esperar, na era presente, que haja um intervalo entre a salvação e o recebimento do Espírito Santo?

Esta foi a primeira vez que o Evangelho havia sido pregado fora dos limites da Jerusalém judaica. Todos sabiam que os judeus não se comunicavam com os samaritanos (Jo 4:9), de fato, havia animosidade. Se nestas duas regiões a obra tivesse começado separadamente, mas simultaneamente, é bem provável que cada local reivindicaria ser o verdadeiro trabalho de Deus, e uma dissensão teria surgido logo no início. Que forma melhor de demonstrar que essa animosidade não existia entre os crentes no Senhor Jesus, do que através de uma demonstração pública de grande bênção espiritual sendo conferida aos samaritanos pelos de Jerusalém? Isso deixou claro que a obra em Samaria não estava em oposição à de Jerusalém, antes era uma extensão dela. Em Cristo Jesus toda barreira nacional, social e de gênero foi removida, e “não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo” (Gl 3:28). Isto também indicava publicamente que esses novos convertidos aceitavam a autoridade dos apóstolos, e por essa razão Filipe não lhes transmitiu o Espírito Santo. Nenhuma obra que é de Deus ousaria questionar a autoridade dos apóstolos, que agora está contida no ministério escrito destes apóstolos. O questionamento da autoridade apostólica e do caráter final e decisivo das Sagradas Escrituras são as principais razões por que muitos problemas hoje enfrentados na Cristandade não estão sendo resolvidos.

Obviamente, as condições de Atos cap. 8 não se aplicam hoje, e não há apóstolos para transmitirem o Espírito Santo a outros. Também não há qualquer demora no recebimento do Espírito Santo, já que todo cristão recebe o Espírito Santo no momento da conversão: “E tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13). O selar está sincronizado com o crer, assim como uma luz elétrica está sincronizada com o ligar do interruptor.

Há quem questione este ensino baseado em Atos 19. Paulo encontrou “uns doze” discípulos em Éfeso, e perguntou-lhes: “Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?” (v. 2). Eles responderam: “Não, nem sequer ouvimos falar que o Espírito Santo é dado” (VB). Eles não tinham conhecimento do que acontecera no dia de Pentecostes, tendo sido batizados “no batismo de João”; e estando assim numa posição pré-Pentecostes, precisavam ser trazidos à posição cristã; isto é, eles não eram salvos e não haviam se tornado membros da Igreja, e para isso precisavam ser salvos. A sua posição refletia a de Cornélio. Quando ouviram a verdade sobre crer “em Cristo Jesus” eles agiram com fé, foram batizados como cristãos e, novamente, para demonstrar publicamente que agora eram verdadeiros cristãos, Paulo como apóstolo lhes concedeu o Espírito Santo. Para demonstrar a realidade dessa recepção interior, foi-lhes dado o sinal exterior de falar em línguas. Este acontecimento também indicou a união dos apóstolos na obra de Deus, já que em Atos 8 foram Pedro e João que estavam presentes, e aqui foi Paulo.

O apostolado de Paulo não tinha menor valor, nem menos autoridade, que o dos doze.

É importante notar que essa é a terceira e última vez, no livro de Atos, que o falar em línguas é mencionado. As outras ocasiões são Atos 2 e 10. Não é estranho que algo que ocupa um espaço tão insignificante neste livro tenha assumido tamanha importância nos nossos dias? Outros capítulos deste volume, e especialmente o cap. 10, tratam disso mais detalhadamente.

O Espírito Santo e fruto

A razão indisputável para a operação do Espírito Santo num cristão é produzir na sua vida fruto espiritual aceitável a Deus. Esse assunto é considerado no cap. 11 desta publicação. Há, entretanto, um versículo em Atos que dá o exemplo perfeito daquele que viveu cada momento para a glória de Deus: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (10:38). Neste versículo temos a menção da Trindade: “Deus … Jesus … Espírito Santo”: a autoridade de Cristo, “poder”; Sua atividade, “andou fazendo o bem”; Seu remédio, “curando”; Seu inimigo, “o diabo”. Se todo santo, estando cheio do Espírito Santo, pudesse seguir esse exemplo, que diferença haveria no testemunho individual e coletivo.

Por B. Currie, Irlanda do Norte

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