As Figuras do Espírito Santo

As figuras, ou símbolos, do Espírito de Deus empregados nas Escrituras, com seu profundo e variado significado, servem para enfatizar o imenso privilégio desfrutado pelos filhos de Deus. O próprio fato da igreja local ser “o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós” (I Co 3:16), e que o corpo do cristão é “o templo do Espírito Santo” (I Co 6:19), indicam a maravilhosa variedade da provisão de Deus para a manutenção e o desenvolvimento da vida espiritual. Certamente, a declaração de que “o Seu Divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (II Pe 1:3), inclui a doação e a habitação do Espírito Santo, e as várias formas em que Ele é descrito transmitem a diversidade e profundidade dos recursos disponíveis a todo cristão. As figuras bíblicas do Espírito Santo são infinitamente mais do que meras variações de um tema. Cada figura expressa um aspecto diferente do Seu ministério, e todos são imensamente relevantes.

A lista de referências neste capítulo pode parecer um tanto abreviada quando comparada às obras mais extensas de certos comentaristas.

Embora não há dúvida de que há grande benefício em nos aprofundar no assunto, esse capítulo trata das figuras do Espírito Santo que são especificamente confirmadas pelas Escrituras. Isso não deve ser tomado como uma crítica velada aos auxílios mais extensos oferecidos por outros.

Pomba

A referência ao Espírito Santo como pomba é inconfundível: “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele” (Mt 3:16). Lucas desenvolve isso, dizendo: “E o Espírito desceu sobre Ele em forma corpórea, como pomba” (Lc 3:22). Isso não significa que o Senhor Jesus já não era habitado pelo Espírito Santo, mas sim que Ele foi ungido com o Espírito Santo para o serviço: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim; porque o Senhor Me ungiu para pregar as boas novas aos mansos” (Is 61:1); “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o esprito Santo e com virtude; O qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10:38). Muitas vezes é dito que no Velho Testamento a pomba “não achou repouso para a planta do seu pé” (Gn 8:9), mas que aqui o Espírito Santo encontrou pleno repouso em Cristo. Foi dito a João Batista: “Sobre Aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1:33).

Como era de se esperar, foi muito apropriado que o Espírito Santo descesse “como pomba” sobre o Senhor Jesus. Os símbolos bíblicos não podem ser melhorados, e somente três das várias referências à pomba já serão suficientes para enfatizar esse ponto.

A pomba tem a natureza pura

Repare as palavras do esposo, ao falar da esposa: “A minha pomba, a minha imaculada, a única da sua mãe, e a mais querida daquela que a deu à luz” (Ct 6:9). Nesse contexto, devemos notar que a pomba era um pássaro limpo, e podia ser trazida como sacrifício (Lv 1:14; 12:6, 8).

Não é à toa que o Espírito de Deus é chamado o “Espírito Santo”, e quenuma passagem que recomenda pureza moral, lemos: “… porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto quem despreza isto não despreza o homem, mas sim a Deus, que nos deu o Seu Espírito Santo” (I Ts 4:7-8).

É igualmente significativo que foi na sinagoga de Nazaré, cidade da qual Natanael falou: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1:46), que o Senhor Jesus leu: “O Espírito do Senhor é sobre Mim” e prosseguiu dizendo: “hoje se cumpriu essa Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4:18, 21). Jamais foi necessário dizer a Ele: “Não entristeçais o Espírito” (Ef 4:30). De fato, esta possibilidade nunca poderia existir, pois “nEle não há pecado” (I Jo 3:5).

A pomba tem um comportamento meigo

Quando o Senhor Jesus enviou Seus discípulos, eles não tinham ilusões quanto à recepção que teriam: seriam como “ovelhas no meio de lobos”. Mas em tudo isso, deveriam ser “prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” (Mt 10:16). Quando o Espírito Santo desceu sobre o Senhor Jesus, Ele não veio como “um vento veemente e impetuoso”, ou como “fogo” (At 2:2-3), mas “como uma pomba”, indicando com isso, entre outras coisas, a meiguice do Seu ministério, que já tinha sido antecipada há muito tempo. Cerca de setecentos anos antes da Sua vinda foi dito: “… a cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega” (Is 42:3). Quão bondosamente Ele tratou os emissários de João Batista, sem dúvida uma “cana trilhada” (Lc 7:19-23).

E quão carinhosamente Ele tratou aquelas duas “canas trilhadas” no caminho de Emaús! (Lc 24:13-32) Quando o Senhor foi rejeitado pelos samaritanos (Lc 9:51-56), Tiago e João eram tudo menos “pombas inofensivas” ao dizer para o Senhor: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?” Bem tinha o Salvador lhes dado o “nome de Boanerges, que significa: filhos do Trovão” (Mc 3:17)! Mas Ele demonstrou o contrário: “Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. Ele era o exemplo perfeito do Seu próprio ministério. As palavras do Salvador ilustram Sua “mansidão e benignidade” (II Co 10:1), e nos fazem lembrar que “o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade …” (Gl 5:22). Dizem que o corpo da pomba não produz bile, e isso enfatiza a beleza e exatidão da figura.

A pomba tem uma expressão triste

Ezequias diz: “Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus olhos ao alto” (Is 38:14). Nos dias futuros da tribulação, Israel clamará: “Todos nós bramamos como ursos, e continuamente gememos como pombas” (Is 59:11). De acordo com o Comentário Ellicott, as três aves na passagem, “cada uma com a sua nota especial de lamentação, representam, por assim dizer, os clamores da dor, e o lamento baixo e sufocado do sofredor”. Como observou F. Cundick*: “Este pássaro de amor e lamentação representa apropriadamente a ternura da Santa Pessoa que repousa sobre o Homem de dores”. É o mesmo Espírito Santo que torna o povo de Deus capaz, não somente de “alegrar com os que se alegram”, mas também de “chorar com os que choram” (Rm 12:15).

Como “a pomba”, o ministério do Espírito Santo na vida individual e da igreja local é reproduzir Sua pureza e santidade, Sua graça e mansidão, e Sua terna simpatia. Todos são vistos perfeitamente no Filho amado de Deus, que era “cheio do Espírito Santo” (Lc 4:1).

Vento

O vento é um símbolo do Espírito Santo em pelo menos duas maneiras: simboliza Sua soberania e enfatiza Seu poder.

Sua soberania

O Senhor Jesus mencionou o vento como uma figura do Espírito Santo. Veja, por exemplo, João 3:8: “O vento (pneuma) assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito (pneuma)”. Vale a pena destacar o erro daqueles que questionam esta afirmação argumentando que a ciência pode explicar as origens e movimentos dos ventos. Tais críticas ignoram o fato que o Senhor Jesus estava falando com Nicodemos, naquela ocasião, e a incapacidade de Nicodemos de detectar “a origem

de uma corrente de vento específica, e seu destino”* não significava falta de conhecimento do próprio Criador, pois “todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Fora disso, a lição é clara: a maneira precisa como o Espírito Santo opera está além de revelação, mas não há dúvidas sobre o resultado.

Como dizem as palavras do poeta:

Não sei como o Espírito opera Para os homens, do pecado convencer.

Revelando a Jesus pela Palavra, Produzindo fé, para que possam crer.

D. W. Whittle

Seu poder

“E cumprindo-se [“quando estava sendo cumprido”] o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados … E todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2:1-4).

Devemos notar:

A fonte veio de cima. Não era terrena, mas celestial. A vinda do Espírito Santo atestou a ressurreição e ascensão do Senhor: “Deus ressuscitou a este Jesus, de que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2:32-33). Compare João 7:39: “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”.

O som. Foi como um “vento veemente e impetuoso”. Aparentemente não se tratava de um vento natural. A expressão “e encheu toda a casa em que estavam assentados”, se refere ao som da vinda do Espírito.

Como o Senhor Jesus explicou a Nicodemos, o Espírito Santo, assim como o vento, é invisível, mas poderoso. Como o vento, o Espírito Santo não pode ser visto, mas como o vento, a Sua presença é inconfundível.

Temos um exemplo do poder do vento em I Reis 19:11: “e eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes, e quebrava as penhas diante do Senhor”.

A vinda do Espírito Santo “como um vento forte e impetuoso” indicou assim a concessão do poder Divino. Veja Atos 1:8 (VB): “Mas recebereis poder (dunamis) do Espírito Santo, que há de vir sobre vós”.

Isto é, o poder que capacita para testemunhar. Assim também Atos 3:12 (VB): “Israelitas, por que vos maravilhais deste homem, ou por que fitais os olhos em nós, como se por nosso poder (dunamis) ou piedade o tivéssemos feito andar?”; Atos 4:33: “E os apóstolos davam, com grande poder (dunamis) testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”; Atos 6:8: “E Estêvão [um dos sete homens “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”], cheio de fé e de poder (dunamis), fazia prodígios e grandes sinais entre o povo”.

Ezequiel provou esse mesmo poder. “E levantou-me o Espírito, e ouvi por trás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória do Senhor, desde o Seu lugar. E ouvi o ruído das rodas defronte deles, e o sonido de um grande estrondo. Então o Espírito me levantou, e me levou” (Ez 3:12-14). É significativo que, nesta passagem, o poder do Espírito Santo está ligado com o trono de Deus. Os “seres viventes” estão associados com o trono (o carro semelhante a um trono) de Deus em Ezequiel 1:25-26. Em Atos 2, o poder provinha daquele mesmo trono. Era “do céu”.

Deploramos, corretamente, as assim chamadas práticas “carismáticas”, mas não há dúvida de que a presença do Espírito de Deus deve ser acompanhada de evidências de vida espiritual! Ausência de poder espiritual e eficácia são tão lamentáveis quanto os excessos que alguns alegam ser a obra do Espírito Santo.

Fogo

O batismo no Espírito (At 1:5), no dia de Pentecostes, não foi acompanhado apenas de um “som, como de um vento veemente e impetuoso”, mas também de “línguas repartidas como que de fogo” (At 2:2-3). Deixando, por agora, a expressão “línguas repartidas”, devemos notar que Lucas descreve a vinda do Espírito Santo como línguas repartidas de fogo. O aparecimento de fogo, ou chamas, sempre foi uma figura impressionante da presença de Deus em santidade e pureza. Veja Êxodo 3:1-8: “E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia … e disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; por que o lugar em que tu estás é terra santa … E disse o Senhor: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito … Portanto desci para livrá-lo” (Êx 3:1-8). Mais tarde, no Sinai, Deus desceu “em fogo” (Êx 19:18); veja também Êxodo 24:17. Em Deuteronômio 4:24 vemos o Senhor como “um fogo que consome, um Deus zeloso”. Esta passagem é citada em Hebreus 12:29: “O nosso Deus é um fogo consumidor”.

João observou que “diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4:5). Já que nas Escrituras o número sete indica perfeição, inteireza, as palavras “os sete Espíritos de Deus que estão diante do Seu trono” e “os sete Espíritos de Deus” (Ap 1:4; 3:1), expressam perfeição de poder, mas na descrição “diante do trono ardiam sete lâmpadas” a ênfase é colocada na absoluta perfeição do juízo Divino. Todas as coisas estão sujeitas “à prova do poder penetrante do Espírito” *. Podemos entender, portanto, ainda melhor (veja nossos comentários sobre a natureza da pomba) por que o Espírito de Deus é chamado de “o Espírito Santo”. Também podemos compreender por que Paulo usa as palavras: “… no qual todo edifício, bem ajustado cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2:21).

As palavras “línguas repartidas, como que de fogo” exigem atenção.

Enquanto alguns (veja por exemplo, Barnes on the New Testament — “Barnes sobre o Novo Testamento”) ligam as “línguas repartidas, como que de fogo” com o fato que eles “começaram a falar noutras línguas”,  é mais provável que a expressão seja puramente descritiva. Não era um grande lençol de fogo. Para citar M. R. Vincent*: “Muitos preferem traduzir da seguinte maneira: ‘línguas que se distribuíam’, ou, ‘sendo distribuídas’ entre os discípulos, ao invés de atribuir isto à aparência repartida de cada língua”. Entretanto, a tradução†: “línguas como de fogo, dividindo-se e pairando sobre cada um deles” provavelmente expressa a figura corretamente. James Anderson explica da seguinte forma: “A ideia é que cada língua era dividida sobre todos os discípulos”. Compare com I Coríntios 12:11.

Rios

Devemos dizer que nas Escrituras a água parada é uma figura da Palavra de Deus, água corrente (ou em movimento) é uma figura do Espírito Santo, e a água do mar é uma figura das nações. João chama a nossa atenção aos acontecimentos na “festa dos judeus, a festa dos tabernáculos” (Jo 7:2). “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba.

Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que Nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7:37-39).

A. W. Pink sugere que o ventre é “aquela parte do homem que sempre anseia por algo”, e cita as palavras de Paulo: “… cujo deus é o ventre” (Fp 3:19) . Pink continua: O “ventre” é aquela parte do homem que nunca está totalmente satisfeita, pois sempre clama por algo mais, para aplacar seus desejos. Mas o que é interessante, sim, bendito, é o fato que o cristão não apenas está satisfeito, mas ele transborda daquilo que satisfaz — das suas entranhas “correm rios de água viva”. A ideia é mesmo impressionante.

Isto seria realizado através da habitação do Espírito Santo. Em relação às palavras “como diz a Escritura”, parece provável que o Senhor Jesus estava se referindo a Isaías 58:11: “E serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”.

Azeite

Não há dúvida de que azeite é uma figura do Espírito Santo. Entre outras coisas, devemos considerar a maneira como o azeite retrata Seu poder santificador, Sua força para testemunhar, e Sua provisão sustentadora para a vida espiritual.

Seu poder santificador

No Velho Testamento os homens eram ungidos com azeite, indicando que Deus os tinha separado para um serviço especial, e os capacitadopara isso. Quando Saul foi ungido para ser rei, Samuel disse: “… e o Espírito do Senhor se apoderará de ti” (I Sm 10:1, 6). Quando Davi foi designado rei em lugar dele, lemos que “então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi” (I Sm 16:13). Já destacamos as palavras do Senhor Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre Mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos” (Is 61:1). Os cristãos, hoje em dia, são semelhantemente ungidos: “Mas Aquele que nos confirma convosco em Cristo [JND, margem: literalmente “para Cristo”, significando “anexar firmemente a … conectar firmemente com”] e nos ungiu é Deus; que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações” (II Co 1:21, ARA). João escreve: “E vós tendes a unção do Santo, e conheceis tudo” (I Jo 2:20), e “a unção que dele recebestes permanece em vós” (I Jo 2:27, ARA).

Seu poder para testemunhar

O livro de Zacarias nos dá um excelente exemplo da provisão divina para testemunhar. Entre outras coisas, o profeta viu “um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no seu topo, com as suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu topo. E, por cima dele, duas oliveiras … Então respondeu o anjo que falava comigo, dizendo-me … Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas sim pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:2-6). As duas “oliveiras” que “estão junto aos dois tubos de ouro e que vertem de si azeite dourado” são identificadas como “os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra” (Zc 4:12-14).

A visão apresenta um problema imediato. Se, como no Tabernáculo, o castiçal nos fala do Senhor Jesus, como pode ser alimentado pelas “duas oliveiras” que são claramente descritas como “os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra” (v. 14)? O azeite para o castiçal é fornecido por eles, e foi dito a Zacarias que isto representava o Espírito Santo. Embora o ministério do Senhor Jesus é sempre no poder do Espírito Santo, Ele não recebe o Espírito Santo através de outros. Pelo menos isso deve ser muito óbvio a todos nós.

Qual é, então, o significado do castiçal visto por Zacarias? Um castiçal tem uma função específica, que é, obviamente, dar luz. Esta é precisamente a intenção de Deus para Israel: “… também te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até a extremidade da terra” (Is 49: 6). “Por amor de Sião não Me calarei, e por amor de Jerusalém não Me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa” (Is 62:1).

Israel foi a nação escolhida para ser a testemunha do único verdadeiro Deus, e os sete braços do castiçal no coração da sua vida nacional eram um símbolo da sua vocação nesse sentido. Infelizmente Israel falhou, e o auge do seu pecado foi a rejeição e crucificação do seu Messias.

Isto levou à remoção do testemunho nacional, e o início de um novo testemunho — daí os “sete castiçais de ouro” (Ap 1:12). A visão de Zacarias nos mostra, entretanto, que o propósito de Deus para o Seu povo terrestre será cumprido: Israel será novamente um portador da luz, e o poder da sua luz — o poder do Espírito Santo — será suprido pelas “duas oliveiras”, ou os “dois ungidos”. O fato de serem descritos como “oliveiras” e “que vertem de si azeite dourado” (v. 12), mostra que eles têm os recursos para manter a obra do castiçal.

No tempo da visão de Zacarias, o testemunho era mantido por dois homens: Josué e Zorobabel. Josué era o sumo sacerdote; Zorobabel o líder civil, e sendo da descendência de Davi, era um ancestral do Senhor Jesus (Mt 1:12-13). Os dois homens são frequentemente mencionados juntos (veja Ageu 1:1, 12; 2:2, etc.), e algumas lições importantes surgem dessa ligação. A posição de Josué é enfatizada no cap. 3; a posição de Zorobabel é enfatizada no cap. 4. Devemos notar que a fonte de provisão não é realmente mencionada. A expressão “dois ungidos” (“dois filhos de azeite”) descreve dois homens cheios do Espírito Santo.

Mas isso não esgota a passagem. Apocalipse 11 descreve as “duas testemunhas” de Deus no final dos tempos, quando Jerusalém se tornará, espiritualmente, “Sodoma e Egito, onde o Senhor também foi

crucificado” (v. 8). Elas são descritas como “as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Senhor da terra” (v. 4). Assim Deus terá um testemunho mesmo naqueles dias escuros, e este será mantido pelo  Espírito Santo. Mas a passagem certamente antecipa ainda mais do que isto. O testemunho final de Israel para o mundo não depende de Josué e Zorobabel, nem das duas testemunhas de Apocalipse 11.

Zacarias 6 refere-se ao “sacerdote no Seu trono” (v. 13). Agora não se trata mais de Josué, o sacerdote, e Zorobabel da linhagem real, mas dos dois ofícios combinados em uma Pessoa. (Isto nos lembra de Melquisedeque, Gn 14:18 etc.) Quem é o “sacerdote no Seu trono”?

O sacerdote-rei não é outro senão “o Renovo”. “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do Senhor” (v. 12). A visão do cap. 4 de Zacarias será finalmente cumprida quando Cristo vier para reinar.

Ele dará ao Seu povo o poder espiritual para iluminar o mundo inteiro. O Seu ministério então, como antes, será no poder do Espírito Santo: “… repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11:2).

Sua provisão sustentadora para a vida espiritual

Um acontecimento na vida do profeta Elias oferece um belo quadro da provisão infalível para “vida e piedade”. Tendo ouvido: “Levanta-te, e vai para Sarepta … e habita ali; eis que Eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”, o profeta obedeceu sem duvidar, e foi sustentado, junto com a viúva e seu filho, através de “um punhado de farinha numa panela” e “um pouco de azeite numa botija” durante “muitos dias” (I Rs 17:8-16). Lemos claramente que tudo começou com “um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija”. Para quem visse, os recursos eram praticamente nulos. Mas o Deus vivo estava envolvido, e isto deu à panela de farinha e à botija suficiência ilimitada. A panela de farinha é uma linda ilustração do próprio Senhor Jesus, e a botija de azeite uma bela figura do Espírito Santo. Pessoas não salvas provavelmente zombam, e sugerem que esses são recursos escassos para sustentar a vida, mas o Filho de Deus sabe melhor! “O segredo do Senhor é com aqueles que O temem” (Sl 25:14).

A “panela de farinha” chama a nossa atenção para o bondoso Salvador que nos sustenta e fortalece, e de Quem está escrito: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente” (Hb 13:8). Verdadeiramente, “a farinha da panela não se acabará”. Mesmo a Criação, obra das Suas mãos, se desfará, mas Ele é invariável e imutável. O Senhor Jesus ensinou com clareza que o Espírito seria uma fonte infalível de bênção para o Seu povo: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14:16). Podemos descansar nas provisões inesgotáveis do Senhor Jesus, e no ministério infalível do Espírito Santo. Certamente o “azeite da botija não faltará”! A casa da viúva em Sarepta é uma linda figura da Igreja. Elias, o judeu, e a viúva e seu filho, gentios, foram sustentados por uma provisão desconhecida tanto para Israel como para as nações gentias, fazendo-nos lembrar de que a Igreja é sustentada pelo Senhor Jesus e pelo Espírito Santo. Isto é enfatizado no Novo Testamento: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no Qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois também edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2:19-21).

A provisão de Deus através da panela de farinha e da botija de azeite foi prometida “até o dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra”. Nós somos chamados a testemunhar num mundo estéril. Todo o progresso empolgante de mil anos de ciência e tecnologia não alterou em nada o caráter moral e espiritual do mundo, que permanece estéril e infrutífero, porque os homens e mulheres rejeitaram o Deus vivo. Mas o tempo virá quando a profecia será cumprida: “Ele descerá como chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra” (Sl 72:6). Esta promessa permanece. O mundo ainda há de ser abençoado, e até que chegue esta hora, podemos descansar na graça inefável e sustentadora do Senhor Jesus, e na presença e ministério infalíveis do Espírito Santo.

Para a mente carnal, como foi inicialmente com a viúva, estas coisas não são recursos. Mas como é diferente com os filhos de Deus! O nosso Deus é um Deus de fartura, não um Deus de miséria.

A referência de Paulo à unção (II Co 1:21) é acompanhada de mais dois símbolos do Espírito Santo: “O qual também nos selou, e deu o penhor do Espírito em nossos corações” (v. 22).

Consideremos, então, estes dois.

Selo

Um selo, seja ele impresso na cera fixada num documento ou diretamente sobre o papel, estabelece a identidade e direito do dono da propriedade à qual o documento se refere. Jeremias descreve (singularmente) uma transação de propriedades em que isto se deu: “Comprei, pois, a herdade de Hanameel, filho de meu tio … e pesei-lhe o dinheiro … e assinei a escritura, e selei-a, e a fiz confirmar por testemunhas; e pesei-lhe o dinheiro numa balança. E tomei a escritura da compra, selada segundo a lei e os estatutos, e a cópia aberta. E dei a escritura da compra a Baruque …” (Jr 32:9-12). O significado profético desta transação não precisa nos deter, mas nos permite entender nossa segurança espiritual.

Já foi dito* que no selar “a ideia principal é a de segurança: ‘e, indo eles, seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra’ (Mt 27:66)”. Assim como a escritura em relação ao campo de Jeremias, nós fomos selados.

Escrevendo aos Efésios, Paulo diz: “… tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13); “… não entristeçais o Espírito, no Qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4:30).

O contexto da expressão “com o Espírito Santo da promessa” sugere não tanto a promessa do Espírito Santo, mas o Espírito Santo cuja presença garante o cumprimento da promessa.

Na sua Bíblia de referências, Scofield define o significado de um selo como “uma transação terminada … Posse … Segurança”. Em termos modernos, contrabando recuperado pelas autoridades é empacotado, selado, e se torna a propriedade do Estado! No momento da nossa conversão, nós fomos selados pela habitação imediata do Espírito Santo, e Deus disse: “Tu és Meu”, e isto não somente durante a vida, mas por toda a eternidade.

De passagem, isso pode nos ajudar a entender por que os 144.000 (que podem ser vistos como as verdadeiras testemunhas de Jeová, e todos eles são judeus) serão selados com “o selo do Deus vivo” (Ap 7:2-3). Ninguém pode tocá-los ou fazer-lhes qualquer mal. Eles gozarão completa segurança, até mesmo quando os demônios-gafanhotos que subirão da fumaça do “poço do abismo” estiverem atormentando a humanidade em geral (veja Ap 9:1-6). De fato, as testemunhas serão preservadas, sem uma única baixa, através da terrível perseguição no final dos tempos e, por fim, acompanharão o Cordeiro — todos eles — no Monte Sião (Ap 14:1).

Penhor

“Fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da Sua glória” (Ef 1:13-14); “Ora Quem para isto nos preparou foi Deus, O qual nos deu também o penhor do Espírito” (II Co 5:5). “O termo ‘penhor’ (arrabon) significa um depósito que é, em si mesmo, uma garantia de que a quantia total será paga mais tarde.” * De acordo com W. E. Vine a palavra significava “originalmente, um adiantamento depositado pelo comprador e ressarcido se a compra não se completasse, e era provavelmente uma palavra fenícia introduzida na Grécia. Ela veio a significar, no uso geral, uma garantia ou penhor de qualquer natureza”.

Vine também destaca que “no grego moderno arranona é um anel de noivado”. Isto é muito esclarecedor. Se um anel de noivado incorpora o compromisso de um homem de cumprir a sua promessa e se casar com sua amada, o Espírito Santo é Ele mesmo uma garantia divina de que Deus cumprirá plenamente todas as promessas feitas ao Seu povo.

A palavra equivalente no Velho Testamento é traduzida “penhor” em Gênesis 38:17-18, 20.

Judá prometeu enviar um cabrito de presente a Tamar, mas ela não ficou satisfeita com uma mera promessa; ela queria um “penhor”; então ele lhe deu o seu selo, cordão e cajado, que ela mais tarde

apresentou para vergonha dele. O Espírito, como o Penhor, é a garantia dada por Deus de que Ele cumprirá a Sua promessa.

Conclusão

A presença e as atividades do Espírito Santo na dispensação atual são alguns dos frutos da exaltação de Cristo. Ser habitado pelo Espírito Santo é um imenso privilégio, mas como sempre, privilégios trazem responsabilidades. A maravilhosa variedade no Seu ministério confere peso à injunção: “… que não andamos segundo a carne” (Rm 8:4).

Em vista do variado significado de como Ele habita nos cristãos, bem podemos nos perguntar, usando as palavras do apóstolo Pedro em outro contexto: “Que pessoas nos convém ser em santo trato e piedade?” (II Pe 3:12). O Espírito Santo não apenas nos sustenta nas provações presentes e é suficiente para toda obra — Sua presença em nós como “o penhor da nossa herança” é uma lembrança constante de que não vai demorar muito até que estejamos rodeando “o trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22:3).

Por John M. Riddle, Inglaterra

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