5 - A ASCENSÃO E A GLORIFICAÇÃO DO SENHOR JESUS

‘Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, a respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar, até o dia no qual foi recebido em cima, após ter dado mandamento através do Espírito Santo aos apóstolos a quem Ele escolheu’ (At 1.1,2).

‘Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte’ (Hb 2.9).

‘Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; ’ (Fp 2.9).

Nós não temos dado importância suficiente à ascensão. Valorizamos bastante o nascimento do Senhor Jesus; muita importância é dada à Sua ressurreição; e certo valor é dado ao Pentecostes: porém à ascensão é dada muito pouca atenção, quase passa desapercebida. Contudo ela tem uma significação imensa: é ela, de fato, um dos maiores aspectos na escala da obra da redenção. Não a considere, e a escala ficará incompleta.

Temos falado sobre a Oitava, a escala ascendente. O som, como sabemos, é produzido pelas vibrações no ar, porém ele é discernido por meio de um maravilhoso mecanismo no ouvido. No ouvido humano há uma pequena estrutura, como uma pequena harpa, que não tem menos do que 10.000 cordas. Quando o som a alcança, a corda correspondente aquele som vibra, e a vibração é transmitida, é interpretada pelo cérebro, de modo que sejamos capazes de distinguir os diferentes sons e reconhecer a sua origem. Agora, na escala, ou a oitava, quanto mais alto subimos, mais vibrações obtemos. Existem apenas, comparativamente, poucas vibrações nas notas baixas. Mas quanto mais subimos, mais vibrações há, e quanto mais vivo e afinado o ouvido precisa estar. Há alguns sons que são tão altos que o ouvido humano não pode escutá-los.

Minha observação é apenas esta: que quanto mais alto chegarmos nas coisas espirituais, mais sensíveis precisamos ser, a fim de discernir. Talvez o Senhor tivesse isto em mente quando disse: ‘Aquele que tem ouvidos, ouça’ (Mt 11.15). É necessário haver uma resposta correspondente àquilo que está sendo dito. E, quando chegamos à ascensão, começamos bem em cima na escala. Aqui está algo de muitíssima importância em toda a oitava de redenção. É um grande ponto de virada, sobre o qual tudo gira. Temos que tentar agora responder de maneira breve a pergunta: Por que a ascensão e a glorificação?

 

A ALEGRIA DOS DISCÍPULOS

 

É seguramente um dos argumentos mais fortes da ressurreição do Senhor Jesus que os discípulos, e aqueles que tiveram estado com Ele durante Sua vida terrena, ficaram tão alegres finalmente em deixá-lo partir. Como já salientamos anteriormente, sempre que Ele se referia a Sua partida que estava próxima, essa ideia aterrorizava e consternava os seus corações. De fato, aquelas palavras de Jesus, registradas em João 14 _ ‘Não se turbe o vosso coração’ _ foram faladas exatamente por causa disso. Ele estava falando sobre a Sua partida, e eles ficaram cheios de perplexidade e desânimo. Se Ele partisse, eles não viam esperança alguma, nenhum futuro: tudo para eles simplesmente iria se desintegrar. Eles não podiam suportar pensar em Sua partida. Quanto de Seu tempo, naqueles dias derradeiros com eles, foi ocupado com esta matéria da Sua partida, e com os Seus esforços de acalmar os temores deles, e renová-los! Eles não podiam aceitar isto.

Foi uma sombra escura no horizonte deles. 

Porém aqui, quando chegou a hora da partida, que mudança! Nenhum sinal de tristeza de qualquer espécie. Ele ergue as Suas mãos e os abençoa, e, enquanto assim o faz, é recebido em cima, no Céu, fora da vista deles. Não há qualquer sugestão de terror, ou até mesmo de perda. Se pudermos discernir corretamente a atmosfera, aquele momento foi tudo, menos de tristeza. Algo tinha acontecido que os fez perceber que tudo o que Ele tinha dito sobre isto era verdade. Esta não foi uma ocasião para pior, mas sim infinitamente para melhor. Eles ‘retornaram para Jerusalém com grande alegria’ (Lucas 24.52). Algo tinha acontecido. Repito: Penso que uma mudança tal como esta que aconteceu com eles seja o argumento mais forte da ressurreição. E sinto que você e eu, e todo o povo de Deus de hoje, precisamos tirar algo disto que estava no coração deles. Precisamos capturar alguma daquela alegria _ que o Senhor tenha ‘ascendido’ (Os. 47:5)! Nós não O perdemos; pelo contrário, por Ele ter voltado para o Pai, temos nós grande ganho.

Nosso ganho em Sua partida é algo sobre o qual refletir.

 

UM NOVO COMEÇO

 

Voltemos à nossa pergunta novamente: Por que a Ascensão e a Glorificação? Para começar, foi um ponto de virada na dispensação; marcou um novo início de coisas. Temos um vislumbre do que estava acontecendo a partir de alguns salmos.

Salmo 22: ‘Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?’; salmo 24 (que seguramente é um salmo profético): ‘Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.’ (v.7; A.S.V). Se o salmo 24 começa, como diz: ‘Do Senhor é a terra...’, e continua: ‘Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?’ (v.3), a resposta está no salmo 23. É o Pastor das ovelhas quem irá ‘habitar na casa do Senhor para sempre’ (v.6). É Ele quem sobe para o monte do Senhor, quem de ‘mãos limpas e coração  puro, que não entrega a sua alma à vaidade’ (24.4). É Ele. E agora os portais eternos estão esperando por Ele.

Assim podemos capturar o quadro. É como se o Céu estivesse em suspense, e a terra em silêncio. Há uma pausa. Todo o salmo 22 já executado _ a terrível cruz, o terrível abandono, a desolação. Ele foi colocado na sepultura. E agora Deus o ressuscitou dos mortos. Mas o Céu está esperando por algo. E, então, sai o brado: Ele está vindo! Os anjos e as hostes celestiais gritam: ‘Ele está a caminho, Ele está vindo: abram os portais para Ele!’ É o quadro de Sua ascensão, Sua exaltação, de Seu regresso ao Céu. O ponto é que tudo estava esperando por isto. Nada mais poderia acontecer até que isto acontecesse. Sim, a preparação foi feita lá em baixo, na terra; todo serviço foi feito pela cruz; tudo está pronto. Mas no Céu a disposição é: ‘Estamos esperando _ não podemos prosseguir até que Ele esteja de volta aqui, até que Ele esteja em Seu lugar’. Tudo espera por isso. Tudo está em suspense até que isto aconteça. Esta ascensão, esta exaltação, esta glorificação do Senhor Jesus é algo momentâneo. Isto deve, portanto, ter algum significado muito grande para nós.

 

TUDO AGORA ESTÁ CENTRADO NO CÉU

 

Eu dizia que isto é um novo início, para a qual toda a preparação foi feita na cruz. Qual é o novo começo? Bem, uma tremenda mudança aconteceu na característica, na natureza da dispensação. Na velha dispensação, sob a velha aliança, tudo estava centrado num lugar sobre esta terra, e numa nação entre as nações: Jerusalém é o ponto focal, a Palestina é o país, os judeus a nação. Tudo centrado lá; focalizado sobre algo terreno, algo temporal e algo transitório _ algo, de fato, que era capaz de completo colapso, e isto foi feito. Agora a coisa toda foi removida da terra, e o ponto focal de tudo está no Céu. O Céu detém o centro de todos os interesses Divinos, a fonte de, e os recursos para todas as atividades Divinas. O Céu é o lugar agora _ pois Ele próprio está lá! A nova dispensação é marcada por isto: mas, oh, isto a Igreja nunca esqueceu, nem falhou em ver! O centro, o quartel general, o lugar de governo está agora no Céu, além do alcance e do toque do tempo, da terra, de mudança e da possibilidade de colapso! Estamos nós tão familiarizados com o ensino para sermos lembrados que a Igreja é agora um povo celestial, e não terreno, e que todas as nossas bênçãos espirituais estão nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 1.3)? Mas isto realmente tem alguns significados muito práticos.

Considere isto sobre o Senhor Jesus, por exemplo. Quando Ele estava aqui na terra, Ele estava, numa forma de falar, à mercê dos homens e coisas; Ele era governado muito pelas condições terrenas. Os homens podiam ameaçá-Lo como quisessem – e eles o fizeram. É uma coisa realmente espantosa, não é, que eles pudessem ter ameaçado o Deus encarnado como eles fizeram? E, finalmente, eles o levaram para a Sua morte. Foi assim que eles O ameaçaram, como eles manobrá- Lo com Ele _ falando de um ponto do vista do mundo e dos homens. Porém, ninguém pode fazer isto agora: ninguém pode tocá-Lo agora, ninguém pode de algum modo controlá-Lo agora. Ele está muito acima de tais condições e possibilidades. Não traz um tremendo descanso, satisfação, e conforto para os nossos corações saber disto? Ele está fora do alcance de todas essas coisas que são contra Ele. Ele está além do toque de todas as forças antagônicas que buscam Sua destruição. Ele está muito acima de todas elas, acima de todo governante e autoridade, e principado, e poder (Ef 1.21), absolutamente seguro, e nós não precisamos ter nem sequer um momento de medo por Ele, nem ter um momento de intranquilidade.

 

A VERDADEIRA IGREJA AGORA COM CRISTO NO CÉU 

 

Por que estou dizendo isto? Porque é de um valor e de uma aplicação prática muito grande. Pois a Igreja é um corpo celestial, que está assentada junto com Ele (Ef 2.6). Nós, portanto, não precisamos ter nenhum momento de preocupação a respeito da verdadeira Igreja. Desça para a terra e veja como os homens se preocupam com as suas ‘igrejas’, e suas ‘coisas’. Eles têm que cuidar da ‘coisa’: têm que tomar conta dela, te que mantê-la. São os administradores dessa coisa, e cuidam zelosa e ferozmente dela. Quanta preocupação eles têm, e quantos problemas _ tão somente porque é algo terreno que precisa ser cuidado. Que coisa grandiosa é, então, ficar no campo da Igreja celestial, onde não há necessidade de se preocupar em tentar preservar algo e mantê-lo funcionando, e ver que ele não acaba! Aí está toda a diferença quando você está no campo celestial. Você não precisa se preocupar ou se desgastar para manter a coisa funcionando, caso contrário de desintegraria, e você ficaria sem o seu ‘brinquedinho’, sem a coisa pela qual vocês gastam todo o seu tempo e recursos. Uma coisa celestial está sob a custódia de Alguém que _ graças a Deus _ está acima de todas essas coisas, e em descanso.

Isto é o que Jesus disse: ‘Na casa de Meu Pai há muitas moradas... Vou preparar lugar para vós’ (Jo 14.2). Quando você entra no terreno celestial, você chega ao descanso, da mesma forma como Ele entrou no descanso. Você não precisa se preocupar _ apenas se mantenha neste terreno. Se você for se preocupar _ se tiver que se preocupar _ preocupe-se, então, em não descer para o campo terreno, pois este é o campo da preocupação. Mantenha-se em cima. As coisas celestiais estão seguras _ sob a guarda de Alguém que está ‘acima de todas as coisas’.

Mas a coisa significa mais do que isto. ‘Todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo’, e nós assentados lá com Ele. Esta união celestial com Cristo significa tal abundância, tal plenitude, que jamais precisamos nos preocupar com os suprimentos espirituais. É simplesmente maravilhoso que os recursos, que os suprimentos, virão, se tão somente permanecermos no campo certo, na posição correta. Se você estiver espiritualmente sobre esta terra (uma contradição em termos!), terá que se preocupar com os suprimentos. Se você estiver aqui em baixo, no nível natural de ministério, apenas veja quão difícil terá que trabalhar a fim de conseguir que alguma coisa aconteça. Mas suba para o Céu aberto, no campo celestial, e toda benção espiritual, abundância, plenitude, seguirá. Elas não são coisas abstratas; são realidades. É um dos milagres do sustento celestial _ o suprimento que nunca acaba ao longo de todo o caminho. Você sente que chegou ao final, e que não há mais nada e, então, lá vem uma outra plenitude; e novamente você parece ter exaurido tudo, e não tem um outro bocado _ e, contudo, uma outra plenitude chega. Toda vez que Ele quer, e que haja necessidade de algo, é desta forma. E, assim, você prossegue através dos anos. 

Tudo isto é uma parte dEle estar no Céu, e da Igreja estar unida com Ele no Céu. Esta é uma parte da resposta para a nossa pergunta: Por que a ascensão e a glorificação do nosso Senhor Jesus?

 

A ATESTAÇÃO DE DEUS PARA UMA VITÓRIA CELESTIAL

 

Mas, além disso, A Sua ascensão e Sua glorificação é a própria atestação de Deus de Sua Pessoa e obra. Isto é o que as Escrituras dizem. Este é o significado de passagens tais como: ‘Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.’ (Jo 3.13) Esta é a atestação de Sua Pessoa.

Temos percebido que o Salmo 24 segue o Salmo 22. O Salmo 24 é a atestação da Pessoa que no Salmo 22 clamou: ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?’ 

O Céu irrompe em atestar aquela Pessoa e A Sua obra na Cruz. No início deste capítulo, lemos Filipenses 2.9: ‘Por isso’ _ através da ‘obediência até a morte, e morte de cruz’ _ ‘Deus o exaltou soberanamente’. Esta é a atestação Dele e da Sua obra. O mesmo é verdade sobre a passagem que lemos em Hebreus 2.9: ‘Vemos, porém, coroado de honra e glória... por causa da paixão da morte’ Sua exaltação e glorificação proclamam a Sua vitória. ‘Quem é o Rei da Glória?’ ‘O Senhor Poderoso na batalha’ ( Sl. 24.10,8). Ele entra, e proclama a Sua vitória.

Agora, embora possamos estar familiarizados com isto, e isto possa não ser uma informação nova para nós, é muito necessário mantermos em mente que o real conflito e a real vitória estavam nos lugares celestiais. O conflito não era contra carne e sangue, não era contra os líderes judeus, não era contra os oficiais romanos, ou contra o Império Romano em si. Por trás de todas essas coisas estava um outro, um império espiritual, invisível, porém, muito real, e nós o conhecemos.

Foi nesse campo que o real conflito aconteceu. Foi o encontro entre dois reinos e impérios espirituais, e foi lá que a real vitória foi ganha. Foi uma vitória sobre esses ‘principados e potestades, e dominadores das trevas, e hostes da maldade’. Ele foi por detrás deste sistema mundial exteriorizado e enfrentou tudo que lá havia; e foi nesse território que ele estabeleceu a Sua vitória.

É verdade que as dificuldades surgem em nossas mentes quando vemos as coisas indo mal _ um Tiago morto, um Estevão martirizado, milhares lançados para dentro da arena e despedaçados; quando, como hoje, vemos incontáveis lares e famílias arruinadas, e servas e filhos de Deus lançados na prisão. Não é difícil imaginar _ Será que Ele está no trono? Será verdade que Ele está acima de tudo?

Mas o Reino Dele é uma coisa a ‘longo prazo’, se formos usar a expressão. Talvez você tenha visto uma corrida de corredores de trilha em que há notável e famoso atleta. Começa a corrida, e ele parece ser o mais indiferente de todos. Ele deixa que todos passem à sua frente, e, ao passarem à sua frente, não há o menor sinal de ansiedade em sua face. Ele os deixa seguirem a frente. Todo mundo pensa que eles estão ganhando e que ele está derrotado. Porém _ espere até o final. Ele possui uma reserva tal de energia que, no último minuto, quando todos os demais já esgotaram as suas reservas, ele recorre às suas reservas e vence a corrida muito facilmente. É a tremenda vitória de competência e reserva.

O Senhor Jesus é desta forma. Isto é exatamente o que está acontecendo hoje. Parece que Seu rival está passando na frente, e não parece nem um pouco que o Senhor esteja preocupado com isso. Nós não conseguimos descobrir nenhum sinal de ansiedade, ou de preocupação, ou de agito em relação ao Senhor. Não é que ele esteja indiferente, mas ele sabe quais são as Suas reservas _ Ele sabe o que ele pode fazer. E novamente, e mais uma vez, está provado que é desta forma. No final Ele chega em primeiro _ Ele venceu a corrida. Ele fez isto sobre o Império Romano no início, e Ele tem feito isto repetidamente desde então. Ele apenas deixa o inimigo passar na frente, dando a entender que ele está na vantagem, e, então, com a Sua competência e reservas infinitas, Ele toma conta da situação _ Ele tem colecionado todos os prêmios.

 

A GARANTIA DA VITÓRIA FINAL

 

É desta forma para a Igreja. Podemos sentir hoje que o inimigo está prosperando em seu caminho. Às vezes parece que é como se o Senhor estivesse muito atrás do inimigo. Porém, espere! Ele disse para os Seus discípulos, como última palavra: ‘Estou convosco...até a consumação dos séculos’ (Mt. 28.20); ‘Vou estar lá no final’. O Senhor Jesus não ficará de fora no final, Ele estará lá. Será o inimigo quem ficará de fora.

Em dias como os nossos, penso que precisamos reunir algo da força, da consolidação e da ajuda dessa verdade. Poderíamos facilmente ficar oprimidos.

Alguns anos atrás, ouvimos, do longínquo Leste, sobre a prisão em todo o país de milhares de irmãos, irmãs, e obreiros, que tinham servido ao Senhor plena e fielmente por muitos anos. Podemos não ter a mesma história real de sofrimento físico e prisão que eles tiveram, mas estamos na mesma batalha, e o espírito da opressão é terrível. A atmosfera está simplesmente cheia de antagonismo.

Precisamos de ajuda, encorajamento. E de onde pode vir esta ajuda, senão do fato de que Ele, o Senhor, subiu nas alturas, e está lá no trono?

Esta é apenas a primeira coisa sobre isto, mas é algo muito mais poderoso. Isto é apresentado a nós na Escritura, do efeito manifesto que tinha sobre aqueles que estavam lá. E devemos lembrar que Lucas era um historiador muito meticuloso.

Ele nos conta que se esforçou muito em procurar e reunir os dados corretamente, acuradamente. Lucas jamais colocaria isto em seu registro se ele tivesse tido qualquer dúvida a respeito. Ele tinha muitas evidências para tudo que escreveu em seu livro de Atos. Aqui você tem esses homens, sob circunstâncias e condições que teria naturalmente resultado em algo bem ao contrário, exatamente este _ triunfante, positivamente triunfante! O Senhor os deixara, tendo sido recebido por uma nuvem fora da vista deles. Ele tinha ido: O que eles deveriam sentir? Porém, eles não estão tristes. Eles vão triunfantes, e para triunfar, porque Ele tinha subido!

A exaltação do Senhor Jesus é aqui apresentada para a nossa fé como uma grande nota na oitava de redenção. O conhecimento de que o Senhor está em cima tem a finalidade de nos redimir do medo e da incerteza, de nos redimir da depressão esmagadora no dia de aparente calamidade. É como se o Espírito Santo procurasse dizer, se não em palavras, em efeito, naqueles que estão sofrendo: ‘Está tudo bem _ Ele está no trono! Jesus reina _ Ele está no trono _ Ele está exaltado nas alturas!’ Creio que essas pessoas irão vencer por causa desta verdade.

É um grande fator na redenção 

 

UM HOMEM REPRESENTANTE ALCANÇOU O OBJETIVO

 

Mas eu disse que isto é apenas uma parte da grande verdade. Há uma outra parte maior da qual podemos apenas dar uma ‘dica’ agora. ‘Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?’ (Jo. 6.62) ‘O Filho do Homem subir...’ Este título é indicativo de uma grande e maravilhosa verdade. Ele nos traz direto para a Carta aos Hebreus. ‘Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos; todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas.’ (Hb. 2.6-8) O homem ainda não chegou naquilo para o qual foi criado; isto não está todo realizado ainda. ‘Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.’ (v.9).

O que significa tudo isto?

Aqui está o Filho do Homem, em Quem, como o Primeiro, foi realizado toda a intenção Divina em relação ao homem, a Sua criação. Seria proveitoso, à esta altura, entrar em um estudo detalhado da Carta aos Hebreus, especialmente nos seus primeiros capítulos. ‘Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites?’ (2.5,6). A sujeição ao homem da futura terra habitada é o que está em vista. Nós ainda não vemos toda esta sujeição ao homem; mas vemos o seu Representante no Céu, com todas as coisas sujeitas a Ele, para o homem. Está assegurado para o homem no Homem Representante no Céu.

O escritor continua: ‘Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial... ’ (3.1). É tudo de um pedaço, você vê. A ‘vocação celestial’ _ O que é?

Estar em sociedade com Ele, em parceria com ele _ ‘Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos...’ (2.11,12). ‘Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial...’ O que é isto? Ter o domínio sobre a terra habitada que está por vir. Ele está lá, tendo assegurado este propósito de Deus em Sua própria Pessoa, representando o povo, os ‘muitos filhos’ que Ele está ‘trazendo à glória’ (2.10). Este é o motivo pelo qual Ele ‘subiu nas alturas’ (Sl. 68.18; Ef.4.8). Significa um Homem instalado, em plena possessão da eterna intenção de Deus em relação ao homem; instalado lá como o primeiro de muitos filhos sendo trazidos à glória. 

Talvez você pergunte: Qual é a diferença entre o governo celestial e o governo hoje, e aquele na velha dispensação? Pois os céus governavam. Nos dias de Daniel, os céus estavam governando (Dn. 4.26; cf. vv. 17,25,32). Sim, eles estavam governando na velha dispensação. Porém, qual é a diferença? Esta pergunta abre uma imensa porta, e toda esta carta aos Hebreus irá dar a resposta. É a grande diferença entre uma dispensação puramente terrena e temporal, e uma que é eterna, celestial, e espiritual. Isto compreende todas as diferenças que foram mencionadas nesta carta _ a carta das ‘melhores’ coisas. No governo celestial do Filho do Homem você chega a algo muito melhor do que a soberania geral de Deus na velha dispensação. Esta é uma matéria muito grande para considerarmos aqui, mas toda ela se centraliza na questão do por que Ele está lá na glória _ por que Ele subiu, por que Ele ascendeu e está glorificado. Isto implica algumas coisas muito grandes e desafiadoras do por que Jesus está no céu.

 

(1) A Encarnação

 

Vamos dar uma olhada sobre isso. A primeira nota, ou fase, da oitava, foi a encarnação do Filho de Deus: O Filho de Deus vindo em forma humana a este mundo. Você irá se lembrar de que tentamos explicar que houve um objeto tripartite na encarnação _ ele tinha três significados bem definidos.

Primeiramente, a redenção do homem: vimos algo da natureza de homem, do qual o homem tinha que ser redimido; em segundo lugar, a re-constituição do homem ao padrão original de Deus; e, em terceiro, o aperfeiçoamento do homem. Essas três coisas foram absorvidas pelo Filho de Deus, sob o título de ‘O Filho Do Homem’, e pessoalmente em Si mesmo elas se tornaram reais. Ele não foi apenas o Redentor, mas Ele próprio era a Redenção. A Redenção se tornou uma Pessoa. Será que é necessário que eu defenda o que estou dizendo? Deixe-me repetir isto. Jesus não era apenas o Redentor, e a Redenção não foi apenas o que Ele fez: Ele esteve lá como a corporificação e representação pessoal da Redenção; Ele era a representação de homem redimido, do tipo de homem que iria surgir quando fosse redimido.

Ele, então, foi um como reconstituído de acordo com a mente de Deus; o Homem, em representação, reconstituído e diferente. E, em Si mesmo Ele foi ‘aperfeiçoado através dos sofrimentos’ (Hb 2.10). Ele representou o homem aperfeiçoado através dos sofrimentos e provas: não, naturalmente, no sentido de se tornar bom ou sem pecado, mas trazido à plenitude. Devemos sempre lembrar de que a palavra ‘perfeito’ na Bíblia não significa apenas um estado: significa uma medida, uma maturidade, uma plenitude, uma inteireza, uma finalização, ou realização final de alguma coisa. Nele a perfeição não era fazer o homem melhor _ nada podia fazer isto _ mas poderia, como Homem, crescer. E Ele de fato cresceu.

Observamos que foi dito duas vezes a respeito dos seus primeiros anos, primeiro à idade dos doze anos, e novamente mais pra frente, que Ele ‘crescia em sabedoria e estatura’, que ‘a graça de Deus estava sobre Ele’, e que Ele estava ‘no favor de Deus e dos homens’. (Lc 2.40,52). Ele crescia. E, então, quanto aos três anos e meio, que aumento de paciência, que aumento de fé, que aumento de amor. Ele era o Homem aperfeiçoado, tornado perfeito por meio do sofrimento; isto é, Ele se tornou completo. Isto é encarnação.

 

(2) A Vida Terrena

 

Então consideramos a sua vida terrena. Como o vimos nos trinta anos, e, então, os três anos e meio, resumimos tudo dizendo: Aqui está o tipo de homem que Deus procura. Sob cada teste e prova, em todas as circunstâncias adversas, Ele é mostrado a nós como o tipo de homem que Deus deseja ter _ uma verdadeira humanidade: não, como dissemos, uma ‘teofonia’, uma mera visitação passageira de Deus em forma de homem, mas vivendo da infância até a maturidade de vida, como homem, e permanecendo lá como alguém aprovado por Deus, de quem Deus poderia dizer: ‘Nele está todo o meu prazer’ (Mt 3.17, 17:15), satisfazendo a Deus como Homem. Na vida terrena, lá está mostrada a nós, colocada diante de nós, o Homem que Deus deseja ter, o Homem que Deus procura.

Se tão somente tivéssemos olhos para ver, e entendimento para compreender, tudo o que Ele era em si mesmo, e todas aquelas leis e princípios pelos quais Ele era governado! Quão diferente Ele era de qualquer outro homem _ completamente diferente, um mistério para todos. ‘no meio de vós está um a quem vós não conheceis.’ (Jo. 1.26). Não era apenas que Ele era o Filho Divino manifestado em carne. Foi verdadeiramente provado que, mesmo como homem eles não podiam compreendê-lo. Os amigos mais íntimos não o compreendiam, ou falhavam em compreendê-lo. Há algo a respeito dele como Homem que é diferente e inexplicável. Mas Ele é o tipo de homem que Deus vai ter.

Eu deveria, talvez, dizer aqui em parêntesis, que, numa medida _ pode ser uma pequena medida, mas uma medida muito real _ isto é, ou deveria ser, verdade sobre cada cristão. O mundo não nos conhece porque não conheceu a Ele (Jo. 1.10; 16.3; 1Jo 3.1b). Deve haver sobre um verdadeiro cristão algo que o mundo não pode compreender, algo que não adianta tentar fazer com que o mundo entenda, pois jamais irá entender. Há algo diferente. Não temos necessidade de tentar ser diferente e singular, e estranho, pois certamente seremos assim, se caminharmos com o Senhor!

 

(3) A Cruz

 

Então, chegamos à cruz, e na cruz vimos três coisas. Vimos, primeiramente, um homem, um tipo de homem, exposto. A cruz do Senhor Jesus foi uma terrível exposição, um descortinar, do homem como ele é. Se alguma vez o homem revelasse com o que ele se parece, mostrasse o que ele é e pode fazer, ele o faria então. Se alguma vez fosse manifesto que o homem é realmente impulsionado e dirigido pelo próprio diabo, que segue as suas pisadas, e apenas precisa de uma ocasião para que ela seja revelada, isto seria feito então. Não vamos pensar: ‘Oh, eles eram pessoas muito terríveis! Nós somos muito diferentes daquelas pessoas; jamais faríamos aquilo’. Espere até sermos colocados sob teste. Não há nada _ nada _ de que não sejamos capazes, se tão somente as circunstâncias forem tais que descortinem as profundezas de pecado que existe em nossas naturezas, e nos traga para fora. Sim, o homem foi exposto na cruz.

Em segundo lugar, vimos o homem classificado: o homem mostrado o que ele é e o lugar onde ele pertence, colocado em sua própria categoria. Não é verdade em nosso próprio caso, como cristãos, que, na medida em que chegamos, sob a luz do Espírito Santo, realmente entender algo de nossos próprios corações, em alguma medida para conhecermos a nós mesmos _ não é verdade que sabemos o lugar a que pertencemos? Porém, pela misericórdia e graça de Deus, sabemos onde devemos estar no final _ devemos ir para ‘o nosso próprio lugar’, aonde pertencemos. A cruz classificou o homem e mostrou o lugar de onde ele pertencia. 

Em terceiro, a cruz colocou tudo sob julgamento e morte, pois ‘todos pecamos’. Um homem exposto, um homem classificado, um homem julgado e colocado de lado _ esta é a cruz.

 

(4) A Ressurreição

 

A Ressurreição fala de um outro Homem produzido e atestado. Nas palavras do apóstolo Paulo: “Jesus Cristo... foi declarado”, ou ‘marcado como’, ‘o Filho de Deus com poder, de acordo com o Espírito de Santidade, pela ressurreição dentre os mortos’ (Rm 1.1,4). Isto resume tudo. A ressurreição foi a atestação do Homem que _ longe de ser posto de lado _ é trazido no lugar do homem que foi rejeitado.

 

(5) A Ascensão

 

A ascensão e a glorificação estão todos reunidos nisto: a instalação do novo Homem, representativamente, como o primeiro dos filhos sendo trazidos à glória; o novo Homem instalado no Céu.

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