23/12/2015 10:56
Daquilo com que já nos ocupamos,
aprendemos que o grande resultado da
obra de Cristo no passado é o de nos
conceder uma posição divinamente
perfeita diante de Deus. “Porque com
uma só oblação aperfeiçoou para
sempre os que são santificados”
(Hebreus 10.14). Ele nos introduziu na
Divina Presença, em toda a Sua perfeita
aceitabilidade, na credibilidade e
virtude do Seu nome, Sua Pessoa e Sua
obra; de modo que, como declara o
apóstolo João, “qual Ele é, somos nós
também neste mundo” (1 João 4.17).
Tal é a firme posição da mais débil
ovelha de todo o rebanho de Cristo,
comprado com Seu sangue. E nem
poderia ser diferente. Ou é isso, ou é
eterna perdição. Não há espaço nem
para um fio de cabelo, entre esta
posição de absoluta perfeição diante de
Deus, e uma condição de culpa e ruína.
Ou estamos em nossos pecados, ou em
um Cristo ressurreto. Não há meio
termo. Ou estamos cobertos de culpa ou
completos em Cristo. Mas o crente é
declarado, pela autoridade que tem a
voz do Espírito Santo nas Escrituras,
como alguém que está completo em
Cristo – perfeito, quanto à sua
consciência – aperfeiçoado
perpetuamente – limpo de toda
mancha – agradável no Amado – feito
justiça de Deus em Cristo.
Tudo isso por intermédio do sacrifício
da cruz. Aquela preciosa morte
expiatória de Cristo forma o fundamento
sólido e irrefutável da posição cristã.
“Mas Este, havendo oferecido para
sempre um único sacrifício pelos
pecados, está assentado à destra de
Deus” (Hebreus 10.12). Um Cristo
assentado é a gloriosa prova e a perfeita
definição do lugar do crente na presença
de Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo,
havendo glorificado a Deus acerca de
nossos pecados, e tendo suportado Seu
juízo contra tudo aquilo que a nossa
condição como pecadores exigia,
havendo oferecido um único sacrifício
pelos pecados, assentou-Se para sempre
em um lugar que não é só de perdão,
aceitação e paz, mas de total libertação
do domínio do pecado – um lugar de
vitória assegurada sobre tudo o que
possivelmente poderia ser contra nós,
seja o pecado que habita em nós, o medo
de Satanás, a lei ou este presente mundo
mau.
Esta é, repetimos, a posição
absolutamente firme que o crente ocupa,
se é que nos sujeitamos a aprender das
Sagradas Escrituras. E rogamos
insistentemente para que o leitor cristão
não se satisfaça com nada menos do que
isto. Não continue a aceitar os confusos
credos da cristandade, com seus
serviços litúrgicos, os quais apenas
levam as almas de volta às trevas, à
distância de Deus e ao jugo do judaísmo
– esse sistema no qual Deus encontrou
falta, e que aboliu para sempre por não
estar em conformidade com Sua santa
vontade, ou por não satisfazer Seu
bondoso coração que concede ao
adorador perfeita paz, perfeita
liberdade, perfeita proximidade
Consigo, para todo o sempre.
Nós solenemente nos dirigimos a todo o
povo do Senhor, espalhado pelos vários
segmentos da Igreja professa, para que
considerem onde se encontram, e para
que analisem até onde estão
compreendendo e desfrutando da
verdadeira posição cristã, conforme nos
é apresentada nas diversas passagens
das Escrituras que já citamos, as quais
podem ser ainda facilmente
multiplicadas uma centena de vezes.
Comparem, fiel e diligentemente, o
ensino da cristandade com a Palavra de
Deus, e vejam o quanto se distanciam.
Fazendo assim, descobrirão de que
modo o cristianismo professo de nossos
dias forma um contraste com os
ensinamentos vivos do Novo
Testamento; e uma das consequências é
que as almas são privadas dos preciosos
privilégios que a elas pertencem como
cristãs, e são mantidas naquela distância
moral que caracterizou a economia
mosaica.
Tudo isso é por demais deplorável.
Entristece o Espírito Santo, fere o
coração de Cristo, desonra a graça de
Deus, e contradiz as mais claras
afirmações das Sagradas Escrituras.
Estamos por demais persuadidos de que
a condição de milhares de almas
preciosas neste exato momento é
suficiente para fazer sangrar o coração;
e tudo isso se deve, em grande parte, aos
ensinos da cristandade com seus credos
e fórmulas. Onde é que você irá
encontrar, em meio às fileiras comuns à
profissão cristã, uma pessoa desfrutando
de uma consciência perfeitamente
purificada; uma consciência de paz com
Deus, produzida pelo Espírito de
adoção? Acaso não é verdade que as
pessoas são ensinadas pública e
sistematicamente, que se trata de uma
atitude presunçosa alguém dizer que
seus pecados estão todos perdoados –
que está selado com o Espírito Santo –
que não pode mais se perder, pois está
verdadeiramente unido a Cristo pelo
Espírito que nele habita? Porventura não
são todos estes privilégios cristãos
praticamente negados e ignorados na
cristandade? E acaso as pessoas não
estão sendo ensinadas que é perigoso
ser muito confiante – que é moralmente
mais seguro viver em dúvida e temor –
que o máximo que podemos querer
almejar é irmos para o céu após a
morte? Onde é que as almas estão sendo
ensinadas das gloriosas verdades
ligadas à nova criação? Onde estão elas
arraigadas e fundamentadas no
conhecimento de sua posição em uma
Cabeça ressuscitada e glorificada nos
céus? Onde estão elas sendo
introduzidas no gozo daquelas coisas
que são graciosamente dadas por Deus
ao Seu povo amado?
Oh, lamentamos ao pensar na única
resposta verdadeira que pode ser dada a
tais indagações. O rebanho de Cristo
está espalhado pelas tenebrosas
montanhas e desolados atracadouros. As
almas do povo de Deus são
abandonadas na enevoada distância que
caracterizava o sistema judaico.
Desconhecem o significado do véu
rasgado, da proximidade de Deus, da
consciente aceitação que desfrutam no
Amado. A própria mesa do Senhor
encontra-se encoberta com as negras e
frias névoas da superstição, e cercada
pelas repulsivas barreiras de um
legalismo negro e deprimente. A
redenção efetuada, a completa remissão
de pecados, a perfeita justificação
diante de Deus, a aceitação em um
Cristo ressuscitado, o Espírito de
adoção, a bendita e brilhante esperança
da vinda do Noivo – todas estas
realidades gloriosas – estes patentes
privilégios da Igreja de Deus são, na
prática, postos de lado pela máquina
religiosa da cristandade e pelo seu
ensino.
Alguns, talvez, poderão pensar que
pintamos um quadro muito obscuro.
Podemos apenas dizer – e o dizemos
com toda a sinceridade – que quisera
Deus fosse só isso! Tememos que este
quadro esteja ainda longe da realidade –
sim, a realidade é muito mais horrenda
do que a pintamos. Estamos profunda e
dolorosamente espantados com o fato de
que a condição, não apenas da Igreja
professa, mas de milhares de
verdadeiras ovelhas do rebanho de
Cristo, é tal que se a enxergássemos do
modo como Deus a enxerga, isso partiria
nosso coração.
Todavia, devemos continuar com nosso
assunto e, fazendo assim, apresentar o
melhor remédio que já poderia ter sido
receitado para a deplorável condição de
tantos dentre o povo do Senhor.
Falamos da preciosa obra que nosso
Senhor Jesus Cristo consumou por nós,
levando nossos pecados, e condenando
o pecado, nos assegurando a perfeita
remissão dos primeiros e a total
libertação do último, como poder
dominador que era. O cristão é aquele
que não está apenas perdoado, mas
liberto. Cristo morreu pelo cristão, e
este morreu em Cristo. Portanto,
encontra-se livre, como alguém que
ressuscitou de entre os mortos e está
vivo para Deus, por Jesus Cristo nosso
Senhor. O cristão é agora uma nova
criatura. Passou da morte para a vida. A
morte e o juízo ficaram para trás e nada,
além da glória, é o que se encontra
diante dele. Ele possui agora uma
posição imaculada e um futuro sem
nuvens.
Ora, se tudo isso é verdade para cada
filho de Deus – e as Escrituras garantem
isso – o que mais desejamos? Nada,
quanto ao que somos, nada quanto à
posição que ocupamos, nem quanto à
esperança que temos. Em tudo isso
possuímos a mais perfeita e absoluta
perfeição; todavia, nosso estado não é
perfeito, nosso andar não é perfeito.
Continuamos no corpo, cercados de
inúmeras fraquezas, expostos a inúmeras
tentações, aptos a tropeçar, a cair e a
nos desviar. Por nós mesmos, somos
incapazes de ter um único pensamento
bom, ou de nos mantermos por um
momento sequer na bendita posição
onde a graça nos colocou. É verdade
que temos vida eterna, e que estamos
ligados à Cabeça viva no céu, pelo
Espírito Santo que foi enviado à Terra,
de modo que estamos eternamente
seguros. Nada poderá jamais tocar nossa
vida, ainda mais se considerarmos que
ela está “escondida com Cristo em
Deus” (Colossenses 3.3).
Mas enquanto nada pode tocar nossa
vida, ou interferir em nossa posição,
ainda assim, considerando que nossa
condição é imperfeita e que nosso andar
é imperfeito, nossa comunhão é
suscetível de ser interrompida, e é por
esta razão que necessitamos do atual
ofício de Cristo por nós.
Jesus vive à destra de Deus por nós. Sua
ativa intervenção a nosso favor nunca
cessa por um momento sequer. Ele
atravessou os céus, em virtude da
expiação consumada, e ali exerce
continuamente Sua perfeita intercessão
por nós diante de Deus. Ele está ali
como nossa justiça permanente, a fim de
nos manter sempre na divina integridade
da posição e do relacionamento ao qual
Sua morte expiatória nos introduziu. Por
isso lemos em Romanos 5.10: “Porque
se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de
Seu Filho, muito mais, tendo sido já
reconciliados, seremos salvos pela Sua
vida”. Assim também, lemos em
Hebreus 4.14-16: “Visto que temos um
grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de
Deus, que penetrou nos céus,
retenhamos firmemente a nossa
confissão. Porque não temos um sumo
sacerdote que não possa compadecerse
das nossas fraquezas; porém, um
que, como nós, em tudo foi tentado,
mas sem pecado. Cheguemos, pois, com
confiança ao trono da graça, para que
possamos alcançar misericórdia e
achar graça, a fim de sermos ajudados
em tempo oportuno”. E, mais uma vez,
no capítulo 7.24,25: “Mas Este, porque
permanece eternamente, tem um
sacerdócio perpétuo. Portanto, pode
também salvar perfeitamente os que
por Ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles”. E no
capítulo 9.24: “Porque Cristo não
entrou num santuário feito por mãos,
figura do verdadeiro, porém no mesmo
céu, para agora comparecer por nós
perante a face de Deus”.
Temos também, na primeira Epístola de
João, o mesmo assunto apresentado sob
um aspecto um pouco diferente: “Meus
filhinhos, estas coisas vos escrevo,
para que não pequeis; e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o
Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e
não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo” (1 João 2.1,2).
Quão precioso é tudo isso para o cristão
sincero, que está sempre consciente –
perfeita e dolorosamente consciente – de
sua fraqueza, necessidade, debilidade e
fracasso! Como é possível – podemos
indagar justamente – que alguém que
tenha seus olhos sobre estas passagens
que acabamos de citar, sem mencionar
sua consciência própria – o senso de
imperfeição de sua própria condição e
do seu andar possa colocar em dúvida a
necessidade do cristão de um
ininterrupto ministério de Cristo em seu
favor? Não é espantoso que algum leitor
da epístola aos Hebreus, algum
observador da condição e do andar do
crente mais fiel, pudesse ser achado
negando a aplicação do sacerdócio e
intercessão de Cristo pelos cristãos
hoje?
Em favor de quem – permita-nos
perguntar – está Cristo vivendo e
atuando agora à destra de Deus? Será
que é em favor do mundo? Certamente
que não; pois Ele diz, em João 17.9,
“Não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que Me deste, porque são
Teus”. E quem são esses? Será que se
trata do remanescente judeu? Não; esse
remanescente ainda está para entrar em
cena. Quem são eles, então? Crentes –
filhos de Deus – cristãos, que estão
agora passando por este mundo
pecaminoso, sujeitos a falharem e a
serem enganados a cada passo do
caminho. São estes o objeto do
ministério sacerdotal de Cristo. Ele
morreu para os tornar limpos: Ele vive
para mantê-los limpos. Por Sua morte
Ele expiou a nossa culpa, e por Sua vida
Ele nos limpa por meio da ação da
Palavra pelo poder do Espírito Santo.
“Este é Aquele que veio por água e
sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por
água, mas por água e por sangue” (1
João 5.6). Temos expiação e somos
limpos por meio de um Salvador
crucificado. A dupla fonte emanou do
lado ferido de Cristo, morto por nós.
Todo louvor seja dado ao Seu nome!
Temos tudo, em virtude da preciosa
morte de Cristo. O problema é nossa
culpa? Ela foi cancelada pelo sangue da
expiação. O problema está em nossas
faltas diárias? Temos um Advogado
para com o Pai – um grande Sumo
Sacerdote para com Deus. “Se alguém
pecar” (1 João 2.1). Ele não diz ‘se
alguém se arrepender’. Não há dúvida
de que há, e deve haver arrependimento
e juízo-próprio; mas como é que são
produzidos? Aqui está: “Temos um
Advogado para com o Pai”. É a Sua
sempre prevalecente intercessão que
consegue, para aquele que peca, a graça
do arrependimento, juízo-próprio e
confissão.
É algo de extrema importância para o
leitor cristão ter bem claro em seu
entendimento o que se refere a esta
verdade cardeal da intercessão
advocatícia ou sacerdócio de Cristo.
Costumamos erroneamente pensar que
quando falhamos em nosso trabalho,
precisamos fazer algo de nós mesmos
para resolver a questão entre nossa alma
e Deus. Nós nos esquecemos até do
porquê de estarmos conscientes de nossa
falha – antes de nossa consciência se
tornar realmente ciente do fato, nosso
bendito Advogado esteve diante do Pai
para tratar disso; e é à Sua intercessão
que devemos a graça de nosso
arrependimento, confissão e restauração.
“Se alguém pecar, temos...” – o que? O
sangue ao qual devemos recorrer? Não;
repare cuidadosamente o que o Espírito
Santo declara. “Temos um Advogado
para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”.
E por que Ele diz “o justo”? Por que
não dizer, o bondoso, o misericordioso,
ou o que se compadece de nós?
Porventura Ele não é tudo isso?
Certamente; mas nenhum desses
atributos caberia aqui, ainda mais por
estar, o bendito apóstolo, colocando
diante de nós a consoladora verdade de
que em todos os nossos erros, pecados e
falhas, temos um representante “justo”
diante do Deus justo, o Pai santo, de
modo que nossas questões nunca
terminem em fracasso. Ele vive sempre
para fazer intercessão por nós, e porque
Ele vive sempre, “pode também salvar
perfeitamente” – salvar até o fim – “os
que por Ele se chegam a Deus”.
Que firme consolo existe aqui para o
povo de Deus! E quão necessário para
nossas almas é estarmos fundamentados
no conhecimento e compreensão disso!
Há alguns que possuem uma
compreensão imperfeita da verdadeira
posição de um cristão, por não
enxergarem o que Cristo fez por eles no
passado; outros, pelo contrário, têm uma
visão tão unilateral da condição do
cristão que não enxergam nossa
necessidade daquilo que Cristo está
agora fazendo por nós. Ambos devem
ser corrigidos. Os primeiros ignoram a
extensão e o valor da expiação; os
últimos ignoram o lugar e a aplicação
que tem a intercessão advocatícia. A
imperfeição de nossa posição é tal, que
o apóstolo disse: “Porque, qual Ele é,
somos nós também neste mundo” (1
João 4.17). Se isso fosse tudo,
certamente não teríamos necessidade de
sacerdócio ou de intercessão
advocatícia; todavia a nossa condição é
tal, que o apóstolo precisa dizer: “Se
alguém pecar”. Isto prova o quão
continuamente necessitamos do
Advogado. E, bendito seja Deus, nós O
temos continuamente; nós O temos
vivendo sempre por nós. Ele vive e
serve nas alturas. Ele é nossa justiça
substitutiva diante de nosso Deus. Ele
vive para nos manter sempre justos no
céu, e para nos tornar justos quando
andamos errado na Terra. Ele é o
vínculo divino e indissolúvel entre
nossas almas e Deus.