O presente ofício de Cristo por nós

Daquilo com que já nos ocupamos,

aprendemos que o grande resultado da

obra de Cristo no passado é o de nos

conceder uma posição divinamente

perfeita diante de Deus. “Porque com

uma só oblação aperfeiçoou para

sempre os que são santificados”

(Hebreus 10.14). Ele nos introduziu na

Divina Presença, em toda a Sua perfeita

aceitabilidade, na credibilidade e

virtude do Seu nome, Sua Pessoa e Sua

obra; de modo que, como declara o

apóstolo João, “qual Ele é, somos nós

também neste mundo” (1 João 4.17).

Tal é a firme posição da mais débil

ovelha de todo o rebanho de Cristo,

comprado com Seu sangue. E nem

poderia ser diferente. Ou é isso, ou é

eterna perdição. Não há espaço nem

para um fio de cabelo, entre esta

posição de absoluta perfeição diante de

Deus, e uma condição de culpa e ruína.

Ou estamos em nossos pecados, ou em

um Cristo ressurreto. Não há meio

termo. Ou estamos cobertos de culpa ou

completos em Cristo. Mas o crente é

declarado, pela autoridade que tem a

voz do Espírito Santo nas Escrituras,

como alguém que está completo em

Cristo – perfeito, quanto à sua

consciência – aperfeiçoado

perpetuamente – limpo de toda

mancha – agradável no Amado – feito

justiça de Deus em Cristo.

Tudo isso por intermédio do sacrifício

da cruz. Aquela preciosa morte

expiatória de Cristo forma o fundamento

sólido e irrefutável da posição cristã.

“Mas Este, havendo oferecido para

sempre um único sacrifício pelos

pecados, está assentado à destra de

Deus” (Hebreus 10.12). Um Cristo

assentado é a gloriosa prova e a perfeita

definição do lugar do crente na presença

de Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo,

havendo glorificado a Deus acerca de

nossos pecados, e tendo suportado Seu

juízo contra tudo aquilo que a nossa

condição como pecadores exigia,

havendo oferecido um único sacrifício

pelos pecados, assentou-Se para sempre

em um lugar que não é só de perdão,

aceitação e paz, mas de total libertação

do domínio do pecado – um lugar de

vitória assegurada sobre tudo o que

possivelmente poderia ser contra nós,

seja o pecado que habita em nós, o medo

de Satanás, a lei ou este presente mundo

mau.

Esta é, repetimos, a posição

absolutamente firme que o crente ocupa,

se é que nos sujeitamos a aprender das

Sagradas Escrituras. E rogamos

insistentemente para que o leitor cristão

não se satisfaça com nada menos do que

isto. Não continue a aceitar os confusos

credos da cristandade, com seus

serviços litúrgicos, os quais apenas

levam as almas de volta às trevas, à

distância de Deus e ao jugo do judaísmo

– esse sistema no qual Deus encontrou

falta, e que aboliu para sempre por não

estar em conformidade com Sua santa

vontade, ou por não satisfazer Seu

bondoso coração que concede ao

adorador perfeita paz, perfeita

liberdade, perfeita proximidade

Consigo, para todo o sempre.

Nós solenemente nos dirigimos a todo o

povo do Senhor, espalhado pelos vários

segmentos da Igreja professa, para que

considerem onde se encontram, e para

que analisem até onde estão

compreendendo e desfrutando da

verdadeira posição cristã, conforme nos

é apresentada nas diversas passagens

das Escrituras que já citamos, as quais

podem ser ainda facilmente

multiplicadas uma centena de vezes.

Comparem, fiel e diligentemente, o

ensino da cristandade com a Palavra de

Deus, e vejam o quanto se distanciam.

Fazendo assim, descobrirão de que

modo o cristianismo professo de nossos

dias forma um contraste com os

ensinamentos vivos do Novo

Testamento; e uma das consequências é

que as almas são privadas dos preciosos

privilégios que a elas pertencem como

cristãs, e são mantidas naquela distância

moral que caracterizou a economia

mosaica.

Tudo isso é por demais deplorável.

Entristece o Espírito Santo, fere o

coração de Cristo, desonra a graça de

Deus, e contradiz as mais claras

afirmações das Sagradas Escrituras.

Estamos por demais persuadidos de que

a condição de milhares de almas

preciosas neste exato momento é

suficiente para fazer sangrar o coração;

e tudo isso se deve, em grande parte, aos

ensinos da cristandade com seus credos

e fórmulas. Onde é que você irá

encontrar, em meio às fileiras comuns à

profissão cristã, uma pessoa desfrutando

de uma consciência perfeitamente

purificada; uma consciência de paz com

Deus, produzida pelo Espírito de

adoção? Acaso não é verdade que as

pessoas são ensinadas pública e

sistematicamente, que se trata de uma

atitude presunçosa alguém dizer que

seus pecados estão todos perdoados –

que está selado com o Espírito Santo –

que não pode mais se perder, pois está

verdadeiramente unido a Cristo pelo

Espírito que nele habita? Porventura não

são todos estes privilégios cristãos

praticamente negados e ignorados na

cristandade? E acaso as pessoas não

estão sendo ensinadas que é perigoso

ser muito confiante – que é moralmente

mais seguro viver em dúvida e temor –

que o máximo que podemos querer

almejar é irmos para o céu após a

morte? Onde é que as almas estão sendo

ensinadas das gloriosas verdades

ligadas à nova criação? Onde estão elas

arraigadas e fundamentadas no

conhecimento de sua posição em uma

Cabeça ressuscitada e glorificada nos

céus? Onde estão elas sendo

introduzidas no gozo daquelas coisas

que são graciosamente dadas por Deus

ao Seu povo amado?

Oh, lamentamos ao pensar na única

resposta verdadeira que pode ser dada a

tais indagações. O rebanho de Cristo

está espalhado pelas tenebrosas

montanhas e desolados atracadouros. As

almas do povo de Deus são

abandonadas na enevoada distância que

caracterizava o sistema judaico.

Desconhecem o significado do véu

rasgado, da proximidade de Deus, da

consciente aceitação que desfrutam no

Amado. A própria mesa do Senhor

encontra-se encoberta com as negras e

frias névoas da superstição, e cercada

pelas repulsivas barreiras de um

legalismo negro e deprimente. A

redenção efetuada, a completa remissão

de pecados, a perfeita justificação

diante de Deus, a aceitação em um

Cristo ressuscitado, o Espírito de

adoção, a bendita e brilhante esperança

da vinda do Noivo – todas estas

realidades gloriosas – estes patentes

privilégios da Igreja de Deus são, na

prática, postos de lado pela máquina

religiosa da cristandade e pelo seu

ensino.

Alguns, talvez, poderão pensar que

pintamos um quadro muito obscuro.

Podemos apenas dizer – e o dizemos

com toda a sinceridade – que quisera

Deus fosse só isso! Tememos que este

quadro esteja ainda longe da realidade –

sim, a realidade é muito mais horrenda

do que a pintamos. Estamos profunda e

dolorosamente espantados com o fato de

que a condição, não apenas da Igreja

professa, mas de milhares de

verdadeiras ovelhas do rebanho de

Cristo, é tal que se a enxergássemos do

modo como Deus a enxerga, isso partiria

nosso coração.

Todavia, devemos continuar com nosso

assunto e, fazendo assim, apresentar o

melhor remédio que já poderia ter sido

receitado para a deplorável condição de

tantos dentre o povo do Senhor.

Falamos da preciosa obra que nosso

Senhor Jesus Cristo consumou por nós,

levando nossos pecados, e condenando

o pecado, nos assegurando a perfeita

remissão dos primeiros e a total

libertação do último, como poder

dominador que era. O cristão é aquele

que não está apenas perdoado, mas

liberto. Cristo morreu pelo cristão, e

este morreu em Cristo. Portanto,

encontra-se livre, como alguém que

ressuscitou de entre os mortos e está

vivo para Deus, por Jesus Cristo nosso

Senhor. O cristão é agora uma nova

criatura. Passou da morte para a vida. A

morte e o juízo ficaram para trás e nada,

além da glória, é o que se encontra

diante dele. Ele possui agora uma

posição imaculada e um futuro sem

nuvens.

Ora, se tudo isso é verdade para cada

filho de Deus – e as Escrituras garantem

isso – o que mais desejamos? Nada,

quanto ao que somos, nada quanto à

posição que ocupamos, nem quanto à

esperança que temos. Em tudo isso

possuímos a mais perfeita e absoluta

perfeição; todavia, nosso estado não é

perfeito, nosso andar não é perfeito.

Continuamos no corpo, cercados de

inúmeras fraquezas, expostos a inúmeras

tentações, aptos a tropeçar, a cair e a

nos desviar. Por nós mesmos, somos

incapazes de ter um único pensamento

bom, ou de nos mantermos por um

momento sequer na bendita posição

onde a graça nos colocou. É verdade

que temos vida eterna, e que estamos

ligados à Cabeça viva no céu, pelo

Espírito Santo que foi enviado à Terra,

de modo que estamos eternamente

seguros. Nada poderá jamais tocar nossa

vida, ainda mais se considerarmos que

ela está “escondida com Cristo em

Deus” (Colossenses 3.3).

Mas enquanto nada pode tocar nossa

vida, ou interferir em nossa posição,

ainda assim, considerando que nossa

condição é imperfeita e que nosso andar

é imperfeito, nossa comunhão é

suscetível de ser interrompida, e é por

esta razão que necessitamos do atual

ofício de Cristo por nós.

Jesus vive à destra de Deus por nós. Sua

ativa intervenção a nosso favor nunca

cessa por um momento sequer. Ele

atravessou os céus, em virtude da

expiação consumada, e ali exerce

continuamente Sua perfeita intercessão

por nós diante de Deus. Ele está ali

como nossa justiça permanente, a fim de

nos manter sempre na divina integridade

da posição e do relacionamento ao qual

Sua morte expiatória nos introduziu. Por

isso lemos em Romanos 5.10: “Porque

se nós, sendo inimigos, fomos

reconciliados com Deus pela morte de

Seu Filho, muito mais, tendo sido já

reconciliados, seremos salvos pela Sua

vida”. Assim também, lemos em

Hebreus 4.14-16: “Visto que temos um

grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de

Deus, que penetrou nos céus,

retenhamos firmemente a nossa

confissão. Porque não temos um sumo

sacerdote que não possa compadecerse

das nossas fraquezas; porém, um

que, como nós, em tudo foi tentado,

mas sem pecado. Cheguemos, pois, com

confiança ao trono da graça, para que

possamos alcançar misericórdia e

achar graça, a fim de sermos ajudados

em tempo oportuno”. E, mais uma vez,

no capítulo 7.24,25: “Mas Este, porque

permanece eternamente, tem um

sacerdócio perpétuo. Portanto, pode

também salvar perfeitamente os que

por Ele se chegam a Deus, vivendo

sempre para interceder por eles”. E no

capítulo 9.24: “Porque Cristo não

entrou num santuário feito por mãos,

figura do verdadeiro, porém no mesmo

céu, para agora comparecer por nós

perante a face de Deus”.

Temos também, na primeira Epístola de

João, o mesmo assunto apresentado sob

um aspecto um pouco diferente: “Meus

filhinhos, estas coisas vos escrevo,

para que não pequeis; e, se alguém

pecar, temos um Advogado para com o

Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a

propiciação pelos nossos pecados, e

não somente pelos nossos, mas também

pelos de todo o mundo” (1 João 2.1,2).

Quão precioso é tudo isso para o cristão

sincero, que está sempre consciente –

perfeita e dolorosamente consciente – de

sua fraqueza, necessidade, debilidade e

fracasso! Como é possível – podemos

indagar justamente – que alguém que

tenha seus olhos sobre estas passagens

que acabamos de citar, sem mencionar

sua consciência própria – o senso de

imperfeição de sua própria condição e

do seu andar possa colocar em dúvida a

necessidade do cristão de um

ininterrupto ministério de Cristo em seu

favor? Não é espantoso que algum leitor

da epístola aos Hebreus, algum

observador da condição e do andar do

crente mais fiel, pudesse ser achado

negando a aplicação do sacerdócio e

intercessão de Cristo pelos cristãos

hoje?

Em favor de quem – permita-nos

perguntar – está Cristo vivendo e

atuando agora à destra de Deus? Será

que é em favor do mundo? Certamente

que não; pois Ele diz, em João 17.9,

“Não rogo pelo mundo, mas por

aqueles que Me deste, porque são

Teus”. E quem são esses? Será que se

trata do remanescente judeu? Não; esse

remanescente ainda está para entrar em

cena. Quem são eles, então? Crentes –

filhos de Deus – cristãos, que estão

agora passando por este mundo

pecaminoso, sujeitos a falharem e a

serem enganados a cada passo do

caminho. São estes o objeto do

ministério sacerdotal de Cristo. Ele

morreu para os tornar limpos: Ele vive

para mantê-los limpos. Por Sua morte

Ele expiou a nossa culpa, e por Sua vida

Ele nos limpa por meio da ação da

Palavra pelo poder do Espírito Santo.

“Este é Aquele que veio por água e

sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por

água, mas por água e por sangue” (1

João 5.6). Temos expiação e somos

limpos por meio de um Salvador

crucificado. A dupla fonte emanou do

lado ferido de Cristo, morto por nós.

Todo louvor seja dado ao Seu nome!

Temos tudo, em virtude da preciosa

morte de Cristo. O problema é nossa

culpa? Ela foi cancelada pelo sangue da

expiação. O problema está em nossas

faltas diárias? Temos um Advogado

para com o Pai – um grande Sumo

Sacerdote para com Deus. “Se alguém

pecar” (1 João 2.1). Ele não diz ‘se

alguém se arrepender’. Não há dúvida

de que há, e deve haver arrependimento

e juízo-próprio; mas como é que são

produzidos? Aqui está: “Temos um

Advogado para com o Pai”. É a Sua

sempre prevalecente intercessão que

consegue, para aquele que peca, a graça

do arrependimento, juízo-próprio e

confissão.

É algo de extrema importância para o

leitor cristão ter bem claro em seu

entendimento o que se refere a esta

verdade cardeal da intercessão

advocatícia ou sacerdócio de Cristo.

Costumamos erroneamente pensar que

quando falhamos em nosso trabalho,

precisamos fazer algo de nós mesmos

para resolver a questão entre nossa alma

e Deus. Nós nos esquecemos até do

porquê de estarmos conscientes de nossa

falha – antes de nossa consciência se

tornar realmente ciente do fato, nosso

bendito Advogado esteve diante do Pai

para tratar disso; e é à Sua intercessão

que devemos a graça de nosso

arrependimento, confissão e restauração.

“Se alguém pecar, temos...” – o que? O

sangue ao qual devemos recorrer? Não;

repare cuidadosamente o que o Espírito

Santo declara. “Temos um Advogado

para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”.

E por que Ele diz “o justo”? Por que

não dizer, o bondoso, o misericordioso,

ou o que se compadece de nós?

Porventura Ele não é tudo isso?

Certamente; mas nenhum desses

atributos caberia aqui, ainda mais por

estar, o bendito apóstolo, colocando

diante de nós a consoladora verdade de

que em todos os nossos erros, pecados e

falhas, temos um representante “justo”

diante do Deus justo, o Pai santo, de

modo que nossas questões nunca

terminem em fracasso. Ele vive sempre

para fazer intercessão por nós, e porque

Ele vive sempre, “pode também salvar

perfeitamente” – salvar até o fim – “os

que por Ele se chegam a Deus”.

Que firme consolo existe aqui para o

povo de Deus! E quão necessário para

nossas almas é estarmos fundamentados

no conhecimento e compreensão disso!

Há alguns que possuem uma

compreensão imperfeita da verdadeira

posição de um cristão, por não

enxergarem o que Cristo fez por eles no

passado; outros, pelo contrário, têm uma

visão tão unilateral da condição do

cristão que não enxergam nossa

necessidade daquilo que Cristo está

agora fazendo por nós. Ambos devem

ser corrigidos. Os primeiros ignoram a

extensão e o valor da expiação; os

últimos ignoram o lugar e a aplicação

que tem a intercessão advocatícia. A

imperfeição de nossa posição é tal, que

o apóstolo disse: “Porque, qual Ele é,

somos nós também neste mundo” (1

João 4.17). Se isso fosse tudo,

certamente não teríamos necessidade de

sacerdócio ou de intercessão

advocatícia; todavia a nossa condição é

tal, que o apóstolo precisa dizer: “Se

alguém pecar”. Isto prova o quão

continuamente necessitamos do

Advogado. E, bendito seja Deus, nós O

temos continuamente; nós O temos

vivendo sempre por nós. Ele vive e

serve nas alturas. Ele é nossa justiça

substitutiva diante de nosso Deus. Ele

vive para nos manter sempre justos no

céu, e para nos tornar justos quando

andamos errado na Terra. Ele é o

vínculo divino e indissolúvel entre

nossas almas e Deus.

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