3 - A CRUZ

Dissemos que esses oito aspectos, ou ‘notas’, na escala da redenção, se sucedem um após o outro numa sequência harmoniosa, cada um seguindo o outro e levando ao próximo. Nossa resposta à primeira pergunta _ por que a encarnação? Foi tripartida: a redenção do homem, a reconstituição do homem, e a perfeição e glorificação do homem. Procurando responder a segunda pergunta _ por que a vida terrena? _ Buscamos indicar o fim em vista a todo esse processo redentor, como exemplificado na vida terrena do Senhor como o Filho do Homem _ o modelo. A vida terrena, tão plenamente vivida sob cada prova, foi planejada, no propósito de Deus, para estabelecer o tipo diferente de pessoa que Deus tem em vista através da redenção e reconstituição, e perfeição, e finalmente a glorificação. É necessário para nós tomar a questão inclusiva de todas essas fases, vendo como uma leva à outra, e ao mesmo tempo o que cada uma representa.

Porém, antes de seguir adiante, deixe-me dizer o seguinte. O ponto é que Deus tem colocado aqui neste mundo, no meio da humanidade, um novo tipo de Homem, que não apenas é melhor, mais ou menos, do que os demais homens, mas completamente diferente dos outros homens; e disse, em efeito, ‘Este é o Homem que tenho em vista, e eternamente este tem sido o Meu propósito de conformar a esta imagem’. Quão importante é, portanto, para nós compreender a natureza real e significado da vida de nosso Senhor Jesus, como foi vivida aqui neste mundo, há muito tempo atrás. Porém, atualmente, um Homem nos é apresentado, completamente diferente de nós em constituição, e ainda, como padrão de Deus para a Sua obra em nós. Isto é algo muito importante.

 

A PRESSÃO DO MALIGNO NA CRUCIFICAÇÃO

 

Assim, então, aqueles dois pontos nos levam ao terceiro: Por que a cruz?

Vamos abordar isto olhando por um momento para o registro, e tentar entrar na mesma atmosfera, terrível como era, daquilo que ocorreu naquele dia que comemoramos como a Sexta-Feira da Paixão. Vamos tomar dois versos do discurso de Pedro no dia de Pentecostes.

‘Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes  pelas mãos de injustos’ (At. 2.22-23; A.S.V)

Se pudéssemos, por assim dizer, entrar naquelas palavras, e realmente compreender o seu significado, poderíamos ter a resposta a nossa pergunta: Por que a Cruz?

Vamos tentar sentir o que estava acontecendo. Se você leu recentemente nos Evangelhos os relatos dos eventos que levaram à crucificação, você será capaz de se lembrar da cena. Por um lado, é impossível, levando tudo em consideração, não reconhecer uma tremenda pressão sobre esta questão de crucificar Jesus. Isto não é apenas humano. Há algo aqui de força incitante, uma força maligna _ por trás. Nenhum argumento irá impedi-la, nenhum apelo irá enfraquecê-la; ela não será influenciada por nenhuma consideração, seja qual for. Quando eles gritavam: “Caia o seu sangue sobre nós, e sobre os nossos filhos” (Mat. 27.25), é como se houvesse uma determinação implacável, posto a fazer com que a coisa seguisse _ não importando o que significava _ às últimas conseqüências, até o fim. Deste lado, havia uma pressão feroz, terrível, impressionante dos poderes malignos para fazê-lo morrer, e parecia que nada podia impedir aquela onda maligna.

Do outro lado está Pilatos _ Pilatos buscando, por meio de todo recurso concebível a ele, tanto pessoalmente querendo sair disso, como oficialmente evitá-lo, pará-lo.

Veja quanto há que vem para lhe dar uma justificativa, para fazer sua posição mais forte, até mesmo em relação à mensagem de sua esposa: “Não entres na questão desse justo” (Mat. 27.19). Mas é como se uma voz escondida dissesse: ‘Pilatos, não adianta: se esquivar, argumentar, dizer e fazer o que quer _ não adianta: isto irá acontecer. Você pode ser responsabilizado, a partir de um ponto de vista, mas você não pode ajudar você mesmo’. A pressão das forças malignas, a impotência humana e os poderes oficiais e temporais, e tantos outros fatores, devem ser levados em consideração neste caso.

 

"O DETERMINADO CONSELHO E PRESCIÊNCIA DE DEUS"

 

Porém, por detrás de tudo isso está um outro fator. O Diabo pode estar  forjando, e o homem pode estar inutilmente tentando impedir; mas antes do Diabo e do homem está o ‘determinado conselho e presciência de Deus’ (Atos 2.23). A cruz é a crise de Deus na qual Ele diz: ‘Vamos decidir isto, vamos estabelecer esta questão finalmente, de uma vez por todas. Nada irá confundi-lo ou impedi-lo. O Diabo pode ser assassino; eu sei o que pretendo com isto. O Diabo pode estar cegamente conduzindo as coisas a fim de destruí-Lo, mas eu sei o que almejo. Irei tomar isto em relação ao conselho eterno e presciência. O homem pode tentar pará-lo, impedi-lo: mas não _ a hora chegou, e vamos estabelecer isto. Esta é a Crise dos Tempos; e todo o negócio será estabelecido hoje’.

Mas que negócio? Naturalmente, a coisa toda vai muito longe, muito longe e de aspectos muito variados para que possamos compreender. A coisa vai muito acima e muito abaixo, e muito distante. Tudo aquilo que sabemos sobre a Cruz é apenas um fragmento comparado com aquilo que iremos conhecer através da eternidade.

Podemos dizer muito pouco a respeito, resumindo em uma ou duas coisas que respondam a questão, por que a Cruz? A resposta, como disse, está inerente nas palavras que lemos em Atos 2.

Qual é o assunto? Qual é a crise? Por que a Cruz? Sempre que nos acharmos na presença da Cruz, seja em tipo no Velho Testamento _ o altar, o sacrifício, o fogo, e assim por diante _ seja em realidade no Novo Testamento, nós estamos sempre diante de três coisas: pecado, justiça e julgamento.

 

(1) O PECADO

 

O que queremos dizer com pecado? O que a Bíblia quer dizer com pecado? _ esta coisa de amplas consequências, como um polvo, porém com inúmeros membros e ventosas _ esta coisa chamada ‘pecado’. O que a Bíblia quer dizer por pecado? Se a Cruz do Senhor Jesus foi a crise, e Deus estava para estabelecê-la de uma vez para sempre, o que era aquilo que tinha alcançado o ponto de crise, o que era aquilo que Ele estava estabelecendo? Vamos aqui excluir pecados _ não estamos falando sobre pecados. Os pecados apenas são frutos, ou o resultado, da raiz _ pecado. O pecado não começa com as coisas que fazemos ou deixamos de fazer. 

Pecado é algo muito mais profundo do que as nossas más ações _ nossas comissões ou omissões. Os pecados podem ser perdoados, pecados podem ser remidos; porém pecado é uma outra coisa.

Agora vamos perseguir isto até onde podemos. No Velho Testamento, o pecado, mesmo antes do ato de Adão, centrado em Deus e Sua alternativa. Deus, ou Sua alternativa _ este é o ponto focal do pecado. Há uma palavra inclusiva no Velho Testamento, uma palavra que inclui e abrange todas as demais palavras usadas para pecado, e esta palavra é ‘iniquidade’. Ela abrange palavras tais como ‘transgressão’, ‘violação’, e outras. A palavra inclusiva e abrangente para pecado é ‘iniquidade’, e enquanto não entendermos esta palavra, realmente não iremos compreender o que é pecado. Esta palavra ‘iniquidade’ em sua raiz significa ‘perversidade’, ‘injustiça. Não é simplesmente a violação de certas leis, mas um espírito de ilegalidade e rebelião. Isto encontrou sua primeira expressão, como a Bíblia nos relata, antes do pecado de Adão. Adão apenas foi apanhado em algo que já tinha começado. A rebelião aconteceu em algum lugar onde Deus está, em relação os propósitos de Deus. _ Seus propósitos, como temos razões para crer, em relação a Seu Filho, Jesus Cristo, como Herdeiro, ‘constituído Herdeiro sobre todas as coisas’. A rebelião foi achada no coração de um ser exaltado, e, então, disseminado por meio daquele entre os anjos; e assim, uma hierarquia rebelde se levantou, e foi expulsa, e nos é dito que eles estão reservados em prisões eternas para o julgamento. (Judas 6)

Iniqüidade, então, é rebelião, é injustiça. “vós, por meio de injustos...” Chegamos bem no coração da coisa, você vê? Esta força motriz é do próprio inferno. Nenhum respeito é dado à lei, à razão, ao argumento, à consideração, à compaixão, à sabedoria, ou a qualquer outra coisa _ nem mesmo ao bem estar dos filhos. Não, esta coisa está possuída de fúria homicida, ficou descontrolada, foi manifestada enfim. No centro do palco humano, terreno, está Alguém que é o foco principal de tudo, Ele manifestou tudo. Aquilo não mais pode continuar escondido, não mais pode seguir secretamente; está manifesto. Ele é a razão daquilo. As hostes do mal surgem ao redor dEle: a fim de usarem as palavras proféticas do salmo, ‘Cercaram- me como abelhas’ (sal. 118.12); porém, nas palavras do Apóstolo, ‘Ele despojou os principados e potestades’ (Cl.2.15).

Sim, no determinado conselho e presciência de Deus, a coisa já está decidida _ toda esta questão básica de rebelião, que se iniciou em Satanás, se espalhou às hostes angelicais, que foram cúmplices com ele, e desceu a este mundo. Por ter o homem aberto a porta, a porta de sua alma, como já vimos no início, a rebelião entrou nele, e agora todo filho de Adão possui uma raiz profunda de rebelião em sua natureza: rebelião contra Deus. Mais cedo ou mais tarde você a descobrirá, caso nunca tenha feito isso ainda. Deixe Deus colocar você em algumas provas nas quais Ele colocou o Seu Filho, e veja se não há nenhuma rebelião em seu coração, em sua natureza, contra Deus. Debaixo de prova, oposição, ou sofrimento, descobrimos que ela está lá, pronta para se manifestar. Está em nós. 

Muito bem; isto foi considerado por Deus. Ele disse: ‘Vamos estabelecer isto’; e este é o significado da Cruz. Primeiramente, este espírito de injustiça e rebelião, em toda a sua fealdade, em toda a sua malignidade, em seu caráter sinistro, é arrastado para fora; e, então, na Cruz, não apenas o mal em abstrato, mas a pessoa responsável por ele, é tratada.

 

TERRENO PARA SATANÁS

 

Porque o pecado nunca é olhado apenas como algo abstrato; ele é sempre pessoal _ é sempre um assunto de Satanás. A questão toda é sempre esta: Está Satanás levando vantagem, está Satanás ganhando terreno? Muito frequentemente não levamos essas coisas a sério. Achamos que é ‘falha’, ‘fraqueza’ e ‘imperfeições’. Ficamos ofendidos, perturbados; faltamos com amor, talvez perdemos nosso equilíbrio; e, então, dizemos que isto é fraqueza nossa, nossa falha, nossa imperfeição, nossa falta. Bem, pode ser isto, porém Deus sempre diz: ‘Isto é terreno para Satanás’; e isto é o que faz a coisa ser tão abominável, tão mais maligna. Porque, veja, é Satanás quem está o tempo todo tentando trabalhar em cima da nossa ‘fraqueza’ e conquistar tal terreno, e, então, entrar nele e usá-lo _ tanto como acusação contra nós, levando-nos de volta para a servidão da qual fomos redimidos, para ter uma acusação diante de Deus. Lembre-se sempre que é esta coisa pessoal que é a essência da iniquidade, que constitui pecado. Deus não olha para o pecado separado da pessoa de Satanás: é sempre ele que Deus tem em vista. E Ele nos diria: ‘Agora, não se esqueça: se você escorregar, isto não é apenas algo em si mesmo _ isto é um ótimo terreno para Satanás; e, a menos que você remova isto dele, e limpe e cubra, ele irá alargá-lo, estabelecê-lo, e consolidá-lo, e irá ficar cada vez mais difícil para você removê-lo. Isto não é apenas um incidente, um equívoco, um infortúnio: há uma pessoa, há todo um sistema diabólico em serviço, em relação a isto.’ Sim, e qual é o efeito que ele está procurando trazer? Algo antagônico a Deus _ rebelião, injustiça. O Senhor Jesus, quando levou os nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro, foi o Cordeiro de Deus, que tirou o pecado do mundo (1 Pd 2.24; Jo 1.29). Você não acha que isto é muito maravilhoso _ uma vez que o pecado é iniquidade, rebelião e injustiça, é esta coisa que está sempre se irrompendo e se rebelando contra Deus _ que o Cordeiro pode tratar disso? Um cordeiro é um símbolo preciso de sujeição, não é? ‘Ele foi levado como um cordeiro para o matadouro’ (Is 53.7): não há rebelião aqui, injustiça. ‘Ele foi levado como um cordeiro para o matadouro’: exatamente o outro extremo da injustiça, da rebelião. O Cordeiro de Deus removeu o pecado pela Sua absoluta entrega a Deus. 

Ele desfez a rebelião de Satanás. Eu acho isto impressionante. Você vê os princípios em ação, poderosos princípios corporificados em duas pessoas: o princípio da transgressão em Satanás, e o princípio da obediência em Cristo. Essas duas coisas estão em mortal combate, e o Cordeiro vence.

Isso não diz muito da obra da Cruz, o efeito da Cruz? Você entende o porquê da Cruz, e o porquê da Cruz em você e em mim? O que nós herdamos da Cruz _ O que ela significa como um princípio de atividade em nós? Se a cruz realmente operar em nós, iremos nos tornar mais e mais sujeitos a Deus, submissos, complacente, pelo Espírito do Cordeiro. Que conflito isto foi! Foi o conflito entre duas naturezas: o conflito entre o pecado, no sentido específico de rebelião e transgressão, por um lado; e o espírito de _ ‘Eis aqui venho (No princípio do livro está escrito de mim), Para fazer, ó Deus, a tua vontade. ’ E ‘Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste’ (Hb 10.7,5), do outro lado; e por meio daquele corpo no madeiro Ele tratou daquela outra coisa _ com a iniquidade corporificada deste universo em Satanás. ‘Agora é o juízo deste mundo: agora o príncipe deste mundo será expulso’ (Jo 12.31).

Sentimos a nossa falta de esperança em tentar lidar com este assunto da Cruz; isto foi uma coisa imensa que aconteceu, então eu volto a isto: Deus disse, ‘Vamos estabelecer isto aqui e agora, de uma vez para sempre’. O pecado, no sentido em que temos falado, foi tratado lá plenamente _ ‘O Jordão enchendo toda a sua margem’ _ Que maré! _ e foi plena e finalmente exaurida.

 

(2) JUSTIÇA

 

Se dissemos que a justiça era apenas o oposto de pecado, devemos, naturalmente, ter dito numa palavra aproximada a tudo o que podia ser dito a respeito. Mas vamos olhar para isso mais de perto, e começar por examinar a palavra em si. Justiça é uma palavra inclusiva. Assim como ‘iniquidade’ é inclusiva de outros aspectos do pecado, assim ‘justiça’ é inclusiva de outros conceitos.

Existe a palavra ‘santidade’, por exemplo; existe a palavra ‘santificação’; existe a palavra ‘consagração’. Todas essas estão reunidas nesta palavra ‘justiça’.

Estou certo que não iremos esquecer o pecado. Ele está escrito agora em letras profundas, escuras e negras. O pecado é rebelião; pecado é aquilo que tira o governo de Deus e O remove do Seu lugar e faz uma escolha da alternativa a Deus.

Naturalmente, quando pecamos nós queremos conscientemente fazer aquilo _ isto não é planejado e intencionado; mas é isto o que está sugerido e o que está envolvido na realidade.

O que, então, é a essência desta palavra ‘justiça’? Justiça é aquela natureza de Deus que é perfeitamente consistente, perfeitamente pura, perfeitamente transparente. Diferentes símbolos são usados na Bíblia para a natureza de Deus, como o cristal, e o jaspe. É aquilo no qual não há qualquer mistura, no qual não há duas coisas contrárias uma à outra. Pois a Bíblia deixa perfeitamente claro que a mistura ou contradição é o que mais aborrece a Deus. Mais do que qualquer outra coisa, Deus abomina a mistura _ dois elementos contrários trazidos juntos, dois reinos diferentes trazidos em associação, os dois sendo diferentes em constituição.

Lembramos alguns tipos do Velho Testamento de que: ‘Com boi e com jumento não lavrarás juntamente. Não te vestirás de diversos estofos de lã e linho juntamente.’(Dt 22.10,11). Esses são dois reinos diferentes. O linho remove o calor do corpo; a lã o mantém: assim, há um conflito nas duas coisas.

Esses são apenas ilustrações simples, ou figuras de algo muito profundo. Deus abomina mistura; a Sua própria natureza é contra elementos contrários. Sua natureza é absolutamente transparente, consistente, pura. E isto é justiça. Era por isso que os profetas estavam sempre apelando. A injustiça foi encontrada nos comportamentos; isto é, as pessoas estavam sendo roubadas por métodos enganosos. Eles não eram justos, honestos, corretos. Satanás é o grande misturador, o grande enganador, o grande corruptor, o grande poluidor. Não há nada transparente nele, nada correto; ele está sempre em derredor, de alguma forma, a fim de obter vantagem através da injustiça, da covardice.

Agora, a cruz do Senhor Jesus foi a crise nesta questão de justiça. Ela foi o outro lado. Ele ‘ofereceu a Si mesmo sem mancha a Deus’ (Hb 9.14). Aqui está algo puro: não há mistura aqui, não há defeito aqui, não há duas coisas aqui; é apenas uma única coisa; é totalmente correta, clara, absolutamente puro, transparente. 

Você não pode encontrar nEle qualquer indício de corrupção. Não há película anuviada; nEle não há trevas. Ele estabeleceu esta questão de justiça em Sua própria Pessoa e corpo, e estabeleceu justiça para sempre, tipificado, quando Ele veio para o Seu batismo, que prefigurava a Sua cruz. Ele disse: ‘Deixa por ora: pois importa-nos cumprir toda justiça’ (Mt 3.15). Ele satisfez a Deus nesta questão da Sua natureza, como algo absolutamente puro. Quando Jesus disse, ‘importa-nos cumprir toda justiça’, Deus imediatamente respondeu e disse, ‘Meu Filho amado, em quem me comprazo’. Esta é a oferta que Eu desejo, a oferta que procurava: esta oferta Me satisfaz’. Ele ‘Se ofereceu a Deus sem pecado’. A questão de justiça está estabelecida nEle, na cruz.

 

(3) JULGAMENTO

 

Pecado, justiça; e agora julgamento. O que é isto? Usualmente limitamos a ideia de julgamento a um pensamento _ isto é, penalidade. A palavra ‘julgamento’ é uma palavra mais abrangente do que isto na Bíblia. Julgamento, poderíamos dizer, possui três partes. Para tomar uma ilustração do livro de Daniel: você se lembra da festa de Belsazar, e a mão escrevendo na parede, e como Daniel foi trazido para interpretar (Dan 5.1-28). Antes de tudo, significa trazer alguma coisa para se ter uma decisão sobre ela, sobre o que ela é. A primeira parte aqui é: ‘Pesado fostes na balança’. Esta é a primeira parte do julgamento: trazido para ser pesado. Em segundo lugar, colocá-lo em sua própria categoria: ‘achado em falta’.

Quando foi determinado o que algo é, este é o lugar a que ele pertence. Em terceiro lugar, há o pronunciamento e a execução da sentença.

Isto é julgamento em seus três significados. É uma grande palavra. A Cruz foi isto. Deus estava dizendo, ‘Vamos estabelecer o que isto é em sua natureza; vamos colocá-la em seu próprio lugar a que pertence; e vamos tratar disso completa e finalmente’. A coisa estava determinada, em relação ao que é: o pecado não é chamado por outros nomes; é chamado por seu próprio nome _ injustiça, rebelião.

Pois é isto que o pecado é. Ele é contra Deus. E ele pertence ao campo que está longe de Deus _ o deserto, a desolação, o lugar do bode expiatório, o lugar da criatura desgarrada, levada da presença de Deus para onde ela pertence. Quando Ele levou OS nossos pecados, quando Ele foi feito pecado por nós, quando, naquela hora medonha, Ele foi feito maldição por nós, Ele foi colocado no lugar ao qual você e eu pertencemos. A coisa estava estabelecida, em relação ao que ela era, e levada para longe da presença de Deus; a porta foi fechada sobre ela, e a face de Deus para sempre se virou dela. O julgamento foi feito.

Sim, há dois lados para a cruz, mas este foi o lado do julgamento. Do quê? Não, não do julgamento dos nossos pecados _ isto pode estar incluído _ mas o julgamento do nosso pecado. ‘Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus nEle’ (2 Co 5.21); isto é, para que pudéssemos ser trazidos para o lugar onde não há duas coisas em conflito, onde não há dois elementos contraditórios. E isto começa no mesmo dia quando nós _ para usar uma linguagem familiar _ vamos à cruz. Quando vamos ao Senhor Jesus e aceitamos a obra de Sua cruz por nós, lá nos é dada, lá é trazido para dentro de nós, aquela vida transparente, pura, santa, justa, do Senhor Jesus. É uma coisa sem mistura. Nós somos todos misturados, mas aquela vida não tem mistura.

 

CLARO COMO CRISTAL

 

E, então, quando vivemos por esta vida _ e isto não é apenas uma declaração de fato, mas um teste de busca _ se você e eu viver por esta vida do Filho de Deus, iremos nos tornar pessoas mais e mais transparentes, absolutamente honestas, absolutamente corretos, absolutamente direitos. Tudo o que não for desta maneira em nós mostra que, de alguma forma, estamos contendo, ou não estamos nos movendo com esta vida. A cruz nos envolve nisto. Assim, o final da Bíblia nos dá um quadro da Cidade, como um dos símbolos da Igreja. Em sua inteira constituição ela é, como diz, como o puro ouro, ou vidro, ou jaspe ( Ap 21.11,18), e seu rio é a água da vida, livre e clara como cristal ( 22.1). É tudo claro _ este é o término da obra.

Esta é uma coisa verdadeiramente prática. Sobre cristãos verdadeiros _ cristãos que estão verdadeiramente crucificados com Cristo _ tem que haver uma progressividade firme em transparência, cada vez mais longe da duplicidade, da decepção, da escuridão, de tudo mais do gênero. Eles devem ser claros como a luz.

Esta é a resposta, bastante imperfeita, à pergunta _ Por quê a cruz? Pecado, justiça, e a determinação em relação a “O que é o quê”: o julgamento determinando, o julgamento pondo no lugar. ‘Fostes pesado na balança’ _ esta é a primeira coisa. ‘Fostes achado em falta’ _ este é o segundo estágio. ‘Teu reino está dividido’ _ o terceiro estágio. É tudo julgamento. Na cruz o Senhor Jesus efetuou tudo isto.

Isto é, talvez, o lado escuro. Porém, é uma libertação maravilhosa que o Senhor Jesus trouxe para nós em Sua cruz. Apenas pense no que estávamos envolvidos! 

Estávamos envolvidos no pecado de Satanás, estávamos envolvidos em sua rebelião, a nossa natureza foi envolvida nisto: porém, por meio de Sua cruz Ele nos salvou _’libertou-nos do império das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor’ (Cl 1.13) _ libertou-nos, deu-nos uma outra natureza, colocou-nos no caminho para a Cidade de Deus. Isto, como sabemos, não é geografia, mas condição espiritual; não uma coisa objetiva, mas um estado interior, subjetivo. Que dia será aquele quando formos parecidos com isto _ absolutamente livre do último vestígio do toque de Satanás, o toque da serpente, sobre a nossa natureza humana! Que grande dia será esse! Mas Ele nos colocou neste caminho quando viemos para a cruz. E ‘aquele que em vós começou a boa obra, Ele mesmo irá aperfeiçoá-la até o dia do Senhor Jesus Cristo’ (Fl 1.6).

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