1 - A ENCARNAÇÃO - POR QUE A ENCARNAÇÃO?

Naturalmente, para responder isto completamente, temos a obrigação de considerar todo o pensamento Divino e a concepção na criação do homem. A concepção do homem na mente de Deus, a vocação e o destino do homem _ tudo isso representa uma coisa muito importante na mente de Deus. Mas nós temos que permitir que isso venha a este ponto, a fim de nos levar mais adiante. Podemos dizer _ e corretamente _ que a Bíblia é toda ela sobre Deus. Isto é verdade.

Podemos dizer que a Bíblia é toda ela sobre o interesse de Deus em Seu Filho, e isto é totalmente verdade. Porém quando você se dá conta de ambos os fatos, você descobre que não pode separá-los do homem. A Bíblia é toda ela sobre o Filho de Deus _ sim, mas é sobre Deus e Seu relacionamento com o homem, e o relacionamento do homem com Ele. Quando você disser tudo, você chega no homem. Não deveríamos ficar interessados num Deus remoto, fora do campo de vida humana. A verdade é que tudo tem que se focar aqui em baixo, no homem, e descobrimos que a Bíblia é o livro do interesse de Deus no homem. De alguma maneira os interesses de Deus estão inexplicavelmente relacionados com o homem _ sua vocação e seu destino. Tudo isto e o que isto implica será reunido no que iremos dizer sobre a encarnação.

Por quê a encarnação? A resposta tem três lados. Primeiramente, por causa da redenção do homem. Segundo, por causa da reconstrução do homem. E terceiro, por causa da perfeição e da glorificação do homem.

 

(1) POR CAUSA DA REDENÇÃO DO HOMEM

 

Primeiramente, por causa da redenção do homem. A ideia comum sobre redenção está associada com o mercado de escravos _ ir ao mercado de escravos e comprar, redimir, aquilo que foi posto a venda. Existem, de fato, certos fragmentos da Escritura que dão esta ideia. “Vendido sob o pecado” (Rom. 7:14) é uma frase escriturística, mas precisamos de algum esclarecimento para isso. Você diz que redenção significa a ‘compra’ de um homem em um mercado de escravos. Ele foi posto à venda. Verdade; mas quem o pôs a venda? Até que você examine esta questão e responda, você não terá o significado de redenção. Quem o pôs à venda?

E se vendeu a si mesmo? Isto coloca um novo aspecto sobre as coisas. Falamos de um homem ‘vendendo a si mesmo para o Diabo’. Mas como ele fez isto? Bem, ele não se vendeu objetivamente, como quem vende alguns bens, alguma coisa, algum objeto, para alguém. Ele se vendeu a si mesmo subjetivamente _ ele se vendeu em sua alma. Ele realmente vendeu a sua alma ao Diabo.

Mas o que aconteceu exatamente? Vamos colocar da seguinte forma: Houve um dia quando alguém bateu, e ele abriu a porta; e aquele alguém começou a falar, e para falar traiçoeiramente, usando uma bonita linguagem, e vestido em termos bem atraentes; e, ao invés de bater a porta na cara daquele visitante, ele abriu um pouquinho a porta e escutou. Lembre-se _ este é sempre o primeiro passo para a escravidão, este é o primeiro movimento em direção a uma situação que exige redenção _ ouvir ao Diabo, e não reagir imediatamente com a pergunta: É esta a verdade de Deus, ou isto é falso para com Deus? É Deus uma pessoa como essa, ou Ele é diferente disso? Se todo cristão reagisse desta forma às sugestões e insinuações de Satanás, que situação diferente iria ocorrer na vida de muitos cristãos! Há muitos que estão em terrível escravidão porque eles ouviram e abriram a porta; nunca se confrontaram com esta questão: Você realmente acredita que Deus é um Deus como este? Deixe-me exortá-lo a tomar esta questão ao seu problema atual _ situações e condições, acusações e condenações que o inimigo está sempre tentando lançar sobre você, a fim de levá-lo para a escravidão _ e dizer: Deus é realmente assim?

 

A RAIZ DO PECADO: INCREDULIDADE

 

Quando o homem abre a porta de sua alma e ouve ao inimigo, ele abriu a si mesmo para a incredulidade. E lembre-se _ a incredulidade é a raiz do pecado.

Fiquemos bem certos sobre isto. Pode haver motivos por trás, mas a raiz do pecado é a incredulidade. É uma coisa que Deus não irá ter, uma coisa que põe Deus para trás, que o desprende. Quando há qualquer incredulidade, Deus fica pra trás; enquanto isto persiste, a brecha aumenta. Deus jamais irá se engajar onde exista incredulidade. Isto parece elementar? Isto é algo que nos persegue até o fim. Esta questão de fé em Deus é a base da nossa educação. Que seja dito que a medida na qual Deus não se compromete a Si mesmo, ou se compromete, é a medida da nossa fé. Quando o homem abre a porta para a incredulidade, Satanás põe o seu pé para dentro, diretamente para a alma do homem, e nunca o tira dali. Ele mantém aquela pegada na alma do homem a partir de então. De modo que agora a alma do homem, como ele é por natureza, fica ligada com os poderes do mal, e a força dessa ligação é a incredulidade. Até que esta incredulidade seja totalmente quebrada, despedaçada, a união entre o homem natural e Satanás continua.

A redenção, ou reivindicação, começa com a fé: isto é o que poderíamos chamar de evangelho simples. A fé é o começo exato da redenção. Mas a fé é também a base da redenção contínua, contínua reconquista ou reivindicação. A redenção, embora em Cristo esteja completa e perfeita, é algo que prossegue: nós estamos ‘recebendo o fim da fé, a salvação da nossa alma’ (1 Pe. 1:9). Esta questão prossegue continuamente; é progressivo. Embora final na obra de Cristo, ela começa em nós com o primeiro exercício de fé _ crer em Deus _ e prosseguir nesta base até o fim. Quão verdadeiro isto é, quando falhamos em crer em Deus, cessamos de crer em Deus, e temos questões sobre Deus, imediatamente entramos em algum tipo de escravidão; Satanás obtém certo apoio, ou consegue algum ganho.

Imediatamente alguma dúvida sobre o Senhor entra, e nos encontramos imediatamente presos; e a única maneira de se livrar é uma reconquista da fé em Deus novamente.

Agora, devido a sua incredulidade, Adão trouxe e estabeleceu para toda a raça humana um elo da alma com os poderes do mal. E esta é a natureza da escravidão.

Ele é vendido para um outro. Isto coloca o fundamento para um real e verdadeiro significado da redenção. Por que a encarnação/ ‘Um último Adão chegou para a luta e para o resgate’: um outro Homem chegou para redimir o homem. Mas oh, veremos, enquanto prosseguimos, que isto não foi mera atividade objetiva _ não foi apenas as coisas que Ele fez. Ele era, em Seu mais íntimo Ser, o Redentor.

Deixe-me colocar isto de outra forma: Ele era a redenção. Ele não apenas fez algo, mas Ele era aquilo. Isto irá ficar mais claro logo adiante. Porém aqui vemos a necessidade de um Homem que viesse para resgatar: um Homem que, devido a Sua não implicação pessoal na herança do pecado de Adão, possui uma vantagem clara e única. A encarnação foi para providenciar redenção para o homem em um Homem, e não apenas para o homem por meio de um Homem. Espero que você entenda o significado disso. É uma coisa tremenda ver não apenas o que Jesus fez, mas o que Ele era para resolver a situação.

 

(2) PARA A RE-CONSTITUIÇÃO DO HOMEM

 

Pelo ato de Adão, como vimos, o homem se tornou desordenado em sua constituição íntima, desarranjado, quebrado, um outro tipo de ser diferente daquilo que Deus o tinha feito e tinha intencionado que ele fosse. Ele foi roubado, e por causa disso deficiente; enganado, e por isso defraudado. Ele perdeu aquilo que tinha _ sua inocência. Ele perdeu aquilo que Deus queria que ele tivesse, e já tinha providenciado para ele, na base da fé em Si mesmo. Ele se tornou um ser culpado.

Lendo atrás com nossa Bíblia em nossas mãos, e a revelação plena da Escritura, somos agora capazes de entender o que o homem era pra ter. Tudo se torna claro agora. Ele era pra ter duas coisas.

Primeiro, ele era pra ter o Espírito de Deus habitando dentro dele. Ele era pra ser o templo de Deus. Toda Escritura agora torna isto perfeitamente claro, que esta era a intenção inicial de Deus, que Ele pudesse habitar no homem, que o Espírito de Deus pudesse residir dentro dele. Segundo, ele era pra ter dentro dele aquilo que é agora chamado no Novo Testamento “Vida Eterna” _ a vida que não acaba, a Vida Divina, a Vida não criada. Porém ele perdeu a vontade de Deus em ambos os aspectos. A encarnação teve o propósito expresso de gerar uma ‘nova criação’ de homem, onde aquelas duas coisas pudesse se tornar realidade: o homem agora habitado pelo Espírito de Deus; o homem possuindo a Vida Eterna. 

Esta é a resposta à pergunta: Por que a encarnação? E deixe-me repetir que o Senhor Jesus não apenas efetuou isto: Ele próprio foi o primeiro desta ordem, para gerar uma outra raça dessa espécie.

 

(3) PARA O APERFEIÇOAMENTO E A GLORIFICAÇÃO DO HOMEM

 

E finalmente, a perfeição e a glorificação do homem. Naturalmente, estas duas coisas são claramente vistas em Jesus, o Filho do Homem. Algumas das coisas mais sérias da Palavra de Deus são ditas nesta conexão. “Embora fosse Filho, contudo aprendeu a obediência por aquilo que sofreu”. (Heb. 5:8). “Ele foi aperfeiçoado através dos sofrimentos.” (Heb. 2:10). Não iremos parar com esta teologia ou doutrina. Podemos focá-la em uma palavra que já temos usado e sublinhado. Como foi Ele aperfeiçoado, ou tornado completo?

Penso em fé. Ele, como homem, aceitou voluntariamente uma base de fé _ para viver Sua vida sobre o princípio da fé em Deus, Seu Pai. E foi em relação a isto que cada prova e teste, e provação teve seu significado _ para ver se por algum meio o inimigo podia enredar o último Adão, como fez com o primeiro. Ele teve êxito com a primeira raça em apenas um ponto, e este ponto foi a incredulidade. Uma manobra tão bem sucedida poderia levá-lo a crer que não havia melhor. ‘Isto é o que produz o resultado - este é o ponto sobre o qual focalizar’, podemos quase ouvi-lo dizer.

Isto abre a vida do Senhor Jesus muito mais plenamente e claramente para reconhecer que o foco principal de todas as Suas provas, testes e assaltos satânicos, cada coisa inimaginável que estava trabalhando contra Ele _ e nós de modo algum temos a história toda _ tinha como seu objeto a insinuação de alguma questão sobre Seu Pai. O inimigo sabia que a devastação de uma nova criação poderia ser trazida sobre esta questão. E ele sabe isto hoje, em relação a você e a mim. Então, o Filho do Homem aperfeiçoado pelos sofrimentos. De que forma? Quais foram os Seus sofrimentos? Não me refiro aos Seus sofrimentos físicos. Seus sofrimentos físicos não foram outra coisa senão o inimigo tentando atingir a Sua alma. O verdadeiro sofrimento que o Filho de Deus, o Filho do Homem, conheceu foi esta constante e persistente pressão investida de todo lado, os esforços incessantes do inimigo em se posicionar entre Jesus e Seu Pai. Esta foi a essência de Sua agonia suprema quando gritou: ‘Por que me abandonaste’. Eu não creio, e acho que você também não crê, que aquele grito de Jesus no jardim _ “Se for possível, afasta de mim este cálice” _ foi um clamor de um Homem que não estava preparado para morrer, até mesmo o tipo de morte que ele estava para enfrentar. Este tipo de coisa tem, naturalmente, dado lugar para uma doutrina e uma teologia extremamente falsa. Jesus sabia o que Ele tinha que enfrentar ao ser feito pecado: sabia da última e terrível questão posta naquele momento, quando a face do Pai iria se retirar dele, e Ele seria abandonado, como a cabra expulsa para o deserto, sozinho, _ abandonado por Deus naquele terrível momento. Este foi o ponto do Seu sofrimento, e este foi a soma do Seu sofrimento.

Porém, através de tudo isto, através de todos os sofrimentos, Ele foi tornado perfeito _ perfeito na fé. Que significado isto dá a palavras tais como essas, tão familiares a nós, e usadas tão superficialmente: “A vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou e a Si mesmo se entregou por mim”. (Gal. 2:20, A.V.). Que fé para se viver por ela! Se somente esta fé pudesse ser transmitida para nós _ se somente esta fé pudesse estar em nós no poder do Espírito Santo! Então poderíamos enfrentar tudo. “Eu vivo pela fé do Filho de Deus” — provado até o último grau, e triunfante. Fico feliz que o final da história não ficou sobre a nota do abandono de Deus, mas sobre a nota do triunfo: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito”. Está tudo consumado _ É vitória! Esta é a fé aperfeiçoada através do sofrimento, e tornada completa pela obediência _ pois a obediência é sempre a prova da fé. Não existe tal coisa de fé sem obediência. 

 

POR QUE A TRANSFIGURAÇÃO

 

Neste ponto poderíamos colocar uma questão extra: Por que a transfiguração? A transfiguração representou o fim de Seu próprio curso, o final do Seu próprio caminho. Ele tinha viajado pela estrada da provação, a estrada da absoluta consagração ao Seu Pai. Em relação a Ele, pessoalmente, Ele não tinha mais que avançar. Tinha sido obediente _ aquilo foi o fim da estrada para Ele. A partir daí a glória podia vir, então. Para Ele há glória _ a transfiguração: um Homem que tinha andado todo caminho com Deus em obediência de fé foi glorificado. Porém, quanto ao resto, isto é para nós _ esta é a nossa parte. Ele veio da glória, e, ‘pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz’ (Heb. 12:2). Ele tomou o nosso lugar, a fim de nos levar para o Seu lugar _ para a glória _ “muitos filhos à glória” (Heb. 2:10), e Ele por isso foi tornado ‘perfeito através do sofrimento’. Um Homem glorificado, através da fé, para o homem _ nada separado de nós.

Sua glorificação, como veremos mais tarde, é uma parte da redenção. É uma parte da reconstituição; e por isso, uma vez que a redenção e a reconstituição são para nós em Cristo, a glorificação também é para nós Nele. ‘Glorificados juntamente com Ele’ (Rom. 8:17). Ele foi capaz de dizer no final: ‘Pai, tenho glorificado a Ti sobre a terra’; e por isso Ele também podia falar: ‘Pai, glorifica-Me... com a glória que Eu tinha contigo antes da fundação do mundo’ (Jo. 17:4–5). O ponto é que aqui sobre esta terra o Senhor Jesus viveu uma vida de fé, e foi absolutamente dependente do Pai para tudo, como você e eu somos. Ele teve uma vida de fé tão absoluta como jamais foi exigido de nós. E sobre esta base, como Homem, Ele caminhou em tal satisfação a Deus que pode ser glorificado. Mas lembre-se, a encarnação não foi para Ele mesmo: foi para nós, e tudo o que estava ligado à encarnação foi para nós. É nossa redenção, nossa reconstituição e nossa glorificação através do aperfeiçoamento Dele.

 

O QUE CRISTO É PARA NÓS

 

Agora, tudo isto lança o fundamento para o crer — é uma pena que não tenhamos a tradução exata — ‘crer no, ou em Jesus’. Apenas dizer: “Crer no Senhor Jesus Cristo”, é insuficiente; deixa muito a desejar. Isto é posicional: india uma mudança de posição, um movimento: ‘Crer no Senhor Jesus Cristo. ’ Realmente significa isto: que há na fé verdadeira algo que O faz, por assim dizer, em nós mesmos, e nós mesmos dentro Dele. Não me compreenda mal: Não estou falando sobre a Deidade _ estou falando sobre o Filho do Homem. Há algo de profunda significância espiritual nesta palavra na Tabela do Senhor: “Meu corpo, que é por vós”. Rejeitando as idéias erradas e extremadas associadas com a transubstanciação, e tudo mais, atrás disso existe algo deixado para a dispensação para reconhecer, até que Ele venha. Atrás disso existe este princípio: aquela apropriação da fé do Senhor Jesus faz em nós o que Ele é. Fomos redimidos pela fé Nele. 

Fomos reconstituídos pela fé Nele. Fomos aperfeiçoados pela fé Nele.

Estamos glorificados Nele pela fé. Mas isto não é apenas objetivo _ é uma questão de tomarmos a posição que tudo o que é verdade para Ele é verdade para nós.

Quão impossível é explicar! Mas você e eu temos que aprender o que isto realmente significa tomar a nossa posição, em fé, em relação aquilo que Jesus Cristo é _ porque, então, algo acontece. Os nossos problemas surgem do permanecer no terreno do que somos, ou sobre aparências ou argumentos _ algo objetivo _ ao invés de assumir nossa posição sobre o terreno de que o Filho de Deus se fez carne, não apenas para realizar, mas para Ele mesmo ser a minha redenção. E por fé Nele há redenção. Ele veio para ser a minha reconstituição: e, pela fé Nele, através da ação do Espírito Santo, algo acontece, e eu sou reconstituído. Ele veio para ser a minha perfeição: e pela fé Nele o Espírito Santo realiza a obra da minha perfeição. Ele veio para ser a minha glorificação: e a fé dá ao Espírito Santo o requisito, essencial, indispensável campo para nos levar para a glória de Cristo, para sermos juntamente glorificados com Ele.

Até crermos, e crer no Senhor Jesus, o Espírito Santo permanece imóvel. Você pode talvez enganar a você mesmo, mas você não pode enganar o Espírito Santo. Você não pode ter um pé em um terreno e o outro pé em um outro terreno. Se você tiver um pé naquilo que você é, e o outro pé _ você pensa _ no que Cristo é, você é uma pessoa dividida. O Espírito Santo não se engaja: Ele fica imóvel e espera. Ele diz: Ponha ambos os pés sobre Cristo, e, então, irei começar a fazer algo. 

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