A igreja local e sua pureza

Introdução

A importância de pureza em uma igreja local está intimamente e integralmente ligada à sua santidade. Através de todo o Velho Testamento há uma ênfase clara e definitiva na santidade de Deus, e do lugar onde Ele habita no meio do Seu povo reunido, tanto no Tabernáculo como mais tarde no Templo. Também no Novo Testamento há muitas referências a esta mesma verdade, começando com as palavras do Senhor Jesus nos Evangelhos e mais tarde no ensino das Epístolas. Como com outros assuntos doutrinários e práticos do Novo Testamento, é importante identificar princípios relacionados encontrados nas Escrituras do Velho Testamento que têm aplicação a todas as dispensações.

Considerações do Velho Testamento

“Não toqueis coisa imunda; sai do meio dela, purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor” (Is 52:11). Embora o profeta Isaías usasse estas palavras em outro contexto, elas expressam adequadamente a mente e a vontade de Deus em relação à pureza que deveria caracterizar a tribo de Levi, cuja responsabilidade era carregar os vasos santos da casa de Deus. Para conservar a santidade da casa de Deus, os sacerdotes e levitas precisavam ser puros no sentido moral e cerimonial. Em Levítico cap. 8, Deus prescreve os aspectos e maneiras de purificação que deveriam ser aplicados para fazê-los e mantê-los puros. A palavra “santo”, nas suas várias formas, é usada muitas vezes em Êxodo, Levítico e Números.

Jeová julgava a falta desta pureza de várias maneiras, e havia ocasiões quando o castigo de Deus caiu sobre o Seu povo quando a impureza foi descoberta. A santidade de Deus tinha que ser conservada na vida diária da nação de Israel. Um exemplo notável ocorreu bem cedo na jornada pelo deserto, quando a cobiça de Acã foi escondida de todos, mas não de Deus (Js 7:10-11, 25-26). A severidade do julgamento que caiu neste caso revela o alto padrão exigido por Deus na vida do Seu povo. O pecado de Nadabe e Abiú também revelou este padrão Divino de santidade para aqueles que tinham a responsabilidade sacerdotal na nação (Lv 10:1-2). O julgamento que caiu sobre eles, naquela ocasião, revela a severidade com que Deus viu o desvio do padrão que Ele tinha dado para a Sua habitação Divina, e de como o homem deveria aproximar-se dela.

Considerações do Novo Testamento

Leitores cuidadosos do Novo Testamento sabem que nesta dispensação a maneira como Deus trata o Seu povo remido é caracterizada por dois aspectos importantes. O primeiro é o de um Homem vivo e exaltado: Jesus, o Filho de Deus, que foi subiu ao Céu e agora está assentado a destra de Deus. O segundo é o da presença, na Terra, do Espírito Santo de Deus. O Novo Testamento ensina que cada verdadeiro cristão, nascido de Deus no presente dia da graça, é habitado pessoalmente e corporalmente pelo Espírito Santo: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Co 6:19). Também, aprendemos que o Espírito Santo habita na igreja local: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Co 3:16).

A presença pessoal de uma Pessoa Divina e santa exige que tanto o cristão, quanto a igreja local com que está associado, sejam santos.

Qualquer desvio da mente e da vontade de Deus, seja em doutrina ou na maneira de viver, infringirá na santidade com que são divinamente investidos: “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Co 3:17). Este princípio se aplica ao aspecto individual e corporativo do templo de Deus e, portanto, enfatiza a importância do que a Bíblia ensina sobre os padrões morais e doutrinários desejados por Deus, em ambas estas esferas.

Também enfatiza a razão por que é necessário haver autodisciplina na vida do cristão, e disciplina nos ajuntamentos daqueles que se reúnem no Nome do nosso Senhor Jesus Cristo.

O alvo de Satanás é estragar e destruir a santidade pessoal e coletiva do povo de Deus. O Senhor Jesus falou destas coisas no Seu ministério aos Seus discípulos, e numa conversa com eles revelou que o pecado em qualquer ajuntamento é como fermento na massa, porque se espalha: “E Jesus disse-lhes: Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus … Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?

Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus” (Mt 16:6, 11-12). O Senhor Jesus também falou do fermento de Herodes: “E ordenou-lhes: dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes” (Mc 8:15). Destas Escrituras fica claro que o fermento dos fariseus e saduceus se refere ao potencial de crescimento de falsa doutrina, mas o fermento de Herodes se refere ao potencial de crescimento da prática imoral. Todos sabiam, nos dias de João Batista, que Herodes já havia

divorciado de sua esposa e tomado a mulher do seu irmão. Sobre isso João dissera: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão” (Mc 6:18).

João sabia que Herodes estava vivendo uma vida de adultério perpétuo.

O significado destas palavras do Senhor sobre o fermento se espalhando, é desenvolvido em referências posteriores nas epístolas do Novo Testamento. Na igreja em Corinto havia um homem que tinha pecado moralmente, e continuava no seu pecado. O ensino de I Coríntios 5 é sobre este problema, e parte do conselho dado pelo apostolo foi: “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho” (vs. 6-7), e “tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (v. 13). Mais tarde, ao escrever aos gálatas, o mesmo apóstolo sabia que os ventos fortes de falsa doutrina estavam soprando naquela região. Os judaizantes estavam ensinando que os cristãos dentre os gentios não eram totalmente salvos por não serem circuncidados, e por não observarem e obedecerem outros aspectos da Lei. Descrevendo esta doutrina errada, o apóstolo escreveu: “Um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gl 5:9). É muito importante que cada igreja local lembre-se da importância da pureza da sua doutrina, e também da pureza moral de cada santo em comunhão. Se a presença de impureza moral ou doutrinária for tolerada, logo se espalhará e prejudicará todo o grupo.

Igrejas do Novo Testamento

“Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa. Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (I Tm 3:14-15). A importância de um ambiente santo na igreja local é enfatizada em muitas passagens do Novo Testamento, e a importância de comportamento conveniente em tais ajuntamentos também é ensinado. Na citação acima, Paulo afirma que sua razão por escrever a primeira epístola a Timóteo era para que um comportamento conveniente na igreja local pudesse ser visto. No versículo seguinte, vemos que este comportamento poderia ser chamado de “piedade”, e esta é uma palavra chave nesta epístola. A piedade foi manifestada na encarnação e na vida terrena do nosso Senhor Jesus Cristo. A implicação clara disso é que todos os salvos deveriam manifestar este mesmo comportamento piedoso pessoalmente e coletivamente.

O plantio de igrejas locais

O livro de Atos contém o relato da descida e do batismo do Espírito Santo, e do progresso do testemunho pessoal e coletivo durante os primeiros trinta anos, aproximadamente, deste “Dia da graça”. Um aspecto especial deste período foi o começo, ou o plantio, de igrejas locais do Novo Testamento. A diferença entre a Igreja, que é o corpo de Cristo, e as muitas igrejas locais é descrita em mais detalhes no primeiro capítulo deste livro. Devemos notar que as igrejas locais mencionadas eram, todas, o resultado da pregação do Evangelho nas áreas geográficas alcançadas pela expansão do testemunho. Não há exemplo de nenhuma igreja sendo começada meramente por conveniência geográfica, ou por causa de opiniões diferentes sobre assuntos doutrinários. Cada novo grupo era evidência de que Deus estava trabalhando através dos Seus servos naquela localidade específica.

O padrão das igrejas locais

“De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2:41-42). No livro de Atos, Lucas começa seu relato histórico com esta primeira igreja do Novo Testamento, que estava em Jerusalém e que era singular, porque foi o resultado da pregação do Evangelho por Pedro quando três mil almas foram salvas em um só dia.

Os quatro aspectos em que continuaram são claramente descritos: a doutrina dos apóstolos, a comunhão, o partir do pão e as orações, e são tão vitais hoje como quando praticados pela primeira vez. Além disso, temos as práticas e os princípios das demais igrejas que foram plantadas mais tarde, e que claramente estabelecem a base para o testemunho das igrejas locais durante todo o período da Igreja. Muitos destes assuntos são confirmados e consolidados pelos escritos apostólicos que agora formam parte das Escrituras inspiradas, e são o assunto do ensino e exposição neste livro.

A pureza das igrejas locais

“Vos já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim” (Jo 15:3-4). Estas palavras importantes, faladas pelo Senhor Jesus Cristo aos Seus discípulos, contêm o segredo da pureza na vida pessoal e pública de todos que são filhos de Deus. Embora seja óbvio que o primeiro requisito para alguém estar em comunhão numa igreja local é que seja “nascido de novo” e batizado, também é vital que esteja vivendo em comunhão diária com Deus. O mundo em que vivemos é uma esfera de contaminação constante, e cada dia traz novas tentações. O assunto tratado mais adiante, sobre a disciplina da igreja, somente será necessário quando a vida do salvo se torna relaxada naqueles exercícios espirituais diários que podem dar a vitória sobre as várias tentações do mundo, da carne e do diabo. A pureza espiritual é possível pelo hábito constante de ler e se alimentar da Palavra de Deus, de passar tempos cada dia em ações de graças, confissão e oração. Isso é “permanecer em Cristo”.

O nível espiritual da igreja local depende do nível espiritual de cada vida individual perante Deus. Em princípio isto está de acordo com as palavras do Salmista: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119:11). A Palavra de Deus afastará o cristão do pecado, e o pecado afastará o cristão da Palavra de Deus.

As formas de disciplina na igreja local

Por causa do ambiente santo exigido por Deus na igreja, lamentavelmente é possível que haja desvio deste santo padrão de Deus. No Novo Testamento achamos vários exemplos de tal desvio, e como deve ser tratado. Como na esfera familiar, toda a disciplina é administrada visando a saúde espiritual e a atividade da igreja, e também dos indivíduos envolvidos.

A disciplina que inclui o afastamento

Esta forma de disciplina frequentemente é chamada de excomunhão, e as Escrituras mostram que é aplicável a falhas nos aspectos espirituais morais, doutrinários e práticos. Esta disciplina é necessária em todas as situações onde o estado espiritual da igreja tem sido perturbado, e somente pode ser restaurado com arrependimento perante Deus e uma volta às condições espirituais anteriores. Vamos considerar agora três aspectos diferentes de falhas encontradas no Novo Testamento.

Falha moral. “Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus … Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idolatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; como tal nem ainda comais … Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (I Co 5:4-5, 11, 13). Esta situação triste se encontrava na igreja em Corinto, que tinha sido estabelecida pela pregação do apóstolo Paulo.

Aquela igreja era preciosa ao coração de Paulo, e ele considerava os irmãos ali como “filhos amados” (I Co 4:14). O apóstolo tinha recebido notícias da grave falha moral que ocorrera na vida de um irmão da igreja, e os fatos eram bem conhecidos e estavam espalhando-se rapidamente. O conselho divinamente inspirado, dado em I Coríntios 5, é muito claro, e ensina que tal pecado e seus efeitos não poderiam ser permitidos a continuar, senão a corrupção se espalharia para o prejuízo de toda a igreja. Também é revelado que a atitude da igreja a estas circunstâncias não fora apropriada, e em vez de mostrar humildade e arrependimento perante Deus, havia um espírito orgulhoso e falta de tristeza. Do conselho dado surgem alguns princípios que ajudarão a guiar qualquer igreja em circunstâncias semelhantes:

• Todos os fatos devem ser conhecidos e considerados.

• A culpa precisa ser provada.

• Tal pecado pode se espalhar na igreja.

• Antes de agir, deve haver humildade, tristeza e uma espera em Deus.

• O culpado precisa ser “colocado fora” da igreja local.

• Toda a disciplina deve ser administrada visando a restauração, se houver arrependimento.

• A verdade da expressão “nem ainda comais” deve ser notada e praticada.

Além destas considerações, é importante observar que o apóstolo estava preocupado porque a igreja não tinha lamentado ou sentido tristeza por tal pecado ter acontecido. De fato, a linguagem usada parece indicar que se tivessem lamentado perante Deus, isto poderia ter resultado em Deus agir, como eles agora foram instruídos a fazer. Também devemos observar que existem erros tão graves e complicados que não podem ser considerados por todos os salvos, publicamente. Em tais casos a igreja local terá que confiar no relato dado pelos seus anciãos, e apoiar as suas recomendações. Isso ainda capacitará a igreja toda a cumprir suas responsabilidades de receber novos salvos na comunhão, e também de afastar alguém quando necessário.

As palavras diferentes usadas em I Coríntios 5:11 descrevem comportamento intensamente pecaminoso na esfera moral. Elas têm causado confusão nas mentes de muitos, e precisam ser cuidadosamente consideradas.

Devasso (ou “fornicário”, VB), é um termo que, quando usado sozinho, se refere a qualquer tipo de impureza sexual e desvios comportamentais. A palavra no grego original é porneia, de onde também vêm as palavras “pornografia” e “fornicação”. Inclui todo tipo de prostituição, adultério, incesto, homossexualidade, lesbianismo, bestialidade, pedofilia, etc., e este é o seu significado nesta passagem.

Contudo, devemos notar que quando é usada no mesmo contexto que “adultério”, claramente parece ter o significado específico de intimidade física anterior ao casamento. Adultério sempre se refere à intimidade física de uma pessoa casada com alguém que não é o seu cônjuge. Uma definição literal de adultério é dada em Ez 16:38 (AV): “E julgar-te-ei como são julgadas as que rompem* o laço do matrimônio”. Esta tradução deixa bem claro o significado da palavra, e enfatiza que ela descreve a infidelidade ao compromisso do matrimônio.

Avarento descreve aquele que deseja ter mais do que tem. Muitas vezes é difícil identificar e provar a existência desta falha moral, mas o fato de estar incluído aqui, entre os pecados que requerem um afastamento da comunhão da igreja, prova que é um pecado grave. Hoje, em dias de loterias e meios semelhantes de obter lucro fácil, é importante que o povo de Deus dê atenção às palavras de Paulo: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão” (I Tm 6:9-11). Nestes versículos podemos ver o perigo moral de desejar riquezas. Alguém culpado de roubo precisa ser incluído nesta categoria, e disciplinado de acordo.

* As versões em português traduzem “adúlteras”. (N. do E.)

Um idólatra era alguém que adorava ídolos feitos pelas mãos de homens.

Muitos da igreja em Corinto tinham sido salvos e libertos desta prática, e o apóstolo Paulo tinha escrito a eles que a energia por trás de cada ídolo era o poder de Satanás e seus emissários. Voltar aos ídolos seria deixar de servir, e em efeito renunciar, o verdadeiro e único Deus. Tais atos mereceriam o afastamento da igreja. Talvez este pecado seja raro em nossa sociedade, mas há movimentos modernos que exibem algumas condições semelhantes.

O maldizente é uma categoria que facilmente pode ser mal entendida.

A palavra indica alguém que fala injúrias e que usa, com facilidade, linguagem violenta e abusiva contra outros. Obviamente, isso é totalmente contrário ao tipo de caráter que o salvo deve demonstrar. Lemos o seguinte do Senhor Jesus: “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (I Pe 2:23). Cada salvo deve imitar a atitude de Cristo em tais circunstâncias.

Lamentavelmente, entre os santos podem surgir atitudes de agressão e antipatia uns contra os outros, e nestas condições a carne que existe em cada filho de Deus pode produzir obras que entristecerão o coração de Deus. É nestas circunstâncias que o pecado de maledicência pode ocorrer. No contexto de I Coríntios 5, a disciplina mencionada somente seria administrada se esta maledicência continuasse depois de avisos apropriados serem dados.

Calúnia é outra forma de maledicência que precisa ser julgada quando descoberta e provada.

A palavra beberrão quase não precisa de explicação, e descreve aquele que habitualmente consome bebida forte. O sentido geral das Escrituras do Velho e do Novo Testamento apontam claramente para a abstinência total.

As estatísticas atuais revelam que este é um dos problemas mais destacados em todo o mundo. A bebida forte está ligada com quase toda forma de maldade moral conhecida, e deve ser rigorosamente evitada por todos que tomam o Nome de Cristo.

O roubador descreve aquele que tira as possessões de outro, usando várias formas de decepção. É frequentemente visto no mundo dos negócios, onde os inocentes que sabem pouco sobre as complexidades dos sistemas financeiros modernos são enganados por firmas que se declaram falidas, para que os seus credores não recebam o que devem receber.

Todas estas categorias são mencionadas para que os responsáveis a Deus por manter a pureza da igreja local estejam divinamente avisados sobre como tratar os problemas que podem surgir.

Falha doutrinária. “Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? … Um pouco de fermento leveda toda a massa. Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação … Eu queria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando” (Gl 5:7, 9-10, 12). Mais cedo neste capítulo, vimos que o Senhor Jesus usou o crescimento do fermento na massa como ilustração da facilidade com que o mal pode se espalhar na igreja local. É de grande importância observar que a afirmação exata usada em I Coríntios 5:6 sobre o fermento do erro moral, é repetida aqui na Epístola aos Gálatas, no contexto do erro doutrinário. Isto revela a importância da pureza e poder do verdadeiro ensino bíblico na vida da igreja local.

Também deve ser enfatizado que isso tem aplicação, não somente ao que é ensinado, mas também ao que é crido por aqueles que ensinam. Há uma referência a isto nas palavras do Senhor Jesus Cristo à igreja em Pérgamo: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio. Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca” (Ap 2:14-16). Estas palavras revelam um aspecto muito importante do perigo associado com doutrina errada na vida da igreja. Alguns têm sugerido que é permissível receber aqueles que têm doutrinas erradas, se eles prometerem nunca ensiná-las. Isto é muito perigoso, e contrário a estas palavras do Senhor Jesus que citamos.

A razão por incluir a falha doutrinária entre os pecados exigindo a separação da comunhão pode ser questionada, mas devemos observar que na passagem em Gálatas 5, o conselho inspirado, dado pelo Apóstolo, enfatiza a gravidade do resultado que o ensino errado teve sobre as igrejas da Galácia. As afirmações usadas devem ser consideradas cuidadosamente: “quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? … Um pouco de fermento leveda toda a massa … aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação … Eu queria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando” (Gl 5:7-12). Evidentemente, a falha de Himeneu e Alexandre era desta natureza doutrinária, e o veredicto do Apóstolo foi: “os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (I Tm 1:20).

Comparando isto com as mesmas palavras usadas em I Coríntios 5:5, vemos indicado o ato de colocar fora da comunhão da igreja local. Mesmo que não usemos estas palavras apostólicas hoje em dia quando alguém precisa ser tirado da comunhão, elas descrevem muito bem o que acontece neste momento solene. Estar na comunhão de uma igreja local significa estar numa esfera Divina, onde a presença de Cristo pode ser conhecida e a bênção de Deus gozada no poder do Espírito Santo. Quando alguém é colocado fora desta esfera, ele é entregue à esfera de Satanás. Para um verdadeiro filho de Deus estar em tal lugar causará desconforto e tristeza contínua, e as palavras que seguem no versículo (“para que aprendam …”, I Tm 1:20) mostram que logo aprenderão a não continuar nestas coisas que necessitaram uma disciplina tão séria.

Falha prática. “E se ele não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar à igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu” (Mt 18:17-18). Há somente duas passagens onde encontramos o Senhor Jesus falando da Igreja, e ambas são distintas uma da outra. Na primeira, em Mateus 16, Ele claramente Se refere à Igreja que é o Corpo, nesta presente dispensação. Este grande Corpo, composto de judeus e gentios, começou no dia de Pentecostes e serácompleto no Arrebatamento, quando Ele virá aos ares para chamar e levar a Si mesmo o Corpo, a Noiva do Cordeiro. A segunda passagem é Mateus 18, que se refere a uma igreja local que se reúne em um determinado local geográfico. Este agrupamento é compostos de santos que se reúnem em, e ao, nome do nosso Senhor Jesus Cristo. No contexto do ensino do Senhor, nos vs. 15-20, Ele se referiu a uma situação que poderia facilmente afetar o ajuntamento local — a transgressão entre dois irmãos.

O Senhor destacou três passos que devem ser tomados na busca pela restauração do irmão errado. O passo final que o Senhor mostrou seria que o assunto deveria ser levado à igreja. Isso imediatamente mostra a diferença entre este contexto e o cap. 16. A igreja local é um corpo tangível composto de pessoas vivas, em contraste com a Igreja que é o Corpo de Cristo. Se o ofensor recusasse ouvir o veredicto da igreja local, ele deveria ser considerado “como gentio e publicano”. Esta disciplina tem sido interpretada por alguns como uma coisa pessoal, mas um tratamento consistente dos pronomes usados no contexto, e continuando no v. 18, indica que a igreja também está incluída nesta disciplina. Como disse o falecido William Rodgers: “Se não é a igreja que coloca o homem fora, no v. 17, por que o versículo seguinte diz que tudo que ligardes na terra terá sido ligado nos céus?” Aqui, portanto, temos a disciplina de colocar fora da comunhão, por causa de uma falha em certo relacionamento pessoal dentro da igreja local.

Os princípios gerais destacados acima, na parte sobre “falha moral”, são aplicáveis à toda forma de disciplina que inclui “colocar fora da comunhão”, e também devemos lembrar do assunto importante da atitude dos santos para com o disciplinado. Não é falta de amor obedecer às palavras: “com esse tal, nem ainda comeis” (I Co 5:11). Esta ordem Divina de não se associar com aqueles em disciplina tem como finalidade sua possível restauração.

É a responsabilidade dos pastores do rebanho mostrar interesse na pessoa disciplinada, para encorajar o arrependimento e a restauração.

Disciplina que inclui advertência pessoal

“E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós. Rogamo-vos também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos” (I Ts 5:12-14). É bom saber que o aspecto da disciplina já considerado deve ser algo raro na vida da igreja local. É uma aplicação extrema da verdade, que geralmente não será necessária. Outras formas de disciplina são necessárias ocasionalmente, e há várias passagens no Novo Testamento que dão ensino para tais ocasiões. A primeira epístola de Paulo à igreja recém-estabelecida em Tessalônica, contém conselhos sobre o problema de desordem que pode surgir entre o povo de Deus. Parece que a igreja local era muito nova, e não tinha indivíduos formalmente identificados que “tomavam a liderança” entre eles.

Em I Tessalonicenses 5, Paulo está dando conselhos para ajudar estes novos convertidos a reconhecer aqueles que estavam trabalhando entre eles e presidindo sobre eles. É bom quando estes irmãos podem ser facilmente reconhecidos “por causa da sua obra”. Também, é bom notar como nesta mesma passagem o apóstolo dá conselho a estes irmãos que estavam aparecendo e sendo reconhecidos como os pastores entre o rebanho de Deus.

O conselho dado é resumido, mas muito importante para cada igreja local.

É evidente que houve a necessidade de avisar sobre desordem, embora a natureza do problema não é mencionado, mas sem dúvida aquela igreja saberia bem a quem Paulo se referia.

A segunda epístola a esta mesma igreja nos dá a resposta quanto à natureza do problema em Tessalônica: “Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão” (II Ts 3:11-12).

Se as admoestações sugeridas na primeira carta foram dadas, elas não foram obedecidas, e assim outra ação era necessária. Se mais admoestações fossem dadas, talvez haveria menos problemas prolongados nas igrejas. Há uma grande semelhança nas palavras usadas nas duas epístolas, e por isto é evidente que se referem às mesmas pessoas. As advertências dadas na segunda epístola são um bom exemplo deste tipo de disciplina.

Disciplina que inclui afastamento pessoal

“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” (Rm 16:17-18).

“Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu” (II Ts 3:6). Não é fácil seguir a ação recomendada aqui, mas há ocasiões quando medidas severas são necessárias. O conselho aos salvos em Roma se refere a alguém que, entre os irmãos, causa diferenças e divisões, que são odiadas por Deus. Este tipo de pessoa deve ser identificada e evitada. Amizade e comunhão com tais indivíduos acabará produzindo um espírito semelhante naqueles que os acompanham, e também os encorajará a continuar na sua prática perigosa. Não é a vontade de Deus que os salvos promovam qualquer forma de divisão entre o povo de Senhor. Separação é um princípio Divino que devemos praticar sempre, mas divisão é um princípio satânico que deve ser evitado. Separação expressa o desejo de Deus para o Seu povo, que embora vivendo neste mundo, não devem ser deste mundo. A vida do salvo deve ser separada do mundo e em comunhão com Deus. Por outro lado, divisão expressa o desejo de Satanás de separar o povo de Deus uns dos outros. Foi visto cedo no reino de Israel, quando Jeroboão causou este pecado em Israel. Ele não somente introduziu a idolatria, mas também causou a divisão entre a parte ao norte, chamada Israel, e a parte ao sul, chamada Judá.

Outro aspecto de afastamento pessoal é mencionado por Paulo quando, escrevendo a Tito, ele diz: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando  que não convém, por torpe ganância” (Tt 1:9-11). As igrejas em Creta tinham sido invadidas por aqueles que ensinavam o judaísmo, e a instrução dada aqui é para que fossem fechadas as suas bocas. Devemos notar que antes disto foi dada a exortação aos anciãos da igreja, não somente para reterem firmemente a fiel palavra nas suas próprias vidas, mas também para exortar e convencer os contradizentes pela sã doutrina.

O grande poder contra a falsa doutrina em qualquer igreja é o ensino cuidadoso da Palavra de Deus. Isso não deve ser dado apenas por irmãos que visitam a igreja. É necessário que os irmãos locais sejam capazes de ensinar os santos. Contudo, aqui o apóstolo também avisa que “bocas precisam ser tapadas”, portanto há aqueles que precisam ser silenciados e proibidos de participar publicamente se continuarem a apresentar ensino falso.

A persistência nesta prática errada mereceria outra forma de disciplina mais severa, como vimos anteriormente neste capítulo.

Disciplina que inclui preservação pessoal

“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gl 6:1). “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna. E apiedai-vos de alguns, usando de discernimento; e salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne” (Jd vs. 21-23). É bom que o Novo Testamento nos dê conselhos sobre situações que não merecem, necessariamente, retribuição. A palavra “encaminhar” em Gálatas 6 descreve o ato de colocar um osso deslocado de volta no lugar. Homens espirituais sempre procurarão ajudar, com cuidado e habilidade, os que falharam. A passagem de Judas citada acima expressa a necessidade de compaixão e ajuda quando os santos se desviam do caminho certo. É muito bom para a vida da igreja local quando um irmão, ou uma irmã, que falhou pode ser restaurado para uma condição espiritual saudável. 

“Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas.

Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (I Tm 5:19-20). É importante observar que todos em comunhão na igreja local estão sujeitos aos padrões e exigências de santidade que temos mencionado na primeira parte deste capítulo.

Estas palavras do apóstolo Paulo são parte de uma passagem que trata especialmente com anciãos:

• vs. 17-18 — Consideração pelos anciãos e pelo trabalho que fazem;

• vs. 19-21 — Acusações que podem ser feitas contra os anciãos;

• vs. 22-25 — Cuidado necessário no reconhecimento dos anciãos.

Na primeira parte a ênfase está no valor do trabalho no qual os anciãos estão envolvidos, e como podem precisar de ajuda prática. A segunda parte é a razão por esta passagem ser apresentada no presente capítulo.

O v. 19 mostra os perigos que os anciãos podem enfrentar. A história de Israel é marcada por muitas murmurações e reclamações levantadas contra os que os guiavam na caminhada pelo deserto, e também quando chegaram à terra de Canaã. Lamentavelmente, este mesmo espírito frequentemente é visto na vida duma igreja local. A proteção Divina para aqueles que têm a liderança é que nenhuma acusação contra um ancião deve ser considerada se não tiver base na palavra de duas ou três testemunhas.

Isto em si é uma provisão espiritualmente dada àqueles que servem ao Senhor neste trabalho.

O próximo versículo menciona “os que pecarem”. Pelo contexto e estrutura gramatical, é normal aceitar que o assunto neste versículo ainda se refere aos anciãos. Assim, vemos aqui a gravidade do pecado praticado por um ancião. O Velho Testamento dá exemplos de falhas de líderes espirituais, e da gravidade com que Deus os tratou. A repreensão pública dada a tais é para que a igreja toda seja espiritualmente purificada e corrigida perante Deus. Não é sem importância que a incumbência dada em seguida sobre estes assuntos é, também, diante de três testemunhas, a saber: “Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos” (v. 21).

A parte final desta passagem fala sobre o cuidado necessário no reconhecimento daqueles realmente capacitados para este trabalho de pastorear o rebanho. As boas e más qualidades de alguns são facilmente reconhecidas, mas com outros, estas coisas demoram a ser vistas. Este fato exige cuidado: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos”.

Por James R. Baker, Escócia

 

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