A igreja local e sua comemoração

Introdução

São poucos os cristãos que não se lembram da primeira ocasião em que se reuniram em comunhão com a sua igreja local para lembrar o Senhor Jesus Cristo. A memória evocativa de estar num ambiente quieto, com a atenção de todos os reunidos centralizada naquele que estava no meio, permanece viva na memória da maioria. Embora cada um foi chamado e reunido por uma força externa (que é o significado de Mateus 18:20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”), todos os que se reúnem exercitam sua disposição de estarem onde nosso bendito Senhor desejaria que estivessem.

A grande maravilha de reunir em Seu nome não é o fato que nos reunimos com Ele, mas que Ele Se reúne conosco: “… estando com eles” (At 1:4).

Nestas ocasiões sagradas nós participamos da Ceia do Senhor e O celebramos, e como veremos, temos instruções claras na Palavra de Deus para assim fazer. Na frase “ceia do Senhor”, assim como na frase semelhante em Apocalipse 1:10, “dia do Senhor”, o adjetivo “do Senhor” significa “pertencente ao Senhor” e não “Senhoril”. A expressão “A Ceia do Senhor” enfatiza o Senhorio de Cristo, portanto estar reunido numa igreja local é o grande privilégio daqueles que, separados da rebelião do mundo e das divisões do Cristianismo, se reúnem para dar uma confissão corporativa unida daquele Senhorio. Devemos lembrar, enquanto nos reunimos para recordar do Senhor Jesus Cristo, que nossa lembrança é uma apreciação viva e essencial, e não uma formalidade fria. Assim, a nossa recordação dEle constituirá somente uma parte da vida da igreja.

Enquanto obedecemos esta instrução, que foi dada inicialmente aos discípulos: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22:19), precisamos sempre reconhecer que temos a responsabilidade de guardar a Sua Palavra em todas as coisas. Há o perigo de assumirmos uma posição doutrinária muito clara neste assunto, e destruímos seu significado por causa de uma dureza que em nada se assemelha à mente de Cristo. Vale a pena mencionar aqui que uma igreja se reúne para participar da Ceia em “lembrança” dEle, não “em memória” dEle. A palavra grega usada (anamnesis) indica trazer à mente, e no contexto de lembrar dEle, significa um diligente e carinhoso “trazer à mente” o Senhor Jesus Cristo.

Portanto, reconhecemos a Sua presença espiritual e o que Ele é pela virtude da Sua obra sacrificial. Não é meramente a memória dEle, mas nossas mentes sendo acordadas espiritualmente a Ele. Isso produz adoração naqueles reunidos, enquanto consideram as glórias intrínsecas do Senhor Jesus Cristo.

Aqui, Ó Senhor, nós Ti vemos face a face;

Aqui tocamos e apreciamos coisas invisíveis. (Horatius Bonar)*

Nossa autoridade para praticar

Como a ordenança neotestamentária para o Batismo (veja o cap. 2 deste livro), a Ceia do Senhor também tem três meios distintos de confirmação.

• Foi instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo;

• Foi praticada pelas igrejas locais nos Atos dos Apóstolos;

• Foi endossada e explicada nas epístolas.

A instituição

Todos os Evangelhos sinópticos dão detalhes quanto à instituição da Ceia, e Paulo em I Coríntios 11:23-26 dá uma confirmação. Em todas as quatro narrativas da instituição, todos os pontos principais são incluídos, mas há uma variedade nos detalhes dados. Os relatos de Mateus e Marcos são bem semelhantes, e as narrativas de Lucas e Paulo são parecidas. Contudo, não há nenhuma contradição! A diferença principal entre os dois grupos é que Mateus e Marcos omitem as palavras “fazei isto em memória de mim”, e incluem as palavras: “derramado por muitos”. Nos Evangelhos sinópticos o Senhor Se refere à Sua reunião futura com os discípulos na consumação do reino de Deus, enquanto que Paulo, em I Coríntios 11:26, se refere à proclamação da morte do

Senhor “até que Ele venha”, que prevê uma data anterior à manifestação do reino.

* Tradução literal. O original diz: “Here, O our Lord, we see Thee face to face;/Here would we touch and handle things unseen”. (N. do E.)

O plano Divino é visto claramente em todos os relatos que revelam os atos específicos do Senhor Jesus Cristo, que estava em perfeito controle de todas as circunstâncias. Isso inclui o cenáculo sendo preparado e mobilado, a época correta da Páscoa, as pessoas que estavam presentes, e todos os acontecimentos ocorrendo exatamente como necessário. Ele toma, Ele dá graças, Ele parte, Ele dá, e assim Ele dirige a Ceia, e ao assim fazer demonstra a Sua autoridade. Uma coisa que logo percebemos ao lermos os relatos das Escrituras é a simplicidade da Ceia. Os atos do Senhor não oferecem nenhuma oportunidade para cerimonialismo ritual, e no entanto os homens têm usados estes simples atos para criar rituais e dogmas sem fundamento nas Escrituras. Sempre há o perigo de formalismo quando nos ocupamos com algo que temos feito durante bastante tempo, e precisamos sempre tomar cuidado com a possibilidade de transformar um ato tão simples numa cerimônia ritualista. Embora nunca devêssemos agir de uma maneira informal na presença de Deus, também nunca devemos assumir uma formalidade fria, carnal e severa como vemos no Cristianismo, quer em linguagem, quer em atos.

Na instrução dada pelo Senhor na instituição da Ceia (Lc 22:19) temos a autoridade para continuar a lembrar dEle durante toda a época da Igreja, e nas epístolas Paulo confirma que isto continuará “até que Ele venha” (I Co 11:26). Esta lembrança tem sido preservada para nós até hoje. Lembramo-nos dEle enquanto consideramos Sua eternidade, Sua Divindade, Sua condescendente humilhação em perfeita humanidade, Sua vida singular de perfeita impecabilidade, Sua morte expiatória, Seu triunfo sobre o pecado, a morte, o inferno e o túmulo, e Sua glória presente e futura. Enquanto isso é somente parte da vida do salvo, a lembrança do nosso Senhor Jesus Cristo é o que leva os nossos espíritos a uma apreciação elevada dEle. Com Ele no nosso meio, como esteve no início, gozamos de comunhão ao lembrar dEle.

Acalma-te, ó coração, enquanto em Seu Santo Nome

Nos prostramos em adoração e Sua promessa reivindicamos —

Onde estiverem dois ou três reunidos ali estarei,

Não visto, mas ao olho da fé, presente. (Eliza E. Hewitt)*

* Tradução literal. O original diz: “Hush, O our hearts, as in the sacred Name/We bow in worship and the promise claim —/Where two or three are gathered there am I,/Unseen, yet present to faith's opened eye". (N. do E.)

A prática

No Novo Testamento nunca encontramos a Ceia celebrada fora do contexto do testemunho permanente de uma igreja local. Nunca é vista como uma conveniência para pessoas viajando, pois é o privilégio de uma igreja que se reúne constantemente. Talvez seja a mais importante expressão de comunhão, e define o caráter das outras reuniões e funções da igreja local. Nós não recebemos pessoas à Ceia do Senhor, mas à comunhão da igreja. Esta comunhão é expressa em todas as funções da igreja local, incluindo a Ceia do Senhor.

Reunir para “partir o pão” é primeiramente mencionado em Atos dos Apóstolos. É verdade que a expressão “partir o pão” era frequentemente usada nos tempos bíblicos para descrever a participação em refeições normais. Deus avisou Jeremias que ninguém iria “partir o pão” para os que estavam de luto (Jr 16:7). O Senhor Jesus Cristo tomou o pão e o partiu com os discípulos a quem Ele apareceu no caminho para Emaús (Lc 24:30). Lemos dos primeiros cristãos partindo o pão em casa, comendo juntos com alegria e singeleza de coração (At 2:46). Uma vez Paulo tomou pão e o partiu e instruiu seus companheiros de viagem, no navio, que o comessem para a sua saúde (At 27:34-35). Contudo, nos

tempos do Novo Testamento, a frase “partir o pão” também foi usada para descrever a participação na Ceia do Senhor. O Senhor Jesus instituiu a Ceia depois de celebrar a Páscoa com Seus discípulos, pouco antes da Sua morte, “e, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos” (Mt 26:26-27).

Como a frase “partir o pão” se refere às refeições comuns e também à Ceia do Senhor, precisamos examinar o contexto das passagens para descobrir qual é o caso numa passagem que estivermos lendo. Por exemplo, em Atos 2:42, “partindo pão” é mencionado junto com as outras coisas que a igreja fazia, como ensinar, orar e ter comunhão, portanto podemos concluir que aqui “o partir do pão” é uma referência aos primeiros cristãos participando na Ceia do Senhor. O uso do artigo neste versículo também sugere que um acontecimento específico está  m foco, e não uma refeição normal. Alguns argumentam que porque até aqui a igreja não é mencionada, que a igreja local não existia ainda em Jerusalém, mas o uso do artigo indica uma ocasião específica quando os salvos estavam reunidos para este fim.

Mais tarde Paulo lembrou os coríntios da noite em que o Senhor primeiramente instituiu este memorial, dizendo: “Porque, eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão. E tendo dado graças, o partiu e disse: tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim” (I Co 11:23-24). Visto que parte desta ceia que os cristãos devem celebrar inclui realmente partir o pão, a expressão “partir o pão” era usada em referência à Ceia do Senhor nos primeiros tempos da Igreja.

Assim a igreja local se reúne com o propósito específico de lembrar-se do Senhor no partir do pão.

Naquela noite, Senhor Jesus,

Em que foste traído,

Quando sem causa o ódio humano

Contra Ti foi demonstrado,

Ouvimos Tuas palavras graciosas —

Fazei isto; lembrai de Mim;

Respondendo com corações alegres,

Lembramo-nos de Ti. (G. W. Fraser)*

O endosso e explicação

Como já foi mencionado, em I Coríntios 11:23-26 o Apóstolo Paulo endossa a ordenança do Senhor Jesus dada no cenáculo. Ele confirma o fato que a Ceia deve ser comemorada regularmente, e dá detalhes sobre a maneira como isto deve ser feito, ao afirmar:

A autoridade divina para a Ceia (v. 23)

Paulo afirma que ele recebeu do Senhor o relato sobre a ordenança da Ceia, que ele está para lhes transmitir. Ao dar os detalhes, ele reivindica a autoridade direta do próprio Senhor. Isto é típico do ministério de Paulo e da sua maneira de transmitir as doutrinas dadas a ele; ele não reivindica nenhuma obrigação a qualquer instrução humana, mas sim à revelação direta do Senhor. “Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:12). Portanto, Paulo apresenta aos coríntios o peso de responsabilidade que o salvo tem, devido à fonte de instrução em relação à Ceia.

* Tradução literal. O original diz: “On that same night, Lord Jesus,/In which Thou wast betrayed,/ When without cause man's hatred/Against Thee was displayed,/We hear Thy gracious accents —/This do, remember Me;/With joyful hearts responding/We would remember Thee." (N. do E.)

As instruções detalhadas sobre a participação na Ceia (vs. 24-25)

Há uma grande simplicidade na maneira como o Senhor Jesus estabeleceu o padrão no cenáculo, e o subsequente endosso do mesmo pelo apóstolo Paulo. Os emblemas usados e a sequência dos acontecimentos dificilmente favorecem uma manifestação cerimonial suntuosa; no entanto, o Cristianismo tem introduzido vários dogmas que reduziram a recordação a uma “cerimônia religiosa”. Não há razão para imitar o que os homens inventaram em contradição à clara instrução do Senhor Jesus: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22:19). Vamos considerar estas instruções e emblemas mais tarde.

O propósito deleitável da Ceia (v. 26)

Enquanto lembramos e nos recordamos do Senhor, ao participarmos da Ceia do Senhor, isso nos leva também a uma atitude de adoração.

Adoração nasce da nossa apreciação de quem Ele é, e evidencia esta apreciação. Enquanto a lembrança do Senhor produzirá ações de graças, também fará fluir adoração verdadeira dos nossos corações. Por exemplo, quando os homens sábios visitaram a criança e Sua mãe, eles adoraram por causa do reconhecimento de quem Ele era (Mt 2:2,11).

Obviamente, neste estágio da vida da pequena criança Jesus, todas as Suas obras maravilhosas ainda estavam por se cumprir, como também a Sua morte na cruz.

Outro aspecto da Ceia é o “anúncio”. O pensamento aqui é uma “proclamação”. Os atos de partir o pão e beber do cálice constituem uma proclamação silenciosa do fato, do significado e da eficácia da morte do Senhor Jesus.

Não há evangelho como esta festa,

Para nós preparada por Ti;

Nenhum pregador ou profeta

Anuncia as boas novas tão livremente. (Elizabeth R. Charles)*

Enquanto nos reunimos, testemunhamos da Sua obra consumada.

Cada salvo, sadio em vida e doutrina (como veremos mais tarde) participa dos emblemas. Não há nada nas Escrituras para apoiar a administração dos emblemas por um sacerdote ou ministro. Esta prática é estranha ao ensino das Escrituras.

 

* Tradução literal. O original diz: "No gospel like this feast,/Spread for us Lord by Thee;/Noprophet nor evangelist/Preach the glad news so free". (N. do E.)

Também, somos instruídos sobre a atitude esperada daqueles que se reúnem para partir o pão. Temos a descrição dos emblemas necessários para a ocasião, e da simplicidade manifestada na recordação. O autoexame necessário quando nos reunimos para lembrar do Senhor é solenemente enfatizado pelo apóstolo, como também a possibilidade de juízo divino sobre aqueles que participam de uma maneira indigna.

Faremos mais explicações sobre estas coisas brevemente.

Nossa lealdade aos princípios

Através do Novo Testamento, o Espírito de Deus estabelece princípios com respeito à verdade relacionada com a nossa recordação do Senhor Jesus. Estes princípios têm sido atacados muitas vezes através dos anos, e alguns têm destruído o significado simples daquilo que foi instituído, criando dogmas espúrios. Mesmo entre algumas igrejas locais, há um desvio da simplicidade demonstrada no cenáculo. Não há necessidade de tentar fazer a nossa reunião de lembrança mais “eclesiástica”.

Por que devemos conformar ao erro cerimonial do Cristianismo, acrescentando palavras e atos adicionais à Ceia? Embora devamos sempre agir com reverência na presença do Senhor, há o perigo de, por causa de um comportamento desnecessariamente “piedoso”, complicarmos um ato que em si mesmo é encantadoramente simples. Uma consideração das palavras encontradas nas Escrituras enfatizará esta simplicidade.

“Até que venha”

A escolha do tempo da instituição da Ceia é sugestiva: “na noite em que foi traído”(I Co 11:23). Enquanto o plano do traidor Judas estava se desenrolando, o Senhor Jesus Se reúne com os Seus. Não devemos ficar indiferentes ao fato que esta ordenança sagrada foi instituída na última noite da vida do nosso bendito Salvador. Mesmo sabendo de tudo que aconteceria no dia seguinte, Ele fornece, através da Ceia, a maneira pela qual Seu povo poderia se lembrar dEle “até que venha” (I Co 11:26).

Não é simplesmente o exemplo do apóstolo que nos faz reunir para lembrar do Senhor, embora somos leais à instrução dada aqui. Antes, é o exemplo do Senhor Jesus na Sua celebração da Ceia do Senhor, e Sua instrução: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22:19), que nos apresenta o significado da instituição. Estas são, exatamente, as coisas que nós fomos ordenados a fazer.

Estas instruções foram dadas inicialmente a homens que não entenderam plenamente as circunstâncias em que estavam. Sua consternação pode ser vista nas quatro perguntas que fizeram, no cenáculo, quando o Senhor falou da Sua saída. Pedro pergunta: “Senhor, para onde vais?” (Jo 13:36); Tomé pergunta: “Como podemos saber o caminho?”

(Jo 14:5); Filipe pede: “Mostra-nos o Pai” (Jo 14:8); e Judas, não Iscariotes, pergunta: “Senhor, de onde vem que hás de manifestar a nós, e não ao mundo?” (Jo 14:22). O Senhor Jesus, entendendo suas preocupações, institui a Ceia, e desde aquele tempo até que Ele venha, Seu povo terá o privilégio de recordar dEle. A Ceia tem em vista manter viva, diante do Seu povo, a esperança da Sua volta, desde Pentecostes até o Arrebatamento. Este grande acontecimento futuro está ligado com o grande acontecimento do passado. Assim a recordação do Senhor Jesus enquanto participamos da Ceia do Senhor durará somente enquanto

durar a “época da Igreja”. A lembrança terminará quando Aquele que é lembrado voltar. O grande encorajamento para cada salvo é saber que continuará até que Ele venha. Olhamos à nossa volta e vemos o testemunho das igrejas diminuindo, e até desaparecendo, mas sempre haverá, de acordo com esta simples afirmação, em algum lugar na Terra, salvos se reunindo no Seu Nome e lembrando dEle, da maneira como Ele instituiu, até o tempo do Arrebatamento.

“Isto é o Meu corpo”

Antes de considerar o pão e o cálice, vamos pensar sobre um erro comum neste assunto. Muitos dos leitores deste livro são membros de igrejas estabelecidas em aldeias e cidades habitadas principalmente por pessoas da religião Católica, e assim frequentemente estão em contato com aqueles que praticam e propagam erro. Alguns salvos também estão ocupados em evangelizar estas pessoas, pessoal e publicamente.

Lembrando que o alvo desta publicação é ajudar principalmente os novos convertidos, não fará mal reforçar o positivo usando o negativo!

Desde 1215 d.C., a Igreja Católica tem propagado o dogma da Transubstanciação, que foi endossado no século XVI pelo Concílio de Trento. Hoje, é defendido firmemente pela religião católica, e ensinado às crianças desde pequenas. As crianças na escola já defendem esta crença errada. Eles creem que o pão e o vinho literalmente se transformam no corpo, alma e divindade de Cristo, e enquanto comem a hóstia eles creem que ela se transforma realmente na carne e sangue de Cristo.

Esta transformação ocorre quando o sacerdote consagra o pão dizendo:

 “Isto é o meu corpo”, e enquanto o sacerdote distribui o pão ou a hóstia, ele diz a cada participante: “O corpo e Cristo e o sangue de Cristo”.

Eles tomam as palavras do Senhor Jesus como absolutamente literais nesta ocasião, mas nem sempre em outras ocasiões! Assim, depois de comerem, eles creem que estão levando o Seu corpo, sangue, divindade e humanidade nos seus próprios corpos. Veremos o verdadeiro significado dos emblemas daqui a pouco. Contudo, devemos afirmar que esta doutrina falsa que afirma haver uma mudança material no pão e no vinho, transformando-os no corpo e sangue de Cristo pela consagração do sacerdote, ou por qualquer outra maneira, é absolutamente falsa, não somente em relação ao ensino das Escrituras, mas também ao bom senso. Realmente, é uma tentativa de desfazer das Escrituras, e é em si a raiz de muitas superstições e muita idolatria.

Além disso, celebram a Missa, e afirmam que este é um sacrifício constantemente repetido, real, embora sem sangue, para expiar o pecado e efetuar a propiciação com Deus. Enquanto participam dos sacramentos com suas orações e rezas ritualistas, reivindicam que estão efetuando “a maior adoração a Deus e a edificação do povo por comer o corpo de Cristo”. Isto rebaixa o valor do único e eterno sacrifício do Senhor Jesus.

As Escrituras claramente provam que isto é errado. “Nem também para si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; de outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9:25-28).

Também: “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados. E também o Espírito Santo nô-lo testifica, porque depois de haver dito: Esta é a aliança que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, e as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado” (Hb 10:10-18).

O que o pão significa para nós? O pão usado na noite em que a Ceia foi instituída foi aquele pão que estava na mesa depois da refeição da Páscoa. Naquela primeira ocasião este teria sido pão sem fermento, entretanto mais tarde os primeiros cristãos usavam o pão normal disponível.

Tem havido controvérsia durante anos sobre que tipo de pão deve ser usado na Ceia, mas devemos notar que o significado da ordenança não depende do tipo de pão usado, e não há nenhum preceito dado sobre este assunto, então devemos tomar cuidado e não causar divisão por causa de preferências pessoais. Embora os emblemas sejam parte fundamental da ocasião, preocupação com os emblemas significa que a nossa ocupação com Cristo não é total. O Senhor tomou o pão que

estava ali, convenientemente, naquela ocasião; portanto, os salvos hoje devem fazer o mesmo sem questionar. A afirmação feita pelo Senhor Jesus informou aqueles ali reunidos que o pão partido, que Ele segurava em Suas mãos, era um emblema do Seu corpo. Como mostramos acima, esta afirmação tem sido tirada do seu contexto para propagar erro. Entretanto, aqui Ele usa a mesma linguagem que, por exemplo, Ele usou várias vezes no Evangelho de João quando Se compara a várias coisas: “Eu sou a videira verdadeira”; “Eu sou o pão de Deus”; “Eu sou a porta”.

Parafraseando, Ele diz: “Este pão, que seguro em Minhas mãos e dou a vocês, representa o Meu corpo”, ou, é um símbolo do Seu corpo. O Senhor Jesus Cristo, pela encarnação, tomou um corpo físico para que pelo Seu sacrifício expiatório Ele pudesse entregar Seu corpo à morte por crucificação. Vemos isto na frase “que é … por vós” (I Co 11:24).

 maioria dos manuscritos omite a palavra “partido” em I Coríntios 11:24, e assim, embora realmente “partimos” o pão como Ele fez depois de dar graças, precisamos lembrar da Escritura que diz: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo 19:36). Semelhantemente, as Escrituras não sugerem que as feridas em Suas mãos, pés e lado referem-se ao Seu corpo sendo partido. O fato que Ele Se deu a Si mesmo enfatiza a natureza sacrificial da Sua obra.

Quando nos reunimos para lembrar dEle, o irmão que parte o pão não está representando o Senhor Jesus, nem tomando Seu lugar. Em partir o pão ele está simplesmente agindo como servo dos irmãos reunidos.

O pão é partido e cada um participa na celebração por participar do mesmo pão.

“Semelhantemente tomou o cálice”

A referência ao “sangue do novo testamento [nova aliança]” (I Co 11:25; Mt 26:28; Mc 14:24; Lc 22:20), é importante porque está em contraste com a velha aliança, baseada no sangue do cordeiro Pascal.

Em Jeremias 31:31 a promessa foi feita sobre uma nova aliança com Judá e Israel: “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Contudo, nenhuma informação foi dada naquele tempo sobre como, ou quando, esta nova aliança seria estabelecida. Em Hebreus caps. 9 e 10 vemos que a nova aliança precisava ser ratificada com sangue, isto é morte, e pelo sangue de Cristo. Foi através das Suas palavras no cenáculo que o Senhor Jesus revelou que o Seu sangue permitiria que a provisão da nova aliança fosse efetuada. Realmente a aliança está ainda no futuro para Israel, mas já traz bênçãos para nós, Seu sangue sendo “derramado por muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26:28). Nisto temos o propósito do derramamento do Seu sangue. No relato de Marcos, nós temos as pessoas para quem o sangue foi derramado — “muitos” (Mc 14:24). Lucas, no seu relato das palavras do Senhor Jesus, mostra quão pessoal é o ato — “derramado por vós” (Lc 22:20). Estas são maneiras diferentes de expressar o caráter sacrificial da morte de Cristo.

Assim Seu sangue ratifica a aliança que foi feita por Deus. Devemos notar que nas quatro referências mencionadas acima, a palavra “testamento” é usada, mas a tradução melhor é “aliança”. A velha aliança era ratificada pelo sangue de animais, mas a nova, pelo sangue do eterno Filho de Deus. Embora Deus tenha feito uma aliança incondicional com Abraão, a aliança sendo considerada aqui era um acordo mútuo entre dois lados, Deus e a nação de Israel. Foi um acordo firmado na obediência. A nova aliança realmente foi feita com os judeus (veja Jr

31:31, acima). Os cristãos, hoje, estão firmados na graça de Deus; nenhuma aliança foi feita com a Igreja — ela foi chamada no propósito eterno de Deus. Os santos, hoje, entram nas suas bênçãos através do sangue de Cristo, assim como a nação judaica restaurada entrará nas suas bênçãos sob a nova aliança. O fato que nós não estamos debaixo de qualquer aliança não diminui, de forma alguma, a grande verdade de I Coríntios 11:25. No presente, nós desfrutamos de liberdade espiritual e de promessas, paz e prosperidade que Israel restaurada desfrutará, literalmente, no futuro.

A Ceia do Senhor é uma comemoração da pessoa, vida, obra e morte de Cristo, e assim o pão e o cálice são símbolos importantes do Seu corpo dado e do Seu sangue derramado. Embora o sangue da nova aliança fosse derramado na morte de Cristo, foi ao mesmo tempo “derramado por muitos” (Mt 26:28), não somente para beneficiar muitos, mas o objetivo específico sendo “para remissão de pecados” (Mt 26:28).

Portanto, foi uma oferta pelo pecado, que não somente fez expiação pelo pecado, mas também ratifica a aliança da graça.

Sem entrar em detalhes, devemos notar que em todas as referências “o cálice” está no singular. Não há base bíblica para o uso de cálices individuais.

Nossa atitude ao participar

Como já notamos, a Ceia do Senhor é uma recordação, uma apreciação, uma proclamação e uma antecipação. Entretanto, nunca devemos nos esquecer de que também envolve a nossa participação.

Observamos como o Senhor Jesus instruiu, naquela noite, que cada pessoa presente no cenáculo deveria tomar do pão e do cálice, e assim participar na Ceia. Mateus 26:26 diz: “Tomai, comei”; v. 27: “Bebei dele todos”. Também, Paulo confirma isto em I Coríntios 11:24-25: “fazei isto”. Portanto, é o privilegio de cada salvo se preparar e organizar a sua vida para que possa estar presente com a igreja local da qual faz parte, para lembrar do Senhor Jesus. Todas as reuniões são importantes, mas há algo especial em se reunir no primeiro dia da semana para recordar do nosso Salvador. Todas as outras reuniões são de serviço e de atividades, mas a Ceia é totalmente sobre Cristo, e a fragrância é doce enquanto

exaltamos o Seu valor ao nos lembrarmos dEle. Contudo, isto não quer dizer que a reunião para nos lembrarmos dEle é o suficiente para o resto da semana, e que as outras reuniões são insignificantes e sem importância.

A Ceia do Senhor é somente uma parte da nossa comunhão com a igreja local, e devemos estar envolvidos em todos os aspectos da comunhão; senão, como podemos afirmar que estamos em comunhão? Usando as palavras de outro: todas as reuniões são para todos os salvos, e todo salvo é para toda reunião!

Também nesta consideração da nossa atitude em participar, devemos notar que não há regras e regulamentos dados sobre a ordem da Ceia do Senhor. Isto não significa que podemos agir como queremos quando nos reunimos, mas indica que o Senhor Jesus deve dirigir todos que participam publicamente em adoração e ações de graças. A manifestação espontânea que esta apreciação pessoal produz tem causado admiração nos descrentes que observam a Ceia do Senhor. O Senhor

Jesus é a única Pessoa que superintende e dirige esta reunião. Pode ser simples demais, mas é necessário afirmar que o Novo Testamento não mostra nada de clero ou outra pessoa oficial com a autoridade para dirigir ou administrar oficialmente dentro da igreja local.

Quando e onde participamos?

“Porque todas as vezes …” (I Co 11:26), significa cada vez que o fazemos. Contudo, a frequência da lembrança não é deixada à discrição individual. Em Atos 20, Paulo chegou a Trôade a caminho para Jerusalém. Lá ele esperou sete dias para que pudesse se reunir com eles para partir o pão. Não houve uma Ceia especial para que Paulo e seus companheiros de viagem pudessem participar, assim facilitando a sua viagem. Também, Paulo não continuou viagem com o plano de partir o pão no navio ou em qualquer outro lugar conveniente no caminho.

A recordação do Senhor é sempre associada com uma igreja local. Em cada ocasião onde lemos do partir do pão no Novo Testamento, sempre está no contexto de uma igreja local. Portanto, é um exercício coletivo da igreja local. Assim, lembramo-nos do Senhor Jesus na localidade onde Seu povo se reúne, e onde Ele Se reúne com Seu povo. Embora sempre fosse o propósito de Deus estar presente com Seu povo reunido, ainda traz grande alegria aos corações dos Seus saber que Ele Se reúne conosco — Mateus 18:20: “Ali estou eu no meio”. O dia para esta reunião é como foi em Trôade — o primeiro dia da semana, quando os discípulos se reuniram para partir o pão (At 20:7). Isto fala da primeira atividade da semana. A maioria no mundo ocidental se reúne para partir o pão na parte da manhã, mas devemos considerar as circunstâncias dos salvos em outros países que, por várias razões, não podem se reunir coletivamente na parte da manhã. Este escritor, quando trabalhando em países Islâmicos no Oriente Médio, partiu o pão com as igrejas mais tarde no dia, devido às exigências locais. Isto não diminuiu, de forma alguma, o significado da Ceia.

O fato da reunião para lembrar do Senhor Jesus ser uma parte fixa da vida de cada igreja local significa que devemos fazer todo esforço para estarmos presentes na Ceia do Senhor. A participação constante é necessária para a saúde espiritual do salvo. Embora sempre haverá circunstâncias anormais que impedirão a presença de alguns, seria errado alguém habitualmente se ausentar nesta ocasião. Não somente porque a pessoa que se ausenta da Ceia do Senhor está perdendo algo importante, mas também indica que há uma falta de apreciação de Cristo, e que Deus não recebe a Sua porção. Devemos lembrar também que quando viajamos ou estamos de férias em outros lugares, ainda temos a responsabilidade de nos lembrarmos do Senhor e, como já afirmamos, junto com outros no contexto de uma igreja na localidade visitada. Portanto, os nossos planos sobre onde passaremos as férias devem ser feitos tendo em mente uma igreja local perto. Além da alegria de nos lembrarmos do Senhor Jesus, teremos o gozo adicional de ter comunhão com outros irmãos de outras localidades, que também estão procurando seguir a instrução da Palavra de Deus. Em João 20, Tomé perdeu a bênção da presença do Senhor, e embora aquela ocasião não fosse uma reunião da igreja, nem a Ceia do Senhor, o princípio é o mesmo. Seria difícil alguém provar seu interesse na Pessoa de Cristo se habitualmente deixa de se reunir para se lembrar dEle.

Quem participa?

Como já foi afirmado, reunir-se para se lembrar do Senhor Jesus é o privilegio somente de uma igreja reunida ao Seu Nome. A igreja local é especialmente abençoada por Deus em todos os aspectos, seja na sua proclamação e descrição no Novo Testamento, ou na sua ordem e função local. Portanto, os que formam parte de uma igreja local devem conformar com o critério estabelecido pelas Escrituras.

O requerimento básico para participar, e para qualquer outro serviço, é a salvação. Embora seja impossível um descrente fazer parte da igreja que é o Seu corpo (Ef 1 22-23), é possível que um descrente faça parte de uma igreja local. Embora isso seja errado e produzirá problemas na igreja, é possível acontecer. Entretanto, aqueles que dizem estar em comunhão com o Senhor Jesus deveriam ser, todos, salvos. Isso pode parecer simples, mas precisamos ser realistas. Todos os salvos devem também ser batizados, pois como já observamos o batismo é uma ordenança do Novo Testamento e um mandamento do Senhor Jesus. Será que alguém pode afirmar submissão ao senhorio de Cristo sem obedecer esta ordem? Parece incongruente, mas muitos estão deixando de obedecer esta ordem.

Pois bem! Se uma pessoa é salva e batizada, será que é o suficiente para permitir que ela se reúna e participe na Ceia do Senhor? Já notamos que a Ceia do Senhor deve ser celebrada por aqueles que são parte da igreja local e que estão se reunindo regularmente, como é o significado de Mateus 18:20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome”. O verbo “estiverem” significa estar regularmente reunido, e assim a Ceia não é um lugar de se reunir ocasionalmente. I Coríntios 11 mostra esta regularidade da igreja em Corinto em se reunir com este propósito. Portanto, o privilegio de participar na Ceia do Senhor é para aqueles que fazem parte da igreja local.

A igreja é uma comunhão baseada na doutrina das Escrituras, e assim os que se reúnem precisam ter convicção e ser submissos à doutrina, e sujeitos à sua administração. Em certos lugares existe o que é chamado “a mesa aberta”, mas isto é estranho à Palavra de Deus. Alguns deixam a Ceia aberta para todos que, eles dizem, “amam ao Senhor Jesus”, e todos são bem vindos, independentemente das suas crenças doutrinárias ou do seu modo de vida. Isto também é errado, e é a responsabilidade dos anciãos ver que alguém com doutrinas estranhas, ou vivendo em pecado, não faça parte da comunhão da igreja, inclusive a Ceia do Senhor. Nos dias em que vivemos esta questão de pecado na vida precisa ser enfrentada e, se for necessário, investigada, porque a nossa sociedade aceita práticas pecaminosas, e se estas penetrarem na igreja elas destruirão os valores espirituais e, provavelmente, destruirão a igreja. “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (I Co 5:6). É significante que no relato da instituição da Ceia, no cenáculo, Judas, “o filho da perdição” (Jo 17:12), tinha saído para a noite. Permitir que tais se lembrem do Senhor Jesus traz descrédito ao ajuntamento, rebaixa a pessoa do Senhor Jesus, e abre a porta a muitos perigos para os que estão em comunhão, especialmente, mas não somente, os novos na fé.

Alguns querem usar a igreja local por conveniência e pedem comunhão ocasional; eles se reúnem no Cristianismo, mas querem reunir com a igreja local quando estão visitando naquela localidade. O fato de não se reunirem numa igreja local onde moram indica que não têm percepção da verdade sobre a igreja local, e não têm interesse na doutrina ensinada pela Palavra de Deus e praticada pela igreja local.

Como deve uma pessoa participar?

É a responsabilidade de cada pessoa salva se reunir para se lembrar do Senhor Jesus, e temos notado o critério necessário para participar da Ceia; a exigência solene para cada cristão é ser digno de participar. Em I Coríntios 11:27-32, Paulo mostra a necessidade de um autoexame antes de participar da Ceia. Pecado precisa ser confessado, arrependimento demonstrado e restituição feita. “Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; e depois, vem e apresenta a tua oferta” (Mt 5:24). Este, talvez seja apenas um lado deste autoexame, mas o exame sempre é feito com o propósito de estar em condição para participar dignamente na Ceia do Senhor, e não para se ausentar. Se não fizermos este exame, e continuarmos na condição carnal com pecado na nossa vida, com um espírito que não perdoa, ou se recusarmos nos reconciliar, nós nos colocamos na condição de estar agindo indignamente (I Co 11:27, 29). Temos, portanto, falhado em compreender corretamente a natureza e o propósito desta ordenança, e a nossa atitude para com os emblemas reflete a nossa atitude para com aquele de quem os emblemas falam. A participação indigna na Ceia é desonrar o Senhor e ser culpado de indiferença quanto à Sua pessoa. Ser “culpado do corpo e do sangue do Senhor” (I Co 11:27) é extremamente solene, porque olha além dos emblemas para a própria Pessoa do nosso Senhor Jesus. É notável como o peso desta culpa é demonstrado pelo uso desta mesma palavra em Mateus 26:66 — “réu de morte”, e em Tiago 2:10 — “culpado de todos”.

Devemos sempre lembrar que o formalismo frio e carnal destruirá o exercício espiritual da igreja, e assim cada um precisa ter o cuidado de estar em condição espiritual quando se reúne para recordar do Senhor Jesus. Temos o exemplo de Corinto, onde muitos praticavam coisas que não contribuíam para uma lembrança digna, e ainda continuavam a partir o pão. É possível partir o pão sem recordar do Senhor. Não há nenhuma bênção em realizar a formalidade de se reunir, simplesmente por costume, sem santidade na vida ou sem a atitude correta que é necessária. Alguns recusam participar por não fazer este exame de si mesmos. Isto está errado, pois não temos autoridade das Escrituras para agir assim. O costume de se retirar da comunhão por causa de pecado pessoal não tem base bíblica! O processo bíblico é o autoexame e então comer e beber (I Co 11:28). (Pecado grave será julgado pela igreja, e a ação bíblica necessária tomada — veja o cap. 11).

Não podemos julgar a disciplina de Deus na vida de um salvo, mas Paulo afirma que “o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação” (I Co 11:29), isto é, ele recebe o juízo de Deus.

Havia aqueles que estavam fracos e doentes entre os coríntios e muitos tinham dormido (morrido), por causa da sua falha em discernir o corpo do Senhor. Estas expressões usadas por Paulo não são usadas figurativamente, e devem ser entendidas literalmente. Paulo sabia que as muitas doenças e as mortes frequentes entre os cristãos em Corinto eram um julgamento de Deus por causa da maneira irreverente com que tinham participado da Ceia do Senhor. Se este foi o caso em Corinto, nós precisamos ter cuidado para que quando nos reunirmos, o façamos com a atitude correta e com autoexame. Mesmo com todo o nosso conhecimento

e privilégios, seria possível agirmos como os coríntios. Os caminhos de Deus em julgar Seu povo podem ser muito severos! Isto e desenvolvido em Gálatas 6 onde, embora a aplicação seja mais geral, a advertência é dada: “porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção” (v. 8).

É o privilegio de cada salvo em comunhão numa igreja local participar na Ceia do Senhor. Embora seja também nossa responsabilidade fazer isto em condições espirituais e morais corretas, nunca cessará de ser um grande privilégio. Para nos reunirmos em simplicidade, como instruído pelo Senhor Jesus Cristo, e nos lembrarmos dEle, é uma experiência muito além de qualquer coisa que o Cristianismo pode oferecer.

Estar ocupado na celebração da Ceia em comunhão com Ele e com outros cristãos é algo que deve ser valorizado por cada pessoa salva.

Participar numa ordenança permanente durante a época da igreja, que nos faz olhar para trás, olhar para cima, e olhar adiante para a Sua vinda para os Seus, traz uma profunda alegria ao coração do salvo.

Atraídos pela cruz, para trás olhamos,

E pensativos, entoamos;

Para frente, a Sua vinda nos atrai,

Senhor e Rei. (Douglas Russel)*

* Tradução literal. O original diz: "Backward look we, drawn to Calvary/Musing while we sing;/ Forward haste we to Thy coming,/Lord and King". (N. do E.)

Por J. Paterson Jnr., Escócia

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com