26/12/2015 09:31
Confiando ter apresentado o fato da
vinda do Senhor de forma completa,
devemos agora colocar diante do leitor a
dupla aplicação desse fato — sua
aplicação em relação ao povo do Senhor,
e sua aplicação em relação ao mundo. A
primeira é apresentada, no Novo
Testamento, como a vinda de Cristo para
receber Seu povo para Si; a última é
tratada como "o dia do Senhor" — uma
expressão usada com frequência também
nas Escrituras no Antigo Testamento.
Estas coisas nunca são confundidas nas
Escrituras, conforme veremos ao nos
ocuparmos das várias passagens. Os
cristãos as confundem e é por esta razão
que encontramos com frequência "a
bendita esperança" envolta em densas
nuvens e associada, na sua maneira de
pensar, com circunstâncias de terror, ira e
juízo, coisas que não têm absolutamente
coisa alguma a ver com a vinda de Cristo
para o Seu povo, mas que estão
intimamente ligadas com "o dia do
Senhor".
Portanto, que o leitor cristão tenha bem
definido em seu coração, com base na
clara autoridade das Sagradas Escrituras,
que a grande e específica esperança que
deve sempre acalentar é a da vinda de
Cristo para o Seu povo. Esta esperança
pode se realizar nesta mesma noite. Não
há qualquer outra coisa para se esperar,
nenhum evento para ocorrer entre as
nações, nada para acontecer na história de
Israel, nada no governo de Deus neste
mundo, nada, em suma, em qualquer que
seja a sua forma, para se interpor entre o
coração do verdadeiro crente e sua
esperança celestial. Cristo pode vir hoje à
noite para o Seu povo. Na verdade não há
nada que impeça. Ninguém pode dizer
quando Ele virá, mas podemos dizer com
júbilo que Ele deve vir a qualquer
momento. E, bendito seja o Seu nome,
quando Ele vier para nós, não será
acompanhado das circunstâncias de
terror, ira e juízo. Não será com trevas e
escuridão e tempestade. Tais coisas
acompanharão "o dia do Senhor", como o
apóstolo Pedro explica claramente aos
Judeus em seu primeiro grande sermão,
no dia de Pentecostes, no qual cita as
seguintes palavras da solene profecia de
Joel: "E mostrarei prodígios no céu, e na
terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.
O sol se converterá em trevas, e a lua em
sangue, antes..." antes de quê? Da vinda
do Senhor para o Seu povo? Não, mas
antes "que venha o grande e terrível dia do
Senhor".
Quando nosso Senhor vier para receber o
Seu povo para Si nenhum olho O verá,
nenhum ouvido ouvirá Sua voz, exceto
seu próprio povo amado e redimido.
Lembremo-nos das palavras das
testemunhas angelicais no primeiro
capítulo de Atos. Quem viu o bendito
Senhor subindo aos céus? Ninguém além
dos que eram Seus. Bem, Ele "há de vir
assim como para o céu O vistes ir". Do
mesmo modo como foi na ida, assim será na
volta, se acatarmos o que dizem as
Escrituras. Confundir o dia do Senhor
com Sua vinda para Sua Igreja é ignorar
os mais claros ensinos das Escrituras e
privar o crente de sua verdadeira e justa
esperança.
E aqui talvez não possamos fazer melhor
do que chamar a atenção para uma
passagem muito importante e interessante
na Segunda Epístola de Pedro: "Porque
não vos fizemos saber a virtude e a vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo
fábulas artificialmente compostas; mas
nós mesmos vimos a Sua majestade.
Porquanto Ele recebeu de Deus Pai
honra e glória, quando da magnífica
glória Lhe foi dirigida a seguinte voz:
Este é o meu Filho amado, em Quem Me
tenho comprazido. E ouvimos esta voz
dirigida do céu, estando nós com Ele no
monte santo; e temos, mui firme [ou
confirmada], a palavra dos profetas, à qual
bem fazeis em estar atentos, como a uma
luz que alumia em lugar escuro, até que o
dia amanheça, e a estrela da alva apareça
em vossos corações" (2 Pe 1:16-19).
Esta passagem exige a maior atenção do
leitor. Ela apresenta, da forma mais clara
possível, a diferença entre "a palavra dos
profetas" e a esperança peculiar do
cristão, a saber, "a estrela da alva".
Devemos nos lembrar de que o grande
assunto da profecia é o governo de Deus
do mundo em conexão com a
descendência de Abraão. "Quando o
Altíssimo distribuía as heranças às nações,
quando dividia os filhos de Adão uns dos
outros, estabeleceu os termos dos povos,
conforme o número dos filhos de Israel.
Porque a porção do Senhor é o seu povo;
Jacó é a parte da sua herança" (Dt 32:8,
9).
Aqui está, portanto, o escopo e tema da
profecia — Israel e as nações. Até uma
criança é capaz de entender isto. Se
percorrermos os profetas, do início de
Isaías ao final de Malaquias, não
encontraremos qualquer menção da Igreja
de Deus, sua posição, sua porção ou suas
perspectivas. Não há dúvida de que a
palavra profética é profundamente
interessante, e é extremamente útil para o
cristão estudá-la, mas ela será útil na
medida em que este entender sua própria
abrangência e objetivo, além de enxergar
a diferença entre ela e a esperança que
cabe ao cristão. Podemos afirmar sem
medo de errar que é totalmente
impossível alguém estudar as profecias do
Antigo Testamento corretamente sem
enxergar claramente o verdadeiro lugar da
Igreja.
Não podemos tentar entrar no assunto da
Igreja neste breve tratado. Trata-se de um
assunto que já foi repetidamente
abordado e escrutinado em outras
publicações, e podemos agora apenas
pedir que o leitor pondere e examine a
afirmação que deliberadamente fazemos
aqui, a saber, que não existe uma única
sílaba sobre a Igreja de Deus — o corpo
de Cristo — de uma capa a outra do
Antigo Testamento. Existem tipos,
sombras e ilustrações que, com a plena
luz que agora temos do Novo
Testamento, podemos ver, entender e
apreciar. Mas não teria sido possível a
qualquer crente do Antigo Testamento
enxergar o grande mistério de Cristo e da
Igreja, principalmente por isto não ter
sido então revelado. O apóstolo inspirado
nos diz expressamente que é algo que
estava "oculto", não nas Escrituras do
Antigo Testamento, mas "em Deus",
conforme lemos em Efésios 3:9, "E
demonstrar a todos qual seja a
dispensação do mistério, que desde os
séculos esteve oculto em Deus, que tudo
criou por meio de Jesus Cristo". Do
mesmo modo, em Colossenses lemos do
"mistério que esteve oculto desde todos os
séculos, e em todas as gerações, e que
agora foi manifesto aos seus santos" (Cl
1:26).
Estas duas passagens deixam fora de
qualquer questão a veracidade de nossa
afirmação para aqueles que tiverem o
desejo de serem governados tão somente
pela autoridade das Sagradas Escrituras.
Elas nos ensinam que o grande mistério
— Cristo e a Igreja — não é para ser
encontrado no Antigo Testamento. Onde
é que temos, no Antigo Testamento,
qualquer menção de Judeus e Gentios
formando um só corpo e sendo unidos
pelo Espírito Santo a uma Cabeça viva no
Céu? Como tal coisa poderia ser possível
enquanto a "parede de separação que
estava no meio" permanecesse como uma
barreira intransponível entre circuncisos e
incircuncisos? Se alguém precisasse citar
uma característica especial da antiga
dispensação, mencionaria logo "a rígida
separação entre judeus e gentios". Por
outro lado, se lhe fosse solicitado que
mencionasse uma característica especial
da Igreja, ou do cristianismo, ele
imediatamente responderia: "A união
íntima de judeus e gentios em um só
corpo". Em suma, as duas condições
estão em claro contraste e era totalmente
impossível que ambas pudessem ser
válidas ao mesmo tempo. Assim,
enquanto a parede de separação
permanecesse, a verdade da Igreja não
poderia ter sido revelada. Mas após a
morte de Cristo ter derrubado essa
parede, o Espírito Santo desceu do Céu
para formar um corpo e uni-lo, por Sua
presença e habitação, à Cabeça
ressuscitada e glorificada nos Céus. Tal é
o grande mistério de Cristo e da Igreja,
para a qual não poderia existir uma base
que fosse menos do que uma redenção
consumada.
Pedimos agora ao leitor que examine este
assunto por si mesmo. Busque nas
Escrituras para ver se estas coisas são
realmente assim. Esta é a única maneira
de se chegar à verdade. Devemos deixar
de lado todos nossos pensamentos e
argumentos, nossos preconceitos e
preferências, e abordarmos as Sagradas
Escrituras como uma criancinha. É assim
que aprenderemos a vontade de Deus
sobre este assunto tão precioso e
interessante. Descobriremos que a Igreja
de Deus, o corpo de Cristo, não existiu de
fato até após a ressurreição e ascensão de
Cristo e a consequente descida do
Espírito Santo no dia de Pentecostes.
Além disso, descobriremos que a plena e
gloriosa doutrina da Igreja não foi
apresentada até os dias do apóstolo Paulo.
(Veja Rm 16:25, 26; Ef 1-3; Cl 1:25-29).
Finalmente, veremos que as verdadeiras e
inequívocas fronteiras da história terrena
da Igreja são o Pentecostes (At 2) e o
arrebatamento, ou o traslado dos santos
para o céu (1 Ts 4:13-17).
Chegamos, portanto, à posição da qual
podemos ter uma visão da esperança que
é pertence à Igreja, e essa esperança é,
com toda certeza, "a resplandecente
estrela da manhã". A respeito desta
esperança os profetas do Antigo
Testamento não emitiram sequer uma
sílaba. Eles falam de forma ampla e clara
do "dia do Senhor" — um dia de juízo
sobre o mundo e suas práticas (veja Is
2:12-22 e referências) —, todavia o "dia
do Senhor", com todas as circunstâncias
de ira, juízo e terror que lhe são
peculiares nunca deve ser confundido
com Sua vinda para o Seu povo. Quando
nosso bendito Senhor vier para o Seu
povo não haverá coisa alguma de terrível.
Ele virá em toda a doçura e ternura de
Seu amor para receber os Seu povo
amado e redimido para Si. Ele virá
terminar a preciosa história de Sua graça.
"Aparecerá (ophthesetai) segunda vez, sem
pecado [isto é, à parte de qualquer
questão relacionada ao pecado], aos que o
esperam para salvação" (Hb 9).* Ele virá
como noivo para receber a noiva; e
quando assim vier, ninguém além dos que
são Seus ouvirão Sua voz ou verão Sua
face. Se Ele viesse nesta mesma noite para
o Seu povo — e pelo que sabemos Ele
pode vir — se a voz do arcanjo e a
trombeta de Deus forem ouvidas esta
noite, então todos os mortos em Cristo
— todos os que foram colocados a
dormir por Jesus — todos os santos de
Deus, tanto aqueles dos tempos do
Antigo quanto do Novo Testamento, que
dormem em nossos cemitérios e
sepulcros, ou nas profundezas do oceano,
todos ressuscitariam de seu sono
temporário. Todos os santos que
estivessem vivos seriam transformados
num momento, e todos seriam
arrebatados para encontrar seu Senhor
nos ares, e voltar com Ele para a casa do
Pai. (Jo 14:3; 1 Ts 4:16, 17; 1 Co 15:51-52).
[* A expressão "que O esperam para salvação"
refere-se a todos os crentes. Não se refere, como
alguns poderiam supor, apenas àqueles que
detêm a verdade da segunda vinda do Senhor.
Isso tornaria nosso lugar com Cristo em Sua
vinda dependente de conhecimento, ao invés de
depender de nossa união com Ele pela presença
e poder do Espírito Santo. O Espírito de Deus,
na passagem acima, assegura da forma mais
graciosa que todo o povo de Deus espera, de
uma maneira ou outra, pelo precioso Salvador, e
isso é o que realmente acontece. As pessoas
podem não enxergar todos os detalhes. Elas
podem não desfrutar de igual clareza de opinião
ou profundidade e plenitude de compreensão,
mas, com toda certeza, elas ficariam contentes
de, a qualquer momento, poderem ver Aquele
que as amou e Se entregou a Si mesmo por elas.]
É isto que significa o arrebatamento ou
retirada dos santos, e não tem nada a ver
diretamente com Israel ou com as nações.
Trata-se da esperança distinta e única da
Igreja, e não existe sequer uma pista disso
em todo o Antigo Testamento. Se alguém
afirmar que existe, que apresente. Se
existir, não terá dificuldade para mostrar.
Nós declaramos, solene e
deliberadamente, que não existe. Pois
para tudo o que diz respeito à Igreja —
sua posição, sua vocação, sua porção, suas
expectativas — devemos nos dirigir às
páginas do Novo Testamento e, dentre
aquelas páginas, em especial às Epístolas
de Paulo. Confundir "a palavra profética"
com a esperança da Igreja é causar dano à
verdade de Deus e iludir as almas do Seu
povo. É verdade que o inimigo tem tido
êxito neste sentido em toda a extensão da
Igreja professa. E é por isso que tão
poucos cristãos têm ideias realmente
bíblicas sobre a vinda de seu Senhor. A
maioria perscruta a profecia em busca da
esperança da Igreja, confundindo "o Sol
de justiça" com a "Estrela da manhã",
misturando a vinda de Cristo para o Seu
povo com Sua vinda com o Seu povo e
considerando a Sua "vinda" ou o estar
com Ele como algo idêntico à Sua
"aparição" ou "manifestação".*
[* N. do T.: Em algumas versões da Bíblia em
português é usada indistintamente a palavra
"vinda" em ambas as situações. Na versão em
inglês, à qual o autor se refere, são utilizadas
palavras como "coming" para o primeiro caso e
"appearing" ou "manifestation" para o segundo
caso.]
Isso tudo é um erro dos mais sérios, para
o qual queremos alertar nossos leitores.
Quando Cristo vier com o Seu povo
"todo olho O verá". Quando Ele Se
manifestar, os Seus também serão
manifestos com Ele. "Quando Cristo, que
é a nossa vida, Se manifestar, então
também vós vos manifestareis com Ele
em glória" (Cl 3:4). Quando Cristo vier
exercer juízo, os Seus santos virão com
Ele. "Eis que é vindo o Senhor com
milhares de Seus santos; para fazer juízo
contra todos" (Jd 14, 15). O mesmo é
encontrado em Apocalipse 19, onde
Aquele que cavalga o cavalo branco é
seguido pelos exércitos nos céus em
cavalos brancos, vestidos de linho fino,
branco e puro. Esses exércitos não são
anjos, mas santos, pois não lemos de
anjos vestidos de linho branco, o que é
uma clara expressão, no próprio capítulo,
das "justiças dos santos" (versículo 8).
Portanto, é por demais evidente que para
os santos estarem acompanhando Seu
Senhor quando Ele vier em juízo, devem
estar com Ele antes disso. O evento de
sua subida para estar com Ele não é
apresentado no livro do Apocalipse, a
menos que esteja subentendido — como
não temos dúvida de que está — no
arrebatamento da criança no capítulo 12.
A criança é, com certeza, Cristo, e já que
Cristo e o Seu povo estão
indissoluvelmente unidos, o Seu povo
encontra-se assim completamente
identificado com Ele, bendito seja para
sempre Seu santo e precioso nome!
Todavia, fica claro que não faz parte do
escopo do livro de Apocalipse apresentarnos
a vinda de Cristo para o Seu povo, o
arrebatamento deste para encontrá-Lo
nos ares, ou seu retorno para a casa do
Pai. Estes benditos eventos ou fatos
devem ser procurados em outras
passagens como, por exemplo, João 14:3,
1 Coríntios 15:23, 51, 52 e 1
Tessalonicenses 4:14-17. Que o leitor
pondere nestas três passagens; que possa
absorver, no íntimo de sua alma, o seu
ensino claro e precioso. Não há coisa
alguma difícil acerca delas, não há
qualquer obscuridade, névoa ou incerteza.
Um bebê em Cristo pode entendê-las.
Elas apresentam da forma mais clara e
simples possível a verdadeira esperança
do cristão, a qual, repetimos com ênfase e
insistimos com o leitor como sendo a
instrução direta e positiva das Sagradas
Escrituras, é a vinda de Cristo para
receber para Si mesmo o Seu povo —
todos os que Lhe pertencem. Ele virá
para levá-los de volta à casa de Seu Pai,
para que estejam ali Consigo enquanto
Deus executa Seus procedimentos
governamentais para com Israel e as
nações, preparando, por meio de Seus
atos judiciais, o caminho para a revelação
do Seu Primogênito ao mundo.
Então, se alguém perguntar a razão de
não encontrarmos a vinda de Cristo para
os Seus no livro de Apocalipse, a resposta
é que esse livro é principalmente um livro
de juízo — um livro governamental e
judicial, pelo menos do capítulo 1 ao 20.
É por esta razão que até a Igreja ser
apresentada ali ela está sob juízo. Nos
capítulos 2 e 3 não vemos a Igreja como o
corpo ou a noiva de Cristo, mas como
uma testemunha responsável na terra,
cuja condição está sendo cuidadosamente
examinada e rigidamente julgada por
Aquele que anda em meio aos candeeiros.
Portanto, não estaria de acordo com o
caráter ou objetivo do livro de
Apocalipse apresentar, de forma direta, o
arrebatamento dos santos. Ele nos mostra
a Igreja na terra ocupando um lugar de
responsabilidade. Isto aparece, em
Apocalipse 2 e 3, como "as coisas que
são". Mas dali até o capítulo 19 de
Apocalipse não há uma sílaba sequer
sobre a Igreja na terra. O que fica bem
claro é que a Igreja não estará na terra
durante aquele solene período. Ela estará
com sua Cabeça e Senhor no divino
abrigo da casa do Pai. Os redimidos são
vistos no céu, nos capítulos 4 e 5, como
os vinte e quatro anciãos coroados. Eles
estarão ali, bendito seja Deus, enquanto
os selos forem abertos, as trombetas
estiverem soando e as taças forem
derramadas. Pensar na Igreja como
estando no mundo em Apocalipse 6-8,
colocá-la em meio aos juízos
apocalípticos, fazê-la passar pela "grande
tribulação" ou sujeitá-la à "hora da
tentação que há de vir sobre todo o
mundo para tentar os que habitam na
terra", seria o mesmo que falsificar sua
posição, roubar dela seus direitos
garantidos e contradizer a clara e positiva
promessa de seu Senhor.*
[* Em uma publicação futura teremos
oportunidade de mostrar que, após a Igreja ter
sido removida para o céu, o Espírito de Deus irá
agir tanto entre os judeus como entre os gentios.
Veja Apocalipse 7.]
Não, de modo algum, amado leitor
cristão; jamais permita que homem algum
o engane, por quaisquer que sejam os
meios. A Igreja é vista na terra em
Apocalipse 2 e 3. Ela é vista no céu, junto
com os santos do Antigo Testamento, em
Apocalipse 4 e 5. O livro de Apocalipse
não nos diz como ela chegou ali, mas nós
a vemos ali em elevada comunhão e santa
adoração. Depois, em Apocalipse 19,
Aquele que cavalga o cavalo branco
desce, com os Seus santos, para exercer
juízo sobre a besta e o falso profeta —
para vencer todo inimigo e todo o mal, e
reinar sobre toda a terra pelo bendito
período de mil anos.
Tal é o claro ensinamento do Novo
Testamento para o qual sinceramente
chamamos a atenção de nossos leitores. E
ninguém suponha que, ao ensinarmos
assim, ao enfatizarmos que a Igreja não
estará na "grande tribulação" e não
passará pela "hora da tentação", nosso
objetivo seja apresentar uma senda fácil
para os cristãos. Não se trata disso. O
fato é que a condição real e normal da
Igreja neste mundo, e, por conseguinte do
cristão individualmente, é de tribulação.
Assim diz nosso Senhor: "no mundo
tereis aflições". E "também nos gloriamos
nas tribulações".
Portanto, não se trata de uma questão de
se evitar aquilo que já é a porção
determinada para nós neste mundo, se tão
somente formos fiéis a Cristo. Mas é certo
que toda a verdade da posição da Igreja e
de sua expectativa está envolvida nesta
questão, e esta é a razão de insistirmos
tanto para que nossos leitores atentem a
isto em oração.
O grande objetivo do inimigo é arrastar a
Igreja de Deus para um nível terreno,
desviar totalmente os cristãos da
esperança que lhes foi divinamente
designada, levá-los a confundir as coisas
que Deus diferenciou, ocupá-los com as
coisas terrenas, fazendo com que
misturem de tal maneira a vinda de Cristo
para o Seu povo com Sua aparição em
juízo para o mundo, que fiquem
incapazes de cultivar aquelas afeições
nupciais e as aspirações celestiais que lhes
pertencem por serem membros do corpo
de Cristo. O inimigo de bom grado fará
com que fiquem procurando por diversos
eventos terrenos que possam separá-los
da esperança que lhes cabe, a fim de não
poderem viver — como Deus gostaria
que pudessem — numa premente
expectativa, com um desejo ardente pelo
surgimento da "resplandecente Estrela da
Manhã".
O inimigo sabe muito bem o que o
aguarda, e certamente não devemos
ignorar sua astúcia, mas nos dedicarmos
ao estudo da Palavra de Deus,
aprendendo assim, como certamente
aprenderemos, a dupla aplicação do
glorioso fato da vinda do Senhor.