A Crompreensão do Espírito Santos

 
«Chegou o dia alegre. - escreveu o Dr. R. A. Torrey - quando tomei posse do pensamento, e este tomou posse de mim, que um Outro estava ao meu lado ... Desde aquele dia, nunca mais tive ansiedades nem cuidados». Eis o que a compreensão do Espírito Santo fez para um homem que, mais tarde, tornou-se um gigante na fé. Muitas pessoas que já leram esta condensação afirmam que é a declaração mais bíblica, mais esclarecedora e, contudo, mais simples, acerca das mais profundas verdades sobre o Espírito Santo que tenham visto. Foi compilada nesta forma a fim de trazer a cada leitor sincero a mesma emancipação e poder espiritual que foi experimentado pelo Dr. Torrey e uma multídão de outros servos do Senhor, que chegaram a compreender o ministério e a operação do Espirito Santo de Deus nas suas vidas. Harold P. Barker, o autor, de nacionalidade inglesa, foi conhecido como um mestre de contar histórias. Os luminosos quadros da sua fluente pena e as ilustrações tão a propósito, pelos quais se tornou famoso, brilham em quase todas as páginas deste livro, de maneira que a leitura é uma delícia e a retenção das ilustrações muito fácil.
 
 
 A VINDA DO CONSOLADOR
 
Quando o Senhor, no fim da sua estadia aqui no mundo, estava prestes a voltar para o Céu, Ele falou acerca de um «outro Consolador», que viria para habitar naqueles que Lhe pertenciam (João 14:16). Este Consolador, o Espírito Santo, seria enviado da parte de Deus Pai, em Nome de Cristo (João 14:26), isto é, como Representante de Cristo, para fazer o Seu trabalho, cuidar dos Seus interesses, agir a favor d'Ele. Ele seria o Divino Plenipotenciário, não falando como de Si Mesmo (isto é, as Suas próprias palavras), mas recebendo as coisas de Cristo e revelando-as aos homens que são chamados pelo Seu nome (João 16:14). . O Espirito Santo não veio para dar testemunho de Si mesmo. Em maravilhosa graça, Ele veio como o Servo Divino do Deus Trino. O Seu ministério consiste em atrair os homens a Cristo.
 
 
A TERCEIRA PESSOA
 
Quando o Senhor Jesus Cristo estava no mundo, Ele era «Emanuel», que, sendo interpretado, quer dizer: Deus connosco» (Mateus 1: 23). A segunda Pessoa da Trindade Divina tomou Deus visível aos homens. Ele habitou entre eles durante alguns anos, e eles viram a Sua glória.
 
Não é menos verdade que, durante o tempo presente, há também uma Pessoa Divina no mundo, habitando aqui nos filhos de Deus e com eles. Não é Este o que chamamos a Segunda Pessoa, mas sim a Terceira Pessoa da Divindade Trina. Não foi preparado um corpo para Ele, como o foi para Cristo (Hebreus 10: 5), pois o Espírito Santo não incarnou.
Ele habita nos corpos dos crentes; estes nossos corpos são os templos, nos quais Ele se manifesta (I Coríntios 6: 19). Tenhamos claramente em mente que o Espírito Santo é, de fato, tão realmente uma Pessoa como o é o Senhor Jesus Cristo. Não O podemos ver, mas a Sua personalidade e a Sua presença connosco são factos inegáveis. Fazemos esta afirmação porque muita gente parece ter a ideia de que o Espírito Santo é apenas uma espécie de influência emanando de Deus e falam d'Ele como se fosse uma coisa. Sem dúvida, Ele exerce uma grande e benéfica influência, mas, em Si, Ele é muito mais do que uma mera influência. Ele dispõe de poder maravilhoso, mas é, em Si, mais do que um poder. Esta verdade é claramente mostrada em João 16: 13,14.
 
Nestes dois versículos, há sete afirmações que provam, além de toda a dúvida, ser Ele uma Pessoa. Vejamos estas afirmações:
 
(l)Ele vem;
(2) Ele guia;
(3) Ele ouve;
(4) Ele fala;
(5) Ele glorifica;
(6) Ele recebe;
(7) Ele anuncia.
 
Algumas destas coisas se podem dizer acerca de um poder ou de uma influência, mas nem todas. Um poder poderá ouvir? Poderá uma influência receber? Evidentemente que não I Estas coisas provam que Aquele que as faz é, na verdade, uma Pessoa. Outro versículo diz-nos que Ele pode ser entristecido (Efésios 4: 30). Será possível entristecer um poder ou uma mera influência? O pronome «Ele», empregado oito vezes nos doís versículos de João 16, acima citados, no original, como na lingua inglesa, só se emprega quando se refere a uma pessoa e nunca para uma coisa.
 
«QUANDO VIER O CONSOLADOR»
 
Estas palavras, tiradas de João 15: 26, mostram que, na altura em que foram pronunciadas, o Espírito Santo ainda não viera. Este é claramente o significado também das palavras em João 16: 13: «Quando vier aquele Espírito de verdade». Podem bem empregar-se tais palavras acerca duma pessoa que deve chegar a qualquer lugar, mas não teriam significação se essa pessoa já lá estivesse. Alguém desejará lembrar-me, porém, de que lemos acerca da operação do Espírito Santo no mundo nos tempos anteriores à vinda de Cristo. Não é verdade que, no principio Ele Se movia sobre a face das águas? Não estava Ele com Davi quando, orando, pediu a Deus: «Não retires de mim o Teu Espírito Santo»? Não veio Ele sobre vasos escolhidos de vez em quando: homens como Bezaleel, Gedeão e outros? Tudo isto, certamente, é verdade. Mas é evidente que o Senhor tinha em vista uma coisa bem diferente quando disse: «Quando vier o Consolador». Quando falou assim, qualquer coisa, inteiramente nova, estava no Seu pensa- mento. Esta não é a única vez em que se faz referência à vinda do Espírito Santo nos Evangelhos como um acon- tecimento futuro. Em João 14: 16, o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: «Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador»; e no versículo 26, também: O Espírito Santo que o Pai enviará». Não era apenas porque o Espírito Santo havia de habitar que a Sua vinda prometida seria diferente de tudo que tinha havido anteriormente. Nos dias anteriores, as ocasiões da Sua vinda eram, principalmente, com o fim de encher com poder algum instrumento escolhido para um determinado propósito. Por isso lemos, de modo geral, que desceu sobre os objec- tos da Sua visitação. Veio sobre Otniel, sobre Gedeão, sobre [eftá, sobre Sansão, sobre David, sobre Azarias, sobre J aaziel, sobre Zacarias, etc.
 
"Em contraste com isto, Cristo disse, em João 14: 17: «Estará em vós». Paulo escreve D01> crentes em Corinto de «o Espírito Santo, que habita em vós» (I Coríntios 6: 19). Também fala do «Seu Espirito que em vós habita» (Romanos 8: 11) e do «Espírito Santo que habita em nós» (lI Timóteo 1 : 14). A importância de distinguir entre «sobre» e «em» é maior do que a princípio se pode supor. Para ilustração deste ponto, pensemos no contraste entre as antigas cara- velas e os modernos barcos movidas a vapor. Os barcos antigos dependiam, para progredirem na sua rota, dum poder exterior que descia sobre eles. Quando o vento enchia as velas, o progresso era fácil e rápido. O barco a vapor, por outro lado, é movido por um poder interior. e este não é variável, mas constante. O vento pode soprar. as ondas podem empolar-se, mas o vapor prossegue na sua rota, porque a força que a impele é interior. Nos dias anteriores à vinda de Cristo, o povo de Deus era parecido com o barco à vela. Hoje, os crentes são semelhantes ao vapor. O nosso progresso depende duma força interior, e não somente o nosso progresso, mas o nosso gozo, o nosso serviço, o nosso testemunho, todos dependem do Consolador que habita em nós e permanece connosco. Sem esta bendita Pessoa e a opera- ção de graça e poder d'Ele nas nossas almas, não pode haver um conhecimento verdadeiro de Deus, nem a com- preensão das Suas coisas maravilhosas.
 
 
PROMESSA E FATO
 
O fato de a Terceira Pessoa da Divindade estar residindo neste planeta que denominamos Terra é uma das verdades maiores, mais fundamentais, mais significa- tivas, mais características e de maior alcance. Antes, porém, de ser possível que viesse, para habitar aqui, tornava-se indispensável que se realizasse um certo evento. Isto encontra-se claramente afirmado em João 7 : 39: «Isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que n'Ele cressem: porque o Espírito Santo ainda não fora dado por ainda Jesus não ter sido glorificado». A exaltação do Senhor Jesus, que seria primeiro rejeitado, devia ter lugar antes que o Espírito Santo pudesse ser dado na forma nova e maravilhosa que o Senhor prometera. Por isso, Ele disse: «Se Eu não for, o Conso- lador não virá a vós; mas, se Eu for, envíar-vo-Lo-ei» (João 16: 7). Afinal chegou o tempo para o cumprimento da pro- messa. O Consolador, há tanto tempo esperado, foi enviado. Todos os pormenores da Sua vinda são dados em Actos 2. Antes da Sua vinda, o Senhor ensinou aos Seus discípulos, como em Lucas 11 : 13, que deviam pedir o Espírito Santo em oração. Sem dúvida que foi esse o assunto princípal quando os 120 «todos perseveravam unânime- mente em oração e súplicas» (Actos 1 : 14). Mas, por fim, a oração transformou-se em louvores. O Senhor Jesus, que fora rejeitado pelo mundo, fora glorificado no Céu e, «exaltado pela dextra de Deus», enviou o Espírito Santo para habitar no Seu povo, e para permanecer com eles para sempre. Desde aquele momento, em vão procuramos qualquer vestígio de tal coisa que seja orar, pedindo o Espírito Santo. Tal oração seria muito apropriada antes da Sua vinda, mas agora, depois de ser dado, uma petição neste sentido é imprópria. Que um crente, que vive durante o tempo presente, da presença no mundo do Consolador, faça as mesmas súplicas que aqueles que viviam antes da Sua vinda; isto é apresentar a oração, ou de ignorância ou de incredulidade. Podemos e devemos pedir que sejamos guardados de entristecê-Lo; que sejamos fortalecidos com poder pelo Espírito no homem interior; que Ele nos encha, de maneira que rios de água viva corram de nós, como de canais, para os outros, que sejamos ajudados divinamente nos nossos esforços para guardar a unidade do Espírito no vínculo de paz; f:! que possamos abundar em esperança pelo poder do Espírito Santo. Para todas estas e coísas semelhantes é justo e apropriado que oremos continuamente.
 
 
«JÁ FOI FEITO»
 
VOU fazer uma pergunta ao leitor: Seria próprio que um verdadeiro crente em Cristo pedisse o perdão de todos os seus pecados? «Não, com certeza, - seria a sua respósta - porque lemos em Efésios 4: 32, que Deus já 00S perdoou em Cristo». Deveria o crente pedir o dom da vida eterna? «Evidentemente que não, - responderá - porque aquele que crê no Filho tem a vida eterna. Por isso, não seria inteligente que alguém pedisse o que já lhe pertence». A mesma resposta daria se eu perguntasse se devía- mos pedir certas outras bênçãos, como idoneidade para o Céu; porque lemos, em Colossenses 1: 12, «Dando graças ao Pai que nos fez ldôneos para participar da herança dos santos na luz». Tudo isto é muito claro. Agora desejo chamar a aten- -çâo do leitor para o Jacto que o tempo passado, que mostra um facto já consumado, é empregado mais que uma vez em ligação com o dom do Espírito Santo. ) Lemos, por exemplo, em Actos 5: 32, do «Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem». Em 2 Coríntios I: 22, é-nos dito que Deus «nos selou '2 nos deu o penhor do Espírito, em nossos corações». Em Gálatas 4 : 6, também, lemos: «porque sais filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito do Seu Filho» ; em I Tessalonicenses 4: 8: «que nos deu também o Seu Espírito .Santo ; e em I João 3: 24: «pelo Espírito que nos tem dado». Estas passagens mostram que o dom do Espírito Santo, em vez de ser assunto para oração, é, para o crente, assunto de louvor e acções de graças. Se o leitor nunca agradeceu, com gratidão e sinceridade, ao seu Deus e Pai, por este estupendo dom, não quererá fazer hoje mesmo? E muitas vezes possa repetir tais acções de graças a Deus pelo dom do Espírito Santo.
 
 
O ESPÍRITO SANTO COMO O SELO
 
No Novo Testamento, lemos três vezes acerca de sermos selados com o Espírito Santo. Não é o caso que o Espírito Santo nos tenha selado, mas que Ele é o Selo, pelo qual somos assinalados como pertencendo a Cristo. É Deus «O qual também nos selou»  2 Corintios 1 : 22). Somos marcados como sendo de Cristo, não por um sinal na testa, nem por qualquer peça de vestuário especial, mas pelo facto de termos o Espírito Santo habitando em nós. É preciso não confundirmos o nascermos do Espírito> com o sermos selados com o Espírito. As duas coisas são inteiramente diferentes. Nascemos do Espírito a fim de sermos filhos de Deus. Somos selados com o Espírito porque somos Seus filhos e pertencemos a Cristo. Um lavrador vai à feira para comprar algumas ovelhas. «Ãgora - diz ele, - vou marcá-las com a letra inicíal do meu nome, para que, se alguma delas se extraviar, possa reconhecê-la depois como propriedade minha». Tendo pago o preço, em seguida põe nelas o seu sinal. O marcá-las não vai fazê-Ias suas; o preço que pagou é que faz isto. Ele põe a sua marca nelas porque são dele . Da mesma maneira, vou a uma camisaria e compro algumas camisas. Quando chego, depois, a casa, pego no frasco de tinta especial e escrevo o meu nome nas camisas. Por que faço isto? Certamente que não o faço para que elas sejam minhas. O preço que paguei na camisaria tomou-as propriedade minha. Marco-as porque quero que seja conhecido dos outros que elas são minhas, quer na lavandaria ou onde quer que elas se encontrem.
 
Como crente, dó-se a mesma coisa. Comprado com o precioso sangue de Cristo, pertence-Lhe agora. E, por este motivo, Deus sela-o, dando-lhe o Espírito Santo para habitar nele. Desta forma, somos «selados com o Espírito Santo da promessa» (Efésios I: 13). Qual é a base em que somos selados? Que não n05 enganemos quanto a isto. O Senhor Jesus, enquanto estava aqui no mundo, foi selado por Deus, o Pai (João 6: 27): Este selo foi dado na base da Sua própria perfeição pessoal. Connosco, porém, o caso muda de figura. O Espírito Santo não nos é dado por qualquer coisa que haja em nós. Não somos selados devido à nossa santidade, o nosso progresso em coisas espirituais, a nossa maturidade da nossa devoção. Somos selados pura e simplesmente porque já fomos redimidos com o precioso sangue de Cristo. Somos selados porque estamos firmados em toda a eficácia per- manente do Seu sacrifício, oferecido uma vez para sempre.
 
 
SELADOS PARA SEGURANÇA
 
Um dos pensamentos principais ligados na Bíblia com o selar do crente é o de segurança. Uma coisa selava-se para a tornar segura para o seu dono. Muitas vezes se observa uma coisa interessante num mercado de Marrocos. Um homem compra alguns sacos de milho e, logo em seguida, sela-os. Depois de os marcar, desta maneira, como propriedade sua, vai buscar o seu burro. Volta, então, ao mercado, exige a entrega dos sacos que marcou e leva-os embora com ele .. A mesma coisa dá-se no nosso caso. Deus selou-nos, deixando-nos aqui por algum tempo, até que Cristo nos venha buscar para nos levar. Os principais dos sacerdotes e os fariseus vieram ter com o governador romano, depois do Senhor ter sido crucificado e sepultado, dizendo: «Senhor, lembramo-nos que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Manda, pois, que o sepulcro seja guar- dado, com segurança, até ao terceiro dia, não se dê o caso que os seus discípulos vão de noite e o furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos». Reparai na resposta do governador. Parece que estava aborrecido com aqueles homens ardilosos e não desejava fazer mais, fosse o que fosse, para lhes agradar. «Tendes a gusrda ; - disse ele - ide, segurai-o o melhor que vos seja possível». Observai, agora, como fizeram isso. O seu objectivo era tornar o sepulcro invulnerável, tanto quanto pudessem, para que não fosse espoliado do seu conteúdo: «Assim, indo eles, seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra» (Mateus 27: 66). Com estas duas coisas, procuraram tornar o sepulcro seguro, quanto pudessem:
 
(1) selando-o,
(2) pondo a guarda a vigiá-la.
 
Deus, em maneiras semelhantes, tornou-nos tão seguros quanto Lhe seja possível:
 
(1) selando-nos com o Espírito Santo, e
(2) guardando e vigiando-nos, porque «Do justo não tira os Seus olhos» (Jó 36: 7).
 
Ele vigia-nos, noite e dia. Ficaria o sepulcro seguro para aqueles sacerdotes e fariseus? Não; porque um poder superior ao deles quebrou o seu selo, dominou os que vigiavam, e roubou o sepulcro do seu conteúdo. Poderá tal coisa acontecer àqueles que Deus selou com o Espirito Santo?
 
Não, graças a Deus; não existe qualquer poder no universo que possa quebrar o selo ou colocar em perigo aqueles que Ele colocou em segurança. Ele tornou-nos tão seguros quanto possível! A nossa segurança é absoluta. QUANDO? Quando é, precisamente, que o crente recebe o Espírito Santo? Será no momento da sua conversão, ou em algum período subsequente da sua vida espiritual? Vejamos o que diz a Epístola ao Romanos. Nos capítulos 3 e 4, a maneira como os ímpios pecadores são justificados é desenvolvida. No começo do capítulo 5. , chegamos ao ponto onde declara que, sendo justificados pela fé, temos paz com Deus; e o Seu amor é derramado em nossos corações (versículo 5). Por que meio? «Pelo Espírito Santo que .nos foi dado». Concluímos que a justificação pela fé é acompanhada pelo dom do Espírito Santo. Alguns fazem objecção a isto, baseando-se nas pala- vras de Efésios 1: 13: «Tendo n'Ele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa». Mas não existe qualquer pensamento de sequência cronológica neste versículo. Devemos ler, antes, com o significado seguinte : «crendo, fostes selados». A sequência é moral e não crono- lógica. Quando uma roda começa a girar, um raio vai seguindo outro, mas nenhum raio principia a mover-se antes dos outros. Pode-se numerá-Ios 1, 2, 3, etc., e observar-se que sempre seguem um ao outro nesta mesma ordem. Contudo, todos começam a mover-se no mesmo momento, Não há qualquer intervalo de tempo entre o momento em que o N. 1 começa e o N.° 2, embora o N.o 2 siga o N.° 1. Da mesma forma acontece com o crente. Chamemosraio
N.o 1, Crer; o
N.° 2Justificação; o
N.° 3 o Dom do Espírito Santo.
Seguem um ao outro nesta ordem, porém, quanto ao tempo, todos coincidem. Houve excepções a esta regra geral nos dias de transição, dos quais lemos no livro dos Actos. Estas excepções são explicadas no Capítulo 8. Mas em Actos 10, encontramos o princípio, sobre o qual, os crentes, especial- mente de entre os gentios, recebem o Espírito Santo. Pedro estava pregando em casa de Comélio. Chegou à altura de dizer as seguintes palavras: «Todos os que n'Ele crêem receberão o perdão dos pecados, pelo Seu nome» (Versículo 43). Aqueles que ouviam, evidentemente esta- vam misturando com fé o que estavam ouvindo. Receberam as boas novas e, enquanto Pedro ainda falava, «caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra».
 
 
O PODER DE PENTECOSTES
 
Três coisas contribuíram para tomar tão excessivamente significativo o grande evento da vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Primeiro, o Pentecostes foi a inauguração de uma coisa completamente nova na terra. Foi o começo do Cris- tianismo. Foi o dia do nascimento da Igreja. Quando, nos desígnios de Deus, esta nova coisa, que Ele tinha proposto que se realizasse, devia ser estabelecido, o Próprio Espírito Santo veio inaugurá-Ia. Nunca seria necessário repetir essa inauguração. Não houve, nem haverá, um segundo Pentecoste3. Como é que poderia haver tal coisa? Poderá alguma coisa principiar a existír duas vezes? Toca um sino para avisar que vai principiar um culto. Depois do culto começar, o sino continua, por- ventura, a tocar? Semelhantemente, aqueles que são inteligentes, quanto ao verdadeiro significado do Pentecostes, não esperarão hoje uma repetição. Basta-Ihes saber que a coisa, da qual fazem parte integral, foi começada no seu curso aqui no mundo com sinais de autenticação divina, visto que o Espírito Santo veio para lhe dar existência.
 
 
A SUA UNIDADE E O SEU PODER
 
Em tempos passados, aqueles que temiam ao Senhor às vezes chegavam-se muito perto uns dos outros e «falavam cada um com o seu companheiro». Mas não existia qualquer ligação orgânica entre eles. Eram parecidos com maçãs num barril, apertadas e comprimidas, mas sem terem qualquer união entre as diferentes maçãs; quando se despejar o barril, as maçãs vão rolando em todas as direcções ; nada há que as ligue umas às outras.
 
No Cristianismo, o corpo humano é usado como figura 'para ilustrar as relações que existem entre os crentes. Somos membros do mesmo corpo. Ora, se um homem cair, na rua, os seus dedos e pés, olhos e orelhas, não se separam para irem rolando como maçãs. São unidos uns aos outros, sendo componentes dum organismo. Com os crentes em Cristo, a mesma coisa acontece. Não somos como aqueles que viviam debaixo da velha economia. Eles eram parecidos com as maçãs; ao passo que nós somos membros dum organismo vivo, formado no Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi dado a cada um daqueles que estavam reunidos. Sendo habitados pelo único Espírito, juntamente formamos um s6 corpo. Este, repito, não é uma organização, mas, sim, um organismo. Uma associação de hortícultura é uma organização. Tem o seu presidente, seu více-presídente, secre- tário, tesoureiro e comissão de controle. Mas um organismo não é constituído assim. O corpo humano não é governado por um presidente, secretário, tesoureiro e comissão de controlei É governado por uma cabeça. Assim mesmo acontece com o corpo de Cristo. É governado e guiado pela sua Cabeça, e os membros ficaram no mundo para que as graças da Cabeça sejam reprodu- zidas neles. Deus permita que a grande verdade da unidade, que iniciou a sua existência no Pentecostes, possa colorir as nossas vidas cada vez mais, e fazer que estejamos sempre prontos a reconhecer todos os crentes (ainda que os encon- tremos somente por casualidade num comboio ou auto- carro) como membros conjuntamente do corpo de Cristo, unidos connosco n'Ele. Desta forma podemos «procurar guardar a unidade do Espírito, pelo vínculo da paz» (Efésios 4: 3). A terceira característica saliente de Pentecostes é que os servos do Senhor foram, então, equlpados com um novo e maravilhoso poder. «Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há-de vir sobre vós», disse o Senhor ressurrecto (Actos I : 8) ; e Ele disse aos Seus discípulos que ficassem na cidade de Jerusalém, até que, do alto, fossem revestidos de poder» (Lucas 24: 49). O poder que tornaria o seu testemunho eficaz não seria o da espada. Foi Maomé e os seus sucessores que haviam de fazer prosélitos com ameaças de morte. Nem tão pouco o poder seria de milagres. Estes ser- viram o seu propósito para estabelecer a origem divina da coisa nova que Deus havia trazido à existência, e como garantia que a mensagem era de Deus. Mas não seriam os milagres o poder pelo qual a fé no Evangelho seria asse- gurada durante os anos vindouros.
 
 
As QUATRO COMUNIDADES
 
Em ligação com a vinda do Espírito Santo, havia quatro comunidades que deviam ser tomadas em conta, a saber:
 
(1) Os Cristãos Judaicos,
(2) Os Cristãos Samaritanos,
(3) Os Cristãos Gentios,
(4) Os Discípulos de João Baptista.
 
Representantes de todas estas quatro comunidades foram baptizados com o Espirito Santo, e foram, assim, incorporados naquele único corpo, onde não há judeu, nem gentio, mas todos, da mesma maneira, levam o nome de Cristo. O baptismo dos crentes judaicos com o Espírito Santo realizou-se no Dia de Pentecostes; o dos crentes sarna- ritanos é relatado em Actos 8: 14 a 17; o dos gentios crentes em Actos 10: 44 a 46; e o dos discípulos de João Baptista em Actos 18: 6. Este baptismo com o Espírito nunca foi repetido. Foi a iniciação na Cristandade, com todas as suas bênçãos, daqueles que, nestas quatro comunidades, haviam crido em Cristo. Aqueles que creram subsequentemente não foram baptizados desta maneira com o Espírito, mas o Espírito Santo foi dado a cada um na ocasião da sua conversão a Cristo, para habitar nele. Assim, aqueles que criam eram trazidos para dentro do corpo único. O acto inicial do baptismo com o Espírito não devia ser repetido. A Igreja foi formada, duma vez para sempre, de todas estas quatro comunidades, pelo acto inicial, no caso de cada comunidade, do baptismo com o Espírito. Falar-se acerca de indivíduos ser=rn baptizados com, ou em, de ou por, o Espírito Santo hoje é exibir-se uma singular falta de inteligência quanto ao seu significado. Há sete palavras principais empregadas no Novo Tes- tamento em ligação com a presença e a obra do Espí rito Santo:
 
1. Nascidos (João 3: 5,6).
2. Habitados (II Timóteo 1: 14; Romanos 8: 11).
3. Selados (II Coríntios 1 : 22; Efésios 1 : 13; 4 : 30).
4. Penhor (II Coríntios 1 : 22 ; Efésios 1 : 14).
5. Ungidos (II Coríntios 1 : 21 ; I João 2: 27).
6. Enchidos (Lucas 1 : 15, 41, 67; Actos 4: 8; 4: 17, etc.; Efésios 5: 18).
7. Baptizados (Mateus 3: 11 ; Actos I : 5; I Corín- tios 12: 13).
 
Estas palavras não são sinónimas, de forma alguma; não há duas delas com igual sígn'fícado. Cada uma tem significação própria. Isto deve ser fàcilmente reconhecido por todos os que acreditam que as próprias palavras das Escrituras são o que Salmo 12: 6 afirma: «palavras puras, como prata refinada em forno de barro, purificada sete vezes», isto é, completamente isenta de qualquer mistura de escórias humanas. Há um desígnio na selecção e em- prego das próprias palavras das Escrituras. O nosso apelo final deve sempre ser para a Palavra de Deus, e não para a experiência da nossa vida c de outras pessoas.
 
 
O BATISMO DO ESPíRITO
 
Vou pedir ao leitor que me acompanhe num exame muito cuidadoso das passagens que falam do baptismo do Espírito. Em primeiro lugar, há passagens que pode- mos chamar proféticas ou antecipadoras, nas quais se fazem predições acerca de um evento ainda futuro. A primeira encontra-se em Mateus 3: 11, onde [oão Baptista declara: «Eu, em verdade, vos baptizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos baptizará com o Espírito Santo e com fogo». Há passagens paralelas em Marcos 1: 8 e Lucas 3 : 16. Em João 1 : 33, há outro versículo em que o Senhor Jesus é indicado como Aquele o.ue havia de baptizar com o Espírito Santo. A última passagem daquelas que chamamos proféticas, ou antecipadoras, está em Acros 1 : 5. Nela, o Pró- prio Senhor Jesus, depois da Sua ressurreição, fala da promessa como ainda havendo de ser cumprida, especifi- cando o tempo do baptismo como «não muito depois destes dias», em referência ao tempo em que proferia as palavras. Estas passagens, tiradas dos Evangelhos e Actos, abrangem um período de cerca de três anos e meio. Durante todo esse tempo, a promessa ficava por cumprir-se. O baptismo ainda seria futuro. Contudo, durante o mesmo período, os servos de Cristo conseguiram alguns resultados muito notáveis. Pregaram o evangelho e curaram os enfer- mos por toda a parte onde foram (Lucas 9 :6). Expulsaram demónios (Marcos 6: 13) e viram que estes foram obri- gados a sujeitarem-se-lhes (Lucas 10: 17). Tudo isto, notai, realizou-se sem que houvesse baptismo do Espírito. Numa ocasião falharam. Ao perguntarem qual o motivo do seu insucesso, o Senhor não Ihes mandou procurar em Cristo (Actos 18: 8), eram filhos de Deus, lavados. purificados, santificados e justificados (6: 11). Como tais, haviam participado do baptismo do Espírito Santo; sim. todos eles. 2. Com que objectivo foram os crentes de Corinto baptizados com o Espírito Santo? Não foi especialmente para os encher de poder para testemunho e serviço. Pelo menos, não foi este o objectivo principal. Nem foi para que falassem com línguas ou gozassem alguma experiência exaltada. Foi para que estivessem unidos num corpo, num organismo vivo. O grande objectivo do baptismo era a for- mação do corpo de Cristo. Os crentes, assim, deixavam de ser um mero grupo de indivíduos, ligados por interesses comuns. Sendo baptizados com o Espírito, foram caldeados ou fundidos num só, incorporados numa união absoluta e completa. O corpo humano é émpregalo como figura do corpo de Cristo, quer no sentido local, como em I Coríntios 12. ou no seu significado mais amplo. Ora, o corpo humano não é uma organização; é um organismo, tendo a mesma vida em toda a parte, e governado pela cabeça. Já fala- mos disto num capítulo anterior. ' Nunca se fala de qualquer indiruluo que tivesse sido baptizado com o Espírito, e em parte alguma se manda qualquer indivíduo a buscar tal baptismo. É uma coisa corporativa e colectiva. Não se pode salientar demasiada- mente esta verdade.
 
 
QUANDO FORAM ELES BATIZADOS?
 
Dissemos que havia três coisas a notar especialmente ao lermos o versículo 13 de I Coríntios 12. Estamos prontos, agora, para tratarmos da terceira destas coisas. 3. Quando foram os crentes de Corinto batízados com o Espírito? Em nenhuma ocasião da sua própria experiência espiritual!
 
Peço a atenção muito cuidadosa do leitor sobre este ponto. A não ser que o compreenda bem, nunca possuirá o verdadeiro significado do baptismo do Espírito Santo. Para servir de ilustração, leia em I Coríntios 10 : 1,2 : «Nossos pais estiveram, todos, debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar, e todos foram baptizados em Moisés». Bem, lemos de alguns dos «pais» em Actos 28: 25, aos quais o Espírito Santo falou pcr intermédio de Isaías. Estes viveram centenas de anos depois da travessia do Mar Vermelho, contudo, Paulo escreve : «Todos os nossos pais estiveram debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar». Mais tarde, Jeová diz ao Seu povo delinquente, em Amós 2: 10: «Também vos fiz subir da terra do Egipto, e quarenta anos vos guiei no deserto». A verdade é que o povo a quem esta palavra foi dirigida nunca tinha estado no Egipto, nem no deserto. Viveram centenas de anos depois do Exodo. Contudo, diz-se que tiveram parte naquela libertação maravilhosa. - Semelhantemente, os crentes de Corinto não estiveram realmente presentes na ocasião do grande baptismo hístó- rico do Espírito Santo. Porém, tal corno os «pais», nos dias de Isaías, e os israelitas a quem Amós falou, os quais se disse que tiveram parte na grande libertação do Egipto, pelo motivo do seu nascimento como israelitas, estavam integrados no povo que teve essa experiência pelo favor de Deus, assim, também, dos crentes de Corinto se fala de terem sido baptizados pelo Espírito, visto que, sendo habitados pelo Espírito de Deus, ao receberem o evan- gelho, foram feitos parte integrante daquele maravilhoso organismo, o corpo de Cristo. Pessoal e literalmente, -nem os crentes de Corinto (nem quaisquer que viveram subsequentemente) foram baptizados com o Espírito, como aqueles a quem se refere em Amós 2: 10, tão-pouco, foram pessoal e literalmente libertados e trazidos do Egipto. Mas cada um, ao receber o evangelho, foi selado com o Espírito de Deus, tornando-se, deste modo, parte integrante daquela companhia. que ficou formada num só corpo pelo baptismo do Espírito. o
 
 
PRÓPRIO ACONTECIMENTO
 
Chegamos, agora, ao terceiro grupo de passagens relacionadas com o baptismo do Espirito - as Escrituras históricas, ou narrativas, que descrevem o próprio acontecimento, ou se referem a ele. Actos 2 é o capítulo que relata pormenorizadamente como se cumpriu a promessa do Senhor que os discípulos seriam «baptizados com o Espirito Santo, não muito depois destes dias» (Actos 1 : 5). No capítulo 2 não se encontram as palavras «baptísmo» ou «baptízar», em referência a este grande acontecimento, mas é abundantemente evidente que era, de facto, o baptismo prometido, pela leitura de Actos 1: 5; 11: 15,16. Fala-se de ter sido derramado o Espírito em Actos 2 : 33; e um novo derramamento do Espírito, em Actos 10 : 45, a que vamos fazer referência mais tarde, foi reali- zado, da mesma maneira como no Pentecostes: «como também sobre nós no princípio» (Actos 11 : 15). Reparemos, de novo, no emprego da palavra «todos». como em I Coríntios 12. Os cento e vinte discípulos, homens e mulheres, «estavam to-los reunidos no mesmo lugar». De repente, o Espírito é derramado e todos foram cheios (versiculo 4). O baptismo englobava todas as pes- soas que estavam presentes, e o resultado foi que o corpo de Cristo foi formado. Os cento e vinte tornaram-se mem- bros dum organismo vivo, unidos ao seu Cabeça, no Céu, desta maneira maravilhosa. Houve outros resultados. Ouviu-se um som como de um vento veemente e impetuoso; línguas repartidas, como que de fogo, pousaram sobre cada um deles. Anteriormente, Deus de Seus anjos fez ventos e de Seus ministros laba- reda de fogo (Hebreus I: 7). Se Deus desejasse que um vento forte soprasse nas almas dos homens, ou algum fogo de entusiasmo e zelo ardesse e brilhasse, fazia isto pelo serviço dos Seus anjos. Mas isto foi ultrapassado, no Pentecostes, pelo dom do Espírito. Doravante, seria Ele a origem de qualquer poderoso vento da parte de Deus entre os filhos dos homens ; seria Ele o Autor de qualquer chama viva e brilhante que Deus desejasse acender. Agora, visto que os discípulos foram todos «cheios do Espírito Santo» na ocasião do baptismo, algumas pes- soas têm confundido o baptismo histórico com o «enchi- mento» que se dá continuamente, e que se recomenda a todos os crentes (Efésios 5: 18). Somos exortados a enchermo-nos, mas, como já dissemos, nunca somos exor- tados a sermos baptizados com o Espírito. A diferença é real e importante.
 
 
O MESMO ESPÍRITO SANTO
 
A promessa do Senhor, que o outro Consolador que havia de vir ficaria para sempre com os Seus discípulos (João 14: 16), devia ser tomada literalmente. Tudo quanto foi inaugurado, com a Sua vinda no Dia de Pentecostes, continua até ao dia de hoje. Ain~a estamos no período da residência do Espírito Santo no mundo. Não é verdade que este facto é descurado grande- mente, mesmo entre os Evangélicos? O que significam aqueles pedidos repetidos para que Ele venha? aqueles hinos que imploram que Ele desça, senão a falta de fazer caso da Sua presença?
 
Um conde foi convidado a presidir a uma reunião pública, tendo aceitado o convite. À hora designada chega à sala de conferências, mas não é reconhecido pelas pessoas responsáveis pela reunião, que eomeçam a ficar apreen- síveís. Telefonam para a casa do Sr. Conde, rogando que venha sem demora, mas são informados que ele já tinha saído de casa há mais de meia hort e já devia ter chegado.
 
Enviam um mensageiro, esperando que encontre o esperado presidente e possa apressar a sua chegada. Durante todo este tempo, o fidalgo está ali, esperando que alguém o reconheça, pronto para tomar o seu devido lugar e abrir a reunião, conforme a sua promessa. Fala com uma e outra pessoa, mas não ligam nem prestam atenção, tão preocupados se encontram. Dirige-se para um dos respon- sáveis pela reunião, mas este senhor afasta-se apressada- mente, sem lhe dar uma palavra. A sua presença é des- prezada, ao mesmo tempo que se mandam mensagens urgentes implorando que apresse a sua vinda I Não se parece esta situação com a do Espírito Santo? Veio, conforme a promessa, no Pentecostes, Ainda aqui está, pronto a preencher o Seu próprio lugar e tomar li direcção, como Representante de Cristo. Em vez de implorarmos: «Desce, ó Santo Espírito, desce», ou «Vem, Pomba Celestial», por que não reconhecer que Ele está presente, deixando de usurpar as Suas funções de direcção, e entregando-Lhe o direito de gover- nar? Aqueles que fazem isto nunca perdem com a rendição. As suas vidas pessoais e as suas vidas colectivas são vasta- mente enriquecidas pelo seu reconhecimento da presença e direcção do Espírito Santo.
o CONSOLADOR Quatro vezes, no Evangelho de João, Cristo falou acerca do Espírito Santo, que havia de vir para os Seus discípulos, depois da Sua partida, como o Consolador. A primeira vez, o Senhor referiu-se a Ele como outro Consolador (João 14: 16). Ele Mesmo tinha sido o Con- solador e Conservador dos Seus amados. Agora Ele tinha de os deixar; mas Outro viria que seria para eles tudo o que Ele havia sido, e que nunca teria de os deixar, mas ficaria com eles para sempre. A segunda vez, o Consolador prometido lhes ensina- ria todas as coisas (joão 14: 26). Havia tanta coisa que os discípulos não foram capazes de compreender que o Senhor lhes tinha dito. Além disso; havia muito que não lhes disse por causa da falta de compreensão (16: 12). Mas o Espírito Santo tornaria tudo claro e instrui-Ios-ia em tudo o que fosse preciso. E Ele lembrar-Ihes-ia as palavras de Cristo. Em terceiro lugar, o Consolador seria o Espírito de verdade, e testificaria de Cristo (João 15: 26). Acerca disto já falamos em outro capítulo. Por último, Ele tomaria determinada atitude quanto ao mundo (João 16: 7 a 11); reprovando (ou conven- cendo) o mundo com referência CIO pecado, à justiça e ao juizo.
 
 
O AJUDADOR
 
Na sua «Nova Tradução», o Dr. Moffatt traduz a palavra Consolador por «Ajudador», nas quatro passagens no Evangelho de João em que se encontra. O falecido Dr. Torrey deu um exemplo animador do que significa termos o Espírito Santo connosco como nosso Divino Ajudador. Ele disse: Entrei para o ministério porque me obrigaram. A mi- nha conversão estava dependente da minha pregação. Durante anos recusei aceitar Cristo porque estava resol- vido que não queria pregar. Na noite quando fui con- vertido, não disse: «Aceitarei Cristo», nem coisa parecida. Disse apenas: «Estou pronto a pregar». «Mas, se qualquer homem era inapto para pregar pelo seu temperamento natural, esse homem era eu. Anormalmente tímido, nem sequer abria a boca numa reunião de oração, até depois de entrar num seminário teológico. A primeira tentativa foi uma experiência angustiosa. No princípio do meu ministério, escrevia os meus sermões e decorava-os, e, quando tivesse terminado o culto da noite e eu tinha proferido a última palavra do sermão, sentia um grande alívio porque teria uma semana antes de repetir a tarefa. Pregar era uma tortura. «Mas chegou o dia feliz quando tomei posse do pen- samento, e este tomou posse de mim, que, quando me levantava para falar, havia Outro ao meu lado e, embora o auditório me visse somente, a responsabilidade de tudo pesava sobre Ele, na realidade, e que Ele era perfeita- mente competente para arcar com ela, e tudo quanto eu tinha a fazer era ficar para trás e desaparecer de vista. quanto eu pudesse, e deixar que Ele fizesse o trabalho que o Pai O mandara fazer. «Desde aquele dia, pregar deixou de ser um fardo pesado, ou um dever, mas tem sido um privilégio alegre. Não tenho ansiedade nem cuidado. Sei que Ele está diri- gindo o culto e fazendo isto precisamente como devia ser feito; e, ainda que as coisas pareçam caminhar de modo diferente do que eu tinha pensado, sei que tudo correu bem. Muitas vezes, quando me levanto para pregar, e aquele pensamento toma posse de mim que Ele está ali para fazer tudo, uma alegria tão grande enche o meu coração que sinto vontade de levantar a voz e gritar com êxtase». - Mas não são só os pregadores e outros obreiros de Cristo que precisam, e têm, o Espírito Santo como Aju- dador, sempre pronto. Ele será o nosso Ajudador, se tão somente Lhe dermos lugar, em todas as coisas que nos confrontam na lida de cada dia. Será o nosso Ajudador na loja, onde servirmos, na oficina, no escritório, na fábrica, na escola, no atelier ou no lar. E o Seu auxílio é maravilhoso!
 
 
O ESPÍRITO DE VERDADE
 
Em ligação com este título do Espírito Santo, o Senhor fez uma predição da máxima importância: «Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade» (João 16: 13). Temos de pôr ênfase na palavra «vos» nesta promessa. Cristo estava a falar com os Seus apóstolos, e a promessa foi-lhes feita exclusivamente a eles. Foi repetida em forma diferente em João 14: 26 : «Esse vos ensinará todas as coisas». Deve ser evidente que esta promessa não se refere a todos os crentes. Quem, que não seja apóstolo, poderá dizer: «tenho sido guiado em toda a verdade», ou «O Espírito Santo ensinou-me todas as coisas»? O significado da promessa parece ser o seguinte: Enquanto revelações parciais da verdade foram feitas aos profetas antigos, e mais revelações foram dadas por Cristo, quando estava no mundo, a finalidade seria alcançada quando viesse o Espírito Santo. Ele diria, mediante os apóstolos, a última palavra. Nenhuma revelação subse- quente devia ser esperada. A verdade seria dada aos santos, duma vez para sempre (Judas 3). O Espírito Santo guiaria os apóstolos em toda a verdade. Esta constitui a garantia pessoal de Cristo que é a revelação final de Deus: os Seus conselhos, o Seu amor, os Seus caminhos, que encontramos nos escritos dos após- tolos, procede do Espírito Santo. Desta maneira, o Espírito Santo é o verdadeiro autor do Novo Testamento. Os ensinos dos apóstolos são os Seus ensinos. Isto é garantido pela promessa triplíce do Senhor. E o Novo Testamento deu-nos a última palavra de Deus, para nós, enquanto estamos no mundo. RESISTINDO AO
 
 
ESPÍRITO SANTO
 
Há várias maneiras em que se faz oposição ao Espírito Santo e o Seu trabalho é impedido.
 
1. Resistindo-Lhe (Actos 7: 51).
2. Entristecendo-O (Efésios 4: 30).
3. Extinguindo-O (I Tessalonissenses 5: 19).
 
Vamos considerar o que quer dizer resistir ao Espírito Santo.
O Espírito de Deus tinha contendido poderosamente com os homens de Israel, procurando levá-los ao arrepen- dimento e à aceitação de Cristo. Muitas vezes se tinham recusado escutar aos apelos de amor. Mais uma vez, pela boca de Estêvão, Ele dírigiu a Sua mensagem, em Actos 7, mas o único resultado foi que «enfureciam-se em seus corações e rangiam os dentes contra ele». Quão verdadeira era a acusação trazida contra eles no versículo SI : «Vós sempre resistis ao Espírito Santo». O que o Espírito Santo estava a fazer, então, no caso da nação de Israel, Ele está fazendo hoje, com indivíduos. Contende com os homens, procurando levá-los aos pés do Salvador, em verdadeiro arrependimento e fé. Mas muitos, infelizmente, seguem nas pisadas daqueles a quem Estêvão falou. Ouvem o Evangelho, é-Ihes apresentado o estado desesperado e a necessidade urgente das suas almas imortais, e ficam impressionados até certo ponto. Mas outras coisas entram e distraem a sua atenção. As suas impressões desvanecem-se. O sentido de perigo desaparece e voltam à velha rotina de vida, tão despreocupados como sempre. Resistiram ao Espírito Santo J Será fatal o seu destino, então? De maneira nenhuma. Embora muitas vezes resistido, o Espírito de Deus está cheio de graça. Na verdade, Ele é chamado «O Espírito da graça». Em misericórdia e amor, pode voltar a conten- der. Mais uma vez aquela alma pode ser levada a consi- derar solenemente o seu estado. Ainda encontrará resis- tência? e a Sua voz será abafada? Então, com paciente graça, Ele ainda pode tornar a contender. Mas, para que a Sua paciência não fosse usada pelos homens como desculpa para não tratar a sério com Ele, um facto solene está registado na Bíblia pelo próprio Deus: «Não contenderá o Meu Espírito para sempre com o homem» (Génesis 6: 3).
 
 
ENTRISTECENDO O ESPÍRITO SANTO 
 
Devemos ler com todo o cuidado a passagem que menciona este pecado (Efésios 4: 30). Frequentemente as pessoas lêem estas palavras com a ideia que se possa entristecer o Espírito ao ponto de Ele se retirar de NÓS. Mas tal pensamento não existe neste versículo; e, na verdade, tal coisa não é possível. O próprio versículo que nos acautela para que não O entristeçamos, declara que estamos «selados para o dia da redenção». Já falamos desta verdade num capítulo anterior. Suponhamos que uma pessoa tenciona passar um ano ou mais, viajando em diversos países. Em vez de fechar a casa e armazenar as mobílias, emprega um caseiro para tomar conta dela durante a sua ausência. Durante algum tempo tudo decorre normalmente, mas, um dia, ouve-se um grande estrondo num dos aposentos. O caseiro sobe a escada a correr e verifica que um grande pedaço do estuque tinha caído do teto da sala de estar, partindo algumas peças de mobiliário e cobrindo tudo de 'uma camada de poeira. Naturalmente o caseiro fica triste, mas não resolve, por este motivo, fazer as malas e abandonar a casa. Dei- xando os outros trabalhos, dedica a sua atenção a reparar o que foi danificado. Chama o estucador e manda reparar o teto. A mobília é colocada nas mãos dum bom marceneiro, e faz-se uma limpeza à sala de toda a poeira e sujidade.
 
Isto ilustra bem o que sucede quando um crente entristece o Espírito Santo. Caseiro cuidadoso e fiel, não abandona a habitação, mas consagra a Sua atenção ao trabalho de reparar o prejuízo espiritual nas nossas almas. Desiste da Sua ocupação normal de ministrar gozo e consolação aos nossos corações, e procura levar-nos a jul- garmo-nos a nós mesmos e confessar as nossas culpas, para que sejamos restaurados. As vezes faz-se a pergunta: «O que será entristecer o Espírito Santo? Será por mentirmos, roubar, praguejar, ou fazer qualquer outra coisa má?» Esta pergunta é importante. Sem dúvida, se um crente fizesse qualquer destas coisas, se pecasse assim, entriste- ceria grandemente o Espírito Santo. Ele é o Espírito Santo e fica, necessàriamente, entristecido por qualquer coisa que não seja santa. Mas pode bem ser muito entristecido por um crente, cuja conduta exterior seja exemplar.
 
Suponhamos que, enquanto estou de visita em casa de pessoas muito amigas, o meu bondoso hospedeiro me mostre um album com fotografias. Apontando para uma das fotografias, diz: «Esta é um parente meu muito querido, que está em Moçambique», falando-me em termos de muita ternura e entusiasmo da vida e dos feitos dessa pessoa. De repente, levanta a cabeça e olha para mim, verificando que estou a olhar para a rua com ar de aborre- cido e desinteressado na sua conversa. A minha falta de atenção entristece o meu bondoso amigo. «Não vale a pena mostrar-lhe o album, - diz ele de si para si - porque não tem o mínimo interesse nisso». Por isso, fecha o livro e o põe de lado. O Espírito Santo está aqui, por assim dizer, com um maravilhoso album de fotografias; todas são da mesma Pessoa gloriosa, e o Espírito Santo quer descrever-nos a Sua beleza, o Seu amor e a Sua glória. Se, em vez de O escutarmos, olhamos em outra direc- ção, ocupados com as coisas do mundo, ou entretidos com outros objectos, Ele ficará entristecido e fechará o album. Isto quer dizer que deixará de ministrar Cristo aos nossos corações e repreender-nos-á, retendo o gozo que desejava conceder às nossas almas. Conta-se a história de uma senhora que se sentou perante um órgão grandioso e passou as mãos sobre as teclas, produzindo linda harmonia. Enquanto se ocupava desta maneira, tocou certas teclas que, no conjunto, produziram um acorde musical que fez vibrar todo o seu ser com a sua harmonia majestosa. Mas quando tentou repetir, não conseguiu encontrar o mesmo conjunto. Ten- tou por muito tempo, mas sempre em vão. Era um acorde perdido. Haverá quem esteja a ler estas linhas, da cuja vida a música fugiu? Lembra ainda aquele acorde de alegria que uma vez vibrara dentro de si. Onde está agora? Onde está, então, a bem-aventurança de que se falou? Desva- neceu-se; a melodia cessou; o acorde de gozo celestial é um acorde perdido. A pergunta de toda a importância para o leitor é: «Poderei tomar a possuir aquela alegria? Como pode isto ser? Que devo fazer para que, de novo, a minha vida seja inundada com brilho e o meu coração repleto de gozo?» Leia o capítulo catorze de Oséias. O primeiro ver- sículo diz-nos que Deus deseja, na realidade, restaurar os Seus filhos que caíram. Podemos, pois, ter a certeza que Ele não vai levantar dificuldades no seu caminho.
 
 
AUTO-PREOCUPAÇÃO
 
Um dos maiores obstáculos a impedir que recuperemos a alegria que temos perdido por causa da nossa frieza e desvio é a nossa "preocupação com a nossa própria pessoa. Tentamos melhorar o que não pode ser melhorado, por alguma forma de auto-cultura. Mesmo ter por objeto a nossa felicidade, vitória sobre o pecado ou serviço para o Senhor, constitui uma forma subtil dessa coisa terrível que se pode chamar auto-preocupação. É bom que nos lembremos dos dias passados, que examinemos os nossos caminhos e nos julguemos a nós mesmos sem misericórdia; mas isto, só por si, nunca pode fazer voltar de novo a alegria. O presente autor foi, uma vez, introduzido numa sala, onde uma menina estava sentada a um piano, tocando uma ária muito simples. Ficou, evidentemente, muito atra- palhada com a presença dum visitante e começou a tocar muitas teclas erradas. Depois, desviando o seu olhar da música que tinha à sua frente, começou a olhar para os dedos, num esforço para os colocar nas teclas devidas. Escusado é dizer que os enganos tomaram-se cada vez mais e em breve teve de desistir de tocar. Olhar para os dedos era a pior coisa que a menina podia fazer. Se ela conservasse os olhos fitos na folha de música à sua frente, poderia ter corrigido os erros e continuado a tocar. Assim, se nos preocuparmos com nós mesmos e as nossas falhas, a nossa frieza e falta de poder, certamente fracassaremos. A recuperação não vem desta maneira. Se, porém, nos julgarmos com sinceridade pela nossa negligêncía e loucura, e olharmos para Cristo, buscando a Sua presença, pode ser, e há-de ser, que o acorde perdido tor- nará a ser tocado 1 Em tudo isto, teremos o poderoso e bondoso auxílio do Espírito Santo; porque, desviando o olhar da nossa preocupação com nós mesmos e fitando-o em Cristo, e tendo-O sempre nos nossos pensamentos, faremos o con- trário de entristecer o Espírito Santo. Estaremos a agra- dar-Lhe. Uma coisa pequena pode entristecê-Lo; um pouco de indiferença quanto àquilo que Ele deseja levar-nos a gozar; uma pequena falta de atenção ao Seu ministério de amor. Por outro lado, uma coisa insignificante pode agradar-Lhe; um pouco de desejo de conhecer mais acerca de Cristo; um anelo para sermos melhor instruídos nos propósitos de Deus; isto agradará imenso ao Espírito Santo e obterá o Seu - auxílio amoroso prontamente.
 
 
O ACORDE PERDIDO RECUPERADO
 
Se aquela senhora, sentada ao órgão, tentando em vão colocar os dedos novamente nas teclas que tocara, tivesse um ajudador sábio e bondoso, ela poderia ter achado de novo o acorde perdido. Suponhamos que uma mão de perito, que a dirigisse, fosse colocada sobre as mãos dela, movendo os dedos para as teclas, que diferença isto teria feito 1 Há Alguém que pode fazer isto para nós, e é o Espí- rito Santo. O ponto que falta estabelecer é se nós consen- tiremos que Ele cumpra a Sua graciosa vontade em nós. Um estranho entrou há tempos na grande catedral de Freíburg e pediu licença para tocar o famoso órgão da Sé. A princípio o organista recusou-se, mas, depois de muita insistência, e talvez uma gratificação, cedeu ao pedido e permitiu que o estranho tocasse, e este sentou-se ao órgão. Os seus dedos, passando sobre as teclas, produziram a música mais maravilhosa e o organista escutou estupefacto e encantado. Por fim, voltou-se para o músico e disse: «Dá-me licença de perguntar como se chama, senhor? Mendelssohn!» respondeu o visitante, que era, de facto, esse célebre compositor. «Imagine! que eu recusei autorização a V. Ex.ª para tocar!» disse o homem. Da mesma maneíra como Mendelssohn queria tocar o órgão de Freiburg, o Espírito Santo deseja produzir música nos nossos corações e vidas. Infelizmente, quantas vezes encontra uma recusa da nossa parte! Quantas vezes estorvamos o Seu intento 1 Quantos de nós, olhando para trás e meditando nas nossas vidas, teremos de exclamar, com vergonha, nas palavras do organista da Sé, «Imagine! que eu não Te deixei tocar!» Despertemo-nos do nosso sono! Procuremos graça para lançar fora todos os obstáculos e que o Espírito Santo tome o domínio completo sobre nós. Cessemos de O entristecer por falta de atenção ao Seu ministério, e indiferença para com Aquele que Ele deseja tomar tudo para os nossos corações. Então, Ele poderá encher-nos de gozo outra vez. Teremos novamente o privilégio de bebermos as águas doces de comunhão com o Senhor, e o poder, que nos tem faltado, sentiremos de novo nas nossas vidas e no nosso testemunho. A oração será um privilégio estimado e gozado. Sentiremos imenso prazer em estudar as Escri- turas, e os nossos olhos serão abertos para que vejamos coisas maravilhosas nas suas sagradas páginas.
 
 
O PENHOR DO ESPÍRITO
 
Falando acerca do futuro glorioso e certo que nos espera, Paulo diz que Deus foi «quem para isto mesmo nos preparou» e que «nos deu, também, o penhor do Espírito» (lI Coríntios 5: 5). Ele é, assim, o Penhor da herança que nos espera (Efésios 1: 14).
 
Como o Selo, é dado para segurar, para Deus, tudo o que a Deus pertence, e que será para Sua glória para sempre. Mas, como Penhor, é dado para nossa consolação e certeza, nos nossos corações (lI Coríntios I : 22). Mas ainda há mais que ver na palavra traduzida «penhor». O Espírito Santo, que nos foi dado, é a garantia de que, num dia futuro, ser-nos-á dada a plena posse da herança reservada para nós no Céu. Mais ainda, Ele é a primeira «prestação» adiantada, daquela herança, o meio, pelo qual podemos entrar já na realidade e gozo dela. Vou dar uma ilustração. Vou fazer uma viagem de barco para além mar e prometo ao meu filho, de doze anos, levá-lo comigo. Para maior alegria a bordo, compro um telescópio para ele, não um briquedo mas um bom instrumento para ele usar enquanto o navio segue o seu rumo. A dádiva é uma certeza para ele, da minha parte, que tenciono levá-lo comigo na viagem. Mas ainda é mais do que isto. Quando a viagem está a acabar, ouvimos dizer que a terra está à vista. Não vejo nada, mas o meu filho, olhando pelo telescópio, diz que vê distintamente umas serras. Dali o pouco eu prin- cipio a traçar o esboço das serras, mas o rapaz exclama: «Vejo muitas árvores e algumas casas». Um pouco mais tarde estas coisas tomam-se visíveis a olho nu, mas o menino diz: «Paizinho, vejo muita gente no cais». O telescópio dá-lhe uma visão mais nítida da terra para onde vai. Ajuda-o a entrever muita coisa antes de lá chegar. É isto que o Espírito faz para o crente na qua- lidade de Penhor. Há um hino em inglês que diz : O Espírito concede a visão D' Aquele que é resplendente. É este o caso; Ele dá-nos visão espiritual mais nítida; traz para a arena do gozo presente as coisas grandiosas que constituem a nossa herança eterna; habilita-nos já, por assim dizer, a respirarmos a atmosfera do Céu, e a ganharmos conhecimento do que lá se encontra. Tudo isto se tomaria cada vez mais real para nós se, tão sõmente, andássemos no poder do Espírito não entris- tecido, e Lhe entregássemos o controle das nossas vidas.
 
 
POSSUÍDOS
 
É um facto triste que grande número de crentes ficam satisfeitos apenas por saber que o Espírito Santo habita neles, e nunca os deixará, sem se preocuparem com a necessidade de deixarem que Ele os possua e domine. Será o leitor um dos tais? Podes louvar a Deus porque possuis o Espírito Santo, mas a, questão que precisas de encarar é: Será que o Espírito Santo tem posse de ti? Há diferentes espécies de pessoas «possuídas» no mundo. Nos Evangelhos, lemos acerca daqueles que eram possuídos por demónios. Maria Madalena era uma dessas pessoas. O seu pobre corpo tinha sido habitação de sete demónios. Há, também, pessoas auto-possuídas. O seu nome é legião (sem número). Encontram-se em todas as cidades; são pessoas Cristãs, sossegadas, respeitáveis e honestas, orgulhando-se da sua moderação e da impossi- bilidade de serem levadas por um excesso de zelo ou entusiasmo! Escutai as suas orações em público; as suas palavras são correctas, calma a sua maneira, bem livre de tudo que se aproxima do fervor, que é uma das condi- ções indispensáveis para que a oração do justo seja aten- dida (Tiago 5 : 16) (Figueiredo). Eles são felizes? Gostosamente, então, os deixaremos para gozarem tal felicidade. Além dessas pessoas, há, no mundo, homens e mulheres possuídos pelo Espírito Santo. Prouvera a Deus que pudéssemos dizer que o seu número era, também, legião!
Os seus pensamentos não são mundanos, as suas vidas são de sacrifício voluntário, são fervorosos e consa- grados nos seus esforços para trazerem outros ao Salvador, possuindo poder com Deus na oração, tudo o que há neles testifica o facto de o Espírito Santo haver tomado posse deles para Cristo, enchendo os seus olhos com a visão da Sua glória, os seus lábios com o Seu louvor e os seus corações com o Seu amor. Pois, quando o Espírito Santo toma posse de alguém, é a favor de Cristo, a fim de que Cristo seja supremo nas afeições dessa pessoa e proemi- nente na sua vida. Não seria bom orarmos fervorosamente que muitos dos tais homens, possuídos por Cristo, dominados pelo Espírito Santo, possam surgir nestes dias de frieza e retro- cesso espiritual? Roguemos a Deus que nós mesmos este- jamos entre esse número; e, o que pedimos, vamos lançar mãos à obra para realizar, de todo o coração.
 
 
CHEIOS DO ESPÍRITO
 
Ao tratarmos deste assunto, convém lembrarmo-nos que é impossível encher um vaso com uma coisa sem que esteja vazio de coisa diferente. Para podermos ser cheios do Espírito, devemos estar preparados para lançarmos fora todas as coisas contrárias que tenham lugar no nosso coração e mente. As coisas que impedem comunhão com o Senhor terão de ser abandonadas se queremos ser assim cheios. Nós devemos procurar ser cheios do Espírito. Mas compreendamos bem que Deus não nos enche do Seu Espirito do lado de fora, mas do interior. Uma visita não enche a nossa casa. Fica apenas naquela parte da casa onde a tivermos reservado. Se, porém, colocarmos toda a casa ao seu dispor, dando-lhe as chaves de todas as dependências e armários, ele, então, enche o estabelecimento. Não é que ele venha de fora; ele já se encontra lá, mas está, agora, pelo nosso acto de entrega, de plena posse da casa e domínio absoluto. É mesmo assim com o Espírito Santo. Muitas vezes O limitamos a certas partes das nossas experiências e vidas. Mas Ele deseja ficar em contrôle de tudo e possuir-nos completamente para o Senhor Jesus. Quando, gostosa- mente, entregarmos ao Seu domínio todo o estabelecimento
do nosso ser, Ele encontra-se em plena posse e, neste sentido, enche-nos. Como é singela e razoável esta verdade!
 
 
ENCHIDOS E ESVAZIADOS
 
Espero que o leitor não tenha tomado por mera axioma a afirmação que nenhum vaso se pode encher de uma coisa sem ser esvaziado de outra. Também é verdade que, a não ser que se produza um vácuo, por meio dum aparelho, nenhum vaso pode estar vazio de uma coisa, sem estar cheio de outra. Isto sugere uma questão de grande momento prático, ligada com o sermos cheios do Espírito Santo. Devemos ser esvaziados a fim de sermos cheios? Ou somos enchidos a fim de sermos vazios? Uma escola proeminente de professores declara ser o primeiro o método correcto. Há pessoas fervorosas que procuram constantemente ver-se livres dos impedimentos por meio de contínuas orações e jejuns, por auto-mortificações e esforços pacientes e persistentes. Mas, por qual- quer razão, este plano não dá o resultado. Suponhamos que seguro na mão um copo, aparente- mente vazio. Na realidade está cheio de ar. Como poderei tirar todo o ar? Não por virar e sacudir violentamente o copo, certamente; nem limpando-o com um pano. Pode tirar-se o ar todo pelo simples processo de o colocar na mesa sossegadamente e enchê-lo, em seguida, de água. Fica esvaziado duma coisa, enchendo-o com outra coisa. Há coisas nas nossas vidas de crentes que não têm direito de estar lá. Há motivos indignos, pensamentos impuros, desejos cobiçosos, egoísmos e toda a espécie de coisas tais. Precisam de ser lançadas fora tão certamente como os vendilhões de gado e cambistas precisaram de ser expulsos do templo. Mas reparemos bem que, em João 2, o enchimento das talhas vem primeiro; o esvaziar do templo vem depois. É esta a ordem das coisas. Quando levantamos os olhos para contemplarmos o rosto de Cristo, não tanto com o olhar de fé confiante como com o de afeição profunda; quando Ele se toma atraente aos nossos corações, o Seu Espírito enche-nos, a favor d'Ele, e as coisas más são expulsas porque já não têm lugar. Experimentamos o que o Dr. Chalmers chamou: «o poder expulsivo de uma nova afeição». A atracção de Cristo faz que as coisas deste mundo nos pareçam insignificantes, e os caminhos de pecado repelentes.
 
 
A MISSÃO DO SERVO
 
Ao buscarmos o enchimento do Espírito por amor de Cristo, e não apenas como o meio de purificar os nossos corações e pensamentos de coisas más, há uma coisa que nunca devemos esquecer. A fim de apresentar este pensamento muito clara- mente, vou relatar, com muita precisão, uma coisa que presenciei. Peço ao leitor que veja em que encontra um erro nesta narração dos factos. Estava eu junto de um canal americano bastante fundo. A minha esquerda, a água estava num nível ele- vado, mantido assim por uma porta muito forte que servia de represa. Entre as duas portas, a água estava muito baixa e a corrente do outro lado estava no mesmo nível baixo. Abriu-se a porta à minha direita, e um navio cisterna entrou na represa. Então, a porta forte à minha esquerda foi aberta vagarosamente e o nível da água na represa subiu ràpidamente para o mesmo nível daquela à minha esquerda. O navio cisterna foi elevado assim. também, e continuou a sua rota pelo rio acima. A esta história, assim contada, falta um pormenor importante. Vi tudo isto pessoalmente e sei que se passou, mas o pormenor que não incluí é muito importante. Omiti dizer que, depois da entrada do navio cisterna na represa, a porta à minha direita foi fechada de novo muito firme- rnenre. Se assim não fosse, as águas que entraram pela porta à esquerda nunca teriam conseguido elevar o nível das águas entre as duas portas, nem o tanque, mas teriam corrido pelo leito da corrente, sem utilidade. O leitor pode ver como está história se aplica ao assunto que estávamos a tratar? Quando abrimos a porta do coração aos tesouros de amor que Cristo derrama neles,. quando o Espírito Santo enche o nosso ser e domina a nossa vida para ser de Jesus, não devemos esquecer-nos de fechar aquela outra porta; a porta da nossa vida que conduz ao mundo de pecado! Mantém essa porta fechada" quando não, a maré de bênção e gozo fugirá e perder-se-á, «Tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fe-' chando a porta, ora l» Não apenas a porta do aposento, mas a porta íntima da tua alma. Ao mesmo tempo, é necessário ter a janela aberta também, e não só a porta fechada. Sejamos como Daniel, abrindo a janela da alma. para as grandiosas coisas de Deus, e a porta da alma. fechada para tudo o que seja contrário.
 
 
EXCEPCIONAL OU NORMAL
 
Muito se diz no Velho Testamento acerca das acti- vidades do Espírito Santo. Se não tivermos em mente a diferença entre os tempos antes de Cristo e hoje, podemos falhar na compreensão dessas coisas. Nos tempos antigos, como já foi dito num capítulo anterior, o Espírito Santo descia sobre certos indivíduos. No caso de três destes (por exemplo, Gedeão, em Juízes 6: 34), a expressão é muito interessante, e significa que o Espírito Santo vestiu-se do homem em referência; tomou inteira posse dele para um fim especial e até o cumprimento desse fim.
Aqui temos a coisa que mais se aproxima, no Velho Testamento, ao enchimento com o Espírito, do qual tanto se lê no Novo Testamento. Mas sempre acontecia para um propósito excepcional; não era a experiência normal dos: instrumentos escolhidos, sobre os quais o Espírito descera o mesmo pode dizer-se quanto ao Espírito ter enchido João Baptista, Elizabeth, Zacarias (Lucas 1: 15,41,67), Pedro, em Actos 4: 8, e Paulo em Actos 13: 9. Mas em certos casos, o enchimento era normal e con- tínuo. Os homens eram caracterizados por estarem «cheios do Espírito Santo». Foi este o caso dos sete varões em Actos 6: 3, e com Barnabé (Actos 11: 24). Parece ter sido característico, por algum tempo pelo menos, dos discípulos em Antióquia da Pisídia (Actos 13: 52). A exor- tação de Efésios 5 : 18 coloca fora de dúvida, que a vontade de Deus é que este seja o estado normal e devido de cada crente em Cristo. Infelizmente, quão poucos, em compara- ção, vivem à altura destas condições ! Não há nada de misterioso acerca disto. A epístola aos Efésios tem muito a dizer acerca do Espírito Santo. A epístola paralela quase nem fala acerca do Espírito Santo, mas salienta a glória pessoal de Cristo. Em Efésios, Paulo diz: «enchei-vos do Espírito», ao passo que, em Colossenses, diz: «A palavra de Cristo habite em vós, abundantemente» (3: 16). O que significa aqui «a palavra»? O Dr. Moafatt traduziu: «A inspiração de Cristo habite no vosso meio». Significa quase a mesma coisa; não é rigorosamente um assunto individual; nas nossas relações, uns com os outros, o Espírito Santo deve encher-nos e activar-nos. O que será isto, senão a Palavra de Cristo em poder e na prática?
 
 
MAIS DELE?
 
Ouve-se dizer, muitas vezes, da boca dum crente. emitindo um suspiro: «Sei que Deus me deu o Seu Espírito Santo, mas suponho que preciso de orar, pedíndo mais d'Ele». Não penso que isto seja correcto. A verdadeira razão da nossa baixa condição espiritual não é que precisemos mais do Espírito Santo, mas, sim, que Ele precisa mais de ti e de mim! Vamos considerar a seguinte ilustração: Uma visita vem hospedar-se na nossa casa durante algumas semanas. Tratamos o nosso hóspede com toda a cortesia, mas espe- ramos que ele se limite a ficar apenas naquela parte da casa que lhe tivermos franqueado. Ora, não é assim que o Espírito Santo deseja ser tratado. Ele veio fixar a Sua residência em nós, não como mera visita ou hóspede, mas para tomar inteira posse de todo o prédio do nosso ser, para o Senhor Jesus. Para que Ele possa fazer isto, não devemos ter secções reservadas da nossa vida, conservando fechados alguns compartimentos do coração para não O deixarmos entrar; devemos entregar-Lhe, por assim dizer, todas as chaves de todas. as divisões da casa. Não tem grande importância qual seja o nome que demos a esta acção, Pode chamar-se consagração, ou ren- dição absoluta, ou qualquer outra coisa. Não é o nome que interessa, conquanto se conheça a realidade deste por- menor. Mas uma coisa fica bem clara, e é que, se desejarmos ficar cheios do Espírito Santo, devemos permitir que Ele tenha domínio absoluto sobre nós. A necessidade premente da actualidade é que haja homens e mulheres dotados de fé para entrarem na posse dos seus privilégios dados por Deus. O que não poderia o poder de Deus conseguir por meio de um grupo de pessoas, vazios do mundo e cheios do Espírito!
 
 
O COMISSÁRIO DO PAI
 
Além de vir do Céu como Representante de Cristo, o Espírito Santo está aqui como procedente do Pai (João 15 : 26). Um grande objecto da Sua missão no mundo é o de formar uma noiva para Cristo e trazê-la para o Seu Noivo celestial. Isto encontra-se ilustrado belamente na narrativa em Génesis 24.
Quando alguma coisa é descrita pormenorizadamente na Bíblia, é porque há um significado figurativo na história. Chama-se a nossa atenção, portanto, para esta narra- tiva, pelo facto de ser comprida. Enche sessenta e sete versiculos. Vale a pena, antes de prosseguir, refrescar a memória com a leitura de todo este capítulo. A história é tecida à volta de quatro pessoas: um pai, Abraão; seu filho, Isaac; um servo, cujo nome não é dado; e a noiva, Rebeca. Abraão é, aqui, figura de Deus. Foi ele que enviou o seu fiel servo para buscar e trazer uma noiva para o seu filho, tal como o Pai mandou o Espírito Santo, Seu Comis- sário, para este fim. O filho, Isaac, representa Cristo. No capítulo 22, ele foi «recobrado», em figura, da morte (Hebreus II : 19), desta maneira tornando-se a figura de Cristo ressuscitado. O servo ilustra o Espírito Santo. Se ele era Elíezer, o mordomo de Abraão quarenta anos antes, o silêncio neste capítulo, quanto ao seu nome, é tanto mais notável. Um nome aqui estragaria a figura do Espírito Santo. O nome chama a atenção para o que a pessoa é. O Pai e o Filho têm Nomes gloriosos, mas o Espírito Santo não tem qual- quer Nome. Ele não .está aqui para atrair as atenções para Si, nem para Se apresentar como um objectivo, mas 'para servir os propósitos do Pai em relação ao Filho. Rebeca ilustra a Igreja. O estudo das figuras no Velho 'Testamento sugere, fortemente, que é a Igreja, e não Israel, nem um remanescente de Israel, que é a Noiva de Cristo. Em Apocalipse 22: 16, Jesus envia o anjo para testificar nas igrejas; e é ali (nas igrejas, e não nas sinagogas), que a voz da Noiva dá resposta. «O Espírito e a Esposa dízem : Vem». Ela fala com o Espírito, como ensinada por Ele. Ela tem o Espírito Santo, portanto, antes da vinda do Senhor. Israel não terá o Espírito até o raiar dum dia futuro. Rebeca, a noiva, então, representa a Igreja, a grande companhia dos redimidos, desde o Pentecostes até .a trasladação da Igreja para a casa do Pai.
 
 
O CONDUTOR DOS SANTOS
 
Ezequiel, na sua visão das coisas gloriosas que estão para vir, foi guiado por um homem que tinha uma cana de medir na sua mão. Ao contrário do mensageiro celestial que apareceu a Daniel (Daniel 9: 21), este homem não tinha nome. É considerado, correctamente, como figura do Espírito Santo, como Aquele que esquadrinha, por nós, .as coisas profundas de Deus para que nos possa conduzir .à compreensão delas (I Corintios 2: 10). Ele é o condutor dos santos nas coisas grandiosas e santas de Deus. O homem com a cana apelava para os olhos, os ouvidos e o coração do profeta (40: 4). O Espírito Santo deseja ter a nossa atenção, não dividida e cheio de entu- :siasmo. Depois de o conduzir a profundezas insondáveis de graça (47: 5), o homem com a vara de medir conduz Ezequíel de novo ao ponto de partida, que se tornou, nessa altura, lugar de produção de fruto. Assim, o Espírito Santo, tendo-nos tornado compreendedores de coisas grandes e maravilhosas, leva-nos, aqui no mundo, a pro- duzir fruto para Aquele a Quem pertencemos .
 
 
O DIRIGENTE DOS SERVOS
 
O grande proprietário, Boaz, o parente-remidor que é tão notável figura de Cristo, tinha um homem que o representava no campo da seara, «o moço que estava posto .sobre os segadores» (Rute 2: 5). Ele dirigia os jovens que faziam o trabalho; estava encarregado na direcção das operações no campo. Este encarregado é uma figura muito apropriada do Espírito Santo. Ele estava bem ao corrente da história passada de Ruth e dos seus desejos e exercícios espirituais. Foi ele quem a apresentou a Boaz . O Espírito Santo conhece todos os desejos e exercícios espirituais que existem nas nossas almas. Não foi Ele, por- ventura, Quem os produziu em nós? E é Ele que faz o serviço tremendo de nos apresentar a Cristo, e animar -o nosso conhecimento pessoal com Ele.
O Espírito Santo representa o Senhor no meio de todas as actividades da Seara. Ele está encarregado do serviço, dirigindo os servos e dando-lhes forças e energia para os seus trabalhos. Como servos do Senhor, temos de olhar para Ele para que nos guie. Ele guia, na realidade: mas toma a Sua direcção eficaz, e podemos reconhecer e obedecer a essa direcção pelo Espírito Santo, o verdadeiro Represen- tante de Cristo na terra.
 
 
AQUELE QUE COMPELE O PECADOR
 
O Espírito Santo aparece nesta qualidade na pará- bola da grande ceia (Lucas 14: 16 a 23). Porque, eviden- temente, mais ninguém senão Ele só tem o poder de com- pulsão. Os pregadores podem persuadir os homens (lI Coríntios 5: 11), mas só Ele tem o poder de compelir, Notemos o esboço da parábola: 1. Mandou-se o servo com uma chamada urgente para os «muitos», que tinham sido já convidados. Anun- cía-lhes «que já tudo está preparado» e faz o apelo aos convidados que venham. 2. Todos recusam o convite. Não é o caso de alguns aceitarem o convite e outros recusarem. Nem uma só pessoa sente desejo de assistir ao banquete que a graça proveu. Todos apresentam as suas desculpas. 3. O servo comunica essa recusa universal, e nisto é mandado para juntar os pobres, aleijados, mancos e cegos das ruas e ilhas da cidade. 4. Não havendo bastantes destes para encher a casa, o servo é enviado ainda mais longe, para forçar os homens a entrar. Esta parábola exibe a diferença entre a livre graça e a misericórdia soberana. A graça dirige-se a toda a gente, sem distinção, e clama: «Todo o que quiser, venha». Mas todos se recusam. Não existe uma só alma na terra que, naturalmente, deseje participar nas grandes bênçãos de Deus. Então a misericórdia, soberana, que elege, prin- cipia a agir. O Espírito Santo opera, com poder constrangedor, nas almas de alguns (não todos),' e assim são constrangidos a vir. Por que o Espírito Santo quisesse operar nos nossos corações, produzindo convicção do pecado e arrependi- mento, e não nos corações dos nossos vizinhos, é um mistério que não sabemos explicar. Mas sabemos que, se Ele não nos tivesse compelido assim, nunca teríamos vindo.
 
 
A TESTEMUNHA
 
O que devemos compreender pela expressão «o teste- munho do Espírito», acerca da qual alguns crentes tanto falam? As Escrituras falam disto e bastantes almas zelosas, com noções vagas e erradas acerca do seu significado, têm desejado intensamente, ansiosa e quase desesperada- mente, durante muitos tristes anos, receber tal testemunho. Mas a questão é, o que será e o que significa? Vejamos, precisamente, o que vem a ser o testemunho- do Espírito. Em Hebreus 10, podemos ler os versículos 15, 16 e 17: «E também o Espírito Santo no-lo testifica, porque, depois de haver dito: Este é o concerto que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas. leis em seus corações, e as escreverei em seus entendi- mentos; acrescenta: E jamais me lembrarei dos seus peca- dos e das suas iniquidades». Há duas coisas que se tomam evidentes nesta passa- gem: a primeira é que o Próprio Espírito Santo toma o' lugar duma testemunha; a segunda, o que é o testemunho que o Espírito Santo dá? Tratando-se de assuntos de cada dia, percebe-se com facilidade a diferença entre a testemunha e o seu teste- munho. Suponhamos que o leitor é chamado para depor num tribunal. Chega o dia do julgamento e a testemunha toma o seu lugar entre as outras. Quando chegar a sua vez para ser chamada, entra na sala e vai para o lugar que lhe é indicado e ali declara o que sabe sobre o caso a ser julgado. O que diz é seu depoimento, ou testemunho. Assim, nesta passagem, o Espírito Santo é a testemunha e o Seu depoimento é feito, como seria o do leitor, em linguagem humana e simples.
 
 
A PESSOA E O SEU TESTEMUNHO
 
Imagine! ser o Espírito Santo uma testemunha! Aqui está quem é maior do que Gabriel, superior a todos os .anjos em conjunto, Cuja palavra é muito acima da deles, como é o Criador acima da criatura. Poderemos ter uma testemunha mais honrada do que o Espírito Santo? mais fiel e digno de confiança do que o Espírito de Verdade? Se Ele testifica, então, .fora de toda a dúvida, o Seu teste- munho é verdadeiro; Se Ele depõe, as Suas palavras não .podem ser abaladas, desautorizadas ou alteradas, podem -ser recebidas sem reserva. O testemunho do Espírito é, :na verdade, o alicerce firme da nossa fé. Coisa mais firme :não se pode encontrar no Céu ou na terra. Demos mais um passo à frente. O que é que o Espí- Jrito testifica? Ao responder a esta pergunta, lembremo-nos -que um dos pontos principais em Hebreus 9 e 10 é a .remoção da consciência da pressão e do fardo dos pecados. O argumento do autor da Epístola é que os sacrifícios oferecidos nos altares judaicos nunca conseguiram purificar :a consciência. Ainda que dessem alguma medida de alívio, .era impossível que conseguissem limpar completamente os mínistrantes. Mesmo os grandes sacrifícios do Dia da Expiação traziam a memória dos seus pecados à consciên- -cia do povo e mostravam que a questão solene da culpa e dos pecados não ficava arrumada de vez e para sempre (Hebreus 10: 3). Mas quando se escreveu a Epístola aos Hebreus, já fora oferecido o Grande Sacrifício. Havia sido derramado o precioso sangue expiador, cuja eficácia permanece sem diminuição de poder. Não dimanarão resultados mais ricos deste sacrifício do que aqueles que provinham dos holo- caustos judaicos? Poderão desassossego e incerteza, porven- tura, e uma consciência atribulada, ser a porção daqueles que se abrigaram sob a protecção do sangue de Cristo? Impossível! «Com uma só oblação, aperfeiçoou para sempre os que são santificados, do que o Espírito Santo nos testifica» (Hebreus 10: 14, 15). Aperfeiçoada para sempre J Palavras maravilhosas I A questão dos nossos pecados nunca mais tem de ser tratada, pois ficou arru- mada e posta de parte para eterno descanso. Tal é o testemunho deste capítulo. Ponderemos bem esta gloriosa verdade! Segue-se, depois, o testemunho distinto e confirma- tório do Espírito Santo, um testemunho dado em palavras duma clareza e simplicidade espantosas. É tirado de Jere- mias 31 : 33,34, e citado mais especialmente por causa das palavras finais. Que palavras são essas? Qual é o teste- munho desta testemunha divina? Escutaí-o I pois o ouvido nunca ouviu palavras mais doces, mais abençoadas. É o seguinte: «Nunca mais me lembrarei dos seus pecados». Alguma testemunha em tribunais do mundo já deu teste- munho mais daro ou mais perfeito? O testemunho do Espírito não é uma coisa vaga, miste- riosa e difícil de explicar. É um testemunho falado, um testemunho escrito, e, graças a Deus, não foi escrito em caracteres incertos e mutáveis, tais como sentimentos e atitudes, que hoje estão duma forma e amanhã se apre- sentam de forma diferente. O testemunho do Espírito é firme e invariável; está gravado nas páginas imperecíveis daquele Livro de Deus vivo, que chamamos a Bíblia; é ali que o Espírito nos testifica que dos nossos pecados e das nossas iniquidades, Deus nunca mais se lembrará .
Ele jamais se lembrará deles. Já foram lembrados. todos eles, pequenos e grandes. Todos os pecados da nossa história terrestre, desde infância até à juventude, da juven- tude até varonilidade e daí ,até à velhice; em resumo, todos os nossos pecados já foram trazidos perante Deus.
 
Alguém pergunta: Onde foi? e quando? Respondo: no Calvário. Ali, o Salvador sofreu por causa deles, o custo pelos injustos. Ali, Deus se lembrou deles, e tratou com Ele acerca deles. Por isso é que o Espírito Santo testífica, que eles nunca jamais virão em memória perante Deus. E agora, onde quer que se encontre uma Bíblia, de dia e de noite, em terra ou mar, na Primavera e Verão. Outono e Inverno, nos vales e nos montes, entre o afan dos negócios e o sossego do lar, na doença e saúde, em dias alegres ou sombrios, em ocasiões de dúvidas ou de fé inabalável, sempre e em todas as circunstâncias, o Espírito Santo dá testemunho deste facto estupendo, que Deus nunca jamais se lembrará dos nossos pecados e das nossa iniquidades. A todos os crentes de igual maneira, os mais novos e os mais idosos, os mais culpados e os mais perfeitos. os mais tristes e os mais alegres, este bendito testemunho é dado. Não conhece altos e baixos, nunca muda, nunca varia, nunca é retirado, mas é sempre o mesmo, ontem. hoje e eternamente. O que se há -de fazer com este testemunho do Espírito? Ou, antes, o que se devia fazer com ele? Desacreditá-Ia. olhar para ele com suspeitas, hesitar em recebê-Ia como uma coisa demasiadamente simples, ou grandiosa, feliz demais para ser verdadeira? Deus não o permita I Isto seria uma pobre recompensa para tão grande graça. Uma coisa tão somente devia ser feita: deve ser acreditado [ E, onde quer que este testemunho é acreditado, ali se conhece e goza perfeita paz, quanto ao perdão dos pecados. Não se podem separar estas coisas, porque uma segue a outra tão certamente como os efeitos seguem às causas. Era tão impossível que alguém recebesse o teste- munho do Espírito e não tivesse sossego interior quanto aos seus pecados, como podermos abrir de par em par as portas das janelas dum quarto escuro durante o dia. sem que a luz do Sol entrasse e enchesse o quarto de claridade.
 
 
O TESTEMUNHO
 
«A» E «COM» Pelo sacrifício do Cal vário, uma vez oferecido, os nossos pecados são tirados da consciência, ou, como é expressado em Hebreus 1 ° : 2, «nunca mais temos cons- ciência de pecado». O precioso sangue de Cristo remove os nossos pecados de debaixo do olhar de Deus; e o teste- munho do Espírito, de que, por esse motivo, Deus jamais se lembrará deles, se acreditarmos nele, tira o peso conde- nadar da consciência. Há numerosas pessoas, cujos pecados desapareceram da vista de Deus, mas não das suas consciências. Se eu tenho uma dívida e não posso pagá -la, não gosto de me encontrar com o meu credor. Suponhamos que alguém paga a dívida por mim, mas nunca me diz uma palavra acerca disso, a dívida ainda está sobre a minha consciência e perturba-me, ainda que tenha sido paga. Preciso, não só que me paguem a dívida, mas saber, também, que ela foi paga. A única oblação de Cristo sobre a cruz é o pagamento, e o testemunho do Espírito é dado para eu saber que tudo ficou arrumado. «Jamais me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades». Testemunho aben- çoado I Que cada leitor possa recebê-laI Mas há uma passagem em Romanos 8, que trata do testemunho do Espírito de forma diferente. Vou citá-la: «O mesmo Espírito testifica com o nosso Espírito, que somos filhos de Deus» (Romanos 8: 16). O testemunho dado aqui não é o mesmo que em Hebreus 10: 17. Pode ajudar o leitor a discernir a dife, rença se observar que, em Hebreus 10, o Espírito nos testifica, a nós, ao passo que, em Romanos, o Espírito testifica com o nosso espírito. Além disso, no primeiro caso, mente, é uma coisa, mas é um assunto muito diferente que Ele fizesse, daquele que foi perdoado, um filho Seu. É um facto notável, em ligação com o assunto em discussão, que o Espírito Santo nunca é nomeado na Epístola aos Romanos, excepto incidentalmente no capítulo 1: 4; até chegarmos ao capítulo 5. Este silêncio é significante. Deus não quer que confundamos, ou misturemos, a operação do Espírito com a obra expiatória de Cristo. Por isso, não encontramos qualquer ensino sobre O lugar e a obra do Espírito até que cheguemos ao capí- tulo 8, e então, estes são tratados desenvolvidamente.
 
 
A VIDA ETERNA
 
Antes de concluírmos o nosso estudo sobre este assunto importante, ainda há mais uma passagem para examinarmos, na qual, O testemunho do Espírito encontra lugar: I João 5: 6 a 13. Aqui está em ligação com outras verdades ainda. Não é o caso, aqui, que o Espírito Santo nos testifica que os nossos pecados e iniquidades jamais: serão lembrados, nem o do Espírito testificar com o nosso espírito que somos filhos de Deus. O testemunho aqui diz respeito à grande e gloriosa verdade que Deus nos deu a vida eterna, e que esta vida está em Seu Filho. «Três são os que testificam na terra: O Espírito, e a água, e o sangue» - três testemunhas, mas só um teste- munho. Estas três testemunham em Nome de Deus, que a vida eterna nos pertence. «Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho». O que quer isto dizer? Simplesmente, que o próprio Espírito Santo habita no corpo do crente. «Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós?» (I Corintios 6: 19). O crente, ao nascer de novo, é purificado com o precioso sangue de Cristo, é selado com o Espírito Santo da promessa: e o Espírito, assim dado, é a testemunha para ele do facto de ele possuir a vida eterna, bem como as primícias do que vai herdar naquele dia de glória futura (Efésios 1:13).
o sangue e a água correram do lado de Jesus, ferido com a lança do centurião. Ora, a morte de Jesus, não fala somente da expiação feita, mas, também, do fecho, sob o julgamento de Deus, da nossa história como filhos de Adão. A vida que herdámos do primeiro Adão é intei- ramente má, no princípio da sua vontade, e seria impos- sível que vivêssemos, diante de Deus, nessa vida. A Vida, isto é, a vida eterna, vem fluindo até nós duma nascente celestíal, que é somente o Filho de Deus. O crente parti- cipa nesta vida mesmo agora. Notemos o argumento do Apóstolo em toda esta passagem. Recebemos sem hesitação o testemunho dos homens; somos obrigados a recebê-Ia acerca de mil coisas. Mas, no testemunho humano, há possibilidade de haver enganos, mesmo quando não houver intenção de induzir em erro. Com Deus, tal coisa é impossível. O seu teste- munho é portanto, incomparàvelmente maior do que o dos homens, e, se acreditamos a palavra do homem, quanto mais devemos acreditar na palavra de Deus. Duvidar d'Ele equivale a fazer d'Ele um mentiroso. Concordo que esta linguagem é forte, mas são precisamente as palavras que encontramos no versículo 10. Tal é o testemunho de Deus para todos os que crêem e o fim pelo qual foi dado. O leitor já recebeu este testemunho divino? Sabe, com certeza, que tem a vida eterna? Se não sabe, por que não sabe?
 
 
O CORPO DO CRENTE
 
É importante que reparemos que se diz que o Espírito Santo habita em nossos corpos e não nas nossas almas, ou mentes, ou consciências. «Não sabeis - pergunta o Apóstolo aos crentes de Corinto - que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós?» (I Coríntios 6: 19). Este facto dá grande importância ao corpo, e devia tornar-nos muito cautelosos quanto àquilo que lemos, às coisas para as quais olhamos com os nossos olhos, o que dizemos com as nossas línguas, o que fazemos com as nossas mãos, o que ouvimos com os nossos ouvidos e onde vamos com os nossos pés. Não somos de nós mesmos. Fomos comprados por bom preço e pertencemos a Cristo. O Espírito Santo foi colocado dentro de nós como Representante do nosso Dono, e, por isso, o nosso corpo é Seu templo. Esta verdade abrange outra. Aquele que habita em nós é «o Espírito d'Aquele que dos mortos ressuscitou a Jesus» (Romanos 8: 11). A Sua presença em nossos corpos é a garantia e a prova do que fará com os corpos nos quais habita. Por Ele, Deus de <>. O tempo é futuro. O significado de «vivificar» no Novo Testa- mento é «tornar vivo». Um corpo vivificado não mais está sujeito à corrupção ou morte. Esta grande mudança que aguarda os nossos corpos é garantida pelo facto do Espírito Santo habitar em nós. Pelo facto de Ele habitar em nós, os nossos corpos tornaram-se os vasos, através dos quais Deus tem sido glorificado e Cristo manifestado, embora duma maneira tão fraca e imperfeita! Por isso, Deus não os deixará perecer. A mesma força poderosa que já vivificou as nossas almas, do estado de morte espiritual (Efésios 2 : 5), tocará os nossos corpos. Estes viverão, também, a vida de ressur- reição, na semelhança de Cristo (Filipenses 3: 21). Podemos mencionar, agora, outro ponto de grande interesse. É digno de nota que o Salvador fez certas coisas depois da Sua ressurreição, pelo Espírito Santo. Aprendemos esta verdade em Atos 1 : 2. Isto sugere que nós, também, teremos o Espírito Santo ainda habitando em nós no nosso estado de ressurreição, e que faremos coisas mediante o Seu poder.
 
 
O CRENTE EXTRAVIADO E O PECADO QUE NÃO TEM PERDÃO
 
O crente extraviado, por mais que tenha pecado e o seu coração e consciência se tenham endurecido, não é semelhante aos escribas malvados que declararam que o Espírito Santo era um espírito imundo e que Jesus era uma pessoa reles, possesso desse espírito imundo. O crente extraviado não vai denunciar Cristo como fonte de imundície; a sua dificuldade é um assunto pessoal. Ele sabe perfeitamente que só pode culpar-se a si mesmo pela sua condição e reconhece que Cristo é santo e bom. Já tive ocasião de dizer a algumas pessoas que, na sua profunda tristeza e pecado, imaginam que cometeram o pecado que não tem perdão, O seguinte: «Se eu pudesse convencê-lo que a sua salvação é possível, desejaria ser salvo?» Sempre, em cada caso, a resposta imediata era: «Sim, sem dúvida; com quanta satisfação lançaria mão da oportunidade, se a tivesse!», ou palavras com efeito semelhante. Perguntei, em seguida: «Por quem desejaria ser salvo?» «Por Cristo, evidentemente, pois Ele é o único Sal- vador». «O que me diz?! Confiaria, para a sua salvação, num homem possesso dum espírito maligno?! Ora, certamente que não confiaria o seu gato a tal pessoa por meia hora, quanto menos a sua preciosa alma por toda a eternidade!» Em alguns dos casos, estas palavras foram o suficiente para deixar entrar a luz e renovar a esperança na alma desesperada; pois nenhuma dessas pessoas jamais pensaram semelhante coisa horrível acerca do Santo de Deus. Contudo, esta é a blasfémia contra o Espírito Santo; afirmar que Aquele, por cujo poder o Senhor Jesus expulsava os demónios, era, Ele Mesmo, um espírito imundo! Anima-te, pobre crente extraviado e desesperado.
O teu pecado é grande, mas não é o pecado imperdoável. O Salvador espera para exercer a Sua graça; não ficará surdo, mas escutará o teu clamor penitente. Ajoelha-te aos Seus pés; conta-Lhe a triste história do teu pecado. Ele sarará os teus extravios e te ajudará na tua luta contra a tentação.
 
 
«PARTICIPANTES DO ESPÍRITO SANTO»
 
Concordamos que a explicação dada no capítulo anterior não remove inteiramente a dificuldade da passagem em Hebreus 6. Poderão, porventura, «os que se fizeram participantes do Espírito Santo» recair de maneira tão desesperada? «Os que se fizeram participantes do Espírito Santo» não seriam pessoas verdadeiramente convertidas? Não necessàriamente. Alguém pode ser um «servo». e fazer coisas úteis, como fez Judas Iscariotes e muitas centenas mais têm feito, e, contudo, finalmente partilhar no mesmo destino daqueles que nunca fizeram qualquer profissão de serem crentes (Lucas 12: 46). Persuadir as: almas que estão nas fileiras da profissão cristã, e, desta forma, são «participantes» ou «companheiros» do Espírito Santo, de modo exterior semelhante a Judas, que foi com- panheiro de Cristo, com a afirmação que estas chegarão finalmente ao Céu, após um período de castigo futuro. é obra nefasta. As pessoas que não têm o Espírito Santo habitando nelas não são verdadeiros crentes, de forma alguma. Podem «crer», mas a sua crença é apenas tran- sitória. Nas palavras do próprio Senhor Jesus, «apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se des- viam» (Lucas 8: 13). O crente genuíno pode extraviar-se, mas não aposta- tar. Aqueles cuja descrição temos em Hebreus 6: 4,5 não são crentes verdadeiros. As cinco coisas que se dizem deles podem ser ditas com verdade acerca de pessoas que são apenas «crentes professos». Se existe qualquer coisa oficial- mente, que seja participar no poder do Espírito Santo. convém que nos asseguremos da posse de tal elo vital com Cristo, e sejamos selados como pertencendo a Ele.
 
 
UMA MORADA DE DEUS PELO ESPÍRITO
 
As vezes ouvimos dizer acerca de alguém: «Fulano vive no seu quintal». Isto significa que o quintal é o interesse mais importante para esse indivíduo, que passa alí todas as horas disponíveis. Outra pessoa vive «metido nos seus livros». Nunca se sente mais feliz do que quando está junta da sua estante,. ocupada com a leitura e sem ter ninguém que a perturbe. Outro ainda «vive nos seus negócios». Não é tanto o amor do dinheiro, como o amor de ganhá-lo, que o- domina. Sonha com os seus lucros de noite e, mesmo durante o Domingo se ocupa em fazer os seus planos para os negócios que pretende realizar na segunda-feira. Nunca está tão aborrecido como quando é obrigado a «gozam- um dia feriado. De outros homens se pode dizer que vivem «em Deus» .. (I João 4: 16). Deus é o seu interesse principal. Nos seus momentos livres as suas almas voltam-se para Ele. Encoritraram n'Ele o verdadeiro Lar dos seus corações. Estes. habitam «em Deus». Esta explicação deve ajudar o leitor a compreender a importância estupenda da afirmação em Efésios 2: 22 donde se extraiu o título acima. É o inverso da verdade' que aprendemos em I João, pois aqui se diz que Deus habita em nós. Nós (mesmo os gentios) somos edífícados, conjuntamente, a fim de que Deus possa habitar em nós ~ para que possa encontrar o Lar das Suas fortes afeições. em nós; para que nós pudéssemos ser uma morada para Ele. Deus habita nos Seus redimidos, edificados e ligados num s6 edifício, pelo Espírito Santo, mediante o qual Ele- já tomou posse da Sua habitação e faz nela o que Lhe aprouver, da mesma maneira como n6s dispomos dos objectos nas nossas casas segundo o nosso agrado. Quanto mais pensarmos nisto, tanto mais admirados ficaremos!
 
 
 
CORROBORADOS, COM PODER, PELO SEU ESPÍRITO
 
É provável que não haja nenhum leitor destas páginas, que não sinta a sua própria fraqueza e que não confesse prontamente a sua necessidade de' ser fortalecido «com poder, pelo Seu Espírito, no homem interior» (Efésios .3 : 16). Se, contudo, alguém pérguntasse: ePor que motivo deseja tal coisa ?», que grande variedade de respostas seriam dadas! Alguns diriam que precisam de ser fortalecidos para que tenham maior medida de vigor espiritual para servirem o Senhor. Outros diriam que precisam de ser fortalecidos a fim de suportar dureza e provações e, se for necessário, sofrer por amor de Cristo. Tudo isto está muito bem, contudo, o que Paulo pediu a Deus, nesta passagem, foi que aqueles a quem escrevia fossem corroborados, não somente que tivessem Cristo habitando nos seus corações, pela fé, mas que pudessem compreender e saber. Os pensamentos de Deus são maravilhosos, e infinitos em número. Não podemos classlfícá-los ; juntam-se, sobrepõem-se e coalescem. Não se podem somar ou colocar em ordem quando estamos diante de Deus em oração e acções de graças (Salmo 40 : 5). As somas deles são muito gran- des (Salmo 139: 17); mas todos estão resumidos e con- centrados em Cristo! A revelação dos pensamentos de Deus é excessivamente surpreendente. Não se podem com- preender. Eles assoberbam e confundem. Depois, corroborados com poder, pelo Seu Espírito, ficamos à vontade no meio deles. Afinal é assunto que se refere ao coração, e Cristo, a soma e substância da largura, comprimento, profundidade e altura dos pensa- mentos e propósitos de Deus, habita ali. Assim, é-nos dado compreender, em certa medida, os Seus pensamentos e conhecer o amor de Cristo, um conhecimento que vale muito mais do que quaisquer outros conhecimentos. Quando grandes coisas foram reveladas a Daniel em visão, «não ficou força» nele (Daniel 10 : 8). Palavras que ele ouviu produziram nele o mesmo efeito (versículo 17). E então, um ser glorioso, que tinha falado com ele, tocou-o e confortou-o (fortaleceu-o) (versículo 18). O resultado deste fortalecimento foi que Daniel estava preparado para ouvir mais revelações. Ele disse: «Fala, meu Senhor, por- que me confortaste» (versículo 19) . Assim acontece, também, quando somos corroborados, pelo Espírito de Deus .
 
 
O FRUTO DO ESPÍRITO
 
Lemos que os frutos de justiça são por Jesus Cristo. Ele é a sua fonte; foram vistos n'Ele em absoluta perfeição quando estava no mundo. Mas a tarefa do Espírito Santo é reproduzir em nós o carácter de Cristo. O Apóstolo roga a Deus que os crentes em Filipos sejam «cheios» destes «frutos de justiça» (Filipenses 1 : 9 a 11); em outras palavras, que o que caracterizava Cristo pudesse caracte- rizar os crentes. O fruto do Espírito, isto é, o resultado de Ele habitar e operar em nós, descreve-se em Gálatas 5 : 22,23. As obras da carne, enumeradas nos versículos anteriores, são pre- cisamente o contrário. No caso dos gálatas, legalidade, apelando à carne no sentido de refrear e melhorar, apenas despertava a concupiscência. Estas obras horríveis foram o resultado. A graça, porém, sem nada exigir, mas trabalhando para produzir, podia apontar para o delicioso- «fruto do Espírito» como o resultado. Isto não quer dizer que devemos estar ocupados inde- vidamente com a operação do Espírito em nós. Devemos afeiçoar-nos, fitar a nossa afeição e mente, nas coisas que são (lá) de cima, onde Cristo está. Ao olharmos para Ele, e acharmos n'Ele o alvo do nosso amor, somos corroborados com poder para despojarmo-nos das obras feias da carne e revestirmo-nos do adorável carácter de Cristo (Colossenses 3: 2, 8, 12). O Espírito de Deus trabalha para reproduzir em nós a semelhança d' Aquele, com o qual nos ocupamos. Não é tanto uma questão de confiar n'Ele como de estudá-Lo ; é mais um assunto de amor do que de fé. Ao amá-Lo, chegamos a ser semelhantes a Ele, e, assim, o Espírito produz, nas nossas vidas, amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e tempe- rança. Deus contempla tais vidas e diz, por assim dizer: «Ali está alguma coisa de Cristo; é preciosa demais para .se deixar perder; Eu tratarei de reunir tudo para que encontre o seu devido lugar, por fim, na glória». Assim, Cristo em nós, reproduzido pelo Espírito, toma-se a garantia de glória no porvir. Não é este, porventura, o sentido de Colossenses 1: 27: «Cristo em vós, a esperança da glória»?
 
 
GRANDES COISAS
 
Como é forte a lei, ou principio, do pecado e da. morte! Ao pecado, segue-se a morte espiritual (Romanos 6: 11). A atracção destas coisas terríveis, para baixo, é tremenda. Bem podia o miserável homem de Romanos 7 : 24, exclamar: «Quem me livrará do corpo desta morte ?» Não haverá nenhum livramento? Devemos nós, en- -quanto aqui estivermos na terra, ficar tão desesperada- mente entregues a este principio de pecado e de morte? Sabemos que seremos libertados do seu poder quando deixarmos este mundo, mas não haverá uma emancipa- -ção presente? Escutemos o grito de triunfo de Romanos 8: 2: «me livrou da lei do pecado e da morte!» Alguma coisa tinha libertado Paulo. O que seria essa coisa? 
A CRUZ E O ESPÍRITO
 
Encontramos muita coisa acerca do Espírito Santo no segundo capítulo de I Coríntíos 1 Não me lembro de nenhum outro capítulo do Novo Testamento que tenha tanto para nos dizer acerca d'Ele, excepto Romanos 8. Qual é a razão? Vários males tinham penetrado na igreja em Corinto, .e os crentes pareciam que ligavam pouca importância ao facto. Num caso de imoralidade grosseirissima estavam «inchados» (5: 2) ; provàvelmente vangloriavam-se da sua tolerância. Talvez a chamassem «caridade», embora não passasse de desleixo pecaminoso. Para corrigir tudo isto, o apóstolo, nos capítulo 1 e 2, muito tem a dizer acerca da cruz e a crucificação. Veja-se' o capítulo 1: 13, 17, 18, 23; capítulo 2: 2, 8. A cruz fecha a porta contra o pecado, a carne e o mundo. Não é apenas que o Salvador morreu nela para a nossa salva- ção, mas permanece como barreira intransponível entre nós e o mundo, entre nós e tudo aquilo pelo qual Cristo morreu. Atrás daquela porta fechada, ficam os nossos pecados, o nosso julgamento e nosso próprio ser malvado. Mas existe uma porta aberta, além da fechada, e' em relação a essa porta, o Espírito Santo entra em cena. Ele é quem nos conduz através daquela porta aberta para penetrarmos nas coisas maravilhosas de Deus. l. Ele sabe as coisas de Deus, tal como o espírito humano sabe as coisas -do homem (versículo 11). 2. As coisas do Espírito de Deus não podem ser recebidas pelo homem natural. Poderá uma cabra receber lições de química? Não seria loucura para o animal toda a aparelhagem científica? Mesmo assim, as coisas do Espí- rito são loucura para o homem natural (versículo 14). 3. O Espírito que nós recebemos não é o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus (versículo 12). Não podemos, portanto, sentir-nos à vontade no mundo, mas. estamos à vontade nas coisas de Deus. 4. Ele penetra (para nosso proveito) as coisas pro- fundas de Deus (versículo 10). 5. Deus nos revelou, pelo Seu Espírito, as coisa') que preparou para os que O amam (versículos 9, 10). 6. O Espírito Santo dá as palavras para a comuni- cação das coisas de Deus (versículo 13). 7. O Espírito Santo reveste com poder as palavras que Ele dá (versiculo 4), de forma que a mensagem é proferida «em demonstração de Espírito e de poder». Deus nos conceda que aprendamos o segredo da porta fechada e da porta aberta!
 
Que grande diferença foi feita pela vinda ao mundo do Filho de Deus 1 Que coisas estupendas Ele introduziu 1 E estas coisas tornaram-se características do tempo actual, o dia do Espírito Santo, o dia em que nós temos o privi- légio de viver. Pode ser um dia de homens insignificantes, mas é, contudo, um dia de coisas grandiosas. Isto se veri- fica nos Actos dos Apóstolos. O Espírito Santo é a chave para coisas tão mara- vilhosas!
 
(1) Uma Grande Luz (Actos 22: 6). Uma luz bri- lha para nós, não somente transcendendo em resplendor tudo quanto jamais brilhou para Israel, mas ultrapassando tudo o que brilhará no futuro. No advento de Cristo, quando vier para estabelecer o Seu Reino, resplandecerá como o Sol (Malaquias 4: 2). Mas a luz que resplandece para nós é uma luz que excede o esplendor do Sol (Actos 26: 13). :É uma luz que revela, não só a própria natureza de Deus, senão também os propósitos do Seu amor eterno; uma luz que desvenda o facto surpreendente que os santos na terra, provados e perseguidos, fazem parte integral do Próprio Cristo, pois Ele fala deles como «Me» (Por que Me persegues?) Outras grandes coisas que caracterizam o dia pre- sente, em contraste com «o dia das coisas pequenas» de que Zacarias falava (Zacarias 4: 10), são as seguintes:
 
(2) Um Grande Lençol (Actos 10: 11). Este ilustrava a extensão mundial da graça de Deus, no tempo presente. Anteriormente, o rio da misericórdia de Deus estava constantemente transbordando as suas margens. Assim foi o caso de Raab, a cananita, de Ruth, a moabita, de Naaman, o siro e a uma cidade cheia de ninivitas. Mas não existem margens para que a graça transborde neste tempo presente. :É um oceano sem praias, correndo livre para todos os homens e trazendo aqueles que são atingidos para uma bênção muito melhor do que tudo quanto Israel jamais conhecu.
 
(3) Uma Grande Multidão (Actos 14: 1). Não é o caso, apenas, de haver graça para todos, mas que a graça tem sido eficaz. Quase três mil pessoas foram agrega- das por meio do discurso memorável de Pedro no dia de Pentecostes. Mas em quantos dias depois, este número foi ultrapassado? Não será provável que, no Domingo passado, por exemplo, mais de que 3.000, em todo o mundo, foram acrescentadas ao Senhor? Os crentes, os discipulos de Cristo, se pudessem ser vistos no seu conjunto, todos reunidos, seriam, na realidade, uma vasta multidão !
 
(4) Grande Poder (Actos 4: 33). Isto é característico deste, o dia do Espírito Santo. «Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza» (II Timóteo I :7). Um carro eléctrico, numa cidade, é impulsionado pelo poder que vem através de fios ou cabos, ou por qualquer outro meio. O poder que impulsiona um automóvel é o poder que põe em movimento todos os carros do mesmo sistema. Assim, também, o poder que acciona todo o tes- temunho de Deus na terra é o poder que domina cada crente individualmente, o poder do Espírito Santo.
 
(5) Grande Graça (Actos 4: 33). O dia em que vivemos é chamado, com razão, o dia da Graça. A graça é comensurável com o poder. Poder sem graça seria mal aplicado. Os iates que têm os maiores mastros e levam o maior peso de velas têm as quilhas mais fundas para evitar que se virem. Quanto mais o poder do Espírito Santo se manifesta, em ligação com o nosso testemunho, o nosso andar e o nosso serviço, tanto mais precisaremos de ser guarnecidos com aquela abundante graça dos celeiros inesgotáveis de Deus. É «multíforme» graça (I Pedro 4: 10), de muitas facetas, e pode ser aplicada numa mul- tidão de formas diferentes. Aquele, de Quem ela vem, é o Deus de toda a graça (I Pedra 5: 106). Seguramente, com Ele não existe qualquer falta de recursos.
 
 
A HERDEIRA E A CHAVE
 
Nas bodas de casamento celebrado em Nova Iorque, a filha dum. milionário recebeu, do seu pai, como prenda, uma chave. Houve certa comoção no meio dos convidados quando o pai entregou a chave à sua filha, e exprimiram a sua surpreza por tão estranha prenda.' Mas a noiva sorriu e tomou posse da chave. Ela bem sabia o que signi- ficava. A verdadeira prenda era uma mansão esplêndida, lindamente mobilada. A chave era a prova que a casa era dela. Era, ao mesmo tempo, o meio, pelo qual ela podia entrar na plena posse da dádiva do pai. Da mesma maneira, o Espirito Santo é a chave para as coisas grandes e profundas de Deus. O facto que Ele habita em nós é a garantia de que tudo é nosso, e Ele Mesmo é o poder, pelo qual entramos na experiência da posse e gozo da nossa herança. As Escrituras dão teste- munho do facto de todas estas bênçãos serem nossas. Pela fé, recebemos o seu testemunho e ficamos assegu- rados das nossas possessões. Mas não falamos agora de certeza, mas, sim, de gozar a nossa herança. Tudo isto coloca-nos numa posição definida em rela- ção com o mundo. Já não pertencemos ao mundo e ele não nos vê com bons olhos. O resultado, desde o prin- cipio, tem sido mais uma das grandes cóisas que são carac- terísticas do dia presente. Cinco delas já foram enumeradas. Ainda há mais duas, mencionadas nos Actos.
 
(6) Grande Perseguição (Atos 8: 1). Isto não quer dizer que a perseguição não existisse anteriormente. Elias foi perseguido por Jezebel; Jeremias foi lançado numa cova. Mas a perseguição movida contra os Cristãos ultrapassa em muito tudo quanto houve no passado. Centenas de milhares foram brutalmente assassinados nos dias da Roma Pagã; e milhões de verdadeiros santos têm sido torturados e mortos violenta e bàrbaramente por aqueles que usavam mitra e capucho de frade. Então podemos pensar na China, Madagáscar, Arménia e Rússia. Mesmo nos tempos actuais a perseguição atingiu proporções enormes.
 
(7) Grande Alegria (Actos 8: 8; 15 : 3). Qual é a alegria comparável com a alegria que os crentes têm, mesmo no meio do fogo de perseguição feroz? Não é, meramente, a alegria de libertação do poder do inimigo, tal como o povo de Israel conheceu, na margem oriental do Mar Vermelho, mas a alegria de almas compartilhando o amor de Deus, e conhecendo o Cristo Ressuscitado como Aquele ao qual pertencem.
 
 
O ESPÍRITO SANTO E O MUNDO
 
Nenhum mundano pode receber o Espírito Santo. Pode orar, pedindo a Deus que lhe dê este grande dom, mas Deus nunca concede o Espírito Santo corno dom a qualquer pessoa que não tenha crido em Cristo para a salvação. As Suas palavras são bem claras: «o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber» (João 14 : 17). O mundo não recebeu Cristo, mas Ele estava no mundo, testificou no mundo, e procurou salvar os homens e tírá-los para fora do mundo. Da mesma maneira, agora, o Espírito Santo está aqui, embora não recebido pelo mundo; e a Sua presença traz certas consequências :
 
(1) Ele reprova, ou convence, o mundo do pecado, porque não creu em Cristo (João 16: 8,9). Esta passagem não se refere à operação do Espírito, de produzir convicção de pecado nas almas de pecadores. Ele faz isso; mas a verdade contida nesta passagem é que a vinda do Espírito Santo é a prova da partida de Cristo do mundo como consequência de Ele ter sido rejeitado.
 
(2) Ele reprova, ou convence, o mundo de justiça; isto é, em relação com a justiça. Cristo foi tratado com vergonhosa injustiça no mundo; mas, como foi escrito no Salmo 24: 5: «Este receberá... a justiça do Deus da Sua salvação». Ele já recebeu tratamento justo, no Céu, e foi colo- cado num lugar que Lhe pertence por direito. A presença do Espírito Santo aqui é uma demonstração deste facto.
 
(3) Ele reprova, ou convence, o mundo de juizo, em que o príncipe deste mundo (Satanás) foi desapossado. Cristo é herdeiro de todas as coisas e o verdadeiro pro- prietário desta Terra. O Espírito Santo, estando aqui como Representante de Cristo, prova pela Sua presença que o príncipe do mundo foi julgado, e aqueles que se submeterem a ele devem compartilhar o seu julgamento, ou condenação.
 
 
O LADO VENCEDOR
 
Há um grande evento anual em Inglaterra, que é uma corrida inter-universitária de remo. As ruas de cada cidade estão apinhadas de homens, senhoras e até crianças, trazendo rosetas azuis. A cor de Oxónia é azul-escuro e azul-claro a cor de Cambrígia. Todos acompanham o relato pelo locutor da Rádio com entusiasmo e ansiedade. Finalmente chega a notícia da vitória da equipa de Cam- brfgia.
Nota-se o ar de exaltação de triunfo da parte daqueles que trazem as rosetas de azul-claro ! As ruas ressoam com os seus gritos e exclamações. Imaginemos que uma grande guerra entre nações está em progresso. Finalmente chegam as notícias duma grande vitória da parte das forças em combate duma das nações, ou grupos aliados. Içam-se bandeiras; os sinos e campa- nários são tocados festivamente; os homens abraçam-se. Há regozijo por toda a parte e um ar de triunfo. Alguma coisa parecida, mas com duas diferenças importantes, parece ser indicada pela expressão: «Sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus» (I Pedro 4 : 14). A primeira diferença, a que me referi, é a seguinte: Não somos nós, sõmente, qu-e manifestamos o ar de triunfo, mas Aquele que habita em nós, o manifesta igualmente. É . o Próprio Espírito Santo que exulta na vitória. Se nós exultamos também, é porque Ele, o Espírito da glória, repousa sobre nós. Ele gera em nós o regozijo, e produz em nós os sinais daqueles que compartilham num triunfo retumbante. Em segundo lugar, o Espírito da glória repousa sobre nós, desta maneira, antes de se alcançar a vitória final. Nós ainda somos participantes dos sofrimentos de Cristo, e ainda estamos expostos ao vitupério por amor do Seu Nome. Mas sabemos, durante todo este tempo, que estamos do lado que há-de vencer, com toda a certeza, e portamo-nos como aqueles que estão cônscios, deste facto. O Espírito da glória, repousando sobre nós, dá-nos as emoções daqueles que celebram o triunfo do lado ao qual deram o seu apoio num conflito. Temos a certeza que Aquele que esmagou Satanás debaixo dos pés de Cristo, no Calvário, esmagará, em breve, o mesmo Satanás, debaixo dos nossos pés (Romanos 16: 20). Antecipamos, com grande alegria, o glorioso resultado disto. 'Com música nas nossas almas, e melodias de louvor nos nossos lábios, exultamos na certeza da glória que vírá como consequên- cia desse triunfo glorioso. Ainda que nos lancem numa prisão, podemos cantar hinos de louvor a Deus com alegria de coração (Actos 16: 25). Podemos cantar nos funerais, na própria pre- sença da morte; porque o Espírito de glória repousa já sobre nós. Prosseguimos o nosso caminho de vida como aqueles que são herdeiros da glória e de Deus.
 
 
A BÊÇÃO APOSTÓLICA
 
 
«A GRAÇA do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com vós todos! Amém>>              (2 Coríntios 13: 13). Como nos são tão familiares estas palavras I O facto da sua familiaridade, muitas vezes, infelizmente, rouba-as do seu significado. Nas bocas de alguns, tornam-se uma mera fórmula de despedida, proferida como rotina e ouvida sem meditação da parte de muitos. É deveras lamentável que seja assim, porque estas palavras sagradas têm um significado de valor incalcu- lável. O versículo é um dos poucos, em que se nomeiam todas as três Pessoas da Deidade Trina, sendo o Espírito Santo igualmente Deus, com o Pai e o Filho. Não são três Deuses numa só Pessoa, mas um só Deus existindo em três Pessoas. «A graça do Senhor Jesus Cristo» foi manifestada no passado por Ele se fazer pobre, por amor de nós (2 Coríntios 8: 9). Contudo, não se limita a isto, como se fosse meramente um facto histórico. Hoje mesmo, ela é quente, terna e verdadeira, e a oração da Bênção é que seja connosco, isto é, que tenhamos a realidade dela, e sejamos cônscios dela, aonde quer que formos. «O amor de Deus». Este foi manifestado de maneira convincente no passado, na dádiva do Seu Filho. «Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco : que Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo, para que por Ele vivamos» (I João 4: 9). Mas o Seu amor é uma realidade actual também; é um amor que nos segura num abraço eterno; nada nos pode separar dele. «A comunhão do Espírito Santo». O significado destas palavras não é tão evidente como o das palavras anteriores. Leva, certamente, o pensamento de comunhão com o Pai e o Filho, na qual participamos mediante o ministério dos apóstolos, aos quais pertencia em primeiro lugar (I João 1 :3). Mas também traz, sem qualquer dúvida, o pensamento de comunhão uns com os outros. Há uma oração expressa num hino:
«Comunhão doce seja nossa porção, Uns com os outros e com o Senhor».
Exige que se ponha de parte tudo o que pode intro- duzir uma nota discordante, toda a inveja, suspeita, maledicência, pensamentos sem amor, divisões, egoísmo, etc. É isto que é compreendido nas palavras «a comunhão do Espírito Santo». Porfias e discordâncias entre os cren- tes são obras da carne (Gálatas 5: 20), ao passo que o fruto do Espírito é «amor, gozo, paz» (versículo 22). O Espírito de Deus, o Deus de Paz, opera para que haja unidade prática, amor e tolerância mutuamente entre os Seus santos. Quando, orando, dizemos: «a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós», estamos rogando a Deus que possamos todos ser guardados na corrente da Sua operação em nós, nunca contribuindo, de qualquer maneira, com o mau trabalho do inimigo de engendrar discordância e porfias, mas que sejamos preservados em harmonia, naquela comunhão que é produto do Espírito Santo.
 

Por HAROLD P. BARKER

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