A completa libertação do atual poder do pecado

Até aqui temos nos ocupado com aquele

aspecto da obra de Cristo que trata da

questão do perdão dos pecados, e

cremos sinceramente que o leitor deve

estar já bem esclarecido e firmado neste

importante ponto. Certamente é seu feliz

privilégio estar assim, se tão somente

receber o que Deus afirma em Sua

Palavra. “Porque também Cristo

padeceu uma vez pelos pecados, o

Justo pelos injustos, para levar-nos a

Deus” (1 Pedro 3.18).

Se, portanto, Cristo sofreu por nossos

pecados, acaso não deveríamos

conhecer a profunda bênção que é

estarmos eternamente libertos do fardo

desses pecados? Poderia, porventura,

estar de acordo com a vontade e com o

coração de Deus que alguém por quem

Cristo sofreu devesse continuar em

perpétua escravidão, preso e ligado com

a corrente de seus pecados, e clamando,

semana após semana, mês após mês, e

ano após ano, que o fardo de seus

pecados é intolerável?

Se uma condição assim for verdadeira e

apropriada para o cristão, então o que

foi que Cristo fez por nós? Seria

possível que Cristo tivesse levado

nossos pecados e ainda estivéssemos

atados e presos pelas correntes deles?

Será verdade que Ele tenha carregado o

pesado fardo de nossos pecados e ainda

assim tenhamos ficado agora esmagados

sob esse mesmo peso intolerável?

Alguém poderia querer nos persuadir de

que não é possível sabermos que nossos

pecados estão perdoados – que devemos

seguir até o fim de nossa vida em um

estado de completa incerteza sobre este

assunto de importância tão vital. Se for

assim, o que dizer do precioso

evangelho da graça de Deus – das boas

novas de salvação? Do ponto de vista de

um ensino tão miserável, que significado

teriam aquelas ardorosas palavras do

bendito apóstolo Paulo na sinagoga de

Antioquia? – “Seja-vos, pois, notório,

homens irmãos, que por Este se vos

anuncia a remissão dos pecados. E de

tudo o que, pela lei de Moisés, não

pudestes ser justificados, por Ele é

justificado todo aquele que crê” (Atos

13.38,39).

Se estivéssemos fundamentados na lei

de Moisés, em nossa observância dos

mandamentos, em nosso cumprimento do

dever, em nosso sentimento em como

deveríamos agir, em nossa avaliação de

Cristo e em nosso amor por Deus, o

raciocínio lógico seria que certamente

estaríamos em dúvidas e obscura

incerteza, visto que não poderíamos ter

nenhuma base possível de certeza. Se a

nós coubesse fazer algo, ainda que fosse

o movimento de uma pálpebra, então,

verdadeiramente, seria uma enorme

presunção de nossa parte pensar em ter

certeza.

Mas se, por outro lado, escutamos a voz

do Deus vivo, que não pode mentir,

proclamando em nossos ouvidos as boas

novas de que por intermédio de Seu

amado Filho, que morreu na cruz, foi

sepultado, ressuscitou de entre os

mortos, e está assentado na glória – que

por meio dele somente – por meio dele,

sem qualquer coisa vinda de nós – por

meio da única oferta de Si mesmo de

uma vez para sempre, é pregada a

completa e eterna remissão dos pecados,

como uma realidade presente, para ser

desfrutada agora por cada alma que

simplesmente crê no precioso registro

de Deus, como poderia ser possível

para quem quer que fosse continuar em

dúvida e incerteza? A obra de Cristo foi

consumada? Ele disse que sim. O que

foi que Ele fez? Ele levou os nossos

pecados. Terão eles sido, então,

levados, ou estarão ainda sobre nós? –

quais deles?

Leitor, diga-me quais deles! Onde estão

os seus pecados? Estão eles invisíveis

como em denso nevoeiro, ou estão

ainda, como um grande peso de culpa,

em todo o seu poder condenador,

colocados sobre a sua consciência? Se

eles não foram levados pela morte

expiatória de Cristo, jamais serão

levados; se Ele não os levou sobre a

cruz, você terá que levá-los nas

atormentadoras chamas do inferno, para

sempre, e sempre, e sempre. Sim; fique

ciente disto, pois não há outro modo de

se livrar dessa grande e solene questão.

Se Cristo não resolveu o assunto na

cruz, você deve resolvê-lo no inferno.

Assim deve ser, se a Palavra de Deus

for verdade.

Mas, glória seja dada a Deus, o

testemunho que Ele dá nos assegura que

Cristo já sofreu pelos pecados, o Justo

pelo injusto, para levar-nos a Deus; não

meramente levar-nos para o céu quando

morrermos, mas levar-nos a Deus

agora. E como é que Ele nos leva a

Deus agora? Acaso é estando nós presos

e ligados com a corrente de nossos

pecados? Com um intolerável peso de

culpa sobre nossa alma? Não, de modo

algum. Ele nos leva para Deus sem

mancha ou mácula ou qualquer acusação

que seja. Ele nos leva a Deus em toda a

Sua própria aceitabilidade. Acaso há

qualquer culpa sobre Ele? Não. Havia,

bendito seja o Seu nome, quando Ele

permaneceu em nosso lugar, mas ela já

se foi – para sempre – lançada como um

peso de chumbo nas insondáveis águas

do divino esquecimento. Ele foi

carregado com nossos pecados sobre a

cruz. Deus colocou sobre Ele todas as

nossas iniquidades, e tratou com Ele ali

por causa delas. A questão toda de

nossos pecados, conforme a estimativa

que Deus tinha disso, foi abordada em

sua totalidade e de modo definitivo, pois

foi divinamente abordada, resolvida

entre Deus e Cristo, em meio às

horrendas trevas do Calvário. Sim, tudo

foi resolvido ali, de uma vez para

sempre.

Como sabemos disso? Pela autoridade

do único Deus verdadeiro. Sua Palavra

nos assegura que temos redenção por

intermédio do sangue de Cristo, a

remissão dos pecados, em conformidade

com as riquezas da Sua graça. Ele nos

declara, em notas da mais doce, rica e

profunda misericórdia, que de nossos

pecados e iniquidades nunca mais Se

lembrará. Será que isto não é suficiente?

Será que devíamos continuar clamando

que estamos presos e ligados com a

corrente de nossos pecados? Será que

devíamos manchar assim a obra perfeita

de Cristo? Será que devíamos tornar

opaco o brilho da graça divina, e tomar

como mentira o testemunho do Espírito

Santo nas Escrituras da Verdade? Longe

de nós tal pensamento! De modo

nenhum. Ao invés disso, saudemos com

ações de graças o bendito benefício que

tão graciosamente nos foi outorgado

pelo amor divino, através do precioso

sangue de Cristo.

O gozo do coração de Deus está em

perdoar nossos pecados. Sim, Deus

agrada-Se em perdoar a iniquidade e a

transgressão. É algo gratificante para

Ele, e que O glorifica, derramar dentro

do coração quebrantado e contrito o

precioso bálsamo de Sua misericórdia e

Seu amor perdoador. Ele não poupou

Seu próprio Filho, mas O entregou, e O

moeu no madeiro maldito, a fim de

poder deixar fluir, em perfeita justiça, o

rico manancial de graça que brota do

Seu imenso e bondoso coração, em

direção ao pobre, culpado, arruinado

pecador, esmagado sob o peso de sua

consciência.

Mas se o leitor ainda assim se sentisse

disposto a inquirir acerca de como pode

obter a certeza de que essa bendita

remissão dos pecados – deste fruto da

obra expiatória de Cristo – aplica-se a

ele, que escute estas magnificentes

palavras que saíram dos lábios do

Salvador ressuscitado quando

comissionava os primeiros arautos de

Sua graça: “E disse-lhes: Assim está

escrito, e assim convinha que o Cristo

padecesse, e ao terceiro dia

ressuscitasse dentre os mortos, e em

Seu nome se pregasse o

arrependimento e a remissão dos

pecados, em todas as nações,

começando por Jerusalém” (Lucas

24.46,47).

Temos aqui a grande e gloriosa

comissão – sua base, sua autoridade, sua

esfera. Cristo sofreu. É esta a base

meritória da remissão dos pecados. Sem

derramamento de sangue não há

remissão de pecados; mas pelo

derramamento de sangue, e pelo

derramamento de sangue somente, há

remissão de pecados – uma remissão tão

plena e completa quanto o precioso

sangue de Cristo é capaz de efetuar.

Mas onde está a autoridade? “Está

escrito.” Bendita e indisputável

autoridade! Nada jamais a poderá

abalar. Sei, com base na autoridade

sólida da Palavra de Deus, que meus

pecados foram todos perdoados, todos

tirados de vista, todos levados para

sempre, todos lançados para trás de

Deus, de modo que nunca, em hipótese

alguma, poderão levantar-se outra vez

contra mim.

Finalmente, quanto ao que diz respeito à

esfera. É para “todas as nações”. Isto,

sem dúvida, inclui também a mim. Não

há nenhum tipo de exceção, condição ou

qualificação. As benditas boas novas

deveriam ser levadas, sobre as asas do

amor, a todas as nações – a todo o

mundo – a toda criatura sob o céu. Como

poderia eu excluir a mim mesmo de uma

comissão de tão amplo alcance? Será

que por algum momento duvidaria de

que os raios do sol que Deus criou

sejam para mim? Certamente que não. E

por que iria eu questionar o precioso

fato de que a remissão dos pecados é

para mim? Nem por um instante sequer.

É para mim tão certo como se eu fosse o

único pecador sob a abóbada celeste de

Deus. A universalidade disso impede

qualquer dúvida quanto a ser ou não

designada para mim.

E certamente, se precisamos ainda de

mais encorajamento, encontraremos no

fato de que os benditos embaixadores

deviam começar a partir de Jerusalém –

o lugar mais culpado sobre a face da

Terra. Deviam oferecer a primeira

oferta de perdão aos próprios homicidas

do Filho de Deus. E é isto o que o

apóstolo Pedro faz naquelas palavras de

tão maravilhosa e transcendente graça:

“Primeiro O enviou a vós, para que

nisso vos abençoasse, no apartar, a

cada um de vós, das vossas maldades”

(Atos 3.26).

Não é possível conceber algo mais rico

ou abundante ou magnificente do que

isto. A graça que poderia alcançar os

homicidas do Filho de Deus pode

alcançar qualquer um: o sangue que

poderia limpar a culpa de um crime

assim pode limpar o mais vil pecador

fora dos limites do inferno.

Será que você pode ainda hesitar quanto

ao perdão de seus pecados? Cristo

sofreu pelos pecados. Deus prega a

remissão dos pecados. Ele garante isto

em Sua própria Palavra. “A Este dão

testemunho todos os profetas, de que

todos os que nele creem receberão o

perdão dos pecados pelo Seu nome”

(Atos 10.43). O que mais você poderia

ter? Como é que pode continuar

duvidando; como é que pode continuar

esperando? E o que está esperando?

Você já tem a obra consumada de Cristo

e a fiel Palavra de Deus. Isto, com toda

certeza, deveria satisfazer seu coração e

tranquilizar sua consciência. Permitanos,

então, insistir para que aceite a

plena e eterna remissão de todos os seus

pecados. Receba em seu coração as

doces novas de divino amor e

misericórdia, e siga seu caminho

jubiloso. Escute a voz de um Salvador

ressurreto, falando do trono da

Majestade nas alturas, e assegurando a

você que seus pecados estão todos

perdoados. Deixe que as

tranquilizadoras palavras, saídas da

própria boca de Deus, penetrem, com

seu emancipador poder, em seu espírito

atribulado: “Nunca mais Me lembrarei

dos seus pecados” (Jeremias 31.34). Se

Deus me fala assim, se Ele me assegura

que não Se lembrará mais de meus

pecados, não deveria eu estar plena e

eternamente satisfeito? Por que deveria

seguir adiante duvidando e

questionando, quando Deus já falou? O

que mais pode dar certeza, se não a

Palavra de Deus que é viva e permanece

para sempre? Ela é a única base de

certeza; e nenhum poder na Terra ou no

inferno – humano ou diabólico – pode

jamais abalá-la. A obra consumada de

Cristo e a fiel Palavra de Deus são a

base e a autoridade do pleno perdão de

pecados.

Mas, bendito para sempre seja o Deus

de toda a graça, não é apenas a remissão

de pecados que nos é anunciada através

da morte expiatória de Cristo. Só isto já

seria um benefício e uma bênção da

mais elevada ordem; e, como já vimos,

desfrutamos disso em conformidade com

a amplitude do coração de Deus, e em

conformidade com o valor e a eficácia

da morte de Cristo, na estima que Deus

tem dela. Mas além da plena e perfeita

remissão de pecados, temos também

completa libertação do presente poder

do pecado. Este é um grande assunto

para todo verdadeiro amante de

santidade. Em conformidade com a

gloriosa dispensação da graça, a mesma

obra que assegura a completa remissão

dos pecados rompeu para sempre o

poder do pecado. Não se trata apenas de

terem sido apagados os pecados da

vida, mas o pecado da natureza está

condenado. O crente tem o privilégio de

considerar-se como morto para o

pecado. Ele pode cantar, com um

coração grato,

Por mim, oh, Senhor, aqui já morreste,

E eu bem o sei, que em Ti morri assim;

Bem vivo estás, a morte venceste,

Agora Senhor Tu vives sempre em mim.

A face do Pai, de graça a irradiar,

Já brilha pra mim, a me iluminar.

Esta é a aspiração apropriada a um

cristão. “Já estou crucificado com

Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo

vive em mim” (Gálatas 2.20). Isto é

cristianismo. O velho “eu” crucificado,

e Cristo vivendo em mim. O cristão é

uma nova criação. As coisas velhas já

passaram. A morte de Cristo encerrou

para sempre a história do velho “eu”; e,

portanto, embora o pecado habite ainda

no crente, seu poder está rompido e

eliminado para sempre. Não somente a

culpa que ele levava está cancelada,

mas seu terrível domínio foi totalmente

destruído.

É esta a gloriosa doutrina dos capítulos

6 ao 8 de Romanos. O estudante atento

desta tão magnificente epístola irá

observar que a partir do capítulo 3.21,

até o capítulo 5.11 temos a obra de

Cristo aplicada à questão dos pecados;

e do capítulo 5.12 até o final do capítulo

8 temos outro aspecto da obra de Cristo,

ou seja, sua aplicação à questão do

pecado – “nosso homem velho” – “o

corpo do pecado” – “pecado na

carne”. Não há, nas Escrituras, algo

como perdão de pecado. Deus

condenou o pecado; Deus não o

perdoou – uma distinção que é

imensamente importante. Deus

demonstrou Sua eterna aversão ao

pecado na cruz de Cristo. Ele expressou

e executou Seu juízo sobre o pecado, e

agora o crente pode se enxergar como

ligado e identificado com Aquele que

morreu na cruz e que está ressurreto

dentre os mortos. Ele saiu da esfera do

domínio do pecado e entrou naquela

esfera nova e bendita onde a graça reina

pela justiça.

“Mas graças a Deus”, diz o apóstolo,

“que, tendo sido servos do pecado

(antes, mas não mais agora),

obedecestes de coração à forma de

doutrina a que fostes entregues. E,

libertados do pecado, (não meramente

tendo os pecados perdoados), fostes

feitos servos da justiça. Falo como

homem, pela fraqueza da vossa carne;

pois que, assim como apresentastes os

vossos membros para servirem à

imundícia, e à maldade para maldade,

assim apresentai agora os vossos

membros para servirem à justiça para

santificação. Porque, quando éreis

servos do pecado, estáveis livres da

justiça. E que fruto tínheis então das

coisas de que agora vos envergonhais?

Porque o fim delas é a morte. Mas

agora, libertados do pecado, e feitos

servos de Deus, tendes o vosso fruto

para santificação, e por fim a vida

eterna” (Romanos 6.17-22).

Aqui está o precioso segredo de uma

vida santa. Estamos mortos para o

pecado; vivos para Deus. O reino do

pecado terminou. O que é que o pecado

tem a ver com um homem morto? Nada.

Bem, então, o crente morreu com Cristo;

está sepultado com Cristo; está

ressuscitado com Cristo, para andar em

novidade de vida. Ele vive sob o

precioso reino da graça, e tem seu fruto

para santidade. O homem que faz uso da

abundante graça divina como desculpa

para viver em pecado nega o próprio

fundamento do cristianismo. “Nós, que

estamos mortos para o pecado, como

viveremos ainda nele?” (Romanos 6.2).

Impossível. Seria uma negação de toda a

posição cristã. Imaginar o cristão como

alguém que deve seguir, dia após dia,

semana após semana, mês após mês, e

ano após ano, pecando e arrependendose,

pecando e arrependendo-se, é

degradar o cristianismo e falsificar a

posição cristã como um todo. Dizer que

um cristão deve seguir pecando porque

ele tem a carne em si é ignorar a morte

de Cristo em um de seus grandes

aspectos, e reputar como mentira todo o

ensino dos apóstolos em Romanos

capítulos 6 a 8.

Graças a Deus, não existe razão por que

o crente deva cometer pecado. “Meus

filhinhos, estas coisas vos escrevo,

para que não pequeis” (1 João 2.1).

Não deveríamos nos justificar nem

mesmo no mais simples pensamento

pecaminoso. Trata-se de nosso doce

privilégio andar na luz, como Deus está

na luz; e com toda a certeza, quando

estamos andando na luz, não estamos

cometendo pecado. Oh! Saímos da luz e

cometemos pecado; mas a ideia normal,

verdadeira e divina de um cristão é a de

alguém andando na luz, e não cometendo

pecado. Um pensamento pecaminoso é

estranho ao verdadeiro caráter do

cristianismo. Temos pecado em nós, e

devemos continuar tendo enquanto

estivermos no corpo; mas se andamos no

Espírito, o pecado em nossa natureza

não irá se manifestar na vida. Dizer que

não precisamos pecar é a afirmação de

um privilégio cristão; dizer que não

podemos pecar é um engano e ilusão.

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